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1D1

Gana
NCPGLÓPEDIADE LIVROS UTEIS

cs

- —

VOLUME BROCHADO 600 RÉIS


ENGADERNADO EM PERCALINE 800 RÉIS

PELO CORREIO MAIS 100 RÉIS

1— Manual de medicina domestica (1.4 edição).


1 —

Manual do distillador, licorista e perfumista (10 edi-


ção).
HI —

Cozinheiro completo, mestre dos coziniieiros (154 edi-

ção).
IV —
Manual de civilidade e etiqueta (6.º edição).
NV Manual dos edição)
jogos (4*

VI— Manual de receitas e


processos uteis (7.º edição).
Manual
VN
— do jardineiro (5.* edição).
VIII
IX
— Secretario
Manual do
portugue;, manual epistolar
(54
(19% edição).

prestidigitador edição).
C— Manual do florista, para fazer flóres artificiaes >.)
edição.

Manual d$ procurador (em preparação).
Cn a Eros
TERRE
GE +

ARNALDO BORDALO
- EDITOR
“RUA: Dá VICTORIA, 1º—- was me
a
DE

ASR
=

n8-Porto
Deposito : Lisraria Novaes J.”

é
e—
a 190, Rua do Almada, 192
Escamotcio de cartas, ligcireza de mãos,

desapparições mysteriosas, ilusionismo, magnetismo,


“hypnotismo, fascinação, transmissão do pensamento, trucs

de sala, subtilezas, problemas engraçados,


Physica recreativa, etc., etc.

5.º EDIÇÃO
Ilustrada com numerosas gravuras explicativas
e consideravelmente augmentada com muitas sortes de novidade +

entre as quass

O ESCAMOTEIO D'UMA DAMA

LISBOA
mts om AmnSALDO
— 1901
-

TOADALO

42 —
Rua da Vietoria— 1.º

Porto de J.
Depositoxo
190 —
—Livraria
Rus do Almada —
R.
O direito de propriedade do Manual do
Prestidigitudor, é garantido pelo artigo 604.9
do
feitos
Codigo Civil
desiguados
Portuguez,
nas leis &
para todos
regulamentos os
cf-

e:

vigor, ficando para isso depositados na Bi


bliotheca Nacional do Lisboa os respectivos
cxemplarco.

Arnaldo Bordalo.

IMPRENSA LUCAS

93 —
Rua do Diario de Noticias —
93
ANTES DO PANNO SUBIR...

= E3€3-»

Na fabulação de unía das mais primorosas novellas de Ar-


naldo Gama, figura
mais
uma personagem que,volta meia, e

de Camões.
com-

menta os
insignificantes casos com versos

O épico vê-se em calças pardas com o endiabrado sujeito


-que a todo o momento o
plagia e cita sem
que por tal pague
direitos de auctor.

Nós, paraphrascando o conceituoso dilettante dos Lusia-


das, mas deixando na posse exclu: iva do sr.
Campos Junior
o cantor das nossas glorias, iremos á sabedoria das nações
buscar argumentos pretendemos
em prol do que
provar.
Nos proverbios, adagios e rifões
ha logica capaz de fazer
morrer de inveja o
proprio Genvense

Assim, e
de
do partindo
principio de que a »oz do povo é
dois
a

»oz Deus, assentaremos no


seguinte, com os
pontos
do estylo : deve lembrar-
Quem quizer ser um
optimo prestidigitador
se de que

tempo dá-o Deus de graça; não se pescam tru-

tas a barbas enxutas; devagar se vae ao


longe e Roma e Pa-
via não num dia.
se
fez
Depois d'isto, ter-se ainda em vista que

com
papas e bô-
los se enganam os tolos, e que, com geitinho, qualquer leva

agua ao moinho.
Os primeiros proverbios
recommendam
aconselham
de
paciencia e estudo ;
segundos
sspitiso
os um
pouco o,

Nada mais facil de consegh:


Edo o 2

mina
6 MANUAL DO

efeito
A presteza
das sortes
de mãos
é tambem
temos
indispensavel
recommendá-la
para o bom
; esta
de em prosa
chã, despretenciosa, sem usG némi abuso de rifóes.
Ha trues complicadissimos demandam largos conhe-
que
cimentos scientificos e uma enorme bagagem de apparelhos
de dificil execução: É claro que os não incluimos n'este li-

vro,
maneira
escripto no intuito
de
de
divertirem
tão sómente facilitar aos curiosos

a
simples em
qualquer sala, com eco-

nomia de talento e de bôlsa, meia duzia de amigos.


A 5.º edição do Manual do Prestidigitador, consideravel-
mente augmentada, deve pelo cuidado que assistiu á sua ela-
boração satisfazer o publico e dar-lhe, n'um livro elegante e

nitidamente impresso, tudo quanto de mais curioso sobre o

assumpto se conseguiu colleccionar.


Entre as muitas sortes novas
que formam o livro, encon-

trará o leitor algumas de sensação. N'estas incluimos, por


exemplo, a do escamvuteio de uma dama que, não ha muitos
annos, causou verdadeiro assombro n'um dos nossos thea--

tros, e cuja explicação, 4 custa de muito trabalho e dispen-


diosas
remunerações,
conseguimos obter de um eximio pres-
tidigitador.
Com taes elementos de interesse, é de crer
que a 5.º edi-

ção do nosso Manual siga muito em breve o caminho das

suas antecessoras esgotando-se rapidamente.


Assim o
espera o
editor, confiado tanto mais no exito,
quanto é certo
que, para o
conseguir não se
poupou a sacri
ficios.
REDE 6
Ep ERESLDA DP ade
mera
Gtabbd dm

PARTE I

Sortes de Cartas

A carta forcada

Fazer a carta forcada, é obrigarmos um espe-


ctador a tomar a carta que desejamos, em um ba-
ralho completo.
Eis como se chega a este resultado: Mettemos a

carta que queremos que saia por cima do baralho.


Com o corte, fazemos passar essa carta para o meio
e conservamos cuidadosamente o dedo minimo en-

tre os dois maços.


E? então que pedimos a um dos espectadores para
tirar uma carta do baralho que offerecemos. Em-

quanto elle olha para as cartas, seguimos-lbe o olhar;


vemos a mão d'elle que sc estende para o baralho.
N'esse momento abrimos o baralho em
leque, fa-
zemos desfilar uma duzia de cartas deante dos olhos
do espectador, deixamos um pequeno intervalo en-
8 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

tre a carta a forçar, e na occasião em


que O
espe-
ctador abre o index pollegar para
e o pegar em uma

carta qualquer, apodera-se d'aquella que o força-


mos a tomar.
“Tambem póde, depois
se de muita pratica, fa-
zer a carta forçada com uma só mão. Para isso é
mister apresentar-se O baralho aberto em fórma de

leque em espaços eguaes. Estando as cartas unidas


d'uma maneira regular, tem-se o cuidado de deixar
um pouco mais de espaço entre a carta que deve
ser tomada.
Uma recommendação importante : tanto n'esta

experiencia como na outra, é necessario segurar


com força nas cartas do baralho, excepto na carta

a
forçar.
Carta larga

Chama-se carta larga, a uma: das cartas do ba-


ralho, de maiores dimensões, c
que, pelo tacto, o

prestidigitador facilmente reconhece entre todas.


Assim, embora se baralhe e misture, torna-se sim-

ples, quando é necessario, collocá-la no sitio mais


vantajoso.
Convem ao amador conhecer estes pequenos sub-

terfugios, que são precisos para a execução de al-


.

gumas sortes
que adiante apresentamos.

O pespertador

“Tem esta sorte por fim advinhar com as cartas

a hora a
que uma
pessoa tenciona levantar-se na

manhã do dia seguinte.


Dispóem-se em circulo, sobre uma mesa, qua-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 9

torze cartas designando as horas, da maneira se-

guinte :

— a

+ + +

8
3

./3

Um az representa o 1 hora
Um duque 2º»

Um terno. 3 x

Uma quadra . us

us cases
4
Uma quina..... SE 5.»
Uma sena... 6.»
Um sete.... A)
oi

Um 8.»
Um 9»
Um mesrgo 19 É

Dez e az.... 1 »

Dez e
duque........ 1»
10 MANUAL. DO PRESTIDIGITADOR

.
Estas cartas devem collocar-se de cima para
baixo, por maneira que o publico ignore, tanto

quanto possivel, que formam quadrante. Egual-


é bom de memoria duque
mente ter que o
dez eo

reunidos, marcam meio dia.


Pede-se a
qualquer pessoa que, sem a dizer,
pense na hora a que deseja levantar-se no dia se-

guinte, e que colloque uma moeda de tostão, ou

outra qualquer, n'uma carta á livre escolha.


Em seguida diz-se á pessoa que pensou que, col-
locando um dedo sobre a carta em
que poz a moe-

da, e lembrando-se do numero


pensado, toque suc-

cessivamente com o mesmo dedo nas outras car-

tas, nomeando, de cada vez


que exccutar o movi-
mento, um numero superior em uma unidade, e se-

guindo naindicação uma marcha contraria á ordem

porque estão
dispostas as cartas; quer dizer que,
se
por exemplo pensou tres horas e
poz a moeda
no sete, deve dizer de si para si 3, 4, 5, 6, ete., le-
vando successivamente o dedo ao
7, 6, 5, 4, etc.

Para evitar qualquer duvida, convem


explicar muita
vez á pessoa que executa o
pedido o que deve fa-
zer.

Pede-se-lhe para que continue a contar até ao

numero
que lhe fôr indicado e
que o advinhador
formará accrescentando ao numero sobre o
qual
se poz a moeda um mulrtiplo de 12; quer dizer

que, sea moeda sobre o foi collocada


onze, po-
der-se-ha mandar
23, 35, 47, 59, etc. ;
contar até
se foi collocada sobre a quadra, até 16, 28, 40,
52; n'uma palavra, é preciso mandar sempre con-

tar até aos numeros 12, 24, 36, 48, etc., augmen-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
mn

tados com.o numero sobre o qual se poz a moeda.


Quando operação
a tiver assim terminado, pe-
de-se ao
espectador para voltar a ultima carta em

de ver-se-ha
que parou contar, e
o mesmo
surpre-
hendido por ter precisamente tirado a carta que in-
dica a hora em
que pensou levantar-se.
Esta sorte
explica-se em duas palavras.
Examinando o
quadrante ou mostrador da figura,
notar-se-ha que, tendo-se pensado em qualquerhora
e posto a moeda sobre o meio-dia, não poderá con-
tar-se de 1, 2, 3, etc., passando sobre os numeros

12, 11, IO, etc., sem


chegar á 1 hora, quando se
nomearem os numeros 12, 24, 36, 48, etc.; mas

que, se alguem collocar a moeda no meio-dia e ti-

ver
pensado em
qualquer outra hora, por exemplo,
3 (que está mais proxima duas divisões, de que o

numero 1) devido á marcha retrograda que se se-

gue n'esta operação, passar-se-ha egualmente so-

bre o numero 3, nomeando 12, 24, 36, etc., por-


que então não se terá começado a contar por 1,

mas por 3; mas se, depois de ter pensado o nu-


mero 3, se tivesse collocado a moeda não sobre o

meio-dia, mas nas 11 horas, que ficam mais proxi-


mas de 3 por uma divisão, ter-se-hia egualmente
encontrado o numero
pensado 3, porque, segundo
a
regra prescripta, não se teria então contado até
24, 36, 48, mas até aos numeros mais pequenos
uma unidade, a saber: 23, 35, 47, etc.

A carta pregada na parede com um tiro


de pistola

O magico pede a um dos espectadores que tire


12 MANUAL DO
PRESTIDIGITADOR

uma carta do baralho, depois pede á pessoa que


a tirou que corte umque bocado,
guarde para e o

a
poder reconhecer depois; a carta rasgada, ou
cortada por este modo queima-se e reduz-se a cin-

zas: carrega-se uma pistola com polvora, mistu-


rada com as cinzas da carta queimada : em logar
da bala mette-se um
prego, marcado por uma das
pessoas presentes. Atira-se com o baralho de car-

tas para o ar, dispara-se a


pistola, e a
quei-
carta

mada apparece pregada na


parede. Compara-se o
pedaço da carta que se cortou, e acha-se que cor-
responde perfeitamente, e o prego com que está

pregada a carta na parede, é reconhecido pelos


assistentes pelo mesmo
que se marcou. Quando o
magico vê que se cortou a
porção da carta do ba

ralho, volta á scena e em outra carta semelhante

rasga porção egual


uma primeira; á para voltando
os
espectadores, perguntá pela carta que se tirou,
a
qual põe na parte inferior do baralho e substitue

com destreza a carta, que elle mesmo preparou,


que queima em
logar da primeira, Quando a
pis-
tola está carregada, pega n'ella com o
pretex-
to de perguntar para que parte a deve apontar,
aproveita-se d'esta occasião para abrir um buraco
no cano visinho á coronha
pistola, pelo qual da
lhe cae o prego na mão
proprio peso ; pelo seu

depois d'isto feito, pede a um dos espectadores


que ponha máis polvora e bucha na pistola; em-
quanto isto se faz, leva o magico o prego cacarta
a maior
com ligeireza possivel em um pedaço de
pau quadrado, que fecha um espaço que se deixa
aberto na tapeçaria; e para que se não perceba,
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 13

cobre-se este pedaço de pau com um pedaço de


estofo semelhante ao da tapeçaria da casa; por
este meio esconde-se a carta debaixo do sobredito
pedaço de estofo, este pedaço prende-se pelas pon-
tas
superiores com dois alfinetes, e
pela parte de-
ba'xo com uma linha, cuja extremidade tem o con-

fidente mão. confidente tiro


na
Logo que o ouve o

da
pistola, puxa pela linha, por este meio cae o
pe-
daço de estofo, dirige-se por detraz de um vidro,
e apparece a carta que se marcou, pregada com o

prego que se metteu na pistola.

Scm tocar na carta

Baralhando as
cartas, note-se com todo o cuidado
a ultima carta da palma. Estende-se em
seguida o

baralho sobre a mesa, a face voltada para baixo, e

peça-se a qualquer pessoa para que, escolhendo


uma carta, a examine e
colloque na mesma
posi-
ção.
Lance-se depois, negligentemente, o resto do ba-
ralho sobre a carta escolhida e mande-se cortar;
um outro espectador estenderá o baralho com as

figuras voltadas para cima, e conhecendo-se a ul-


tima carta, será facil, sem tocar-lhe, advinhar a

carta escolhida.

O charuto e a carta rasgada

dois charutos

V. ex.º* emprestam me
?
Pede-se a um dos espectadores para escolher um :

partimos o outro, afim de mostrar que os charutos


não estão preparados. Pede-se em
seguida a uma
14 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

fumar
pessoa

um homem de preferencia — para


o charuto intacto.

Depois pegamos no baralho de cartas e


pedimos
a uma outra pessoa para escolher uma carta, para
a
rasgar em oito bocados e para nos entregar esses

bocados.
Estes
fragmentos approximamol-os d'uma luz e

queimamol-os. Deixamos cair um no chão por des-


cuido e
fingimos não dar por isso.
Se nos observam que um dos bocados está no

chão, dizemos :

«Ainda bem, servir-nos-ha para prova d'aqui


a
pouco.» .

de queimado bocados da
Depois ter os outros

carta, recolhemos
preciosamente as

cinzas e
esfrega-
mos com ellas o

charuto que a pessoa está


fumando. Annunciamos
que vamos fazer apparecer a carta no interior d'es-
se charuto. Partimos o dito charuto e encontramos,
falta bocado.
dentro, a carta, á qual um
Apanhamos
o bocado que deixaramos cair por descuido (ou para
prova). Esse bocado adapta-se exactamente á parte
ausente da carta.

Esta sorte, pela sua


simplicidade, produz sempre
um
grande effeito.

Explicação e preparação : Para a execução d'esta


sorte é preciso ter tido o cuidado de preparar um

“charuto.
Para isso, escolhemos dois charutos, cuja folha
que os envolve não esteja estragada. Com o auxilio
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 15

d'um canivete fazemos uma cavidade em um dos


dois charutos, de lado, de fórma a
poder conter

uma carta enrolada, á qual falta um bocado que


guardamos cuidadosamente.

Depois de ter mettido a carta, atamos um pequeno


fio preto em volta do charuto, afim de segurar a

carta.

Quanto ao outro charuto, pomol-o de môlho du-


rante um
quarto de hora dentro de uma bacia com

agua; collocamcl-o em
seguida sobre uma mesa e

desenrolamos a fo-
lha que serve de

involucro, com

precaução para não se romper. Estando a folha es-

tendida sobre a mesa, entugamol-a com papel ma-

ta-borrão.
Tomamos então o charuto que contém a carta e

collocamol-o sobre a folha. Enrolamol-o de maneira

que fique envolvido por essa folha. Com gomma


arabica, collamos a extremidade da folha que deve
achar-se á ponta do charuto e, com a ajuda d'um
cartão enrolamos o charuto sobre a mesa a fim de
ficar todo egual.
Depois de assim preparado, deixamol-o seccar

durante um dia ou dois, para que esteja bem secco

no momento de fazer a experiencia.


Quando se
quer executar a sorte, confiamos de
ante-mão este charutoamigo (compadre) a
pe- um

dindo-lhe para nol-oemprestar quando o


desejarmos.
Como se deduz pela apresentação, pedimos dois
charutos, isto é, o que confiamos ao nosso
amigo
e o outro a uma pessoa estranha.
16 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

“Temos o charuto preparado na mão direita e o

outro na mão esquerda. Aqui faz-se uma


pequena
batota; fazemos esta pergunta a um dos especta-
dores: «V. ex.? faz-me a fineza de designar um dos
dois charutos ?» Se espectador
o indica o charuto
«Muito
preparado : — bem, dizemos nós, vamos

servir-nos d'este charuto para a


experiencia; quanto
ao
segundo vamos partil-o para provar que nem

um nem o outro tem nada de extraordinario.» Se


designa o charuto que não está preparado. dizemos :


Muito bem, vamos
partilo para provar que ne-

nhum dos charutos tem nada de extraordinario.»


E dirigindo-nos ao
espectador que designou o cha-
ruto, accrescentamos: «Peço a

v. ex.* para fu-


mar este.»

Fazemos então escolher uma carta (a carta foir-


cada), pedimos ao espectador para a rasgar em

oito bocados.
Emquanto elle executa o nosso
pedido, mettemos

tranquillamente a mão algibeira


na do collete, como

para tomarmos uma simples pose. Na realidade apo-


deramo-nos n'esse momento do bocado da carta

que deixamos cair ao chão quando recebemos os

nos
que entregam. .

preciso, E
Recommendação expressa: quando
queimamos os bocados, fazer acreditar que não

queimamos senão sete, ou escondendo o oitavo ou

queimando alguns juntos, sem


parecer que os con-

tamos.

A mesma experiencia com ovos

Se bem que não assusta a


preparação do charuto
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 1“q

na
experiencia precedente —

preparação que se faz


facilmente depois de alguns ensaios —

pódem apre-
sentar-se dois casos :

Se-se
querevitaresta preparação em consequen-
cia da falta de tempo necessario para seccar o cha-

ruto, ou se estamos em
presença d'um auditorio es

sencialmente composto de senhoras.


Um terceiro caso se
póde apresentar ainda: Que-
rer-se executar esta sorte a uma mesa.

N'estes casos substituimos os charutos por ovos,


aos quaes applicamos a seguinte preparação.
Enrolamos
uma carta à

qual | rasgamos
um bocado. Em
volta della ata-

mos um fio bran-


co não
para que
se desenrole. Damos uma laçada, deixando uma

ponta do
comprimento de oito a dez centimetros,
assegurando-nos que quando logo puxarmos por
essa
ponta, o fio se desatará facilmente.
“Tomamos um ovo, na extremidade do qual fa-
zemos um buraco bem grande para fazer penetrar
a carta; introduzimos a carta no ovo e
puxamos o

fio afim de a carta ficar solta no interior do ovo.


Resta tapar a abertura que acabamos de prati-
car no ovo. Cortamos em redondo um bocadinho
de papel gommado de estampilhas e collamol-o no

itio do buraco. Se desejamos tornar esta prepara-


o invisivel, cobrimos o papel com um
pouco de
cêra virgem, depois, fazemos uma cruz com um

õ
18 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

lapis no ovo
queremos distinguir dos outros.
que
Para a execução da sorte procede-se como nã
5 .

experiencia anterior.
Fica cozi-
a
nosso cuidado.
o mistáte
jarmosoutros
ovo o á
nheira para que por engre os ovos.

Na manga

Convide-se um
espectádor a verificar se um ba-
lho está bem certo; peça-se a um outro para que
corte o baralho e faça d'elle tres massetes.

Entreguem-se os tres massetes a tres senhoras


ou cavalheiros, pedindo-lhes para que novamente

os baralhem.”
sto feito, pede-se á primeira pessoa que tem o

primeiro massete para que tire delle uma carta

que se nomeia sem se ver.

Com a
segunda segue-se egual operação, e com

a-terceira o mesmo.

Logo que serecebem as tres cartas, voltam-se


sobrea mesa, e os possuidores dos massetes veem

com assombro que são effectivamente as cartas


pe-
didas, que o
operador lhes mostra.

culta-se
Para esgagas ecutar esta sorte, devéras
é
bonita, oc-

na
manga qualquer carta, e esta a que
primeiro se pede ao dono de um dos massetes. Se
a carta recebida exemplo, o valete
fôr, de por es-

do
padas, pede-se possuidor segundo
ao massete
:
Dê-me

o valete de espadas.
F se se recebe do segundo em vez do valete pe-
dido outra carta, como, por exemplo, o az de es-

padas, pede-se ao terceiro cavalheiro ou senhora


:
manvaL DO PRESTIDIGITADOR 19

DEE


Dê-me o az de espadas.
A carta então recebida escamotea-se e substi-
tue-se pela que se occultou na
manga.

Dupla. vista

UMA com “os


PESSDA orHOS ADIVINHA TODAS AS CARTAS
TAPADOS

“agem a
OUTRA PESSOA TIRA DO BARALHO

Um dos'espectadores tira uma carta do baralho,


e uma mulher que está na caixa do theatro com

um lenço nos olhos para impedir de ver


qualquer
signal, nomeia todãs. as cartas que se tiram fóra
do baralho, semserrar, nem o numero, nem o
naipe,
nem outra qualguêr particularidade da mesma carta.
As já devem
cartas estar arranjadas de maneira
que o
magico sabe a ordem que seguem, e
quando
algum dos espectadores tira uma fóra do baralho
ca observa, elle faz como se embaralhasse as car-

tas, manda-as grande cortar passa ce com destreza


a carta,
que pé d'aquella estava
que se esco- ao

lheu, para o fundo do baralho, e no mesmo mo-

mento que está protestando ao publico, que toma


todas as
precauções, para que ella não saiba nada,
e
que não: abrirá a bocca em
quanto clla está fal-
faz conhecer mulher
lando ; á a mesma carta
que
«Já viu, e rogando á pessoa que tem o baralho de
cartas na mão de as mostrar a todos os especta-
dores sem que porém declare que é esta ou aquella
carta, que tira fóra do baralho, por estas ultimas
palavras já elle nomeia, e faz por consequencia sa-

ber à mulher a
primeira carta que está debaixo

do-baralho, que é o que basta para ella nomear


20 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

todas as outras, sabendo já a ordem que seguem ;

por exemplo, se o
magico der a entender pelo modo
acima referido á mulher que a
primeira carta é a

decima quinta, ella já sabe nomear a decima sexta,


a decima setima, e assim por diante.

Logo que a mulher acabon de annunciar todas


as cartas do baralho, o
magico, que estéve calado
todo o
tempo, falla e
pede á pêssoa que chamou

para escolher a carta, que queira perguntar, quaes


são as cartas que ainda restam para serem nomea-

das; por esta pergunta conheçe a mulher que não


ha mais, e responde n'esta conformidade.
“N. B. Quando qualquer dos espectadores tem

escolhido o baralho, deverá pedir-lhe o magico que


o baralhe, por que sem esta
precaução elle po-
deria suspeitar o arranjo das cartas e concluir com

verdade, que esta distribuição servia para fazer co-

nhecer á mulher as cartas que devia nomear.

O ovo magico

Um dos espectadores escolheu uma carta d'um


baralho que se lhe apresentou; pôl-a elle mesmo,
e sem que o
prestidigitador a visse, n'uma caixa
cuja gaveta se fechou; trouxeram um ovo fresco,
*
collocou-se o ovo no
coguetier e o
prestidigitador
estendeu a mão para a caixa, fez a
acção (sem a

abrir, bem entendido) de tirar a carta de dentro e

de a deitar no ovo.

Em seguida quebra-o, e acha-se a carta dentro


d'elle, abre-se e caixa e a carta já ahi não está.

1 Vaso onde se mette o


pequeno ovo.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 21

Em poucas palavras reduziremos este grande pro-


digio ás proporções d'um facto naturalissimo.
O creado do prestidigitador levou, sem
repara-
baralho d'onde tirou Viu
rem, o se a carta. depressa
e sem custo a que faltava. Tomou uma
egual de
um outro baralho, enrolou-a ao alto e fel-a entrar,
n'um
comprimindo uma móla, canal
comprido,
col-
locado no interior do pé do coguetier. Durante este

tempo o
prestidigitador fez deitar a carta escolhida
na caixa, deu a examinar o ovo, para o
qual ella
devia passar, para convencer o publico de que es-

tava verdadeiramente cheio, e quebrou-o n'uma das


extremidades.
É então que coqguetier, preparado
apparece o

como dissemos. prestidigitador O mette-lhe dentro


o ovo, tendo o cuidado de pôr para baixo a extre-

midade quebrada. Depois, comprimindo um botão


collocado no pé do coguetier, faz mover a mola;
esta expulsa a carta enrolada, que achando uma

abertura no ovo, por ahi entra facilmente. Quanto


á carta collocada na caixa, e que desapparece, tem

a sua
explicação na sorte: 4 caixa magica, na
par-
te HI d'este livro.

A carta no espelho

Dissimula-se nas dobras d'um lenço preto ou na

aba do chapeu, um pequeno espelho um


pouco
convexo, do tamanho de um decimo, e negligente-
mente colloca-se na mesa.
Emquanto se mostra a

carta de baixo, finge-se ver a de cima, e no


espe-
lho revelador apparece então a
primeira.
A imagem da carta não se
apresentaria tão fa-
22 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

cilmente n'um vidro direito, porque o olhar seria


obrigado a buscá la, queo prejudicaria a sorte.

Em vez d'um espelho isolado, póde ter-se um

espelhinho embutido n'um annel e voltado para a

palma da mão.
Na algibeira

O operador entende-se com um


ajudante e com-

bina com elle para pensar n'uma carta, que será

por exemplo o valete de paus. Isto feito, mette no

bolso uma
perfeitamente carta egual. Quando pede
aos espectadores para que qualquer d'elles pense
n'uma carta, promettendo, seja ella qual for, tirá-la
do bolso, apresenta-se então o ajudante. O opera-
dor entrega-lhe o baralho e elle, correndo-o, esco-

lhe o valete de paus e diz que é n'esta carta que


pensa. O operador, pegando no baralho, faz men-

Ão de escamotear uma carta e


pede novamente ao

judante para que verifique se ella ainda se encon-

tra no baralho. O outro, depois de examinar, fa-


zendo cara de espanto, responde negativamente.
E n'este momento que o
prestimano, com a

maior naturalidade do mundo, volta o bolso e mos-

tra a carta.

Esta sorte que á primeira vista parece banal, é


todavia de seguro effeito quando desempenhada
com finura.
Entre os dois

Adivinhar qual dos dois massetes de cartas será


escolhido.
Formam-se dois massetes eguaes em numero de

cartas; conservam-se de reserva tres outras cartas


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 25

occultas na palma da mão, e dá-se o baralho a um

espectador. ú

Annuncia-se, em voz baixa, a uma


segunda pes-
soa, o numero de cartas que se vão escolher, sup-
ponhamos oito. Convida-se uma terceira a
pegar
no massete que deseja, advertindo-a de que já pre-
viamente se preveniu alguem do numero exacto de
cartas de que será formado o massete que vae es-

colher-se.
Com effeito, o
espectador a
quem se fez a con-

fidencia, declara que o numero


que lhe disseram
foi oito.

Emquanto a
pessoa indicada faz a escolha do
massete e sem dar-lhe tempo para o contar, pega-
seno massete que ficou e com destreza juntam-se-
lhe as tres cartas que se teem occultado na
palma
da mão, e
entrega-se á pessoa que escolheu o
pri-
meiro para o contar.

Adivinhar por pares ou impares

Consiste esta sorte em nomear as cartas tiradas


por dois espectadores, depois de muito bem bara-
lhadas e cortadas por varias pessoas.
Convencionando-se que o rei vale 4, a dama 3
o valete 2, e
que as outras cartas conservam o va

lor representado pelas pintas, forma-se um massete

de 16 cartas pares e outro de 16 cartas impares.


Depois de bem baralhar os dois massetes, o opc-
rador pede qualquer pessoaa
para que tire uma

carta, e
procede de egual maneira com o
segundo
dos massetes. Emquanto as duas pessoas que es-

colheram as cartas as examinam, trocam-se os mas-


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

setes, de maneira que o sujeito que tirou uma carta

impar a colloca no massete par e vice-versa.


Pode então dar-se a baralhar cada um dos
massetes.

Como se
pode prever, por muito que baralhem,
não haverá dificuldade em acertar com a carta es-

colhida.
- AS cartas adivinhadas

O
prestidigitador annuncia aos espectadores que
possue um
sujet maravilhoso que tem o dom, guiado
unicamente pelo instincto, de adivinhar uma carta

que qualquer pessoa tiver pensado ou tocado, e

encontrar um objecto escondido em uma sala qual-


quer.
Comecemos pela primeira experiercia, a das car-

tas adivinhadas. Na parte II explicaremos a


segun-
da experiencia.
Collocam-se sobre uma mesa nove cartas. Pe-
de-se a
algumas pessoas para acompanharem o si

jet para uma casa proxima, afim de o vigiarem. Du-


rante a ausencia a uma tocar
roga-se pessoa para
uma das cartas que estão estendidas na mesa.

Assim que o meu


sujet entrar, diz-se, vae im
mediatamente indicar-nos a carta
que V. Ex.º tocou.

É de facto, manda-se entrar o sujet, que logo


põe a mão sobre a carta que foi tocada.
Para provar que não-se combinou com o
sujet
nenhum signal particular c
que não fomos quem
lhe indicimos a carta, propomos, logo que a carta

tiver sido tocada, retirarmo-nos tambem para ou-

tro logar.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 25

Quando o sujet entrar no sitio onde se executou

à experiencia, já lá não estaremos; mas nem por


isso a sorte deixará de ser menos brilhante do que
no caso.
primeiro
da
Explicação
nesta
sorte
mandamos
—Depois de dispostas as

<artas ordem, retirar o


sujet que,
bem entendido, está d'ac-
cordo commnosco. Conser-
vamos o resto do baralho
na mão esquerda. Tem se

combinado com o com-

padre que as costas do


baralho figuram a mesa

sobre a
qual estão as car-

tas. Ora, se por exemdlo,


& 4] dedo pollegar
De pomos
meio
o

do
e & 4| |& 4| ao baralho, quer
2 E
& E
4) dizer que a carta tocada
está ao meio da mesa. Se
collocamos o dedo no canto inferior á
esquerda,
significa que a carta está á esquerda, do lado de
baixo da mesa, e assim successivamente para as

outras posições.
O compadre quando entra-olha para o sitio em

que o dedo pollegar está collocado sobre o bara-


lho, que seguramos na mão com o ar mais indiffe-
rente e mais natural do mundo. E graças a este si-
gnal póde designar logo a carta tocada.
Para a
segunda maneira da operar, suppomos
com o compadre que a mesa é dividida em dois

quadrados, sobre um dos quaes se estendem as


.

nove cartas.
26 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

O sujet sahiu, e
logo que tocaram uma carta na

nossa
presença, deixamos o baralho no sitio cor-

respondente á carta tocada sobre o quadrado sup-


posto. Admittamos, por exemplo, que tocaram a

carta do centro, collocaremos o baralho ao centro

do quadrado. Se a carta tocada foi a da direita,


lado superior, deixamos o baralho á direita do qua-
drado que lhe corresponde. E o mesmo acontece

para os outros logares.


Apenas o sujet entra, olha para o sitio em
que
deixamos o baralho, compara mentalmente com o

quadro cemposto pelas nove cartas e


designa ins-
tantaneamente a
que foi tocada.

Os quatro reis do baralho

Vamos explicar a sorte dos quatro reis que col-


locando-se separadamente vão encontrar-se no meio
do baralho.

Entregam-se os
quatro reis a uma
pessoa pedin-
do-se-lhe para pôr dois d'elles, um
por cima e ou-

tro por baixo do baralho.


Depois d'esta operação conserva-se o baralho na

mão esquerda, pondo-se o dedo minimo entre duas


metades para se estar preparado para fazer o salto
do baralho (o salto do baralho é fazer passar a me-

tade de cima do baralho para baixo e vice-versa,


sem o menor ruido).
Volta-se em
seguida a carta de cima para fazer
ver novamente que é um rei e torna-se a-deixar va-

não
garosamente no seu
logar para provar que se

escamoteia.

O mesmo se executa com a carta de baixo, não


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
27

esquecendo conservar
sempre o dedo minimo na

posição primitiva. Depois d'estes preparativos pe-


de-se ao
espectador para depositar os outros dois
reis no meio; apparenta-se cortar simplesmente o
baralho em duas partes eguaes, afim de que os dois
reis se
colloquem entre ellas e faz-se o salto do ba-
ralho. Por este meio, os dois reis, que antes do
corte estavam um
por cima e outro
por baixo, vem

a ficar no meio do baralho, e


espectador
o
pondo
ali os outros dois reis fica persuadido que os dei-
xou
longe dos primeiros, quando os
poz todos jun
tos. Mostram-se em seguida, com espanto de to-

dos, os quatro reis reunidos.

A carta que sem ser tocada salta fóra



*

do baralho

Faz-se tirar uma carta que depois se mistura com

as outras; mette-se o baralho em uma


especie de
caixa, que põe
se sobre uma garrafa, que serve

como de pedestal: no momento que se


requer pe-
los assistentes, a carta salta ao ar. Deve-se pedir
a um dos espectadores que tire uma carta do ba-
ralho, mas isto com tal destreza, que o es-

pectador tire a carta


que se
deseja: mette-se en-

tão o baralho na caixa, de modo que a carta esco-

lhida figue sobre um fio de retroz seguro ao lado


da garrafa, o
qual passa pelo baralho sobre a borda
da caixa, e atravez da mesa por detraz do reparti-
mento. D'este modo o confidente não tem mais que
puxar o fio que levanta a carta, que correndo so-

bre a liza extremidade da caixa, anda com tão pe-


quena fricção como se corresse por uma roldana.
28 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Se quizermos dispor as cartas na caixa tão de-


pressa, que os espectadores não percebam algum
preparo, não devemos servir-nos do baralho que se

tiver mostrado, mas deixal-o dextramente sobre a

mesa, e empregar outro baralho em


que de ante-

mão se tenha preparado a carta escolhida e o fio.

Um rato n'um baralho de cartas

Pega-se em um baralho cujas cartas estejam pe-


gadas pelos cantos umas ás outras, mas que este-

jam ôcas pelo meio, em fórma de caixa.


Esta caixa deverá estar por cima coberta com

uma carta inteira pegada em deredor ás cartas in-


feriores que a formam, e
por cima d'esta carta,
que lhe serve de tampa, deverá haver outras cinco
ou seis inteiramente soltas, as
quaes se removerão
com o fim de fazer acreditar que é um baralho
completo que se tem entre as mãos.
E mister além d'isto que a caixa esteja guarne-
cida por debaixo com uma carta inteira, que lhe
serve de fundo, e
que não estando pegada ás ou-

tras cartas que a formam senão por um só dos


seus lados, prestam facilmente os seus outros la-
dos e cede ao menor peso que tenha em cima.
Por ultimo, é preciso que esta carta de baixo seja
como uma
porta que se abre e fecha com facili-
dade.
“Tendo um baralho preparado d'este modo, abre-
se a caixa, e depois de haver introduzido n'ella um

rato, fecha-se em seguida, havendo o cuidado de


segurar sempre a carta de baixo com a mão, afim
de que se não mova nunca.
MANUAL DO PRESTIDIGIFADOR
29

Dirigindo-se então a uma pessoa, pede-se-lhe que


abra as mãos approximando-as uma da outra, e

deixando-lhe n'ellasobaralho, diz-se-lhe que tem

a virtude de metamorphosear as cartas em


qual-
coisa extraordinaria. E
quer emquanto se
dirigem
algumas palavras ad publico para amenisar, esca-

moteia se o baralho e mette-se na algibeira tempo ao

de simular tirar pós para operar a metamorphose.


Como a carta de baixo se abre com o peso do
rato, deduz-se d'aqui que este deve ficar nas mãos
do que-antes julgava ter um baralho.

As vinte cartas

“Tomam-se vinte cartas, e collocando-se duas a

duas sobre a mesa, diz-se a varias pessoas que re-

tenham de memoria duas cada uma, isto é, as duas


cartas de'um dos dez montes que se fizeram. Re-
colhem-se de novo todos os montes, pôem-se um

sobre o outro, sem os desmanchar, e dispõe-se as

cartas sobre a mesa


pela regra d'estas quatro pa-
lavras :

M U T s
VU
1 2 3 4 5
D E D I T
6 8 10
7 9
N o M E N
1 12 13 14 to
c o c I s
16 1 1
18 19 20

O duas
primeiro monte de
cartas põe-se nos nu-
30 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

meros 1 e 13; o segundo nos numeros 2 e 4; O

terceiro nos numeros 3 e 10: e assim successiva-


mente seguindo a ordem das duas letras que são

iguaes, e quando se declare que as duas cartas que


se
pensaram estão, por exemplo, na
segunda linha,
reconhece-se que estas são as collocadas nos nume-

ros 6e 8.
Se nos dizem que estão na
segunda e na
quar-
ta, vê-se igualmente que estas são as collocadas
nos numeros q e 19, attendendo a
que estas qua-
tro palavras estão compostas de vinte letras repe-
tidas.

A carta obediente

Mande-se fazer uma mesa


que tenha quatro pés
bastante finos, para que não dê logar a suspeitas:
um dos pés d'esta mesa será ôco, afim de dar pas-
sagem a um canudo Flandres, de folha de de meia
pollegada de
diametro, o
qual principiando abaixo
do soalho do theatro, atravessará o
pé da mesa e

chegará até acima, e voltando em


angulo recto pas-
sará por dentro da taboa que cobre a mesa, e irá
saír no meio d'ella, excedendo superficie a d'esta
duas pollegadas. Procura-se depois tirar todo o

fundo de uma
garrafa sem offender os lados, intro-
duz-se pelo fundo uma pelle de castor, cortada de
maneira a ter exactamente o mesmo diametro do
interior da garrafa, e esta colloca-se sobre a mesa

no
logar onde caiu o canudo de folha, de modo

que as duas pollegadas que sobresaem á mesa fi-


cam dentro da garrafa.
Na extremidade do canudo que fica abaixo do soa-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 31

lho estará alguem com um folle, cujo bico possa


ser introduzido justo dentro do canudo.
Tocando-se este folle, far-se-ha subir a
pelle de
castor até quasi ao gargalo da garrafa ; introduz-se
pelo gargalo uma rolha bastante comprida para ir

descançar sobre a
pelle de castor, ficando com a

outra extremidade no começo inferior do gargalo.


Isto feito, mette-se uma carta qualquer pelo mes-

mo gargalo, e esta irá descançar sobre a rolha de


<ortiça, ficando occulta e
prolongada com o
gargalo
em
posição vertical. Arranjado todo este apparelho,
o
magico tomará um baralho de cartas, onde terá
introduzido uma carta maior de que todas as ou-

tras, e esta carta deve egual áquella que


ser houver
sido posta garrafa:
na supponhamos que a carta da
garrafa é uma dama de paus,a carta maior do que
todas as outras deve ser egualmente uma dama de
paus. O magico apresentará este baralho'a algum
espectador para partir e vêr a carta que fica por
do monte
baixo que tem na mão ; necessariamente
o espectador partindo o baralho pegará na carta

mais saliente, e
pcr isso apresentará a dama de paus.
Então o magico, tocando algum instrumento, tal
como rabeca, e a fim de impedir que sejam ouvi-
«dos os sopros do folle, mandará que venha a dama
de paus de dentro da garrafa ; o ajudante por baixo
do soalho fará soprar o folle, a cada sopro d'este
a pelle de castor subirá um pouco na
garrafa, e
por
conseguinte subirá tambem tudo o que estiver so-

bre ella, e eis ahi saindo da garrafa a dama de paus


obediente ao mandado do magico e no meio dos

applausos dos espectadores.


32 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

A espada de Satanaz

“Tenha a bondade de tirar uma carta d'este bara-


lho... bem! Dê-se ao incommodo de a mostrar ás

pessoas que a
quizerem ver, emquanto vou buscar
a espada de Satanaz.
Agora metta-a no baralho d'onde a tirou... póde
mesmo baralhar as cartas... Em logar de me dar
o baralho, atire-o ao ar na direcção da minha ca-

beça, mas só quando eu tiver contado até tres...

Principio: um,
dois, tres...
Bravo!... á

primeira esto-

cada espetei o

sete de espadas
no meio d'este
chuveiro de car-

tas.

É estaa carta

que tirou do baralho ?... Effectivamente é a mes-

TRA.

Quem se póde gabar de ser tão destro com uma

espada usual? Seguramente ninguem! Mas é que


a
espada de que nos servimos tem um certo não
sei
que differente das outras, c este não sei quê é
*
um barrillet adaptado punho ao da espada e co-

berto com uma


chapa quadrada do tamanho de uma

carta, apparelho que a mão occulta facilmente. Um


cordão está enrolado na móla do barrillet, e ajus-
tado por uma das extremidades até á ponta, um

1E uma cavidade contendo uma móla de figura espiral


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 33

pouco redonda, da espada, onde passa por um bu-


raco, que, apesar da tenção forçada damola, im-
pede-o de voltar para traz ; digamos, ainda, que na
extremidade do cordão está atada a
ponta (do ta
manho de dois centimetros) de uma
espada.
Nada mais ha a fazer do que deixar partir a ex-

tremidade do cordão, que volta facilmente a


para
extremidade da espada, onde é obrigado a parar
com a carta, que parece ter sido furada entre aquel-
las que se atiraram para o ar.

Para que a carta seja egual á que se tirou, sup


ponho que se deu a escolher um baralho composto
sómente de setes de espadas, e
que se troca im-
mediatamente por outro, para que os
espectadores
não percebam este ultimo engano.

O ramalhete de cartas

É um arbusto coberto de folhas, cujas raizes en-

tram em um lindo vaso. O prestidigitador colloca-o


sobre a mesa e pede a varias
pessoas que tirem
doze cartas de um ba-
ralho que lhes apre-
senta; depois de se

verem as cartas e de
estarem bem conheci
das, cada pessoa põe
a cárta que tirou do
baralho n'um prato,
onde se
queimam em

seguida. A cinza das


cartas espalha-se então á roda do arbusto, no cume

do qual-se veem de seis cartas


repente ; depois,
34 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

no
logar d'estas apparecem as seis que faltavam.
É necessario saber, primeiro, que o prestidigita-
dor faz tirar aos
espectadores cartas forçadas.
Expliquemos o
segredo. Levantando-se um
pouco
o vaso, vê-se que está collocado sobre tres mólas.
A primeira serve para elevar até á altura de dois

terços do vaso uma haste que não se vê por causa

da folhagem. Esta haste é composta de seis palhe-


tas como as varetas de leque;
um na extremidade
de cada uma ha um
apparelho, em cada um dos

quaes está uma das doze cartas obrigadas, que o

prestidigitador fez tirar. Quando a haste chega à


altura que acabamos de descrever, uma
segunda
móla faz abrir as varetas do leque, e levanta-as até
ficarem sobranceiras á folhagem do vaso.

Ainda, porém, não appareceram senão as seis


cartas dos especta
dores: querem ver

as outras? É agora
que trabalha a ter-

ceira móla. No
meio de cada um

dos apparelhos pos-


|
tos, na extremidade
das varetas, está
collocado sobre um

gonzo um leque
abre da direita
que se para a esquerda, como
o fa-
ria a folha de um grande livro aberto. Ora, na
pri-
meira e
scgunda pagina d'esta folha, estão duas
metades de cartas, e as outras duas corresponden-
tes acham-se sobre a chapa onde está a folha, de
É

MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 35

maneira que fazendo a


passar de um lado para o

outro, por assim dizer fecha-se um livro que enco-

bre a
primeira carta, e abre-se um
segundo que
-deixa ver a outra carta. Tal é o emprego .
da ter-

-«ceira móla.

Fazer passar uma carta d'uma


mão para a outra

Tiram-se dois azes, um de copas e outro de es-

padas.
Sobre o de espadas applicar-se-ha um ponto de
«copas e sobre o de copas um
ponto de espadas, o

que facilmente se fará por meio d'uma carta de


“cada naipe, recortando d'ellas habilmente uma copa
ec uma
espada, de modo que limpas. Es-
suiam bem

fregar-se-hão depois os
pontos ligeiramente por de-
“baixo, com um
pouco de sabão ou de pomada bem
“branca, e
pôr-se-ha a copa sobre o az de espadas
e a espada sobre o az de copas, tendo o cuidado
-de as cobrir inteiramente e fazer todos estes pre-
-parativos antes de começar as experiencias.
Prepara-se o baralho em dois montes, pondo de-
“baixo de cada um d'elles os azes preparados; em

seguida toma-se com a mão direita o monte sob o

qual está o az de copas e com a esquerda aquelle


-em
que está o az de espadas.
Mostra-se ao
publico que o az de copas está
direita e o az de espadas á esquerda, e
quando to-

-«dos se achem convencidos, dir-se-ha


-

Senhoras e cavalheiros: vou ordenar ao az de


-copas, que estáá direita, que passe para a
esquerda,
-c uo az de espadas que tome o logar d'aquelle.
dos MANUAL DO PRES

Poderá propôr-se tambem que nos amarrem os

braços para impedir que possam unir-se ou com-

municar-se.
Todo o segredo consiste pois, em fazer um mo-

vimento e bater com o


pé ao
dar a ordem, durante
este movimento e bater do pé, passar-seha com

ligeireza o dedo minimo sobre cada um dos azes

para tirar e fazer cair sem que se note os pontos


de espada e
copa que estão pegados pelos meios
acima indicados. Mostra-se então aos espectadores
que as cartas obedeceram á ordem, passando-se da
direita para a
esquerda e d'esta para aquella sem

que as mãos se tenham tocado.


Esta sorte, fazendo-se com destreza, parecerá
muito singular por mais simples que seja. Para o

seu embellezamento convém fazer uso de cartas.


francezas.

A carta escolhida c adivinhada

Achar com a
ponta d'uma espada e os olhos ven-

dados a carta que se tirou d'um baralho, tal é a

sorte que vamos expôr aos nossos leitores.


Manda-se tirar uma carta, e contando todo o
jogo,
pede-se para a collocarem debaixo da carta
larga,
tendo o cuidado ao baralhar de fazel a
passar para
cima; atira-se o baralho ao chão de maneira que as

cartas fiquem dispostas para se


poder distinguir o
sitio onde se acha a que se tirou: pede-se para nos-

vendarem os olhos com um lenço, o que não im-

pede que se
vejam as cartas, attendendo a
que a vista

póde passar por debaixo: espalham-se as cartas


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 57

com a ponta da espada sem perder de vista a


que
se escolheu, espeta-se e mostra-se a todos.

Egualmente se
podem dar a tirar duas ou tres

cartas que se mandarão pôr debaixo da carta larga,


e passar em
seguida para a
parte de cima do ba-

ralho, dando então a cada um a carta que havia ti-


rado, apresentando-se-lh'a egualmente na ponta da
espada. Para isso basta só recordar a ordem em

que se escolheram.
A carta dancanie
O magico pede a um dos espectadores que tire
uma carta de um baralho que lhe apresenta : de-
pois de tirada e baralhada, manda-se que appareça
na
parede, o que ella executa saindo como se re-

quereu, e descrevendo uma linha


divergente da di-
«eita para a
esquerda, desapparece chegando ao

tecto da casa, e torna a


apparecer um instante de

pois movendo-se em uma direcção horisontal. Esta


sorte consiste em fazer que uma pessoa tire uma

carta determinada, conhecida por ser mais com-

prida que as outras; depois de baralhadas as car

tas, tira-se do baralho totalmente


a carta que se viu,
para se mostrar ao publico que a carta já se não
acha no baralho, e quando se ordena que a carta

appareça na parede, o confidente puxa com des-


treza por uma linha que está presa á extremidade
de uma carta semelhante á que sc tirou, e faz-se
correr esta carta por detraz de um vidro. Esta mes-

ma carta está preza por differentes fios de seda


muito finos a outra linha bastante teza, pelo com-

primento da qual se faz correr a carta, e esta di-

recção da linha é que fórma a


direcção da carta.
38 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

A carta que se queima, e acha depois


em um relogio

Um dos espectadores tira uma carta ao acaso, o

magico pede tres relogios aos


espectadores, os
quaes.
se embrulham em differentes pedaços de papel em
fórma das caixas em que se põem os dados; pô-
sobre
em-se estes a
mesa,cobrem-se com um guar-
escolhida
danapo ; queima-se a carta e mettem-se
as cinzas dentro de uma d'estas caixas, pouco tempo.
depois abre-se c não se acham as cinzas. PSem-se
das
os tres
relogios em um
prato, uma
pessoas pre-
sentes escolhe um d'elles, a mesma
pessoa abre o-

relogio, e acha debaixo do vidro um


pedaço da carta.
queimada, e na caixa do relogio achá uma carta em-

miniatura, que representa a


que foi queimada. Co-
nhece-se a carta que se escolheu por ser um
pouco
mais comprida (a qual é tirada pela maneira que já
temos explicado n'este livro). Póem-se relogios
os

bem cobertos com o


papel sobre o alçapão (em.
que já fallômos n'outras sortes) e quando se faz
conhecer ao confidente a carta que se tirou, es-

tende este o braço por baixo da mesa, e tira um

relogio, que depois de preparado torna a


repôr no

seu
logar. Devem-se cobrir os
relógios com um

guardanapo, que deve estar seguro, pondo-lhe gar-


coisa de modo-
rafas, ou outra em
cimã, porque outro

se perceberia introducção da mão


a do confidente,
ver-se-hia Para fazer des-
e mover o
guardanapo.
apparecer as cinzas da carta queimada que se chama
dentro da caixa, põe-se uma taboinha ou um
pe-
daço de papel na coberta da caixa, que seja do mes-

mo tamanho e dimensões da tampa, a qual taboi”


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 39

nha quando se fecha a caixa cae sobre o fundo, e

como esta taboinha deve ser da mesma côr do fundo


da caixa, faz o mesmo effeito que um dobrado fundo,
esconde as cinzas da vista do espectador surpre-
hendido, que imagina que as cinzas foram tiradas
para se formar com ellas a carta em miniatura que
se acha no relogio. o
A
|

“Prodígio atravez de um lenço

Consta este
prodigio em achar no baralho e atra-

vez d'um lenço uma carta qualquer que uma


pes-
soa tenha tirado.
Faz-se do seguinte modo :

Dá-se a tirar uma carta, e immediatamente, par-


tindo o baralhodois, diz-se aem
quem a escolheu
que a
ponha no meio; faz-se saltar o baralho por
este lado, e a carta em
questão será a
primeira a

encontrar-se em cima do baralho; então deixa se

sobre a mesa e cobre-se com um


lenço fino e pe-
ga-se na
primeira carta de cima simulando procu-
ral-a por todo o baralho. Volta-se o lenço do ou-

tro'lado e mostra-se que esta carta foi a


que se ti
rou.

Põe-se
A taberneira

secretamente
e

um
os

dos
beberrões

valetes
E mas
quatro em

cima do baralho, tomam-se os outros tres e uma

dama e deixam-se sobre a mesa. Mostrando os tres

valetes, diz-se: «Ora aqui estão tres reinadios que


se divertiram muito e beberam do bom e do me-

lhor na
taberna, mas
que não teem um real: ma-

chinam-se entre si ugirem sem


pagar á taber-
40 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

neira, que aqui está (mostra-sea dama); para con-

seguir o seu fim, dizem-lhe que vá buscar vinho


á adega, e entretanto, fogem cada um
por seu

lado.»
Póe-se então um dos valetes por cima do bara-
terceiro
“lho,
taberneira
o
segundo
não
por
vendo
baixo e o no
meio. «A
os
quando volta, quer correr

atraz d'elles: põe-se a dama em cima do baralho, e

alcança os caloteiros». Manda-se partir e mostra se


que a dama se encontra com os valetes.

A cabeça do diabo

A do todas
cabeça diabo responde a as
pergun-
tas
que se lhe dirijam, não vocalmente, porque po-
dia intimidar os
espectadores, mas com os olhos e

com a boc-
ca. Quando
mexe os

olhos e si-

gnal affir-

mativo, e

quando a-

e
die
=
bre Hotel
é
negativo.
Faz mais
ainda: apresenta-se um baralho de cartas a qual-
quer pessoa, para tirar uma; depois de estar vista,
junta-se com as outras, mette-se o baralho na bocca
do ordena-se-lhe
diabo, e
que deite fóra sómente
a
carta que se tirou, e immediatamente expulsa, en-
tre tantas que tem na bocca, sómente a
exigida.
Quem lhe dá este poder ? Vejamos. A cabeça do
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 41

diabo está suspensa por um ferro introduzido nos

ouvidos, cada uma das extremidades do qual as-

senta sobre uma columna de vidro. Esta machina


está collocada sobre um estrado de madeira, em

que se cravam as columnas, e debaixo d'elle es-

tão collocadas as teclas. Estas teclas dão movimento


a umas hastes, tambem de vidro, collocadas den-
tro das columnas A acção communica se ao appa-
relho encerrado no ferro transversal; um faz mo-

ver os olhos e o outro a bocca. A carta que a ca-

beça do diabo expulsa, sae por uma fenda collo-


cada por cima ou
por baixo dos beiços. E n'este
sitio que o pretendido magico a
põe, já se vê, muito
tempo antes. Para ser a mesma
que qualquer pes-
soa tirar, emprega-se um baralho de cartas eguaes.
A carta dançante PRme cota
Pede-se a uma pessoa para tirar uma carta (a
carta larga forçada), e depois de a ter visto pede-
se-lhe que a misture no baralho ; torna-se a
pegar
no baralho e manda-se tirar a outra pessoa esta

mesma carta, e o mesmo se faz a uma terceira ou

quarta pessoa se se
quizer, notando apenas que as

pessoas ás quaes se manda tirar a carta forçada


devem estar distantes umas das outras. Acto con-

tinuo tiramos de differentes partes do baralho tan-

tas cartas
quantas se mandaram tirar, havendo o

cuidado de incluir entre ellas a carta larga que os

outros tiraram separadamente ; mostram-se então


todas as cartas, perguntando em
geral se cada um

vê ali a sua carta; os


que a tiraram respondem que
sim, attendendo a que todos véem a mesma carta
42 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

larga, tornam-se-a metter depois no baralho e cor-

tando pela carta larga, mostra se a um d'elles a

carta de baixo, perguntando-lhe se é aquella a sua,


e
responde que sim ; dá-se um
piparote e mostra-se

a outra pessoa que responde o mesmo, € assim a

todas as demais pessoas que julgam que esta mes-

ma carta varia ao
gosto ou capricho do prestidigi-
tador, e não imaginam que todas ellas tiraram a

mesma carta.

Se a
primeira pessoa não toma a carta larga que
se lhe apresenta, é necessario então fazer tirar a

todos cartas differentes, e cortando-se o baralho,


fazel-as passar para debaixo da dita carta, affe-
ctando golpear de cada vez; cortar-se-ha pela carta

larga e devolver-se-ha a cada um a carta que tirou,


observando que se deve dar a primeira ao ultimo,
retrocedendo assim até voltar ao
primeiro.
A carta que se muda debaixo dos dedos

Para executar esta sorte é preciso fazer uso d'um


baralho francez.
Apaga-se um dos pontos de um tres de copas,
guardando logo esta carta algibeira.
na

Depois, tomando um baralho, debaixo do qual


estejam o az e o tres de copas, corta-se para os

fazer passar para o meio, forçando a tiral-os em

seguida um cavalheiro ou uma senhora a quem se

entregará o baralho depois, afim de que possam


tornar a pôr n'elle pelas suas mãos as cartas e ba-
ralhar.
Durante este tempo toma-se habilmente a carta

que se mette na
algibeira, occultando-a debaixo da
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 43

mão, e
pegando baralho,
no põe-se por cima; corta-

se tirando em
seguida a carta do meio do jogo, e
apresentando-a ao
que tirou o tres de copas (occul-
tando com o dedo index o
ponto que está apagado
afim de dito de
que se
imagine ver o tres copas),
pergunta-se-lhe :

É esta carta? elle


a sua e
responderá :

Sim, senhor.
Torna-se então a escolher com os dois dedos da
mão esquerda, e occultando o
ponto opposto, isto
é, o que não se
apagou, mostra-se á pessoa que ti-
de
rou o az
copas dizendo
lhe :

E esta é a de v.
ex.?, minha senhora? Ao que
responderá :

É a —

minha.

Não póde ser, replica-se. E mostrando-a de


novo ao
primeiro, accrescenta-se
:
cavalheiro diz é
Este a delle.

que

Nada, essa não é.


E em
seguida mostrando o tres de copas á se-

nhora
:

Eu bem sabia que a carta de v. ex.º era esta.

Ao que ella responderá:


Nunca; a minha não é essa.


Então v. ex.ºquer enganar-me a mim, para
que eu engane as mais pessoas, responde-se ; e ba-
tendo com o dedo sobre a carta mostra-se a um

depois do outro as duas cartas que ambos tiraram,


dizendo :

Eis aqui a carta de v. ex.º e a sua. -

Cada vez
que se
queira fazer mudar a carta, deve
esta tomar-se com os dedos da outra mão.
44 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

to
Adivinhar ma carta pensada
fl
Um dos espectadores antes de pensar uma carta”

escreve um numero
qualquer. Todo o
apparato
d'esta sorte consiste em uma combinação mathe-
matica eis
: aqui como deve executar se.

“Toma-se um jogo de piquet!* que se


apresenta a

um dos espectadores recommendando-lhe que ba-


ralhe bem as cartas e
que as mande misturar por
quem quizer ;'manda-se cortar em seguida por va-

rias pessoas e
propõe-se depois a
qualquer para se-

gurar o baralho, pensar uma carta e lembrar-se d'ella


assim como o numero onde se encontra collocada,
contando um, dois, tres, quatro, etc., comprehen-
dendo a carta pensada.
Emquantro se effectúa operação offerecemos
esta

retirar-nos para outro gabinete, ou


pedimos para
nos vendarem os olhos, assegurando ao publico que
annunciará
se antecipadamente, se assim o deseja,
o numero onde deverá achar-se a carta pensada.
Suppondo que a
pessoa que pensar a carta pa-
rará no numero 13, e
que esta decima terceira carta

é o valete de copas, e
suppondo tambem que o nu-

mero
que se marcou antes é o
24, entrar-se-ha no

outro gabinete, se é que se sahiu, tirar-sê-ha o lenço


se nos vendarem os olhós, depois, sem
dirigir ne-

nhuma pergunta á pessoa que tiver pensado a carta,

pedir se-lhe-ha sómente o baralho, sobre o


qual se

nariz
pousará o como
para cheiral-o.
Depois, pondo as mãos atraz das costas com o

*
Baralho francez de 32 cartas. A pag. 76 do nosso Manual
do
dos jogos encontra-se o tratado Piquet.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 4>

baralho ou occultando as debaixo da mesa, tiram-se


de debaixo do jogo vinte e tres cartas, isto é, me-

nos uma do que o numero


que traçámos antecipa-
damente, e collocando-as sobre as restantes, ter-

se-ha o cuidado de não pôr uma de mais ou de


menos, porque isso impediria o bom exito da
sorte.

Isto feito, devolver-se-ha o baralho á pessoa que


pensóu a carta, recommendando-lhe que conte as

cartas tomando-as de cima do baralho, a


partir do
numero da que pensou. E sendo esta a decima ter-

ceira, deverá principiar quatorze, a contar e man-

dar-se-ha parar quando disser 23, advertindo-a que


o numero que com antecipação se designou foi o

24, e
por conseguinte vigesima quarta carta
a
que
vae voltar será o valete de copas, o que effectiva-
mente succederá.

A carta estan

Antes de executar esta experiencia pedem-se al-

guns lenços sob diversos pretextos, guardando-os


logo cinco minutos pelo menos sobre a mesa; a

estes misturamos o nosso com o fim de poder ti-


rar um, ficando ali o mesmo numero, pois não é ne

cessario servir nos dos que deixamos ficar no bolso :

dá-se a examinar um baralho c


pretextando não que-
rer presenciar este exame passamos a um outro

ali vinheta de
gabinete.Temos já disposta uma co-

bre representando o oito de ouros ou de copas sem

alguma.
nem orla
canto .

E impossivel servir-nos do az ou qualquer figura.


Com um
pincel feito expressamente para esse fim
40 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

estampamos depois, ligeiramente, a carta no meio do


lenço.
A carta encarnada imprime-se com o vermelhão
desfeito com
grude, e a
preta com fumo de imprensa
e colla.
Assim que o baralho se examinou, devolvemos os

lenços, á excepção do que está estampado, o


qual
deixamos sobre a mesa, estendendo o baralho. Ao
reconhecermos anossa carta pomol-a sobre o
jogo,
fazendo o salto do baralho ; a carta acha-se então no

meio
: forçamos um espectador a tomar essa carta

e mandamol-a queimar carrega-se pistola com


: uma

polvora, e depois de estarmos certos de que a carta

está completamente queimada, introduzimos a cinza


na
pistola; dobra-se o lenço e apresenta-se com a

impressão para dentro: manda-se disparar e no mo-

mento da expulsão desdobramos o


lenço e
apparece
impressa n'elle a carta.

As cartas magneticas

Tenham a bondade de tirar cada um uma carta

d'este baralho, e fixala na memoria. Tenham a

bondade de novamente a
pôr no baralho.
Sobre a mesa colloco
garrafa cheia de agua esta

filtrada, que me ha de ajudar na experiencia. Em


vez da costumada rolha de cortiça esta garrafa é
tapada por uma
especie de caixa, na qual poremos
perpendicularmente o nosso baralho. Agora cada
um chamará a sua” carta pela ordem porque as

viu. A força magnetica da agua as fará sair do ba-

ralho. -
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 47

«Valete de copas»

Eil-o! —
«Nove de ouros»

Vejam como obedece !


A que devemos, porém, nós a obediencia d'estas
cartas? A um fio preto. Escutem. A caixa tem dois
repartimentos parallelos. No repartimento de diante
põem-se -as cartas que vv. ex.% tiraram, as
quaes
eram cartas forçadas, e no
segundo estão prepa-
radas outras iguaes a essas
Tem-se então um
pequeno maço de cinco ou

seis cartas quaesquer, não sendo das que devem


sair. Este maço é enrolado no sentido do compri-
mento das cartas, com um comprido fio negro.
lhe cinco
Quando se tem, para a
segurar bem, dado
ou seis voltas, cuja ultima deve terminar na frente
das cartas, põe-se sobre essa uma qualquer,
carta

ao
longo da qual se faz descer o fio, depois collo-
ca-se ahi a ultima que deve ser chamada. Conduz-se
então o fio até ao alto d'esta.
Vem em
seguida carta tomada
uma ainda ao

acaso, sobre a qual o cordão desce, e que se co-

bre com a
penultima que deve apparecer: e assim

por diante, até chegar á primeira, que o fio cobre,


para ir passar por um buraco feito na
parte infe-
rior das costas da caixa, e d'ali ir prender-se á mão

occulta, que, puxando-a, fará apparecer, umas


apoz
outras as cartas pedidas pelos espectadores.

Acarta pensada e achada no numero pedido

Ponha-se a carta larga de fórma que seja


a sexta no baralho, estendam-se sobre a mesa

«lez ou doze cartas de cima, proponha-se a uma


48 MANUAL DO PRESTIDIGYTADOR

CERAAAAEASA PASS
SESSDI
SARPSSEPSS
DSPSP
EPP
RESP
PPERIES O

pessoa que pense uma, retendo na


memoria o nu-

mero onde se encontra collocada ; tornem-se a


pôr
estas cartas no baralho, corte-se pela carta que en-

tão estará por cima; pergunte-se á mesma pessoa


em que numero está a carta que pensou : conte-se

mentalmente desde esse numero até dezeseis, pondo


as cartas sobre a mesa e tirando-as de baixo, pa-
re-se n'este numero, sendo a decima setima a carta

pensada. Pergunta-se á dita pessoa se viu passar


a sua carta e ella diz que não; então pergunta-se-
lhe em que numero deseja que esteja, e retirando
com o dedo a carta em
questão, tornar-se-hão a

tirar até
as
que seguem chegar ao numero
pedido.

As cartas viajantes

Apresentemos um baralho aos


espectadores, e.

façamos-lhes tirar duas cartas obrigadas. Um, tirou


o az de co-

pas, e ou-

tro, a dama
de espadas.
Levamos as

duas cartas,
e pômos ca-

7 da uma

<= dellas so-

bre uma mesinha redonda, de dama de


tresfpés ; a

espadas á esquerda, de á direita. De-


e'o az copas
pois de mostrar que as cartas estão effectivamente
no
logar que apontámos, cobrimos ao mesmo
tempo
ambas as.mesas com uma
tampa de folha de Flan-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 49

dres, e
participamos aos
espectadores que as car-

tas vão invisivelmente mudar de logar. Levantam-se


as
tampas, e effectivamente deixam ver a primeira
d'estas cartas no
logar da segunda, e esta no
logar
d'aquella.
Um magico só, ainda que não conhecesse esta

sorte, poderia adivinhar que as mesinhas tão finas,


na
apparencia, tem comtudo um duplicado tampo ;
que em cima do primeiro, inteiramente separado
da machina, e um pouco maior que o verdadeiro
tampo, mettemos as cartas destinadas a substituir
aquellas, que fizemos tomar como
por acaso; adi-
vinharia finalmente que as
tampas, apertando em si
os
tampos superiores, os tinham tirado juntamente
com as cartas, que á vista de todos ali collocâmos.

A carta dentro d'um annel

Manda-se fazer um annel dois engastes


com op-
postos um ao outro, os quaes estejam guarnecidos
duma pedra ou
crystal rectangular do mesmo ta-
]

manho.
Uma d'estas duas pedras dispõe-se de maneira

que se lhe possa applicar por debaixo a


figura d'uma
carta pintada em miniatura sobre um
papel. Con-
vém que o annel seja bastante largo para que possa
girar facilmente no terceiro ou quarto dedo da mão
esquerda.
Obriga-se uma
pessoa a tirar uma carta
egual à
que se introduziu debaixo de uma das duas pedras
do dito annel, pede-se que a
queime á luz d'uma
véla; durante este intervallo mostra-se o annel
que se tem no dedo apresentando apenas o lado
4
5o MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

d'onde está só a
pedra; toma-se em
seguida com

o dedo da mão direita um pouco da cinza da


carta queimada, e com o pretexto de esfregar a pe-
dra gira-se o annel no dedo, mostra-se do lado aonde
está a
pequena carta c
observa-se que é a que se

queimou, suppondo rel-a feito reapparecer ali por


meio das suas cinzas.

Um copo metamorphoseado em pedaços


de carta

sta sorte é extremamente simples e realmente


não passa d'uma illusão d'optica. Depois de se
pe-
dir para nos darem de beber, quando se tem esva-

siado o
copo, faz-se com um braço um movimento
como se se deixasse o
copo e se
quizesse apanhar
-no ar; deixa-se então cair nos joelhos ou no
guar-
faz-se
danapo : com a mesma mão um movimento
d'arremesso para o tecto e atiram-se vivamente ao ar

fragmentos de cartas que se tem escondido entre os

dedos. O
espectador, ligando toda a attenção a

este segundo movimento, que julgou ser executado


pelo escamoteador para atirar o
copo ao ar, e vendo
cair pedaços
os de cartas, julga que o copo foi me-

tamorphoseado n'esses fragmentos.


Jogo de cartas muito bonito

“Toma se um baralho dispõe se e de modo que se

principie pelo az, rei, dama, valete, etc., e assim até


á ultima. Feito isto, manda-se cortar; depois esten-
dem-se sobre a mesa
pondo as côres para baixo, di-
si:
zendopara az, rei, dama, valete, etc., voltando a

principiar do mesmo modo até que as cartas


fiquem
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 5

-dispostas a quatro e
quatro, e então se encontra-
rão juntos os quatro azes, os quatro reis, e o mes-

mo succede ás cartas restantes.

A carta rasgada e concertada

Deve ter-se uma caixa de papelão do tamanho


-d'uma carta de jogar e uma chapa de chumbo bem
“delgada. D'um lado pinta-se de preto, do outro com

colla forte pega-se um


pouco de tabaco em
pó, dei-
tando tambem d'este no fundo da caixa: depois
põe se
por cima a servir de tampa uma carta igual
-“á que se
quer rasgar, da qual se deve ter tirado
do lado e do meio um
pedacinho do tamanho da
“«decima sexta parte da carta. Em seguida colloca-se
a
chapa de chumbo por cima da carta que serve

de tampa, pondo-aí do lado onde está pegado o ta-

baco.
Manda-se tirar do baralho a carta
igual á
que está
na caixa e
pede-se para a
resgarem em dois boca-

dos; toma-se a metade e diz-se ao que tem a ou-

tra metade que faça o mesmo


que nós fazemos.
Rasgam um e outro a metade da carta em oito
pedaços, e
propõe-se para cada um concertar a sua

meia carta, o que a qualquer impossivel é fazer.


Então pega-se nos oito pedaços que se collocam
«com Os outros oito sobre uma mesa ; abre-se a caixa
de cima para baixo, de maneira que do lado onde
está a
chapa de chumbo fique coberta com todo o

tabaco ; apparenta-se ter vontade de rir pela asneira


que se fez e torna-se a metter o tabaco e os
peda-
cos da carta na caixa. Antes de a fechar, pede-se
à pessoa que rasgou a carta que nos dê o bocado
52 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

com que ficou, ao que ella responde que não ficou.


com nenhum ; então dá-se o bocado que se
rasgon
da carta e
que está na caixa, a
qual se
tapa; a

chapa com o seu


peso cae no fundo.
Abre-se a caixa e mostra-se a carta á qual falta
um bocadinho, que se acha nas mãos do outro.

Esta sorte causa mais illusão d'este modo que:


com as caixas de folha.

Quodlibet magico

Dá-se este nome

consiste
a uma especie
advinhar
de
recreação ari-
thmetica, que em numeros, pa-
lavras,
sentados
naipes, figuras
divisões d'um
ou
outros-desenhos
embora
repre-
nas
quadrado, este

quadrado forme uma só peça ou cartão, ou forme


seis tiras ou tabellas
separadas quantas são as co-

lumnas verticaes de que se


compõe.
Figuraremos o
quadro com cifras, que são as

que servem de base para a sua formação, as


quaes
como já dissémos, pódem substituir-se coméo de-
senho que se
quizer.
O dito quadro tem direito e avêsso, e as suas

divisões coincidem perfeitamente por ambos os la-


dos. As divisões ou casas são 36, dispostas em seis
columnas de seis cifras cada uma. No direito, a

que chamaremos lado c4, as cifras contam-se de


cima para baixo em cada columna vertical que vae

da esquerda para a direita.


No avêsso, ou seja lado B, as cifras contam-se
da esquerda para a direita em cada fila horisontal
que vae de baixo para cima. Sobrepostas estas ci-
fras por cada lado, corresponderão as
quatro dos
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 53

angulos 31, 6 e 36 do quadro


1, 4 com as dos
quatro angulos 31, 36, 1 e 6 do quadro B.
Eis aqui os dois quadros:
A

1 7 |13)19/25]31
2 8 14/20 | 26
| 32

31|32 [33

25
[26| 27 |
[19| 20 [21º
13[14 [15]
7 |8 fo]

Perfeitamente, mostra-se
a um
espectador o car-

tão pelo lado 4, e


pergunta-se-lhe em
que colum-
na está a cifra ou figura que escolheu mental-
mente. Volta-se em seguida o lado B e faz se lhe
a mesma
pergunta.
Depois a
adivinhação é facil. O numero de or-

“dem da columna do lado 4 é o numero de collo-


54 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

cação da casa da columna do lado B, começando.


a contar por baixo. Se o espectador disse que a ci-
fra está na terceira columna de 4 e na
quarta de
B, começando a contar por baixo n'esta quarta co-

lumna até à terceira casa, encontrar-se-ha a cifra


16, que é effectivamente a
que foi escolhida.

o Quodtibet
Incluimos magico na
parte 1 do nosso.

de 36 cada
Manualporque dois com baralhos cartas

um, póde muito bem fazer-se esta recreação, esten-

dendo as cartas de modo que formem os dois qua-


dros. Para collocal-as não ha outro artifício senão
o de dar a cada carta o numero correspondente,
conforme está marcado nos
quadros 4 e 5.

Os azes metamorphoscados em reis

Consiste esta sorte em


pôr os
quatro azes de-
baixo d'um chapeu e os
quatro reis em cima do
baralho que se tem na
mão; fazer com
que os azes

vão para o baralho e os reis passem para o


chapeu.
Em seguida fazer voltar os azes
para o
chapeu e

os reis para onde estavam antes.

Para executar esta sorte, tem-se quatro cartas

preparadas que são os


quatro azes e os
quatro reis

pegados costas com costas. Espalham-sc estas car-

1as falsas no interior do baralho, com os azes á

vista, e collocam-se cm cima os


quatro azes ver-

dadeiros. Chegado o momento de executar a sorte,


toma-se o baralho e procura-se n'elle as quatro
cartas falsas e os
quatro reis. Collocam-se estes

oito naipes sobre a mesa, conservando na mão es-

querda o baralho.
Pede-se um chapeu que se colloca com a mão
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 55

direita de tampo para cima sobre a mesa. Tomam-


se os
quatro reis e mostrando-os aos
espectadores
põem-se sobre o baralho; mas ao collocar este em

cima da mesa ao lado do chapeu fazem-se saltar


para a parte inferior. Tomam-se em
seguida as qua-
tro cartas falsas e cobrem-se com o
chapeu, em

cuja operação se mudam de posição, isto é, faz-se


com
que o lado dos azes beije a superficie da mesa.

Dando em
seguida com a varinha
magica na copa
do chapeu, levanta-se este e
apparecem os quatro
reis; levantam-se as
quatro cartas superiores do
baralho, e apparecem os quatro azes verdadeiros,
que é aonde estavam desde o principio collocados.
Os espectadores creem
que, effectivamente, se
ope-
rou uma
mudança entre os azes do chapeu e os

reis do baralho. .

Annuncia-se em
seguida que vae operar-se nova

mudança. Para isto, ao tempo de pegar no bara-


lho e fazer o
gesto de tornar a pôr em cima os

quatro azes, que se separaram para mostrar, fa-


zem-se saltar para cima os
quatro reis que estão
debaixo. Tomam-se depois as
quatro cartas falsas

para as cobrir de novo como


chapeu, aproveitando
este momento, como antes, de as mudar de posição.
“Forna a dar-se uma pancada com a varinha ma-
gica, e torna a mostrar-se que os reis do chapeu
vieram para cima do baralho, e os azes do baralho
foram para debaixo do chapeu.
Transformação de cartas

Sem necessidade de grande destreza pódem-se


executar varias sortes de transformação que, pela
56 MANTAL DO PRESTIDIGITADOR

ilusão que produzem, sempre divertem. Vamos


indicar uma combinação que póde servir de modelo
ao amador engenhoso para inventar muitas outras.
Corta-se uma carta de figura pelo meio, despre-
zando a
parte inferior e conservando apenas a su-

perior para fazer a sorte. Introduz-se essa meia


carta no baralho, de modo que a cubram duas ou

tres cartas.
Supponhamos que é a cabeça d'um rei
de ouros e que se colloca por cima d'um rei de es-

padas.
Tendo na mão esquerda o baralho, e
apoiando
com os dedos da direita para que não fuja a meia

carta, mostram-se ao espectador as outras que a

cobrem, as
quaes se vão tirando com muito pala-
vreado para que as veja e as note. Ao chegar ao
rei de ouros, que o espectador já está a olhar des-
confiado depois de ter visto tirar e
pôr sobre a

volta-se
mesa as cartas anteriores, o
baralho,guar-
da-se na
palma da mão direita a meia carta, e diz-
se-lhe que tire elle mesmo o rei de ouros.

Naturalmente, a carta que com toda a


simplici-
dade tirará espectador, o não será outra senão o

rei de espadas, cuja cabeça estava coberta com a

meia carta do rei de ouros.

Fazer mudar um rei de copas em az

de espadas e vice-versa

Preparam se
antecipadamente dois reis de copas,
desenhando nas costas d'elles com tinta bem preta
o az de espadas. É evidente que estas duas cartas

parecerão az de copas ou rei de espadas, segundo


o lado porque se mostrem.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
57

Collocam-se as ditas cartas em um baralho,


d'onde setomam, conforme a necessidade, como se

fossem cartas ordinarias. Começa-se a sorte tendo-as


uma em cada mão, e mostrando sómente o rei por
um lado e o az
pelo outro.

Estendem-se os braços, conservando-os bem im-


moveis para as duas extremidades oppostas da mes-

ma mesa
para demonstrar que as mãos não se
ap-
proximam uma da outra, pedindo a um sujeito
que as cubra com dois chapeus, ficando por con-

seguinte as duas cartas tambem cobertas.

Logo que os
chapeus estejam sobre as mãos, vol-
tam-sc as cartas afim de que o rei de copas pareça
o uz de espadas e vice-versa, deixando-as sobre a

mesa e tirando os dois chapeus.


Um instante depois tornam-se a tomar apparen-
tando ir mistural-as em um baralho com o fim de
as fazer
desapparecer realmente e guardal-as na al-
gibeira, deixando
negligentemente o baralho em ci-
ma da mesa; póde haver alguem que suspeite que
se fez uso de cartas preparadas, mas quem tal sus-

peita fórme, ver-se-ha em breve obrigado a retra-


tar-se quando, examinando o baralho, não encontre
n'elle mais do que um rei de copas e um az de es-

padas feito como de ordinario.

A carta enfei ada

O prestidigitador manda escolher uma carta, tor-

na mettel-a no baralho, e ao chamamento da varinha


magica faz com
que ella saia do baralho.
A apresentação Pois é facilima
surprehende-os ?
de executar.
58 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Esta sorte pertence á classe dos


jogos scientificos,
uma vez que é um effeito de physica o que a produz.
Comtudo, incluimol-a aqui, porque na sua execu-

ção precede o fazer escolher


-

a um
espectador uma

carta qualquer como em muitas sortes: que temos

ensinado.
Uma vez que se obrigou o espectador a escolher
uma carta egual á que se tem preparada para a ma-

nipulação, diremos que esta carta se


prepara intro-
duzindo entre as suas duas folhas, de modo que não

appareça á vista, uma


agulha grossa de coser, ou

um bocado de corda tfinissima de relogio.


Collocado o baralho sobre a mesa, e n'elle a carta

preparada, chama-se com a varinha magica, a


qual
terá na extremidade um
pedaço de ferro iman.
É claro que pela acção que o iman exerce sobre o

aço, á medida prestidigitador


que approxima
o a

sua varinha do baralho, desprender-se-ha delle a

carta preparada, pegar-lhe-ha com os dedos e no

meio do assombro dos espectadores, mostral-a-ha


com o
gesto triumphante de um
grande magico.
DIE Lo
TE
arrammannasanananannnaanananonnannananannsaranaransmmanam DADADEL DEIGS nnnnsnnnnnto

BESSA!

GRRSEERE
SAIO RICESATO Ã)

PARTE II ]

Dad
Subtilezas, «trucs» de sala,
transmissão do pensamento, problemas engraçados,

physica recreativa e experiencias simples

A dama obediente -

Forma-se sobre um taboleiro de damas (ou em

cima de uma
mesa) uma
pilha de damas. Póde fa-
cilmente tirar-se d'esta pilha qualquer dama sem

que as outras se movam. Bastará, para tanto, pe.


gar n'uma regua e, de lado, com uma pancada secca

e violenta, fazer saltar a dama escolhida.


É uma operação facil e deveras curiosa.

Objecto escondido e achado

Mandamos retirar o
sujet sôb vigilancia de
a al-
»

gumas pessoas, para uma casa proxima áquella em

que nos achamos.


Encostamo-nos a uma mesa, sobre a
qual estará
Go MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

um livro, preferindo-se que diga respeito ás scien-


cias occultas para motivar a sua presença ali. Pe-
dimos então a uma pessoa para esconder um obje-
cto em um sitio qualquer da sala.
Feito isto, o compadre entra, parece ter alguns
minutos de hesitação durante os
quaes anda ás apal-
padellas, depois decidindo-se de repente, á imita-

ção de Onofroff, dirige-se directamente para o lo-

gar onde o objecto está escondido e encontra-o ra-

pidamente.
Explicação O segredo —

d'esta sorte está apenas


em uma applicação differente da experiencia que
já explicamos a
pag. 24. Tem-se d'antemão com-

binado com o
compadre, que o volume collocado
em cima da mesa
representa a casa onde nos acha-
mos. O logar pozermos onde o dedo indicador so-

bre o livro corresponderá ao sitio da sala onde o

objecto está escondido.


O compadre ao entrar não tem mais que olhar
para a disposição do nosso dedo indicador para sa-

ber o lado para onde deve dirigir-se.


Uma engenhosa fraude

Gastão Tissandier contou na revista La Nature,


a seguinte sorte que viu, diz sabio,
o executar diante
de admiração
numeroso
publico e causar a
geral.
«O operador, —

conta Tissandier, pegou


n'um

copo de vidro e collocou-o sobre a mesa. Annup-


ciou depois aos espectadores que ia cobrir o copo
com um pires, e que conservando-se a distancia»
faria passar o fumo do cigarro que
dentro do copo.
fumava,para
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 6r

«E disse.
effectivamenteexecutou o
que Emquanto
de longe o operador atirava em
direcção ao copo
grandes fumaças, o vidro ia-se enchendo como por
encanto d'um fumo esbranquiçado, leve e abun-
dante.»
A realisação d'este phenomeno é dos mais sim-
conclue illustre homem de
ples, o
sciencia

—.

Basta vasar no vidro duas ou tres gottas de acido

chlorydrico, e humedecer o
pires, no fundo que
deve assentar sobre o copo, com algumas gottas de
ammoniaco, que facilmente adherem á superficie
por capillaridade.
Os dois liquidos, vasados no
copo e no
pires an-

tes do operador os
apresentar em
publico, formam
uma camada tão tenue que passam desapercebidos ;
mas
logo que são postos em presença um do ou-

tro, dão origem a vapores brancos de chlorhydrato


de' ammoniaco. Estes vapores offerecem uma com-

pleta semelhança com o fumo do tabaco.

A moeda dançante ou o baile n'um copo

O magico pede emprestada a um dos especta-


dores uma moeda de cinco tostões: deixa-a cair
sobre a mesa afim de que todos vejam que tem o

peso.
Precisa-se de uma sala de dança... Servir-nos-
hemos de um copo. N'este salão de chrystal, per-
manecerá visivel a todos os olhos. Eil-a... eu bato
o
compasso com a minha varinha... A moeda co-

meça a saltar, e ao mesmo


tempo que a orchestra
vae tocando, vêde-a pular, tornar a cair e precipi-
tar se de novo como uma bailarina.
62 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Para obter este resultado, na apparencia mara

vilhoso, bastou-me logo que eu deixei cair q moeda


emprestada na mesa, pegar n'uma outra, á qual
havia prendido por meio d'uma pouca de cêra molle,
a extremidade dé um fio, invisivel para os especta-
dores a curta distancia. A outra extremidade d'este
fio estava preza á minha varinha e
comprehende-
reis, sem outros commentarios, que, apenas come-

cei a bater o compasso, a moeda principiou logo o

baile promettido.
Pa
A moeda invisiver
£
O dinheiro é um
corpo visivel ou invisivel? Sin-
gular pergunta ! respondeis vós; sim, o dinheiro é
um corpo visivel.
Muitos pobres diabos, todavia, affirmam o con-

Póde elles deixem


trario. ser que não de ter razão
>
vamos
proval-o.
“Tenham a bondade de me
emprestar uma moeda
de cinco tostões, e de a marcar afim de a reconhe-
cerem... Muito bem! Eis ahi um lenço de seda

que me servirá para apresentar a prova que eu

prometti. No meio d'este lenço colloco, como veem,


os cinco tostões que acabam de marcar com uma

pequena cruz. Dobro o lenço de maneira sómente


a embrulhar a moeda, mas ser-lhes-ha facil reco-

nhecer a sua fórma.


Façamos cousa melhor
: segure o senhor o lenço,
agarre na pequena rolha que fórma a moeda. Póde
apalpal-a, e certificar-se assim que está ainda no

seu
logar. Agora pego eu no
lenço pelo lado op-
posto, puxo-o para mim, desdobrando-o em todo o
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 63

seu
comprimento; depois volto-o, sacudo-o, atiro
com elle -ao ar, afim de os convencer que os cinco
tostões não estão ali.
O facto é evidente, mas viram por ventura para
onde foi a moeda? Certamente que não ! Já se vê,
pois, que o dinheiro póde tornar-se
algumas vezes

corpo invisivel.
um
-
E podereis,
oque caro leitor, demonstrar da ma-

neira precedente, se tiverdes um lenço em uma das

pontas do qual deverá estar cozida nma moeda de


cinco tostões. Collocaes apparentemente a moeda
emprestada no meio do sobredito lenço, depois do-
brando-o no
logar d'esta ultima-moeda que conser-

vaes entre o dedo do meio e o index, e dentro da


mão, formareis a
pequena rolha com a mocda que
foi cozida ao
lenço, n'uma especie de bainha, de
modo que o dinheiro não possa ver-se, nem cair.

Quando tiraes bruscamente o


lenço da mão que o

segurava, a illusão é completa.


Quanto á moeda marcada, e
que servos-ha facil

depositar sobre a mesa, ou mettel-a na


algibeira,
fal-a-heis apparecer n'uma chavena, ou boceta, etc.,
o
que realçará muito o estratagema que acabaes
E

de executar.

Uma elevacão pouco trabalhosa

Convida-se a
pessoa mais pesada a deitar-se ao

comprido sobre uma mesa, as


pernas estendidas,
os calcanhares bem unidos e os braços esticados e

bem chegados ao corpo.


Collocam-se depois duas creanças, á esquerda e

duas á direita do sujeito que está deitádo.


64 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Estas creanças collocarão os dedos irndicado-


res:

A 1.º debaixo do hombro e


quadril do paciente.
A 2.º debaixo do quadril e debaixo da barrigada
perna.
A3ºeag4. respectivamente debaixo dos mes-

mos
pontos do lado opposto.
A um
signal convencionado, as quatro creanças
e o
paciente aspirarão simultaneamente o ara
pul-
mões largos, as creanças levantarão os dedos e o

ligeiro esforço bastará que levantem de sobre a

mantenham
mesa o
corpo
durar
do paciente e o
assim o

tempo que a
aspiração.
A moeda derretida

Ora aqui está uma sorte das mais faceis e que


produz sempre um bello effei-
to.

Para a executar
procede-se
da seguinte fórma :

É Sentamo- -nos
primeiramente
.

em uma cadeira, tendo sempre


o cuidado de apresentar ape-
nas o lado
esquerdo do corpo
aos espectadores.
Mostramos depois uma moe-

da de quinhentos réis. Collo-


camol-a depois sobre direito
o joelho e
tapamol-a
com a mão direita.

mão
Esfregamos
e...
ligeiramente
Já lá não
a
mgeda,
está, a
levantamos
moeda derre-
a
passou.
ES

teu-se.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 65

Explicação da sorte —

Ao sentarmo-nos, teremos

o cuidado de fazer uma


prega na calça do lado di-
reito do joelho da perna direita,
de fórma que essa
prega faça
|
uma
especie de pequena algi-
beira.
Pousa-se a moeda sobre o

joelho. Emquanto a fricciona-


mos, faz-se com que ella gire,
com a pressão dos dedos, para
dentro da dita algibeira. Ella
cac e lá fica.

O lenço magico

O magico pega em um lenço, no meio do qual


roga a um dos espectadores de collocar elle mesmo

uma moeda de cinco tostões; depois põe uma após


outra as
pontas lenço do sobre a moeda, de modo

que ella não fique occulta senão angulo pelo ultimo


do lenço. O espectador póde perfei- ainda tocar e

tamente sentir com o dedo os cinco tostões. Agar-


rando então o lenço por um dos lados, desdobrei-o,
agitei-o, e voltei-o (como na Moeda invisivel); a

moeda tinha invisivelmente desapparecido.


O espectador tem tanto trabalho em
arregalar
inutilmente os seus
grandes olhos, que queremos de
todo coração ajudal-o a adivinhar
o o nosso
segredo.
Posto o lenço quadrado diante do magico, este
começa por collocar sobre a moeda a
ponta mais
proxima, da direita, ou da esquerda. Nºesta ponta
deve ter o cuidado de pôr uma
pequena bola de
cera molle, que por meio de uma pressão imper-
5
66 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

ceptivel do dedo pollegar, faz prender a moeda a

este angulo do lenço. Reune em


seguida ao acaso

as outras pontas sobre as moedas. Feito isto em

um dos angulos dolenço deve ficar com a ponta


dirigida para o magico, que lhe pega com as duas ,

mãos unidas, e as
aparta vivamente, fazendo-as
carregar ao
longo
lenço com a do
moeda, quer seja
a da
direita, quer esquerda. N'esta a da
posição
poderá sacudir e voltar
o lenço magico com grande
admiração dos espectadores, que terão bastante
embaraço em dizer para onde emigraram os cinco
tostões.

O éscriptor electrico

“Yoma-se uma folha depapel pautado azul, e es-

creve-se na
segunda linha alguma resposta ambi-
gua, tal como —

Em ti domina a curiosidade, nada


te direi —; deixa se em branco a terceira linha e

assim
escreve-se na
quarta outra resposta e
; por
diante até ao
fimda pagina. Estas respostas devem
ser escriptas com penna de ave molhada em uma

dissolução de nitrato de bismuto ; logo que estiver


secca a
escripturação, tudo desapparecerá, ficando
o
papel como antecedentemente.

Quando o magico quizer fazer uso d'este papel


procurará um vidro quadrado e liso (como os vi-
dros de vidraça) maior do que
o papel escripto; es-
fregará ambas as faces d'este vidro com uma solu-
ção de sulphureto alcalino, e o collocará sobre uma

mesa
pequena (criado mudo) que esteja á vista dos

espectadores.
Disposto tudo d'esta maneira, o
magico levará
MANUAL DO PRESTIDIGYTADOR 67

O
-aos espectadores papelde que já fallámos, acom-

panhado de um lapis, rogando a cada um de escre-

ver a
pergunta que quizer na primeira linha d'aquelle
papel, para ver uma
prompta resposta ;

isto feito
irá a uma outra pessoa, pedindo para escrever na

terceira linha, afim de deixar a


segunda linha livre
Para dar a
resposta á primeira pergunta; e assim
por diante até ao fim da pagina. Deve-se ter muito
cuidado em não deixar alguem escrever nas linhas
intermediarias, onde estão as respostas invisiveis.
Depois o magico collocará o
papel aberto, de-
“baixo do vidro quadrado, de modo que fique a face

escripta do papel voltada para cima, e por conse-

quencia unida a uma das faces do vidro. Irá pos-


“tar-se distante, em uma outra mesa, dizendo, que
vae escrever
respostas, as e
que estas passarão para
opapel que está debaixo do vidro, por electricidade

e escreverá com tinta preta ordinaria, em qual-


quer papel, as
respostas que já havia escripto no

outro papel com a solução de bismuto.


N'este meio tempo (basta um
minuto) as
respos-
tas do
papel que vidro, está debaixo do tornar-se-

hão perfeitamente visive's,e o


magico apresentando
o
papel que estivera escrevendo, juntamente com

o
que contém as perguntas e respostas, deixará
muitos conjecturando como, de tanta distancia, pou-
de o
magico escrever no
papel que se conscrvava de-
baixo do vidro.

Ocordão e a faca

No travessão de uma cadeira crava-sea ponta de


uma faca. Por detraz passa-se um cordão que se
68 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

cruza na frente sobre a lamina, depois por baixo da:


lamina, e faz-se depois passar novamente por de-
baixo da cadeira.
Procede-se de egual maneira fazendo-se um se-

gundo e um terceiro cruzamento, e, não obstante-


estas voltas, a faca fica sempre livre como se não-
fosse atada, se houver o cuidado cm cada cruza-

mento de pas ra
primeira extremidade de cor-

dão sebre a
segunda.
Modo de razer passar um ovo por um annel

Deixae um ovo de infusão em vinagre branco,


bem de tempo,
forte, por algum cspaço tirando-o, c
encontrareis a casca tão flexivel e elastica, que se

estende a
ponto de o fazer passar pelo apertado
diametro d'um dos mais
annel, mesmo pequenos ;
tendo a particularidade de que não sendo compri-
mido, retoma
novamente a sua fórma natural.
Do mesmo
póde introduzir modo se um ovo em

mostrando
uma
garrafa branca, operador, e o um

ovo vulgar á sociedade, póde, usando de ligeireza,


trocal-o pelo que está já preparado, isto na occa-

sião que o vae introduzir na


garrafa. Depois deita-
lhe agua fresca e o ovo toma a sua fórma usual,
com
espanto dos que observam a
operação.
Modo de fazer que duas garrafas che

troquem o liquido

Enchei duas garrafas de vidro branco de egual


tamanho, uma de agua, e a outra de vinho tinto,
tendo o cuidado de as escolher de maneira; que o

gargalo da garrafa d'agua seja de dimeusão tal,


69
-

MANUAL DP PRESTIDIGITADOR

que possa introduzir-se no


gargalo garrafada do
vinho. Encaixae rapidamente os dois gargalos um

no outro, virando para cimaa garrafa d'agua, e ve-

reis que precipita,


esta se e o vinho sobe a tomar

o
logar que aquella occupava. Esta mesma
expe-
riencia se
póde fazer, mergulhando o gargalo de
uma garrafa cheia d'agua no batoque d'uma pipa,
bem attestada de vinho, e vereis em poucos segun-
«dos operada a troca dos liquidos.
Lapis sympathico

Formae um
lapis, composto de cré de Hespa-
mha, ou de vitriolo de Chypre, ou
capa-rosa, do

«qual vos servireis para escrever ou desenhar sobre


o crystal, ou n'outro qualquer vidro que vos pare-
cer; depois de passados alguns minutos limpae o

vidro com um
panno de linho. Quando quizerdes
“que appareça o
que está escripto, não tendes mais

que bafejar orvidro logar


por que cima
es- do em

crevestes. Esta escripta torna desapparecer


a
logo
que esfrie o calor do halito, porém pelo mesmo

meio póde tornar a


reproduzir-se à vista, quantas
vezes
quizerdes.
A carta magica

As recreações que se fazem com a tinta sympa-


thica, que explicaremos na parte ZII, quando se tra-
tar da sorte O retrato do diabo, pódem 'variar-se
de muitas maneiras. Escrevei com tinta commum,
sobre pequenas folhas, diferentes perguntas que
quizerdes, e ás quaes se possa responder com uma

até duas palavras; esta resposta deve ser escripta


7o MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

anteriormente com uma dissolução de vitriolo em.

pura, ou com sumo de limão ou de cebola.


agua
Apresentae estes diversos papeis a qualquer das se-

nhoras presentes, para que escolha um que lhe-


agrade; mostrae depois que a todos o
papel nada
mais contém escripto ; fechae-o á vista de todos em

fórma de carta, porém de maneira que o


logar onde
estiver a
fique directamente baixo de
resposta, por
aquelle em que lhe deveis pôr o sinete, para o que
bastante bem
empregareis lacre, e
quente, pois que
o calor que este communica é que faz apparecer a

palavra que dentro está escripta.


Depois da carta estar assim fechada, deveis en-

tregal-a á senhora, pedindo-lhe que a abra e


que
leia a decerto encontrará escripta.
resposta, que

O ovo urde: e
=

Tomaçse um ovo, vasa-se e enche-se de cal viva


e
camphóra, partes eguaes; tapa-se bem o buraco
com cera e põe-se n'um vaso com
agua, em
seguida
sairão do
chammas ovo.

Espada incendiaria

Accendem-se algumas velas de cera ou de cebo,


deixam -se
algum tempo accesas, e
depois apagam se

cortando todo o morrão.

Apenas estejam frios pavios,


os introduz-se em.

cada um, com um palito, um pedacinho de phos-


phoro que se terá o cuidado de seccar, esfregan-
do-o levemente com
papel pardo. Preparadas assim
as vélas, o
magico as collocará onde as
quizer, se-
paradas umas das outras, e irá entretendo os es-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
gd!

pectadores com alguma historia, no meio da qual


dirá que, achando se a sala pouco illuminada, vae

accender mais vélas, e


para isso como não tem

phosphoros, vac
empregar uma
espada que possue,
a
qual á capaz de incendiar o mundo. —

Na sala

proxima haverá alguem que tenhao cuidado de lhe

aquecer bem a
ponta de uma espada longa pon- e

teaguda. O magico irá buscal-a com mil pantomi-


mas, tocará com a
ponta da espada os
pavios das
vélas munidos de phosphoros; estes incendiar-se
hão calor velas ficarão
logo pelo e as accezas.

A mão incombustivel
ns Bo

Depoi de terdes misturado em


partes iguaes ba- sizo de hénólio
nha
cal
de porco
tudo
e o

muito
oleo
bem
de petroleo e terebentina,
obtem-se dis-
Tentem
Cal.
lima
freio
viva, misturado,
tilando esta mistura, uma
agua que póde arder na
mão sem causar o menor mal.

anmets constantes e inconstantes

Cj tt
Dissolve-se uma pitada de sal commum em uma

colher d'agua distillada, ouagua à falta d'esta em

do rio; mergulha-se n'esta mistura um fio de linha


crua de dez palmos de comprido, deixa-se ahi por
vinte e
quatro horas, tita-se então e deixa-se sec-

car. O magico pedirá aos espectadores dois anneis


de ouro fino, declarando que reconhece ser um

d'elles o symbolo da constancia, e o outro o


sym-
bolo da inconstancia. Depois enfiará o annel que
houver reconhecido o
symbolo de constancia no fio
da linha crua
preparada, tendo o cuidado de a do-
brar em duas. Enfiará egualmente o annel symbols
72 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

da inconstancia em um fio da linha crua não prepa-


rada. Atadas as extremidades d'estes fios em duas
cadeiras, de maneira que fiquem tezas horisontal-

mente, magico o tomará uma vela accesa e


quei-
mará
primeiramente um, depois
e o outro fio da
linha. O fio preparado queimar-se-ha sem que deixe
cahir o annel, podendo este conservar-se suspenso
por muito tempo. se
alguma cousa não tocar nas

cinzas que o sustem; emquanto que o annel da


linha não preparada cahirá apenas seja abraza-
do. É a isto que os
magicos chamam anneis cons-

tantes e inconstantes.

O nó obediente, -

o epois

de ter
principiado o nó n'um lenço, como
se na
gravura, aperta-se um
pouco, puxando
sem força as duas pontas su-

periores; depois aperta-se bem,


puxando com força pela pri-
meira ponta do lenço: e como

esta extremidade pertence a

uma só e mesma ponta do len-


assim
co, não póde ser puxada,
sem perder a linha tortuosa

que tinha tomado no nó, para


não seguir senão a linha recta.

Comtudo a parte que fórma uma segunda ponta do


lenço faz, á roda da
primeira, uma especie de nó
de correr, que se póde fazer escorregar facilmente
com o
pollegar e o indicador da mão direita no

instante em
que o nó se embrulha no resto do
lenço. Este nó illude completamente, e de repente
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 73

pouca gente o faz, ainda que veja como elle é fei-


to, sendo rapido.
e
« fome
lenço com pennas

Pedáreis lenço emprestado


um a dama,
uma e de-
pois com alguns ditos espirituosos embrulhae-o, di-
zendo que de dentro d'elle devem sair as mais bel-
las pennas; depois sacudi-o com
ligeireza, e
pres-
tes voarão muitas pennas de diversas côres que dis-
farçadamente estavam mettidas na
manga do ma-

Esta é muito
gico.
depende da
sorte

ligeireza com
simples,
que é feitas
e a sua
perfeição
z
TT
O nomem sem camisa

Vamos explicar a maneira de tirar a camisa a al

guem sem se
despir. Esta sorte não exige senão
destreza, e comtudo, quando algum prestidigitador
a executa, toda a gente se persuade que a pessoa
a
quem se tira a camisa está de combinação com

o artista. Eis o meio de fazer esta sorte, devendo-se


apenas observar que a
pessoa a
quem se tirar a ca-

misa deve vestir um fato largo, como se usa


agora.
Mandamos tirar simplesmente o collarinho, de-

pois desabotoar a camisa, em


seguida tirar os bo-
tões das mangas, e atamos um pequeno cordão a

uma casa da manga esquerda. Feito isto, mettendo


a mão pelas costas da pessoa, puxamos a camisa
para fóra das calças, e fazemol-a passar em
seguida
por cima da cabeça; depois puxando-a egualmente
pela frente, deixamol-a sobre o estomago. Passa-
mos á. mão direita; puxamos esta
manga para a

frente, de modo que o


braço possa sair. A camisa
74 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

achando-se então em um rolo tanto na


manga do
reita como na frente do estomago, fazemos uso do
cordão que prendemos á casa da manga esquerda,
para colher a
manga que deve estar subida, e para
tirar a totalidade d'este lado.

Quando quizermos occultar a maneira de operar


á pessoa a
quem tiramos a camisa e aos especta-
dores, lançaremos por cima da cabeça do individuo
uma manta, a qual seguramos por uma ponta com

os dentes. Para estarmos mais á vontade, subire-


mos a uma cadeira, e faremos todo o manejo de-
baixo da manta. nas

Luz sem chamma

Rodeae a torcida de uma


lampada de espirito de

vinho, com um fio de platina, em fórma de espi-


ral, de sorte que as voltas estejam separadas umas

accendendo
das outras ; a torcida, a
platina se porá
em braza; tirae depois a torcida, a platina ficará
em braza emquanto tiver espirito de vinho, e
ape-
sar de não produzir chamma, dará boa luz.
erro

A cruz buliçosa

Toma-se uma espiga de palha da qual se corta


um
pedaço do tamanho de um dedo, dobra-se se-

cretamente a
parte de baixo antes de se annunciar

que se vae fazer dar voltas a uma cruz


por meio
de duas de do-
uma ou
gottas d'agua. Depois se

brar, com outro pedaço de palha fórma-se uma

cruz a qual se colloca ú beira, d'uma mesa. Ver-


tendo algumas gottas d'agua sobre a cruz, a
agua
penetra na dobra que secretamente se fez, á qual
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR qo
ARAPAS
ISAIAS AIPSPES
TIPSIPESAIO PASS

desfaz dá
se e
parece que a cruz
voltas, sem com-

tudo deixar de estar fixa.

A cara incendiada

Seesfregar ase cara (fechando os olhos) com o

phosphoro liquido, mostrará um


aspecto terrivel;
a cara se apresentará como ardendo, emquanto
que os olhos e bocca ficarão como nodoas pretas.

Vágua que o molha

Põe-sse dentro de uma vasilha uma moeda de


enche-se sobre
prata, d'agua ; espalha-se a
super-
ficie da agua um
pouco de pó de lycopodio. Mer-
gulhando-se a mão no vaso para apanhar amoeda,
o pó pega-se á pelle, de sorte que a mão se não
molha, mas sente-se a frieza da agua. Tirando a

mão da agua, bastará sacudil-a para que o


pó se

desligue e vá ao chão no mesmo estado de seccura

primitiva.
Advinkhar os pontos de tres dados lançad
muma mesa

Fazei tomar o dobro dos pontos do primeiro da-


do á esquerda, e ajuntae-lhe 5: dizei que multipli-
quem o total por 5, a
que juntem a este
producto
o numero dos pontos do dado do meio, mandae

multiplicar o todo por 10, fazei juntar a este pro-


ducto os
pontos do terceiro dado e mandae tirar de
todó este total o numero 250; os
algarismos que fi-
carem depois d'esta diminuição, designarão os pon-
tos dos tres dados que foram lançados na mesa.
Exemplo —

Sejam os
pontos 4,6, 2, dos tres da
76 4 MANUAL DO PAESTIDIGITADOR

|
19 y ,

dos que lançaram na mesa, e


que são desconheci-

E
aura
nat
dos á pessoa que

ORDEM
faz

DOS
a sorte.

PONTOS DADOS
Eis o
processo :

háe o 462
Dobro do 8
primeiro dado..............
0.0.
po
puros
e,
1
Numero
:
acerescentado.

Somma
«severe

...
«sera
reis acermare

“8
5

+6 pote A qual multiplicada


Dão
por..... esteira

+65
5

Numero dos pontos do dado do meio....... 6

Somma .
“a
A qual multiplicada por............ . Io

.
Ds o qua

as segs =...
TIO
À qual ajuntando os pontos do terceiro dado 2

Somma “712
DiminúAdo: Es ses
npaisada nas selar

nbs 250

Restam ........... cs
4062
Estes tres algarismos 4, 6 designam os
e 2 pon-
tos de cada um dos dados lançados na mesa, e à

ordem porque estão ali collocados.

O relogio obediente

Escondei n'uma das mãos. um


pedaço de iman,
e com a outra pegae n'um relogio bem certo. Para
provar a obediencia do relogio, chegae-o ao ouvido
de qualguer pessoa para lhe mostrardes que regula;
mudae-o de mão e collocae-o n'aguella em que ten-
des o iman; o
relogio ficará parado. Approximae-o
ao ouvido da mesma
pessoa para lhe mostrardes
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

que já não anda, e assim vice-versa, com a diffe-


fazer
rença que para o
andarseráprecisoestreme-
cel-o levemente.

NEngulir uma chamma sem perigo

Approximae dos beiços a chamma d'uma vela, e

aspirae com força: a chamma penetrará na bocca


sem
queimarvos
porque pela aspiração a
impedi-
reis que se demore nos beiços.
9 pão inquicto
E

“Toma-se fresco muito


E: um
pão não
cozido,
fura-se
“em um dos lados, por e ahi introduz-se um pouco
de azougue vivo, tapa-se o furo e aquenta-se bem
;

“o pão ; apenas esteja quente, começará a saltar com

tal-inquietação que não será possivel retelo n'um

mm ovo em pé sobre

a parte aguda

Para fazer com que um ovo se sustenha em pé,


sem cair, sobre.um plano tão liso como o vidro
d'um espelho, é necéssario que este plano esteja
bem horisontal, e
que' não esteja mais inclinado

para um lado, do que para o outro :


depois agita-se
o ovo por muito tempo, de maneira
que a clara se

misture bem com a gemma. Se n'este estado se po-


zer o ovo sobre uma das suas pontas, ficará de pé
sem
por cair equilibrio que
causa do se acha de to-

dos lados, pelas partes


os de gemma misturadas

egualmente coma clara, o


que faz com que o centro
da gravidade do ovo fique em linha recta, e
que
este fique firme e sem cair.
.

78 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

A maçã partida e inteira

Vamos ensinar o modo de cortar uma maçã em

quatro partes, sem que a


pelle soffra alteração al-
guma. Passa-se um fio por meio d'uma agulha atra-

vez da maçã, a
qual se divide puxando as duas
debaixo
pontas do fio que a atravessa por da pelle
;
depois, fazendo o mesmo pelo lado contrario afim
de dividil-a em quatro partes, encontrar-se-ha per-
envolvida
iamente cortada, embora na
suapelle.
O frasco magico

QUAganaAO 1yTomae frasco,


fareis
um deitae-lhe
dentroalkali vola-
til, qual
no
dissolverlimagrede cobre, que o

produzirá uma linda côr azul. Apresentareis este

frasco a
qualquer pessoa,mandando que tape, lhe o e

assim que esta o fizer, a côr desapparecerá. Fal a-

heis reapparecer logo que se lhe tirar a rolha.


E a acção do ar quem causa este phenomeno.
Pedra incendiaria

Tomae cal
viva, salitre e tutia de Alexandria,
de cada coisa 30
storax, calamine, grammas,enxo-
fre e
camphora, Go grammas de cada uma, redu-
de
zireis tudo a
pó passal-o-heis por peneira
e seda
;
embrulhae n'um pedaço de panno bem tapado, e

mettei n'um cadinho, e este dentro d'um outro mais


largo ; lotae estes cadinhos
prêsa, que com
gesso de
deixareis sol, afim
seccar
que ao não exha- de se

lemos vapores ; mettei-o depois n'um forno de oleiro


e deixai-o ali até ficar a materia bem calcinada, o

que se conhece pela côr'vermelha clara do cadinho ;


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 79

deixae arrefecer, quando quizerdes produzir


c a

chamma, basta lançar uma gotta de agua ou cus-


pir-sobre-um 4
pedaço.

“ia sémea dançante
cam

Pondo
de dois
um
pedaço de vidro em
equilibrio em
ci-
ma livros, e pondo-lhe por baixo um pu-
nhado de sêmeas, esfregae a superficie do vidro
bocado de de lá de flanella ;
as

com um ou
panno
semeas dançarão com uma
rapidez incrivel.
AE E

"| O boneco incombustivel

Mandae fazer de madeira um boneco, fa ei dis-


solver terra siliciosa em alcali caustico, estendei este

liquido sobre o boneco podeis


e em
seguida deital-o
no maior brazeiro ou
fogueira que nunca se
quei-
mará.
O cogumelto philosophico

Entre os phenomenos admiraveis e numerosos

resultantes de diversos processos chimicos, um dos


mais curiosos, sem duvida, é aquel'e da inflamma-

cão dos oleos essenciaes pela mistura do acido ni-


trico. É, com effeito, admiravel liquido frio
ver um

incendiar-se quando se lhe lança liquido tam-


outro

bem frio; tal é processo pelo qual se póde fazer


em menos de tres minutos o cogumello philoso-
phico. É preciso, para fazer esta operação estranha
e recreativa, servir-se d'um copo de pé, cuja base
termine em
ponta.
Deitareis no
copo uma onça de espirito de nitro,
do melhor; deitar-lhe-heis cima
depois por uma
So MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

onça de oleo essencial de Gayaco, (Pau santo). Esta


misturaproduzirá uma
fermentação immensa, acom

panhada de fumo, no meio da qual os


espectado-
res verão elevar-se no
espaço de tres minutos um

corpo esponjoso, muito parecido cogumello com o

commum. Esta substancia esponjosa, formada das


partes oleosas do Gayaico, que erguendo-se, se co-

bre de uma camada finissima, é a materia de que


é o oleo de Gayaco.
composto
ir “ Uma subtileza

Tomae tres pedaços de pão, ponde tres chapeus


sobre úma mesa, comei os tres pedaços de pão, e

depois apostae qualquer pessoa


com
que sois capaz
de pôr os
pedaços
tres comidos debaixo de um d'a-

quelles chapeus. Feita a


aposta, tomareis o cha-

peu que vos


parecer, e
fingindo pensar como
para
acertardes com o methodo, e tendo afinaluma lem-
brança luminosa, poreis o
chapeu na cabeça, di-
zendo que os tres pedaços estão debaixo d'aquelle
chapeu, visto que estão no vosso
estomago, e
que
tendes o
chapeu na
cabeça.

Subtracção su rehendente

O operador applica sobre a lamina de uma faca


seis pequenos pedaços de papel molhado, tres de
um lado e tres do outro; tira primeiro um e só fi-
tira ficam
cam
quatro; em
seguida outro e só dois ;
tira finalmente O terceiro e tudo
desapparece.
De repente, tornam os seis pedaços de papel a
lamina da faca, sem
reapparecer na
que ninguem
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 81

lhe tenha tocado, e torna a


repetir-sea mesma ex-

periencia. da
Consiste este
pequeno c facil truc em mostrar sem-

pre ao
espectador a mesma face da lamina, appa-
rentando todavia mostrar-lhe as duas faces. Por
este meio, julga-se vêr dois pedaços de papel de
cada lado, quando realmente ha dois n'uma das
faces da lamina e tres na outra.

Para se executar esta experiencia apresenta-se


primeiro a faca pela maneira indicada na
fig. A;
da indicada
em
seguida
mão fazendo tambem
maneira na
fig. B, voltando
a e voltar a faca com o au-

xilio do dedo pollegar, de fórma a


apresentar sem-

pre o mesmo lado da lamina ao


espectador.
Quando, por este meio, se teem successivamente
tirado 3 de d'um lado da lami-
os
pedaços papel
faz o
na e que se ver que passaram para
outro
82 MANIAT. DO PRESTIDIGITADOR

lado d'ella, (mostrando sempre o mesmo), é facil,

pois que ficam realmente tres de um lado, empregar


o mesmo estratagema para fazer acreditar que ha
tres pedaços papel de de cada lado da faca, e ti-
rá-los em
seguida, uns após outros, como antes se

tem feito, mostrando de cada vez, que ha dois de


menos.
O fogo viajando agua
mesmo,

E pedaço
Enchei
de
um

potassa;
prato de
logo
agua,
que
e lançae-lhe
esta tocar
dentro
na
agua,
um

dará uma linda chamma roxa, e continuará a arder


nadando em diversas direcções como uma bola de

fogo; se a
potassa fôr deitada em neve ou
gelo,
.

. tambem arderá.

O poeta á força /
5
eo Aa

V. ex.'S querem que lhes ensine o meu


segredo
para improvisar versos
? Ê

Não consisté em
esfregar bem a testa com a mão
como fazia o
grande Horacio, mas dando grandes
cabeçadas contra
parede. Sim, minhas
uma senho-
ras, dão-se tres ou quatro pancadas com a cabeça
contra uma porta, e leva-se em
seguida a mão á
testa como
para apaziguar a dôr occasionada pela
violencia da pancada, e cis que sae um dos mais
bellos poemas.
Mas não se
precisa sequer tocar na porta com a

cabeça. Ao fazer o movimento de ir dar a


pancada
esquiva-se o
choque, retendo a
cabeça com
ajuda
da mão esquerda appoiada contra a porta para o

ponto onde parece que vae bater-se, emquanto que


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 83

o braço direito occulto aos olhos dos que vêem, dá


um murro na mesma. À correspondencia dos mo-

vimentos da
cabeça com o ruido occasionado pelos
murros, produz uma illusão completa. Depois do
que: Prompto, começa o
improviso : =

«Estavas linda Ignez posta em socego...» do meu

collega Camões !

A cabeça de vitella berrando depois


de cozida

Cozei ao lume uma cabeça de vitella, e


depois
tirae a da agua e mettei-lhe immediatamente debaixo
da rã viva, isto cabeça
lingua, uma
emquanto a es-

tiver occasião de servirdes d'ella


quente e na vos
-
-o calor da lingua fará gritar a rã, que imitará sof-
frivelmente o berrar da vitella, como se esta esti-
vessé viva.
baia de cedo

Carrega
HE à uma
espingarda, pondo se em vez de
bala um côto de vela; apontando-se para qualquer
taboa, o côto de vela furará a taboa como se fosse
uma bala de chumbo.

A colher magica

Ponde um hectogramma e meio de


bismutho, me-

tal que se funde facilmente, n'um cadinho, e quando


estiver em completa fusão, ajuntae-lhe nove deca-
grammas de chumbo e seis decagrammas de esta-

nho. Combinar-se-hão e formarão uma materia dis-


solvente em
agua a ferver; formae barras, e le-
vae-as a um ourives para que forme colheres. Servi
84 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

chá muito quente a qualquer pessoa, pois que indo


ficará admirado de
a servir-se da'colher, a
ver des-
apparecer, quando fôr a mexer o liquido.
|

O magico
f papel

Tomaé uma folha de papel pardo, aquecei-o bem,


collocae-o sobre uma mesa, pondo-lhe em cima uma
bolinha de sabugo do tamanho d'uma ervilha: a

bola começará a correr sobre o


papel; se lhe po-
zerdes diante a
ponta de uma agulha correrá para
a
agulha. in í

ir Gazometro portatil E
x
PO sa

Póde imitar-se em miniatura a producção da luz


de gaz, mettendo n'uma caixinha uma porção de
carvão de pedra em pedacinhos. Cobri logo, e muito
bem, a bocca da caixinha com barro amassada, e

quando estiver
secco, ponde o cachimbo em cima
das brazas, e
aquecei-o gradualmente. Ao cabo de

alguns minutos, sairá pelo pipo do cachimbo uma.

corrente de gaz hydrogenio -carbonisado, acompa-


nhado de um fluido aquoso e de um oleo viscoso.
Póde accender-se este gaz com uma chamma qual-
quer, que muito bem arderá. Quando este se
apa-
gar, achar-se-ha na caixinha o carvão despojado da
sua materia betuminosa.

eee O dinheiro elastico

Cinco tostões em prata mettidos n'uma meia, na

extremidade do pé, e esta sendo atada por uma fita


por cima do dinheiro, tiralo sem
romper a meia
nem desatal-a.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 85

Meio dae-lhe diametro


—Tomae um arame e o do
dinheiro cuidado
que quereis metter na meia, tendo o

de o
aguçar nas
pontas para que fure Escondei-o
na mão esquerda, c
apresentando uma meia nova
:
/
pedi a uma
pessoa ama moeda de cinco tostões, que
poreis egualmente na mão esquerda, e ao metter o Í
dinheiro na meia o substituireis pelo arame redon- [
do, fareis descer até ao pé da meia. Fareis
que atar
do
[
a meia, mostrando a todos o
signal redondo Í
dinheiro... esconde
arame, e
que julgarão ser o
|
reiso pé da meia n'um lenço, deixando à parte atada í
vista do desenrolãe subitamente
espectador,
)
ú o

arame e tirae-o pelas malhas, sem custo, e como

é moeda
fingindo esforço, para fazeracreditarque a

de tinheis
prata, que já na mão, e que depoismos-
trareis, assim como a meia já sem nada e sem ru-

ptura-alguma
A cera magncetica

Suspendei duas bolinhas de sabugo em dois fios


de retroz de dezeseis centimetrôs de comprimento
pouco mais ou menos, de sorte que fiquem unidas
uma -á outra; approximando-lhe um
pedaço de cera
quente, as bolas mover-se-hão.

dentro d'uma garrafa

Vamos modo de d'uma


rafa
explicar o fazersair
d'uma
gar-
de
vinte detonações da força descarga
espingarda. .

Toma-se garrafa uma de vidro preto bem grosso


e
que não
seja estalado; mette-se n'ella um meio
de ferro
-
litro d'agua, 95 grammas de limadura
e 60
86
- MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

grammas d'azeite de vitriolo; tapa-se a


garrafa e

quando se vir que está quente, destapa-se e intro-


duz-se-lhe por cima
pedaço de papel accezo: um

então sairá uma especie de detonação. Torna-se a

tapar e
poderá repetir-se de novo esta operação
vinte vezes de seguida.
Vegetação
s
os maravilhosa
“o a
Collocae um ramo de alecrim, ou d'outra qual-
quer planta que seja muito ramificada, debaixo d'um

globo ou d'uma manga de vidro, e assentae isto so-

bre uma
chapa de ferro, em cima
da qual espalha-
reis benjoim em pó; aquecei a chapa, immediata-
mente o benjoim se pegará nas folhas e troncos de-
arbusto, que se trasformará em brilhantes crystaes.
A chapa de ferro póde ser construida em fórma
de tempe (com pés) afim de se poder aquecercom
aleool acceso pelo lado inferior, o que se torna-fâcil.
Subtracção comi

Querem-se entregar doze ramilhetes em uma reu-

nião de senhoras, porém


estas são treze. O dono
da casa vê-se embaraçadissimo por ter que deixar
uma senhora sem o
bouguet e como não pretende
manifestar-lhe essa descortezia, previne a assem-

bléa de que a sorte decidirá qual é a


que não deve-
ter. Em consequencia do que,manda collocar as treze

senhoras em fila deixando-lhes a escolha de se col-


locayem á sua vontade, e distribue-lhes os doze ra-

milhetes contando-as desde uma até nove, e fazendo


sair do circulo a nona á qual entregará um rami-
lhete; (esta conta é feita tornando sempre a con-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 87

tar desde a
que segue à que sae da fila) afinal o

resultado será que undecima;


a a contar d'aquella
pela qual se tiver começado, ficará sendo ultima e

não terá parte alguma na


distribuição praticada. Se
não houver mais que doze senhoras a quem se

queira distribuir onze ramilhetes, será mister então

principiar por aquella a


quem se quer fazer sair da

fila.
=

Problema comico para resolver

Na margem d'um rio encontram-se um


lobo, uma

cabra e uma couve. Ha apenas um pequeno barco

que só póde conter barqueiro o e um objecto dos


É
mencionados. preciso, pois, passal-os um
por um

para a outra margem sem que o lobo faça mal á

cabra, nem a cabra coma a couve.

Modo de resolver esta questão —O barqueiro prin-


cipiará por passar a cabra; depois voltará para to-

mar o lobo: torna a trazer a cabra que deixará na

para transportar a couve: e ultimamente


margem
volta sem nada para tomar a cabra; d'este modo o

cabra cabra
lobo
nuncase encontrará com a

do
nem a

com a couve senão em


presença barqueiro.
Symbolo da morte e da vida

Collocam-se duas vélas sobre uma mesa ao lado


uma da outra; accende-se uma d'ellas, e tem-se o

cuidado de cortaro morrão. P6e-se no


pavio da ou-

tra um
pedaço de phosphoro, que terá sido ante-

cedentemente esfregado muito de leve com papel


pardo.
O magico carregará uma pistola de cano com-
ss MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

prido com polvora sómente, e irá postar-se a seis


pés de distancia das vélas, prevenindo aos especta-
dores que a vela acceza
representa a vida, e aapa-
gada a morte; e
que aquella pistola tem o
poder
de dar vida e morte egualmente. Apontará para o

espaço que separa as vélas e fará fogo. A com-


moção do ar produzida pelo tiro apagará a véla
accesa, e o phosphosro encerrado no pavio da véla
apagada inflammar-se-ha, deixando a véla accesa.

A faca dentro da garrafa


Quando estamos á mesa ha um momento em


que
depois do appetite satisfeito só resta a
parte da gu-
lodice. de se atacar ha
Antes,pois, a sobremesa sem-

pre uma
espera, que muitas vezes
parece longa ou
porque a
conversação geral está pouco animada,
ou
porque os colloquios de visinho para visinho;
apenas se sustentam com semsaboronas trivialida-
des, e já se não sabe o
que se hade fazer á mesa-

Em identica circumstancia pede-se ou toma-se

uma garrafa d'agua e põe-se na nossa frente á bei-


ra da mesa; depois entre a mesa e a
garrafa in-
troduz-se a
ponta romba da folha d'uma faca de so-

bremesa,
horizontalmente
o bastante
fóra
para
da mesa.
quepossa ficar suspensa
N'essa occasião todos os olhares se
dirigem para
nós como outros tantos pontos de interrogação.
Os nossos simples preparativos deram vida ao

interesse dos convidados, e


já se
póde esperar o ul-
timo-serviço da mesa sem medir a
duração do tempo.
Respondendo ás perguntas que se nos poderão
dirigir, diremos que em uma ou em varias vezes,
wo
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 89

conforme a habilidade que tivermos adquirido, com

um dedo vamos fazer passar a faca para dentro da


garrafa. Estando uma e ontra collocadas como dissé-
mos,com uma
pancada dada com o dedo index por
debaixo da ponta do cabo da faca,faz-se esta dar uma

meia volta de baixo para cima em direcção á bocca


da garrafa. Lançando assim a faca com a habili-
dade que nos darão alguns ensaios, irá cair per-
pendicularmente pelo gargalo dentro da garrafa.
-

O passaro e à gniola

Recorta-se um disco de cartão que se põe com

os dedos em movimento rotativo em volta de um

eixo formado por dois fios. Produz-se assim uma

ilusão de optica em virtude da persistencia das im-

pressões sobre a retina. Desenha-se n'uma das fa-


ces do disco uma
gaiola. e na outra um passaro.
go MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Quando a rotação se opera, só apparece uma ima-


gem, e essa representa o passaro dentro da gaiola.
Papel incombustivel

“Toma-se uma folha de papel, molha-se em uma

de faz-se
dissolução pedra-hume e deixa-se seccar ;
isto duas ou tres vezes: pode-se chegar o papel á
chamma da véla que não se
queimará.
Aí penitencia divertida

Maindará-se ajoelhar duas pessoas em frente uma

da outra, mas com um só joelho e a outra perna


no ar. Dão-se-lhes duas vélas: uma acceza, outra
apagada, convidando-se a
que accendam a
apagada ;
dillicilmente executarão este pedido, visto que es-

tando as duas pessoas em


equilibrio sobre um joe-
lho, o menor movimento as fará cair..

A moeda duplicada

A recreação que, vamos


explicar consta apenas
de-collecar em um
prato uma moeda de prata e fa-
zer apparecer duas, sendo uma maior do que a ou-

tra.

Para isso se
conseguir enche-se um copo de agua
clara e mette-se dentro d'elle uma moeda de dois
debaixo
tostões, por exemplo : põe-se uma mão por
do prato e outra no
copo ce volta-se tudo rapida-
mente afim de que, não tendo o ar
tempo de en-
.

trar, não possa sair a agua.


Effeito:
Olhando para a moeda que estará sobre o prato
parecerá do tamanho de uma de cinco tostões e
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR gr

n'outra parte se veri a moeda de seu tamanho na-

tural um
pouco mais acima da primeira, o
que fará
crêr aos
que não conhecem os
singulares efféitos
da refracção, que ha effectivamente debaixo do copo
uma moeda de cinco tostões e outra de dois. De-
pois de nos
assegurarmos de que assim o
imagi-
naram levantar-se-ha o copo e cessará a illusão.

Tirar um objecto do meio de dois


sem lhe tocar

Poreis em cima de uma mesa tres moedas de


maneira
prata pela seguinte :
ooo

E direis a
qualquer pessoa que tire a do meio.
sem lhe tocar.

Modo de executar —Agarrae na primeira moe-

da, e collocae-a ao lado da terceira, e por conse-

quencia já a
segunda não está no meio.

Phantasmagoria occulta

FAZER APPAREGER A UMA PESSOA FECHADA EM UM QUARTO,


|

O QUE ALGUEM DESEJAR

Este divertimento faz-se por intelligencia com um

espectador.
Combina-se particularmente com um espectador,
que quando estiver fechado em um quarto proximo
e ouvir bater uma
pancada, essa
pancada designar-
lhe-ha a letra 4; que se ouvir duas seráa letra B;
e assim successivamente segundo a ordem das vinte
e
quatro letras do alphabeto; proponha-se em se-

guida fazer ver á pessca que quizer fechar-se em


vz MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

um quarto visinho, tal animal que uma outra das


pessoas desejar;
presentes que qualquer
e a fim de
gue seja o individuo
não combinado comnosco não
venha offerecer-se, annunciamos que é mister que
quem.se prestar seja bastante corajoso, pois do con-

trario não se deve expôr.


A pessoa combinada offerecer-se ha, e então ac-

cendendo-se uma
lampada que esparge uma clari-
“dade lugubre, entrega-se-lhe dizendo-lhe que a
po-
nha ao meio do e não sc assuste com
quarto que
o que vir.

Fecha-se o dito individuo no quarto. Pega-se em

um quadrado de papel preto com um bocado de


cavalheiro
crayon branco, e pede-se a um para es-

crever o nome do animal que deseja veja;que se

depois de
escripto toma-se o
para papel queimar
a uma luz, e lançam-se as suas cinzas dentro d'um
almofariz, sobre o
qual se deita um
pó a que se
attribue muita virtude; lê-se o
que se tinha escripto,
suppomos aqui ser um gallo, então tomando um

pilão, como para triturar o conteúdo do almofariz,


batem se sete pancadas para designar á pessoa es

condida a letra G, e em seguida rola-se com o


pi-
lão para advertir que não ha mais pancada a dar;
recomeça-se em seguida a bater uma
pancada para
designar a letra 4 e repete-se o intervallo, e assim
por diante. Pergunta-se então á pessoa o que vê;
ao
principio não responde para fazer crêr que está

assustada; emfim depois de muito instada dirá que


lhe parece visto
ter um
gallo.
Nota— Para não haver engano nas letras, basta
d'uma e d'outra pronunciar si
parte para as
letras
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 93

do alphabeto, segundo a sua ordem a cada pancada


que se dá, ou
que a outra ouve. Póde-se por este

mesmo meio suppor que se faz apparecer o


phan-
tasma d'uma pessoa fallecida, á escolha de algum
espectador.
O criado infiel

Um sujeito recebeu de presente trinta e duas


garrafas de vinho do Porto, as
quaes 1
1 '
Br
mandou pelo seu creado arrecadar na

notando-lhe |7 7
adega pela seguinte ordem,
haviam de ficar de EA,
que nove
garrafas
cada lado.
O creado tirou doze. isto é, quatro de cada vez

e em differentes visitas que fez à adega. Sendo


descoberto, observou a seu amo que continuavam
a estar nove de cada lado, como elle mandára.

PROVA D'ESTE PROBLEMA

Primeira ordem para ?8 Segunda ordem pars 24 Terceira ordem para 20

ganafas garrafas garrafas

*
5
|
54
[3 8
3
É»
1 1

25
2] 333 É a

Dizer a uma pessoa o nt mero que ella

pensou

Depois de
pedirmos a uma pessoa que ponha um
numero qualquer no seu pensamento, diz-se-lhe
que o duplique, e
que lhe accrescente 4, e que mul-
tiplique o todo por 5; manda-se-lhe depois accres-

centar 12 a este ultimo producto e


multiplicar o to-
4 MANUAL. DO PRESTIDIGITADOR

tal por 103 manda se tirar d'esta somma 320, e


per-
gunt lhe depois qual o numero
que fica, do
qual tiraremos duas ultimas letras, e ficará o
as
mumero a
que pessoa pensou.

EXEMPLO

Numero pensado. ensiio Ipe

7
Duplicado ........
14
Juntando-lhe 4... ER 18

Multiplicando 18 por 5 dá o
producto....., go
Ao qual juntando 12, somma...... ..... 102

Multiplicando por 10, produz...... espera ro2o

“Tirando-lhe .

“Tirando os dois ultimos algarismos, fica o nume-

ro
—.7

que é o numero
pensado.
A virgula

Não se trata do celebre bacillus virgula de Kock,


trata-se d'uma engraçada recreação para uma sala.
Um cavalheiro ou uma dama .
apresenta escripto
em um
papel o
seguinte :

«Um lavrador tinlta mãe do la-


um
bezerro e a
vrador era tambem o pae do bezerro.»
Como se vê não existe ali pontuação o
que dá em

resultado na leitura do que fica escripto, um enorme

disparate.
Telas o dirão. E no emtanto esse
disparate, que
se lê como tal á primeira vista, tem no fundo todo
o senso commum
depois de applicada uma zir-

gula. É justamente êsse o clou da recreação. Depois


de escriptas aquellas palavras, pergunta-se á reu-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 95 .

nião: onde deve ser collocada uma


virgula para
que o disparate “se converta em uma ideia sá.
Dá isto logar a muitas matutações, como se se

tratasse de decifrar um enygma, e ao mesmo tempo


a
ajuizar meritos litterarios de cada um.

Em resumo:
para ficar uma ideia concisa, a vir-

gula deve collocar-se depois da mãe e antes de do -

«Um lavrador tinha um


bezerro e a mãe, do la-
vrador
De sorte
era tambem
o lavrador
o pae do
estava
bezerro.»
de da fa-
que posse -

toda
milia
: da vacca e do boi, paes do bezerro.

A guardadora de patos

Uma rapariga guardava os


patos que passeiavam
em um campo; um lavrador perguntou-lhe a quanto

montava o numero dos seus patos. Ella respondeu:


tenho tantos, que se tivesse ainda outro tanto, e a

metade d'outro tanto, com o quarto d'outro tanto

cu
pata que os poz teria cem ao todo. Pergunta-
se
qual é o numero de patos que ella guardava ?
. soLução
Supponhamos que ella tinha. ........ ema és
36
.
Porque tendo ainda outro tanto........ sitio 36
Mais, a metade d'outro tanto que faz....... 18
Mais, o
quarto d'outro tanto que faz...... 9
E a
pata que os
poz que faz EA pato I

-
O total é............... (100
O relampago magico

Colloca-se uma colher pequena de prata entre a

gengiva e o beiço superior, e um pedaço de zinco


96 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

entre a gengiva e o beiço inferior ; tocando as duas


extremidades d'estes dois metaes, experimentar-se-
ha uma forte sensação, e passará pela vista um
relampago, quer seja nas trevas, quer na claridade,
quer seja com os olhos abertos, ou com elles fe.
chados.
9 pastor

Perguntaram um dia a um pastor quantos car-

neiros tinha no rebanho. Ao que elle respondeu:


se tivesse um terço e um quarto dos que tenho, e

ainda mais cinco, teria cem certos.

sorução .

“Tinha 60 carneiros.
PROVA

4 6o carneiros
O terço de Go.são............ 20

O quarto de-6o são........... 15


Mais; ses

4 cus

anasanEn snes 5.

100

da carnavalesca

im umã reunião
pelo entrudo, póde qualquer fa-
zer uma
engraçadissima partida. Trata-se nada me-

nos do que desfigurar horrorosamente todas as


pes-
soas
que se encontram em uma sala.
Para tal se
conseguir dissolve-se um
pouco
de sal açafrão
e em espirito de
vinho, embebe-se
um pedaço de estopa ou de algodão n'este liquido
e lança-se-lhe fogo, havendo antes o cuidado de

apagar todas as luzes; então a este resplandor as


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
97

pessoas brancas apparecem verdes e o carmim das


faces e dos labios toma uma côr accentuada de
azeitona.

Levantar um copo com a palma da mão

E a coisa mais simples d'este mundo.


Consiste em dextramente, no rebordo do
agarrar,
copo e con-

serval-o for-
tementeaper
tado entre o

pollegar e o

indicador.
Convém
fazer a
ope-
ração rapida-
mente, já para a tornar desapercebida dos olhares
curiosos, já para mostrar que não se usa de qual-
quer materia pegajosa para levar a effeito a sorte.

037€e0%)3

É tal a
propriedade do numero 37, que multipli-
cado por cada um da progressão arithmetica, 3, 0,
9, 12,15, 18, 21, 24.€ 27, todos os productos que
resultam se compoem de tres cifras eguaes e a som-

ma dassuas figuras é tambem sempre o numero


pelo
qual se
multiplicou o citado numero
37.
EXEMPLO
.

3 do 37 Sm 37 37 3 37
9 12 15 18 21 24 27
ma 333 444 555 666 777 888 999
a
7
98 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

O 73, multiplicado
numero
por cada um dos da

progressão arithmetica, 3, 6, 9, 12, 15, 18, 21, 24


e 27, OS seis productos que resultam d'esta multi-

plicação' terminam por uma das nove cifras diffe-


rentes, 1, 2, 3, 4, 2,6, 7, 8,9. Estas cifras encon-

tram-se em uma ordem contraria relativamente a

esta
progressão.
Advinhar quantas tem em cada mão
moedas
A uma pessoa que tem tantas moedas em uma

mão como na outra, vae o


prestidigitador advinhar
quantas moedas tem ao todo, do seguinte modo :

Diz-se-lhe que passe da mão direita para a es-

querda um certo numero de moedas que seja me-

nor do que tem em uma das mãos. E além d'isso,


que da mão esquerda onde poz o dito numero de
moedas passe para a direita tantas quantas n'esta
haviam ficado.
O numero de moedas que deve haver dentro da
mão esquerda será o dobro das que para ella se

ordenou que passasse.


Perguntando-se, pois, quantas moedas excedem
as da mão esquerda ás da direita, conhecer-se-ha
as que ha dentro d'esta. Por isso bastará juntar as

moedas que ha em ambas as mãos para se saber

quantas eram ao
todo. *

Exemplo —Tendo-se posto 12 moedas em cuda


mão e ordenando se para passar 7 da mão direita
para a esquerda, será necessario fazer passar nova-

mente da esquerda para a direita


tantas ha- como

viam ficado n'esta, isto é, 5 moedas. Então ter-se-


ha a certeza de que existirão 14 moedas dentro da
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR , 99

mão dobro de
esquerda, que
ella.E
é o 7 que se ordenou
que passasse para perguntando-se em
seguida
qual é o excedente de mocdas da mão esquerda á
-da direita, responder-nos hão que são 4 as que ha
mais n'aquella do que
a n'esta.
Assim,pois, tirando
4 de 14, ficarão 10, que accrescentaremos ás 14, re-

sultando ser 24 o total das moedas existentes.

O dividendo egual

Apresentam-se espectadores
aos tres
quantidades
-escriptas em um papel e
propõe-se que, sem as al-
terar, se encontre uma combinação para as distri-
buir'a tres pessoas diversas, mas por egual a todas
ares, apesar da cifra differente que cada uma d'ellas

representa.
Com effeíto, as tres quantidades propostas são :

SuTBA TD
61,254
7:218
Como podem distribuir-se por egual ?

Solução: Sommando entre si as cifras de que


cada quantidade se compõe. Esta somma é 18 em

todas ellas.

Conversão d'uma mocdn ao passar duma


mão para a outra

Esta sorte produz muita illusão, porque faz crer

aos espectadores que se possue grande habilidade


mo escamoteio de moedas, não tendo nenhuma.

Mostra-se, por exemplo, a moeda de prata sobre


a
palma da mão esquerd: e ao
passal-a para a di-
100 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

reita, parece de cobre; cinco tostões que se con-

verteram em um vintem. A illusão é maior, se,


tendo-se deixado na mão do espectador os cinco
tostões, o prestidigitador ao retiral-a delicadamente
com os dedos, aos seus
proprios olhos, lhe deixa
ver
que se converteu em um vintem. Tudo isto
consiste apenas em
que a moeda é de prata por
um lado e de cobre pelo outro.
*

Por meio da pilha galvanica é facilimo pratear


uma moeda de cobre em uma das suas faces, ou

dourar egualmente uma de prata.

As tres prendas

A sorte das tres prendas é uma recreação en-

genhosa que embora fundada no calculo, não é cal-


culo para os espectadores, mas para o operador, que
é quem deve ter engenho por todos e
para to-

dos.
Diz-se a tres pessoas prendas que escolham tres

differentes, exemplo:
por relogio, um annel e um

um estojo, cujas prendas numeram mentalmente,


primeira, segunda e terceira. O operador não vê

qual é a prenda que cada pessoa escolheu, pessoa


numerada tambem mentalmente.
Estendem-se sobre a mesa vinte e
quatro tentos,
ou moedas e dão-se, uma á pessoa numero 1, duas
á pessoa numero 2 e tres á pessoa numero 3.
d'isto de
Depois e
costas-voltadas, o
operador
dirá que a pessoa que escolheu o relogio (primeira
prenda) tome tantos tentos

annel
quantos tem na mão ;
que a
que guardou o (segunda prenda) tome

dobro do de dos
o numero tentos que tem
; e
que
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 101T

a
gue escolhe o estojo (terceira prenda) tome qua-
tro vezes mais do que os seus,

Feito isto, volta-se rapidamente e verifica-se com

o olhar o numero de tentos que ficaram sobre a

mesa, cujo numero será precisamente algum dos


seguintes: 1, 2, 3, 5, 6, 7, (mas nunca
4).
Muito bem, eis aqui o calculo que o operador fa-
rá para acertar qual das tres pessoas tem a
prenda
respectiva, cujo calculo é baseado na
seguinte fór-
mula ou chave:

Dajne era habil gentil lista fiel


1 2 3 5 6 7
A primeira syllaba de cada palavra indica a pes-
soa numero 1, a quem se deu um tento, e a se-

gunda syllaba expressa a


pessoa numero 2, que re-

ccbeu dois tentos.

As tres unicas vogaes. que constituem essas


pa-
lavras a, e, i, indicam a
primeira, segunda c ter-

ceira prenda.
E os numeros que estão debaixo das ditas pa-
lavras, designam a
palavra que convém consultar,
conforme fôr o numero de tentos que tiver ficado
sobre a mesa,

Depois d'esta explicação, a advinhação é bem


Ficaram dois tentos? Então
simples. — a palavra
era (á qual corresponde o numero 2) indica que a

pessoa numero 1
(primeira syllaba) escolheu a se-

gunda prenda (vogal e), isto é, o annel; que a


pes-
escolheu
soa numero
2 (segunda syllaba) a
primeira
prenda, o relogio (vogal a), e por conseguinte a

outra pessoa tomou


a outra prenda restante, isto é,
o estojo.
102 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Ficaram sobre seis N'esse


- a mesa tentos
? —
caso.

é preciso consultar a palavra lista. A pessoa nu-

mero 1 terá escolhido estojo,


o (terceira prenda):
a 2 terá escolhido o
relogio (primeira prenda), e a

3 o annel (prenda restante).

dar de sítio um copo cheio d'agua


sem o entornar

Aposto com v. ex? que depois de eu ter en

chido um
copo de agua, e
depois de o haver col-
locado sobre a mesa, não o
póde mudar de sitio
sem entornar toda a agua que elle contém.

Essa é melhor! Não se me dava de ver isso.
Então enche-se d'agua um copo, e
applicando por
cima um
pedaço de papel que cubra a agua e as

bordas do copo, põe-se a palma da mão sobre o

papel e tomando o copo com a outra mão, volta-se


precipitadamente e colloca-se sobre uma mesa em

um ponto onde esteja bem unido, retirando suave

mente o
papel: a
agua que o
copo contém ficará
n'elle suspensa, attendendo a que o ar não poderá
penetrar ali. Por conseguinte, de qualquer maneira
que lhe pegue a pessoa com quem se
apostou, não.

poderá tirallo do seu logar sem que o ar entre

n'elle e se entorne a
agua.

O collegio de meninas

Este divertimento, proprio para uma sala, con-

siste dispor um
em
quadrado dividido em nove com-

partimentos eguaes, e collocar nos oito exteriores


um numero de marcas ou moedas tal que a somma

das de cada lado produza sempre 9, e sem


que o
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 103

ASAS

seu numero absoluto possa variar de 20 até 32.


Pode-se apresentar este problema de differentes
maneiras, chamando ao
quadrado um convento, ou

um collegio, ou um carcere, ou uma adega; e ás


marcas chamando-lhe freiras, educandas, presas,
ou
garrafas de vinho. Deixamos á discripção do ope-
rador a escolha da historieta com os detalhes que
melhor suggerir lhe a sua
imaginação.
Supponhamos um
collegio de 24 educandas, que
habitam tres em cada aposento exterior, e a dire-
ctora que é cega, habita no do centro.

A boa senhora, com o fim de se


assegurar de que
as suas
discipulas não se ausentam dos aposentos
superiores, indo para as
grades do andar inferior,
passa uma revista todas as noites aos ditos aposen-
tos; primeiro depoisos
os dedo opposto,
um lado,
e
depois os outros dois.
Na sua primeira visita encontra 3 meninas em

cada quarto, ou seja sommando q por cada lado,


e vae-se deitar satisfeita. Estão com effeito, todas
as 24 educandas.
No dia seguinte, 4 meninas ficaram fallando nas

grades com os seus namorados. A directora ao fa-


zer a visita, conforme o seu costume, tomando sem-

pre os lados oppostos, conta em cada lado g me-

ninas, isto é, 4 nos aposentos dos angulos e uma no


do centro. Uma vez que são g, dá-se tambem por
satisfeita, e comtudo, entre todas estão apenas 20.

No terceira noite, as educandas introduziram 4


namorados nos seus
aposentos, e a directora ao

contar, acha nove


pessoas em cadalado, 2 nos an-

gulos e 5 no centro. Como sommam


9, não des-
104 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

confia de nada
eretira-se contente com as suas dis-

cipulas. Entretanto estão 28 pessoas em vez de 24.


Na noite seguinte entraram mais 4 namorados.
A directora contou
sempre em cada lado, um nas

extremidades meio. Não acha


e 7 no observação a
fazer, e todavia estão 32 pessoas.
Os seguintes quadrados que podem desenhar-se
em um
papel, pondo as marcas
que indicam os nu-

meros de cada divisão, explicam sufficientemente as

trocas
que narra a historieta.
1. 2. 3. as
33 252
3
3]
3)
414
da
1: 5 5
1

7º?
7a

3 3 3.
f la rd 252 1 7a

Desligar os dedos depois de bem amarrados

Pede-se a
qualquer pessoa que nos amarre es-

treitamente os dedos
pollegares com uma fi-
ta,e depois que nos tape
as mãos com um cha-
peu. Isto feito, e com

grande pasmo de todos,


o operador tira do cha-
peo a mão direita per-
feitamente livre da es-

querda e
pede para be-
ber um copo de vinho
á saude de quem tão
Fig.
a solidamente o amarrou.

Torna depois a mettera mão dentro do chapeu


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 105

dedos
e, poucos momentos
depois, a apresentar os

ao publico amarrados e exactamente na mesma


po-
sição em que estavam quando foram ligados.
Esta experiencia de effeito é simplissima.
Faz-se primeiro amarrar com uma fita o polle-
gar da mão esquerda, mas, pedindo um nó cego,
toma-se a extremidade da fita voltada para a mão
direita e
passa-se entre o
pollegar e o index da
mesma mão ; pede-se então á mesma
pessoa gue

Fig.
2 Fig. 3

nos ata o favor


prender de
estreitamente os dois
outros apresentando-se-lhe
nós, e as duas mãos as-

sim approximadas, entrelaçam se


quatro dedos da
mão direita na parte da fita que deve ligar o se-

gundo pollegar, deque maneira os nós por mais


apertados que fiquem, deixam facilmente desemba-
raçar o
pollegar, largando o
que se retinha comos

dedos e se dissimulava ao
publico escondendo a mão
direita na
esquerda. (Fig. I, IL, HI.)
Uma vez desligada, torna facilmente a collocar-
se amão direita na
primitiva posição.
106 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Uma aposta engraçada

Quasi todas as apostas deixam triste aquelle que


as perde, nós descobrimos uma que os deixa ficar
a rir.

Se não temesse abusar da condescendencia
d'este senhor, atrever-me-ia a
pedir-lhe que nos

désse uma prova da sua habilidade.



Não abusa, não senhor ; de que se trata ?

Como vossencia vê colloco esta moeda de tos-

tão dentro d'este copo de licor que está aqui. Quer


apostar comigo em como fará sahir do copo a moe-
da sem tocar no
copo nem na moeda?

Em assumpros de prestidigitação era


capaz de

apostar uma fortuna... Qual dos cavalheiros quer


apostar por mim em como faço a sorte do copo e

da moeda ?

Está tratada a
aposta.

Então principio...

Oh ! demonio, que vae o senhor fazer ?



Eu? vou dar um pontapé na mesa ; assim fa-
rei cair o
copo que parte, se e sahirá a moeda.

Mas não ha necessidade de partir coisa algu-


O senhor vae
logo ás do cabo !
ma...

E que eu sou accionista da fabrica Marinha


Grande.
Muitos parabens ; mas
permitta-me em-

que
preguemos um meio mais economico do que o seu.

Por cima da moeda colloco simplesmente outra


de dois tostões.

Agora tenha a bondade de soprar com força


para dentro de copo.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 107

Com todo o gosto... Oh! coma bréca! A


moeda acaba de me saltar ao nariz ; effectivamente
cá está em cima da mesa sem que eu tenha tocado
!
no
copo nem nos dois tostões..
. Maravilhoso to-

que... perdi, mas com muito prazer ! É boa!...

Advinhar à pessoa entre varias


que escondem uma coisa
1
Esta sorte funda-se egualmente na massadora
base de fazer praticar ao
espectador operações ari-
thmeticas.
A pessoa que executa a sorte numera as pessoas
presentes, e com relação ao numero
que marcon

a cada uma diz-lhe que dobrem o numero da que


tiver escondido objecto...
o É claro que este sys-
tema tanto se
póde applicar :
a esta acção como a

qualquer outra.

Ao numero duplicado que accrescentem 5.


Que multipliquem por 5 a somma.

D'este producto tira o


operador a cifra da direi-
ta, e da quantidade que fica diminuem-se dois.
Este ultimo resto indicará o numero da pessoa que
se
procura,
Supponhamos que o numero da pessoa em

questão é 6.
Dobrando 6, a somma é 12.

A 12, accrescentando 5, são 17.


Multiplicando 17 por 5, resultam 85.
“Tira-se a 85 a cifra da direita 5 e fica o 8. Di-
minuem-se 2 ao 8 e apparece por ultimo o 6, nu-

mero se
que procura.
Cremos que depois d'esta sorte é inutil referir
108 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

os milhares d'ellas que se fundam no mesmo


prin-
cipio, e de que estão replectos os livros vulgares.
O papel magnético

Eis uma
experiencia pódem curiosa, e
que todos
fazer. Toma-se papel, aquece-se
uma ao folha de
lume ou ao sol e depois esfrega-se immediatamente
no joelho (se tivermos calças de panno de lã) depois
toma-se pelas extremidades, e
põe-se a 6 ou a 8
centimetros da cabeça do espectador. Ver-se-ha os

seus cabellos por-se em pé e seguirem perfeitamen-


te as
ondulações que fizermos com o
papel.
Para isso é preciso que os cabellos estejam sec-
cos e sem pomada.
Além d'isso, approximando-se d'este papel (em-
quanto quente), na escuridão, um
.
objecto qualquer,
obter-se-ha uma faisca.

O dominó ao contrario


V. ex.º joga o dominó?

Bem vê que não; estou observando como o

senhor executa as suas sortes.

V. ex.* não me
comprehendeu; perguntava
]

se conhece o
jogo do dominó.

Já uma vez joguei uma partida completa com

um trapaceiro e
quem ganhou fui eu.

Quer conceder-me a
mesma honra ?

Com egual prazer.


Muito obrigado. Tenha a bondade de baralhar.


Mãos á obra.

Tirou as suas sete pedras... Muito bem, é o

senhor que põe.


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 109


Já da ontra vez fui eu
que pi... Não sei
como isto é, mas
quer-me parecer que não tenho

gallinhas na familia. Prompto: doble cinco...

amigo, não se incommode


Meu caro a dizer


os pontos que joga. Permitta-me além d'isso que
lhe observe que v. ex.º põe as pedras pelo systema
antigo. Tenha a bondade de as
pôr simplesmente
com o branco para baixo e o
preto para cima...
Eu farei o mesmo.

O senhor é mais trapaceiro do que o outro.

Como é que o senhor quer que?... Assim. não


posso ganhar.
Amavel leitor, provemos-lhe o contrario. Conti-
nuemos ambos, se é do seu
desejo, a
partida que
elle acaba de abandonar.
V. ex.º senta-se na minha frente. Ponho um dos
meus
pés junto a outro dos seus, e pela sua
parte
faz outro tanto. Estas disposições muito facilmente
tomadas sem que ninguem suspeite
algu- de coisa
ma, permittem que dos pelas pressões
nossos
pés
indiquemos um. ao outro o
ponto que collocamos
jogando a
pedra ao contrario como já sabemos, e

para que seja a sua linguagem inteiramente intel-

ligivel, um e outro pé ficam immoveis quando po-


mos branco.
Concluida a partida, voltamos todas
pedr: as s

-do jogo para mostrar que os numeros


ligam com se

a maxima exactidão, e todos os


espectadores nos

pedem que descubramos um


segredo que faremos
bem em
guardar durante o maior tempo possivel.
TIO MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO

(imiração DE ONoFROFr)

É bem notorio o successo obtido por Mr. Ono-


froff na execução das sortes submettidas a este ti-

tulo.
E egualmente sabido que muitos enthusiastas
destes mysterios procuraram imital-o e
alguns che-
garam a obter das suas
experiencias um
lisongeiro
resultado. z

Essas experiencias, porém, não as relataremos


aqui, porque não são uma arte
que se
possa ensi-
nar,'e, como
proprio o
dizia, Onofroff elle mesmo

ignorava' os meios de que se servia para realisar


aquelle difficultosissimo trabalho. Attribuia-se ao

seu estado de nevrosismo, ao seu


temperamento.
Alguns livros de physiologia watam vagamente
aquelle assumpto, sem outra
explicação a mais da
affirmativa de que póde dar-se a transmissão do
pensamento humano. Meia Lisboa tentou desven-
dar esse
ponto de
dontrina, e a ontra meia ainda

hoje recorda as phantasiosas conjecturas que se for:


mavam com o intuito de decifrar a charada.
Nós, pretendendo poupar a
lucubrações o leitor
de espirito, vamos dar-lhe a
explicação d'uma en-

graçada experiencia n'aquelle genero, certos de que


posta em pratica alcançará um successo nada infe-
rior aos obtidos pelo celebre Onofroff.
MANUAL DO
PRESTIDIGITADOR 111

RARA
RARA
ARA

Um sujet collocado na scena, com os olhos ven-

“dados, canta
discretamente as arias pedidas pelos
espectadores que e se nomearam
ope- ao ouvido do
rador postado a distancia.
As combinações para chegar a este resultado são
multiplas ; mas a
que é mais vezes
empregada con-
siste em formar um
catalogo numerado das arias
que o
sujet conhece e
que poderá cantar; o
sujet
deve saber de memoria os titulos e os numeros

correspondentes a cada uma das arias d'esse cata-

logo.
O operador e o
sujet combinam entre si dez si-
gnaes representando cada um d'elles um
algarismo»
signal que o
sujet poderá ver a distancia apezar da
venda que é feita de panno grosso, é verdade, mas

da qual a parte correspondente aos olhos é trans-

parente; sendo o estofo central aberto n'esse sitio


e o estofo exterior sufficientemente claro.
Supponhamos que um
espectador pede ao
ope-
rador para cantar ao
sujet a romanza da Traviata
«
que essa romanza corresponde ao
algarismo q
bastará
do catalogo ; ao
operador, erguendo o braço
como para dar uma ordem que parece uniforme,
collocar os dedos de maneira a transmittir o signal
correspondente ao numero
9, para que o
sujet cente

a aria pedida. i
Se o espectador pede correspondente
uma aria
“ao numero 35 do catalogo, operador fará
o primeiro
a
telegraphia do numero 3, depois recomeçando o

gesto com mais energia, transmittirá o 5, o que in-


dicará a aria 35 do catalogo.
enasnssanana
nas
PARTE III

Prestidigitação, desapparições mysteriosas,


illusionismo e sortes de apparato

XA bolsa maravilhosa

Consiste esta sorte em fazer sair moedas de uma

bolsa sem a abrir.


Mostra-se ao
publico uma bolsa formada de doze
pedaços de panno, tão bem cosidos que-não se nota

n'elles o minimo signal de abertura. Logo que se

enche de dinheiro, mette-se debaixo de um


chapeu,
e
depois mostra-se vasia, mas
perfeitamente fechada
como
quando primeiro se collocou.
Para executar esta sorte, apparenta-se tirar do
bolso um lenço, e aproveita-se este movimento para
escamotear subtilmente a bolsa que contém o di-
nheiro, e substituil-a por uma outra perfeitamente
semilhante. .

Para affastar qualquer suspeita, marca-se com


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 113

lacre a bolsa que contém o dinheiro e dá-se a ve-

rificar para que se veja que é a mesma que, sem

costura, ora se apresenta cheia, ora vazia. O opera-


dor desapparece por um instante de scena, e volta

pouco depois trazendo uma bolsa cheia de moe-

das; colloca-se então o lacre, tapa-a com um cha-

peu e tira d'ella, uma por uma, as peças que faz ti-
lintar na mesa.
.

O mysterio da operação explica-se facilmente : a

bolsa que se occulta só exteriormente se asseme-

lha áquella em que primeiro se fizeram verificar as.

costuras.

Uma das doze costuras é combinada de modo


a
poderem affastar-se os rebordos, repuxando o

panno, porque dois fios differentes, puchados de


certa maneira, cedem ao esforço dos dedos e for-
mam como que uma rede atravez da qual passam
as moedas; os rebordos da costura tornam a unir-
see os fios
desapparecem, logo que se
pucha o te-

fórma.
-

cido d'outra qualquer


Como se prova que dois ec dois são oito

Desde que
a arithmetica
existe, e já ha
bastante tem-

po, todas as ta-

boas de som

mar teem dito

que dois e dois


são quatro. Isto ,

disse-se e ensinou-se tantas vezes, que afinal todos


8
vis MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

acabaram por acredital-o. Não obstante, esta ma-

neira de contar é absolutamente erronea... em ma-

gia. Vamos demonstral-o, não por algarismos, que


enfastiariam o leitor, mas
por factos clarissimos e

que não deixam apoz si duvida alguma


“Tenha a bondade, leitor, de me emprestar qua-
tro moedas de cinco tostões; por ora bastam-me
duas. Dê-se ao incommodo de as pôr n'esta ban-
deja, para que todos: possam ver que emprégo só-
mente o numero de moedas pedido. Agora deito
bem ás claras as duas moedas de cinco tostões neste
saquinho, que póde examinar á sua vontade...
bem vê que está totalmente vazio. Dê-se ao incom-
modo de me emprestar as outras duas moedas de
cinco tostões, e de as collocastambem na bandeja.
Deito-as no sacco
primeiras.
como fiz ás Quantas
moedas de cinco julga o leitor
tostõesque contém
agora o sacco 2... Quatro... Já lhe tinha dito que
se contasse como ensina O
antigo systema, que é
completamente falso, havia de enganar-se forçosa-
mente. Ora, tenha a bondade de despejar o sac-

co... Bem vê que encontrou realmente oito moe-

das de cinco tostões. ..

Julgará ainda que dois e

dois são quatro ?


A minha opinião, leitor, é que, não obstante o

que acaba dé ver, conte sempre nos seus calculos


pelo antigo uso. Se o
que acabamos de executar

lhe fez perder a confiança que tinha na arithmetica,


veja de perto a nossa bandeja, de fórma oblonga,
e conhecerá então que ella tem um outro fundo
um
pouco visivel, é verdade, mas sufficientemente
alto e
largo para conter
quatro moedas de cinco
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 115

tostões. Este encaixe é aberto n'uma das extremi-


dades. Pegando na bandeja pela extremidade op-
posta, fiz cair no sacco com as que me tinham em.

prestado, as
quatro moedas occultas, e
que por um

momento lhe causaram uma perfeita illusão.

A marmita milagrosa

Mette-se n'um
esconderijo, n'um tacho de folha,
“uma gallinha viva; tapa-se em
seguida o animal
com uma tampa movediça collocada a meia altura
«jo tacho e por cima põe-se outra gallinha morta,
«depennada e com todos os
temperos, taes como

-sal, manteiga, pimenta, etc.

Colloca-se em
seguida o tacho ao lume. Logo que
o calor se desenvolve, o animal prisioneiro trata de

fugir, o que faz atirando com a


tampa movediça e
saltando para o chão, com
grande pasmo e hilari-
dade dos espectadores.

Processo infal vel para se beber


o puro

Quem póde gabar se de beber vinho sem agua?


“Ninguem, talvez, porque os mesmos
que o fabri-
cam, pelo costume em
que estão, necessariamente

“baptisam o que bebem. O processo que hoje ensi-


mamos aos leitores, é de immensa utilidade e de fa-
cilima execução, porque consiste em
separar o vi-
nho da
agua.
Deitamos n'uma
Colloca
garrafa um copo cheio
sobre
de vinho
e outro
d'agua. se a garrafa este pe-
destal e um
copo de cada lado. A operação execu-
110 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

tar-se-ha quando estes tres objectos estiverem co-

bertos com tres pyramides. Para que experiencia


a

tenha um resultado satisfactorio, deixar-se-ha á es-


colha dos espectadores o
copo aonde deve appare-
cer a
agua ou o vinho... Desejam que a agua ap-
pareça da esquerda e o vinho da direita? Bem !
“Tiremos as
pyramides que servem de tampa; a

garrafa está vazia, e, conforme as suas ordens, a

agua passou para o


copo da esquerda, o vinho para
amadores
o da direita. Grande descoberta para os

obter
!
Devemos prevenir os leitores, que para a

curiosa separação do vinho da agua, ou vice-versa,


devem servir-se d'uma garrafa furada por baixo,
tendo o buraco tapado com uma bola de cêra que
tirarão, para que a misccellanea contida na
garrafa
caia no
pedestal em
que ella está posta quando a

cobrirem com a tampa. As pyramiídes que cobrem


os copos são ocas até ao meio, na
parte inferiór,
mas a
parte superior de cada uma d'ellas repre-
senta uma
especie de caixa de figura conica, divi
dida em dois repartimentos, tendo cada um d'elles
um buraco na base. Esta caixa, pela sua divisão,
póde conter, e effectivamente contém, vinho e agua
em cada pyramide. Assim como o
peso do ar
obriga
a furar-se o tonel, que está cheio de vinho, em dois
sitios, para se
despejar, da mesma fórma o
liquido
dos repartimentos não sairápela abertura, em que
ha poucofallámos, sem
destapar uma outra que lhe

corresponde, feita no alto da pyramide. Esta aber-


tura está tapada por uma bola de cera molle. De-

pois de se saber aonde deve apparecer o vinho ea

agua, não ha mais que tirar á direita ou á esquerda


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR TZ

a tampa que fecha o


repartimento do vinho, ou o

que impede a
agua de se lançar no
copo.

Os pilares maravilhosos

Imagine o leitor duas pequenas columnas, tendo


em cada extremidade uma bola semelhante a um

ovo de pomba. Estão juntas uma a outra por um

cordão que atravessa as duas bolas superiores; o

prestidigitador puxa repetidas vezes o cordão da


direita para a

esquerda, e

d'esta para
“A
aquella, para
I mostrar que
bem
|
|
passa
meio das
pelo
bo-
las. Depois pe-
ga n'uma the-
soura, e diz

que vae cortar

o cordão, do que ninguem duvida, quando elle mos-

tra os dois pilares separados, e tendo cada um uma

ponta do cordão cortado pelo meio. Em seguida


une os pilares, é quanto
e basta para que o cordão
se ache immediatamente ligado como estava. Torna
a puxal-o d'um lado para o outro, como ha pouco
fez, convidando algumas vezes um
espectador para
metter o nariz entre as bolas que o cordão parece
atravessar.

Para obter este resultado, é tão inutil atar o

cordão como cortal-o, porque elle não atravessa as

bolas atravez das quaes parece passar. Existem de


118 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

facto dois cordões; uma das extremidades de cada


um d'elles sae
por uma das bolas, que unem de
se
maneira que estas duas extremidades pareçam li-

gadas transversalmente. A outra extremidade dos


dois cordões que passam por dentro dos dois pila-
res vae enrolar-se n'uma especie de roldana collo-
cada nas bolas oppostas. A uma das roldanas está

adaptado um torno exterior muito pequeno; a ou-

tra roldana governa um


quadrado ôco, no
qual o

torno se encaixa quando se unem totalmente os pi-


lares. Comprehende pois, o leitor, que depois de
ter unido os pilares, faz voltear a roldana, e ao

mesmo
tempo o torno, que imprime um movimento.
circular ao
quadrado e á roldana do outro, a
qual
envolve o
segundo cordão, cuja extremidade op-
posta diminue tanto de um lado, quanto pelo outro-
se puxa, e
produz assim uma verdadeira illusão.
Se, pelo contrario, fizer movimento da direita para
a
esquerda, e
depois vice-versa, pequena machina a

trabalhará em sentido inverso e com o mesmo re-

sultado.

Resuscitar um pcru depois de lhe cortar


a
cabeça

Corta-se a
cabeça a um peru (vivo), torna a col.
locar-se-lhe na posição normal, e o
peru fica como-

d'antes. Eis o meio de realizar o


milagre.
Apresente um peru sobre uma mesa; e no mo-

mento em que lhe occulta a cabeça debaixo daaza,


faz-se passar por um
pequeno alçapão a meio da
mesa a cabeça d'outro peru, que se esconde na
gá-
veta.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
IG

A cabeça que se mostra ao publico é pois a do


peru occulto, e
parece pertencer ao
que está sobre
a mesa. Como esta cabeça se
agita para todos os

lados, toda a
gente suppõe que é impossivel cortar

a cabeça ao animal sem o matar, e causa manifesta


surpresa vel-o um instante depois caminhando ligei-
ramente quando a cabeça do peru escondida se es-

camoteia.
O avo dançante
Mostra-se aos
espectadores tres ovos, dois dos
quaes poem-se em cima de uma mesa, eo terceiro
dentro de qualquer chapeu; pede-se a algum dos
senhores presentes que empreste a sua
bengala,
a
qual se faz ver
geralmente a todos para mostrar

que não ha n'ella preparação alguma; estende-se


esta bengala sobre o
chapeu, que d'ahi a pouco
tempo se deixa cair no chão, e o ovo fica pegado
á bengala como se estivesse seguro com grude ;
principía a tocar a orchestra, e o ovo como se fosse
sensivel ao som da musica principía a mover-se á

roda da bengala de uma extremidade á outra, é

continua n'este movimento emquanto toca a musica.


O ovo deve estar pegado a um retroz por meio de
um alfinete, que o fura de parte a parte pelo seu

comprimento, e o buraco, que se fez para introdu-


zir este alfinete, tapa-se muito bem com cera bran-
ca; a outra extremidade do retroz está presa por
meio de outro alfinete virado em fórma de gancho
ao peito do magico, e a bengala passando por baixo
do retroz junto do ovo faz com que este descance
sobre a
bengala; quando a musica principia,o ma-

gico move a
bengala da direita para a esquerda, e
120 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

da esquerda para a direita ; este movimento faz com

que pareça que é o ovo


que se mexe
para uma e

outra parte da bengala, o


que não é
praticavel, nem
succede porque o ovo, estando pegado ao retroz,
o seu centro de
gravidade fica sempre na mesma

distancia do gancho que o-segura, e é unicamente


a
bengala que movendo-se pelo comprimento do
ovo lhe apresenta os differentes pontos da sua su-

perficie.
N. B. Para fazer acreditar com mais efficacia aos

espectadores que é o ovo


que se move, o
magico
vira-se ao mesmo
tempo que faz escorregar a ben-

gala sobre o ovo, um


pouco para a
iilharga, e por
este methodo o ovo recebe um movimento que os

faz ainda mais acreditar que é o ovo que dança á


roda da bengala.
Os copos empalmadores

Já que nos
propuzemos ensinar ao leitor os ins-
trumentos e machinas que se
empregam para ad-

quirir o honroso titu-


lo de magico, fallar-
lhe-hemos agora dos

copos empalmado-
res, instrumentos de

que o leitor se deve


servir muitas vezes

nassuasexperiencias.
São maiores do que,
qualquer copo usualmas teem a mesma fórma.São
munidos por dentro por uma
especie de colhér de

ponche sem
cabo, ou então d'uma concha bastante
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 121

concava. Esta concha disposta como uma mão le-


vantada prompta a
agarrar, segura-se no lado inte.
rior do copo,no fim do qual está um botão, em que
basta tocar, para a machina se pôr em movimento-
Nada ha mais commodo, quando se quer empal-
mar algum objecto d'um tamanho regular á vista
de todos e sem
ninguem dar por isso. Posto o obje-
cto na mesa, tapa-se com o
copo, dando ao mesmo

tempo na mola que obriga à concha a descrever


um semi-circulo, tomando o objecto que desappa-
receu d'uma maneira pasmosa para quem não sabe.
Basta isto, para o leitor calcular as immensas

vantagens que se tiram dos taes copos.

Cnixa milagrosa

N'esta caixa de ébano, que tomo a liberdade de


mostrar ao leitor póde deitar uma carta dirigida...
eu sei?... ao rei
da Cochinchina!
Não receie pela
entrega d'ella,
porque logo que
a deite na caixa,
verá immediata-
mente partir uns

poucos de cor-

reios a toda a

pressa para entregarem a honrosa missiva á pes-


soa a é dirigida. Mas como não tem
quem
mandar fóra tenha bondade
carta alguma a
para a

de deitar na caixa um bilhete de visita. Dê-se ao

trabalho de fechar a caixa e


guardal-a bem... agora
122 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

abra-a... Que lhe disse eu... Olhe que lindos pas-


sarinhos sairam da caixa que o leitor teve sempre
em seu poder!... Veja agora se o bilhete ainda lá
está 2... Como póde elle ter-se conservado na caixa,
se uma das avesinhas, a
que acaba de abrir a
por-
s

leva bico!
ta, o no
?
Examinemos a caixa milagrosa: por dentro é
preta, e nada apresenta de notavel: diremos, po-
rém, que tem dois fundos, um
apparente, e outro

real; o
apparente é aquelle em
que o
leitor deposi-
tou o bilhete, e semelhante em tudo ao verdadeiro;
entre estes dois fundos ha o espaço sufficiente para
poder estar um ou mais passaros. O fundo appa-
rente está preso a um gancho que o faz girar, e

assim é que, quando se fecha a caixa, a


tampa põe
em movimento uma mola que faz levantar o fundo

apparente. D'este modo, quando o primeiro fundo


se encosta a um dos
lados, leva comsigo o bilhete

que ahi se deitou, e


quando a
pessoa que está de
posse da caixa a abre, vê sair d'ella os passaros.
que já não estão presos pelo fundo apparente que
lhes servia de tampa.
O collar da minha avó

+
O magico pega em um certo numero de anneis,
que alguns dos espectadores lhe emprestam, en-

fia-os em duas fitas, e


pedindo a dois espectado-
res
para segurarem nas extremidades das fitas, pou-
cos momentos depois sem tocar na fita, nem tirar
os anneis fóra pela extremidade, o
magico separa-os
da fita e
entrega-os a seus donos. Esta sorte é co-

nhecida de col-
por todos
os politiqueiros pelo nome
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 123

lar da minha avó, porque em


logar de anneis ser-

vem-se a maior parte das vezes de contas; para


ser bem executada deve ser feita da maneira se-

guinte: dobra-se em primeiro logar uma fita, de


fórma que ambas as suas extrem
dades se encon-

dever-se-ha fazer
trem ; esta mesma
operação tam-

bem a outra fita semelhante á primeira, e


depois
atando pelo
as duas fitas meio com um fio da côr
das mesmas fitas, cuja operação já deve estar feita
antecipadamente, pedir-se-ha a dois dos especta-
dores que segurem ambos em uma das extremi-
dades das fitas, por cuja maneira já elles ficam en-

estão
ganados, estando ambos
na ideia que pegando
nas duas fitas, quando cada um d'elles não se-

gura mais que as extremidades de uma só; advir-


ta-se, porém, que é necessario recommendar-lhes
de não puxarem com força, podendo-se recear
que
se
quebre o fio, e os anneis cairem no chão; para
impedir que isto succeda, dever-se-ha rogar áquel-
les seguram a fita, de se chegarem um ao

que
do outro; depois pedindo a cada um d'elles as ex-

tremidades em que estão pegando, e fazendo com

ellas acção de querer dar um nó, trocar-se-hão as

extremidades de cada uma; por este methodo quando


o
magico as
entrega novamente nas mãos dos dois

espectadores, dá a cada um as duas pontas de am-

bas as fitas; o retroz então com facilidade se


que-
bra e os anneis tirar se-hão para fóra, ficando os

espectadores surprehendidos de os ver tirar.


O copo do diabo

Verdade, verdade, o vinho puro é uma bebida

que não seria delicado beber-se n'um copo vulgar.


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
124

Este que lhes apresento é d'um bello metal e tem

fórma elegante, visto dá


uma e
que a
magia nos a

parte do vinho puro vamos bebel-o n'este copo,


onde o deito com todo o
respeito devido a tão ex-

cellente bebida. Ponho-o n'uma bandeja e


offereço-o
áquelle senhor, que me parece ser entendedor...
Offereço-o, finalmente, à pessoa que mostrar desejo
de beber vinho
sem
agua... Que
é isto? Dá-me o

copo cheio. Que


!...
=
z.me diz? Pois
ninguem pôde
conseguir que
lhe chegasse aos beiços o divino licor 2... Effectiva-
d'um feitio
mente, o
copo é exquisito, tem as bor-
das entalhadas em toda a circumferencia até á al-
tura d'um centimetro. Este feitio do copo é ele-
gante, mas muito incommodativo para se beber
por elle, porque o vinho
espalha-se chegar antes de
á bocca... Não
experimentaram talvez, beber sem

levantar o
pé do copo... Apesar de me dizerem
que é impossivel, vou eu fazel-o para lhes ensinar.
Começo... exgotei o copo sem entornar uma só

gotta de vinho. Não esqueçam a lição.


Não aproveitaria a
quem não sonbesse que o copo
tem um outro fundo para o qual desce lentamente
o vinho, emquanto o prestidigitador sorve o
liquido
por um dos quatro canaes parallelos 4 parte in-
terna do copo, e cuja extremidade entra no
segundo
fundo.
D'esta maneira poder-se-hia beber dez gar-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 125

rafas a fio, sem incorrer na censura de lerantar co-

tovelo.
A caixa e o relogio

M. D... prestidigitador muito conhecido, foi ao

palacio do barão X, para onde tinha sido convidado


a
passar alguns dias da estação calmosa. Achava-se
reunida uma luzida sociedade que tinha acceitado
o convite do barão. M. D... foi bellaimente recebido
e encontrou no palacio um
rapaz, seu compatriota,
que lhe devia a elle a sua admissão em casa do
barão como criado. Este rapaz, porém,tinha perdido
a
alegria folgazã que M. D. . outr'oralhe tinha co-

nhecido. Depois de muito interrogado pelo seu


pro-
tector, José, confessou chorando, que d'entre tantos

objectos ricos que em casa


havia, lhe havia prendido
a attenção uma simples caixa de rapé, semelhante em

tudo a uma que sua defunta mãe tinha possuido,


e como lhe parecesse que, tendo a caixa, teria assim
uma lembrança d'ella, tinha-a roubado. Que n'esse
mesmo dia fôra encarregado d'uma commissão, que
o obrigou a estar fóra alguns dias, e que na sua

volta ao
palacio, soubéra que o barão tinha pro-
curado a caixa com muito
empenho, pois que para
elle tâimbem era lembrança,
uma e como tal a ti-
nha em grande estimação. Que não tendo a cora-

gem sufficiente de se denunciar, nem tão pouco de


pôr a caixa no seu
logar,por que era o mesmo que
se houvesse confessado o crime, o
rapaz estava

inconsolavel por não saber que meio empregaria


para fazel-a reapparecer, sem se condemnar a si

proprio. M. D... socegou José, dizendo-lhe que


elle se encarregava da reapparição da caixa, sem
126 MANUAL DO PRE TIDIGITADOR

buscal-a.
comprometter pessoa alguma, e mandou-o
No dia seguinte, M.D... convidou todas as
pes-
soas
que no palacio para
estavam assistirem a uma

sessão de
magia.
Concluia-a, mostrando uma caixa que, segundo di-
zia, tinha a singular propriedade de fazer com
que
apparecesse um objecto em vez d'outro, até o su-

bstituir por um
objecto perdido. Abriu a caixa, pe-
diu a uma das pessoas que se achavam presentes
que collocasse ali o relogio. Tapou depois a caixa,
e
perguntou ao barão X se tinha perdido alguma
coisa que dese-
jusse achar. O
barão respondeu
que perdera uma
caixa de rapé a

que ligava gran-


deimportancia, e

que por este motivo obrigadissimo ficaria á caixa


do prestidigitador se lh'a restituisse... É esta? per-
guntou M. D... destapando a caixa e tirando do
logar onde antecedentemente estava o
relogio, a

caixa de rapé que o barão


desejava.
Como é provavel que deseje
o leitor
uma expli-
cação clara da caixa empregada por M. D...apres-
sar-nos-hemos em dizer-lhe que se
compõe d'uma
tumpa que se encaixa n'um primeiro repartimento
movel e livre, collocado por cima d'um outro e sus-

tentado sobre uma mola, contida no pé da caixa.


Levanta-se a
tampa para se pôr o relogio no pri-
meiro repartimento. Depois torna-se a fechar a cai-

xa; abre-se de novo, apertam-sc os lados da tampa,


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 127

e com elle
primeiro repartimento.
vae O segundo
o

deixa então de ser opprimido pelo primeiro, e, em-


purrado por uma móla, vem tomar o
logar do pri-
meiro repartimento, trazendo já o objecto que an-
tes ahi se pozera.

A caixa obediente que se abre

quando se ordena

O
magico pega em uma caixa que tem uma pe-
quena figura de Mafoma, n'esta caixa e corpo d'ella
ha uma mola feita de fio de arame torcido em fórma

espiral.
Por este meio a
pequena figura, ainda que mais
alta do que a caixa póde pela commodidade da mola
conter-se dentro d'ella quando se fecha, e então a

mola no corpo aperta-se e encolhe. A caixa está

posta sobre uma alavanca escondida na mesa


(que
já descrevemos) a
qual com o soccorro do confi-
dente communica o seu movimento gatilho da ao

fechadura o buraco está desembaraçado


e
logo que
a mola que está no
corpo da figura, não achando
outra resistencia mais que o peso da tampa, obriga
esta a abrir-se.

Como se faz mudar de côr uma bola de

erystal branco, obrigando-a a passar, ape.


sar do tamanho, pelo gargalo d'uma gar-
rafa.

Apresentemos, sem
garrafa de que
preambulos, a

vamos fazer uso. Está muito


proposito meia de a
vinho, e tem,o gargalo um pouco comprido, mas
em compensação muito estreito, para poder passar
128 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

por elle esta bola de crystal branco, sem auxilio da

magia. Tratemos de diminuir a bola, apertando a

nas mãos. Deve


já estar d'um tamanho conveniente
para passar... Exactamente, eil-a na
garrafa. Pa-
rece
impossivel, o vinho tinge-a immediatamente.
Mas agora trata-se de a tirar já. Talvez isto se ob-
tenha apertando a
garrafa pelo lado de baixo; o

meio é excellente, porque já tenho a bola na mão.


Mudou unicamente de côr co-
E =
jar
mo os tinha prevenido; era

branca, e está agora encarna-

da.
O leitor não descobriu já, |] |
)
que fingindo apertar a bola de

crystal, deixei-a cair sobreuma


mesa invisivel ao publico, e
que apertando a
garrafa por
baixo, tirei uma bola de crys- “MN
tal encarnado que lá se achava 2... Descobriu de
certo! Então passemos a outra
experiencia.
A garrafa inexgotavcl

Todos conhecem maravilhosa


esta
garrafa, ou

por que já tenham bebido d'ella, ou


por ouvirem
dizer. A todos causado
tem uma
grande admiração ;
esperamos, pois, que nos agradecerão o esclareci-
mento d'este mysterio.
A garrafa inexgotavel contém cinco repartimen-
tos bem separados, e a cada um dos quaes serve

de canal um tubosinho mais pequeno que o


gargalo
que lhe é parallelo... A garrafa é furada no meio

por tantos buraquinhos quantas são as divisões.


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 129

Ainda aqui se applica principio


o que já expoze-
mos sobre o fluxo dos liquidos ; emguanto os bura-
cos estiveremfechados, o contheudo dos cinco re-

partimentos não
poderá escapar-se. Nos quatro pri-
meiros deitaram-se quatro qualidades, que se des-
confia serem as mais pedidas, e o quinto enche-se
de agua com assucar. Resta um certo
espaço no

meio da
garrafa, que se enche de vinho e
que se

despeja primeiro logar,


em ficando todos admira-
dos de que o
prestidigitador diga que encherá tan-
tos copos quantos
lhe peçam.
E, comtudo, na-

da ha mais facil,
pois que presti- o

digitador agarra na

garrafa de maneira
com os
que tape
cinco dedos os bu-
racos de que fallá-
mos,
que elle
estão dispostos paraisto, e
que, por pre-
caução, classificou na memoria por ordem al-
phabetica, com relação á primeira lettra do nome

dos licores contidos, seguindo a mesma ordem no

repartimento ; por exemplo: Anisette, corresponde


ao
primeiro buraco tapado pelo pollegar, etc. To-
das as vezes, pois, que se lhe pede um dos licores
contidos nos repartimentos, levanta o dedo que fe-
cha a abertura do liquido pedido e torna a tapar o

buraco até se servir d'elle outra vez. No caso de se

pedir algum licor não esteja


outro que na
garrafa,
á E ne-
o prestidigitador recorre
agua com assucar.

9
130 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

cessario saber que ha


copos postos uns
por ordem,
que soffrem uma preparação ; deita-se em cada um

d'elles uma porção de essencias diversas, que dão


á agua o
gosto do licor pedido. Para concluir, di-
remos
que a
julgar pelo tamanho os
copos pare-
cem conter muito mais do que realmente contem,
o
que fará parecer a
garrafa realmente inexgotavel.
Ocofre de crystal ou o modo de fazer viajar
dinheiro francamente

sem receio que o roubem na estrada

Supponhamos que desejaes enviar de Lisboa ao

Porto quatro mil réis, pouco importa a somma, em

oito meias coroas, que vos rogo de me emprestar-


des á vista de muitas
pessoas, e
depois de cada um

ter feito um
signal nas suas moedas.
Eil-as todas marcadas. Acceito-as, e volto para
o
palco afim de estar tão longe quanto possivel do

publico. O magico então faz subitamente a troca

das moedas por pilha de dinheiro exactamente se-

elle
melhante, seja que ponha
as sobre a
mesa, onde
um
alçapão realisa a substituição
rapidamente, e na

sua mesma mão, seja que elle proprio as


troque.
Se quereis condescender com o meu pedido vós
sereis o Porto, e eu
Lisboa; é, pois, d'este logar,
que se trata de vos fazer a remessa sem despezas
mais
para ninguem, e sem
que o
destro ladrão possa
surripiar o dinheiro no caminho.
Que é necessario fazer para conseguir este re-

sultado? Empregar simplesmente o cofre de crys-


tal, que-me trouxeram agora muito a
proposito, e

a maneira de se servir d'elle, que é bem simples.


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 131

Ha ali duasargolas no tecto,


pequenas o cofre tem

tambem lado;
uma de
vamos cada
suspendel-o por
meio d'estes dois cordões com
ganchos. Assim nin--
“guem o perderá de vista um só instante, e como é
-de crystal, verá tudo o que dentro d'elle se pássa.
Damos-lhe mesmo um movimento de balanço,
para que elle mostre os seus
quatro lados. Volto

para o meu
logar. Sabeis que eu
represento Lis-
boa, vós sois Porto
cofre, que se balanceia,
o e o

é a vossa caixa
depositus, na de
qual tenho a dei-
tar quatro mil réis; pego na pilha das meias co-

roas (um alçapão a encobre sobre a mão do magi-


co) e digo: ahi os ponho no cofre. O barulho que
acabam de fazer as moedas quando ahi entram, faz
ver que ellas attingiram o seu destino.
Emtim abrimos o cofre, tiramol-as e entregamol-
-as. Pois
que sobre todas cada um reconhece a

marca
que ahi havia feito, não temos mais do que
-aconselhar-vos de empregar este meio, se
quereis
fazer viajar o dinheiro promptamente, à vista de
todos e ao abrigo dos ladrões de estrada.
Dissemos o que se deixa ver aos espectadores,
«digamos agora o que se lhes occulta.
As duas argolas dotecto, ás quaes se
suspende
o cofre, teem um canal facilmente dissimulado, e

que seguindo o tecto, depois uma das paredes, chega


-até ao
logar occulto, onde se acha um ajudante.
Este canudo encerra um fio de cobre, que logo que
se
põe em contacto pilha electrica,
com a faz ope-
rar uma
pequena mola, da qual as sobreditas argo-
las estão fornecidas. A mola impelle uma outra,
dos cordões
«ollocada sobre os
ganchos superiores
132 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

de suspensão, pelos quaes passa um novo fio, cujo-


movimento fa trabalhar as molas collocadas nos

ganchos inferiores.
Estes representam então, com as
argolas do co-

fre, o papel que as argolas do tecto


mesmo com os

ganchos superiores. Estes ultimos fazem levantar


e abaixar rapidamente uma taboinha interior. for-
mando com uma
segunda taboinha exterior um dos-
lados do cofre, cuja parte de cima e de baixo é de

crystal. No meio d'estas duas taboinhas encontra-se

um vacuo, onde o
ajudante colloca as moedas mar-

cadas antes de trazer o cofre, e d'onde ellas se sa-

fam no momento em
que dizeis: Aqui lhe metto as

moedas.

A salva do prestidigitador

ais-um apparelho lhe será muito


que util para
fazer experiencias de differente natureza. E uma

salva, no meio da

qual ha uma cavidade


circular do tamanho
e capacidade d'uma
moeda de cinco tos-

tões. Faz depositar


ahi uma moeda mar-

cada, ou qualquer outro objecto que se ha de em-

palmar, acha se collocado sobre uma corrediça que


basta fazer o objecto seja subs-
escorregar para que
tituido por outro, posto d'ante-mão na corrediça.
Para isso basta puchar um
gancho, que o dedo fa-
cilmente acha debaixo da salva, pela e abertura
feita na extremidade do canal interior; uma simples-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 133

inclinação faz com que se apodere do


objecto que
parece ter ficado no
logar onde o
espectador o tinha

posto.
Cabeça endiabrada.
» corre e dança em um copo, e responde
a diferentes perguntas

Para persuadir os
espectadores de que esta ca-

beça não está pegada, nem tem communicação com

outro qualquer objecto, devem-se metter no fundo


do copo algumas moedas e estando tudo coberto,
o
magico convence o
publico que a cabeça que está
no copo é de oiro massiço, a qual dança e responde
por numeros, e
negativamente ou affirmativamente
segundo a
pergunta que se lhe faz; e no mesmo
tempo um certo numero de anneis, que estão em

outro copo a
pouca distancia, como se fosse por
sympathia, executa o mesmo movimento. Em lo-

gar da cabeça que se mostra ao publico o magico


pega em outra que está em cima da mesma mesa

em
que se faz a operação. Esta ultima cabeça está
fio ter da
“chegada a um
que vac ao tecto casa, e

volta is mãos do confidente, e para que não expe-


rimente nenhuma opposição quando a correr o

mesmo a puxa, o que poderia succeder, se o fio


tocasse no vidro guando passa pelo buraco que se

fez no
copo, deverá aquelle que executa a sorte fa-
zer
passar O fio por um
pequeno canudo bem po-
lido para escorregar com mais facilidade.
N. B. As moedas que se mettem no fundo do
copo debaixo do pretexto de impedir a communi-

«cação da cabeça com


algum machinismo, que se
134 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

poderia suspeitar ter-se praticado na mesa, não são-


inuteis, e servem com o seu pezo para impedir o.

copo de levantar-se quando se


puxa o fio.

As rosas enfeiticadas

Procura-se uma grande quantidade de rosas en-

carnadas que estejam abertas ; lança-se fogo a uma

porção de enxofre, e vae-se expondo as rosas uma

a uma ao fumo d'esta combustão


: passados alguns
instantes, ellas se tornarão brancas.

Apenas estas rosas tenham assim perdido a sua

côr natural, mergulha-se egualmente cada uma por


sua vez em
agua pura fria ; depois arranja-se com

ellas diversos ramalhetes, e collocam-se estes em

jarras cheiasd'agua, ficando unicamente os


pés das.
rosas
mergulhados n'este liquido.
Estes preparativos
de
devem
divertimento
ser feitos
quatro ho-
ras antes se pôr o em pratica.
Quando chegar a occasião de servir-se d'estas flo-
res, o
magico irá buscar acima da sua mesa os di-
versos ramalhetes juntamente com as
jarras, e mos-
trando-as espectadores,
aos dirá: Estas rosas —

brancas fiz eu desapparecer da alcova de uma noiva,


e sem duvida, o noivo, que é homem zeloso em ex-

virá n'este
tremo, procural-as aposento,porque sabe
que d'ali só poderiam ser roubadas por arte ma-

gica; porém eu quero divertir-me á sua custa,
enfeitiçarei os ramalhetes de tal modo, que elle pe-
gará n'elles sem os conhecer. Collocará os ra- —

malhetes, ainda dentro das jarras, em uma mesa á

parte, e continuará a divertir os


espectadores com

outras sortes.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 135

Apenas haja decorrido uma hora, as rozas ter-

se-hão tornado encarnadas porque os saes


proprios
da agua em
que estão mergulhados os
pés terão
neutralisado o acido sulfuroso, que as tinha feito
parecer brancas.
Então magico, vendo
o que esta transformaçã
está completa, dará algum signal para que entre

precipitadamente algum esturdio com cara assim de

ciumento, o qual fazendo grande algazarra, exigirá


do magico as rosas brancas desapparecidas da al-
cova da sua
noiva, as quaes só d'ali poderiam de-
sapparecer por arte magica.
O magico, fingindo-se admirado, certificará que
nenhuma noticia tem de taes rosas brancas, mas

que, comtudo, mostrar-lhe


vae as unicas flores que
possue

isto dizendo, indica os ramalhetes que es-

tão sobre a mesa. O noivo, examinando a sala e

as flores, dirá que não são aquellas as rosas que


procura, e
desculpando-se humildemente sairá da

presença dos espectadores, os


quaes tendo estado
distrahidos todo o
tempo pelo magico, só com a

entrada do noivo terão notado que as rosas bran-


cas foram transformadas em rosas encarnadas.
O magico, tomando os ramalhetes, distribuil-os-
ha pelos espectadores, dizendo que

á custa de
um esturdio cioso é que se
póde fazer presentes
de rosas enfeitiçadas.
O dado viajante

Apesar de ser oito ou dez vezes maior que um

dado faco atravez da


regular, aposto que o passar
mesa ou dentro de um chapeu? Para isto basta co-
136 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

brir o dado com o estojo e... o leitor sorri-se...


Já vejo que as minhas explicações o tem tornado

quasi magico, e
por isso não se deixa enganar fa-
cilmente.
O leitor advinhou que deixei cair no chapeu o

dado que eu di-


zia deitar invi-
sivelmente, e

que fiquei com

um outro dado
ôco que conti-
nha emssi o
pri-
meiro, e
que fi-

nalmente, aper-
tando-os entre

dizendo
os dedos, retive n elle o dado, e mostrando
a todos desappareceu,e vae
que que reapparecer no
chapeu. Veremos, porém, na experiencia seguinte
quem será mais feliz, se o leitor a adivinhar on eu

a
enganal-o.
As sementes electrisadas

Kis aqui o vaso que nos servirá para mostrar

com
que rapidez se
póde, em todas as estações, fa-
zer com
que nasçam as flores mais variadas e
agr a-

daveis. Está como veem cheio de terra até acima;


sobre esta terra deito um
punhado de sementes,
acabo de minha
que electrisar com a vara; vamos

pedir-lhe um ramalhete de flores ao acaso «rosas,

amores-penfeitos, margaridas, campainhas.» A es-

colha está feita.


E” necessario concentrar algum calor no
campo
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
137

que acabamos de tornar fecundo. Para este fim,


cubramos o vaso por um momento... As semen-

tes electrisadas devem ter operado maravilhas...


Levantemos, pois, a
tampa. Não me tinha enga-
nado. Eis ahi todas flores pedidas mais.
as e
algumas
Que vejo brilhar n'esta rosa ?... Na verdade é
o annel que me tinha emprestado, e que tão cuida-
dosamente se fechou á chave... Juntei-o, sem re-

parar, com as sementes electricas. Apressemo-nos


em
entregar a
joia que nos tinha sido confiada para
evitar alguma outra distracção.
Examinemos o vaso de folha de Flandres pin-
tada: o leitor verá, que levantando a
tampa, levei
juntamente um bocado de terreno coberto de uma

camada deter-
ra
(a que eu

semeei) qual
a

entra
—justa-
mente na tam-

pa. Verá ainda


que o meu jar-
dim improvi-
sado está es-

tendido n'um AS

segundo terreno, onde, espalhando a


pouca terra

queo tapa se descobrem pequenas hastes ôcas, das

quaes anteriormente plantei as flores que fingi es-

colher ao acaso, mas


que eram as
que mais me

convinham. Finalmente, ha uma mola que eleva o

terreno á superficie do vaso quando as flores de-


vem
apparecer.
138 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

O cofre encantado

Eis aqui um cofresinho que tem a


vantagem de
se fechar á chave... Tenhaa bondade de me em-

prestar um annel... Dê-se v. ex.? ao incommodo


de o depositar no cofre. .. Feche-o agora e guarde
a chave. Devem concordar que desajudado da fei-

tiçaria, ser-me-hia impossivel fazer passar para o

meu poder o annel que ha


pouco estava fechado
n'esta caixa. Ajudado, porém, da magia tudo é fa-
cilimo, e para prova vou ainda augmentar a diffi-
culdade da experiencia. Este outro cofre tem a
par-
ticularidade de se fechar com duas voltas. Dê-se
ainda ao incommodo de encerrar outro cofre n'este

e de dar por precaução as duas voltas á chave...


Conserve os em seu poder, d'aqui mesmo
de longe
eu posso tirar o annel. Tenha a bondade de agitar
os cofres para se convencer que o annel ainda lá
elle
está. Bem,
varinha
ouviu o barulho
tenho
que fez.
ordeno
Pois bem,
annel
com esta
que na mão, ao

que passe para o meu


poder, porque o cofre está

encantado, e foram por consequencia inuteis todas


as precauções que v. ex.* tomou.

Para comprovar o que acabo de dizer, peço-lhe,


minha senhora, que se dê ao incommodo de abrir
os
cofres,visto que tem as chaves em seu
poder...
O amnel que v. ex.º tão cautelosamente guardou,
desappareceu sem saber como.

D'aqui a
pouco apparecerá; antes d'isso, porém,
cumpre-nos orientar a leitora no
segredo. N'um dos
cantos do cofre, onde se metteu o annel, ha uma es-

pecie de porta completamente invisivel, e se


que
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 1ºts o]

abre e fecha com uma


ligeireza admiravel, por mcio
de uma mola onde se toca com o dedo. É por ahi

que o prestidigitador tira o annel antes de metter o

primeiro cofre
no
segundo.Es-
tá explicado tu-

do. Em quanto
ao barulho que
se ouve
quando
se
agitam os

cofres, é devido
ao movimento de um pedaço de cobre, que sae da

tampa do cofre
maior, todas as vezes que se fe-
cha e
desapparece quando seabre.
Esta especie de lingueta bate n'um escudo d'ar-
mas, que guarnece a
tampa do cofre pelo lado de

dentro, e assemelha-se ao barulho que faria o annel

depositado no outro cofre

Os legumes intel
gentes a

Vou mostrar-lhe as caixas que acabam de me

trazer.

Uma está cheia de café em


grão, outra de arroz

café
e a ultima de ervilhas seccas
: colloquemos o

á direita, o arroz á esquerda e as ervilhas no centro.

Em cada uma das caixas metto esta agulha de meia ;


visto que entra até ao fundo, certo é que as caixas

estão cheias do que se vê. Cubramol-as com as

tampas, e
por meio da nossa varinha, ordenamos ao

café que passe para a direita e ao arroz que venha

para esquerda.
a

Vejamos se fômos obedecidos. Completamente !


140 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

o café tomou o
logar do arroz; e este d'aquelle.
Cubramos outra vez as caixas e ordenemos-lhes
que tomem o seu
logar.
Vejamos... Eil-os nos seus
respectivos aposen-
tos |
E verdade, leitor, em troca do que me
empres-
tou, offerecemos-lhe o contheudo da nossa caixinha
do meio a que está cheia de ervilhas. Eu não
acho outro meio de me desempenhar para com o

leitor, porque as ervilhas que estavam dentro da


caixa,acabam de ser

substituidas peloseu
relogio, que está tão
brilhante como se

saisse do relojoeiro.
Vamos á explicação.
Cinco ou seis ve- eee

zes mais altas que largas, as caixas fecham-se com

a
tampa que entra até á quarta parte.
As caixas são compostas de dois
repartimentos.
O a sufficiente
primeiro tem profundidade para con-

ter uma camada bastante espessa de grãos de café


ou de arroz, etc. O fundo é uma grade de arame,
que deixa que a
agulha atravesse a caixa em todo
o seu
comprimento, mas atravez da qual os
grãos
não podem passar. Finalmente, vem o corpo mes-

d'esta caixa
mo no
segundo rapartimento ; no pri-
meiro deite-se café, e no
segundo arroz, fazendo o

contrario no outro. Ora como basta uma


simples
pressão para levar oalto da caixa dentro da tampa,
pode-se mostrar na mesma caixa café, arroz, ervi-
lhas ou outro qualquer objecto.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 141

O lenço marcado, cortado, rasgado


e concertado

Pede-se a dois
espectadores dos
que queiram
chegar-se pé do ao magico, entrega-se um lenço, o
qual segurarão pelas quatro pontas, em
seguida pe-
dem-se differentes lenços, e
depois de recebidos
mettem-se todos no
primeiro em fórma de embru-
lho: depois de se ter junto uma porção d'elles, o

magico pede a uma terceira pessoa que tire um

d'estes lenços ao acaso e


depois de o tirar, pede
que examine as marcas e
que com uma thesoura
corte a
ponta do lenço, pedindo aos mais especta-
dores que cortem outras differentes partes a seu ar-

bitrio, ficando depois d'esta operação lenço feito o

em pedaços. Juntam-se todos estes pedaços, e de-

pois de borrifados com


alguma droga embrulham-
se e atam-se com uma fita para os reduzir a um

pequeno volume, mettem-se debaixo de um vidro

que se aquece esfregando-o com a mão. Depois de

passados alguns minutos, tira-se o lenço debaixo do


vidro e desembrulha-se. ae

Reconhecem os
espectadorgs o lenço inteiro con-

forme estava antes de se ter cortado. A operação


que produz um tão geral engano e illusão, é muito

simples. Uma das pessoas presentes deve- estar

combinada magico, com o tendo este dois lenços


perfeitamente semelhantes, dá um d'elles ao con-

fidente da
do magico, que
está escondido fazer
chão
atraz sce-

elle
na, eatira como outro ao
para se n
.

a sorte,

O magico deve ter o cuidado de pôr este lenço


142 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

ao de cima do embrulho, mostrando que se embru


tire
lha ao acaso.
A pessoa, a
quem se
pede que o

lenço que lhe parecer, pega naturalmente no


que
se acha na
parte superior, e
observando-se que se

tira outro lenço, pede-se então que se tornem are-

volver bem os lenços, com o


pretexto de executar

melhor a sorte e fingindo que se tornam a embru-


lhar, procura-se restabelecer a
posição em
que deve
ficar o lenço, sobre o
qual se deve fazer a sorte,
e
entregando-se o embrulho a outra pessoa pre-
sente, cuja apparencia mostre ser menos suspeitosa
e menos
penetrante, esta pela sua sinceridade ti-

rará o
primeiro lenço. A parte da mesa sobre que.
se põe o vidro, debaixo do qual fica o lenço, é um
alçapão que abrindo se, deixa cair o lenço em uma
gaveta ; o confidente escondido atraz da scena,in-
da
troduz a mão por
do
mesa
baixo e substitue
fecha-se
o se-

gundo lenço no
logar primeiro ; o
alça-
pão que deve unir perfeitamente as
suasjuntaspara
poder enganar a vista do mais perspicaz e incre-
dulo espectador.
O relogio no almofariz

E o :

O leitor ha de emprestar-me o seu


relogio para
deitar dentro d'este almofariz; o leitor mesmo e

que o ha de deitar... bem ! Examine agora a mão


do almofariz, e
diga-me se a acha solida 2... Bas-
tante solida e muito pesada, diz-me o leitor...
bello! Não admire que-eu esteja pizando o seu re-

logio no meu almofariz, porque com os


fragmentos
que tiro do gral,e que lhe mostro, fique certo que
lhe hei de arranjar um novo. Permitta-me que reco-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 143

lha todos os bocadinhos e


que pense na maneira
de o fabricar.

Empregaremos este tempo em lhe dizer que o

fundo do nosso almofariz é de madeira movel,


e e

tem uma mola á semelhança de um balouço, que


baixando um dos extremos, faz levantar o outro.

Foi-nos por consequencia facil, aproveitando esta

fazer cair mão


mola, na nossa
o relogio e collocal-o
na mesa
pequena, onde
o nosso creado o tinha
vindo buscar antes de
fingir despejal-a.
A propria mão do
almofariz já não é a

mesma
que lhe demos

para ver. Trocamol-a


por outra cuja extremi-
dade é ôdca, e fórma
uma caixa que tem a
tampassegura por baixo.
Esta caixa contém
fragmentos relogio, que de
caem no almofariz
quando se desprega a
tampa, e

se
finge pisar o relogio emprestado; quando se

carrega na mão do gral, a extremidade d'ella fica


encaixada no fundo do almofariz, que é feito de

proposito para isso; faz-se tudo isto naturalmente,


ec a
tampa fica solidamente agarrada.
A caixa magica

“Trataremos n'este capitulo de mostrar ao leitor


a caixa magica. a

Esta caixa vazia, é de tamanho conforme ao

objecto que se
quer esconder e contém duas ga-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
La

vetas; isto é, uma


gaveta ordinaria, na
qual se in-
troduz uma ou-

tra. A frente
da gaveta,onde 15

está collocado
1
TES,
é
º
igual eia em am- Vo
o

bas, mas falta


o lado opposto a uma d'ellas, para que a outra

possa sair quasi toda fóra. Na parte inferior da cai-

xa, no sitio opposto á gaveta, ha um botão onde,


carregando-se, fica segura dentro a
gaveta ordina-
ria emquanto se Imagine-se,
puxa pois, um
a outra.

objecto contido
primeira gaveta. na
Quando se abre
carrega-se no sitio já descripto, para não apparecer
a
primeira, mas sim a
segunda, e cômo não foi
n'ella que se deitou o objecto, apparece completa-
mente vazia, sem se saber onde estará o objecto
deposto, sendo a ilusão pasmosa.

A caixa das apparições e


desapparições

Apontar e descrever esta caixa, é dar a chave


d'um sem numero de experiencias que se podem
imaginar.
Compõe-se de tres
repartimentos, collocados so-

bre o mesmo
plano, ao lado uns dos outros, abrin-
do-se cada um d'elles por cima. D'estes tres repar-
dois direita
timentos, os
primeiros, a contar
da para
a esquerda, ou d'esta para aquella, são moveis, as-
sentam sobre nma
corrediça que faz girar à vontade
um mantenedor, collocado debaixo da caixa.
Sup
MANUAL DO PR TIDIGITADOR 14>

ponhamos que o leitor tinha ahi posto um


passaro
i

xa nada continha.
“Vomando a

direita por pon-


to de partida,
e
é
ÉCaes
devia
cado
no
o

ultimo
ter collo-

passaro
dos
dois repartimen-
tos contiguos e

moveis á direita. Antes de levantar a tampa d'este


repartimento, fará rolar a corrediça, que levará o

dito repartimento para o mcio, e deixará vazio o

que depois mostra. E assim para as mais.

Nascimentos de fructos, flores e


passaros, appa-
rições de objectos empalmados, são os menores

serviços que póde prestar esta preciosa caixa.

O pennacho magico

O rolo que tenho nu mão é o


estojo onde está

guardado o
pennacho, apesar de estar pouco aper-
tado. Aproveito a occasião que se apresenta para
o mostrar.

Eil.o! éum
verdadeiro
E
pennacho de

granadeiro, e

o estojo é um

pouco peque-
no
para elle...
Entra a custo, e o estojo amarrota-o por força...
Desastrado !-deixei cair o estojo no chão... Antes
Io
146 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

que m'o apanhem, vou


pôl-o no seu
logar... Mas
d'onde vem este cheiro a dôces?... Parece que
vem do
estojo. .. Abramol-o depressa...
Que vejo! Bolos e
brinquedos de toda a casta

saem do estojo ? E o
pennacho O pennacho
desappareceu; sem duvida está no conserveiro,
d'onde nos mandou esta lembrança.
Ora estojo
o é dividido em dois repartimentos por
uma
separação diagonal; de um lado está o
pen-
nacho e do outro os* bolos. Deixei-o cair para, ao

levantal-o, o agarrar pelo lado contrarioáquelle em

que estava pegando.


O sacco dos ovos

Esta sorte é uma das mais simples e das mais


faceis ; consiste em fazer achar ovos em um sacco

onde, ha um instante, não havia nada. Para provar


que não tem nada e
que nada se lhe metre, volta-
se e torna-se a voltar varias vezes, pondo o sacco

de dentro para fóra-e vice-versa. Nada ha tão com-

modo como um sacco assim, diz o escamoteador,


principalmente quando viajar: anda
chega-se se a

a uma
estalagem onde não ha nada que comer,pe-
de-se á gallinha invisivel para pôr duas ou tres du-
zias de ovos e pouco depois come-se omeletta, ovos

fritos, ou cozidos, ovos mexidos, como o nariz de


minha mulher, que tambem mexe ; a
proposito de
minha mulher, dir-lhes-hei que é tão levada da breca
e tem um
genio tão irascivel que me vi obrigado a

partir-lhe bracos para os não levantar as mãos. É


tão prodiga, que é necessario torçal-a a deitar-se
com as
gallinhas, para não esbanjar o milho todo.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 147

Sempre fui muito tolo quando cahi na


esparrella.
De com a
lingua dar —

mau grado os precedentes —


O nó que desfazer hão po:so com os (dentes!
Mas, durante a
palestra a
gallinha poz.
“Tira-se então um ovo do sacco ; e voltando-o de
“dentro para fóra, mostra-se que não tem mais nada;
continua-se
em seguida :
N'outro dia fui convidado por um
capitalista a

beber uma
garrafa de vinho tinto que era verde,
(sempre é mekbhor beber vinho verde que não be-
bel-o de nenhuma côr), comemos juntos dois fran-

gos, mas eram tão magros que até se


podiam co-

mer na quaresma; servimo-nos de mostarda, e era

tão forte, que subiu ao nariz de toda a gente... ah!


ah! a
gallinha tornou a
pôr.
“Tira-se outro ovo do sacco e mostra-se que não
contém mais nada.

Depois continua-se no mesmo tom até que se te-

nha feito apparecer cinco a seis ovos.

A arte consiste em ter um sácco duplo composto


de dois saccos cozidos juntos pelas extremidades,
por este mcio volta-se sem fazer apparecer os ovos

dois de
occultos entre os
compartimentos panno ;
fazem-se apparecer á vontade, tirando-os por uma

abertura feita para esse fim. Os ovos devem estar


vazios para não nos expôrmos a
partil-os, e
para
que sendo mais leves, possam conservar-se no fundo
do sacco sem o tornar mais tenso.

Como seria?

Estimavel leitor, vou pedir-lhe uma moeda de


cinco tostões emprestada e deito-a n'este estojo...
148 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

é melhor o leitor pegar m'elle e deitar o dinheiro

pela sua mão. Bem vê que o estojo não contem

coisa alguma, que e os cinco tostões cairam no fundo.


Feche o estojo. Agora tenha a bondade de o abrir
para... Que é isto? que lindo canario saiu do es-

tojo onde o leitor deitou os cinco tostões!... Ejá


lá não estão !... Eu não tenho responsabilidade
-alguma, pois que o leitor teve o estojo sempre na

sua mão. Attendendo, porém, a que o leitor é

magico, tome a minha varinha e ordene-lhe o ap-


parecimento do seu dinheiro. Eu seguro-lhe por
uma extremidade, e o leitor ordene-lhe. .. as suas

ordens estão cumpridas. aqui tem os cinco tostões,


que cairam pela extremidade da varinha em
que eu”

agarrava.
Outro qualquer pediriaa varinha para examinar;
o leitor, porêm, prefere que lhe mostre o
estojo ;
de boa vontade!
A tampa e

o
estojo pro-
priamente di-
to, são pouco
mais ou menos

do mesmo ta-

manho, cepara
fechar a caixa

entram exacta-

mente um no

outro. Contém um terceiro estojo, o


qual á maneira
que se
aperta ou não a
tampa, vae com ella, ou en-

tão fica por assim dizer, forrada com este estojo; é


n'este ultimo repartimento que se meteu um canario.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 140

Para fazer depositar os cinco tostões no estojo, tira-


sea
tampa, contendo ao mesmo
tempo a
parte onde
o
passaro está. O leitor julga então ver uma caixa
vasia, por baixo da qual ponho a mão, porque este

repartimento tem um fundo movel pouco unido, e

que o
peso do dinheiro faz abrir, e a moeda cae na

minha mão. E então que torno a fechar o estojo, e

peço ao leitor que o abra elle mesmo. Ora como

o abre naturalmente, não tira senão a tampa, e

deixa por consequencia livre o outro repartimento


e o
passaro quen'elle está. O canario aproveita-se
então da liberdade e sae. Quando se trata de achar
o dinheiro, o leitor pega n'uma extremidade da va-

rinha, e eu n'outra com a mão onde tenho os


pego
cinco tostões, que em
geral o dono torna a ver com

satisfação e prazer !
A mão milagrosa

Só temos mostrado ao leitor o interior das nos-

caixas occasião de lhe confiarmos


sas magicas, na

Ms
=

D'esta vez não acontecerá assim.


os
segredos.
Vamos desarmar esta que é feita de proposito.
150 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

é uma
simples caixa que póde voltar
se de todos.
os lados, e o mesmo fazer, querendo, ao nosso co-

fre... como nada lhe pareceu suspeito, vamos re-

compor a
gaveta á sua vista. Agora metti-a na cai-
xa... não a feche porora... Deixo-lhe a caixa em

seu
poder, na
qual não toco mais.

Quantas vezes, caro leitor, ao


beijar a mão de
uma linda joven, terá perguntado a si mesmo por-
que é que esta mão tem um
perfume tão delicado,
e terá respondido que está cheia das rosas invisi-
veis da mocidade ?
Immensas, não é assim? Pois,
ainda mais vamos convencel-o d'essa verdade. Te-

nha a bondade de fechar a


gaveta da nossalcaixa
de senhora lhe
maravilhosa, e
pedir a uma que passe
a mão por cima... Fez-se o
milagre... Abra agora
a gaveta: bem a vê cheia de rosas de diversas co-

res e com differentes cheiros... A mais leve expli-


cação seria um crime de lesa-galante O leitor,
se
quizer, póde suppor depois de reflectir, que a

elegante fórma que tem a


parte superior da caixa

é favoravel para occultar um certo


espaço tapado
com uma taboa, cuja superficie igual é á do fundo,
e que não seria completamente impossivel metter-se
n'esse espaço grande quantidade de.
rosas, sobre-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 151

tudo se as calcassem um pouco. Póde levar mais


longe imaginação,
a e
suppor que a
gaveta quando
se fecha, desarranja uma das varinhas que susten-

tam a taboa, que cae no fundo do cofre, onde se

espalham as flores. Nós, porém, não tomamos a

responsabilidade de semelhantes supposições, por-


que preferimos acreditar que a mão de uma senhora
póde fazer o
milagre sem recurso
magico.
O escamoteio de uma dama

Colloque-se uma cadeira sobre um jornal, a meio

do palco de um theatro. Depois convide-se uma se-

nhora, nossa collaboradora n'estas manhas de illudir


o
publico, a sentar-se e sobre ella lançe-se um véo
que nitidamente lhe desenhe as fórmas. Isto feito,

1
Fig.

ás palavras sacramentaes de, «um, dois, tres!» a

senhora e o véo desapparecem.


Expliquemos a sorte.

O jornal que se apresenta aos


espectadores pos-
152 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

sue um alçapão dissimulado pelos caracteres de im-


O palco em que se
prensa. opera, possue, tambem,
outro alçapão. Estes dois alçapões devem ter di.
mensões rigorosamenteeguaes.
A cadeira dama convidada
na
quala vae sentar-se

Fig. 2

é uma cadeira não tem frente de


que na travessas
madeira. Compõe-se de um assento movel se
que
baixa para deixar dama dois
passar entre os a
pés
da frente. Possue além d'isso um
pequeno appare-
lho de fio de arame, cujo insignificante diametro o
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 153

torna invisivel aos espectadores. Quando a


expe-
riencia começa, este apparelho dissimula-se com as

costas da cadeira. (Fig. 1).


Logo que a dama se senta, pucha o pequeno ap-
parelho de arame, que immediatamente vem cobrir-
lhe a cabeça e os hombros. Para dissimular esta

operação, o
prestidigitador conserva, estendido em

frente da senhora, o véo que apresenta aos


espe-
ctadores.
Isto
- feito,
o operador
colloca o

mesmo véo
sobre a da-
ma, e
quan-
do esta ulti-
ma tiver des-

apparecido,
os especta-
dores terão a

illusão de
a vcem
que
aindano pal-
aos
co,graças
fios de arame

que lhe de-


senham a ca-

Fig. 3
beça e os

hombros.

Logo que o véo se acha convenientemente col-


locado, dá-se um signal qualquer convencionado.
E então que os alçapões do jornal e do palco se
154 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

abrem ao mesmo tempo. A dama baixa o assento


da cadeira, escorrega pelos pés da frente e desap-

parece em
seguida pelos alçapões.
Immediatamente, um ajudante do operador,pelo
alçapão aberto no palco, colla no jornal o pedaço
do papel cortado, de maneira a dissimular os mais
pequenos vestígios de qualquer rasgão, e fecha logo
o
alçapão. A cadeira, livre do peso, volta á posição
véo
natural. O operador escamoteia
o graças aum
e faz
delgado fio que passa pela manga do casaco,
cahir da cadeira
novamente para as costas
o appa-
relho de fio de arame.

“Tira em
seguida a cadeira, pega no jornal e faz
ver ao
publico que está intacto.
N'esta sorte, o mais difficil é tornar aos olhos dos

espectadores perfeitamente intacto o


alçapão aber-
to no jornal, mas com a pratica e extremo cuida-
do e pericia d'um ajudante habil tudo se consegue.

O retrato do diabo

Pinta-se com tinta de côres


papel do ta- em um

manho de dois
palmos quadrados, grande e uma

feia cabeça deixando em branco os


logares dos olhos,
da bocca, do nariz e das orelhas. Pinta-se depois
com tinta sympathica purpurina os olhos, a bocca
e as orelhas nos
logares da cabeça que se havia
deixado em branco. Com tinta sympathica amarella
o nariz. Apenas estas tintas estejam seccas, a ca-

beça parecerá não ter olhos, becca, orelhas, cha-


velhos, dentes e nariz.

Querendo servir-se d'este retrato, o


magico irá
buscar á sala visinha, onde terá o cuidado de ter
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR . 125

um cavallete de pintor guarnecido com


chapa
uma

de ferro maior do que o papel do retrato, cuja chapa


deve estar com o maior grau de calor possivel (mas
não em braza). Este cavallete será collocado no

meio da sala em frente dos espectadores. O ma-

fim
gico entregará o retrato ás pessoas presentes, a
de examinarem,
o e dirá que tem dado principio
áquella cabeça, porém que não a tendo podido aca-
bar por falta de tempo, vae agora acabal-a á vista
circumstantes.
dos Depois irá collocar o
papel so-

bre a
chapa, ficando assim o verso d'este unido á

chapa, e a frente virada para os espectadores. O


magico irá postar-se entre as
pessoas presentes, e

com uma palheta e pinceis fingirá que está assim


de longe acabando o retrato. O calor da chapa re-

viverá pouco a
pouco as côres dos olhos, da
bocca,
das orelhas, dos chavelhos, dos dentes e do
nariz,
apparecendo estão o retrato do Diabo. Emquanto
á
a chapa tiver calor sufficiente, o retrato estará

vista, porém logo que esfriar, desapparecerão as

côres sympathicas.
Os peixes d'ouro

Apresenta-se um
grande lenço aos espectadores.
Faz-se ver
que não soffreu nenhuma preparação,
que é um lenço vulgar. Põe-se sobre o braço es-
querdo, mette-se a mão baixo e tira-se uma taça
por
de crystal cheia de agua e de peixes.
Retoma-se o lenço que se
põe sobre o braço di-
reito. Mette-se de novo a mão por baixo e tira-se
uma
segunda taça egualmente cheia.

Pega-se ainda no lenço e faz-se sair de debaixo


156 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

sucessivamente oito taças que se collocam á propor-

cão que vão apparecendo em cima de cada mesinha.


Toma-se emfim a ultima taça apparecida; collo-
ca-se debaixo do lenço que se tem posto sobre o

braço esquerdo, sacode se o lenço: a taça foi es-

camoteada.
Explicação e preparação da sorte —

Arranjam-se
dez taças de crystal, das guaes só duas são obje-
cto de preparações espe-
ciaes. A primeira d'estas

taças é coberta com um

tendo
panno de
caoutchouc,
é destinada
a fórma d'um gorro.
é
A outra — que
d'uma
a

maneira
a
desapparecer —

construida par-
ticular, a
parte de cima d'essa tampa é um circulo de

crystal! um
pouco abobadado, formando tampa e

fazendo parte da mesmataça. Por baixo d'essa taça


encontra-se um buraco pelo qual! se introduz a
agua
e os peixes e que se tapa com uma rolha de cor-

tiça. Colloca-se a taça coberta de caoutchouc entre

o collete, sobre o
peito do lado direito e a coberta
de crystal, do lado esquerdo.
As outras oito estão escondidas cada uma em

sua mesinha; a
parte de cima de cada uma das
mesas compõe-se de duas rodas de madeira sobre-
postas, deixando entre ellas o
espaço necessario
para conter um bocal. A franja que cae em volta
da mesa, occulta esta espessura, havendo o cuidado
de deixar um
espaço onde não ha franja —

espaço
sufficiente para metter e tirar as taças á vontade
na mesa que representará assim o
papel d'uma ga-
veta constantemente aberta.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 157

Empregam-se egualmente dois lenços. Um sem


preparação, o
segundo composto de dois lenços
cozidos juntos, bainhas com bainhas, e no interior
do qual se terá mettido uma roda de cartão da
mesma dimensão que a parte superior das taças.
Para fazer apparecer os dois primeiros bocaes,
basta lançar pela primeira vez o lenço que não está
preparado sobre o braço esquerdo, metter a mão
-direita debaixo do lenço, tomar o bocal que sc en-
contra no interior do collete. Este primeiro bocal
será o que está coberto de crystal. É esse tambem

que se escamoteia no fim da experiencia.


Colloca-se de novo o lenço sobre o braço direito,
depois mettendo a mão 'esquerda por debaixo, ti-
ra-se a outra taça que se encontra no interior do
collete. Mas antes de a mostrar tem-se o cuidado
de agarrar ao mesmo tempo que o lenço o panno
de caoutchouc que cobre a taça e que ficará dissi-
mulado no interior do

lenço.
Pega-se então no

segundo lenço (o que

Pe
contem a roda de car-

tão) e continua-se a ex-

periencia. Pôc-se como

da primeira vez, sobre [1


o braço esquerdo e,
passando a mão direita
por baixo, ergue-se a

roda de cartão, deixando cair o lenço em volta, o


que
dará a illusão completa d'um outro bocal coberto
com um lenço.
158 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Faz-se o simulacro de deixar o fingido bocal em

cima de uma das mesas.

Basta então passar a mão por debaixo do lenço,


tomar o bocal que está no interior da mesa
pol-o
e

debaixo do cartão que está no interior do lenço.


Executra-se sete vezes a mesma operação para
fazer apparecer os outros sete bocaes.
Quanto ao escamoteio do ultimo bocal, eis como

se
pratica: colloca-se sobre a mão esquerda o bo-
cal coberto de crystal e
tapa-se com o lenço que
contem a roda de cartão. depois Mette-se a mão
direita debaixo do
lenço e segura-se o bocal com

esta mão. Em seguida mette-se a mão esquerda sob


do bocal.
as pregas lenço entre o cartão e o A mão
direita poderá então manobrar á vontade para met-

ter o bocal no collete.


Sacode-se o lenço: o bocal desappareceu.
Um jardim e um arsenal dentro
de um chapeu

Nunca vos aconteceu emprestardes o vosso cha-

peu a um magico, que d'elle faz sair toda a


quali-
dade de objectos ? Talvez vos admireis de ver
que,
até agora, tinheis sem ter que duvidar, trazido so-

bre a
cabeça uma
cornucopia.
Prometteis uma sessão de magia aos vossos ami-
gos, rogaes aos mais incredulos da sociedade de vos

emprestarem o chapeu, sob o


pretexto, supponho
eu, de atravessar de parte a parte o feltro com a

vo: varinha, e sem ahi fazer o mais pequeno bu-


raco,

Pegaes muito naturalmente no


chapeu que pas-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 159

saes para detraz da mesa, d'onde fazeis frente aos

espectadores.
Tendes então o cuidado de segurar o chapeu (um
momento, com as duas mãos, se
julgardes que assim
é preciso) de maneira que as abas não estejam nem
mais altas, nem mais baixas do que superficie da a

mesa, mas sufficientemente atraz d'esta.


Sobre a mesinha se acha collocada com antece-

dencia uma-bala de folha de Flandres, ôca, cheia


de pequenos ramalhetes, e atravessada por um bu-
raco.
Sempre dizendo algumas palavras a
respeito
do estratagema que tomasteis por pretexto para o

emprestimo do chapeu, passaes um dedo pelo bu-


raco da bala, a
qual fazeis entrar dentro do chapeu :

depois no momento em
que fingis querer, com a

varinha, trespassal-o, affectaes admirar-vos de en-

examinaes
contrardes uma
resistencia inesperada, e

o
chapeu para conhecerdes a causa ; no mesmo ins-

tante, podeis gritar que seria para lamentar destruir


o bello jardim que o dono do chapeu parece estar

habituado a trazer da cabeça, e em seguida distri-


buís, no meio de gargalhadas, os ramalhetes que
traes um a um da bala.

Quando se acabam e que todos julgam mais do

que nunca, que o chapeu está vasio, fazeis sair de


dentro, não sem cansar uma
admiração geral, a so-
bredita bala, encarregareisque o vosso ajudante de
levar, como objecto fosse
se o muito pesado, afim
de que o
logro seja completo.
Voltaes para a mesa, dizendo que actualmente
julgaes poder executar o
estratagema primeiro an-

nunciado. Introduzis ahi, do mesmo modo que ainda


160 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

READ
SEE
IE Dam

agora, uma bala de madeira "sem ser Ôca, que d'esta


vez deixaes cair por terra com um grande ruido, o
que faz afastar todas as suspeitas relativas ao
pri-
meiro projéctil.
“Tereis então divertido e
surprehendido os assis-
tentes, mais do que elles esperavam, para que vos

seja permittido de entregar chapeu o com esta con-

clusão, observando que -não


pensaveis que vos em-

prestassem um jardim completo, e um arsenal cheio


.

de projécteis.

O passaro n'uma espada

Leitor, tome este passaro empalhado com tanto

cuidado como se estivesse vivo. Carregue esta pis-


tola com elle; arme e dispare o tiro, tomando por

alvo a ponta da espada que tenho na mão... Acre-


dite que é o melhor meio de o resuscitar... Des-
feche... o tiro partiueo passaro, como vê, esvoaça
na ponta da espada magica.
O leitor, sabe tão bem como eu, que o passaro
ficou no fundo da pistola, e
que tiro partiu de um
canosinho collocado debaixo da arma... Sabe tam-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 101

bem que o passaro saiu do punho da espada, de uma

especie de concha que substituiu a


chapa que abria ha

pouco o barrillet, e onde eu tinha posto a carta an-

tes de a fazer subir para a


ponta da espada, como

aconteceu ao passaro; façamos, pois, uso do se-

gredo e
guardemol o só para nós.

O jogo de Satanaz

Vou ensinar ao leitor um


jogo, que segundo par-
de credito, está muito em moda
ticipações dignas
no inferno. E o jogo favorito do diabo e onde não
ha azar.
está cai de dentro do qual tiro este
Aqui uma

grande dado, e

como vê ficou
vazia; apreser-
to-lhe tambem
uma urna chi-
neza, debaixo
da qual nada
ha. Na caixa
metto uma laranja que a enche completamente, e

TI
162 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

com a urna cubro o dado que ha pouco tirei da


caixa;
agora vamos ao
jogo :
Eu sou o banqueiro e
obrigado por isso a accei-
tar as
paradas que o leitor fizer; perco todas as

vezes
que adivinhar onde se acha a laranja ou o

dado. O leitor julga que a


laranja está na caixa
porque viu mettel-a; enganou-se; na caixa está O

dado e a laranja está debaixo da urna. Agora diz


que o dado está dentro da caixa, e a laranja de-
baixo da urna, ainda ganhei, porque a laranja, as-

sim como o dado, tornaram gos seus


primitivos lo-

gares. E o leitor ha de perder sempre, porque eu

tenho poder o de collocar o dado e a laranja onde


quizer, já se vê, sempre no sitio opposto áquelle
que o leitor designar.
Se, porém, julga que é sorte, examine de perto
os objectos que empreguei para o
jogo. Os lados
da caixa quadrada, onde primeiro puz a laranja,
formam um dado ôco inteiramente livre. Quando
deitei a laranja e quiz que desapparesse, fechei a

caixa não totalmente, e fiz girar um botão colloca-


do da retida até ali
na
parte superior tampa, nopri-
meiro por meio de ganchos; esta
segunda tampa
fórma
cae sobre a caixa, e o
ultimo lado d'um dado

completo, dentro do qual está occulta a


laranja.
Quando me conveio que a laranja apparecesse de-
pois de fechada a caixa, fiz girar o botão no sen-

tido contrario, os
ganchos agarram navamente a

face superior do dado, que se encaixou na verda-


deira tampa, e a laranja ficou livre e visivel. O
dado que se collocou debaixo da urna, é em tudo
semelhante ao da caixa; é, pois, um dado ôco com
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 163

cinco faces. Colloquei-o do lado que lhe faltava so-

bre a mesa. Apenas cobri o dado com uma urna,


um alçapão fez entrar uma laranja n'este dado.
Quando me conveio que ella apparecesse, levantei
a urna
apertando-a um
pouco nos lados, a laranja
ficou sobre a mesa, e o dado no interior da urna;
quando, ao contrario quiz que apparecesse o dado,
levantei a urna naturalmente e o dado ficou sobre
a mesa, cobrindo a laranja que por esta razão se

não vê.

Modo de fazer a sympathica


tinta
PURPURINA

Dissolve-se azul de cobalto. em acido nitrico : ajun-


ta-se sub-carbonato de potassa pouco a
pouco para
evitar grande effervescencia, e deixa-se em
repouso;
apenas o
liquido se torna claro passa-se para ou-

tro vidro, e ajunta-se uma pouca de agua.

VERDE

cobalto
Põe-se em um frasco uma parte de
e qua-
tro partes de acido-nitro hydro-chlorico; expõe-se
o frasco com esta mistura a calor moderado até
que o acido não dissolva mais; ajunta-se então sal
<ommum em
quantidade egual ao cobalto emprega-
do, e
quatro vezes mais de agua do que se
empre-
gou de acido; por ultimo fiftra-se esta mistura.

AMARELLA

Faz-se uma solução com uma parte de hydro-


<hloreto de cobre e duas de agua.
164 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

O chapeu pastelleiro

O leitor ficava de certo espantado se lhe pedis-


semos o chapeu, para d'elle tirar um pastel delicioso.
Pois não ha nada mais facil; ahi vae a receita de

que usamos: logo que temos o


chapeu em nosso

poder, vamos para a mesa, atraz da qual ha uma

outra mais pe-


e
quena, por
consequencia
invisivel aos

espectadores,
eligeiramente
fazemos cair
no
chapeu
À
uma
especie
de fôrma, feita de folha de Flandres, na
qual está
o verdadeiro pastel que deve apparecer.
Depois d'isto, quebram-se uns
poucos de ovos

e deitam-se n'uma taçaporcelana, dee em se-

guida deita-se farinha agua, e e


depois de bem me-

xido, deitamos no chapeu (bem entendido que é a

fôrma que recebe esta misturada). A pretexto de

esgoiarmos totalmente a taça, mettemol-a no ch

peu, e com ella cobrimos a fôrma que se encaixa

perfeitamente na taça. Depois tiramos a taça, vindo


n'ella a fôrma e só fica no chapeu o promettido
pastel. «

Novo jogo de bilhar

Aqui está uma caixa espherica, com um pequeno


taboleiro servindo-lhe de base, e que se abre pelo
meio. Tem dentro uma bola de bilhar do tamanho
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 165

da caixa. Tiremos a bola e fechemos a caixa, ficando

por consequencia vazia.


Vamos servir-nos da varinha magica, como se

fosse um taco, e com uma


pancada fazer entrar
a
bola na caixa fechada. Pego na bola com a mão

esquerda e
empurro-a com à varinha que tenho na

mão direita. A bola partiu .. deve estar na caixa.


Kffectivamente todos
está, epara que a possam re-

conhecer, tiremol-a d'este azar de novo genero. Es-


tas são as
regras do jogo; expliquemos a astucia
«de que nos servimos.
Quando fingimos enpurrar a bola com a varinha,
deixamol-a cair sobre a mesa pequena, ou
podia-
mol-a deixar cair sobre joelhos. A
os caixa d'onde
tirei bola, e que
a
depois fechei, contém duas meias

espheras ôcas, e
que juntas formam uma bola

completa. Quando quiz mostrar que a bola estava

na caixa, carreguei
n'uma mola no alto
d'ella que- impelliu
a meia esphera sobre
a metade inferior, e

que as reuniu uma

á outra, de tal fór-


ma, que represen-
tavam uma bola se

melhante em tudo á

“que eu tinha feito desapparecer.


Bala inofensiva

Por varias vezes tem-se apresentado em Lisboa

pelotiqueiros estrangeiros que mandam disparar


166 ANUAL DO PRESTIDIGITADOR -

TERERRARO

contra si armas de fogo carregadas com polvora e

bala. Esta sorte é executada da maneira seguinte :

Manda-se fabricar uma


espingarda, cujo cano
completo não tenha no fundo o
pequeno buraco
chamado ouvido, para que de nenhuma maneira
possa fogo
o espoletade communicar-se
interior. ao

Esta espingarda terá debaixo do cano um logar


para guardar-se a
vareta, com a differença, porém,
que na
espingarda em
questão o
logar da vareta é
um
segundo cano fino, de maneira que quando se

guarda a vareta esta fica dentro do cano fino, ser-


vindo assim para coadjuvar o engano.
A espingarda deverá ter no
logar competente o
ouvido e os fechos, e deve ser de espoleta; o ou-

“vido communicará sómente com o cano fino.


O magico terá carregado com antecedencia o

cano fino, de po!vora sómente, e


entregará a
algum
dos espectadores não só
espingarda, a mas tambem
uma
carga de polvora e bala; rogando-lhe que car-

regue aquella espifgarda a seu


gosto e
que tenha
a bondade de apontal-a bem para elle magico, e de

fazer-lhe fogo sem receio, porque quer aparar a

bala na
ponta da vareta da mesma arma. O espe-
ctador carregará com muito grosso cuidado o cano
sem importar
se com o cano fino. O magico irá
“postar-se alguns passos distante do possuidor da
espingarda, levando comsigo a vareta, sendo esta

precaução não para aparar a bala, mas para impe-


dir que a introduzam no cano fino.
O
possuidor da espingarda apontando dará fogo,
porém a
espoleta communicando o fogo ao cano

fino fará com que este dê um tiro de polyora secca,


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
167

e o
magico enfiando agilmente na vareta uma bala
de chumbo furada, mostral-a-ha aos
espectadores
admirados.
Café magico

Para fazer esta sorte é necessario ter um vaso

com dois fundos; o superior deve ser um tanto

mais alto e em fórma de tampa, a fim de se tirar


com facilidade. Esta parte superior deve ser cheia,
á vista de todos, com milho, amendoas ou outro

qualquer objecto que melhor


convenha, e depois
cobrindo-se com uma
campanula opaca, deita-se
fogo a um pouco de espirito de vinho que está no

prato em
que assenta o vaso; e momentos depois,
tirando a campanula que deve trazer comsigo, com
o auxilio de uma mola, o
segundo fundo, vê-se com

espanto o café já preparado e fervendo.


É escusado dizer que o café estava já de ante-

mão introduzido no
primeiro fundo.

As fitas na garrafa

“Tirar vinho d'uma garrafa todos fazem, pôrque


é geralmente o
que ellas contém, mas tirar fitas ?
fazer semelhante
Só a magia é capaz de prodigio ;
mas é mais que prodigio, é um verdadeiro mila-
1 E ha de
gre o leitor convencer-se
d'esta verdade,
á vista dos factos expôr. E esta
que vamos
a
gar
rafa que servirá para a demonstração; depois de -
despejarmos o vinho que contém, apromptemo-nos
para fazer sair uma infinita quantidade de fitas de
todas 'as côres que exigirem. Querem azul, verde,
côr de rosa, cinzento, branca, parda, côr de casta-
nha, escarlate, roxa, preta ? Eil-as todas aqui!
168 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Não será isto um milagre? O leitor certamente

se convenceria d'esta verdade, se lhe não dissesse-


mos
que a
garrafa é composta d'uma redoma de
folha de Flandres, envernisada de preto, sem fundo,
que serve de estojo a uma
segunda garrafa que se
tira pela parte inferior. Esta segunda garrafa tem
no interior umas

poucas de rolda-
nas, onde estão
enroladas fitas
de diversas co-

res. As extremi-
dades chegam ao

gargalo da gar-
rafa, entrando
uma
por argo-
la, e sustentando-se por uns nós que as não dei-
xam ir para baixo. Já se vê que se
puxa pelo nó
da mesma côr que se
pediu, e sae immediatamente
afita. Falta só dizer que segunda
a
garrafa tem

um repartimento de cima abaixo, onde está o vi-


nho que ao
principio se
despeja.

O armario das metamorphoses

É surprehendente e maravilhosa a sorte que va-

mos indicar.
Fechaes uma dama no interior d'um armario iso-
lado de todos os lados. Fechaes as portas do ar-

mario. Quando as tornaes a abrir, a dama tem de-


sapparecido. Em seu
logar encontra-se um homem.
Podeis recomeçar a substituição indefinidamente.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 109

Afinal, fareis apparecer, ao mesmo


tempo, no ar-

mario, a mulher e o homem.

Explicação da sorte —

O desenho seguinte fará


|
comprehender a cons-

trucção do armario.,
Como se vê, está
collocada uma
prancha

a li E, no

tinada
interior
como

a
se

receber
do
fosse
arma-

vesti-
des-

dos ou outros objectos.


É sobre essa prancha que uma das duas
estará deitada:
pes-
soas um
espelho montado em eixo
no tecto, conforme indica
o desenho, dissimulará es-

sa
pessoa aos olhos dos es-

pectadores.
Para operar a substitui-
ção, a pessoa que estava

invisivel não terá senão que


applicar o
espelho contra o

tecto, descer e fazer subir


a outra pessoa que deixará
cair o
espelho. É indispen-
savel, para que a illusão seja completa, que o te-

cto e os lados do armario sejam pintados d'uma


côr egual. Porque é o tecto que, reflectindo se no

espelho, dá a illusão do fundo.

O vinho de rosas

Fazei servir aos convidados quatro ou seis copos


cheios de vinho de Bordeus, ou da Madeira, entre
Iço MANUAL DO, PRESTIDIGITADOR

os
quaes se encontra um
que tenha o fundo falso,
e us
paredes ôcas, contendo um
liquido corado em

tudo semelhante ao vinho que dizeis. O resto d'este


copo deve estar cheio de mimosas folhas de rosa

rubra, e fingindo que o entornaes no vestido de


qualquer dama, com
surpreza se verá que o
sup-
posto vinho se transformou em folhas de rosas.

A fritada no chapea

Pede-se um
chapeu emprestado e n'elle se intro-
duz uma fritada de ovos já preparada, porém com

ligeireza para que se não perceba esta introducção.


Pega-se em seis ovos, cinco dos quaes estão disfar-
cadamente vazios, o que está cheio, conhecido por
signal particular, pelo deixa-se
algum ou
pezo, que-
brar como por descuido, a fim de melhor fazer
acreditar os outros estão perfeitos. Quebram-se
que
em
seguida dentro do chapeu os ovos vazios, e de-
pois com espirito de vinho accezo, finge-se que se

fritam os ovos, e momentos depois mostra-se a fri


tada já prompta.
A caixa de rapé transformada em jardim

Com uma caixa de rapé redonda e com dois fun-

dos, é quesse faz esta sorte. O segundo está fundo

já de antemão preparado com


algumas pequenas
flores, dispostas ordem, em boa e o
primeiro con-

serva-se
limpo. Apresenta-se a caixa aberta no fun-
do limpo, á pessoa a quem se quer fazer a surpreza,
e
pede-se-lhe que deite na caixa algumas sementes

que se lhes apresentam com muito cuidado, figu-


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 178

rando estar n'ellas todo o segredo d'esta experien-


cia.
Feito isto, tapa se a caixa, e
depois de alguns di-
tos
graciosos que prendam a artenção por alguns
momentos, abre-se a caixa no
segundo fundo e ap-
parece com geral surpreza o jardim florido e viçoso.

A mocda vinjante

Pede-se a um dos espectadores que pegue em

uma caixa, na qual, na sua


presença, se mette uma

moeda ou um annel; o
magico põe-se a
alguma dis-
tancia e pede á mesma pessoa que sacuda a caixa,
e onve-se a moeda mover-se
dentro; pede-se nova-

mente
que caixa, sacuda a e não se ouve o movi-
mento da
moeda, á terceira vez torna-se a ouvir,
á quarta vez
desapparete a moeda e vae achar-se
no sapato de um dos espectadores.
A caixa deve ser feita de proposito, julgo que não
é necessario descrever a sua construcção, porque
todos os
pelotiqueiros as tem para vender.
Esta que causou tanta surpreza em Londres e

em Paris, não differe das mais senão em ser mais


bem feita, e
pertencer a uma pessoa que orna as

suas sortes com todas as vantagens possiveis. Esta


caixa é feita de modo que, revolvendo-a
juntamente
debaixo cima, para se ouve a moeda que está den-

tro; pelo contrario, movendo-a com força em uma

direcção horisontal, cae uma mola sobre a moeda


que embaraça que esta se mova e que se ouça, o

que faz parecer que já não está na caixa. O magico


pega na caixa com o
pretexto de mostrar como se

caixa
deve sacudir, «eposto que a esteja fechada,
172 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

tira fóra a moeda por meio de uma abertura secreta

e
pela mesma abertura introduz outra moeda, e

torna a
entregar a caixa á mesma pessoa, e segundo

o modo com que sacode a caixa, faz crer que a

moeda está e não está. Emfim, a verdadeira moeda


acha-se nó sapato de uma das pessoas presentes
ou
por meio de um confidente, dando-lhe uma moeda

semelhante, ou mandando uma


pessoa experiente
para deitar esta moeda no chão, procurando-se per-
suadir a
pessoa que a moeda caíra, quando lh'a ti-
raram do sapato.

A pasta de mudança

Peço licença para interromper as nossas expe-


riencias, porque me lembrei de repente que me hei
de mudar hoje mesmo. Como veem, tenho uma

pasta debaixo do braço.


E

dirá contém toda minha mobilia


Quem que a
?

on 3: ll

Agora
Colloco
ninguem; mas

sobre
d'aqui a pouco
abro-ae
todos
odirão.
a
pasta uma mesa, começo
a tirar ao acaso o
que ella contém; prime'ro uma

gaiola, não muito pequena, como veem; depois


MANUAL DO PRESTIDIGITA
DOR 173
AEE
SR

uma cadeira, em seguida um leito completamente


armado... Eis aqui amostras, que espero lhes pro-
varão, que a minha casa não está muito mal mobi-
lada, o
que, porém, não me
impede de fazer amu-

dança muito commodamente.


Uma simples pasta de desenhos lhe bastará, lei-
tor, se tiver alguns d'estes moveis, cujos lados col-
locados sobre gonzos, possam cair quasi parallela-
mente uns sobre os outros, de maneira que repre-
sentem uma
superficie quasi plana.
O vaso com arroz

Como se faz passar um limão e uma moeda de


oiro ou
prata para o
logar do arroz
que enchia um

vaso. isto a vinte passos de distancia, reapparecer e

mancira
o dinheiro dentro do limão
? Da seguinte
:
Substitue-se immediatamente o dinheiro empres-
tado por outro igual; emquanto se conversa um

creado
pouco com o
publico, o mette no limão, por
uma abertura que lhe fez, o dinheiro de que se apo-
derou. Depois, põe o limão no fundo de um vaso

de madeira, enche-o e tira-o para fóra. O prestidi-


gitador, depois: de mostrar que o vaso está com-

pletamente cheio de arroz, annuncia que vae fazer

passar um limão, que tem na mão para o


logar do
arroz, e ao mesmo tempo empalma-o. Faz o mes-

mo á moeda semelhante á que lhe emprestaram.


Depois pega no vaso onde não ha um unico grão
de arroz, faz cair de dentro o limão que o creado
ahi tinha e corta-o em duas ti-
posto, partes para
rar de dentro o objecto que lhe emprestaram. A

desapparição do arroz é devida a uma mola que le-


174 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

vanta o fundo do vaso. O arroz cae


por uma aber-
tura circular no
pé do vaso, cujo fundo torna a to-

mar o seu primitivo logar, desde que cessa a


acção
da mola.

Os pós de periimpimpim

Vejo-me ainda obrigado a


pedir-lhe duas moedas
d'oiro ou
prata, depois de as marcar. (No momento

em
que recebo as moedas, troco-as por outras, para
que o meu creado possa vir buscar as
que me em-

prestaram). Aqui ponho as duas libras que me em-


s

prestaram (as
« moedas substi-
tuidas) para
não
ghe
«am
as

de
per-
vista.
Vou procurar
d'entreos meus

copos o mais
elegante no feitio e... eilo... Agora deito so-

bre elle uma pitada de pós de perlimpimpim


que lhe vão communicar uma electricidade sur-

prehendente. A tampa com acabo de cobrir o


que
copo, augmenta mais a difficuldade, ao mesmo
tempo
que as duas fitas que o ornam de cada lado, for-
marão os dois fios d'esta cadeia electrica. Agora
deem-se duas pessoas ao incômmodo de agarrar
cada uma d'ellas na extremidade das fitas. Um ho-
mem e uma senhora: bem. V. ex.” não tem mais
a fazer, do que tocar com a ponta do dedo na caixa
onde está uma das libras, e dizer: «Passe !» Faz o

mesmo varinha
! (Carrega-se um
pouco com a na
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 175
s

fita segura pela senhora). Cae uma libra no


copo.
Agora o senhor!,.. «Passe.» A varinha faz ogmes-
mo que ha pouco, e a
segunda libra vem juntar-se
“à primeira !
Os pós de perlimpimpim são excellentes, porque
as caixas já não conteem coisa alguma, c
as duas
libras que mé
emprestou póde tiral-as de dentro
do meu
copo. As libras sairam da tampa, onde o

creado as tinha mettido, n'uma especie de carteira


<om dois repartimentos, que se abrem quando se

carrega ou se
puxa pelas fitas.

Um pombo morto com uma estocada que se

dá na sua sombra

Consiste esta sorte em atar o


pescoço de um

pombo
são
a duas
dois
fitas bem tezas,
Cortar-se-ha
cujas extregidades
do
prezas a
pilares. a cabeça
pombo sem a tocar, no mesmo
tempoque o
magico
fura com um espadim a figura de um pombo pintado
sobre um bocado de papel. Para fazer esta sorte

esconde-se entre as fitas uma lanceta muito pene-


trante, curvada em fórma de uma fouce, este ins-
trumento está atado a um
pequeno fio, o qual pas-
sando entre ambas as fitas e por dentro de um dos
do O do
pilares, vae ter á mão confidente. pescoço
pombo deve ser atado ou
seguro a
algum fio para
ficar immovel; o
magico quando se
prepara para
dar a estocada ao passaro pintado, bate com o pé
no chão ; este ó o signal que elle dá ao confidente
para puxar O fio a que está pegado o instrumento,
«que d'este modo corta instantaneamente a cabeça
ao
pombo.
176 MANUAL DO PR ESTIMIGITADOR

o gallo morto-vivo

Um charlatão, para provar a efficacia do seu eli-

xir, gabava-se modestamente de poder resuscitar


um morto. Eis um animal, dizia elle mostrando um

gallo, que em breve vae ser riscado do rol dos vi-


ventes, pois vou cortar-lhe cabeça a e ver-lhe-heis
os miolos; o
que ríão o
impedirá d'esta noite can-

tar no poleiro e de fazer os seus


rapa-pés ás galli-
nhas e ámanhã de passear soberbo e altivo.
N'um momento passou-lhe uma faca atravez do

pescoço e apresentou-o
Ao
aos circumstantes,
viu-se
como

animal
se

vê na nossa
gravura. principio, o

luctando, batendo as azas, e


depois ficar sem mo-

vimento, fechar os olhos e parecer morto. O char-


latão tirou-lhe a

faca, o gallo ca-

hiu” sobre uma


mesa, onde fi-
cou inanimado-
Depois deu lhea
cheirar, talvez,
agua do pote, o gallo pôz-se em pé, bateu as azas
e cantou.

Eis a
explicação :
Os miolos do gallo ou da gallinha estão colloca-
dos na cabeça pelo lado de cima, junto ao pesco-
ço; existe, portanto, entre os miolos e o bico, uma
da furada
parte cabeça que póde ser por uma faca,
sido fu-
sem matar o animal, e se a cabeça tiver já
rada, puder-se-ha suspender na faca que não tenha
muito corte, tantas quantas vezes
quizer, o ani-
se

mal debater-se-ha com as azas e


pés paraselivrar
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 177

d'esta posição. Quanto á sua morte


apparente e á
sua resurreição repentina, é proveniente do ensino
e costume.

A cacurola infernal

Minhas senhoras, tende a bondade de lançar al-


gumas aves mortas e bem depenadas dentro de
uma caçarola, e vereis que magia, a collocando-a
sobre o
fogo, exercerá o
prodígio de as fazer re-

suscitar. ,

Muito bem, cá estão as pobres avesinhas. Ponha-


mos a caçarola
sobre o fogo.
Já devem estar

cozidas. Agora
a influencia da

magia as fará

voar sãs e sal-
e vas. Admirae.
DR
Visteso pro-
digio; agora aprendei o
segredo da feiticeira ma-

gica, que com prazer, o


explicamos.
As avesinhas mortas ficaram no fundo da caça-
rola, e deveras quasi assadas pelo fogo, sem toda-
via serem vistas pelos olhos compassivos, e as que
voaram, batendo as azas em varias direcções, es-

tavam escondidas na
tampa que apesar de pare-
cer não poder contel-as tem todavia uma pequena
camara onde cabem perfeitamente. Um prato serve

de fundo a esta tampa, fechando-a hermeticamente.


Quando se
tapa com ella a
caçarola para a
pôr
sobre botão ha
o
fogo, carrega-se um
pequeno que
12
178 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

na
tampa, fazendo-se assim cair o
prato, o
que tem

a dupla vantagem de soltar as vivas e encobrir as

mortas.

A tampada do diabo

Esta lampada deverá pôr-se sobre uma banca, e

um dos espectadores a uma certa distancia d'ella,


assopra por um tubo, e sem todavia dirigir o seu as-

sopro para o logar aonde está a luz, a lampada apa-


ga-se como se effectivamente se assoprasse. Esta

lampada tem na sua base um


pequeno folle, cujo
vento se communica ao
pavio por meio de um tubo,
“e o confidente movendo a machina que está escon-

dida debaixo da mesa, põe o folle em movimento,


e
por este modo apaga a luz quando é necessario.
N. B. Esta sorte póde ser executada sem folle,
comtanto que na base lampada da haja fabricada
uma mola para puxar pavio para o baixo quando
se
quer, e d'este modo poderá o prestidigitador fa-
zel-o apparecer e
desapparecer quantas vezes
quizer.
A desapparição de uma pessoa

“Transmittirei ao leitor este satanico segredo. O


individuo que se presta á experiencia, colloca-se em

do
pé sobre a mesa prestidigitador ; este lança mão
d'uma peca cylindrica, especie de barrica enfeitada,
onde caiba o individuo, e envolve-o n'ella vertical-
mente. No momento em
que faz isto, abre-se um

alçapão feito na
tampa da mesa, e o
desapparecido
fica deitado n'uma- excellente caixa, formada pelo
corpo da mesa, a qual é feita de panno para que
se não ouça motim na queda. E maravilhosa a
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 179

surpreza quando o
prestidigitador levanta o
cylin-
«dro e não se vê sobre a mesa o individuo.

O cofre magico

E esta uma sorte bonita e surprehendente quan-


do é habilmente executada.

Prepara-se um cofre de maneira que se abra por


ambos os lados e com fundo falso perfeitamente
ajustado ao centro. D'um lado põe-se fitas ou flores,
do outro um ou
alguns passaros vivos. Supponhamos
que estamos em uma reunião que e desejamos ser

amaveis com uma senhora, offerecendo-lhe um ra-

malhete ou fita, pedindo-lhe a fineza de pôr ou-

tro dentro do cofre que se lhe apresenta aberto do


lado ondé se acham estes objectos. Uma vez de-

positado dá-se uma volta ao cofre, e collocando-o


sobre uma mesa manifesta-se presagio
o de se ha-
verem mudado as flores em passarinhos, cuja trans-

formação acaba de verificar-se. Pede-se á mesma

senhora que abra por suas mãos o cofre e ao fa-


zel-o vê com surprezu sahiv os
passaros que vão
voando pela sala.
Convém notar que as
juntas do cofre deverão es-

tar de maneira que não se possam descobrir, tendo


ao lado um botão para o fechar.
pequeno
O ramalhere magico que produz flores
e fructos. segu o se deseja

Consiste em fazer um ramalhete em que as has-


tes podem ser de papel enrolado, de folha de Flan-
“dres, ou
qualquer outra materia, comtanto que se-
jam furadas e
que possam dar livre passegem ao ar
180 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

que se
assopra por baixo; a estas hastes dever-se-
hão juntar raminhos feitos de fio de arame; e tudo.
deverá ser ornado de folhas feitas de pergaminhos
imitando o mais possivel a natureza. A uma das
extremidades de cada uma das hastes deverá in-
troduzir-se pequenos bocadinhos-de seda, prepara-
dos com gomma, ou de folha de batedores de ouro,
estes bocadinhos devem formar a flor, ou a fructa

que se deseja, logo que se


separam pelo ar
que se

introduz dentro das hasteas, ás quaes elles de-


por
vem ser atados por um fio de seda, Antes de se

fazer esta sorte devem-se introduzir na extremi-


dade das hastes, os fructos e as flores feitas de
seda, ou folha acima referida, fazendo-se entrar

de modo que não appareça vestigio algum d'elles, o.

que estando feito do modo que fica dito, metter-se-ha


o ramalhete no
gargalo de uma
garrafa, a
qual con-
tém no seu interior um folle que se
põe em movi-
mento por meio das alavancas que estão escondi-
das debaixo da mesa, e o ar
que sae pelo folle faz
sair a flor e o fructo, do mesmo modo que succede
com os botões aereostaticos. E no caso
que se
quei-
ra tirar o ramalhete póde-se fazer, comtanto que
se tenha praticado uma valvula no tronco principal,
que, fechando-se, embarace a sahida do ar.

A Colher do pres gitador

Esta sorte-tem uma historia, qual. se


a torna in-

dispensavel ser contada para conseguirmos o nos-

so fim.
de é, bem.
A Italia, patria tantos homens illustres,
como a Hespanha, a terra dos Bartholos, das Ro-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 181

sinas e dos Almavivas. Essa eternacomedia, im-


mortalisada no theatro por Beaumarchais, em que

entrava indispensavelmente um tutor tyranno e

,odiosb, uma
pupilla opprimida e
enganada, e um

di-
“amante moço e
emprehendedor, essa comedia,
zemos, representava-se em Florença, tendo
aliás o

<unho da naturalidade, pois que não se dava no

theatro n'ella il
: tomavam parte signor Lambino,
a linda Flaminia e o guapo marquez Renaud Lam-
berri. Lambino, o tutor que, segundo parece, es-

crupulisava pouco nos meios, comtanto que che-


gasse ao fim propunha,
a
queobteve, se
por uma

engenhosa calumnia contra'a pupilla, que o mar-

de Como
quez tomasse a resolução a
desprezar. o
amor do nobre fidalgo era, por assim dizer, o es-

cudo que podia proteger Flaminia contra os desi-

gnios do velho, e dar-lhe coragem para resistir aos

crueis tormentos do tutor, este ultimo tinha nutri-


do a
esperança de casar com ella, e, consequencia
immediata, lançar mão dos bens de que sómente

era administrador. Á força de


sujeição soffrer uma

a que lhe era impossivel esquivar-se, pobre me- a

nina desconfiava que Lambino tivesse lançado mão


da intriga, com o fim de affastar della Renaud,
que lhe tinha feito partilhar um amor
puro e ver-

dadeiro. Não se
julgando conscienciosamente cul-

pada do que ia fazer, pois que as circumstancias a


isso decidiu
a
obrigavam, escrever ao marquez :
dado, porém, este passo, teve de renunciar á es-

perança de fazer chegar a carta ao seu destino.


Lambino que receiava uma ultima tentativa de re-

sistencia da parte de sua


pupilla, resolveu dar uma
182 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

festa dia do com


pequena no seu anniversario, o fim,
de a distrahir, para a qual não convidou mais que
duas ou tres senhoras já edosas, e os seus
amigos
de maior data. e

Achava-se então em Florença prestidigitador


um

francez, que se tinha relacionado com Lambino ;


este pediu-lhe uma sessão de magia, convidando-o
d'esta fórma a abrilhantar a festa dedicada a Fla-
minia. O magico accedeu ao pedido e mandou pa-
ra casa do tal velho algumas peças mechanicas.

A sessão teve
logar no dia para isso fixado. De-

pois de varias experiencias o francez declarou que


a magia lhe dava o poder de restituir ao seu pri-
mitivo estado uma folha de papel, depois de redu-
zida a cinzas, e
para que não duvidassem do que
acabava de
affirmar, um
lapis e uma deu folha de

papel a Lambino, pedindo-lhe que depois de es-

crever no papel o que quizesse, o dobrasse em

quatro partes; era o


papel que devia renascer de-
pois de ser queimado, e sem que por conseguinte
fosse possivel apresentar um outro em seu logar.
Emquanto Lambino dobrava o
papel, depois de
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 183

n'elle ter escripto, O artista disse, que não queren-


do que desconfiassem da menor escamotagem, nem

com a ponta dos dedos lhe tocaria, e que o não

perderiam de vista um só instante até ficar redu-


zido a cinzas. Tomou então uma especie de colher
com um cabo comprido como uma
bengala e
pe-
diu a Lambino para collocar o
autographo na co-

lher; Flaminia
apressadamente deitou um bilhete
dizendo: «Senhor, peço-lhe que faça a
experiencia
com este papel!» O olhar da menina ecra tão sup-
plicante, que o
magico arredou-se immediatamente

com a colher, apesar da gritaria que fazia o tutor

dizendo: «Faça favor de me dar esse papel... es-

tou em minha casa rodeado de amigos, e ainda


que fosse mister empregar a violencia, não Ih'o con-

sentiria em
poder
seu !» «Socegue, meu caro, res-

pondeu tranquilamente à
o
prestidigitador, graças
magia, posso-o satisfazer completamente e á sua

encantadora pupilla. Para isso colloco n'esta ban-


deja o papel que ella me entregou, e como não

quero, de fórma alguma, guardal-o contra a sua

vontade, approximo-lhe esta vela acceza


quei-
e

mo-o.» «Deixe-me vêr a


bandeja, bradou Lambino,
para me certificar ao
menos,se a carta que esta
-
se-

nhora lhe deu, está realmente queimada.»


O artista entregou a
bandeja ao italiano. Elle pe-
gou-lhe apressadamente, e não viu mais que cinzas

fumegantes; pensou que era realmente impossivel


que o bilhete, que nem um momento tinha perdi-
do de vista, renascesse das cinzas que estavam na

bandeja, e ficou satisfeito


Ora o
papel que Flaminia poz nacolher
do pres-
184 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

tidigitador, era a carta que tinha escripto ao mar- -

quez Lamberti. Duas horas


depois, a
carta tão bem

queimada, chegava perfeitamente intacta ás mãos


de Renaud, que é actualmente o esposo da linda
Flaminia.
Passaremos a descrever a colher emprêgada pe-
lo prestidigitador para habilitar o leitor a fazer feliz
alguma menina que se lhe apresente, subtrahindo-a
á influencia d'um tutor tão cabeçudo como o
que
acabamos descrever. colher d'um
de A
compõe-se
cabo do 'tamanho de 80 ou
go centimetros pouco
mais ou menos, e tem a fórma d'um livro semi-
aberto com a lombada redonda. N'esta colher está
um papel posto pelo prestidigitador, muito antes
.
de a mostrar ao
publico, e não se vê, porque es-

tá entre uma das capas do livro e uma


especie de

porta demadeira, que uma mola empurra de en-

á Quando
contro capa. o
papel, em
que se escre-

veu. cae na colher, o


prestidigitador carrega n'um
botão que tem o cabo, que obriga a passar a por-
ta d'um lado para o outro, deixando livre o papel
posto'na colher pelo prestidigitador e escondendo
o outro. Quanto a este, o creado do mágico acha-o
na colher e
dispõe d'elle conforme lhe ordenaram.

O bouquet eclipsado

Póde-se fazer a mesma sorte com um


bouquet.
As flores desse bouquet são de pennas, dispostas so.

bre arames, -cunidas por uma


pequena armação de

guarda chuva ao tronco do bouquet, ao


qual está
fixo prende
um
annel que se com um
mosquete co-

mo para a
desapparição da gaiola.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 185

A gaiola ccl sada

Apresentaes aos espectadores uma pequena gaio-


la contendo um passaro vivo e annunciaes que a

ides escamotear. Com effeito, ao commando de 1,


2e3,a gaiola e o
passaro des-

appareceram com uma


rapidez
tal que o mais prescrutador
olhar não pôde reparar na des-
apparição.
Explicação e
preparação da
sorte —A gaiola de que o pres-
tidigitador se serve, deve ter

20 centimetros de comprimen-
to, 10 centimetros de largura
e 15 centimetros de altura. Com
um bocado de paciencia e ser-

vindo-se apenas d'um alicate redondo, um amador


póde construil-a por suas mãos.
A gaiola deve ser feita com arame branco (nu-
9). Medindo 5o centimetros de
mero
altura,os ara-

mes, formando os varões verticaes, deverão scr

cortados com o tamanho de 16


centimetros e meio para que, quan-
do se tiver feito uma pequena ar-

gola em: cada extremidade de cada


arame tenha o
comprimento de 15
centimetros.
Estes varões: verticaes deverão ser em numero

de 34: 4 para os angulos, 10


para a frente, 10 pa-
ra traz e 5 de cada lado. O quadro superior e o

quadro inferior serão compostos, cada um, de 2


186 MANUAL DÓ PRESTIDIGITADOR

varões de 20 centimetros de comprido (comprehen-


dendo as 2
argolas) quer dizer cortados com 21

centimetros e meio. É preciso egualmente para ci-


ma e
para baixo, 10 varões de to centimetros (a
argola inclusivé, e um carrinho de fio de latão fle-

xivel, numero 15 a 16, que servirá para reunir to-

das as
argolas para construir a
gaiola conforme in-
dica a presente figura.
Depois da gaiola construida, cobrem-se exterior-
mente as arestas com uma fita de seda encarnada
e interiormente com uma fita de seda verde mais

estreita, havendo o cuidado aó coser estas fitas,


que os
pontos sejam espaçados, de maneira que
haja um a um meio
caminho entre cada
um dos varões.
Estandoterminada
a cobertura, o
obje-
cto
que acabaes de
confeccionar terá o
aspecto d'uma gaiola, cujos va-

rões serão de arame e a cercadura de madeira pin-


tada.

Explicação da sorte —Ataes um elastico ao bra-


so esquerdo, o
qual fareis subir pela manga da ca-

saca, depois passar pelas costas, entre a casaca e

o collete e descer pela manga até á mão direita.


Para regular o seu comprimento apoiaes os coto-

vellos contra o
corpo (á altura da cintura), e esten-

dendo o elastico até á extremidade da manga di-


reita. O elastico, que ficará ao nivel da manga, é
terminado por uma
argola. É a essa
argola que
prendemos o colchete que está fixo a um dos an-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 187

gulos da
gaiola. Estendendo se bruscamente os bra-
ços para a frente, o desenvolvimento produzido pela
mudança da posição dos braços, fará entrar viva-
mente a
gaiola que se sujeitará por si na manga di-
reita.
Está percebido
se mette um
que
passaro vivo na

gaiola. Sendo esta

bem construida,
com um
pouco
de habito, o
pas-
não durante execução da
saro corre
perigo algum a

experiencia.
Tem acontecido executar-se esta sorte centenas

de vezes com o mesmo passaro.

A SET eição do passaro

Pede-se nos trazerem tres ovos, um dos


para
quaes se quebra para mostrar que interiormente não

teem nenhuma preparação, pega-se nos outros dois,


e offerecem-se a uma das senhoras presentes, para
escolher qual em
um, se
quebrando tem
o dentro
um
passaro vivo, e
pegando uma das senhoras no

passaro logo morre; o


magico pegando depois no
passaro mette-o debaixo de um vidro, que está so-

bre a mesa e em
poucos minutos resuscita o
passa-
ro que vôa.
Para sair
esta sorte bem feita, devem estar
ambos
os ovos
que ficaram depois que o
magico quebrou
terceiro, da fórma seguinte: tendo
o
preparados
extrahido o que elles contém dentro, tomam-se
e

188 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR R


as duas metades de cada um e juntam-se outra vez

por meio de uma tira de papel branco que se pega


á roda com grude, de maneira porém que fiqugm
com o feitio de um ovo e do tamanho sufficiente
conterem vivo, tendo
para um
passaro o
cuidado
de fazer um
buraquinho no ovo
para entrar o ar,
c no mesmo instante que entrega o
passaro vivo a

qualquer das senhoras, no acto de lh'o dar com-

de deve-o
prime-o e mata-o; depois morto
pôr de-
baixo de um
copo ou vazo
que cobre o
alcapão, e

o confidente substitue o
passaro morto por um vivo.

A caldeira diabolica

Confiados na
complacencia do leitor, tomamos a

liberdade de lhe offerecer um


guisado feito na co-

zinha magica. Será cozinhado n'esta caldeira sus-

pensa por um
gancho a este pau, que assenta

sobre outros quatro, postos dois dc cada lado. Co-


mo a caldeira está vazia, vamos enchel-a de agua,
porque é este o principio de toda a comida, e em-

quanto ferve, lembrar nos-hemos do guisado mais


exquisito e digno do leitor; tapemol-a, e accenda
fogo por baixo.
º
mos

O leitor começa a crêr que o mais que d'aqui


póde sair é agua quente. Quem sabe ? Em todo o

caso vamos tirar a tampa, para ver em


que estado
está a
agua... Que me dizem a isto?... A cal-
deira está completamente secca e acabam de sair
d'ella tão lindos canarios!...
Passemos á realidade ; um dos paus que susten-

tam a caldeira é ôco de um lado, penetra no pavi-


mento, e do outro ajusta-se hermeticamente ao pau
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR ,

189

transversal, tambem ôco, no qual está preso o gan.


cho que tambem é ôco, bem como a aza da cal-
deira, que é sustentada pelo gancho e que se
pro-
longa de cada lado como um tubo, até ao fundo do
vaso. Uma bomba attrahe a si a agua por estes dif-
ferentes canaes que no fim de contas só fórmam
um.
Emquanto aos canarios, a
tampa da caldeira
diabolica exerce a mesma
funcção que a da caça-
rola infernal.
O golpe no
braco

Possuo um elixir tão maravilhoso, diz o


opera-
dor, que não tenho medo de facadas.
Então pegando n'uma faca e fazendo contorsões
e caretas, espeta-a de lado a lado n'um braço, fin-

gindoSsentir dôres agudas, e mostra o seu braco


atravessado por uma faca.

EXPLICAÇÃO

Esta sorte muito facil e


simples, consiste só-
mente em
adaptar ao braço uma faca feita de pro-
posito, cuja folha é dividida em duas partes, que
reunem por uma mola em fórma de ferradura, como

a da gravura supra.
Quando o braço está collocado entre as duas me-

tades da folha, de que a mola fica escondida n'um

pedaço da manga da camisa, a illusão é perfeita.


19o

MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

O sJenço mysteriosa

Apresenta se um lenço aos espectadores; mos-

tra-se d'um e d'outro lado.


Feito isto, annuncia se
que o vamos fazer desap-
parecer para o encontrarmos na algibeira de traz

da casaca.

E realmente, á ordem de «uma, duas e tres», o

lenço é escamoteado e tiramol-o em


seguida da al-

gibeira da casaca como tinhamos promettido.


elastico
Explicação da sorte — Temos um que
passa pela manga direita da-casaca, estende-se por
detraz dás costas e desce pela manga esquerda,
conforme descrevemos para a Gaiola eclipsada.
Quando pegamos no lenço collocado sobre uma

meza e
que o
apresentamos em
seguida aos
espe-
ctadores temos na mão direita um alfinete preto.
Imquanto mostramos o lenço, prendemos um

dos cantos com o alfinete ao elastico que está no

interior da manga direita.


Basta-nos então braços estender
como os na

Gaiola eclipsada para o


lenço desapparecer.
Quanto ao lenço que tiramos da algibeira, é um

outro exactamente egual ao primeiro, que antes da

operação tivemos o cuidado de ali metter.

Cortar os braços à um homem

Para amenisar esta sorte convém que o criado do

prestidigitador entre em scena vestido de arlequim


e armado com um sabre, com o qual dá duas ou

tres pranchadas nas costas do amo. Este, furioso


com o insulto, ou
fingindo que o está, persegue o
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 191

arlequim com uma faca de matto ameaçando-o de


cortar-lhe o
pescoço. O arlequim dá sebo nos cal-

canhares, mas
por fim é agarrado. Eis que os dois

campeões se
empurram e luctam com
forças eguaes;
um instante depois arleguim
o
parece levar a me-

lhor e tratando de
fugir arrasta o
magico para o
bastidor ; em seguida o magico arrastao arleguim
para a
scena, o
qual para resistir melhor abraça-se
a uma columna e conserva-se firme a esse
ponto
de apoio. O prestidigitador não conseguindo ar-

rancal-o d'ali, corda


com uma
amarra-lhe os braços
e as pernas á columna.
O
arlequim insulta-o; o magico perdendo a pa-
ciencia, rapa da sua faca de matto e corta-lhe os

pulsos, atirando as duas mãos ao chão. Ao mesmo

tempo espeta-lhe os olhos, dizendo; d'este modo


não podes acceitar letras de cambio pagaveis á
vista.
Do que eu tenho pena

responde o criado —

é
de já não
poder fazer mão baixa, mas assim tam-

bem ninguem me accusará de metter a unha.


Has de arrepender-te de seres tão insolente.


Este dialogo prova suflicientemente que o arle-

quim não está doente, ainda assim o


magico avança
ao
proscenio e diz: Não creiam vv. ex. que pre-
tendi tornar maneta um homem que me
ganha o

dinheiro ás mãos cheias, o meu fim era sómente di-


vertil-os ; penso que é inutil dizer-lhes que os olhos
que espetei eram d'esmalte encaixados em uma ca-

beça de pau, e que cortando os braços de papelão,


apenas perdi duas mãos de papel. Entrementes o ar-

lequim, que se tinha soltado da colunana, desce ao


Ig MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

proscenio com um emplastro nds olhos e os dois


braços cortados (eram dois braços postiços, porque
os outros dois estavam occultos debaixo do fato);
depois de ter dado um
profundo suspiro como um

homem que acaba de ser mutilado, diz :

Não façam
caso, meus senhores, o que elle queria fazer. era

lhes acreditar que não é um bruxo; entretanto é


certo que pelo sortilegio. de seu amo, o
arlequim
aqui presente não tardará em estar curado.

A sovela feiticeira

Esta sovela é composta d'um cabo furado e d'um


arame bem direito na sua parte exterior, mas feito
em
espiral na
parte
que: fica dentro do
cabo.

Quando a
ponta
se encosta contra a

testa ou outra qual-


quer parte entra no

cabo.
O
espectador não
conhecendo este machinismo, imagina que profun
dou; logo que se diminue a
pressão, a elasticidade
do arame faz-lhe tomar a sua
primeira fórma, em-
purrando a
ponta para fóra.

A poncl a

Apresento-lhes a maior taça que possuo, e vou

enchel-a de lenços, leques e rosas. Cubro-a agora


com a sua competente tampa. Ora esta ! parece-me
que já sinto um cheiro a
ponche queimado. Vou
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 193

destapal-a para me certificar se.. Safa! que fogo


sae da poncheira ! Venham copos depressa... Te-
nham a bondade de se servir !... Mais copo: õ

Mais ainda !... Mas que é isto ? Tenho enchido tão


grande quantidade de copos, e a taça está cheia
como no
principio! Desistem de esgotar a
pon-
cheira?
Ainda esta vez, leitor, lhe descobriremos o se-

gredo. A poncheira que viu compõe-se de dois fun-


dos. O primeiro, que foi onde deitei os lenços, etc.,
veiu na
tampa que levantei tocando ao mesmo tempo
n'uma destinada lancar liquido já
mola a
fogo ao

estava
quente, que
no
segundo fundo.
Entre este ea
parte
*
interna do vaso, ha
um vacuo se
que
enche de ponche,
qual do do o nivel

liquido excede o do
ponche contido no

segundo fundo. Este


communica com
segundo repartimento, por meio de
uma valvula que se abre e fecha pela pressão de
um botão. Á medida que o
ponche do segundo
fundo diminue, abre sc a valvula para que os dois
liquidos, communicando-se, tendam a conseguir o
mesmo nivel, e o ponche se eleve na taça que pa-
rece
por isso inexgotavel.
as Um engano
Pedi a uma senhora que me
emprestasse um
lenço
de cambraia; depois fui á mesa, puz uma rosa no

13
194 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

ERREI REREPIS PEIES PES PITS TIS O

ARARAS

meio do lenço, do qual reuni as


quatro pontas de
maneira que embrulhasse totalmente a flor, depois
uma
pessoa se
encarregou de o
segurar. Apostei
então em como era
capaz de tirar a rosa, sem
que
ella saisse do lenço e conservando-o a pessoa agar-
rado. A proposta foi acceite...
Agarrei uma thesoura, cortei de uma só vez o

lenço na parte superior da mão que tinha a rosa

prisioneira; mostrei com ar de


triumpho que a ti-
nha em meu
poder, e
que apesar d'isso, estava,
como
prometti, envolta no
lenço.
O meu triumpho depressa acabou: a pessoa que
tinha o lenço seguro, mandou-m'o, porque o não
queria entregar á dona com
grande um buraco no

meió, e eu
fiquei envergonhadissimo de me ver

obrigado a restituil-o completamente estragado.


Felizmente tinha á mão a minha bola de oiro.
Não ha costureira exceda Tudo
que a
! que entra

por esta abertura, no alto da esphera, descozido


ou rasgado, sae tão bem cozido, que nem mr. Ca-
zademunt o faria tão perfeito. O que tem a es-

phera dentro?... Ah! ah! ah! é o resto d'um bo-


cado de cachemira azul, que me serviu hontem

para concertar um casaco e que ainda cá está por


esquecimento... Agora vou metter-lhe dentro o

lenço e o bocado que lhe falta... A operação não


leva tempo algum fazer-se; e a a estas horas o mal
deve estar reparado... Aqui tem v. ex.* o lenço;
bem vê... de que se ri, minha senhora...? Ora
esta! em logar de pôr na esphera o bocado branco,
bocado
puz o
de cachemira azul, e
por isso appa-
rece agora cozido mo meio do lenço. Maldito en-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
195

gano ! Não tenho remedio senão dar-lhe o lenço no

estado em
que se acha... A não consentir que eu

o corte em
bocadinhos,
para o semear
n'esta laran-
geira que acabam de trazer. me A dona do lenço
consente, bem!...
Antes de effeito
vermos o
que. produzirão estas

sementes de novo
genero, examinemos a
esphera.
Seria inutil dizer ás leitoras que, antes da esphera
apparecer, o prestidigitador trocou por outro o lenço

que lhe emprestaram, e


que o deixou cair atraz da
mesa, sobre uma outra mais pequena, onde o creado

o veiu buscar sem


ninguemque visse. Ora a bola
é composta de duas meias
espheras reunidas por
um circulo horisontal, sobre o
qual giram, uma para
a direita, outra para a
esquerda. Dentro está uma

mola movel e ôca, dividida em dois repartimentos,


com uma abertura em cada um, e sustentada por
duas especies de parafusos não apertados, que são
como as extremidades do seu diametro; finalmente
qualquer das aberturas
globo corres- do interior
ponderá á do exterior, quando se faz girar a parte
superior ou inferior d'este ultimo.
O prestidigitador metteu o
lenço que cortou n'um
dos repartimentos da esphera pequena, e do outro

repartimento da mesma esphera tirou o segundo


lenço completamente reparado, porém com um bo-
cado dissemelhante.

O augmento de moedas

N'esta sorte pede-se a um dos espectadores que


conte bem 18 moedas que se lhe apresentam, e en-

tretanto tiram-se 6 da bolsa, escondendo-as entre


otiges Sã
3
3 se 196 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

sÍtlvi
Eus à

ER í “ds
O
Co dedo pollegar e o index
direita, pergun-da mão

“As = É tando em.seguida: Contou


Sim, senhor, 18?
— -—

DS
34% respondem-nos. xando cair 6 que
Está

bem: e recolhem-se, dei-

à
as se
guardavam na mão, juntan-
8 do-as 18, todas juntas se introduzem
iba! AX 4
com as e na

Elio
Sa12 y $ mão da pessoa, resultando d'este modo ficar com 24.

Quantas deseja ter


agora dentro da mão entre 18
Unte
unta3
Mom t e 24? diz-se-lhe. E se
responde: Desejaria ter 23.
=
x —
Pois devolva-me uma, accrescenta-se, fazendo-
o) à
ha lhe lhe visto lhe fez
(q Xe
notar que restam
17; que se

lia Poa crer que


Por
não se lhe
tiram-se
deram
da
mais que
bolsa
as 18 que
moedas
con-

tou. ultimo, umas

E e contando 18, 19, 20, 21, 22 e 23; recolhem-se es-

m
“ef+ o.
tas

a mão
6 moedas
esquerda, que
fazendo
mas
ademanes
deixamos
de as

na
passar
direita
para
fe-

idas ou, 8
chando-a, e
apparentando que as mandamos junta-
de $i mente com as
17, abrindo a mão esquerda, dire-

ES,3 4 $a; mos: —

Póde pois contal-as e encontrará as


que
Ê És é ns a
pediu
$ entre que
23
são 23.
6
Então recolhemol-as,
mettemol-as
misturando

So: a :
v
as as
guardavamos
que e

Es
4 is SL todas juntas na bolsa, a qual lhe deixamos na mão,
=

2
réue
Àmesmo
foneAT a Stro
pedindo-lhe

desde
tempo
23
que

a
a feche
quantas
29. Se-diz
bem, perguntando-lhe
quer
por
ao

que
exemplo
se encontrem

26, pe-
den-

a
que
s se-lhe 3, visto de 23 a 26 vão 3;
das que estas

pudurma
ra=ei
pramat fingimos fazel-as passar a reunir-se com as
“outras
É
*

« que temos mão,na da prati-


mesma maneira que

deco
abs
anil
male
da
a verifique ql a q
$
cámos

e como
anteriormente;

antes
se estão as

juntamos
rogamos-lhe
26 que
a ellas, ao
que as

pediu. Recolhemol-as,
verificar,
conte

as
e

3
HM do 6h
-s
h

Cesta
arida
Ê
4%
que
Como
temos

ha
na mão

pessoas
e
guardamol-as.
que
todas

poderiam perturbar-se
juntas.
se
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 197

«em logar de 23 moedas pedissem 19, advertimol-as


que as que em tal caso teriam que pedir-se facil-
mente se
comprehende que são as
que vão desde
o numero indicado até 24.

A garrafa mysteriosa

O prestidigitador apresenta uma


garrafa de crys-
tal transparente e contendo agua.
Conhecem já a
garrafa inexgotavel, que des-
crevemos n'outra sorte ; essa experiencia tem dado
a volta ao mundo e caiu no dominio dopublico, fa-
zendo parte de todas as caixas de physica.
Encontrou-se porém um meio de modernisar essa

experiencia e de substituir essa


garrafa (que os lei-
tores conhecem e
que contém varios licores em di-
versos compartimeutos) por uma
simples garrafa
cheia d'agua.
A EXECUÇÃO DA SORTE

Eisaqui uma série de copos sobre uma


bandeja,
e um
guardanapo.
Começarei por perguntar o
que desejam vv. ex.?

«que eu deite n'estes copos :

—-

Vinho tinto, vinho branco, tinta d'escrever,


leite, xarope de groselhas, absintho ou
ponche ?

Um copo de vinho tinto.


Da melhor vontade.
Pego n'um copo, enxugo-o interiormente e exte-

siormente e deito-lhe agua com a garrafa.


Esta agua metamorphoseia-se em vinho tinto.

Vinho branco ?

Prompto.

Tinta d'escrever ?
198 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR


Fila.

Leite ?

Aqui está.

Ponche ?
O mesmo resultado.
E para lhes provar que os licores não são ficti-
cios, pego em um phosphoro, accendo-o e inflammo
o ponche.
Se approximar o phosphoro do copo de leite está
bem claro que não o incendeio.

EXPLICAÇÃO E PREPARAÇÃO DA SORTE

A garrafa não contém agua, mas sim alcool re-

ctificado sem côr e sem cheiro. Ao trazel-a, faz-se


o simulacro de continuar a deitar n'um copo que se

tem na mão e que contém agua pura ; pede-se aum

espectador para cheirar e


provar a
agua contida no

copo para verificar que a


garrafa contém agua e

pousa-se negligentemente copo o sobre a bandeja


com os outros. (Cada copo tem naturalmente sof-
frido uma
preparação antecipada. O operador col-
loca-os' em uma ordem conhecida por elle só).
O copo destinado a receber o vinho tinto, deve
conter, fundo,
no dois ou tres grãos de pó de ani-
lina encarnada, que se fixam, graças ao
vapor hu-
mido produzido ao
soprar no fundo do copo.
Para vinho branco empregar-se-ha anilina ama-

rella; para tinta, anilina preta; verde para o absintho;


encarnada em menor quantidade para o xarope de
groselhas e uma mistura de amarello e encarnado
para o
ponche.
Fica percebido que os copos serão bastante al-
MANUAL DO PRESTIDI GITADOR 190

tos e
que não se
enxugam senão na parte superior,
sem levar a mão até ao fundo.
Basta, pois, deitar nos
copos o alcool contido na

garrafa e escolher os copos correspondentes aos li-


cores pedido:
Para
leite, deve o o
copo soffrer uma
prepara-
ção especial. Verter-se-hão algumas gottas de ex-

tracto de Saturno (agua branca) no fundo do copo.


Remexendo-o todo, far-se-ha adherir o liquido ás
do de deitar con-
paredes
theudo da
copo. Depois em
logar o
garrafa, deitar-se-ha o contido no
copo
agua, que se tinha collocado em reserva sobre a

bandeja. A mistura da agua e o extracto de Sa-


turno formará um precipitado d'uma côr absoluta-
mente semelhante á do leite.
Isto explica porque, approximando um phosphoro
accezo do copo de ponche, este inflamma-se, em-

quanto que no
copo do leite não pega o
fogo.
Escusado será accrescentar que, sendo a anilina
uma substancia venenosa, é
preciso ter o cuidado
em não deixar beber os
liquidos.
A mala mysteriosa

Esta sorte,que durante


alguns mezes correu

mundo, é de invenção ingleza.


Consiste em
pedir ao publico que examine escru-

pulosamente uma mala, e depois em a atar, cobrir


com uma capa, tornar a atar, lacrar com sinete e,
apezar de todas estas precauções, fazer penetrar
nºella um
sujeito sem partir as cordas, rasgar a ca-

quebrar os sinetes ou abrir a ma


pa,
E simples como vão ver.
i
200 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Primeiro, a mala contém, no fundo, um


alçapão
de metade do comprimento e
largura total d'ella.
A abertura d'esta mala faz-se por um dos orifi-

Fig 1

cios de ventilação com o auxllio de uma chave que


se acha no interior.
Logo que a mala, devidamente amarrada e la-
crada, colloca n'um
se baldaquino e se occulta dos

olhares curiosos dos espectadores, o ajudante do


óperador, que ninguem ainda viu, colloca a mala
na posição que a
fig. 1 representa, faz descer a co-
MANUAL DO
PRESTIDIGITADOR 201

bertura e fecha o alçapão. Para levantar a


mala,
serve-se de uma chave de rosca mette
que por um

rig.5

dos orificios lhe ficam


que aos
pés, e, dando-lhe

Fig. 4

lentamente volta, como


quem mette um saca-rolhas
no de
gargalo uma
garrafa, levanta de vagar a mala.
202 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Esta, chegada ao ponto de equilibrio, cae brusca-


mente na posição natural. O ruido que então se

produz serviu de signal ao operador, que abre o

baldaquino, faz notar que o ajudante entrou na

mala, e
vagarosamente a desamarra até apresentar
ao
publico o
mysterioso viajante.
O novello de 1ã

Póde-se dar uma prova nova e não menos admi-


ravel dopoder electrico communicado a certos me-

taes pelos pós de perlimpimpim.


Para isso pede-se a um dos espectadores que mar-

que uma moeda decinco tostões e


que nol-a empreste.
Faz-se ainda n“este caso a troca da moeda, e, em-

quanto o nosso criado a leva para dentro, dirigimos,


afim de
ganhar um minuto ou dois, algumas palavras
ao publico, que julgando ver sempre a moeda em-

prestada, não concebe nenhuma suspeita.


Este curto
espaço de tempo basta á pessoa que
se
apodera da verdadeira mocda para a introduzir
no meio d'um enorme novello de lã.
Comprehen-
de-se semelhante operação podia feita
que não ser

tão rapidamente sem concurso de algum processo


engenhoso. Efectivamente a lã foi ennovellada'so-
bre uma das extremidades d'uma especie de estojo
chato, ôco, aberto dos dois lados, e no
qual uma

moeda de cinco tostões póde facilmente entrar. E

por esse meio que o criado faz rapida-


penetrar
mente a moeda no meio da mesma lã;
depois re-
tira o estojo e traz o novello ao
prestidigitador.
Este toma então a moeda que pretende haver
electrisado, e diz que a vae fazer passar para o enor-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 203

me novello que finge ver por acaso. Por um dos


meios de que repetidas vezes temos fallado esca-

moteia os cinco tostões e annuncia que chegaram


pela força da electricidade ao seu destino.
O novello está então mettido em um
grande copo
de vidro, tendo na
tampa que o cobre um buraco
pelo qual se faz passar a
ponta do fio de lã. De-
senrola-se depois o novello com a ajuda d'uma pe-
quena roda de fiar: terminado esse trabalho é com

verdadeiro assombro que os


espectadores veem a

moeda de cinco tostões ficar no fundo do copo.

O inverno transformado em estio

Procura-se obter uma estampa que represente


o inverno da Furopa: esta estampa deve ter neces-

sariamente arvores sem folhas e-seccas, cujas gra-


vuras levemente feitas
geralmente são pa- proprias
ra servirem exemplaresde de desenho. A pessoa
que pretender pôr em pratica este divertimento te-

rá de colorir a
estampa com tintas ordinarias, e

depois pintará as folhas verdes nos


galhos seccos
tinta verde a tinta
com
sympathica (veja-se que en-

O retrato
sinámos pura do Diabo) tendo
o cuidado as
de servir-se de uma tinta mais fraca para pintar
folhas das arvores que estão ao longe. Depois de
pintadas as folhas com esta tinta deixa-se seccar,

põe-se a estampa em
quadro guarnecido de um vi-

dro, e cobre-se as costas do quadro com um


pa-
pel simplesmente collado pelas bordas.

Querendo o magico servir-se d'este quadro, irá


buscar um cavallete de pintor tal e qualcomo des-
crevemos no Retrato do Diabo ; e collocando sobre
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
204,

elle o
quadro, irá postar-se a distancia. Lentamen-
te o calor da chapa, transmittindo-se ao
papel do
desenho, fará apparecer gradualmente as arvores

com bellas folhas verdes, tranformando-se assim o

inverno em estio.

A pistola do feiticeiro

O leitor vae talvez assustar-se á vista do instru-


mento bellico que tenho na mão. Socegado, porém,
ficará, quando souber que não tem bala.
Para
supprir esta falta, pedir-lhe-hemos um annel

emprestado. Tenha a bondade de o deitar n'esta

bandeja, senão vista, até ir pre-


para que perca de
encher a falta da bala.

Agora, que pistola a está carregada com o annel,


peço-lhe o obsequio de a tomar e
disparar sobre
mim gabinete bus-
: por ora, não, que vou ao meu

car um botão de rosa que ahi descobri. Servir-lhe-ha


de alvo... Agora estou prompto... Faça bem a

pontaria, e dispare sem medo... Muito bem! O


tiro fez abrir o botão e tornar-se n'uma rosa ma-

gnifica, no meio da qual me


parece estar o anne]
que nos serviu para carregar a
pistola. Não em en-
MANUAL DO PR Zo>

ERSAASAA
DO

ganei, é o annel que teve a bondade de empres-


tar-me.

Em nada d'isto ha novidade para leitor, a não


ser o botão de rosa em
cujo centro reapparece o

annel.
Para executar
a sorte—Na sorte, o passaro na es-

pada já fizemos uso da pistola magica, en'essa oc-

casião descrevemol-a cabalmente. Resta dizer que,


depois de apoderarmos nos do annel que se collocou
na
bandeja, graças á particularidade que ella possue
de se trocar um objecto, por outro, como o leitor
sabe, mettemos na
pistola o annel que ficou sobre
a bandeja, depois de nos apoderarmos do verda-
deiro; é quando vamos buscar o botão de rosa, que
n'elle introduzimos o annel que devemos restituir.
O bótão é rodeado de folhas moveis de ferro, co-

bertas de folhas verdes por fóra, e de folhas de


rosa
por dentro, cujo pé tem uma mola. A pressão
do dedo sobre a mola, faz abrir as folhas e a rosa,
no meio da qual o annel emprestado apparece co-

mo
por encanto.
O dinheiro aerco

Sou um
grande massador a pedir dinheiro; co-

mo, porém, pago honradamente as minhas dividas,


espero que me emprestarão oito moedas de cinco
tostões. Em quanto o meu creado as recebe sus-

meio onde
pendo esta tripode por de dois
cordões,
ha coisa Visto
como vem, não alguma. meu
o crea-

do ter posto sobre a mesa o montão de cinco tos-

tões, em
que todas as vistas estão fixadas, espero
que ninguem me accusará de as empalmar, como

podia acontecer se as tivesse na mão. Vou deital-


206 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
g
as
agora n'esta taça de vidro branco. Peço des-
culpa do barulho que fizeram quando cairam, mas

desejava que as ouvissem tinir.


A minha taça tem um poder inacreditavel, que
é tornar o dinheiro que n'ella deitam tão leve e

transparente como o ar... A experiencia seria


mais dificil, se a
tripode não tivesse o
poder de
attrahir as moedas volateis, e dar-lhes o seu
pri-
mitivo estado. Escutem, vão ouvil-as uma
por uma

à medida que chegarem. Partiram; contemos...

duas, tres, seis, sete, oito !...


uma, quatro, cinco,
A taça está vasia; todo o dinheiro, passou para a

tripode ; não basta, porém, terem-as ouvido, é


necessario que as vejam. Tiro para fóra a machi-
na... nem uma moeda falta.
Isto só se diz espectadores,
aos
porque as meias
coroas
que o
prestidigitador pediu emprestadas
cairam n'um alçapão, quando fingia tomal-as de ci-
ma da mesa e deital-as no
copo. O barulho que se

ouviu foi produzido dinheiro, que se deitava


por
com força calculada, n'um vaso dentro
dos bastidores. analquine,
Quanto ás mocdas na
tripodce, cahiam do pavi-
lhão de cima, que parece servir
para sustentar a

argola que está presa aos dois cordões. Antes de


trazer a machina para fóra, já o dinheiro lá es-

tava. A' medida que o


prestidigitador conta, um

abalo electrico (este abalo é feito por meio de um

fio invisivel) faz cair uma moeda de cada vez.

O passaro fiel

Para executar-se esta sorte É


necessario prover-se
de dois passaros eguaes e de varios anneis falsos.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 207

Pede-se a uma senhora um annel, principalmente


uma alliança d'ouro, pôl-o e a ao
mesa tro- sobre
ca-se pelo annel falso; dá-se uma pistolla a carre-
gar com polvora, depois uma bala furada de lado
a lado e depois um canudo de lata dos que já co-
nhecemos que se mette tambem na
pistola. Em-

quanto esta se
carrega, vae-se buscar á gaiola um
dos passaros e ao mesmo
tempo ata-se o annel ao

pescoço
xinha
do outro, mettêndo-odepois em uma cai-
aonde possa respirar; torna-se a entrar e

deixa-se a caixinha debaixo d'um chapeu; pega-se


então no annel-para o metter na pistola, e não po-
dendo entrar dobra-se entre os dentes e faz-se ata-

car.

Em seguida tomando com uma mão o


passaro
que está na
gaiola e com a outra a
pistolla, dispa-
ra-se
por uma janella pouco tempo depois de sol-
tar o passaro para o “ar.
Immediatamente se mostra que o
que está na

caixinha tem o annel ao pescoço e a bala na


pati-
nha.
É preciso ter
presente que os dois anneis devem
ser muito parecidos, e
que se nos servirmos d'uma
bala furada é para que o seu
peso impeça o
pas-
saro de voar.

O copo com tinta

Apresenta-se ao
publico um
copo grande cheio de
tinta, que se colloca sobre uma mesa.

Para provar que este


copo contém realmente

tinta, mette-se no
liquido uma carta de jogar e reti-
ra-se ennegrecida. Com uma colher ordinaria, to-
a
208 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

ma-se alguma tinta que em


seguida lança
se n'um

prato, e
depois um annel que vae
mergulhar-se no

liquido, conforme se diz ao publico.


Dá-se n'esta altura um desastre. O annel escapa
das mãos e cae no
copo. Annuncia-se então o in-

fausto acontecimento e as
providencias que vão to-

mar-se
para remediar o mal.
Como tirar o annel?
Com a mão?

Impossivel. Ficaria
negra.
Mas, n'esse caso, que
fazer ?

Ah!... —lembra de

repente o
operador; —

vou clarificar a tinta.


Pega-se então n'um

guardanapo branco, ou

n'um panno grande, e

tapa-se o vidro.
Em
seguida executam-se uns
artisticos, e
passes
retira-se o
guardanâpo.
Apparece então copo, cheio de
o
agua limpida
e
transparente; onde nadam peixes vermelhos.
O operador, mettendo a mão na agua, retira o

annel.
Esta sorte é bonita, delicada, e extremamente fa-
cil.
Expliquemo:Pa.
Escolhe-se um
copo grande, que se enche de
agua, e onde se mertem
alguns pequenos peixes
vermelhos,
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 200)

Contra as
paredes interiores do vidro adapta-se
tira de téla de caoutchouc
uma preto, á qual se
prende
um fio, tambem preto, que se deixa ficar pendente
alguns centimetros fóra do copo, e á extremidade
fica de fóra, ata-se uma rôlha de
cortiça.
que
E claro que esta rolha ficará pendente do copo
pelo lado opposto ao
.espectador.
Colloca-se o

com o
copo
guardanapo. Ao
tirá-lo, agarra-
se a rôlha, de
maneira a oc

cultá-la e a ti-
rar o caoul-

chouc do copo.
Quanto á

carta, tem-se o

cuidado de col-
lar duas seme-

lhantes costas

com costas a

ennegrecer a

face da que se

mostra ao
pu
blico dois de altura. Ao mergulhar-se
até terços a

carta (a face clara que está virada para o especta-


dor) dá-se-lhe então volta de maneira que quando
sae do copo, a illusão é completa.
Quanto liquido que se ao toma com a colher,
ter-se-ha primeiro o cuidado de deitar n'elle pequena
quantidade de pós de anilina; bafejando primeiro
14
210 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

a colher e lançando-lhe em
liquido o
pó. Logo que
a
agua tocar no
pó, transformar-se-ha logo em tinta

que se vasará no
prato.

Fazer passar uma moeda atravez


d'uma mesa

Com lenços e moedas fazem-se varias sortes que,


embora muito conhecidas, agradam sempre que se

repetem. -A de fazer passar uma moeda atravez

modo
d'uma mesa, executa-se do seguinte :
A moeda que ha-de servir para executal-a, tem

uma bolinha de cêra pegada no centro. Pede-se um

lenço e uma moeda egual á nossa, fingindo-se co-

brilia com o lenço, dobrando as quatro pontas d'es-


te, mas sobre a nossa moeda que substitue aquel-
la. Ao praticar esta
operação aperta-se comos de-
dos primeira que ella fique
a
ponta para pegada
á moeda. Isto feito, colloca-se no meio da mesa

uma chavena de café com o


competente pires.
Com a mão direita, que occulta a moeda do es-

pectador, pega-se na chavena e leva-se debaixo da


mesa ao sitio correspondente ao pires que ficou por
cima. Com a mão esquerda pega-se no
lenço, e

faz-se ademanes de desdobral-o para que a moeda


caia no
pires.
Com efeito, assim se faz, de modo que a nossa

moeda toque n'elle ;:mas que, como está pegada á

ponta do lenço, apenas faz ruido ao cair não fican-


do ali. Em seguida a mão direita, que tem a cha-
vena, deixa cair n'ella a moeda, produzindo o seu

som
correspondente; parecendo assim que, depois
de tocar no
pires, atravessou a mesa
para ir parar
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR Z11

-4 chavena. Levanta então o


prestidigitador o
lenço,
-que traz
comsigo mocda, a e mostra triumphante
a chavena ao
espectador que encontra n'ella a sua

-moeda, e devolve ao outro espectador o lenço, re-

tirando com cautela a moeda artificial.

Os aros soltos e
entrelaçados

Esta sorte é de muita illusão e na verdade muito


facilde se executar, se bem que n'estes ultimos

tempos em
qualquer praça publica se vê um char.
latão causando prodigios de maravilha com tal sor.
te. Vamos dar a
descripção d'ella, certos de que
não haverá um só amador, que não a conheça, que
deixe de ensaial-a.

Compõe-se de seis aros de ferro ou de metal,


«cujo diametro- é de vinte centimetros e a
grossura
«do arame de uns oito millimetros. Todos estes aros

«menos um, estão perfeitamente fechados e solda-


dos entre si, mas tres estão soltos e dois entrela-,
unico
cados um com
outro. 'O aro que não está
fechado tem uma abertura d'um centimetro entre

os dois cabos do arame que o fórma.


Escuzado será dizer que o
prestidigitador deve-
rá ter constantemente o dedo pollegar posto sobre
esta abertura para que não se note.

Ora bem; collocam-se os aros uns sobre outros,


os tres soltos por cima, os dois entrelaçados no

meio e o aberto por baixo. Mostra se este monte,


fingindo que se contam em voz alta, e distribuem-
se
depois os aros soltos entre os
espectadores pa-
ra
que os examinem. Quando todos se
asseguraram
«de que os aros estão effectivamente bem soldados
212 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

e não teem nenhum


artificio, o prestidigitador pro-
põe a algum espectador petulante ou presumido de
sabio, que os entrelace entre si, mostrando a ma-

neira de o fazer, isto é, pondo á vista como a coi-

sa mais natural do mundo os dois aros entrelaça-


dos, os quaes entrega aos espectadores para que
vejam se estão bem entrelaçados.
Aqui começa a surpreza dos espectadores, du-

plamente augmentada quando recolhendo o


presti-
digitador os dois aros entrelaçados os enlaça com

o que ficou na mão (que é o da abertura), e to-

mando depois outro dos tres soltos, o enlaça tam-


bem com o da abertura, formando assim uma ca-

deia de quatro aros.

Por ultimoentrelaçam-se os dois aros restantes

no aro da abertura, de maneira que todos elles fi-


cam assim juntos uns com os outros
; tudo isto com
muito movimento de mãos, muito palavreado, mui-
“to enlaçar e desenlaçar os tres aros soltos no aber-
to, para que a illusão seja completa.
O cofre pesado. ou o decimo terceiro
trabalho de Hercules

Hercules executou doze trabalhos, que na anti-

guidade o fizeram elevar á cathegoria de semi-deus.


Apesar da sua
força sobrenatural, ha uma
empreza
que, talvez elle não podesse executar, se o destino
lhe tivera reservado esta decima terceira prova.
Não julgueis que se trata de exterminar uma nova

hydra, a quem se cortavam ascabeças e constan-


temente appareciam outras para as substituir, ou

de combater um
segundo leão de Nemêa; trata-se
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 213

de levantar cofre
apenas o pequeno que eu sustento

n'este momento com um dedo. Este cofre tem, com

effeito, uma
singular propriedade: é de ser umas ve-

zes extraordinariamente leve e outras d'um peso


tal que, repetimos, Hercules não teria sido capaz
de o fazer mudar de logar, se não conhecesse o se-

gredo de lhe tirar o


peso. Vejamos, se á mi-
graças
nha sciencia, não terei alguns direitos a um dizimo
de divindade. -

Ponho o cofre em cima d'este pequeno pedes-


tal, d'onde cada um
póde ainda levan-tal-o facil-
mente. Uma creança acaba de o fazer sem o me-

nor custo. Toca-lhe agora fazer outro tanto, se-

nhor, se lhe convém. Com os diabos! o cofre re-

siste; agarre-lhe com as duas mãos. Não receie em-

pregar todas as suas forças: tem feito um sem nu-

mero de esforços, e o nosso cofre ainda senão mo-

veu a
grossura d'uma linha, do logar onde está.O
seu visinho, apesar de todas as
diligencias que faz,
e de todaa energia que desenvolve, não é mais fe-
liz. Não qqero ter
segredos para vós, dir-vos-hei
já: que basta assoprar no meu cofre, para lhe dar
toda a flexibilidade. Já assoprasteis? muito bem,
agora podeis levantal-o se quizerdes, até com uma

linha.
Alguns espectadores não acreditarão, por certo,
no poder herculeo do nosso assopro; mas como

naturalmente não teem observado que a


parte de-
baixo do nosso cofre é uma chapa de ferro, e não
saberão, talvez, que a extremidade superior do pe-
destal é um electro-iman, fal-os-hei admirar, tor-

nando pouco a pouco facil e impossivel a elevação


214 MANUAL DO PRESTIDIGIFADOR

do cofre. Para isso será necessario que d'um


logar
onde ninguem ajudante, por meio d'um.
veja o vosso

fio de ferro, sob o pavimento,


passado ponha ou.
não, o electro-iman em communicação com uma

pilha electrica. Hercules ahi teria despedaçado a

sua maça.
A cabeça fallante

A experiencia da cabeça fallante é uma das mais.


curiosas applicações dos espelhos á physica recrea-

tiva.
Não ha ninguem que não tenha visto esta expe-
riencia em
quasi todos os theatros e feiras.
O especta
dor chega à

entrada d'uma

pequena sala,
onde não pe-
netra, mas vê
uma mesa de
+
tres
pés. Em
cima d'ella es-

tá uma cabeca

humana, col-
locada sobre
um en-
panno
sanguentado, e no centro de um
grande.
prato Esta
cabeça meche os olhos e falla,
respondendo a to

das as
perguntas que se lhe dirigem.
O corpo do homem que desempenha o papel de

decapitado está commodamente sentado por baixo


da mesa ;-dissimulam-lhe o corpo dois espelhos es-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 2z15

tanhados formando angulos de 45º graus com as

paredes lateraes, de maneira tal que a


imagem de
estas paredes coincidindo com a
parte visivel da

parede do fundo da sala, pintada de côr egual, en-

cobre a figura.
Uma balaustrada conserva o publico a distancia
e uma luz alvacenta torna a illusão mais comple-
ta.
,

A bella Galainéa

A MULHER SEM CORPO

Produziu verdadeiro as-

sombro entre nós o


phenome-
no
que appareccu sob a de-

nominação de Bella Galathea.


Uma perfeitissima illusão que
vamos esclarecer aos leitores.
A scena em que se. exhibe
este phenomeno é coberta de

preto com o tecto listrado e

ornatos dos lados, más só na

frente. Sobre a face do theatro candieiros com re-

flectores luz é
cuja dirigida para os
espectadores ;
a claridade da sala será sufficiente para illuminar
a scena que não recebe nenhuma luz directa. Ao
meio pende um trapezio e sobre esse
trapezio um

busto de mulher: a cabeça falla, os braços mo-

vem-se, atiram flores, desarmam o trapezio e o

busto fica no vacuo.

Explicação ——-

A parte inferior do corpo da mu-

lher, coberta até ao


peito com um fato de velludo

preto, está deitada sobre uma


prancha horisontal
216 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

partindo do fundo vindo terminar


e no
trapezio ;
esta prancha é suspensa por cordas pretas para po-
der balancear.
Na extremidade da prancha está um busto falso,
ao qual a mulher encosta o peito e sobre o qual

deixa apparecer a cabeça. A gravura acima dá o

detalhe exacto da installação.


DD LO QUEBD DEI DRDS

essa
SIRI
sESDASDÇES:
s
78)SERSATER 18 EE 1280)

PARTE 1V

Magnetismo

Não é nosso intento escrever


aqui um tratado de

magnetismo animal, nem


profundar os maravilhosos
effeitos do
hypnotismo, magnetismo e
suggestão.
Nas primeiras edições d'este Manual tratou-se este

assumpto muito dificientemente, depois, porém que


visita do soberbo
recebemos a
fascinador, como
lhe
chamavam, do grande Onofirof, aventurámo-nos a

um trabalho mais claro


explicito, compulsando e

para esse fim opiniões medicas


varias de França,
onde a sciencia do hypnotismo é.em geral adoptada,
tanto em hospitaes, como nas prisões, e sempre com

o melhor exito.
O grande successo de Onoffrof consistia justa-
mente na maneira facil de hypnotisar qualquer in-
dividuo que se
apresentasse.
Estes trabalhos deram motivo a que em
quasito-
218 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

das salas a identicas


as se procedesse experiencias
entre curiosos, chegando, segundo nos consta e al-

guns casos observámos, a colherem resultados sa-


.

tisfatorios.
Julgava toda a
gente que hypnotisar um indivi-
duo era uma arte, facil de aprender-se como a ma-

gia ou
qualquer outra, e corriam ás livrarias em

busca d'um livro que os auxiliasse nas referidas ex-

periencias.
Bem ao contrario, e como dizia Onoffrof, o
hy-
pnotismo não se
aprende, é natural da pessoa que
O executa, cujo temperamento mais ou menos se

presta a um resultado facil.


Para tornarmos conhecidos os
segredos d'esta sci-
encia escrevemos
agora amplo. este tratado mais
A adivinhar,
arte deque no dizer de alguns tanto
se
approxima do magnetismo e do somnambulismo,
podia por certo ser
aproveitada no descobrimento
de grandes thesouros e de grandes melhoramentos

que nos
regenerassem completamente; ao contrario,
apenas vêmos que os individuos que executam e

propagam maravilhas,
essas precisam andar pelos
theatros angariando alguns tostões.
Deixemos porém estas considerações, e entre-
mos no
assumpto a
que nos dedicamos, começando
pelos differentes modos de magnetisar uma
pessoa,
para adivinhar durante o tempo do somnambulis-
mo, tudo o
que se
passa no universo!
As pessoas proprias para mais ser magnetisadas
são as
pouco gordas, um tanto nervosas e de al-

guma inteligencia. É claro que seria tempo per-


dido intentar magnetisar um
corpulento e boçal cam-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 219

ponez, não podendo um operador, por mais habil


que fosse, dispor d'um fluido com a força de tre-

zentos cavallos. -

Onoffrof provou innumeras vezes a


impossibili-
dade de hypnotisar uma
pessoa nutrida.
*
*o *

Sob o nome de magnetismo designa-se um con-

juncto de estados particulares do systema nervoso,


determinados por execuções especiacs. Distinguire-
mos
magnetismo
o official ou
liyprotismo e o ma-

gnetismo não official.


Afóra das experiencias scientificas, é sempre de-
testavel, não nos cansaremos de repetir, provocar
o somno
magnetico.
Em Lisboa foi prohibida, pelo menos publica
mente, exhibição a de taes experiencias.
Expõe-se portanto aos rigores da lei quem hoje
tentar espectaculo identico.
O hypnotismo determina um
somno especial de-
nominado hypnose, pela fadiga ou
surpreza dos
sentidos com auxilio de differentes processos.
Onoffrof usava collocar sujet o de costas na sua

frente, e, com as mãos espalmadas, mas tocando-


lhe simplesmente com os dedos nos hombros em

direcção da espinha dorsal, conseguia promover a

hypnose.
Com a força magnertica de que dispunha, tocando
os sitios mais sensiveis do individuo, em
poucos
seufim. o olhar
momentos alcançava o Depois, com

fixo no olhar do sujet e com um só dedo collocadô


á altura dos olhos d'este, movia o hypnotisado e
220 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

operava todá a casta de experiencias que adiante en-

contraremos.

Pelo processo de Braid, um celebre medico fran-

cez, toma-se um objecto brilhante qualquer, collo-


entre os dois olhos do sujet, um
pouco acima
ca-se
da fronte (uns 15 a 20 centimetros de distancia) de
maneira que elle seja obrigado a entortar os olhos
para o ver, ordenando-se-lhe que o fixe bem. É
mister que O
sujet não opponha resistencia, que
obedeça como uma creança e afaste do seu
espirito
qualquer ideia que o possa distrahir. Os olhos tur-

vam-se em breve, humedecem-se de lagrimas, de-


pois fecham-se.
O sujet está em estado de hypnose, isto é, pos-
suido do hypnotico.
somno

Na Escola da Salpêtriêre, de"que era director o

falecido professor Charcot, applica-se outro pro-


cesso, sobretudo nas
hystericas.
O sujet é collocado diante d'um foco de luz in-
tensa (gaz, luz electrica, etc.) e recebe ordem de o

fixar. Pouco a pouco torna-se immovel, com o olhar


fixo, em
catalepsia.
Os membros flexiveis conservam facilmente as

arritudes, embora as mais extraordinarias, a


que
submettem. Por
se

duas
exemplo : colloca-se o
corpo do
sujet entre cadeiras, das quaes uma o sus-

pende pela cabeça e a outra pelos pés, para se de-


monstrar a rigidez cataleptica. Onoffrof seguia tam-
bem este
processo, e accrescentava esta experien-
cia mandando pôr um individuo de pé sobre o

do sujet,
peito
É no
periodo das altitudes apaixonadas que o
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 221

sujet executa os actos em harmonia com a


posição
que se lhe dá ; assim juntando-se-lhe as mãos, reza ;
collocando-se na attitude d'uma pessoa gelada, sente

aimpressão d'um frio atroz, mettendo-se-lhe na mão


uma
bengala, suppõe que está a
pescar, etc.

Póde receber ordens ou


allucinações.
Se se abandona volta ao estado em
que estava

precedentemente ; se se impede a luz de o alcan-


çar, os seus olhos voltam-se para as sobrancelhas,
sobaacção de pequéhas pancadas batidas nos ten-

dões. N'este estado não recebe acção do seu ma-

gnetisador.
Se lhe abrem os olhos volta á catalepsia, es-

fregando-se-lhe ou apertando-se-lhe a nuca


cae em

somnambulismo : os seus olhos estão fechados, pa-


rece dormir naturalmente.
Tem os sentidos extremamente excitados ; facil-
mente se lhe provocam allucinações impulsões
ou

authomaticas por suggestão ou


por simples injunc-
ção.
Um golpe de tam-tam o reduzirá a uma
posição
de estatua. A
contracção dos musculos será tal,
que antes partiria os braços que os deixaria vergar.
“Taes são as tres phases do somno
hypnotico. Vo-
dos os sentidos impressionados vivamente, produ-
zem a
hypnose: o ouvido ferido pelas vibrações
d'um enorme
diapasão resonante sobre uma caixa
sonora, o som ruidoso d'um gonzo, etc.

Outro processo usado pelos magnetisadores é o

seguinte :

Manda-se sentar o sujetna nossa frente, cravam-

se-lhe os olhos com ar de auctoridade, agarra-se-


222 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

lhe o dedo pollegar em cada mão fechada e aper-


ta-se fortemente. Ao fim de pouco tempo o sujet
invadir. todos
sente um
entorpecimento os seus

membros superiores.
Fazem-se en-

tão mo-
passes:
vimentos uni-
formes e lentos
executados de
alto a baixo
com as mãos

estendidas a

dis-
pequena |
tancia dos
olhos, da fron-
te, do corpo do sujet.
Ordena-se-lhe que durma, fazendo-lhe ouvir o

tic-tic d'um relogio. Ha muitos magnetisadores que


julgam ter a necessidade de concentrar toda a sua

vontade sobre a ideia de impôr o somno ao sujet,


quando este pense em outra coisa.
Em certos casos sujet
o adormece (tendo-se os

dedos pollegares agarrados) fixando os olhos do seu

magnetisador, que tem os seus olhos tão immoveis

quanto possivel.
O pespertrar —

Convém sempre despertar o seu

sujet com o maximo cuidado, sob pena de o ver

soffrer gravemente. Sopra-se-lhe ligeiramente so-

bre os olhos ou na fronte até que o sujet esteja com-

pletamente acordado. Póde-se obter esse sopro com

a ajuda d'um folle se fôr necessario. Póde-se tam-

bem lançar algumas gottas d'agua ao rosto do sujet.


MANUAL DO PRESTIDIGIÉADOR 223

Póde-se activar o despertar por meio de-ihjunc-


ções fortes, reiteradas e intimativas :

Desperte, man-
do eu... Deve-se sempre perguntar ao
sujet 'se

está bem acordado e se não soffre, e não se deve


abandonal-o senão depois de obtido esse resultado.
Se surgisse o menor incidente desagradavel seria
conveniente mandar logo chamar um medico.
SussesrÃo
— Phenomeno mal definido que con-

siste influencia
na
—de perto ou a distancia —

da
vontade d'um magnetisador (certos auctores dão ao

magnetisador o nome de medium) sobre o seu su-

jet ou em substituição da vontade do medium pela


do seu set.
Para o Dr. Liebault, suggestão impõe-se ao es-
a

tado de vigilia. Toma um


suje! e, pousando lhe a

mão na testa, diz-lhe com convicção: «O senhor


vae dormir.» Depois fecha-lhe os olhos, asseguran-
do-lhe que dorme. Insiste até que a sua convicção
tenha passado para o seu sujet e
que este, sob a

acçãode suggestões reiteradas, adormeça realmente.


Outros ha que principiam por ordenar as cousas

mais simples : «Levante-se, erga os


braços, câmi-
nhe», depois passa-se insensivelmente ás mais com-

plexas, até á obediencia passiva, e


por fim faz se
executar ao sujel ordens dadas mentalmente. E
este modo se lhe faz crer que está suando, que
está velho, que mudou de sexo, que uma das pes-
soas
presentes não teni cabeça, apesar de trazer
chapeu, que vê uma serpente, que uma batata é
uma etc.
pera,
O macnETISMO (não official) —

Produz os mes-

mos resultados que o


hypnotismo, mas
pretende
224 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

estudar além d'isso as relações que pódem existir


entre todos os seres.

Essas
relações seriam devidas a uma força par-
ticular, imponderavel, invisivel (fuido dos magne-
tisadores, od, força universal, etc.)
*
* *

Os estados prorundos da hypnosc

Em França houve alguem que se applicou a mos-


trar
que, depois de se ter feito passar o
sujet pe.
las acima usadas Sal- a
tres phases descriptas e na

pêtriere, se a
experiencia fosse feita por meio da
corrente electrica d'uma pilha, d'um iman, etc., o

sujet passava ao estado de comiminicação, no qual


não percébe, ao que parece, senão os toques, os

sons, etc., que provém do seu magnetisador. O


mundo exterior não existiria para elle, fóra do seu

magnetisador. O sujet, em um
grande estado de

socego, vê um fluido (od de Reichenbach) escapar-


se
d'aquelle. Se se levasse ainda mais longe a ex-

periencia, o
sujet, cahido em estado de lucidez, po-
deria ser
posto communicação
em outras pes- com

soas além do seu magnetisador, e veria então a sua

conformação interior por communicação á sua (so-


mnambulos que vêem).
ExTERIORISAÇÃO DA SENSIBILIDADE No estado de —

communicação o sujet perde'a sensibilidade da pelle,


mas forma-se a alguma distancia d'elle uma espe-
cie d'atmosphera sensivel, que não é senão a sua

sensibilidade exteriorisada (sahida do exterior). Se


o
magnetisador picar o
sijet, este não sente nada;
DO PRESTIDIGITADOR 225
MANUAL

mas se o
picar na cantada sensivel, o
sujet sente a

picada. Esta atmosphera poderia estender-se a va-

rios metros e atravessar as


paredes.

O espiritismo é um
corpo de doutrinas que
tenta explicar uns phenomenos ainda mysteriosos :

os
espiritos que veem a manifestação do espirito
do
homem(a sua parte immortal) que persiste de-
pois da morte e
que póde communicar
com os vi-
vos. Reconhece-se em
geral, a acção d'uma força
material e inintelligente (força psychica, ver mais

longe).
Nas experiencias de
espiritismo chama-se medium
um individuo dotado, segundo se diz, d'uma força
especial, que lhe permitte obter certos phenome-
nos.

Aquelle que obtem as


pancadas produzidas por
uma mesa chama-se typtologo.
Para chamar o espirito, sentam-se silenciosamente
em redor duma mesa de pé de gallo e collocam-se
as mãos estendidas em cima sem a carregar. Sôb
a
acção do medium, ao fim de ro a 30 minutos, os

operadores sentem uns


formigueiros nos membros
superiores: pouco depois ouvem-se realmente rui-
dos semelhantes a
pancadas, depois a mesa oscilla
e
entrega-se (sem contacto) aos movimentos mais
desordenados.
Pretende-se corresponder com os espiritos escu-

tando o numero de pancadas ou o numero de ve-


15
226 MANUAL DO PRESTIDIGIFADOR

zes que a mesa se levanta depois da convenção;


1
pancada: sim; 2: não; 3: sim, muito bem e 1:

a;2:b;3:c;etc., até 25:


7.
Juntam-se em
seguida as letras recolhidas na or-

dem em
que ellas foram dictadas.
Os mediums escreventes tem um
lapis na mão, o

qual deixam guiar pelos espiritos, e recebem assim

communicações. Os mediwms de correspondencia di-


recta operam assim: atam-se juntas duas ardosias
cuidadosamente verificadas e contendo entre ellas
um bocado de penna de ardosia. Quando se de-
satam, sob a influencia do medium ou dos espir)
tos, estão cheias de letras.
Os mediums de materialisação caem em um

somno
particular (medianico) e durante esse
tempo
desdobram-se ou
prestam a sua força vital aos es-

piritos que se manifestam e


que, até, tem sido pho-
tographados.
O medium adormecido, a
pedido dos assisten-
tes, quefaz tragam os
espiritos pare atravez das
des objectos vindos de distancias incriveis.

Força PSYcHICA —A parte menos extraordinaria


dos phenomenos acima descriptos é attribuida a

uma força psychica, ainda mal definida, mas cuja


acção teria sido apreciada mathematicamente com

o auxilio de dynamometros. Segundo os adeptos,


as
experiencias de Crookes em
Inglaterra são con-

cludentes. ellas substancia


Comprehendem em
:
movimentos de corpo de peso sem contâcto; phe-
nomenos de percussão e de reunião de sons; va-

riação do peso dos corpos ; apparições luminosas ;


correspondencia directa, etc.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR
.
227
As:

Foi esta sciencia tambem objecto de lucubrações


de espirito e
que em tempos chegou a ter, entre
nós, as honras de monomania.

o gallo hypnotisado

colloca-se n'uma mesa de


Agarra se
gallo e
um

côr escura,
Applica-se-lhe o bico n'um determinado
ponto A da mesa e mantem-se o animal nesta po-

sição traça se sobre a mesa, com um


pe-
daço de
emquanto
giz, linha uma branca A B. O animal se-

olhos traçado da linha, e


quando
guirá com os o

ella tiver attingido 40 a 50 centimetros, ficará em

A immobilidade será
estado de perfeita catalepsia.
olhar conservar-se-ha durante um mi-
rigorosa e o
nuto parado, como obedecendo a uma força estra-

nha e
superior.
A experiencia produz os mesmos resultados tra-

cando uma linha preta n'um mesa de


casquinha.
As gallinhas são rebeldes ao
hypnotismo.

seg
annnnnanano ansnanon! JNODNDENSPONNDO POIS
NARA
NRO
NE
NNDa
DO
LO
peNA

Fissorsssesadsore:

PARTE V
x

Sombrinhas chinezas

curioso
Um dos
e
divertimentos
faz
mais
a
antigos
o vê
massempre-
um bocado.
que passar quem
de noite delicioso, é por certo o das sombrinhas chi-
nezas, outr'ora muito em voga nos melhores thea-
tros e salões do mundo.
A recente exhibição de Theo no
Colyseu de
Lisboa, veio despertar entre nós o
gosto por este

genero de diversão engraçado e delicadissimo.


A historia da sombrinha chineza vem de longe.
Começou pela sombra do pequeno coelho,-que toda
a
gente sabe
fazer, e foi evolutindo até chegar ás
mais complicadas e extraordinarias combinações
de luz.
Um pobre diabo, diz-se, ganhou a vida durante
“muitos mezes, indo representar, com a sombra que
as suas mãos projectavam, nos salões mais aristo-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 229

craticos de Paris, o
perfil de Luiz XVI, ou o de
Robespierre, conforme a côr politica, rubramente
piegamente realista dos espectadores
jacobina, ou

perante os
quaes se exhibia.
As figuras mais faceis de representar teem sido
innumeras vezes publicadas em livros e em jor-
ã

naes.

Temol-as encontrado, sem as mais pequenas


variantes, nos almanachs francezes, nas velhas bro-
churas allemãs, em
prospectos, em annuncios, em

toda a
parte emfim onde pretende chamar
se pelo
reclame a atenção do publico. Ultimamente, em

Paris, montou-se um estabelecimento, especie de


agencia annunciadora, devéras curioso no
genero.
N'um grande quadro branco o publico vê passar
por diante dos olhos as mais extraordinarias coisas
que é
possivel imaginar.
Assim, por exemplo, trata se de fazer um 7é-
«clame a certo remedio infallivel no curativo de to-

das as doenças. A historia maravilhosa do especi-


fico divide-se em varios quadros.
Primeiro apparece o interior de uma humilde e

pobre mansarda. Moradores :

um rancho de
peti-
zada e a mãe e o
pae, este ultimo quasi agonisan-
te n'um esfarrapado catre. A mulher chora e ar-

repela-se; o homem contorce-se em dôres; os


pe-
quenos brincam descuidosos. De repente, a. espo-
sa batendo com a mão na testa, como se uma idéa
subita inspirasse,a sae correndo.
Mutação. O segundo quadro tem o mesmo sce-

mario. A porta abre-se e a mulher entra


seguida
por im sujeito de chapéo alto e oculos. É um me-
250 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

dico.Tóma pulso ao doente,


o vê-lhe a
lingua, aus-

culta-o. Depois, n'uma tira de papel escreve


qual-
quer coisa, faz mil recommendações e sae, seguido-
ainda da mulher que vae á botica, regressando
pouco depois com um
pequeno frasco.
O doente toma uma colher de remedio e então.
faz-se o
milagre. O homem ri, a mulher dança e

os filhos levantam ao ar os bracitos: em signal de

alegria.
Quem fez o milagre ? —

pergunta em grandes
lettras negras uma comprida tira que de subito ap-
parece'no quadro.
Dijlo a nova mutação: um
grande cartaz onde
se annuncia o remedio, o seu custo, os locaes da

venda, etc.

Como vêem é a mais famosa applicação das som-

brinhás chinezas.

“8 *

Para dar um
pequeno -de espectaculo de sombri-
nhas a diminuto numero espectadores, bastará
dispor de uma
parede branca e d'uma vela ; no cen-

tro collocar-se-ha o operador. N'uma parede de côr


sombria, poder-se-ha obter o mesmo resultado, fi-
xando com quatro alfinetes uma folha de papel
brarico.
A differente é
disposição-torna-se quando nume-

rosa a assistencia.
Os espectadores estão n'esse caso collocados
n'uma sala ás escuras, tendo em frente uma por-
ta aberta, diante da qual está estendido um
peda-
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 231

TR

co de
panno que se póde tornar mais transparente
molhando-o ou dando-lhe com um pincel uma ea-

mada de verniz copal. Este ultimo processo, só

póde todavia empregar-se quando o


panno está fi-
xon'um quadro. O panno envernizado não poderá
dobrar-se ou enrolar-se sem ficar pegado.
Quando se quer dobrar o panno ou enrolá-lo nas

reguas em
que está pregado guisa á de mappa
geographico, é necessario prepará-lo da maneira

seguinte :
Dissolvem-se em banho-maria, a calôr brando,
20
grammas de cêra branca em 100 grammas de
essencia de terebentina: corre-se depois uma. ca-

mada d'esta composição sobre o


panno e passa-se
por elle um ferro quente de engommar.
Eis uma
disposição bastante commoda e
que
apresenta a
vantagem de poder ser
aproveitada
familiares
tambem para pequenos espectaculos co
-
nhecidos, taes como o theatro das sombras chine-
zas, ou silhouettes com cartas cortadas.
No vão de uma porta colloca-se um grande.chas-
sis portatil que se fixa, na occasião em
que é pre-
ciso, por quatro pequenos cunhos de madeira, cra-

vados com força entre a moldura da porta e as bor-


das do chassis, que, construido especialmente, de-
ser um
pouco mais pequeno. Dois pequenos bas-.
ve
tidores, pregados horisontalmente chassis, po- no

dem receber um
pequeno quadro movel que se

mette de lado, e
que se
compõe de um
panno liso,
envernizado e bem estendido, ou de decorações
especiaes que sirvam para o
espectaculo que se

pretende dar.
232 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

EEE RA EEE A

IPPAR SEIOS

Seja qual fôr o


systema seguido, dispõe-se, a

quasi um metro distante da parte de traz do qua-


dro transparente, e a a tura regular, uma véla ou

qualquer outro genero de illuminação, mas tendo


o cuidado de que os raios luminosos se não espa-
lhem muito, pois que assim se
prejudicarão os ni-
tidos contornos das figuras.
O artista colloca-se entre o
panno e a luz, a um

lado da scena.

Quanto mais approximadas do quadro estiverem


as mãos, tanto mais a sombra será pequena, mais
nitida e recortada. Se, pelo contrario, as mãos se

approximam da luz, a sombra projectada será


maior e mais diluida, e, por conseguinte, menos

nitidos os contornos das figuras.


Tomando na devida conta o que deixamos ex-

posto, poderão obter se sombrinhas de differentes


dimensões, e, até certo ponto, proporcionadas, con-

forme tiver de
o
que representar-se no panno : um

boi ou
esquilo, um
pombo elephante, um ou um

etc. O
pulpito deverá ser maior do que o
prega-
dor, “a cabeça do advogado maior do que a sua

mão gesticulante.
As mangas do casaco do operador devem ser

levantadas ou conservarem-se na posição normal,


conforme convier.
é

Seria um erro
suppôr que um
espectaculo de som-

brinhas chinezas consiste em representá-las tal qual


as vemos nos desenhos, immoveis e mortas. Pelo

contrario, ha toda a necessidade e conveniencia em

dar-lhes animação, dar falla ao homens, gritos aos

animaes ou... vice-versa.


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 2 vwq

Passemos agora é execução de algumas sombri-


nhas, com a
promessa de nas successivas edições
d'este manual continuarmos a série, se o genero
agradar á maioria dos leitores.
Numero 1 da nossa
estampa. A mão esquerda,

isolada primeiramente em posição, dá o perfil do


pulpito, com o
respectivo baldaquino.
Apparece de subito sua reverencia. Avança ma-
gestosamente para o pulpito, galga sem duvida a

pequena escada occulta e


depois vemol-o surgir
com barrete de pedacitó
o seu

de papel recortado.
pequeno
feito
um
234 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Começa o sermão, seguido de gestos comedidos.


i preciso não esquecer que o pulpito deve conser-

var-se firme durante a scena.

Passemos ao numero 2 : um
advogado; os seus

gestos vehementes demonstram até que ponto o

causidico toma a
peito os interesses do seu cliente;
deve fallar muito e gritar ainda mais, pois que a

bôcca se lhe abre de maneira assustadora. A ca-

beça agita-se-lhe, e n'um movimento de eloquencia


pathetica, dá em terra com o barrete; pega então
no lenço c
limpa as camarinhas de suor
que lhe
perlejam a fronte ampla intelligente.
e

Não se deve esquecer para a exhibição d'este nu-

mero, que a mão que gesticula deve estar constan-

temente o mais proxima possivel do quadro; a ou-

tra mão, que fórma e


figura do advogado, conser-

va-se um
pouco mais affastada.
Á nossa figura podemos 3 encarregar de an-

munciar ao
respeitavel publico o
programma do

espectaculo. Se tivermos todo o cuidado de collo-


car na extremidade do papel que lhe representa
o chapeu um
pedacito de cêra virgem amollecida
ao calor dos dedos, o
pollegar da mão direita ap-
poiando-se n'essa bolinha
representará a de cêra,
personagem tirando o chapeu para cumprimentar
os espectadores, e tornando-o a pôr em seguida na
cabeça. Esta mesma personagem póde ainda ser-

vir para a
representação de uma scena comica»
“alternando com as duas figuras seguintes.
O numero 4 é um commissario de policia que
vem bater á porta da casa, formada pela sombra
da cabeça do operador, cujo ouvido é a porta, eo
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 235

cabello reproduz uma


especie de terraço. O pro-
prietario sóbe a este terraço, e falla com o com-

missario. A conversação torna-se acalorada, ha


de
uma troca insultos, depois sôccos e
por ultimo
-
entra-se no caminho das explicações. Para imagi-
nar a comedia, basta ter-se assistido uma vez a

qualquer representação de fantoches. Bem enten-

dido, é sempre o commissario o batido. Este des-

graçado mostrando-se no numero 6 da nossa


gra-
vura, faz-nos ver positivamente que não está muito
á vontade.
Mas eis que nos apparece o numero
7, uma bella
cabeça de excellente pae de familia.
O numero 8 é um indio que foi á ultima exposi-
ção de Paris e lá ficou no Jardim Zoologico.
O numero 9, é uma
personagem que, graças á

disposição dos dedos da mão esquerda do opera


dor, póde mudar de cara como
qualquer de nós
muda de camisa. Tal qual o
representamos, é tal-
vez
photographia
a de um sujeito que nos
apoda
de assassinos depois que matámos o commissario.

Emfim, o numero 10 é um
pretinho da Guiné,
a quem riada falta para ser um
negro mais verídico
do que os celebres africanos que figuraram no cor-

tejo do centenario da India... nem mesmo a côr.


Vamos terminar dando algumas indicações sobre
os exercicios que devem fazer-se para amaciar os

dedos e torná-los aptos a tomar facilmente todas


as posições necessarias para a execução perfeita das
sombrinhas.
Estenda-se verticalmente a mão, e, mantendo
unidos e immoveis os dedos, dê-se ao pollegar um
236 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

movimento lento e regular, de vai-vem, a .


tocar na

palma da mão.
Faça-se seguidamente executar movimento egual
ao dedo minimo.
Deixando por um lado reunidos os dedos indi-
cador e médio, e, por outro lado, o annular ec o

minimo, affastem-se e
approximem-se successiva-
mente os primeiros dos segundos.
Conservando dobrados interiormente todos os

outros dedos da mão, diligenceiem, o mais possi-


vel, levantar isoladamente cada um dos dedos de

per si.
Emfim, conservando a mão estendida no sentido
vertical, faça-se executar um movimento de balan-
co, de diante para traz, a cada dedo, deixando os

outros unidos e completamente immoveis.


Muitos d'estes exercicios parecerão à primeira
tentativa impossiveis de realisar com exito, mas a

pratica demonstrará a facilidade de habituar a mão


ao
que se deseja.
É questão de paciencia, nada mais.
TERRE
Se TESério Sariga
SS
OOOOCSGOOCÓGOSS: O
PUC IEEE
GSO
INICIE DALI Der A

APPENDICE

Sortes diversas

O chapeu enfeiticado

Meus senhores, vamos fazer apparecer aos olhos


de V. Ex.'S novas manifestações espiritas.
Tenham a bondade de emprestar-me um
chapeu.
Muito bem. Agora metto-lhe dentro,
por minha
conta .. a
cabeça de um Espirito (!) e colloco o

dito chapeu com a supradita cabeça n'esta mesa.

Podem interrogar o chapeu... perdão, eu que-


ria dizer o
Espirito. Responderá a todas as
per-
guntas de V. Ex.º* e dirá mesmo aquillo que não
se lhe perguntar (num tom lugubre):
!...
Que os
sujos de consciencia tremam !

Espirito, estás disposto a dar-nos dois dedos


de palestra ?
O chapeu levanta-se, como a dizer Sim, senhor : !
238 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Estás hoje de mau humor ?


O chapeu faz um movimento de balanço, da di-
reita para a
esquerda, para dizer não.
—V. Ex.” duvida
sem
suppõem —continua o

prestidigitador —

que ha mechanismo no chapeu ou

na mesa? Pois enganam-se; vejam!

E, sem mesmo tocar no


chapeu, o operador pega
na pequena mesa e leva-a para o meio dos especta-
dores que podem examinar e
apalpar o movel, o

panno da mesa e o
chapeu.
Quando todos teem sufficientemente examinado,
torna-se a levar a mesa
para onde estava.

E inutil encarecer o
partido que se
póde tirar
da situação.
MANUAL DO: PRESTIDIGITADOR 239

Como facilmente se
comprehende, a cabeça do

Espirito é um
simples fio de seda preta' que atra-

vessa a scena
largura;em toda está
a d'um lado
fixo na parede, pega-lhe umdo criado
outro oc-

culto no bastidor. O ajudante levanta o fio a pe-


quena altura quando o prestigitador colloca o cha-
peu sobre a mesa; depois abaixa-o até á frente da
mesa, d'onde o faz passar para traz e
por baixo da
aba do chapeu, que póde assim
ser le- facilmente
vantado. quando é preciso dizer sim.

Quando tenha que dizer não, o fio é puxado até


meio do chapeu e levantado por um puxão brusco
que lhe imprime um movimento de balanço.
Quando o prestidigitador se
approxima para pe-
gar na mesa e mostrá-la aos
espectadores, o fio é

passado com precaução para a frente sobre a mesa,


depois passado por cima do chapeu e, de novo, le-
vantado á maior altura possivel.
Completa-se a experiencia por uma sorte que
produz muito effeito. Durante o tempo que o cha-
peu se
entrega a uma dança das mais agitadas, o

magico conservando-se a distancia, convida os es-

pectadores a
approximaren-se do chapeu, se não
tiverem medo, para constatarem que não está prezo
a coisa nenhuma.
Aqui, o criado que faz mover o fio deve estar o

mais attento possivel; continua a dansa até ao mo-

mento em
que qualquerespectadorcurioso se
ap-
proxime da mesa.
Logo que note haver perigo de
ser visto o fio, puxa-o força, parte-o
com e retira-se
cauteloso, sem ser presentido.
N'uma sala pequena o ruido produzido por um
240 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

fio que se
parte poderá ser ouvido; n'este caso, é

preciso empregar um fio duas vezes mais comprido,


que se faz passar por detraz de uma
pequena rol-
dana fixa do lado opposto áquelle onde se encon-

tra o ajudante, nas mãos do qual vem juntar-se as

extremidades do fio que, d'esta maneira, está do-


brado sôb o
chapeu; no momento opportuno, o

ajudante solta uma das extremidades e


puxa pela
&
outra.

Qualquer que fôr o meio que se


empregue, o fio

desapparece de scena, e os curiosos ficam ignorando


a rasão
porque o
chapeu se movia.

Mas deixou de dansar logo que nos


approxi-
mámos! —-

dirão alguns mais espertos


Certamente ! —responderá

prestidigitador — o

V. Ex.º bem sabemEspiritos teem umque os

horror inveterado aos profanos, e fogem dos teme-


rarios que se lhes approximam.
Se substituirmos o
chapeu por um craneo feito
em
pasta, besunts do de qualquer preparação phos-
phorescente, o effeito obtido será duplamente ma-

ravilhoso. -

O prato quebrado
Mas que medonho azar!
Ora imaginem que, sem saber como, parti este

magnifico prato da India (a tres tostões a duzia em

qualguer loja de louça) presente d'um meu bisavô,


que foi governador em Macau, aminha bisavó, que
o deu a meu avô, que mais tarde o offereceu a meu

pae, que o legou a seu filho que sou eu


aqui pre-
sente, e que devéras fiquei arreliado com a cha-
Jaça... j
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 241

"S
Va E riem-se ?
Pois o caso
por desgraça não tem graça ne-

nhuma.
Ah! e se eu tentasse concertál-o
?
Quem sabe! Estou d'aqui a vêr que V. Ex.“
duvidam.

Pois experimentemos.
Carrego, com os restos que me restam do pre-
cioso prato, em
guisa de projectis,
pequeni esta

de vê espectador
pistola algibeira, (o em seu
logar
dos do seculo passado) feito
um enorme
pistólão e,
isto muito a
preceito, aponto para o
peito de V.
?
Ex. !... não Então para o
chapeu d'aquella se-

nhora... Ah! protesta? Bem; n'esse caso apon-


tarei para esta
parede mas o
peor é ser tão clara,
ah
! eis justamente um fundo de côr conveniente, 16
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

e
que fará sobresair a brancura do meu
prato:
este panno preto que o meu criado deixou aqui, na

cadeira.

Apontar... fogo!
O tiro partiu, e o prato concertado está na ca-

deira !
Mas que vejo !? Falta-lhe um bocado...
Pudéra! Ora vejam onde eu tinha a cabeça.
Como podia o
prato apparecer inteiro, se cu me

?
esqueci d'este pedaço que deixei cair no sobrado
Mas não importa; tudo se arranja n'este mun-

do.
Carrego segunda vez pistola com
a o negregado
pedaço que ha pouco esqueci, aponto novamente e

desta vez ao
prato, e...
fogo!
Eis o
prato inteiro, sem lhe faltar o mais pe-
quenino pedaço.
Mostro-o triumphantemente aos
espectadôres :

Mas o prato que o senhor nos apresenta,

brada-me indignada uma senhora, é um


prato todo

rachado, indigno de se mostrar a


gente limpa!

Ora essa, minha senhora ! —.

protesto um
pou-
co desconcertado por ser o meu concerto tido por
pouco certo. V. Ex.º com toda a certeza se en-

gana...

Tem
graça! Faça favor de vêr...

Approximo-me, e cae-me a alma aos pés


Kffectivamente o meu rico prato da India está

cheio de rachas de todos os feítios.


É um
prato positivamente rachado !
Mas não tem duvida! —

braco subitamente ins-


idéa
pirado por uma que me occorre.
—Possuo um
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 243

tecido magico que é capaz de tapar as maiores ra-

chas d'este mundo.


Pego então d'um panno e esfrego o prato ligei-
ramente.

Milagre ! Os defeitos apontados pela abelhuda se-

nhora desappareceram como


por encanto, e o
prato
parece que saiu n'este momento da fabrica !
Esta sorte tão maravilhosa na
apparencia é, na

realidade, das mais simples e faceis.


N'uma cadeira coberta com um panno preto, col-
loca-se um prato inteiro sobre o qual se imitará
«com um
lapis crayon algumas rachaduras. Appli-
ca-se em seguida, na borda do prato, um peque-
no bocado de papel preto, recortado em fórma de

triangulo isosceles, cujo lado mais pequeno será do-


brado para o reverso do prato e ali fixo com um

pingo de lacre preto a um fio de seda preta; a ou-

tra extremidade d'este fio ficará nas mãos de um

criado, collocado entre bastidores ou n'uma sala


.

contigua.
Corte-se finalmente um bocado de panno preto
quadrado, sufficientemente grande para occultar o

prato; nos dois angulos superiores do panno serão


cosidas as duas extremidades de um fio de caout-

chouc que dará volta a um


pequeno gancho collo-
cado nas costas da cadeira; d'esta maneira o
qua-
drado de panno deve ficar suspenso a maior altura
do que o
prato e deixar este a descoberto. Pe-
gue-se em seguida no panno pela parte de baixo,
bem ao centro, e puchando o fio de caoutchouc;,
faça-se descer at á frente do prato e fixe-se pelo
mesmo
ponto onde se lhe pegou, ao assento da
244 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

cadeira, por meio de um alfinete collocado hori


sontalmente e
cuja cabeça deverá ser
ligada a um

segundo fio preto, que fica egualmente nas mãos


do criado.
A pequena distancia, principalmente
e se as lam-
padas do reflector estão collocadas proximas, em

frente da cadeira, será impossivel distinguir o


pan-
no
sobreposto; para os
espectadores nada mais
será do que panno preto, atirado negligente-
um
mente sobre uma cadeira, por mero acaso.

No momento em que parte o primeiro tiro, o

criado puxa o fio a


que alfinete, está preso o e o

pedaço de panno, assim


liberdade, é brus-
posto em

camente arrastadopelo caoutchouc ; se, nO ensaio,


se notar que ultrapassa. ao saltar, as costas da ca-

deira, cozer-se-hão nos


angulos inferiores, para o

reter, fios que serão prezos a


qualquer ponto da

cadeira.
Ê

A apparição instantanea do prato sobre o fundo

preto, que apparentemente nãc mudou, parece ma-

ravilhosa.
Aó segundo tiro de pistola, o criado puxa o fio
preso ao
triangulo de papel preto, que fazia acre-

ditar que faltava um bocado ao


prato, e este
ap
parece completamente concertido ; pequeno o es-

tojo magico aperfeiçõa a obra apagando as rachas


desenhadas com
olapis.
As bandeiras

Um prestidigitador, minhas senhoras e meus se-

nhores, faz de mil pequeninos nadas coisas mara-

vilhosas.
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 245

Vamos provar a affirmativa.


Reparem :

Pego em tres bocados de papel de côr, cada um

do tamanho d'um bilhete postal —um vermelho,um -

branco, um azul.
Agora amarroto-os nas mãos, formo com elles
uma bola que comprimo, que arredondo c fabrico
d'este modo uma
pequena bandeira.
Bem feito! dirão maravilha-
os
espectadores,

dos com a minha pericia.


Esperem um
pouco, que ainda agóra a
procissão
vai no adro.
Continuo: eis uma
segunda, uma terceira ban-
deira... um pacote de bandeiras que desatro, e

d'onde saem aos montes, por centenas, por milha-


res. Dou-as para a direita, dou-as para a esquerda;
cada espectador tem já uma collecção. Mas a bola
produzir ; a é um nunca acabar de bandei-
contra
ras! dei todaa
E agora que as a
gente, é justo que
reserve para mim a parte do leão, isto é: que es-

colha a bandeira maior.


Um, dois, tres!... Sopro na bola e, eil-a ! cá
está uma bandeira que podia servir para um
regi-
mento.

Esta sorte é graciosissima, e


requer, para ser

correctamente feita, pouca destreza e exercicio.


Para maior facilidade indicaremos a nossa maneira
de proceder, pouco um diversa da usada pela maio-
ria dos prestimanos.
Começo por fazer umas duzentas ou trezentas

bandeiras.
Para tanto, uso o
procésso seguinte :
246 MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

Corto compridas
em tiras de dois centimetros
de largura folhas de papel proprio para flôres, ver-

melho, branco e azul, que depois collo pelas bor-


das no sentido do seu comprimento. Divido em
bo,
cados de quatro centime-
tros de altura a facha tri.
colôr assim obtida e collo
a extremidade azul de ca- B
da fragmento, dobrando-a
um

gado
pouco
arame,
sobre
do compri-
um del-

mento maximo de 10 cen-

timetros e minimo de 8.
Assim obterei em pouco
tempo cnorme
quantidade
de bandeirolas como as

que o leitor póde vêr na

figura A.
Reunindo vinte d'estas
Ç 2
bandeiras, enrolo-as con-

junctamente,apertando-as i
o mais possivel, para as-

sim
mólho
obter
B atado
um massete

por 2
ou

fios
|
|“al
| 3

de sêda delgadissimos.
Faço uma duzia d'estes dA
massetes e metto-os nas
mangas do casaco, no
pei-
to, por baixo do collete, e nos bolsos da minha so-

brecasaca, onde os
prendo com alfinetes.

Emquanto com a mão direita mostro ao publico


as tres pequenas folhas de papel de côr e
que o

braço esquerdo se conserva pendido, ao longo do


MANUAL DO PRESTIDIGITADOR 247

corpo, a mão esquerda recebe um dos pequenos


massetes que desce da manga; depois a mesma

mão une-se á direita, para amarrotar e formar as

tres folhas n'uma bola.


E claro que, n'estes movimentos rapidos o
pres-
tidigitador consegue partir o fio de sêda que prende
as bandeiras, o que as faz separar umas das ou-

tras.

Faz-se depois apparecer uma bandeira no


centro
da bola, e as outras seguem o mesmo caminho. E
n'este momento que a
distribuição começa, e du
rante ella, quer baixando-se para offerecer uma ban-
deirola a
qualquer creança, quer voltando-se de cos-

tas para uma


parte dos espectadores, vai lançando
destramente a mão aos outros massetes,

Isto é muito facil de executar e a sorte seria já


de bastante effeiro ficando por aqui, mas, para com-

pletar o exito ruidoso que começa a


conseguir-se
com as. bandeirolas pequenas, é necessario fechar
.O trabalho apresentando uma bandeira de grandes
dimensões. d'esta .

A haste ultima bandeira compõe-se de


tres tubos de metal que encaixam uns nos outros

como as differentes peças que compõem um oculo


de vêr ao
longe.
Um amador póde, querendo, dar-se ao trabalho
de construir esta haste, servindo-se apenas d'um
cartão.
Nºum lapis besuntadoqualquer oleo de
para im-

pedir a
adherencia,enrola-se, apertando-as bem,
folhas“de papel grosso, sobre as
quaes se estende
uma leve camada de colla forte. Logo que se obtem
MANUAL DO PRESTIDIGITADOR

uma
espessura de tres millimetros pára-se e
põe-se
a seccar o
pequeno tubo, a
que chamaremos n.º 1,
e que servirá
para substituirmos o
lapis na cons-

trucção do tubo n.º 2. Este, por sua vez, servirá


para enrolar o papel do seguinte. Quatro ou cinco
tubos chegam para o que se deseja.
A cada extremidade d'estes tubos, colloca-se, em

feitio de
annel, interiormente no alto, exteriormente
em baixo, uma pequena tira de papel Bristol, da
largura de um meio centimetro, para formar uma

especie de borda saliente que impedirá os tubos de


sairem uns dos outros quando se lhes der todo o

desenvolvimento que se pretende. Esta haste póde


ser pintada de côr cinzenta ou mesmo bronzeada.
O estôfo fazenda é de sêda fina fim de
de
aestiver occu-

par o menor espaço possivel quando enro-

lado ao
comprimento haste; da fica simplesmente
presa nas duas extremidades, a
superior e a infe-
rior, por duas pequeninas argolas de arame, fixas
nas extremidades dos tubos 1 e 3 (figura €).
Quando está convenientemente enrolada, esta

bandeira occulta-se com facilidade na manga do


casaco, entre o punho e cotovello do braço esquerdo.
No momento em que sopra á ultima bandeiri-
nha que lhe resta, o
prestidigitador agarra a extre-

midade superior de haste, que obriga a sahir rapi-


damente da manga um momento antes,e que occulta

depois na
palma da mão. Feito
isto, separando su-

bitamente os braços, desenrola a bandeira de seda


e agitaa em todas as direcções para impedir,
quando a haste é feita de cartão, que se possa ver

«de que modo é feita.

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