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Fichamento

Caderno Humaniza SUS


Brasil. Ministério da Saúde.
Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual
do Ceará. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.
465 p. : il. – (Cadernos HumanizaSUS ; v. 4)

A vulnerabilidade social de mulheres e de crianças a algumas situações de risco é


comprovadamente fator determinante de sua morbimortalidade, com destaque para as
mortes maternas e neonatais. Aproximadamente 287 mil mulheres morrem no mundo
inteiro, todos os anos, devido a complicações relacionadas à maternidade (WHO,
2012), configurando uma crise na saúde materna e infantil expressa na maior
exposição de mulheres e de crianças ao risco de adoecer e de morrer.

Apesar das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que enfatizam boas
práticas de atenção ao parto e ao nascimento baseadas em evidências científicas e
afirmam que o parto é um evento natural que não necessita de controle, mas sim de
cuidados, o modelo de atenção ao parto “normal”, mais comum no Brasil, inclusive em
hospitais de ensino, é tecnocrático, centrado no profissional médico em instituição
de saúde hospitalar, razão pela qual é também chamado de parto normal hospitalar
(RABELO; OLIVEIRA, 2010).

Nesse contexto, ainda que boa parte dos avanços científico e tecnológico adotados
pelo hospital apresente condições reais de prevenir morbidade e mortalidade na
assistência aos partos de risco, segundo Sodré e Lacerda (2007), a contradição que
se evidencia é que as complicações não vêm diminuindo e, muitas vezes, são causadas
justamente por esse avanço, por meio da generalização de sua necessidade e uso
abusivo de técnicas e procedimentos. Segundo Pasche, Vilela e Martins (2010), essa
prática submete a mulher a normas e rotinas rígidas, que não respeitam o seu corpo
e o seu ritmo natural, e a impede de exercer seu protagonismo, movimento que pode
ser anunciado como iatrogenia cultural

O predomínio do modelo biomédico e a utilização acrítica do conhecimento técnico,


sobretudo em hospitais, que se encontram entre as instituições contemporâneas mais
impermeáveis às mudanças e às inovações, sobretudo na gestão (modos de organização
e circulação do poder) (PASCHE, VILELA; MARTINS, 2010), podem tornar ineficazes
qualquer iniciativa de implementação de ações e tentativas de mudanças

Principalmente para a mulher, a gravidez e o nascimento em particular, são eventos


únicos repletos de fortes sentimentos e emoções. A experiência vivida por ela
nesses momentos ficará indelevelmente marcada em sua memória e, por isso, todos os
envolvidos na sua assistência, desde o pré-natal até o parto, devem lhe
proporcionar uma atmosfera de carinho e humanismo. O local onde a mulher é cuidada
não pode ser um ambiente hostil, com rotinas rígidas e imutáveis, onde ela não
possa expressar livremente seus sentimentos e suas necessidades. Deve receber
cuidados individualizados e flexíveis de acordo com suas demandas. É necessário que
se sinta segura e protegida por todos aqueles que a cercam. Tanto na assistência
pré-natal como na assistência ao nascimento, a presença do seu companheiro ou outro
membro da família deve ser encorajada. A separação mãe-filho deve ser evitada desde
o nascimento até a alta, e quando for inevitável, diante da necessidade de
internação do recém-nascido em Unidade Neonatal, seus
efeitos devem ser minimizados a partir de uma boa comunicação entre a equipe e a
mãe, e da criação de possibilidades para que o encontro seja o mais breve possível.

O objetivo principal de assistência materna de qualidade é favorecer experiência


positiva para a mulher e sua família, manter a sua saúde física e emocional,
prevenir complicações e responder às emergências.

A presença central e preponderante de profissionais médicos, principalmente


obstetras e pediatras, não tem resultado em avanços significativos na melhoria dos
indicadores de mortalidade e morbidade materna e perinatal no País. O médico
obstetra ou pediatra, pela sua formação, obviamente está mais capacitado a lidar
com as mulheres e recém nascidos de alto risco e com as complicações sérias que
podem surgir durante a gravidez, o parto e o nascimento, estando mais propenso a
intervir com mais frequência (OMS, 1996). Por isso, o trabalho integrado em equipe
multiprofissional, pedra angular da utilização racional dos recursos humanos
disponíveis, somando diversos saberes e habilidades, deve se tornar uma prática
constante na assistência. A incorporação ativa de outros sujeitos, como enfermeiras
obstetras, obstetrizes, educadores perinatais, psicólogos, e doulas, entre outros,
na equipe assistencial deve ser promovida, proporcionado uma assistência integral,
de acordo com as necessidades da mulher e de sua família.

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