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VIRMOND - PARANÁ
Geraldo Zapahowski
Os 100 anos a que se faz referência no título dizem respeito à data de 27 de maio de 1921,
quando Ladislau Radecki e outros membros da Sociedade Colonizadora do Paraná, assinaram
contrato de compra e venda com o fazendeiro proprietário da Fazenda Amola Faca, Coronel
Ernesto Frederico de Queiroz, casado com Carolina Virmond, genro de Frederico Guilherme
Virmond Júnior.
Terra a escolher
com erva-mate e para plantação
Terra à venda
em Guarapuava
Informações: Ladislau Radecki, Guarapuava - Paraná
Loteamento de fazenda
18.000 alqueires
Assim foram chegando as primeiras famílias dos pioneiros, originárias em sua maioria do próprio
Estado do Paraná, sendo: Curitiba, São Mateus do Sul (Colônia Água Branca), Prudentópolis, Irati
e em menor número de algumas colônias do Estado do Rio Grande do Sul.
De acordo com o jornal Lud nº43 – página 6 do dia 15 de junho de 1937, no artigo “História da
colônia polonesa Amola Faca – Dificuldades iniciais. Hoje uma florescente e rica colônia”,
os primeiros colonizadores a chegarem em Virmond foram: no dia 25-5-1921 Adão Wasiak, de
Treze de Maio – RS; seguem os seus passos os senhores Francisco e Valentim Mierzwa, da
colônia Nova Polônia – Campo Largo - PR, Paulo Jagas de Prudentópolis - PR, que depois são
acompanhados por toda uma falange, e em breve toda a colônia começou a povoar-se.
Famílias essas que haviam se desfeito de suas terras por um motivo ou outro, pois as vinham de
colônias formadas no final do século XIX, com 50 anos de existência, as quais já estavam
povoadas, não tendo mais terras para os filhos e netos dos colonizadores. Os poloneses por
natureza sempre estão em busca de maior e melhores propriedades e fazendas.
Radecki como bravo herói engenheiro colonizador foi demarcando e entregando os lotes aos
primeiros que iam chegando à Colônia Amola Faca ou Coronel Queiroz.
O cônsul Głuchowski (1928, p. 88) escreveu: “Por longos anos seguirão as carroças de nossos
colonos das regiões mais povoadas até a mais distante Amola Faca, ou até Laranjeiras”.
A respeito da saída dos colonos poloneses da Colônia Água Branca de São Mateus do Sul – Pr,
Głuchowski anotou (1928, p. 67): “Mesmo na mais distante colônia polonesa do Paraná, em
Amola Faca, além de Guarapuava, econtram-se cerca de 20 famílias polonesas de Água Branca”.
Com relação à saída dos poloneses de Prudentópolis, o cônsul (1928, p.87) escreveu: “Diversas
famílias de Prudentópolis já se mudaram para Amola Faca, uma colônia polonesa além de
Guarapuava.”
Głuchowski com relação à colonização privada polonesa cita mais uma vez a colônia Amola Faca
e também o engenheiro agrimensor Ladislau Radecki (1928, p. 107):
Até meados de 1925, Radecki colonizou toda fazenda, formando a Colônia Amola Faca ou
Coronel Queiroz, estando satisfeito, pois mesmo com todos os contratempos conseguiu concluir
seu trabalho, podendo finalmente se dedicar mais a sua família a sua propriedade.
Noventa e nove anos já se passaram, desde a chegada daqueles que foram os desbravadores de
Virmond. Muita coisa mudou na antiga “Colônia Amola Faca”, nossas casas já não são mais
ranchos de madeira lascada, cobertos com tabuinhas, estamos na fase das casas de alvenaria,
pouco restou da arquitetura dos colonizadores.
Virmond, em 2020 comemorará 30 anos de emancipação política, a composição étnica dos seus
habitantes mudou bastante, hoje também temos em nosso meio, descendentes de: ucranianos,
italianos, alemães, russos, africanos, etc. Mas ainda somos em maioria descendentes de
poloneses, filhos, netos e bisnetos da antiga “Colônia Amola Faca”, frutos da semente lançada
em 1921 pelo “Pai da colonização polonesa em Virmond”, o Engenheiro Agrimensor Ladislau
Radecki e dos que aqui primeiro chegaram.
Casa da Memória de Virmond – PR, 2015 Página 2
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA
VIRMOND - PARANÁ
O núcleo colonizatório cresceu, hoje temos em Virmond toda uma estrutura administrativa
montada. O trabalho do Radecki e dos pioneiros deu bons frutos, agora nos resta honrar suas
memórias e preservar o patrimônio e o legado deixando por eles. Também temos que deixar
nossas marcas para o horizonte das futuras gerações.
Referências:
GLUCHOWSKI, Kazimierz. Os poloneses no Brasil: subsídios para o problema da colonização polonesa
no Brasil. Porto Alegre: Rodycz & Ordakowski, 2005.
Emigracja polska w Brazylii – 100 lat osadnictwa. Warszawa: Ludowa Spóldzielnia Wydawnicza, 1971, p.
115-118.
Jornal LUD, Nº27, 1921. Curitiba – Pr.
Jornal LUD, Nº43, 1937. Curitiba – Pr.
Geraldo Zapahowski
Władysław Radecki viajou a Guarapuava com uma carta do ex-presidente do Paraná Afonso
Camargo e realizou as negociações preliminares.
Foram-lhe propostas para escolha áreas em Chagu, Candói e Catanduvas, bem como entre os
rios Cantavi e Iguaçu (no ponto onde o rio Iguaçu desemboca no rio Paraná).
Das áreas que lhe haviam sido oferecidas, Władysław Radecki escolheu a última, situada 75 a 90
quilômetros de Guarapuava. As terras ali eram boas, e havia abundância de rios e riachos.
A respeito da escolha feita foi avisado Kazimierz Głuchowski, que em breve viajou a Guarapuava
juntamente com Franciszek Łyp. Eles visitaram a área e aceitaram a escolha, após o que foi
assinado o contrato com o proprietário Coronel Ernesto Frederico de Queiroz, genro de
Frederico Guilherme Virmond Júnior.
De acordo com o Jornal Lud nº43 – página 6 do dia 15 de junho de 1937, no artigo “História da
colônia polonesa Amola Faca – Dificuldades iniciais. Hoje uma florescente e rica colônia”,
o fazendeiro Coronel Queiroz entregou a fazenda para revenda, contando 18.000 alqueires de
terra, ao preço de 30-45$000 (trinta a 45 mil réis) por alqueire. A sociedade aprovou esse projeto
e começou rapidamente a pôr mãos à obra elaborando um contrato oficial. De todo o complexo
de terra, os agrimensores encontraram apenas 8.600 alqueires.
O jornal Lud começa a fazer uma intensa propaganda a respeito das novas e férteis terras no
distante oeste. Graças a essas notícias, vêm os primeiros destemidos pioneiros da selva do
Rio Grande do Sul: no dia 25-5-1921 o Sr. Adão Wasiak, de Treze de Maio; seguem os seus
passos os senhores Francisco e Valentim Mierzwa, da colônia Nova Polônia – Campo Largo -
PR, Paulo Jagas de Prudentópolis - PR, que depois são acompanhados por toda uma falange, e
em breve toda a colônia começou a povoar-se.
O contrato foi assinado no dia 27 de maio de 1921 por Radecki. Além dele, isso devia ser
feito por mais um membro da sociedade.
Ainda de acordo com o mesmo artigo do Jornal Lud, o Sr. Queiroz ressalvou que a sociedade
pagaria as medições, todas as estradas e pontes e, além disso, que seu filho, o engenheiro
Aristides Virmond de Queiroz, faria o perímetro. E para isso havia necessidade de dinheiro. No
início o Senhor Głuchowski contribuiu com a importância de 500$000 nessa crise financeira, o
Senhor Ladislau Kaminski prometeu entrar com 20 mil-réis, mas na hora agá ele depositou
apenas 10 mil para a assinatura do Senhor Radecki e a garantia de Głuchowski, com a condição
de que ele seria o caixa. Utilizou todo esse capital para o início dos trabalhos. No entanto, na
medida em que os migrantes iam afluindo, o caixa inchava ou diminuía. Em todo o caso, por uma
estranha coincidência, sempre havia dinheiro suficiente para a colonização ir adiante.
O Senhor Radecki prosseguiu com a colonização até 1929, apenas com base na palavra de
honra que havia dado ao Senho Queiroz. Foram expedidas 258 escrituras para os lotes.
Os agrimensores da colônia foram Ricardo Szoebek, que, tendo aprendido a profissão sob a
enérgica supervisão do Senhor Radecki, atormentado pela vida, algum tempo depois encerrou a
vida num dos cafés curitibanos.
O outro foi Guilherme Miller, que prestou à colônia excelentes serviços. Por algum tempo
trabalhou também Miecislau Nostitz-Jackowski, sargento do exército polonês, mas em breve
seguiu os passos do seu colega e combatente na guerra, suicidou-se com um tiro no coração no
dia 24 de junho de 1926, estando sepultado no Cemitério Municipal de Virmond.
O primeiro médico da colônia foi o Dr. Józef Czaki (tem biografia e fotografia na Casa da
Memória), e o primeiro comerciante − Alexandre Majewski Filho.
“Hoje, após 16 anos de trabalho, a colônia se encontra em estado florescente. Em geral todos os
moradores são bravos e bem estabelecidos cidadãos, aos quais não falta nada, além de uma
comunicação mais próxima com a estrada de ferro. A respeito da opulência deles testemunham as
grandes propriedades, uma bela e grande igreja, a Sociedade Agrícola e a escola, que a partir do Ano-
Novo será dirigida pelas Irmãs da Caridade. Na realidade a colônia se encontra por enquanto num lugar
pouco apropriado, mas, se Deus quiser, em breve estará numa posição melhor, mais digna e adequada a
Amola Faca”.
O artigo é assinado apenas com as inicias de: Pe. L. B. (com certeza foi escrito pelo padre Ludovico
Bronny).
A colônia foi formada por famílias de imigrantes poloneses que estavam espalhados pelo Brasil,
que haviam se desfeito de suas terras por um motivo ou outro, que eram originárias de Curitiba,
São Mateus do Sul (Água Branca), Prudentópolis, Irati e do Estado Rio Grande do Sul.
Radecki era auxiliado por sua esposa Gabriela Burtz Radecki, oriunda da Alsácia – França, da
família Burtz, que dominava bem diversas línguas – francês, alemão, polonês e português. Era
uma mulher instruída e bem educada. Se não fosse a ajuda dela, Władysław Radecki não teria
aguentado na colônia, visto que a situação era difícil – em 1924 eclodiu uma revolução, os índios
promoveram um ataque contra as colônias ucranianas nas proximidades de Pitanga e, além
disso, algumas pessoas desencadearam uma forte contrapropaganda contra a colonização por
ele realizada. Ajudou também nos trabalhos da colonização toda a família de W. Radecki, seus
pais e irmãos que vieram morar na colônia em 1921, seu pai, Henryk Radecki era professor de
polonês, Guilherme Miller entrou como ajudante na medição junto com o Dr. Aristides de
Queiroz, que veio para medir o perímetro da Fazenda “Amola Faca”, pois até então ninguém
sabia ao certo quantos alqueires a fazenda possuía. Dr. Aristides, na qualidade de filho do
Coronel Ernesto de Queiroz, fez o serviço de medição da fazenda do início ao fim. Enquanto
Władysław Radecki, morava em Guarapuava, até 1922, deixou Guilherme Miller como engenheiro
responsável pela venda e medição dos lotes da fazenda, já que este tinha noção sobre medição.
Algum tempo depois Kazimierz Głuchowski e Franciszek Łyp viajaram à Polônia, e Władysław
Radecki ficou sozinho. Sobreviveu à revolução e aos ataques e, quando tudo se acalmou, levou
adiante o seu trabalho. O médico Józef Czaki foi contratado para atender num ambulatório
construído pela sociedade colonizadora.
Na área colonizada surgiu uma paróquia polonesa e algumas escolas polonesas. A primeira
escola surgiu em 1923 e a primeira igreja em 1927, período em que chegou à localidade o padre
Paulo Schneider, juntamente com irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que
chegaram em 1937.
No início da colonização da Fazenda Amola Faca, na Polônia, as terras permaneciam nas mãos
de latifundiários, nas fábricas pertencentes a pessoas de diversas nacionalidades os operários
eram explorados sem escrúpulos ou era reduzida a produção. Veio a estagnação, faltava
trabalho. Decidiu-se então enviar grandes contingentes de pessoas para além do oceano. Com
esse objetivo, a fim de examinar o terreno, vieram ao Paraná o Conde Gawronski e o Duque
Lubomirski. Juntamente com o Cônsul Zbigniew Miszke, eles viajaram depois a Guarapuava, e
dali à Colônia Amola Faca – Virmond. Esses senhores gostaram da organização da colônia, por
isso convenceram Władysław Radecki a elaborar um projeto adequado e a apresentá-lo à
Sociedade Emigratória, dirigida então por B. Gilczynski, bem como a algumas pessoas influentes.
Estas foram as primeiras pessoas a comprar os primeiros lotes de terra na Colônia de Amola
Faca ou Colônia Coronel Queiroz, em 1921:
1 - Władysław Radecki, 2 - Piotr Walicki, 3 - Józef Jasiński, 4 - Władysław Jasiński, 5 - Walenty
Jasiński, 6 - Franciszek Mierzwa, 7 - Walenty Mierzwa, 8 - Józef Warchoł, 9 - Jakób Szychta, 10 -
Marcin Belinowski, 11 - Józef Telasko, 12 - Józef Grzyszczyszyn, 13 - Józef Wasiak, 14 -
Katarzyna Chmielowska, 15 – Dr. Józef Czaki, 16 - Walenty Jasiński, 17 - Jan Jasiński, 18 -
Szczepan Jagas, 19 - Michał Lisowski, 20 - Adam Wasiak, 21 - Adam Frydryszewski, 22 - Walenty
Mierzwa, 23 - Franciszek Wojdyła, 24 - Paweł Leniewicz, 25 - Andrzej Frydryszewski, 26 -
Franciszek Kochanowski, 27 - Józef Miński, 28 - Sylwester Wojdyła, 29 - Franciszek Karmański,
30 - Władysław Karmański, 31 - K. Kasan, 32 - Aleksander Rabel, 33 - Bernard Gurkowski, 34 - J.
Półchołopek, 35 - Jakob Michałowicz, 36 - Wawrzyniec Michałowicz, 37 - Jan Chruściński, 38 -
Kazimierz Kochanowski, 39 - Stanisław Dąbrowski, 40 - Aleksander Malinowski, 41 - A. Paliński,
42 - Paweł Paliński, 43 - Michał Radłowski, 44 - Józef Rolak, 45 - Stefan Chociaj, 46 - Stanisław
Zawadzki, 47 - Michał Zimbros, 48 - Jan Wojciechowski, 49 - Adam Frydrych, 50 - Józef Grad, 51
- Józef Kłaczyk, 52 - Klara Rolakowa, 53 - Dr. Arystydes Queiroz, 54 - Adam Frydrych, 55 - Paweł
Pietrzak, 56 - Jan Pilarski, 57 - Aleksander Radecki, 58 - Henryk Radecki, 59 - Dr. Józef Czaki e
A. Kawecki, 60 - Celuśniak, 61 - A. Łukasiewicz, 62 - Michał Józwiak, 63 - Władysław
Buszkiewicz, 64 - Józef Pietrzak e 65 - Marcin Krakowski. (Os números correspondem aos
primeiros lotes vendidos da Fazenda Amola Faca).
Referências de pesquisa:
Emigracja polska w Brazylii – 100 lat osadnictwa. Warszawa: Ludowa Spóldzielnia Wydawnicza, 1971, p. 115-118.
http://citybrazil.uol.com.br/pr/virmond/historia-da-cidade
http://iarochinski.blogspot.com/2008/05/inaugurada-casa-da-memria-em-virmond.htm
Jornal Lud nº43 – página 6 do dia 15 de junho de 1937
WŁADYSŁAW RADECKI
“PAI DA COLONIZAÇÃO POLONESA EM VIRMOND”
Geraldo ZAPAHOWSKI
LADISLAU RADECKI
A biografia de Ladislau Radecki foi escrita por sua filha, Alice Radecki Lima, conforme o texto
abaixo:
“Ladislau Radecki nasceu no dia 27 de maio de 1889, em Varsóvia, Polônia. Sendo filho de
Henryk Radecki e Isabel Olchowski Radecki.
Em sua Terra Natal, formou-se em engenharia arquitetônica e antes da Primeira Guerra Mundial,
usando uniforme russo, ultrapassou a fronteira da Rússia, passou pela França e Portugal, em
1909, desembarcou em terras brasileiras no Porto da Ilha das Flores no Rio de Janeiro. De lá veio
para Curitiba, fixando residência no Bairro Afonso Pena. Depois de ter arrumado emprego,
Ladislau trouxe ao Brasil seus pais Henryk e Isabel, também seus irmãos Estefano, Henryk, José,
Sofia, Alexandre e Tadeu, esse com dois anos de idade.
A família de Henryk Radecki desembarcou no Porto de Santos, dali deslocaram-se para Curitiba
no Bairro Afonso Pena, adquirindo uma chácara próxima a família do Senhor Gustavo Alberto
Burtz.
Ladislau e outros Engenheiros que participaram na Licitação do Desenho da Planta da Universidade Federal do Paraná.
fez o serviço de medição da fazenda do início ao fim. Depois Ladislau Radecki deixou Guilherme
Miller como responsável pela fazenda, já que ele tinha noção sobre medição.
Ladislau continuou morando em Guarapuava até maio de 1922, depois veio também para Colônia
Amola Faca ou Coronel Queiroz, fixando sua propriedade nas margens do Rio Cantagalo, que
mais tarde montou uma serraria, com a qual não teve êxito, pois os colonos gastavam todo
dinheiro na compra de terras e construíam suas casas com tábuas de madeira lascada de
pinheiro.
Construindo-a com seus recursos, a madeira para construção da escola veio de Guarapuava,
trazida por carroça de cavalos.
O terreno do cemitério foi doado em parceria pela família Virmond e Queiroz. O Coronel Queiroz,
sendo ateu, não permitiu a escritura deste local para ninguém, ali todos tinham direito ao
descanso eterno, não separando classes e religiões.
Alice sobre seu pai revelou: “Meu pai se sentiria muito feliz e compensado em ver agora os filhos
dos colonos poloneses de Virmond, formando em diversas profissões, médicos, odontólogos,
técnicos, advogados, veterinários, professores, etc.”
Continua Alice: “Minha mãe falava que a vizinha Waszak, não sabia ler e nem escrever, mas ao
vender ovos, feijão e outros mantimentos, ela fazia a conta de cabeça mais rápido que qualquer
calculadora e se tivesse oportunidade de estudar, seria um verdadeiro gênio”.
Diz Alice: “Meu pai tinha muito apreço e respeito com muitas famílias de colonos, que embora de
camadas sociais menos favorecidas, eram justas, honestas, dignas e muito sábias nas decisões
da vida, coisas que muitas vezes gente estudada não tem. Eles honravam com sua palavra”!
Ladislau era conhecedor da História das Religiões, os padres freqüentavam sua casa e eram
muito amigos dele, mas ele não ia na igreja, não era adepto a religião específica.
Conta Alice: “Para meu pai, Deus era uma força maior que rege o mundo, Deus está em toda
parte, inclusive em cada pessoa, em cada coração, conforme o amor a Deus é o seu modo de
reagir ao cotidiano da vida”.
“Meu pai sempre dizia que precisa fazer um exame de consciência antes de praticar as coisas, se
elas foram nocivas a você, não os faça ao seu próximo. Ele era muito justo na sua vivência,
achava no seu ego que ir confessar-se com o padre e voltar a praticar os mesmos erros, não
seria o ideal na vida”.
“O seu dia de maior respeito era a Sexta-feira Santa e o Natal, minha mãe um mês antes do Natal
já começava os preparativos, fazia bolos de mel e enfeitava o pinheirinho na véspera de 25 de
dezembro, ficava um perfume no ar da casa, tudo era feito com muito requinte. Meu pai há 50
anos já protegia a natureza, os pinheirinhos só eram cortados as árvores que estivessem em
duplas ou por outro motivo. No Natal cantavam “Noite Feliz” em Polonês, a avó Isabel fazia
questão de entoar os cantos natalinos. O dizer mais frequente do meu pai era: “Iluminemos a
geração presente para a grandeza do futuro”, inclusive ele deixou um quadro que do meio da
escuridão surge um ser iluminando o caminho de uma criança, ler e estudar era o seu lema,
elevar seu conhecimento ao máximo possível.
A família de Ladislau ainda guarda muitos objetos deixados por ele, como: seu estojo de
engenheiro, uma cápsula de bala de canhão, estojo de afiar navalhas, uma tela de um quadro
que comprou na França e muitos outros objetos.
A comida predileta de Ladislau era Kluszki, ou seja, nhoque em português, repolho e pepino
azedos, tainha assada, polenta com leite e salada de ovos cozidos.
Gabriela, sua esposa, dedicou-se aos filhos e aos afazeres da casa, nunca trabalhou na lavoura,
gostava muito de criar vacas de alta linhagem, porcos, galinhas, tinham um vasto pomar, o qual
sofria com o ataque de formigas, pois na época não havia inseticidas para o controle.
Contribuiram também para o progresso de Virmond, Ricardo Schelbeck, que trabalhou como
engenheiro, Matuchewski, era um excelente marceneiro, Kwiatkowski, que suicidou-se por
problemas mentais, alucinações devido as guerra sofrida na Polônia. Tiveram participação
Sluczanowski, Henrique Gonsiorkiewicz e João Bieniek Szewczyk”.
Referências:
GLUCHOWSKI, Kazimierz. Os poloneses no Brasil – Subsídios para o problema da colonização polonesa
no Brasil; tradução de Mariano Kawka
Porto Alegre: Rodycz & Ordakowski Editores, 2005.
Fotografia: Kalendarz Ludu, 1937, p. 35 da biblioteca particular de Mariano Kawka
Referências:
Mário José Gondek e Dominika Mierzwa, pesquisadores da vida do Dr. Józef Czaki Fotografia e biografia
publicada no Blog do Jornalista Ulisses Iarochinski, doutorando na Uniwersytet Jagielloński, de Cracóvia,
na Polônia.
dos Pioneiros na Casa da Memória, ótimo exemplo de documentário). As cores variavam de ano
para ano. E pagava-se pelo emplacamento ou como se dizia: "o imposto da carroça".
Os pioneiros de Virmond fizeram muitas e muitas viagens de carroças a cidades maiores como
Guarapuava e Ponta Grossa, levando produtos da lavoura e trazendo produtos necessários à
subsistência das famílias, como querosene, sal, açúcar, tecidos e outros.
Além da carroça, várias outras ferramentas agrícolas inovaram e aperfeiçoaram o trabalho na
agricultura. Os poloneses foram os principais responsáveis pela introdução dessas ferramentas,
entre as quais encontramos: arado (pług), aradinho de três lâminas (radło), grade retangular
(brona), grade triangular (bronka), carrinho sem rodas puxado por cavalo (sanie), ventilador para
cereais (młynek), foicinha (sierp), costurador de pele curtida (szydło), gadanha (kosa), moedor de
milho (żarna), cambal e picador de palha (sieczkarnia). Construíram tantos instrumentos que com
o passar do tempo foram desenvolvidos em grandes escalas para atender e suprir a necessidade
da população em geral. Os imigrantes de todas as etnias foram verdadeiros engenheiros,
desenvolveram e criaram vários meios para trabalhar e se locomover.
Na casa e no paiol sempre havia o sótão, onde era possível guardar sementes ou feno para o
inverno.
Alguns utensílios domésticos eram típicos: fazedor de manteiga (maslanka), azedador de repolho
(beczka). O krzan, raiz branca amarga usada na Święconka (Cesta para benção dos alimentos
no Sábado Santo), até hoje não possui um termo equivalente em português. No final do verão, o
feno ou papuã era secado e empilhado ao redor de um tronco (klopa) para servir de alimento para
o gado no período do inverno.
Os imigrantes poloneses introduziram sadios hábitos alimentares com o uso do centeio, trigo,
batata, arroz, soja e outros. Plantavam batata-doce, repolho, ervilha, centeio, linhaça, cebola,
alho, beterraba... Mas, ao mesmo tempo, adotaram o modo de cultivo e os produtos típicos da
população local, como o milho, feijão e a erva mate.
Para malhar o trigo ou para descascar o milho no paiol, havia mutirão (pucherão); o qual acabava
em baile. Quando um lavrador, passando pela estrada, enxergava um colega a capinar a lavoura,
levantando o chapéu, bradava: "Deus te ajude!" (Boże pomagai!), ao que o outro respondia:
"Deus te pague!" (Bóg zapłać).
Em cada propriedade, era costume haver uma criação de animais que incluía vaca de leite, touro
e porco para a carne, galos e galinhas para produção de ovos, cavalos para a tração animal. Por
isso, sempre havia estábulo (stajnia), chiqueiro (chlew), galinheiro (kurnik); incluindo residência e
paiol para depósito e garagens, em cada propriedade rural havia no mínimo cinco construções
cobertas com telhas de tabuinha e de barro. Os animais criados para a defesa da propriedade
eram os cachorros; os gatos moravam no paiol para caçarem os ratos. De vez em quando, no
leilão da festa da igreja, era interessante arrematar um cachaço para poder melhorar a raça da
criação de porcos. O mesmo podia acontecer ao arrematar uma abóbora, um casal de marrecos
ou gansos - para produzir penas para a coberta (pierzyna).
Os poloneses raramente se ocupavam do comércio de uma forma profissional, mas a
necessidade de troca dos produtos agrícolas por outros bens, os levava aos contatos com a
sociedade, exigia a aprendizagem da língua, dos costumes e do sistema das medidas local.
Apesar de sujeita às transformações e processos de assimilação, a família era uma comunidade
de base dos imigrantes poloneses, que geralmente chegavam em famílias.
Os imigrantes poloneses dedicaram-se principalmente à agricultura. O apego e a valorização
dados a terra, levaram os imigrantes e seus descendentes a um processo de compra das próprias
terras, construindo belas propriedades. A contribuição da imigração polonesa no Brasil contribuiu
de forma importante para a modernização da sociedade sul brasileira. Proporcionou o surgimento
de uma classe média rural e urbana, desenvolveu o ciclo rodoviário próprio com o uso da carroça,
apresentando vantagens e contribuindo para a dignidade do trabalho braçal. Os primeiros
colonizadores de Virmond e do Brasil desbravaram as matas com machado, foice e facão. A mata
ia desaparecendo aos poucos e em seu lugar eram construídas casas de tábuas lascadas,
cobertas com folhas de palmeira, capim e com tabuinha lascada.
Os descendentes dos poloneses fixados na região de Virmond e outras cidades do Brasil
abrasileiraram-se, mas preservaram muitos traços culturais. Com a mecanização da lavoura e a
crescente urbanização, a família polonesa foi abandonando o modelo rural tradicional para
assumir as novas tecnologias. Hoje, ainda há muitos filhos, netos, bisnetos e tataranetos dos
imigrantes poloneses morando e tirando o sustento a terra, a mesma terra que nossos
antepassados tiveram que trabalhar o solo bruto que hoje se encontra ainda muito fértil e
mecanizada.
Referências Bibliográficas:
WACHOWICZ, Ruy Christovam. O Camponês Polonês no Brasil, Curitiba - PR, Fundação Cultural, Casa
Romário Martins, 1981
MIKA, Lourenço. http://www.maikol.com.br/subpages/artigo7.htm