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Luciana Machado Rodrigues


Sabrina Neves da Silva
(Organizadoras)

PRÁTICAS DE CORROSÃO

1ª Edição

Belém-PA

2020
4

https://doi.org/10.46898/rfb.9786599175107.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

P912

Práticas de corrosão [recurso digital] / Luciana Machado Rodrigues e


Sabrina Neves da Silva (Organizadoras). -- 1. ed. -- Belém: Rfb Editora,
2020.
3.570 kB; PDF: il.
Inclui Bibliografia.
Modo de acesso: www.rfbeditora.com.

ISBN: 978-65-991751-0-7.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.

1. Corrosão. 2. Pesquisa. 3. Estudo.


I. Título.

CDD 544

Elaborado por Rfb Editora.


5

© 2020 edição brasileira


by Rfb Editora.
© 2020 texto
by os autores

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Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho - UFSJ.
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Belém, Pará, Brasil.
6

DEDICATÓRIAS

Aos meus pais, Teresinha e Ivan (in memoriam), irmãos Lisiane e Leandro, meu
marido e companheiro Erich Engels e amada filha Sofia.

Luciana

Aos meus pais: Vilma e Braulino, irmãs Sílvia e Samanta, meu esposo Flávio e
em especial para minha filha Betina.
Sabrina
7

SUMÁRIO
PREFÁCIO............................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
DESENVOLVIMENTO DE REVESTIMENTOS ANTICORROSÃO CONTENDO
ADIÇÕES DE CINZAS DE CARVÃO MINERAL.......................................................... 11
BRANDÃO, Mateus Cereza.
ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.1.

CAPÍTULO 2
APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD (FLUE GAS DESULFURIZATION)
COMO ADITIVO ANTICORROSÃO EM CONCRETO ARMADO E TINTAS..... 19
PRADO, Jéssica Martins do.
ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.2.

CAPÍTULO 3
ESTUDO DA CORROSÃO DO AÇO DE TUBOS TROCADORES DE CALOR
(ASTM 106) EM ATMOSFERA DE SO2............................................................................ 29
PALHARIM, Priscila Hasse.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.3.

CAPÍTULO 4
CORROSÃO ATMOSFÉRICA EM MONUMENTOS HISTÓRICOS METÁLICOS
DO RIO GRANDE DO SUL................................................................................................ 37
LOPES, Nicole Dall’Accua.
MOREIRA, Thaciana dos Santos.
ECHEVARRIA, Elizandra Rodrigues.
SILVA, Erich Engels e.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.4.

CAPÍTULO 5
AVALIAÇÃO DA CORROSIVIDADE DO AÇO CARBONO EM EXTRATOS
AQUOSOS DE DIESEL E BIODIESEL............................................................................. 45
PANTA, Laura Queiroz.
TREVISAN, Luís Henrique.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.5.

CAPÍTULO 6
CORROSÃO DO AÇO API 5L GRAU B PARA DUTOS EM ÁGUAS NATURAIS....53
PETERS, Steffany Rincon.
LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.
SILVA, Sabrina Neves da.
8

RODRIGUES, Luciana Machado.


DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.6.

CAPÍTULO 7
CORROSIVIDADE DOS SOLOS DA REGIÃO CARBONÍFERA DO RIO GRAN-
DE DO SUL SOBRE ESTRUTURAS METÁLICAS ENTERRADAS.......................... 61
ERTHAL, Camile.
WERNER, Kauana Serpa.
AVILA, Luisa Bataglin.
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.7.

CAPÍTULO 8
CARACTERIZAÇÃO E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO REVESTIMENTO IN-
TERNO DE EMBALAGENS DE FOLHA DE FLANDRES PARA ALIMENTOS..... 69
TREVISAN, Luís Henrique.
VARGAS, Bruna Sanmartin.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.8.

CAPÍTULO 9
CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REVESTIMENTO
POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS METÁLICAS PARA BEBIDAS ..... 77
QUADROS, Gabriel Porto.
SEVERO, Éric da Cruz.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.9.

CAPÍTULO 10
AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA CAFEÍNA COMO INIBIDOR DE CORRO-
SÃO DO ALUMÍNIO EM MEIO ÁCIDO......................................................................... 85
QUADROS, Gabriel Porto.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.10.

CAPÍTULO 11
ANÁLISE DO REVESTIMENTO POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS
DE Al PARA SUCOS E CHÁS............................................................................................ 93
CRESPO, Fernanda Machado.
GONÇALVES, Carolaine Tainara dos Santos.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.11.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

PREFÁCIO
O livro Práticas de Corrosão surge de uma ideia nossa de registrar e divulgar
uma série de resultados de pesquisas na área da Corrosão. Estes trabalhos foram reali-
zados em parceria com discentes da graduação em Engenharia Química e discentes da
pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materais, ambos da Universidade Federal
do Pampa – UNIPAMPA, Campus Bagé, ao sul do estado do Rio Grande do Sul.

Consideramos fundamental para a formação de alunos das áreas tecnológicas a


experimentação prática, o trabalho em equipe, e o despertar para a ciência aplicada.
O valor da prática científica se evidencia com o retorno do resultado das pesquisas à
sociedade e ao setor industrial, bem como, na formação de profissionais preparados e
aptos ao mercado de trabalho.

Nós, Luciana e Sabrina, somos Engenharias Químicas, Doutoras em Engenharia,


professoras universitárias com a consciência da nossa missão em difundir o conheci-
mento, orientar nossos alunos na sua trajetória acadêmica e apresentar à sociedade o
papel da pesquisa científica de qualidade.

Práticas de Corrosão apresenta pesquisas sobre Materiais inseridas em uma te-


mática ambiental, com a geração de novos produtos empregando resíduos industriais,
avaliando a corrosividade de poluentes atmosféricos, biodiesel, águas naturais, solos;
atua na área de embalagens metálicas para alimentos e bebidas; e apresenta um inibi-
dor natural contra a corrosão.

Desejamos uma ótima leitura, e futuras parcerias, no trabalho e na vida!

Luciana Machado Rodrigues Sabrina Neves da Silva


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CAPÍTULO 1

DESENVOLVIMENTO DE REVESTIMENTOS
ANTICORROSÃO CONTENDO ADIÇÕES DE
CINZAS DE CARVÃO MINERAL

BRANDÃO, Mateus Cereza.1


ANTUNES, Bruna Carvalho.2
LOPES, Daniele Ferreira.3
RODRIGUES, Luciana Machado.4
SILVA, Sabrina Neves da.5

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.1.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,


Campus Bagé - RS.
mateuscerezabrandao@gmail.com
2  Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade Federal do Pampa -
UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
brunaantunes.aluno@unipampa.edu.br
3  Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade Federal do Pampa -
UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
danielelopes.aluno@unipampa.edu.br
4 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
5  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Resumo

N este estudo, cinzas provenientes da combustão de carvão mineral foram


adicionadas em revestimentos anticorrosão. Analisou-se a dispersão de ta-
manhos e a morfologia das partículas por curvas de distribuição granulométrica e por
microscopia eletrônica de varredura (MEV), respectivamente. As cinzas também fo-
ram analisadas por Difração de raios-x. Foram desenvolvidos revestimentos contendo
1 e 5% em massa de cinzas aplicados sobre placas de aço carbono 1020. A resistência
à corrosão foi analisada por Espectroscopia de Impedância Eletroquímica em solu-
ção de NaCl 0,1 mol/L e por exposição em névoa salina durante 30 dias. As medidas
foram comparadas com revestimento sem cinzas. Foi observado que na composição
das cinzas, estão presentes substâncias conhecidamente inibidoras de corrosão como
óxidos de silício, alumínio e ferro. A resistência à corrosão do revestimento aumentou
de 0,96 kOhm cm2 (revestimento sem cinza) para 2,0 kOhm cm2 (revestimento com 1%
de cinza) e para 2,6 kOhm cm2 (revestimento com 5% de cinza). Nos ensaios em névoa
salina, observou-se que as cinzas melhoraram a propriedade de barreira conferida ao
revestimento, diminuindo as taxas de corrosão.

Palavras-chave: Revestimentos protetores. Corrosão. Cinzas. Combustão. Reciclagem


de resíduos.

Introdução

Na região Sul do Brasil estão localizadas grandes reservas de carvão, bem mine-
ral com um papel fundamental na geração termoelétrica de energia. Sabe-se que com-
bustão do carvão tem grande impacto ambiental, principalmente devido às emissões
de gases precussores de chuva ácida e do efeito estufa, bem como da deposição final
de resíduos sólidos gerados tais como as cinzas (leves e pesadas). Nesse sentido, tan-
to o setor carbonífero quanto as Usinas Termoelétricas buscam progredir em relação
ao seu comprometimento com o meio ambiente, com o uso de tecnologias que visam
minimizar esses impactos melhorando assim a aceitação desse tipo de geração de ener-
gia perante o mercado consumidor. Como alternativa para este panorama, tem-se o
reaproveitamento das cinzas oriundas da combustão do carvão mineral. O presente
trabalho propõe uma forma inovadora e ambientalmente correta de uso da cinza do
carvão mineral como carga anticorrosão para composição de tintas.

Referencial teórico

O carvão mineral é o combustível fóssil que possui reservas mundiais espalhadas


em mais de 70 países. As reservas mundiais são estimadas em cerca de sete trilhões de
toneladas, o suficiente para atender a demanda durante alguns séculos, nas taxas de

BRANDÃO, Mateus Cereza.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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consumo atuais. Toda essa abundância, os avanços tecnológicos já consolidados e os


que são esperados nos próximos anos, e o aumento esperado da demanda de energia,
em especial da demanda por energia elétrica, são elementos básicos que sustentam a
visão de que a expansão da geração termoelétrica à carvão faz parte da estratégia da
expansão da oferta de energia mundial (CARVALHO, 2005).

Um dos principais problemas das termoelétricas é o impacto ambiental causado


pela queima de combustível para aquecer a água da caldeira (MARRECO, PEREIRA
e TAVARES, 2013). Como em qualquer processo industrial, a geração de subprodutos
é uma consequência. De modo geral, uma usina termoelétrica que gera, em média,
30 MW de potência, produz 10,5 toneladas por hora de cinzas leves (350 kg/MWh)
(GASPAR, 2004).

Para descarte deste material, existem, basicamente, dois métodos: as lagoas de


sedimentação e os aterros. Somente uma pequena fração das cinzas, cerca de 30%,
produzidas é reaproveitada (CARVALHO, 2005; PACHECO, 2008), o restante é dis-
posto de maneira inadequada, acarretando danos à saúde humana e ao meio ambiente
devido à lixiviação de íons metálicos tóxicos presentes em sua composição química. O
principal esforço, no sentido de mitigar os impactos ambientais decorrentes da dispo-
sição destes resíduos no meio ambiente, é voltado à ampliação de potenciais formas de
re-utilização (BEHAK, 2007; CHATVEERA e LERTWATTANARUK, 2011; FERRET,
2004).

As cinzas, de modo geral, são alcalinas, abrasivas, têm propriedades refratárias e


podem ser consideradas pozolanas, ricas em óxidos de silício (SiO2), alumínio (Al2O3)
e ferro (Fe2O3). Além disso, podem conter macronutrientes e micronutrientes (AHMA-
RUZZAMAN, 2010).

Os óxidos acima citados contribuem para melhorar as propriedades barreira


quando adicionados em revestimentos orgânicos anticorrosão (FERNANDO e RO-
SENIR, 2004; ZHELUDKEVICH et al., 2007) podendo, dessa forma, ser considerados
cargas anticorrosivas. As cargas formam uma barreira ou filme na interface metal/re-
vestimento, que impede ou retarda as reações de corrosão (FERNANDO e ROSENIR,
2004). Os tipos de cargas mais comuns utilizados são os sólidos insolúveis, de formato
lamelar e/ou esférico, que aumentam o caminho de difusão de íons agressivos, da
água e oxigênio até a superfície metálica, dificultando as reações catódicas no filme
(ZHELUDKEVICH et al., 2007; FRAGA, 2012). Deve-se salientar que os óxidos não são
tóxicos e podem ser alternativos às tintas à base de cromatos (FRAGA, 2012).

Capítulo 1
DESENVOLVIMENTO DE REVESTIMENTOS ANTICORROSÃO CONTENDO ADIÇÕES DE CINZAS DE CARVÃO MINERAL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Metodologia

As cinzas foram coletadas em uma Usina Termoelétrica da Região da Campanha


no Rio Grande do Sul, sendo coletadas úmidas do local de carregamento de caminhões
que as levariam para cava da mina. As cinzas foram moídas e secas em estufa a 60°C
até massa constante, após foram mantidas sob vácuo até a aplicação.

A distribuição granulométrica foi realizada em Granulômetro a Laser 1190 LD,


da marca CILAS, medido em solução líquida. A análise microscópica foi realizada em
MEV da marca Jeol, JSM – 6610LV. A análise por Difração de raios-x (DRX) foi rea-
lizada em um Difratômetro Rigaku com radiação cobre Κα, na voltagem de 40 kV e
corrente de 20 mA.

Para os experimentos, utilizou-se resina alquídica de cadeia longa para revesti-


mento decorativo. Foram adicionadas cinzas nas proporções de 1 e 5% em massa. Os
revestimentos foram aplicados sobre chapas de aço carbono 1020. Para comparação de
desempenho foi preparada uma amostra cujo revestimento não continha cinza.

As superfícies metálicas foram lixadas com lixa #220, a fim de produzir uma ru-
gosidade satisfatória para promover boa adesão ao substrato. Após, as amostras foram
limpas com água destilada e etanol, secas em estufa a 60°C durante 30 min e mantidas
sob vácuo até a aplicação dos revestimentos.

O revestimento foi aplicado sobre placas de aço carbono 1020 com espessura de
0,2 cm. As placas tinham dimensões de 1,5 cm x 3 cm.

As medidas de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica foram realizadas


em um Potenciostato Autolab modelo PGSTAT100 medidos no potencial de circuito
aberto com sinal de perturbação de 10 mV em um intervalo de frequências de 105 a 10-3
Hertz. Foi utilizada uma célula de três eletrodos tendo como referência um eletrodo
de prata/cloreto de prata (Ag/AgCl) saturado e platina (Pt) como eletrodo auxiliar.
Como eletrólito utilizou-se uma solução de cloreto de sódio (NaCl) 0,1 mol/L.

O ensaio de corrosão acelerado foi realizado em câmera de névoa salina em um


equipamento marca Corrotest da Druckman, modelo CA-680, com solução de NaCl
5% com pH neutro a temperatura de 35 ºC ± 2 ºC, com pressão na linha de ar com 4 kgf
e vazão de solução pulverizada foi de 1 a 2 mL/h. O período total de exposição foi de
30 dias. Foi criado um defeito artificial em forma de “X” com o objetivo de verificar a
progressão da corrosão a partir de uma falha no revestimento.

BRANDÃO, Mateus Cereza.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Resultados e discussões

De acordo com a Figura 1, a distribuição granulométrica mostrada no histogra-


ma, apresenta a população de partículas concentrada na faixa de 1 a 200 µm, com pico
bastante agudo para o diâmetro de 80 µm. A análise da dispersão de tamanhos das
cinzas indicou o diâmetro médio de 43 µm.
Figura 1: Distribuição granulométrica das partículas de cinza

Fonte: Autores (2020).

Conforme a imagem de MEV mostrada na Figura 2, observa-se que as partículas


têm formato predominantemente esférico. Com tal morfologia, estes particulados pos-
suem boa propriedade de barreira dentro do revestimento (FRAGA, 2012).
Figura 2: Imagem de MEV em backscattering das partículas de cinza.

Fonte: Autores (2020).

A Figura 3 mostra o difratograma de DRX das cinzas. Foram identificados picos


característicos de óxidos de silício, ferro e alumínio. Os resultados foram comparados

Capítulo 1
DESENVOLVIMENTO DE REVESTIMENTOS ANTICORROSÃO CONTENDO ADIÇÕES DE CINZAS DE CARVÃO MINERAL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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com padrões da literatura (Database Rruff, 2020). O padrão de difração é característico


de material cristalino.
Figura 3: Difratograma das cinzas.

Fonte: Autores (2020).

O espectro de impedância, das amostras revestidas sem e com adição de carga


de cinza (1 e 5%), é mostrado no Diagrama de Nyquist apresentado na Figura 4. Ob-
serva-se uma tendência à formação de semicírculos de diferentes tamanhos, os quais
aumentam conforme aumenta o percentual de cinza adicionado. Pela extrapolação dos
semicírculos para o eixo real (Z’), é possível determinar as resistências dos revesti-
mentos e esses valores são mostrados na Tabela 1. Observa-se também a presença de
difusão, indicado pela linha reta no final dos semicírculos, tipicamente observado em
espectros de revestimentos atribuído à resistência à difusão do filme (DICK e FRAGA,
2012).
Figura 4: Espectros de Impedância Eletroquímica (Diagrama de Nyquist) medidos no aço revestido
sem e com cinzas (1 e 5%).

Fonte: Autores (2020).

BRANDÃO, Mateus Cereza.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
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PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Tabela 1: Valores de resistência dos revestimentos.

Resistência
Amostra (kOhm cm2)
Revestimento sem cinza 0,96
Revestimento + 1% de cinza 2,0
Revestimento + 5% de cinza 2,6

Fonte: Autores (2020).

A seguir, na Figura 5, são mostradas as imagens das amostras antes e após 30


dias de exposição à névoa salina. Observa-se um ataque corrosivo evoluindo para o
generalizado na amostra com revestimento sem cinzas (Figura 5 a-b). No revestimento
com 1% de cinzas observou-se um ponto de corrosão localizado (Figura 5c). Por fim,
para o revestimento com 5% de cinzas, após 30 dias, não se observou processo corro-
sivo.
Figura 5: Imagens das amostras antes e após 30 dias de exposição em névoa salina (a-b) revestimento
sem cinzas, (c-d) revestimento com 1% de cinzas, e (e-f) revestimento contendo 5% de cinzas.

Fonte: Autores (2015).

Considerações finais

Foi proposta uma alternativa de reutilização das cinzas da combustão do carvão


mineral adicionado-as como cargas em revestimentos anticorrosão. Os resultados in-
dicam que, a adição de cinzas, altera a resistência do revestimento aumentando-a e,
consequentemente, melhorando a propriedade barreira do revestimento, indicando o
efeito benéfico da adição de cinzas.

Referências
AHMARUZZAMAN, M. A review on the utilization of fly ash. Progress in Energy
and Combustion Science, v. 36, p. 327-367, 2010.

BARRER, R. M. Hydrothermal chemistry of zeolites. London: Academic Press, 1982.

BEHAK, L. Estabilização de um solo sedimentar arenoso do Uruguai com cinza de


casca de arroz e cal. Dissertação (Mestrado em Engenharia) Programa de Pós-gra-
duação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 2007.

CARVALHO, C. H. B. Oportunidades de negócios no setor elétrico com o uso do car-

Capítulo 1
DESENVOLVIMENTO DE REVESTIMENTOS ANTICORROSÃO CONTENDO ADIÇÕES DE CINZAS DE CARVÃO MINERAL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

18

vão mineral nacional. In: Apresentação. Ministério de Minas e Energia, Brasília, 2005.

CHATVEERA, B.; LERTWATTANARUK, P. Durability of conventional concretes


containing black rice husk ash. Journal of Environmental Management, v. 92, p. 59-
66, 2011.

DATABASE OF RAMAN SPECTROSCOPY, X-RAY DIFFRACTION AND CHEMIS-


TRY OF MINERALS. Disponível em: https://rruff.info/. Acesso em: 17 jul. de 2020.

DICK, L. F. P.; FRAGA, A. O. Development of Organic Smart Coatings on Steel with


Additions of Recycled Steel Scales Containing Fe, Cr, Ni and Mo. In: 63rd Annual
Meeting of International Society of Electrochemistry, 2012. New York. Proceedings
[...]. New York, 2012.

FENG, Q. et al. Adsorption of lead and mercury by rice husk ash. Journal of
Colloid and Interface Science, v. 278, p.1-8, 2004.

FERNANDO, F. B.; ROSENIR, R. C. M. As Formulações Inibidoras de Corrosão e o


Meio Ambiente. Engevista, v. 6, p. 106-112, 2004.

FERRET, L. S. Zeólitas de cinzas de carvão: síntese e uso. Tese (Doutorado em Enge-


nharia) Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Ma-
teriais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004.

FRAGA, A. Desenvolvimento de revestimentos contendo adições de Carepas de


laminação de aços. Dissertação (Mestrado em Engenharia) Programa de Pós-gradua-
ção em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, 2012.

GASPAR, C. Eficiência Energética na Indústria. In: Cursos de Utilização Racional de


Energia, Agência para a Energia – ADENE. Gaia, 2004.

MARRECO, J. M.; PEREIRA, A. P.; TAVARES, M. E. Perspectivas para a geração Ter-


melétrica a carvão. Revista Brasileira de Energia, v. 12, n. 2, 2013.

PACHECO, E. T. Estudo do beneficiamento a seco do carvão da mina de Candiota-


-RS. Tese (Doutorado em Engenharia) Programa de Pós-graduação em Engenharia
de Minas, Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2008.

VLAEV, L. et al. Cleanup of water polluted with crude oil or diesel fuel using rice
husks ash. Journal of the Taiwan Institute of Chemical Engineers. v. 42, p. 957-964,
2011.

ZHELUDKEVICH, M. L. et al. Anticorrosion Coatings with Self-Healing Effect Ba-


sed on Nanocontainers Impregnated with Corrosion Inhibitor. Chemistry of Mate-
rials, v. 19, p. 402-411, 2007.

BRANDÃO, Mateus Cereza.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
CAPÍTULO 2

APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD


(FLUE GAS DESULFURIZATION) COMO
ADITIVO ANTICORROSÃO EM CONCRETO
ARMADO E TINTAS

PRADO, Jéssica Martins do.1


ANTUNES, Bruna Carvalho.2
LOPES, Daniele Ferreira.3
RODRIGUES, Luciana Machado.4
SILVA, Sabrina Neves da.5

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.2.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,


Campus Bagé - RS.
j_martins_bta@hotmail.com
2  Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade Federal do Pampa -
UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
brunaantunes.aluno@unipampa.edu.br
3  Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade Federal do Pampa -
UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
danielelopes.aluno@unipampa.edu.br
4 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
5  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Resumo

P ropôs-se neste trabalho uma alternativa para reutilização do subproduto


da dessulfurização gasosa proveniente de uma Usina Termoelétrica como
aditivo anticorrosão adicionado ao concreto armado e em revestimentos protetores.
O subproduto foi caracterizado como cristalino, rico em sulfato de cálcio e diâmetro
médio 17,83 µm. A análise microscópica revelou partículas de formas variadas e tama-
nho submicrométrico. Foi demonstrado que a adição de 6% em massa de subproduto
em substituição ao cimento Portland melhora as propriedades mecânicas do material
bem como diminui a taxa de corrosão do aço embutido no concreto. Já para o reves-
timento, a adição de 0,5% em massa de subproduto aumenta a resistência à corrosão,
mesmo em revestimentos contendo defeitos, indicando propriedade auto-reparadora.
Para ambos os experimentos, comparou-se os resultados com amostras de referência
(sem aditivo).

Palavras-chave: Flue Gas Dessulfurization. Reutilização de resíduos. Geração termoe-


létrica. Corrosão.

Introdução

As usinas termoelétricas (UTE’s), a fim de cumprir a legislação sobre as emissões


de dióxido de enxofre (SO2), utilizam a técnica FGD (Flue Gas Desulfurization) em suas
instalações. O SO2 é proveniente da queima do carvão, combustível rico em enxofre
(S), e está ligado à formação de chuva ácida e ao efeito estufa. Em síntese, na FGD, o
efluente gasoso contendo SO2, entra em contato com um adsorvente alcalino, geral-
mente hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) gerando um subproduto seco, contendo sulfitos,
sulfatos, cinzas e outras substâncias inertes. O subproduto da FGD é usado em grande
escala na construção civil e na estabilização do solo, contudo, a geração do resíduo
ultrapassa a quantidade que o mercado consegue absorver.

Neste trabalho, um subproduto da FGD de uma UTE à carvão foi caracteriza-


do por técnicas espectroscópicas: Difração de raios-x (DRX) e Espectroscopia Raman.
Além disso, com intuito de conhecer o diâmetro médio e a morfologia das partículas,
foram realizadas análises da distribuição de tamanhos e microscopia das partículas do
material. Por fim, adicionou-se o subproduto ao concreto armado e em revestimentos
protetores e avaliou-se a resistência à corrosão por técnicas eletroquímicas.

Referencial teórico

A queima de carvão mineral nas Usinas Termoelétricas gera energia, porém, pro-
duz resíduos durante o processo. Estes são classificados como escórias, cinzas (leves e

PRADO, Jéssica Martins do.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

21

pesadas) além dos resíduos da FGD. A intensificação do carvão como matéria-prima


energética tende a elevar o problema de gestão destes resíduos (TOLMASQUIM, 2005).

De acordo com Tang (2013), há uma unanimidade quanto à importância da ca-


racterização físico-química e mineralógica dos rejeitos, para reutilização em aplicações
industriais. E, além disso, proporcionar uma diminuição da necessidade de espaços
para o aterro desses dejetos.

Estudar soluções que prolonguem a vida útil das estruturas de concreto e mini-
mizem o impacto ambiental gerado por sua cadeia produtiva, é dos grandes desafios
para os pesquisadores e alvo de inúmeras pesquisas dentro do setor da construção
civil (DOURADO, 2018).

Pesquisas sobre os efeitos de aditivos ao concreto, em geral, demonstram melho-


rias significativas quanto à durabilidade e aumento da resistência à corrosão e mecâni-
ca, do que os concretos de referência (DOURADO et al., 2018; CEZAR, 2011).

Outra aplicação cientificamente relevante, devido às características físicas e com-


posicionais do subproduto, é utilização como aditivo em revestimentos anticorrosão
para materiais metálicos (PRADO et al., 2015).

Tanto no concreto quanto em revestimentos, os aditivos podem aumentar o ca-


minho de difusão do oxigênio (O2), da água (H2O) e de íons agressivos tais como,
cloretos e sulfatos, minimizando as taxas de corrosão devido à barreira conferida pelo
aditivo (MAINIER e SILVA, 2004; ZHELUDKEVICH et al., 2007).

Metodologia
Caracterização do Subproduto

O subproduto utilizado neste estudo foi cedido por Usina Termoelétrica do RS,
sendo coletado úmido no local de carregamento de caminhões.

A análise de DRX foi realizada em um Difratômetro Rigaku com radiação cobre


Κα, na voltagem de 40 kV e corrente de 20 mA. A Espectroscopia Raman foi realizada
em um espectrômetro Raman Confocal com laser de (λ = 532 nm), e diâmetro de feixe
de 1 µm. Para análise de MEV utilizou-se um microscópio da marca Jeol, JSM – 6610LV.
A dispersão de tamanhos foi realizada em granulômetro a laser em um equipamento
1190 LD, marca CILAS.

Capítulo 2
APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD (FLUE GAS DESULFURIZATION) COMO ADITIVO ANTICORROSÃO EM CON-
CRETO ARMADO E TINTAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

22

Concreto armado

Foram preparados corpos de prova de concreto de acordo com a NBR 7215/2019


(ABNT, 2019), utilizando-se a proporção 1:3:0,55 (cimento:areia:água). O cimento uti-
lizado foi o CP-V ARI RS.

O ensaio de resistência à compressão foi realizado em uma prensa hidráulica da


marca EMIC DL 10000, conforme a NBR 7215 (ABNT, 2019). Este ensaio foi realizado
em corpos de prova contendo 6%, 16% e 26% (em massa) de subproduto.

Avaliou-se a resistência à corrosão do aço embutido no concreto contendo 6% em


massa de subproduto por curvas de polarização potencidinâmicas. As medidas foram
realizadas em solução 5% em massa de sulfato de sódio (Na2SO4). Os experimentos
foram realizados em célula de três eletrodos, tendo como eletrodo de trabalho o aço no
concreto e como contra-eletrodo e eletrodo de referência uma tela de aço (TREVISOL
et al., 2017).

Revestimento

Utilizou-se resina alquídica de cadeia longa para revestimento decorativo. Foram


preparadas misturas contendo 0,5% em massa de subproduto, os quais foram apli-
cados por dipcoating sobre alumínio (liga AA2024 T3). Detalhes sobre o preparo dos
concentrados e das superfícies metálicas estão descritos em BRANDÃO et al., 2012.

A resistência dos revestimentos foi determinada a partir das curvas de Espectros-


copia de Impedância Eletroquímica descritas em Prado et al., 2012. As medidas foram
realizadas em diferentes tempos de imersão em solução de cloreto de sódio (NaCl)
0,01 mol/L em revestimentos com e sem defeito, para avaliar a propriedade de auto-
-reparação. Os defeitos foram criados com auxílio de um microdurômetro INSIZE ISH
TDV 1000 com carga de 1000 kgf.

Resultados e discussões

A análise de DRX mostrou que a composição mineralógica do subproduto (Figu-


ra 1a) apresentou um padrão de difração característico de material cristalino, compos-
to por sulfato de cálcio hemihidratado (CaSO40,5H2O) também chamado de bassanita
(H) em 2θ = 15º, 23°, 34°, 46° e 51° e gipsita (CaSO4.2H2O) (D) em 2θ = 16° e 61°. No
espectro Raman (Figura 1b) foram identificados picos de CaSO4 em λ = 474 cm-1, 516
cm-1, 781 cm-1 e 808 cm-1. Os resultados foram comparados com padrões da literatura
(Database Rruff, 2020).

PRADO, Jéssica Martins do.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

23

Figura 1: (a) Difratograma e (b) Espectro Raman do subproduto da FGD utilizado como aditivo.

Fonte: Autores (2020).

O resultado da análise granulométrica é mostrado na Figura 2. Os diâmetros


D10, D50 e D90, representando que, respectivamente, 10%, 50% e 90% do total da mas-
sa dos materiais analisados foram 42,15 µm (D10), 12, 10 µm (D50) e 2,92 µm (D90). O
diâmetro médio medido foi de 17,83 µm.
Figura 2: Distribuição granulométrica das partículas de cinza.

Fonte: Autores (2020).

A seguir, na Figura 3, é mostrada a micrografia de MEV do subproduto. Obser-


vam-se partículas de diferentes formatos e escala submicrométrica. Baseando-se nessa
característica, tais partículas contribuem para formação de “barreira” a íons agressi-
vos, pelo aumento do caminho de difusão destes, tanto no concreto quanto no revesti-
mento (FRAGA, 2012).

Capítulo 2
APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD (FLUE GAS DESULFURIZATION) COMO ADITIVO ANTICORROSÃO EM CON-
CRETO ARMADO E TINTAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

24

Figura 3: Imagem de MEV (x1000) das partículas do subproduto da FGD.

Fonte: Autores (2020).

As medidas de resistência à compressão foram realizadas após 7, 14 e 28 dias de


cura nas amostras contendo 6, 16 e 26% em massa de subproduto. A Tabela 1 apresenta
os valores de resistência à compressão.
Tabela 2: Resistência à compressão.
% de aditivo 0 6 16 26
Tempo de cura 7 14 28 7 14 28 7 14 28 7 14 28
(dias)
Resistência à 17,4 19,8 22,7 7,1 8,9 27,3 6,8 8,8 21,7 6,8 7,2 14,8
Compressão
(MPa)

Fonte: Autores (2020).

A cura de 28 dias contribuiu para o aumento da resistência à compressão do


concreto. Sendo assim, este período é o mais adequado. A adição de 6% em massa de
aditivo aumenta a resistência à compressão enquanto com 16 e 26% a resistência dimi-
nui quando comparados com o concreto de referência.

Efeito do Aditivo na Resistência à Corrosão


1) Concreto Armado

Por apresentar maior resistência à compressão, optou-se por realizar os ensaios


eletroquímicos de curvas de polarização potenciodinâmicas, potencial (E) versus den-
side de corrente (i), nas amostras contendo 6% em massa de aditivo, em diferentes
tempos de imersão (0 a 90 dias). Os resultados foram comparados com uma amostra
sem aditivo (referência). Os valores da densidade de corrente de corrosão (icorr) foram
determinados pela extrapolação da parte linear das retas de Tafel e possibilitaram a
determinação da eficiência de inibição pela Equação 1 (WOLYNEC, 2003):

(1)

onde: i = densidade de corrente de corrosão com aditivo, i0 = densidade de cor-


rente de corrosão sem aditivo.
PRADO, Jéssica Martins do.
ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

25

As curvas de polarização medidas no tempo igual a 0 e após 90 dias são mos-


tradas na Figura 4, onde são destacados os valores de i e i0 para ambos os tempos. As
eficiências de inibição calculadas foram de 88% e 65%. Mesmo após 90 dias o aditivo
ainda funciona como inibidor de corrosão, consequentemente, diminuindo as taxas de
corrosão.
Figura 4: Curvas de polarização medidas no (a) tempo 0 e (b) após 90 dias de imersão em 5% Na2SO4.

Fonte: Autores (2020).

2) Revestimento

A variação da resistência dos revestimentos (Rrevestimento) com e sem aditivo, e ain-


da, com e sem defeito em função do tempo de imersão são mostrados na Figura 5a. Em
5b e 5c são mostradas as amostras com e sem defeito. No insert da Figura 5c um zoom
do defeito.
Figura 5: Variação da resistência dos revestimentos desenvolvidos.

Fonte: Autores (2020).

Pode-se observar que as partículas contribuíram para aumentar a resistência do


revestimento mesmo no revestimento com defeito, indicando a propriedade auto-re-
paradora das partículas. Quando analisada a variação da resistência em função do
tempo de imersão, percebeu-se que a resistência diminuiu, contudo, no revestimento
contendo o resíduo, a diminuição foi menos expressiva.

Capítulo 2
APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD (FLUE GAS DESULFURIZATION) COMO ADITIVO ANTICORROSÃO EM CON-
CRETO ARMADO E TINTAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

26

Considerações finais

Foi proposta uma alternativa de reutilização do subproduto da FGD como aditi-


vo anticorrosão adicionado ao concreto armado e revestimentos. Os resultados indica-
ram que o aditivo aumenta a resistência mecânica do concreto, bem como aumenta a
resistência à corrosão do aço embutido no concreto e também dos revestimentos.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 215: Cimento
Portland - Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.

___________ABNT NBR 5752: Materiais pozolânicos - Determinação do índice de


desempenho com cimento Portland aos 28 dias. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

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TRY OF MINERALS. Disponível em: https://rruff.info/. Acesso em: 17 jul. de 2020.

BRANDAO, M. C. et al. Development of coatings containing rice husk and coal ash
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CEZAR, D. S. Características de Durabilidade de Concretos com Cinzas Volante e


Cinza de Casca de Arroz com e sem Beneficiamento. Dissertação (Mestrado em En-
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Civil, Universidade Federal de Santa Maria, 2011.

DOURADO, K. C. A. et al. Influência da adição de pozolana em concretos moldados


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MAINIER, F. B.; SILVA, R. R. C. M. As Formulações Inibidoras de Corrosão e o Meio


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FRAGA, A. Desenvolvimento de revestimentos contendo adições de Carepas de


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Rio Grande do Sul, 2012.

GONÇALVES, C. S. Estudo de cinzas volantes de alta temperatura e de leito fluidi-


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PRADO, Jéssica Martins do.


ANTUNES, Bruna Carvalho.
LOPES, Daniele Ferreira.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

27

TOLMASQUIM, M. T. Geração de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro. Interciên-


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TREVISOL, C. A. et al. Avaliação de inibidores de corrosão para estruturas de concre-


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Capítulo 2
APLICAÇÃO DO SUBPRODUTO DA FGD (FLUE GAS DESULFURIZATION) COMO ADITIVO ANTICORROSÃO EM CON-
CRETO ARMADO E TINTAS
28
CAPÍTULO 3

ESTUDO DA CORROSÃO DO AÇO DE TUBOS


TROCADORES DE CALOR (ASTM 106) EM
ATMOSFERA DE SO2

PALHARIM, Priscila Hasse.1


RODRIGUES, Luciana Machado.2
SILVA, Sabrina Neves da.3

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.3.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,


Campus Bagé - RS.
pri.palharim@gmail.com
2 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
3  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

30

Resumo

N este trabalho avaliou-se o impacto das emissões de dióxido de enxofre (SO2)


na integridade de tubos de trocadores de calor. Amostras metálicas de aço
ASTM 106 (extraídas de tubos de trocadores de calor) foram expostas a atmosferas de
SO2, simuladas em laboratório, cujas concentrações foram baseadas nos limites esta-
belecidos pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) para
o SO2. Foram realizadas medidas da variação de massa versus tempo, determinação
das taxas de corrosão e análise visual da corrosão. Foi demonstrado que o SO2 acelera
a corrosão metálica mesmo em baixas concentrações. Conclui-se que na concentração
mais alta, como próximo a Usinas Termoelétricas (UTE’s), o processo é ainda mais
agressivo. Para atmosfera menos poluidora (boa) a taxa de corrosão foi de aproxima-
damente 0,09 mm/ano, enquanto que na atmosfera péssima foi de 0,22 mm/ano.

Palavras-chave: Corrosão atmosférica. Tubos. Poluição. Chuva ácida.

Introdução

Devido ao desenvolvimento industrial das últimas décadas observou-se um sig-


nificativo aumento de instalações, equipamentos e estruturas metálicas e não-metáli-
cas expostas à atmosfera. Esta atmosfera, por sua vez, também se tornou mais poluí-
da e, consequentemente, mais corrosiva aos materiais nela expostos. Nesse sentido, a
importância da avaliação da atmosfera como meio corrosivo é de grande importância.
No caso de atmosferas caracterizadas pela presença de SO2 como, por exemplo, próxi-
mo a UTE’s à carvão, a corrosão atmosférica é considerada crítica.

O SO2 oxida-se facilmente à trióxido de enxofre (SO3) e, juntamente com a umi-


dade relativa do ar, forma ácido sulfúrico (H2SO4), fenômeno conhecido como chuva
ácida. O baixo pH da chuva é a principal causa de deterioração por corrosão de equi-
pamentos em UTE’s.

Para a avaliação laboratorial da corrosão atmosférica (taxa de corrosão e nível


de corrosividade), corpos de prova metálicos podem ser expostos a uma atmosfera
simulada para que ocorra o processo corrosivo.

Assim, este trabalho pretende demonstrar mediante experimentos de laborató-


rio, o efeito de diferentes concentrações de SO2 sobre a corrosão do aço ASTM 106,
comumente empregado em tubos de trocadores de calor de caldeiras de UTE’s, numa
tentativa de mostrar e prever a corrosividade de uma atmosfera altamente poluidora.

PALHARIM, Priscila Hasse.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

31

Referencial teórico

Um dos principais problemas da geração termoelétrica de energia é o impacto


ambiental causado pelos gases de combustão devido à queima de combustíveis, em
especial os fósseis. Esses gases, além de contribuir para o aquecimento global por meio
do “efeito estufa”, causam a formação de chuvas ácidas por causa de óxidos de enxofre
(SOx), principalmente, SO2, advindos de combustíveis com alto teor de enxofre, como é
o caso do carvão mineral (VISCONDI, SILVA; CUNHA, 2016; EPSTAIN, 2010).

A Resolução CONAMA n. 8 de 6/12/1990 estabelece os limites máximos de


emissão de poluentes no ar para processos de combustão de fontes fixas de poluição
e, para as emissões de SO2, a atmosfera pode ser classificada como boa, regular, ruim,
inadequada e péssima. A qualidade do ar é considerada boa para concentrações me-
nores de 80 µg/m3. Por outro lado, uma atmosfera péssima a concentração de SO2 no
ar deve ser maior do que 1600 µg/m3.

A corrosividade atmosférica é classificada em função da taxa de corrosão anual


de materiais expostos à atmosfera, sendo uma função da umidade relativa, de parti-
culados suspensos no ar e da concentração de gases como o SO2 na atmosfera (VAZ,
CODARO; ACCIARI, 2013; LEITE, 2007). Experiências em laboratórios demonstram
claramente uma relação linear entre a quantidade de metal corroído num dado perío-
do de tempo e a concentração de SO2 (ZENG e KAIYANG, 2020). Mesmo metais não-
-ferrosos como o cobre e o zinco, que é usado na galvanoplastia para proteger o ferro,
são atacados pelo SO2, embora em menor escala (VAZ, CODARO; ACCIARI, 2013).

A Figura 1 mostra, de modo simplificado, o mecanismo da ação de íons sulfato


(SO ) sobre um aço carbono proposto por Kucera e Mattson (1987).
4
2-

Figura 1: Mecanismo da ação corrosiva de íons SO42- no aço.

Fonte: Kucera e Mattson (1987).

Em atmosferas com altas concentrações de SO2, típicos de UTE’s, ocorre a corro-


são externa de estruturas metálicas (LEAL et al., 2013; COSTA et al., 2007). O desgaste
corrosivo é considerado crítico, pois o histórico de manutenção aponta-o como cau-
sador principal de falhas, levando a paradas não programadas em caldeiras. Estudos
Capítulo 3
ESTUDO DA CORROSÃO DO AÇO DE TUBOS TROCADORES DE CALOR (ASTM 106) EM ATMOSFERA DE SO2
PRÁTICAS DE CORROSÃO

32

apontam que cerca de 70% dos problemas verificados em componentes devem-se à


corrosão (LEAL et al., 2013).

A velocidade com que se processa a corrosão é dada pela perda de massa de ma-
terial em uma unidade de área durante certo tempo, ou seja, pela taxa de corrosão. A
taxa de corrosão pode então ser representada pela massa desgastada por unidade de
área na unidade de tempo (ASTM G1 – 1999).

Assim, o entendimento de como acontece a corrosão é especialmente importante


para projetar ações no sentido de minimizar seus efeitos e dessa forma prolongar a
vida útil de componentes.

Metodologia

Utilizou-se como amostra metálica o aço ASTM 106 de tubos de trocadores de


calor gentilmente doados por uma UTE. As amostras metálicas foram limpas, cortadas
e lixadas (até #1200). Foram preparadas atmosferas com diferentes concentrações de
SO2 baseado nos padrões de qualidade do ar mostrado na Tabela 1 (CONAMA, 1990).
Tabela 1: Padrões de qualidade do ar para a [SO2].

[SO2] [SO2] preparadas


Qualidade do ar (mg/m3) em laboratório
(mg/m3)
Boa 0-80 20
Regular 81-365 200
Inadequada 366-800 700
Má 801-1600 1200
Péssima >1600 2500

Fonte: CONAMA (1990), adaptado.

O SO2 foi produzido em laboratório pela adição de ácido clorídrico (HCl) ao bis-
sulfito de sódio (NaHSO3), segundo a Equação 1.

NaHSO3(s)+HCl(aq) →NaCl(aq)+SO2(g)↑+H2O(l) (1)

O arranjo experimental das amostras expostas às atmosferas de SO2 é mostrado


na Figura 2.

PALHARIM, Priscila Hasse.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

33

Figura 2: Arranjo experimental da exposição laboratorial das amostras ao SO2.

Fonte: Autores (2016).

A determinação da variação da massa (∆m), em gramas, versus tempo (t) em dias


é descrita detalhadamente em Palharim, Rodrigues e Silva (2015). Como as amostras
metálicas não tinham a mesma área superficial dividiu-se ∆m pela área (A), em cm2,
das amostras (∆m/A).

A taxa de corrosão foi determinada pela Equação 2 (ASTM G1, 1999):

(2)

onde: K= constante para definir as unidades (8,76x104 mm/ano); t = tempo de ex-


posição em horas; A = área em cm2; W = perda de massa em g; d = densidade do metal
em g/cm3 (aço carbono = 7,86 g/cm3).

A morfologia da corrosão foi analisada por análise visual utilizando-se uma câ-
mera fotográfica Samsung.

Resultados e discussão

Na Figura 3 (a,b) são mostrados os resultados de ∆m/A versus t (dias), vs. tempo
(3a) e as respectivas taxas de corrosão (3b), calculadas para 20 dias de exposição nas
atmosferas de SO2.

Para atmosfera menos poluidora (boa) a taxa de corrosão foi de aproximadamen-


te 0,09 mm/ano, enquanto que na atmosfera péssima foi de 0,22 mm/ano. A taxa de
corrosão na atmosfera péssima é 2,6 vezes maior do que na atmosfera boa durante 20
dias de exposição.

As amostras de aço ASTM 106 corroem mesmo em baixas concentrações de SO2.


Observam-se dois incrementos na ∆m/A, o primeiro até 3 dias e o segundo até 9 dias,
após a tendência é para estabilização (patamar).

Capítulo 3
ESTUDO DA CORROSÃO DO AÇO DE TUBOS TROCADORES DE CALOR (ASTM 106) EM ATMOSFERA DE SO2
PRÁTICAS DE CORROSÃO

34

Figura 3: (a) Relações de Δm/A vs. tempo e (b) Taxa de corrosão vs. [SO2], das amostras de aço ASTM
106 expostas nas atmosferas, por 20 dias.

Fonte: Autores (2015).

A Figura 4 mostra a morfologia da corrosão das amostras expostas nas atmosfe-


ras estudadas.

PALHARIM, Priscila Hasse.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

35

Figura 4: Imagens das amostras de aço ASTM 106 expostas durante 60 dias às atmosferas simuladas
de SO2 nas concentrações de (a) 20, (b) 200 e (c) 700 (d) 1500 e (e) 2500 µg/m3.

Fonte: Autores (2015).

Considerações finais

Foi proposta uma metodologia laboratorial para estudar a corrosão do aço ASTM
106 (de tubos de trocadores de calor) em atmosferas de SO2. Foi demonstrado que as
amostras corroem mesmo em baixas concentrações de SO2. A variação da massa é mais
significativa até 9 dias. A variação da massa na atmosfera péssima é cerca de 2,6 vezes
maior do que na atmosfera boa. A taxa de corrosão para atmosfera menos poluidora
(boa) foi de aproximadamente 0,09 mm/ano, enquanto na atmosfera péssima foi de
0,22 mm/ano. Em uma atmosfera considerada péssima, observou-se corrosão genera-
lizada.

Referências
American Society for Testing and Materials. ASTM G1: Standard Practice for Prepar-
ing, Cleaning, and Evaluation Corrosion Test Specimens. ASTM, 1999.

Conselho Nacional do Meio Ambiente. CONAMA Resolução n. 8: Limites Máximos


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Capítulo 3
ESTUDO DA CORROSÃO DO AÇO DE TUBOS TROCADORES DE CALOR (ASTM 106) EM ATMOSFERA DE SO2
PRÁTICAS DE CORROSÃO

36

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PALHARIM, Priscila Hasse.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
CAPÍTULO 4

CORROSÃO ATMOSFÉRICA EM
MONUMENTOS HISTÓRICOS METÁLICOS
DO RIO GRANDE DO SUL

LOPES, Nicole Dall’Accua.1


MOREIRA, Thaciana dos Santos.2
ECHEVARRIA, Elizandra Rodrigues.3
SILVA, Erich Engels e.4
SILVA, Sabrina Neves da.5
RODRIGUES, Luciana Machado.6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.4.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
nicole.dallaccua@gmail.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
thaci.s.m@gmail.com
3  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
erechevarria@hotmail.com
4  Programa de Pós-graduação em Filosofia, Universidade Federal de Pelotas UFPEL - Pelotas - RS.
engelsesilva@gmail.com
5  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
6 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

38

Resumo

M onumentos metálicos estão expostos à ação da atmosfera que o envolve,


sofrendo um tipo de degradação conhecida como corrosão atmosférica. A
corrosão causa alterações prejudiciais, pois a resistência mecânica do material metálico
é reduzida. A corrosão atmosférica é de complexo estudo, pois vários são os parâme-
tros que podem influir neste processo, como materiais particulados, gases, chuvas,
ventos, temperatura, radiação solar, dejetos de aves, e poluentes em geral. Este tra-
balho realiza um levantamento e avaliação do processo corrosivo em monumentos
metálicos dos municípios de Bagé, Dom Pedrito e Pelotas. Foram realizadas análises
visuais in loco, com aquisição de imagens dos monumentos, para a avaliação do estado
corrosivo e a forma do ataque. Com a realização deste estudo foi buscado o conheci-
mento do nível de corrosividade de atmosferas urbanas. Os resultados apontam que
a grande maioria dos monumentos avaliada apresenta corrosão do tipo generalizada
ou localizada na forma de pite, com perda de material metálico, e formação de camada
de produtos de corrosão depositados sobre as estruturas, alterando sua aparência e
coloração. A corrosão representa um risco à preservação dos monumentos e também à
segurança da população, pois favorece a ocorrência de ruptura dos mesmos.

Palavras-chave: Corrosão Atmosférica. Monumento. Metal.

Introdução

O estado do Rio Grande do Sul com sua rica história de guerras, heróis, lendas,
paisagens e povo particular, é explorado pela literatura, cinema, turismo, e estudos
históricos. Estes fatos são lembrados por monumentos que fazem parte do patrimônio
cultural da região. No entanto, a ação do tempo, do meio, e atitudes inapropriadas das
pessoas, provocam uma deterioração de monumentos metálicos localizados em ruas e
praças das cidades.

A corrosão é um tipo de deterioração do material que causa alterações prejudi-


ciais, resultando em perda de resistência mecânica e mudança estética da estrutura
metálica. Poluentes gasosos apresentam relação com a corrosão de metais expostos na
atmosfera, devendo ser levado em consideração, como cloretos e compostos de enxo-
fre, que aceleram a taxa de corrosão.

Este trabalho avalia o estado de degradação e corrosão de monumentos históri-


cos metálicos das cidades de Bagé, Dom Pedrito e Pelotas, no sul do RS. Foram realiza-
das análises visuais in loco, aquisição de imagens dos monumentos e levantamento de
dados bilbiográficos e históricos.

LOPES, Nicole Dall’Accua.


MOREIRA, Thaciana dos Santos.
ECHEVARRIA, Elizandra Rodrigues.
SILVA, Erich Engels e.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

39

Referencial teórico

Os monumentos fazem parte do patrimônio cultural de um povo servindo como


uma ligação entre o presente e o passado. Para assegurar a manutenção dos monu-
mentos foi elaborada, no I Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos em Mo-
numentos 1931, a Carta de Atenas, que tem como propósito valorizar, restaurar e re-
cuperar os monumentos degradados respeitando o seu caráter histórico (KÜHL, 2005).
Desse modo, a preservação de monumentos é de extrema importância, pois, nas condi-
ções da vida moderna, os monumentos do mundo inteiro se encontram cada vez mais
ameaçados por agentes atmosféricos e poluentes.

Os agentes presentes na atmosfera resultam na corrosão dos monumentos histó-


ricos devido à ação química ou eletroquímica de um meio sobre um material (GENTIL,
2011). Economicamente, a deterioração ou a corrosão destas estruturas gera prejuízos
indesejáveis que atingem custos elevados, resultando em consideráveis desperdícios
de investimento (TORRE, 2004).

A corrosão vem assumindo grande importância atualmente, por estar diminuin-


do e limitando a durabilidade e desempenho dos materiais. A corrosão atmosférica
pode ser definida como a corrosão de materiais expostos ao ar e seus poluentes, bem
como em contato com umidade. Um requisito fundamental para esse tipo de processo
corrosivo é a presença de um eletrólito, filme líquido quase imperceptível que se de-
posita em superfícies expostas a atmosferas abertas, quando um determinado nível de
umidade relativa é atingido (CALLISTER Jr., 2008).

A corrosão atmosférica pode ser classificada em função do grau de umidade na


superfície metálica em seca, úmida e molhada (ROBERGE, 1999). A corrosão atmosfé-
rica seca ocorre em atmosferas isentas de umidade, sem presença de filme de eletrólito
na superfície metálica. Forma um produto de corrosão a partir de uma lenta oxidação
do metal, podendo o mecanismo ser considerado puramente químico. A corrosão at-
mosférica úmida ocorre em atmosferas com umidade relativa menor que 100%. Apre-
senta um fino filme de eletrólito depositado na superfície, e a velocidade do processo
corrosivo depende da umidade relativa, poluentes atmosféricos e higroscopicidade
dos produtos de corrosão. Já na corrosão atmosférica molhada, tem-se uma umidade
relativa próxima de 100%, ocorrendo condensação na superfície metálica, ficando a
mesma molhada pelo eletrólito (GENTIL, 2011).

Poluentes gasosos promovem a corrosão de metais expostos na atmosfera, de-


vendo ser considerados. Cloretos (em atmosferas salinas), compostos de enxofre, como
o SO2 (em atmosferas industriais ou resultante do fenômeno da chuva ácida) e ácidos

Capítulo 4
CORROSÃO ATMOSFÉRICA EM MONUMENTOS HISTÓRICOS METÁLICOS DO RIO GRANDE DO SUL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

40

orgânicos, como o ácido fórmico (HCOOH) e ácido acético (CH3COOH), são os princi-
pais poluentes atmosféricos químicos (ALMEIDA e PANOSSIAN, 1999).

Com o intuito de minimizar e até mesmo evitar os inconvenientes causados pelos


processos corrosivos, diversos métodos de proteção contra a corrosão são utilizados.
O uso de tintas e revestimentos protetores sobre superfícies metálicas é o método mais
usual, formando uma barreira entre o metal e o meio corrosivo e, consequentemente,
impedindo ou minimizando o processo de corrosão atmosférica (RAMANATHAN,
2010). Outro fator importante na tentativa da preservação de monumentos históricos é
a aplicação de políticas públicas de limpeza e manutenção destas estruturas.

Metodologia

Para a execução deste trabalho foram realizadas análises visuais in loco, aquisição de
imagens digitais dos monumentos e pesquisa bibliográfica na área de corrosão, para a avaliação
do tipo de ataque e nível de degradação. Foi realizado um levantamento de dados históricos
sobre os monumentos alvos do estudo, junto a bibliotecas, prefeituras municipais e pesquisas
digitais. Por meio de análise das imagens foi possível uma classificação do tipo do processo
corrosivo existente, associando-se com a teoria de corrosão. Os monumentos selecionados es-
tão localizados em praças públicas e ruas das cidades de Bagé, Dom Pedrito e Pelotas, ao sul
do estado do Rio Grande do Sul.

Resultados e discussões

Os resultados indicam que a maioria dos monumentos históricos selecionados,


para uma análise detalhada, evidenciam pontos de degradação acentuada das estrutu-
ras. Todos os monumentos históricos apresentavam manchas superficiais de oxidação,
com vários casos de corrosão generalizada (ao longo de grandes extensões da estrutu-
ra) e corrosão localizada (com pontos de perda de material metálico).

Algumas das estruturas avaliadas foram o antigo Canhão; uma caldeira, utiliza-
da em trem de antiga estação férrea, hoje exposta para visitação; bustos de vultos his-
tóricos em praças centrais; as estátuas de cachorros do palacete Pedro Osório; pórtico
de entrada à Bagé; monumento à paz farroupilha, em Dom Pedrito; escultura relevo
em bronze sobre granito, em Pelotas, etc.

Alguns dos monumentos avaliados são apresentados na Figura 1, destacando-se


o caso de corrosão observado.

LOPES, Nicole Dall’Accua.


MOREIRA, Thaciana dos Santos.
ECHEVARRIA, Elizandra Rodrigues.
SILVA, Erich Engels e.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Figura 1: Os monumentos históricos

Capítulo 4
CORROSÃO ATMOSFÉRICA EM MONUMENTOS HISTÓRICOS METÁLICOS DO RIO GRANDE DO SUL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

42

Fonte: Autores (2014).

Considerações finais

Os monumentos selecionados para a realização da pesquisa apresentaram cor-


rosão generalizada e localizada (por pite), evidenciando alteração de cor e perda de
material das estruturas, provavelmente devido à emissão de poluentes na atmosfera, e
excrementos de aves. Este fato evidencia a necessidade de manutenção periódica dos
monumentos para a sua preservação, como sua limpeza, mantendo viva a história da
região. A remoção de produtos de corrosão (óxidos depositados) sobre as estruturas
metálicas pode ser facilmente realizada por lixamento ou limpeza química, com algum
tipo de solvente, segundo a literatura, viabilizando a manutenção.

Ressalta-se a importância de proteger as estruturas metálicas expostas às atmos-


feras agressivas, utilizando-se revestimentos como tintas orgânicas, ou galvanizado,
os quais são de baixo custo e que manteriam a integridade dos metais por muito tem-
po. A conscientização da população também é importante, auxiliando a manter a lim-
peza e impedindo a depredação das estruturas.

LOPES, Nicole Dall’Accua.


MOREIRA, Thaciana dos Santos.
ECHEVARRIA, Elizandra Rodrigues.
SILVA, Erich Engels e.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

43

Referências
ALMEIDA, N.; PANOSSIAN, Z. Corrosão Atmosférica: 17anos. São Paulo: IPT, 1999.

CALLISTER Jr., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. Rio de


Janeiro: LTC, 2008.

GENTIL, Vicente. Corrosão. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

KÜHL, B. M. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos His-


tóricos. Portal de Revistas da USP, São Paulo, v.1, n.1, p. 16-40, 2006.

RAMANATHAN, L. V. Corrosão e seu Controle. São Paulo: Hemus, 2010.

ROBERGE, P. R. Handbook of Corrosion Engineering. United States of America:


McGraw-Hill Companies, 1999.

TORRE, J. Manual prático de fundição e elementos de prevenção da corrosão. São


Paulo: Hemus, 2004.

Capítulo 4
CORROSÃO ATMOSFÉRICA EM MONUMENTOS HISTÓRICOS METÁLICOS DO RIO GRANDE DO SUL
44
CAPÍTULO 5

AVALIAÇÃO DA CORROSIVIDADE DO AÇO


CARBONO EM EXTRATOS AQUOSOS DE
DIESEL E BIODIESEL

PANTA, Laura Queiroz.1


TREVISAN, Luís Henrique.2
RODRIGUES, Luciana Machado.3
SILVA, Sabrina Neves da.4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.5.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,


Campus Bagé - RS.
laurapanta@live.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
lhtrevisan@alunos.unipampa.edu.br
3 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
4  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

46

Resumo

N este trabalho estudou-se a corrosividade de combustíveis sobre um aço


carbono, material utilizado em motores a combustão. Foram preparados
extratos aquosos de biodiesel puro (B100), diesel de petróleo contendo diferentes teo-
res de enxofre em sua composição, 10 e 1800 mg/kg (S10 e S1800) e, por fim, o diesel
comercial, disponível em postos de combustíveis contendo 5% de biodiesel e 10 mg/
kg de enxofre (S10B5). Os experimentos consistiram de medidas de pH e condutivi-
dade elétrica dos extratos, voltametria cíclica e análise visual da morfologia da corro-
são. Foi demonstrado que o extrato aquoso do B100 é mais agressivo que os demais
possivelmente devido à contaminação por glicerol e outros subprodutos da produção
do biodiesel. Pela análise microscópica, verificou-se o início de um processo corrosivo
localizado, indicado pela formação de pites na superfície do aço exposto ao extrato de
B100.

Palavras-chave: Biodiesel. Corrosão. Eletroquímica. Degradação.

Introdução

O esgotamento rápido e o potencial poluidor de combustíveis fósseis exige estudos ur-


gentes para um sistema energético global sustentável. Como uma alternativa atraente ao
diesel e à gasolina surgiram os biocombustíveis. Além da incorporação do etanol de cana
de açúcar à gasolina, sabe-se que o biodiesel adicionado ao diesel também é uma op-
ção viável.

O biodiesel é 30 vezes mais higroscópico do que o diesel, logo, a água absorvi-


da pode agir diretamente sobre a corrosão metálica devido às reações de hidrólise.
Mesmo assim, a totalidade dos estudos da corrosão do biodiesel ocorre no meio oleo-
so, ignorando a importância da fração aquosa. Dessa forma, é importante conhecer a
corrosividade em meio aquoso, contendo as substâncias aquosolúveis agressivas ex-
traídas do combustível. Neste trabalho, o estudo da corrosividade foi realizado por
medidas eletroquímicas de voltametria cíclica em platina e aço carbono AISI 1006, este
aço compõe peças dos motores a diesel. Também foram realizadas medidas em platina
(Pt). A Pt foi utilizada por ser um material inerte, permitindo assim estudar as reações
de oxidação/redução das substâncias presentes nos extratos aquosos sem considerar a
corrosão metálica. Por fim, analisou-se por análise de imagem a morfologia da corro-
são do aço após os testes eletroquímicos.

PANTA, Laura Queiroz.


TREVISAN, Luís Henrique.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

47

Referencial teórico

Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, 2020) o consumo glo-


bal de energia deve aumentar em, pelo menos, um terço nos próximos 25 anos, levan-
do a população mundial à insegurança e à “instabilidade”.

O esgotamento rápido dos combustíveis fósseis irá exigir estudos urgentes para
um sistema energético global sustentável. Como uma alternativa atraente ao diesel e à
gasolina surgiram os biocombustíveis, a partir de fontes renováveis de energia. Entre
estes, destaca-se o biodiesel, produzido mundialmente utilizando óleo de soja, de ca-
nola, ou de palma (MURUGESAN et al., 2009).

Neste sen­tido, o biodiesel tem se configurado como importante alternativa ao


uso do diesel, podendo ser utilizado puro ou em mistura. Em 2005 a especificação do
biodiesel determinava 3% de adição de biodiesel (puro) ao diesel, comercializado no
país a partir de janeiro de 2008. Entretanto, essa proporção passou para 4% em julho
de 2009, 5% em 2015 e, hoje em dia, o teor de 12% (B12) está estabelecido (AQUINO,
2012).

A corrosividade do biodiesel é um parâmetro estabelecido para caracterizar este


combustível, com enfoque geralmente na capacidade do combustível causar corrosão
em peças metálicas, do motor ou do tanque de armazenamento ou de peças poliméri-
cas, como vedações e outras. Esta propriedade tem sido atribuída genericamente como
associada à presença de ácidos carboxílicos ou de compostos de enxofre (JOHANN et
al., 2016).

Em contraste com o petrodiesel, o biodiesel é biodegradável. Mesmo sendo esta


uma boa característica numa perspectiva ambiental, esta falta de estabilidade pode
causar vários problemas para o sistema de combustível dos veículos como, por exem-
plo, o entupimento de filtros, corrosão e depósitos (AQUINO, CASTANHEIRO e
AOKI, 2009).

O biodiesel, devido à sua composição de ésteres de monoalquílicos graxos, deri-


vados de óleos vegetais e gorduras animais, novos ou reciclados tem baixa miscibili-
dade em água e, consequentemente, uma baixa corrosividade de materiais metálicos
seria esperada. Porém, são poucos e recentes os estudos sobre a corrosividade deste
novo combustível em tanques de armazenamento e componentes de motores que es-
tão em contato permanente com ele (GALLINA et al., 2010).

No biodiesel é possível encontrar impurezas no meio, como resíduo de catalisa-


dor e excesso de álcool, que não reagiram durante a reação de obtenção do biocom-

Capítulo 5
AVALIAÇÃO DA CORROSIVIDADE DO AÇO CARBONO EM EXTRATOS AQUOSOS DE DIESEL E BIODIESEL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

48

bustível, glicerina residual livre, sais de ácidos graxos, mono, di e triglicerídeos. Tais
resíduos são responsáveis por acentuar os processos corrosivos (HASEEB et al. 2010;
OLIVEIRA et al., 2004). Comparado com o diesel, biodiesel tem uma maior tendência
para absorver água porque os ésteres têm propriedades higroscópicas (KAMINSKI e
KURZYDTOWSKI, 2008). A água absorvida pode agir diretamente sobre a corrosão
dos materiais, podendo causar reações de hidrólise do biodiesel, aumentando, por
consequência, a corrosão metálica e promovendo o crescimento da ação microbiana e
a corrosão microbiana (PETITEAUX e MONSALLIER, 2009).

Além disso, com o envelhecimento formam-se ácidos graxos de cadeia curta que
podem danificar os injetores ou componentes de bombas de alta pressão. Supõe-se que
os ácidos de cadeia curta presentes (fórmico, acético e propiônico) sejam responsáveis
pela corrosividade, pois causam a corrosão de metais em geral (GALLINA et al., 2010;
AQUINO, 2012; LOU e SINGH, 2010). Para enfrentar estes problemas, os veículos de
biodiesel têm muitas vezes intervalos de manutenção mais curtos em comparação com
veículos movidos a diesel. No entanto, a causa fundamental e formas para eliminar os
problemas estão ainda por serem investigadas (KNOTHE, 2006).

A corrosão por desgaste é geralmente diminuída pela utilização de biodiesel e


suas misturas com o diesel em motores do Ciclo Diesel. Ensaios de perda de massa
reportados na literatura indicam, de uma forma genérica, que aços carbono, aços ino-
xidáveis e alumínio não são corroídos em biodiesel, enquanto que latão, bronze, cobre,
chumbo, estanho e zinco podem ser oxidados em presença de biodiesel. Observou-se,
ainda, que a corrosão de pinos de aço carbono depende da origem de biodiesel e do
seu teor de enxofre (MELERO et al., 2010; WANG, JENKINS e REN, 2011).

Ambrozin e Kuri (2009) reportaram que o desenvolvimento de técnicas para a


avaliação de corrosão em meios com baixa condutividade elétrica, tais como o biodie-
sel, representa um grande desafio na área da corrosão metálica. Entre algumas técni-
cas eletroquímicas propostas, segundo os autores, a mais promissora é a voltametria
cíclica.

Metodologia

As amostras metálicas foram escolhidas a partir dos materiais utilizados comu-


mente em motores automotivos, neste caso optou-se pelo aço de baixo carbono (AISI
1006).

Foram preparados extratos aquosos dos seguintes combustíveis: B100; diesel de


petróleo S10 e S1800, e diesel S10B5.

PANTA, Laura Queiroz.


TREVISAN, Luís Henrique.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

49

As amostras do aço foram cortadas, lixadas, polidas, lavadas, secas e armazena-


das sob vácuo.

Para preparação dos extratos aquosos foram adicionadas quantidades iguais de


água destilada e de combustível (mistura 1:1) a um funil de separação por decantação.
A seguir, a mistura foi agitada manualmente e então o sistema foi mantido em repouso
durante 24 h para a separação das fases e extração das substâncias aquosolúveis da
fase óleo. A Figura 1 a,b mostra os extratos antes e após a separação das fases orgânica
(superior) e aquosa (inferior). Logo após a extração, mediu-se o pH em um medidor
digital de bancada, METROHM e a condutividade elétrica em um medidor digital
portátil, HANNA.
Figura 1: Preparação dos extratos aquosos (a) antes e (b) após a separação das fases.

Fonte: Autores (2014).

As amostras foram caracterizadas por microscopia utilizando-se um microscópio


ótico (MO) e um microscópio eletrônico de varredura (MEV).

Para a realização dos testes eletroquímicos foi utilizado um bipotenciostato Au-


tolab PGSTAT100. Devido à baixa condutividade dos extratos aquosos para realizar
as medidas eletroquímicas, utilizou-se cloreto de potássio (KCl) 0,01 mol/L como ele-
trólito suporte.

Resultados e discussão

A Tabela 1 mostra os resultados das medidas de pH e condutividade elétrica dos


extratos aquosos, medidos a 25°C.

Capítulo 5
AVALIAÇÃO DA CORROSIVIDADE DO AÇO CARBONO EM EXTRATOS AQUOSOS DE DIESEL E BIODIESEL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

50

Tabela 1: Condutividade elétrica e pH dos extratos aquosos.


Extrato Aquoso S10B10 B100 S10 S1800
pH 4,7 3,6 5,9 5,4
Condutividade
12,0 93,7 5,5 7,5
elétrica (µS/cm)

Fonte: Autores (2014).

Observa-se que o extrato do B100 é significativamente mais condutor e mais áci-


do, possivelmente pela presença de íons agressivos provenientes de ácidos orgânicos
e hidroperóxidos, esperadamente corrosivos, que se formam devido à baixa estabili-
dade oxidativa do biodiesel.

A seguir, na Figura 2, são mostradas as curvas de voltametria cíclica medidas


sobre a platina (Figura 2a) e sobre o aço 1006 (Figura 2b).
Figura 2: Voltametrias cíclicas medidas nos extratos aquosos de S10, S10B10, S1800 e B100 medidas
sobre (a) Pt e (b) aço 1006, ambos a 10 mV/s em condições aeradas a 25°C.

Fonte: Autores (2014).

Foram identificados três picos anódicos (a1, a2 e a3) no B100 e 2 picos anódicos
nos extratos de S10, S0B10 e S1800 (a1 e a3). Na parte catódica da curva, identificou-se
1 pico (c1). Esses resultados indicam que no B100 ocorrem mais reações de oxidação
do que nos demais meios estudados. O pico a1 é referente à adsorção de hidrogênio
(H2) na superfície da Pt, o pico a2 é referente a oxidação do álcool (glicerol) ao seu
correspondente ácido carboxílico (B100), e o pico a3 é devido a oxidação da Pt a qual
respectiva reação de redução é indicada pelo pico c1. Nas medidas sobre o aço 1006,
o potencial oxidativo, logo mais corrosivo, do extrato B100 é novamente evidenciado
pelas elevadas densidades de corrente quando comparado aos demais meios. O retor-
no da curva para o sentido negativo de potenciais apresentou densidades de corrente
maiores do que no sentido positivo, indicando que o aço sofreu ataque localizado por
pite. Este ataque localizado é visualizado na Figura 3.

PANTA, Laura Queiroz.


TREVISAN, Luís Henrique.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

51

Figura 3: Micrografia do aço 1006 exposto ao extrato aquoso de B100.

Fonte: Autores (2014).

Considerações finais

Constatou-se que o extrato aquoso de B100 é cerca de sete vezes mais condutor
elétrico e cem vezes mais ácido do que os demais meios. A maior agressividade do
B100 também foi demonstrada por voltametria cíclica. A agressividade do B100 pos-
sivelmente é devida à presença de glicerol, subproduto da produção do biodiesel, que
quando presente, oxida facilmente à ácido carboxílico tornando o meio mais corrosivo.
Verificou-se o início do processo corrosivo localizado, indicado por pites na superfície
do aço.

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HASEEB, A. S. M. A. et al. Comparative corrosive characteristics of petroleum diesel


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Capítulo 5
AVALIAÇÃO DA CORROSIVIDADE DO AÇO CARBONO EM EXTRATOS AQUOSOS DE DIESEL E BIODIESEL
PRÁTICAS DE CORROSÃO

52

10, p. 1308-1315, 2010.         

International Energy Agency (IEA). Disponível em: http://www.iea.org/. Acesso


em: 24 de jul. 2020.

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corrosion resistance of carbon steel and stainless steel in water-biodiesel configura-
tion. Corrosion Measures, v. 6, p. B35-B39, 2008.

KNOTHE, G. Analyzing biodiesel: standards and other methods. Journal of the


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PANTA, Laura Queiroz.


TREVISAN, Luís Henrique.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
CAPÍTULO 6

CORROSÃO DO AÇO API 5L GRAU B PARA


DUTOS EM ÁGUAS NATURAIS

PETERS, Steffany Rincon.1


LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.2
SILVA, Sabrina Neves da.3
RODRIGUES, Luciana Machado.4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.6.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
steffany.rpeters@gmail.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luizarodriguesmelo@gmail.com
3  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
4 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

54

Resumo

A corrosão consiste na deterioração dos materiais pela ação química ou ele-


troquímica do meio. As águas naturais são meios corrosivos complexos
contendo sais, gases dissolvidos, matéria orgânica e microorganismos. É de suma im-
portância o conhecimento dos processos corrosivos, devido ao fato do mesmo gerar
grandes perdas econômicas. Este trabalho objetiva investigar o caráter corrosivo de
águas naturais, coletadas no Rio Grande do Sul, sobre o aço carbono API 5L Grau
B, utilizado na construção de dutos. Foram avaliadas água do mar, açude, e rio. O
estudo baseou-se na caracterização físico-química das águas, análise morfológica do
ataque ao metal, e estudo da corrosão do aço exposto às águas. A taxa de corrosão foi
determinada, segundo a norma ASTM G1 - 99, após 5 meses de exposição. Testes ele-
troquímicos determinaram o potencial e a densidade de corrente de corrosão, além do
comportamento do aço nas águas, empregando-se curvas de polarização, potencial de
circuito aberto e curvas de Tafel. Os resultados indicaram o ataque ao aço em curtos
tempos de exposição. A água do mar promoveu a maior taxa de corrosão sobre o aço
(0,33 mm/ano), iniciando por ataque localizado (pite) e finalizando em um ataque
generalizado. No entanto, todas as amostras de águas foram corrosivas ao metal, em
menor intensidade. Este fato reforça a necessidade da investigação das águas como
meios corrosivos.

Palavras-chave: Corrosão. Águas. Aço. API 5L Grau B. Mar.

Introdução

A água doce inclui todas as águas naturais não salinas, encontradas em córregos,
rios, lagos e açudes. Nesta categoria também são incluídas águas oriundas de precipi-
tações como chuva e neve, água de poços, nascentes e águas tratadas. A água do mar é
uma solução salina, constituída predominantemente por cloretos de sódio e magnésio
dissolvidos, embora estejam presentes em pequenas quantidades outros minerais so-
lúveis.

O caráter corrosivo das águas não se restringe à ação isolada da salinidade, ocor-
rendo uma ação conjunta dos diferentes constituintes, como matéria orgânica viva,
matéria orgânica em decomposição e gases dissolvidos. Ao submergir estruturas me-
tálicas em água do mar, inicia-se um processo de incrustação e proliferação de algas,
limos, mexilhões, que poderão formar um depósito extremamente duro e aderente, o
biofouling.

Este trabalho realiza a caracterização físico-química de águas naturais (doces e


salgada) e o estudo da corrosão do aço carbono exposto às águas. Foram determinados

PETERS, Steffany Rincon.


LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

55

a taxa, o potencial e a densidade de corrente de corrosão, além do comportamento do


aço API 5L Grau B nos meios estudados.

Referencial teórico

A seleção de materiais de engenharia, para a construção de equipamentos ou


instalações, é criteriosa quanto a sua resistência contra a corrosão. Um considerável
percentual da produção mundial de aço é destinado a repor perdas causadas pela cor-
rosão, o que representa um impacto econômico para as grandes empresas que utilizam
estes materiais (GEMELLI, 2001).

Os processos corrosivos, que atacam e degradam materiais metálicos, são espon-


tâneos, e constantemente transformam os materiais, diminuindo ou limitando a sua
durabilidade e desempenho, resultando em um problema para as indústrias, nos se-
tores petroquímico, mineração, energia, alimentos, fertilizantes, siderúrgico, etc (PA-
NOSSIAN; ALMEIDA; OHBA, 1993).

Os materiais metálicos em contato com águas naturais tendem a sofrer corrosão,


a qual vai depender de vários fatores, como pH, temperatura, velocidade de agitação,
além de substâncias que podem estar contaminando a mesma (FURTADO, 1981). Os
contaminantes normalmente encontrados são gases dissolvidos (O2, N2, CO2, Cl2, SO2,
SO3, H2S), sais dissolvidos (NaCl, FeCl3, MgCl2, Na2CO3, NaHCO3), matéria orgânica
de origem animal ou vegetal, bactérias, limos, algas, sólidos suspensos, entre outros
(GOMES, 1995).

Os sais podem agir acelerando ou retardando a velocidade do processo corrosi-


vo. O efeito do cloreto de sódio na corrosão, deve-se ao fato deste sal ser um eletrólito
forte, ocasionando o aumento da condutividade elétrica, que é fundamental no meca-
nismo eletroquímico. O íon cloreto atua também na despassivação do aço inoxidável
e das ligas de alumínio, visto que ele pode penetrar na camada protetora de óxidos
de cromo e alumínio. No caso da presença de íons sulfato SO42-, considera-se a possi-
bilidade de ocorrência de corrosão microbiológica, por bactérias redutoras de sulfato
(GENTIL, 2011).

Estudos desenvolvidos em água do mar constataram as formas de corrosão por


pite, ou alveolar (PICON et al., 2010). Aços carbono e outros aços de baixa liga apre-
sentam taxas de corrosão em curto prazo de 130 mm/ano, quando completamente
submersos em água do mar.

Capítulo 6
CORROSÃO DO AÇO API 5L GRAU B PARA DUTOS EM ÁGUAS NATURAIS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

56

Metodologia

As amostras de águas naturais foram coletadas nos municípios gaúchos de Rio


Grande (água do mar), Bagé (água do rio Quebracho) e Dom Pedrito (água de açude).
A caracterização físico-química das águas foi realizada através da determinação do
índice de turbidez, do valor de pH e da condutividade elétrica (α).

As amostras metálicas empregadas foram retiradas de uma seção de duto de


aço carbono, tipo API 5L Grau B. Este aço é tipicamente empregado na construção
de dutos, tanques e plataformas marítimas. As amostras foram cortadas, lixadas até
granulometria #2000, em lixas de carbeto de silício, secas com jato de ar frio (Figura
1a) e mantidas em dessecador à vácuo, até sua caracterização por microscopia ótica
(em estereomicroscópio MOTIC e microscópio metalúrgico com aquisição de dados
acoplado FORTEL).

O ensaio de corrosão por imersão, consistindo da exposição das amostras metá-


licas nas águas naturais foi realizado durante 5 meses (Figura 1b), sendo monitorada a
perda de massa e a morfologia do ataque ao metal. A determinação da taxa de corro-
são segundo a norma ASTM G1 - 99, é representada pela Equação 1:

(1)

na qual: K é constante para definir unidades, equivalente a 8,76 x 104 mm/ano,


t é tempo de exposição em h, A é área exposta em cm2, W é perda de massa em g, D é
densidade do metal em g/cm3 (aço carbono = 7,86 g/cm3).

Os testes eletroquímicos de corrosão foram realizados por voltametria cíclica


em célula a três eletrodos, na presença de oxigênio, em potenciostato Autolab PGS-
TAT100. A varredura foi efetuada entre 100 e 320 mV, em relação ao eletrodo padrão
de hidrogênio (EPH), a uma velocidade de 10 mV/s. Foram empregados o eletrodo
de referência de Ag/AgCl, como contra-eletrodo um fio de Pt e o aço carbono API 5L
Grau B, como eletrodo de trabalho. O potencial de corrosão do aço nos meios avaliados
foi determinado com 30 min de exposição. Todas as medidas foram realizadas a 25ºC.

PETERS, Steffany Rincon.


LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

57

Figura 1: (a) Amostra metálica e (b) ensaio de corrosão por imersão.

Fonte: Autores (2016).

Resultados e discussões

A Tabela 1 apresenta o resultado da caracterização físico-química realizada nas


amostras de águas naturais antes da exposição do aço carbono, e o monitoramento de
parâmetros durante o tempo total de exposição (5 meses), sendo acompanhados os va-
lores de pH inicial (pHi) e final (pHf), e condutividade elétrica inicial (αi) e final (αf). O
índice de turbidez reflete a quantidade de material particulado presente em cada meio,
sendo destacado o maior nível em água do mar. Observou-se o crescente aumento dos
valores de pH e condutividade elétrica das amostras de águas naturais, sendo maiores
para a amostra de água do mar. O incremento nos valores de condutividade elétrica,
provavelmente se deva à liberação de pequenas quantidades de óxidos metálicos, que
se destacam do metal atacado, nas águas.

A variação de massa das amostras de aço também foi registrada após 5 meses, re-
velando que em água do mar ocorreu o maior incremento de massa detectado, prove-
niente do acúmulo de espessa camada de produtos de corrosão. A variação de massa
do metal nas amostras de águas doces foi semelhante entre si. As taxas de corrosão de
aço carbono foram de 0,15 mm/ano em açude, 0,17 mm/ano em rio, e 0,33 mm/ano
no mar. As águas de rio e açude também se mostraram agressivas ao aço após 5 meses.
Tabela 1: Caracterização das águas e condições após 5 meses.
Taxa de
Águas pHi pHf αi αf Turbidez Δm Corrosão
(mS/cm) (mS/cm) (NTU) (g) (mm/ano)
1 Mar 6,5 7,7 >200 >200 53,0 0,015 0,33
2 Rio 7,7 8,6 1,70 3,25 7,60 0,018 0,17
3 Açude 7,5 8,2 0,30 0,75 0,32 0,028 0,15

Fonte: Autores (2016).

A morfologia do ataque ao aço carbono após 1 e 5 meses em cada uma das amos-
tras de águas é apresentada na Figura 2. Observa-se que após 1 mês de imersão o
processo corrosivo já havia sido iniciado, sendo mais intenso em água do mar. Após 5
meses de exposição todas as amostras de águas haviam promovido o crescimento de
produtos de corrosão alaranjandos nas superfícies metálicas, típicos de óxido de ferro,

Capítulo 6
CORROSÃO DO AÇO API 5L GRAU B PARA DUTOS EM ÁGUAS NATURAIS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

58

sendo que a água do mar provocou a formação da camada mais espessa, compacta e
homogênea, de forma generalizada.
Figura 2: Morfologia do aço carbono (a) antes, e após imersão de 1 e 5 meses em: (b) água de açude, (c)
água de rio, e (d) água do mar.

Fonte: Autores (2016).

Com o intutito de se investigar a nucleação do ataque ao aço carbono foi analisa-


da a superfície metálica após 10 min em água de rio e água do mar (Figura 3), sendo
visualizada a formação de pites (ataque localizado).
Figura 3: Morfologia do ataque ao aço em 10 min em água de (a) rio e (b) mar.

Fonte: Autores (2016).

Os testes eletroquímicos determinaram o potencial de corrosão (Ecorr) do aço car-


bono em função do tempo de imersão (Figura 4), por potencial de circuito aberto, den-
sidade de corrente máxima (imáx), por curvas de polarização (Figura 5), e densidade de
corrente de corrosão (icorr), pelas curvas de Tafel.
Figura 4: Potencial de corrosão do aço em função do tempo.

Fonte: Autores (2016).

PETERS, Steffany Rincon.


LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

59

Figura 5: Voltametria cíclica do aço nas águas de (a) mar, (b) rio e açude.

Fonte: Autores (2016).

A Tabela 2 resume os resultados eletroquímicos obtidos.


Tabela 2: Resultados de corrosão por ensaios eletroquímicos.
Ecorr imáx icorr
Águas (mV) (mA/cm2) (mA/cm2)
1 Mar -277 13,6 0,012
2 Rio -160 0,012 0,0022
3 Açude 255 0,003 0,0006

Fonte: Autores (2016).

A corrosividade da água do mar foi muito mais intensa do que as demais amos-
tras de água. A densidade de corrosão máxima (imáx) do aço em água do mar foi cerca
de 1000 vezes maior do que no rio, e 10000 vezes maior do que no açude. Nas voltame-
trias, após a inversão no sentido da varredura, a direção de polarização sugere que o
metal sofreu ataque inicial de forma localizada, por pites. Por meio das curvas de Tafel
determinou-se o valor de densidade de corrente de corrosão (icorr), sendo que na água
do mar obtiveram-se valores mais elevados, indicando, que este é o meio mais agres-
sivo entre os três estudados. As medidas de potencial de corrosão (Ecorr) corroboram
com estes resultados.

Considerações finais

Este trabalho permitiu constatar a agressividade das águas naturais estudadas,


açude, rio e mar. A água do mar mostrou-se mais agressiva ao aço API 5L Grau B,
promovendo um rápido ataque ao metal, com formação de camada de produtos de
corrosão, e os maiores incrementos nos valores de pH e condutividade elétrica. No
entanto, também foi constatado um ataque ao metal imerso nas amostras de águas de
açude e rio, em menor intensidade.

Capítulo 6
CORROSÃO DO AÇO API 5L GRAU B PARA DUTOS EM ÁGUAS NATURAIS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

60

Ressalta-se a importância do emprego da adequada proteção de estruturas metá-


licas expostas a ambientes de águas naturais, tanto de águas salgadas, quanto de águas
doces.

Referências
American Society for Testing and Materials. ASTM G1: Standard Practice for Prepar-
ing, Cleaning, and Evaluation Corrosion Test Specimens. ASTM, 1999.

FONTANA, M. G. Corrosion Engineering. New York: McGraw-Hill Book Company,


1986.

FURTADO, P. Introdução à Corrosão e Proteção das Superfícies. Belo Horizonte:


Imprensa Universitária, UFMG, 1981.

GEMELLI, E. Corrosão de Materiais Metálicos e Sua Caracterização. Rio de Janeiro:


LTC, 2001.

GENTIL, V. Corrosão. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

GOMES, L. P. Sistemas de Proteção catódica. São Paulo: Instalações e Engenharia de


Corrosão Ltda., 1995.

PANOSSIAN, Z.; ALMEIDA, N. L.; OHBA, M. Corrosão e proteção de contra corro-


são em equipamentos e estruturas metálicas. São Paulo: IPT, 1993.

PICON, C. A.; FERNANDES, F. A. P.; TREMILIOSI-FILHO, G.; RODRIGUES, C. A.


D.; CASTELETTI, L. C. Estudo do mecanismo de corrosão por pites em água do mar
de aços inoxidáveis supermartensíticos microligados com Nb e Ti. Rem: Rev. Esc.
Minas, Ouro Preto, v. 63, n. 1, 2010.

PETERS, Steffany Rincon.


LIMA, Luiza Rodrigues Melo de.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
CAPÍTULO 7

CORROSIVIDADE DOS SOLOS DA REGIÃO


CARBONÍFERA DO RIO GRANDE DO
SUL SOBRE ESTRUTURAS METÁLICAS
ENTERRADAS

ERTHAL, Camile.1
WERNER, Kauana Serpa. 2
AVILA, Luisa Bataglin.3
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.4
SILVA, Sabrina Neves da.5
RODRIGUES, Luciana Machado.6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.7.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
erthalcamile@gmail.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
kauanasw@gmail.com
3  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luisabataglinavila@gmail.com
4  Licenciatura em Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
mariacasartelli@unipampa.edu.br
5  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
6 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

62

Resumo

A corrosividade dos solos é um importante fator a ser considerado devido a


quantidade de estruturas metálicas enterradas. Neste trabalho foi realizada
uma análise de corrosividade em solos coletados em seis cidades na região da Campanha-RS,
os quais sofrem a influência de materiais particulados (MP’s), advindos da combustão de carvão
mineral de uma Usina Termoelétrica (UTE). Os solos foram caracterizados por pH, gra-
nulometria, resistividade elétrica, capacidade de retenção de água, e microscopia. O grau de
agressividade a materiais metálicos enterrados foi avaliado sobre aço carbono (para tubulações)
durante 1 ano, e aço galvanizado (para torres de linhas de transmissão) por 60 dias. Ensaios
acelerados de corrosão, sobre o aço galvanizado com defeito artificial, foram procedidos por
30 dias nos solos estudados, contendo adição de 25% em massa de cinzas volantes. A
morfologia da corrosão foi monitorada por microscopia. Resultados indicam que não
foi constatada a corrosão do aço galvanizado para 60 dias de exposição, e para o aço carbono,
30 dias foram suficientes para iniciar um processo corrosivo, nos solos mais próximos
à UTE (Candiota e Pinheiro Machado), os quais apresentaram baixos valores de re-
sistividade elétrica e pH. Nos ensaios acelerados de corrosão sobre o aço galvanizado
foi identificada a ocorrência da “corrosão branca” nas amostras enterradas no solo de
Candiota. A resistividade elétrica indicou que o solo de Candiota é muito corrosivo.
Os solos de municípios mais distantes da UTE, Aceguá e Dom Pedrito, são modera-
damente corrosivos ou não corrosivos. E os demais, se apresentaram como solos cor-
rosivos.

Palavras-chave: Corrosão. Solo. Carvão. Aço. Galvanizado.

Introdução

O termo corrosão pode ser definido como a reação do metal com os elementos do
seu meio, na qual o metal é convertido a um estado não metálico. Este processo, além
de apresentar danos à estrutura do material, causa perdas financeiras, por problemas
econômicos diretos e indiretos.

Na corrosão subterrânea, apesar do meio parecer seco, sempre haverá determi-


nada quantidade de água, a qual atua como eletrólito para passagem de corrente elé-
trica, promovendo assim a aceleração do processo corrosivo. Além disso, o solo apre-
senta características que influenciam na velocidade de corrosão a um material metálico
enterrado.

Tendo em vista o vasto emprego de aço carbono em tubulações e tanques, e aço


galvanizado em torres de linhas de transmissão, no presente trabalho, foram enterra-
das amostras destes materiais em solos coletados em regiões afetadas pelos MP’s de

ERTHAL, Camile.
WERNER, Kauana Serpa.
AVILA, Luisa Bataglin.
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

63

uma UTE na região da Campanha-RS, para a determinação do grau de corrosividade


destes solos.

Referencial teórico

Corrosão é um fenômeno natural, definida como a deterioração de um material,


geralmente metálico, resultante de reações químicas ou eletroquímicas com seu am-
biente. O solo é um complexo meio corrosivo e a velocidade da corrosão é influenciada
pelos parâmetros principais pH, umidade, sais, gases e resistividade elétrica (GENTIL,
2011; PANOSSIAN, ALMEIDA, OHBA, 1993).

O estudo do solo como meio corrosivo é relevante devido à grande quantidade


de estruturas metálicas enterradas. A corrosão nestas estruturas pode causar perfura-
ções que geram vazamentos, rupturas, causando contaminação do meio ambiente ou
acidentes fatais (GENTIL, 2011).

Os solos arenosos permitem rápida penetração de ar e alta permeabilidade de


água, ocasionando pouca retenção de água, o que geralmente representa baixa corrosi-
vidade. Solos argilosos possuem partículas finas, de baixa permeabilidade, e por isso,
há a tendência de retenção de água, que normalmente favorece a corrosão do metal
(OGUZIE; AGOCHUKWU; ONUCHUKWU, 2004).

Um dos parâmetros fundamentais relativos à agressividade do solo é a sua re-


sistividade elétrica. A taxa de corrosão de uma estrutura metálica enterrada é inversa-
mente proporcional à resistividade elétrica do solo. A resistividade elétrica depende
das características do solo, como textura, umidade e retenção de água (LOUREIRO,
2005).

A corrosividade de solos pode ser influenciada pela chuva, ocasionando o au-


mento da sua umidade e diminuição da resistividade elétrica, bem como a formação
de chuva ácida. A chuva ácida está presente em áreas nas quais ocorre a queima do
carvão com a liberação de compostos de enxofre. Estes compostos em contato com a
umidade formam a chuva ácida, acidificando os solos destes locais, o que acelera a
corrosão (GENTIL, 2011).

Durante o processo de queima do carvão em uma UTE, ocorre emissão de mate-


riais particulados (MP’s), bem como de óxidos de enxofre (SOx) e de nitrogênio (NOx).
Estes óxidos podem contribuir fortemente para a formação da chuva ácida (HAMA,
2001). Já os MP’s emitidos podem percorrer longas distâncias na atmosfera, depositan-
do-se no solo. Sendo assim, a presença de gases SOx, NOx e dos MP’s dispersos na at-
mosfera, pode acelerar o processo corrosivo, através da modificação das características
físico-químicas do solo, tornando-o mais agressivo e comprometendo, dessa forma, a
Capítulo 7
CORROSIVIDADE DOS SOLOS DA REGIÃO CARBONÍFERA DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE ESTRUTURAS METÁLICAS
ENTERRADAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

64

integridade de estruturas metálicas enterradas (GENTIL, 2011). A corrosão pode da-


nificar essas estruturas, causando prejuízos para o setor. Neste processo, as torres de
linhas de transmissão podem sofrer com abalos em sua estrutura física, agravados pela
ação dos ventos (HOFFMANN, 2005).

Metodologia

As amostras de solos foram coletadas em seis cidades da região carbonífera do Rio Gran-
de do Sul: Aceguá (1), Bagé (2), Dom Pedrito (3), Hulha Negra (4), Candiota (5), e Pinheiro
Machado (6), parte da Campanha gaúcha (Figura 1), e são afetadas por emissões de MP’s
de UTE, localizada em Candiota.
Figura 1: Detalhe do mapa do RS - região da Campanha gaúcha.

Fonte: Mapa da Campanha gaúcha (2016).

As amostras de solos foram caracterizadas por pH (medidor digital de bancada, ME-


TROHM); granulometria, por peneiramento conforme NBR 6502 (ASSOCIAÇÃO BRA-
SILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1995); cálculo da resistividade elétrica; capacidade de
retenção de água; morfologia, por microscopia ótica (estereoscópio MOTIC); e determinação
do grau de corrosividade.

Os solos podem ser classificados quanto ao diâmetro (d) expresso em mm em:


argiloso (Arg) para d < 0,002; silte (Silte) para 0,002 < d < 0,05; arenoso (Are) para 0,05
< d < 2; ou pedregulho (Ped) para d > 2 (GENTIL, 2011). Já a relação entre a resisti-
vidade elétrica (ρ) do solo, expressa em Ohm.cm, e a corrosão pode ser classificada
como: muito corrosivo (MC) ρ < 7; corrosivo (C) 7 < ρ < 20; moderadamente corrosivo
(ModC) 20 < ρ < 50; e pouco ou não corrosivo (NC) ρ > 50 (GENTIL, 2011).

A velocidade de infiltração básica (VIB) do solo foi determinada por balanço vo-
lumétrico, com a infiltração de água tanto na direção vertical quanto na horizontal,
escoamento superficial. A taxa de entrada de água no solo decresce com o tempo em
função do umedecimento do perfil, assumindo um valor mínimo quase constante, a
VIB. A VIB está diretamente relacionada com a textura do solo. Os valores de VIB ou
taxa de infiltração básica de água para solos são: VIB muito alta: > 30 mm/h; VIB alta:
15 - 30 mm/h; VIB média: 5 - 15 mm/h; VIB baixa: < 5 mm/h.

ERTHAL, Camile.
WERNER, Kauana Serpa.
AVILA, Luisa Bataglin.
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

65

A capacidade efetiva de retenção de água no solo é definida como sendo a razão


entre o volume de água retido no solo e o volume de água inicial percolado em uma
quantidade conhecida de solo.

As amostras metálicas de aço carbono API 5L Grau B foram extraídas de tubula-


ção para a condução de petróleo. O aço foi preparado por corte (2 cm2) e lixamento até
granulometria #1200, em lixas de carbeto de silício, e sua morfologia foi analisada em
microscópio metalúrgico FORTEL, com sistema de aquisição de dados acoplado. As
amostras de aço foram enterradas nos solos, e mantidas por 1 ano, sendo monitorada
por microscopia.

As amostras de aço galvanizado foram cortadas (2 cm²) e enterradas nos solos (2


meses). Foram também realizados ensaios acelerados de corrosão, laboratoriais. Nes-
tas amostras foi criado um defeito artificial em formato de “X” (KLUNK; DICK, 2010),
posteriormente, foram enterradas em solos contendo adição de 25% em massa de cin-
zas volantes, para investigar sua influência.

Resultados e discussões

A textura observada para a maioria dos solos foi arenosa, conforme microscopia
(Figura 2) e as curvas de análise granulométrica (Figura 3).

Os valores de pH dos solos variaram entre 5,1 (Candiota) e 8,9 (Dom Pedrito).
A resistividade elétrica indicou que o solo de Candiota é muito corrosivo. Os solos de
municípios mais distantes da UTE, como Aceguá e Dom Pedrito, são moderadamente
corrosivos ou não corrosivos. Os demais se apresentaram como solos corrosivos. Na
Tabela 1 estão sintetizados os resultados referentes ao diâmetro predominante (dpredomi-
nante
) e a resistividade elétrica (ρ) dos solos estudados, além da respectiva classificação
quanto à corrosividade.
Figura 2: Caracterização morfológica dos solos.

Fonte: Autores (2017).

Capítulo 7
CORROSIVIDADE DOS SOLOS DA REGIÃO CARBONÍFERA DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE ESTRUTURAS METÁLICAS
ENTERRADAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

66

Figura 3: Distribuição granulométrica (a) Bagé, (b) Hulha Negra e (c) Candiota.

Fonte: Autores (2017).

Tabela 1: Caracterização dos solos.

Solos pH dpredominante ρ Corrosividade


(mm) (Ohm/cm)
1 Dom Pedrito 8,9 0,42 53,8 NC
2 Aceguá 8,7 0,84 23,8 ModC
3 Bagé 7,3 0,40 15,1 C
4 Hulha Negra 5,6 0,78 10,5 C
5 Candiota 5,1 0,18 4,1 MC
6 Pinheiro Machado 6,2 0,44 7,7 C

Fonte: Autores (2017).

Os valores de velocidade de infiltração básica e capacidade de retenção de água


para os solos de Dom Pedrito e Candiota foram:

• Dom Pedrito: VIB = 63,6 mm/h; Retenção de água = 47,5%

• Candiota: VIB = 89,4 mm/h; Retenção de água = 73,7%

A capacidade de retenção de água do solo de Candiota foi cerca de 34% maior do


que Dom Pedrito, corroborando com os resultados apresentados.

A morfologia do ataque ao aço carbono evidenciou a formação de produtos de corrosão


na sua superfície, logo após os primeiros 30 dias de exposição. O solo mais corrosivo foi Can-
diota, seguido por Pinheiro Machado, e o solo de Dom Pedrito se mostrou o menos corrosivo
(Figura 4). Considera-se que a cinza proveniente da combustão do carvão, emitida por
UTE, pode ter contribuído para a acidificação e o aumento da corrosividade dos solos.
Figura 4: Morfologia do aço carbono antes e após 4, 6 e 12 meses de exposição em solos de (a) Dom
Pedrito e de (b) Candiota.

Fonte: Autores (2017).

ERTHAL, Camile.
WERNER, Kauana Serpa.
AVILA, Luisa Bataglin.
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

67

Os experimentos de corrosão com o aço galvanizado não indicaram ataques cor-


rosivos para nenhum dos solos, em 60 dias de exposição. Os ensaios acelerados de
corrosão, nos quais as amostras de aço galvanizado foram submetidos à defeito ar-
tificial em “X”, indicaram a corrosão localizada, de coloração levemente alaranjada,
nas amostras enterradas nos solos de Candiota (Figura 5). Este produto de corrosão
corresponde à oxidação do aço sob o revestimento, conhecida como "corrosão branca”.
Esta se refere a um tipo de produto de corrosão que afeta superfícies galvanizadas,
caracterizada pelo acúmulo de produto de corrosão composto de óxidos/hidróxidos
de zinco (GENTIL, 2011). A “corrosão branca” foi evidente nas amostras enterradas no
solo de Candiota, nos demais foi menos intensa. A etapa seguinte à “corrosão branca”
é a rápida corrosão do aço (GENTIL, 2011). Quando ocorrem falhas ou poros nos re-
vestimentos zincados, o zinco funciona como ânodo e a superfície do aço exposta ao
meio corrosivo é protegida catodicamente.
Figura 5: Morfologia do aço galvanizado antes e após 30 dias de exposição em solos de (a) Dom Pedri-
to e de (b) Candiota

Fonte: Autores (2017).

Considerações finais

Concluiu-se que devido à agressividade dos solos, a partir de 30 dias de expo-


sição, foi iniciado um processo corrosivo no aço carbono, principalmente nos solos
próximos à UTE (Candiota e Pinheiro Machado). As emissões de MP’s provenientes
da combustão do carvão são ricas em compostos de enxofre e podem promover a cor-
rosão por acidificação, ao reagirem com água, formando H2SO4. No entanto, não foi
constatada a corrosão do aço galvanizado para 60 dias de exposição. Somente quando o aço
galvanizado sofreu um defeito artificial foi promovida a “corrosão branca” pelo solo de Can-
diota contendo cinzas volantes, após 30 dias. A resistividade elétrica indicou que o solo de
Candiota é muito corrosivo; que os solos mais distantes da UTE, Aceguá e Dom Pedri-
to, são moderadamente corrosivos ou não corrosivos; e que os demais, são corrosivos.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6502: Rochas e
Solos: Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.

GENTIL, V. Corrosão. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

HAMA, P. Estudo da influência da chuva ácida na concentração de alumínio em


solos próximos a uma termoelétrica a carvão. 2001. Dissertação (Mestrado em Ciên-
Capítulo 7
CORROSIVIDADE DOS SOLOS DA REGIÃO CARBONÍFERA DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE ESTRUTURAS METÁLICAS
ENTERRADAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

68

cias) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, São


Paulo, 2001.

HOFFMANN, J. N. Proteção contra corrosões nas fundações das torres metálicas


utilizando energia induzida pelo campo elétrico da linha de transmissão. Espaço e
Energia, Curitiba: COPEL, 2005.

KLUNK, M.; DICK, L. F. P. Relatório: Estudo da corrosão em grelhas enterradas no


solo em torres de linha de transmissão de energia elétrica. Porto Alegre: UFRGS,
2010.

LOUREIRO, A. M. V. Estudo da corrosão de dutos enterrados em solos contami-


nados por substâncias químicas. 2005. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de
Processos Químicos e Bioquímicos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2005.

MAPA da campanha gaúcha. Belo Horizonte: Academia do vinho, 2016. 1 mapa, co-
lor. Disponível em: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_
num=CAMPANHA. Acesso em: 25 jul. 2020.

OGUZIE, E. E.; AGOCHUKWU, I. B.; ONUCHUKWU, A. I. Monitoring the corrosion


susceptibility of mild steel in varied soil textures by corrosion product count techni-
que. Materials Chemistry and Physics, v. 84, n. 1, p. 1- 6, 2004.

PANOSSIAN, Z.; ALMEIDA, N. L.; OHBA, M. Corrosão e proteção de contra corro-


são em equipamentos e estruturas metálicas. São Paulo: IPT, 1993.

ERTHAL, Camile.
WERNER, Kauana Serpa.
AVILA, Luisa Bataglin.
CASARTELLI, Maria Regina de Oliveira.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
CAPÍTULO 8

CARACTERIZAÇÃO E RESISTÊNCIA À
CORROSÃO DO REVESTIMENTO INTERNO
DE EMBALAGENS DE FOLHA DE FLANDRES
PARA ALIMENTOS

TREVISAN, Luís Henrique.1


VARGAS, Bruna Sanmartin.2
RODRIGUES, Luciana Machado.3
SILVA, Sabrina Neves da.4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.8.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
lhtluishenrique@hotmail.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
brunasanmartinvargas@gmail.com
3 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
4  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

70

Resumo

A folha de flandres é empregada na fabricação de latas para alimentos, em-


pregando um revestimento polimérico interno, o verniz, atóxico, com boa
resistência mecânica e química. Este trabalho caracterizou o verniz de embalagens
para alimentos, nas regiões da tampa, corpo, fundo e solda. O verniz foi caracterizado
quanto a sua morfologia, por microscopia ótica; quantidade aplicada, por gravime-
tria; aderência, pelo teste de grade; e grau de cura, por dissolução em metil-etilcetona.
Além disso, foram determinadas as resistências das soluções e dos revestimentos por
Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE). Os ensaios foram realizados com
e sem a delaminação artificial do revestimento, visando simular o processo que ocorre
naturalmente em decorrência da interação do material envernizado com o eletrólito
durante a estocagem. O estudo concluiu que a quantidade de verniz aplicada foi variá-
vel em cada região das latas (4-16 mg/m²). A melhor aderência foi detectada no corpo
das latas e o grau de cura foi considerado eficiente. O pH ácido de alimentos pode ter
promovido a degradação e formação de manchas no verniz interno das embalagens. A
solda estava intacta na maioria das latas. No entanto, o processo de deterioração esta-
va avançado para o extrato de tomate. O comportamento da amostra foi predominan-
temente capacitivo. Os revestimentos apresentaram perda de resistência após o PTC,
confirmando que a delaminação reduz o caráter protetor do verniz.

Palavras-chave: Revestimento. Folha-de-Flandres. Eletroquímica. Alimento.

Introdução

A folha de flandres é constituída por chapa de aço revestida por estanho em


ambas as faces. Quando empregada para a fabricação de latas para alimentos em con-
serva, deve apresentar resistência química, relacionada à corrosão e à sulfuração, e
resistência mecânica. A esta conformação é adicionado um revestimento polimérico, o
verniz sanitário.

O verniz aplicado para tais fins deve apresentar, capacidade de deformar-se elas-
ticamente, ter estabilidade térmica e ser isento de riscos de toxicidade ou potencial de
interferência no sabor do enlatado.

Neste trabalho, a caracterização do revestimento polimérico interno de embala-


gens metálicas de conservas de milho, ervilha, abacaxi e extrato de tomate foi realizada
pela determinação da quantidade aplicada, do grau de cura, aderência e morfologia.
O desempenho do verniz foi testado pela técnica de Espectroscopia de Impedância
Eletroquímica (EIE).

TREVISAN, Luís Henrique.


VARGAS, Bruna Sanmartin.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

71

Referencial teórico

A embalagem serve para conservar o alimento nela contido pelo controle da


perda de umidade, contenção do vácuo no head space, inibição da entrada de luz, e
pelo bloqueio da entrada de microorganismos, para que seja prolongada a vida útil, e
garantida sua qualidade (AZEREDO et al., 2000).

É de suma importância a estabilidade do material que compõe esse invólucro


protetor, não sendo tolerável a migração de componentes contaminantes em quanti-
dades nocivas (AZEREDO et al., 2000). Por definição da AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA (BRASIL,1996) a migração é a transferência de
componentes da embalagem em contato com alimentos para os produtos embalados.

A folha de flandres é o material mais empregado na fabricação de embalagens de


alimentos devido às suas propriedades intrínsecas como resistência mecânica, capaci-
dade de conformação, resistência à corrosão e soldabilidade, conforme Jorge (2013). É
constituída por uma chapa de aço (liga de ferro com baixo teor de carbono), revestida
por estanho em ambas as faces (2,8-11,2 g/m2 com espessura entre 0,15 e 0,40 mm),
cuja aplicação é feita por eletrodeposição, a partir de soluções aquosas de sais de esta-
nho. Segundo Dantas et al. (2011) existem também outras camadas delgadas, como a
camada intermetálica (FeSn2) e o filme de passivação (óxido de estanho), que oferecem
resistência à corrosão e são importantes por suas propriedades superficiais.

Como apresentado por Gentil (2011) o revestimento polimérico interno das latas,
é uma película aderente, transparente ou opaca, de fácil secagem e aplicação, formada
por resinas como fenólicas e epóxi. De acordo com Robertson (2013) este verniz deve
ter resistência mecânica, química, a tratamentos térmicos, à abrasão, flexibilidade e
não apresentar toxicidade.

Na presença de defeitos neste revestimento, os alimentos podem atuar como so-


luções eletrolíticas quando em contato com o metal, podendo iniciar processos corro-
sivos (FARIA, 2000). Os íons metálicos advindos da oxidação podem alterar o sabor e
comprometer o alimento (ESTEVES, 2013).

O desempenho de latas de folha de flandres contendo molho de tomate foi ava-


liado por meio da estocagem por 24 meses a 35°C, sendo determinadas as concentra-
ções de estanho, ferro e cromo no produto. A partir dessa avaliação Dantas et al. (2012)
concluíram que essa embalagem é uma opção viável para 18 meses de estocagem do
produto.

Capítulo 8
CARACTERIZAÇÃO E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO REVESTIMENTO INTERNO DE EMBALAGENS DE FOLHA DE
FLANDRES PARA ALIMENTOS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

72

Metodologia

As embalagens metálicas de milho, ervilha, abacaxi e extrato de tomate foram adquiridas


no mercado local da cidade de Bagé-RS. As latas foram esvaziadas, lavadas com água destilada,
secas com jato de ar frio, e cortadas manualmente em amostras de 9 cm² de área superficial. Foi
medido o pH de cada alimento (medidor digital de bancada, METROHM). A caracterização
das amostras de verniz foi relativa à determinação da quantidade do verniz aplicado; o grau de
cura; a aderência; e morfologia, descritas por Faria (2000), Coles e Kirwan (2011), e Machado
(2006).

A quantificação da camada de verniz foi determinada por gravimetria, com a


remoção do verniz com acetona. O grau de cura foi obtido através do teste de dissolu-
ção em metil-etilcetona, no qual a maior dissolução, revela baixo nível de cura. A ade-
rência do verniz foi determinada pelo teste de grade ou cross hatch conforme a norma
ABNT NBR 11003. A classificação das amostras foi determinada conforme a Tabela 1.
Tabela 1: Classificação do verniz quanto a sua aderência.

GRAU DESCRIÇÃO
GRAU 0 Cantos dos cortes em grade retos, sem parte
destacada.
GRAU 1 Nos cruzamentos dos cortes destacam-se partes do
verniz.
GRAU 2 Destacamento do verniz nos cruzamentos e/ou ao longo
dos cortes, área destacada de 15%.
GRAU 3 Destacamento do verniz ao longo dos cortes e alguns
quadriculados, área destacada de 35%.
GRAU 4 Destacamento do verniz em faixa e/ou alguns
quadriculados, área destacada de 65%.
Fonte: Coles e Kirwan (2011).

A análise morfológica foi efetuada por microscopia ótica, em microscópio me-


talúrgico com aquisição de dados acoplado (MOTIC). Todas as regiões das latas fo-
ram analisadas, porém, a região da solda recebeu um enfoque especial, pois, conforme
Gentil (2011), esta área nucleia a corrosão. As amostras foram classificadas por níveis
de corrosão, segundo a Tabela 2.

TREVISAN, Luís Henrique.


VARGAS, Bruna Sanmartin.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

73

Tabela 2: Classificação do verniz quanto aos níveis de corrosão.


GRAU DESCRIÇÃO
GRAU 1 Verniz bem aplicado, sem falhas ou manchas.
GRAU 2 Verniz aplicado satisfatoriamente, poucos riscos, alguns
pontos pretos espalhados na superfície, sem manchas.
GRAU 3 Aspecto regular, começo de desestanhamento sob a
película do verniz ou presença de manchas pretas.
GRAU 4 Aspecto ruim, desestanhamento ou manchas pretas em
quase toda a superfície da lata.
GRAU 5 Aspecto muito ruim, superfície tomada por corrosão.
Fonte: Machado (2006).

As medidas de EIE foram realizadas em um potenciostato Autolab PGSTAT100,


a 0 V com sinal de perturbação de 20 mV, em um intervalo de frequências de 105 a 10-3
Hz. As latas foram utilizadas como célula eletroquímica e como eletrodo de traba-
lho (ET). Como eletrólito utilizou-se a fração líquida do enlatado e, o contra-eletrodo
(CE) foi utilizado como eletrodo de referência (REF). Para simular a delaminação do
revestimento, aplicou-se antes da medida de EIE, o potencial de 2 V durante 2 min,
este procedimento é conhecido como pré-tratamento catódico (PTC) (FARIA, 2000). A
Figura 1 apresenta o aparato experimental das medidas de EIE.
Figura 1: A) Célula eletroquímica; B) Contato do ET; C) CE + REF.

Fonte: Autores (2017).

Resultados e discussões

Os alimentos como milho e ervilha apresentaram pH igual a 6,0, o qual não é


agressivo à integridade do revestimento polimérico. No entanto, o abacaxi e o extrato
de tomate apresentaram pH 4,0, que é ácido e pode atacar o verniz. Verificou-se que
a quantidade de verniz aplicado é variável na tampa, no fundo e no corpo de todas
as embalagens analisadas, estando na faixa de 4 a 16 mg/m². O grau de cura demons-
trou-se eficiente em todas as amostras. Além disso, a maior aderência foi detectada na
região do corpo das embalagens, enquanto que a tampa apresentou menor aderência
do verniz.

Quanto à morfologia, o corpo da lata de ervilha apresentou pontos danificados,


podendo indicar a oxidação do metal, conforme a Figura 2A. Por exibir um aspecto
satisfatório, o verniz desta região foi classificado como grau 2. Nas regiões do fundo
(Figura 2B) e da tampa (Figura 2C) da lata de ervilha foram observadas manchas pre-
Capítulo 8
CARACTERIZAÇÃO E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO REVESTIMENTO INTERNO DE EMBALAGENS DE FOLHA DE
FLANDRES PARA ALIMENTOS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

74

tas, que podem ser causadas pelo processo de sulfuração. De acordo com Jorge (2013)
alimentos como o milho e a ervilha são ricos em proteínas, que contém enxofre na for-
ma de H2S, a qual reage facilmente com o estanho presente na embalagem, originan-
do as manchas. A região da solda foi considerada grau 1, por apresentar verniz bem
aplicado. Além disso, foi verificado que o revestimento polimérico foi aplicado sobre a
solda, o que é essencial devido a esta região nuclear processos corrosivos (Figura 2D).
Figura 2: A) Corpo, B) fundo, C) tampa e D) solda da lata de ervilha.

Fonte: Autores (2017).

Na região do corpo da lata de abacaxi foram detectadas bolhas (Figura 3A). Estas
bolhas podem ter sido resultado do ataque do pH ácido do alimento ao verniz. O re-
vestimento desta região recebeu o grau 3, devido ao aspecto regular e as marcas tipo
bolhas serem interpretadas como manchas. As regiões do fundo (Figura 3B) e da tam-
pa (Figura 3C) da embalagem de abacaxi não apresentaram marcas pretas profundas
ou falhas no revestimento, sendo classificadas como grau 1. A região da solda (Figura
3D) foi classificada como grau 1, pois o verniz não apresentou nenhuma falha ou man-
cha. O verniz foi aplicado sobre a solda.
Figura 3: A) Corpo, B) fundo, C) tampa e D) solda da lata de abacaxi.

Fonte: Autores (2017).

Na região do corpo da lata de extrato de tomate foram identificadas manchas (Fi-


gura 4A), sendo classificada como grau 4. As regiões do fundo (Figura 4B) e da tampa
(Figura 4C) da embalagem de extrato de tomate apresentaram pontos de degradação
e, devido ao aspecto ruim, foram classificados como grau 4. A região da solda também
foi classificada como grau 4, pois foi detectada a presença de manchas no verniz (Figu-
ra 4D). Entretanto, o verniz foi aplicado sobre a solda.
Figura 4: A) Corpo, B) fundo, C) tampa e D) solda lata de extrato de tomate.

Fonte: Autores (2017).

TREVISAN, Luís Henrique.


VARGAS, Bruna Sanmartin.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

75

Nos diagramas de Nyquist das medidas de EIE (Figura 5) observa-se a predo-


minância de um caráter capacitivo indicado pela tendência à formação de um semi-
-círculo (linha pontilhada). No caso da ervilha, observou-se que há difusão através do
revestimento. A componente difusional corresponde à linha reta com inclinação de
45° mostrado na Figura 5B. A resistência da solução (Rs), corresponde à resistência do
eletrólito, e esta é menor para o abacaxi. A resistência do revestimento (Rr) da lata de
abacaxi foi menor. Pode-se dizer que a calda do abacaxi é o meio mais agressivo ao
revestimento. Os resultados confirmam que a delaminação por PTC reduz o caráter
protetor do verniz.
Figura 5: Diagramas de EIE para A) abacaxi, B) ervilha e C) pêssego.

Fonte: Autores (2017).

Complementando as informações eletroquímicas são apresentados os valores de


resistência da solução (Rs) e resistência do revestimento (Rr), com e sem PTC (Tabela 3).
Tabela 3: Resultados da EIE.

Abacaxi Ervilha Pêssego


Parâmetro
Sem PTC Com PTC Sem PTC Com PTC Sem PTC Com PTC
Rs (kOhm) 0,16 0,05 0,09
Rr (kOhm) 24 20 30 23 30 20
Fonte: Autores (2017).
Fonte: Autores (2017).

Considerações finais

A quantidade de verniz aplicada foi variável em cada uma das regiões das latas,
o grau de cura foi eficiente, e a melhor aderência do verniz foi detectada no corpo das
latas. A embalagem de extrato de tomate apresentou o processo de oxidação mais
avançado. A acidez da compota de abacaxi e extrato de tomate pode ter promovi-
do a degradação e formação de manchas no verniz das latas. O comportamento das
amostras foi predominantemente capacitivo. Os revestimentos apresentaram perda de
resistência, após o PTC, confirmando que a delaminação reduz o caráter protetor do
verniz.

Capítulo 8
CARACTERIZAÇÃO E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO REVESTIMENTO INTERNO DE EMBALAGENS DE FOLHA DE
FLANDRES PARA ALIMENTOS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

76

Referências
AZEREDO, H. M. C.; FARIA, J. A. F.; AZEREDO, A. M. C. Embalagens ativas para
alimentos. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 20, n. 3, p. 337-341,
2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 28/SVS, 18 de março de 1996, que aprova o


regulamento técnico sobre as embalagens e equipamentos metálicos em contato com
alimentos. Diário Oficial da União: Poder Executivo, Brasília, 20 mar. 1996.

COLES, R.; KIRWAN, M. J. Food and beverage packaging technology. New Jersey:
Wiley-Blackwell, 2011.

DANTAS, S. T.; GATTI, J. B.; SARON, E. S.; KIYATAKA, P. H. M.; DANTAS, F. B. H.


Estabilidade de ervilha em conserva em embalagem metálica com baixo revestimento
de estanho. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 14, n. 3, p. 249-257, 2011.

DANTAS, S. T.; GATTI, J. B.; SARON, E. S.; KIYATAKA, P. H. M.; DANTAS, F. B. H.


Estabilidade de molho de tomate em embalagens metálicas com baixo revestimento
de estanho. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 15, n. 2, p. 110-117, 2012.

ESTEVES, L. Resistência à Corrosão de Embalagens de Alumínio em Contato com


Bebidas Carbonatadas. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Pro-
grama de Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2013.

FARIA, E. V. Avaliação do desempenho de latas de folhas-de-flandres por meio de


espectroscopia de impedância eletroquímica e do acompanhamento da estocagem
de palmito pupunha (Bactris Gisipaes) enlatado. 2000. Tese (Doutorado em Enge-
nharia Mecânica) - Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2000.

GENTIL, V. Corrosão. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

JORGE, N. Embalagens para alimentos. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universida-


de Estadual Paulista, 2013.

MACHADO, L. C. Gerenciamento diário e controle analítico do processo de pintu-


ra Coil Coating. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Quí-
mica) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

ROBERTSON, G. L. Food Packaging: principles and practice. Boca Raton: CRC Press
Book, 2013.

TREVISAN, Luís Henrique.


VARGAS, Bruna Sanmartin.
RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
CAPÍTULO 9

CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO
ELETROQUÍMICA DE REVESTIMENTO
POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS
METÁLICAS PARA BEBIDAS

QUADROS, Gabriel Porto.1


SEVERO, Éric da Cruz.2
SILVA, Sabrina Neves da.3
RODRIGUES, Luciana Machado.4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.9.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
gabrielporto.eq@gmail.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
ericsevero@gmail.com
3  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
4 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

78

Resumo

N este trabalho foram avaliadas embalagens de ligas de alumínio, para bebi-


das, contendo revestimento interno. Foram analisadas diferentes bebidas e
os revestimentos das embalagens foram caracterizados quanto à sua morfologia. Em-
balagens de alumínio comerciais foram analisadas por microscopia (ótica e eletrônica de varre-
dura - MEV) e por medidas eletroquímicas (curvas de polarização, medidas de potencial de cor-
rosão e voltametria cíclica). As mesmas análises foram realizadas para uma embalagem a qual o
revestimento foi removido mecanicamente. Defeitos foram criados nos revestimentos das
amostras metálicas e expostas às suas respectivas bebidas por 6 meses. A evolução do
ataque ao metal exposto foi monitorada com o tempo de exposição por microscopia.
O processo de corrosão em latas de Al depende das características do revestimento polimérico,
sendo o revestimento duplo mais eficiente. Foram observados revestimentos aplicados em uma
única camada ou em duas camadas perpendiculares. A maior efetividade na proteção é devida à
maior espessura do revestimento do filme duplo. Após 1 mês de exposição direta do metal
da embalagem à bebida, ocorreu a oxidação do metal. A oxidação metálica forma óxi-
dos ou hidróxidos que contaminam o alimento. Após 3 meses de exposição, o ataque
ao metal progride, sendo que ao final de 6 meses de imersão, um acentuado ataque foi
observado. A eficácia do verniz está diretamente relacionada à sua habilidade em agir como
barreira, impedindo a interação do eletrólito com o metal.

Palavras-chave: Embalagem. Verniz. Eletroquímica. Lata. Bebida.

Introdução

As embalagens aumentam a segurança do alimento de acordo com os seguin-


tes mecanismos: barreira a contaminações (microbiológicas e químicas) e prevenção
de migração de seus próprios componentes metálicos para o alimento. Destacam-se
as embalagens metálicas e a utilização de uma camada polimérica interna protetora,
chamada de verniz sanitário, assegurando a integridade do alimento e do material
metálico da embalagem.

As bebidas tipo refrigerantes apresentam uma elevada concentração de íons H+, con-
ferindo um caráter ácido às bebidas. A exposição do invólucro de Al ao refrigerante acelera
o processo de corrosão promovendo a migração de Al3+ que alteram o sabor da bebida e sua
qualidade. Para mitigar a passagem de Al3+ para o refrigerante emprega-se o verniz. As resinas
mais utilizadas na composição dos vernizes são: fenólicas, epóxi, vinílicas, acrílicas, alquídi-
cas, oleorresinosas e polibutadiênicas.

QUADROS, Gabriel Porto.


SEVERO, Éric da Cruz.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

79

Este é um trabalho de caracterização morfológica e avaliação eletroquímica de emba-


lagens metálicas para bebidas e seus vernizes, tendo como objetivo, a avaliação da proteção
contra a corrosão interna nestas latas.

Referencial teórico

A embalagem metálica para alimentos proporciona um maior tempo de vida útil


aos produtos. As latas podem ser confeccionadas de folha-de-flandres (à base de aço),
folha cromada ou folha de liga de alumínio. As latas são na grande maioria dos casos
revestidas com verniz (DANTAS, 1999). As embalagens metálicas para alimentos clas-
sificam-se, segundo Coles e Kirwan (2011): a) de três peças, com costura no corpo da
lata e duas tampas (topo e fundo); e b) de duas peças, corpo e fundo da lata em peça
única e topo.

As latas de três peças são normalmente produzidas em folha-de-flandres e liga


de alumínio. Conforme Jorge (2013) as ligas de alumínio são usadas para uma varieda-
de de embalagens que necessitem ser rígidas, leves, resistentes à corrosão e de elevada
resistência mecânica. As embalagens de ligas de alumínio são amplamente utilizadas
para bebidas.

A liga de alumínio AA3104-H19, utilizada na fabricação de latas de bebidas e


alimentos, é uma liga do sistema alumínio-manganês com pequenas quantidades de
silício, magnésio e ferro, elementos de liga (SILVA Jr., 2005).

Dantas (1999) afirma que o emprego de embalagens de alumínio para alimentos


requer a utilização de revestimento orgânico interno, chamado de verniz sanitário.
Este verniz evita o contato do metal com o produto alimentício. As resinas mais utili-
zadas na composição dos vernizes são: fenólicas, epóxis, vinílicas, acrílicas, alquídicas,
oleorresinosas e polibutadiênicas. Jorge (2013) destaca a importância da manutenção
da integridade do revestimento, pois qualquer amassado ou trinca na embalagem pode
gerar o rompimento do verniz, permitindo o contato dos constituintes dos alimentos
com o metal. Iniciada a corrosão, o pH dos alimentos é alterado e subprodutos são
formados, como óxidos metálicos, contaminando o conteúdo da embalagem (GENTIL,
2011).

Macedo et al. (2013) apresentaram que o método eletroquímico é promissor para


a avaliação da integridade do recobrimento de latas de Al em refrigerantes. Demons-
traram que a corrente de corrosão aumenta com a presença de defeitos no verniz, de-
vido ao desgaste do Al exposto aos íons H+ das bebidas com caráter ácido. Severo et
al. (2013) comprovaram por estudos eletroquímicos a ocorrência de variação microes-
trutural do Al como consequência do mecanismo de corrosão da embalagem. Esteves (2013)

Capítulo 9
CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REVESTIMENTO POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS
METÁLICAS PARA BEBIDAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

80

realizou um estudo por espectroscopia de impedância eletroquímica identificando fa-


lhas no revestimento orgânico de embalagens de Al, para refrigerantes carbonatados
e água tônica. O refrigerante à base de cola pH 2,5 e condutividade elétrica 1048,0 µS/
cm foi o meio mais agressivo ao Al.

Metodologia

As bebidas analisadas foram à base de limão, guaraná, cola (com e sem açúcar)
e cevada (com e sem álcool), sendo caracterizada a morfologia do verniz interno das
embalagens metálicas (latas de ligas de alumínio), no topo, corpo e fundo. A mor-
fologia foi avaliada por microscopia ótica (microscópio metalúrgico com sistema de
aquisição de dados FORTEL) e microscopia eletrônica (microscópio eletrônico de var-
redura JEOL JSM 6610LV). As bebidas foram caracterizadas por valores de pH (medi-
dor digital de bancada, METROHM), condutividade elétrica (medidor digital portátil,
HANNA) e concentração de açúcar (refratômetro medidor em ºBrix). As amostras
metálicas foram lavadas com água destilada, secas à temperatura ambiente e cortadas
com 0,25 cm2.

Para uma análise direta da efetiva proteção de cada revestimento foi realizado
um defeito linear no verniz, de maneira a rompê-lo, e mantendo intacta a estrutura
metálica da embalagem. Em seguida, as amostras com defeito simulado foram imersas
nas suas respectivas bebidas, a fim de promover no metal um possível ataque corrosi-
vo. A morfologia do ataque foi observada a cada 30 dias, sendo mantida a exposição
nas bebidas até um período de 6 meses.

A corrosão foi investigada através de testes eletroquímicos nas amostras metáli-


cas, utilizando-se célula eletroquímica tipo Barnacle. Foram avaliadas amostras metá-
licas com o verniz e amostras nas quais este filme foi removido mecanicamente. Foram
realizadas curvas de polarização, medidas de potencial de corrosão, voltametria cíclica
e estimada a taxa de corrosão, em potenciostato Autolab PGSTAT100.

Resultados e discussões

Os resultados da caracterização morfológica do verniz no topo e fundo das em-


balagens revelou a aplicação em único sentido, enquanto no corpo, para a maioria das
amostras investigadas, há uma dupla aplicação, em diferentes direções, como apre-
sentado por microscopia ótica 40x (Figura 1). Refrigerantes à base de guaraná, cola, e
limão estavam em latas de dupla aplicação do verniz.

As bebidas foram analisadas quanto a parâmetros físico-químicos (Tabela 1), os


valores de pH variaram entre 2,5 e 4,6, destacando a bebida de cola com açúcar de
maior acidez. A bebida à base de limão apresentou o maior teor de açúcar e as bebidas
QUADROS, Gabriel Porto.
SEVERO, Éric da Cruz.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

81

de cevada apresentaram os maiores níveis de condutividade elétrica (α), comparativa-


mente às demais amostras.
Figura 1: Morfologia do verniz com (a) dupla aplicação e (b) camada simples.

Fonte: Autores (2013).

Tabela 1: Caracterização das bebidas.

Bebidas pH α (mS/cm) Teor de Açúcar (kgmol/m3)


1 Cola com açúcar 2,5 0,75 0,334
2 Cola sem açúcar 3,0 0,50 0,003
3 Guaraná 3,4 0,30 0,334
4 Cevada com álcool 3,7 0,90 0,152
5 Cevada sem álcool 4,6 1,20 0,182
6 Limão 3,1 0,4 0,363

Fonte: Autores (2013).

Amostras com defeitos lineares simulados foram observadas por microscopia


ótica 200x e são apresentadas na Figura 2, antes da exposição em meio ácido (Figura
2a), após 1 mês de exposição (Figura 2b), e após 6 meses de exposição (Figura 2c),
evidenciando a intensa oxidação do metal exposto. Este último ataque também foi ca-
racterizado por microscopia eletrônica de varredura (Figura 2d), destacando ataques
localizados (pites) sobre o defeito.
Figura 2: Morfologia do defeito por microscopia óptica 200x (a) antes da exposição, (b) 1 mês, (c) 6
meses, e (d) MEV do ataque em 6 meses.

Fonte: Autores (2013).

O processo de corrosão em latas de Al depende das características do revestimento poli-


mérico, sendo que no revestimento duplo a proteção é mais eficiente, conforme mostrado nas
curvas de Tafel na Figura 3. A maior efetividade na proteção é devido à maior espessura do
revestimento do filme duplo apresentado na Figura 4.

Capítulo 9
CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REVESTIMENTO POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS
METÁLICAS PARA BEBIDAS
PRÁTICAS DE CORROSÃO

82

Figura 3. Curvas de Tafel medidas na bebida à base de cola com açúcar para amostras de revestimento
duplo, simples e sem revestimento.

Fonte: Autores (2013).

Figura 4: MEV das amostras com revestimento (a) simples e (b) duplo.

Fonte: Autores (2013).

Os valores dos parâmetros densidade de corrente de corrosão (icorr) e potencial de


corrosão (Ecorr), obtidos nos experimentos eletroquímicos para as amostras de Al em
bebida à base de cola, com revestimentos duplo, simples e sem revestimento, além da
taxa de corrosão estimada, são apresentados na Tabela 2. Os resultados comprovam
que o processo corrosivo é mais intenso no Al quando não existe o revestimento prote-
tor. O ataque ao Al diminui à medida que a camada de verniz aplicado aumenta.
Tabela 2: Parâmetros eletroquímicos do Al em bebida à base de cola.

Amostras icorr Ecorr Taxa de Corrosão


(mA/cm2) (mV) (mm/ano)
Revestimento duplo 9,8x10-6 -779 3,2x10-7
Revestimento simples 2,59x10-3 -948 8,5x10-5
Sem revestimento 8,9x10-2 -590 3,9x10-4

Fonte: Autores (2013).

Considerações finais

As embalagens comerciais com maior ataque corrosivo foram as que continham


as bebidas à base de cola, provavelmente devido a sua acidez.

Os revestimentos internos estavam aplicados em única ou dupla camada. Os


testes de simulação de ataque ao metal com defeito, exposto às bebidas, confirmaram
a importância da manutenção da integridade do revestimento interno da embalagem,
isolando o metal do contato com o alimento.

QUADROS, Gabriel Porto.


SEVERO, Éric da Cruz.
SILVA, Sabrina Neves da.
RODRIGUES, Luciana Machado.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

83

O metal sem revestimento interno apresentou um processo corrosivo mais agres-


sivo, a taxa de corrosão determinada foi 1000 vezes mais elevada do que a taxa encon-
trada para o revestimento duplo, e 10 vezes mais elevada do que a taxa do revestimen-
to simples. O filme duplo tem camadas perpendiculares.

A eficácia do verniz está diretamente relacionada à sua habilidade em agir como


barreira física, impedindo a interação da bebida com a superfície protegida. Com o
tempo ocorre uma variação morfológica, devido à corrosão.

Referências
COLES, R.; KIRWAN, M. J. Food and beverage packaging technology. New Jersey:
Wiley-Blackwell, 2011.

DANTAS, S. T. Embalagens metálicas e a sua interação com alimentos e bebidas.


Campinas: CETEA/ITAL, 1999.

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Bebidas Carbonatadas. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Pro-
grama de Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2013.

GENTIL, V. Corrosão. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

JORGE, N. Embalagens para alimentos. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universida-


de Estadual Paulista, 2013.

MACEDO, L. H. C.; GARCIA, E. M.; MELO, J. O. F.; TAROCO, H. A. Estudo da cor-


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DE CIÊNCIAS DE ALIMENTOS, 2013, Campinas. Anais eletrônicos [...]. Campinas:
Galoá, 2013. Disponível em: https://proceedings.science/slaca/slaca-2013/traba-
lhos/estudo-da-corrosao-eletroquimica-das-latas-de-refrigerantes?lang=pt-br. Aces-
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de Filmes Protetores Internos de Embalagens Metálicas para Alimentos. In: SIMPÓ-
SIO BRASILEIRO DE ELETROQUÍMICA E ELETROANALÍTICA, 19, 2013, Campos
do Jordão. Anais [...]. Campos do Jordão: Universidade Federal do ABC e Universi-
dade Federal de São Paulo, 2013.

SILVA Jr., W. F. Análise Metalúrgica da Liga AA3104-H19. 2005. Dissertação (Mes-


trado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais) - Pós-graduação em En-
genharia de Mina, Metalurgia e Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2005.

Capítulo 9
CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REVESTIMENTO POLIMÉRICO INTERNO DE EMBALAGENS
METÁLICAS PARA BEBIDAS
84
CAPÍTULO 10

AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA CAFEÍNA


COMO INIBIDOR DE CORROSÃO DO
ALUMÍNIO EM MEIO ÁCIDO

QUADROS, Gabriel Porto.1


RODRIGUES, Luciana Machado.2
SILVA, Sabrina Neves da.3

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.10.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA,


Campus Bagé - RS.
gabrielporto.eq@gmail.com
2 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
3  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA,
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

86

Resumo

E m embalagens de bebidas ácidas, a base de cola e guaraná, que contém


cafeína em sua formulação, são utilizadas latas de alumínio (Al), liga AA-
3104-H19. Neste trabalho foi avaliado o comportamento eletroquímico da liga cita-
da em soluções ácidas simuladas de cola e guaraná na presença e ausência de cafeí-
na. Para ambas observou-se uma tendência à diminuição da corrosão devido ao efeito
inibidor da cafeína.

Palavras-chave: Corrosão Ácida. Latas de Bebidas. Cafeína. Eletroquímica.

Introdução

Os inibidores de corrosão são compostos orgânicos que se adsorvem na superfí-


cie do metal minimizando a sua dissolução. No entanto, a maioria das substâncias são
produtos químicos sintéticos, não biodegradáveis e que podem ser perigosos para os
seres vivos e o meio ambiente, além de não serem compatíveis com produtos alimentí-
cios. A descoberta de novas substâncias, inibidoras com características menos tóxicas,
é de suma importância. Nesse sentido, a cafeína se apresenta como promissora, pois
se trata de um composto natural, de fácil obtenção, conservação e manipulação. Além
disso, é biodegradável e não agride o meio ambiente. A cafeína é uma metilxantina
presente em diversas bebidas como o café, chás, guaraná, refrigerantes, entre outros.
O presente trabalho apresenta evidências eletroquímicas da atuação da cafeína como
inibidor de corrosão da liga de Al AA3104-H19, utilizada para embalagens metálicas
de bebidas. As medidas foram realizadas em soluções sintéticas de ácido fosfórico e
cítrico, simulando bebidas à base de cola e guaraná, respectivamente, com e sem adi-
ção de cafeína.

Referencial teórico

A corrosão pode ser definida como a reação do metal com os elementos de um


determinado meio, na qual o metal é convertido a um estado não metálico. Quando
isto ocorre, a superfície metálica perde suas qualidades essenciais, tais como resistên-
cia mecânica, elasticidade e ductilidade, tornando-se extremamente pobre em termos
destas propriedades (GENTIL, 2011). A importância de se estudar a corrosão está as-
sociada, principalmente, a fatores econômicos e no controle dos processos envolvidos
no desgaste das peças metálicas quando em contato com diferentes meios. No acon-
dicionamento de bebidas são utilizadas latas de Al da liga AA3104-H19. Esta é uma
liga do sistema alumínio-manganês com pequenas quantidades de silício, magnésio e
ferro (FOGAZZI et al., 2013). As embalagens são revestidas com um filme protetor que
impede o contato da bebida com o metal e, caso haja defeito no revestimento poderá

QUADROS, Gabriel Porto.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

87

haver a dissolução do metal, contaminado o alimento (TREVISAN et al., 2015; ESTE-


VES, 2013; FARIA, 2000).

Inibidores de corrosão são compostos orgânicos que se adsorvem na superfície


do metal e minimizam sua dissolução e as reações de redução. Contudo, um problema
comumente associado aos inibidores de corrosão é sua toxicidade devido à composi-
ção química à base de cromatos, nitratos, derivados de tiouréias e outras substâncias
(DONG et al., 2019; NADY et al., 2016; GONÇALVES et al., 2002).

Nesse sentido, recentemente, devido a uma maior preocupação com o meio am-
biente e a necessidade de desenvolver processos mais aceitáveis do ponto de vista
ambiental, uma atenção especial tem sido dedicada às características inibidoras de cor-
rosão de substâncias naturais para diferentes metais em meios distintos (CHIGONDO
e CHIGONDO, 2016; RAJA et al., 2015).

Esta área de pesquisa é muito importante, pois, além de ser ambientalmente


correto e ecologicamente aceitável, extratos vegetais são economicamente viáveis, de
grande disponibilidade e de origem renovável.

A cafeína se apresenta como um composto promissor como inibidor de corro-


são, visto se tratar de um composto natural, de fácil extração, conservação e mani-
pulação. Além disso, trata-se de um composto biodegradável. Alguns trabalhos têm
sido relatados utilizando a cafeína como um inibidor de corrosão em diversos meios
(MESSAOUDI et al., 2020; MONTEIRO, 2018; BEDA et al., 2017; GROSSER, NOBRE e
GONÇALVES, 2007).

A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é um alcalóide, derivado do grupo das xantinas,


que é produzido naturalmente em mais de 60 variedades de plantas. Apresenta-se
sob a forma de um pó branco, é um composto de fácil obtenção e não tóxico (SOUZA,
GONÇALVES e SPINELLI, 2014; KOLAYLI et al. 2004).

Como pode ser visto em sua estrutura química mostrada na Figura 1, a cafeína
apresenta as características esperadas para um potencial inibidor de corrosão. Além
disso, é capaz de se ligar a um íon metálico através dos oxigênios livres localizados nas
posições 2 e 6 (KOLAYLI et al., 2004).

Capítulo 10
AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA CAFEÍNA COMO INIBIDOR DE CORROSÃO DO ALUMÍNIO EM MEIO ÁCIDO
PRÁTICAS DE CORROSÃO

88

Figura 1: Estrutura química da cafeína (1,3,7-trimetilxantina).

Fonte: Kolayli et al. (2004).

Metodologia

Amostras com uma área geométrica de 1,5 cm2 foram cortadas a partir de latas
de Al, liga de AA3104-H19, utilizadas para armazenamento de refrigerantes. A com-
posição nominal da liga é mostrada na Tabela 1.
Tabela 1: Composição nominal da liga AA3104-H19 (% em massa).

Mg Si Fe Ca Al
2,2 - 2,8 0,25 0,4 0,12 Balanço

Fonte: Autores (2015).

O verniz protetor interno foi removido mecanicamente do material metálico com


auxílio de uma lixa #250. As amostras foram lavadas com álcool antes da análise.

Para simular a bebida à base de cola utilizou-se ácido fosfórico (H3PO4) e para
guaraná, ácido cítrico (C6H8O7), ambas as soluções na concentração de 0,2 mol/L con-
tendo 100 e 11 ppm de cafeína, respectivamente. As concentrações foram baseadas no
conteúdo de cafeína das bebidas conforme informado no rótulo do produto comercial.

Os ensaios eletroquímicos foram realizados em célula de três eletrodos, sendo


o eletrodo de referência de Ag|AgCl 3,5 mol/L, o contra eletrodo de platina e o ele-
trodo de trabalho a amostra de Al. O equipamento utilizado foi um potenciostato da
Autolab modelo PGSTAT100. Todos os potenciais no presente estudo são referentes ao
eletrodo padrão de hidrogênio (EPH). As medidas foram realizadas em meio aerado à
temperatura ambiente na velocidade de varredura de 10 mV/s.

Resultados e discussões

A seguir, na Figura 2 (a-d) são mostradas as curvas de voltametria cíclica me-


didas nos meios estudados no tempo inicial (t=0) e após 30 min (t=30 min) de imer-
são nas soluções ácidas com e sem cafeína. Destacam-se nas Figuras a densidade de

QUADROS, Gabriel Porto.


RODRIGUES, Luciana Machado.
SILVA, Sabrina Neves da.
PRÁTICAS DE CORROSÃO

89

corrente máxima (imax) a qual quanto mais elevada indica maior tendência à corrosão
(GENTIL, 2011).
Figura 2: Voltametrias cíclicas medidas nas soluções simuladas com e sem cafeína de cola (a,b) e gua-
raná (c,d) no tempo zero (a,c) e após 30 min de imersão (b,d).

Fonte: Autores (2020).

Conforme as curvas apresentadas pode-se observar que em todas as situações a


cafeína diminui as imax possivelmente devido à adsorção na superfície metálica indican-
do diminuição nas taxas de corrosão. No caso da solução simulada de cola as diferen-
ças entre as imax sem e com cafeína foi de 0,73 mA/cm2 no tempo 0 e 0,66 mA/cm2. No
caso da solução simulada de guaraná após 30 min observou-se pouca variação nas imax,
neste caso, a variação foi cerca de 0,007 mA/cm2 para ambos os tempos.

Considerações finais

Ao final das análises pode-se concluir que a cafeína presente em refrigerantes


pode minimizar a corrosão da liga AA3104-H19, utilizada na embalagem, caso ocorra
algum defeito no revestimento interno do material.

Capítulo 10
AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA CAFEÍNA COMO INIBIDOR DE CORROSÃO DO ALUMÍNIO EM MEIO ÁCIDO
PRÁTICAS DE CORROSÃO

90

Referências
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Capítulo 10
AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA CAFEÍNA COMO INIBIDOR DE CORROSÃO DO ALUMÍNIO EM MEIO ÁCIDO
92
CAPÍTULO 11

ANÁLISE DO REVESTIMENTO POLIMÉRICO


INTERNO DE EMBALAGENS DE Al PARA
SUCOS E CHÁS

CRESPO, Fernanda Machado.1


GONÇALVES, Carolaine Tainara dos Santos.2
SILVA, Sabrina Neves da.3
RODRIGUES, Luciana Machado.4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175107.11.

1  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA


Campus Bagé - RS.
fernandacrespo@live.com
2  Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
carolaine_tainara@hotmail.com
3  Engenharia de Energia, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
sabrinasilva@unipampa.edu.br
4 Engenharia Química, Especialização em Gestão de Processos Industriais Químicos (GESQUIM), Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA
Campus Bagé - RS.
luciana.rodrigues@unipampa.edu.br
PRÁTICAS DE CORROSÃO

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Resumo

E ste trabalho objetiva avaliar a morfologia, o estado de integridade e a atuação


protetora do verniz, analisando latas para sucos e chás à base de frutas. O
verniz foi analisado na tampa, corpo e base das latas, sendo determinada a quantida-
de aplicada, o grau de cura e a sua aderência ao metal. Defeitos foram simulados no
verniz para avaliar sua eficiência de proteção. As bebidas foram caracterizadas por
pH e condutividade elétrica (α). Os valores de pH das bebidas variaram de 2 a 4; e α
entre 3,6 e 8,2 mS/cm. A quantidade de verniz aplicada foi 1,3 a 2,1 mg/cm². A base
das latas apresentou o verniz atacado pelas bebidas mais ácidas, suco de uva e chá de
pêssego. O grau de cura demonstrou-se eficiente para chás e insuficiente para sucos, e
todas as amostras apresentaram boa aderência do verniz. Foi constatada a importância
da integridade do verniz, pois seu rompimento permitiu a oxidação do metal.

Palavras-chave: Embalagem. Verniz. Alumínio. Lata. Bebida.

Introdução

As latas de alumínio para bebidas foram introduzidas no mercado brasileiro no


início de 1989. No Brasil, em 2018, a taxa de reciclagem de latas de alumínio foi de
97%. As latas protegem as bebidas contra a incidência de radiação, umidade, oxigênio
e contaminação microbiológica.

A lata de alumínio para bebidas possui um verniz interno para a proteção e isola-
mento do alimento, evitando o contato direto com o metal. Este verniz é uma película
polimérica de elevada resistência mecânica e química.

Os alimentos são sistemas bioquímicos complexos que apresentam ampla faixa


de pH. Entre os efeitos mais importantes provocados pelos alimentos encontra-se a
possibilidade de aceleração da corrosão do metal da embalagem.

Este trabalho tem o objetivo de caracterizar e analisar a integridade do verniz de


latas de alumínio para sucos e chás prontos para beber. Pretende-se também apresen-
tar a simulação de defeito no verniz, e suas consequências ao alumínio, avaliando a
sua função de barreira protetora.

Referencial teórico

Segundo o Centro de Tecnologia de Embalagem, do Instituto de Tecnologia de


Alimentos, o segmento de bebidas representa uma importante parcela do consumo
de embalagens metálicas. Uma diversidade de bebidas carbonatadas, não-carbonata-

CRESPO, Fernanda Machado.


GONÇALVES, Carolaine Tainara dos Santos.
SILVA, Sabrina Neves da.
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das, alcoólicas, isotônicas e energéticas são comercializadas em embalagens metálicas


(DANTAS, 1999).

A seleção do tipo de embalagem é motivada pela preservação do meio ambiente,


pela condição sócio-econômica e costume da população e disponibilidade da matéria-
-prima e tecnologia (PRIA, 2000).

As embalagens metálicas para bebidas são representadas pelas latas de duas pe-
ças, produzidas pelo processo DWI - drawn and ironing, em alumínio, na sua maioria,
e em aço, em pequena proporção (COLES e KIRWAN, 2011). As latas de alumínio
empregam as ligas metálicas AA3104-H19 ou AA5182-H19.

A lata de alumínio recebe um envernizamento interno para a proteção da bebi-


da, evitando contato direto com o metal. O revestimento deve seguir as normas da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (BRASIL,1996). Este verniz é não
poroso, aderente e atóxico. As resinas mais utilizadas na composição dos vernizes
são fenólicas, epóxi, vinílicas, acrílicas, alquídicas, oleorresinosas e polibutadiênicas
(DANTAS, 1999).

Apesar das vantagens desta embalagem, o setor ainda se depara com um proble-
ma: a corrosão. Ela surge nas latas de alumínio, em geral, quando a temperatura de
exposição é elevada, ou com a lata danificada. A corrosão ocorre na forma de pites, na
espessura da embalagem (SOARES, 2018).

O desempenho do verniz é função da espessura da camada aplicada, da aderên-


cia ao metal, do grau de cura, da porosidade e da flexibilidade. A camada e o tipo de
verniz aplicado dependendem do alimento. A aderência e o grau de cura estão rela-
cionados com o tratamento térmico empregado no processo de cura. A porosidade do
verniz pode estar relacionada com a camada aplicada (COLES e KIRWAN, 2011).

O rompimento do verniz permite que a bebida entre em contato com o metal, for-
mando uma pilha galvânica, sendo a bebida, o eletrólito (SEVERO et al., 2012). Durante
o processo de corrosão da embalagem ocorre a migração do alumínio para a bebida.
Saron et al. (2000) avaliaram a dissolução de alumínio em refrigerantes estocados em
latas, revestidas internamente, por 180 dias a 35°C. Foram constatadas concentrações
de alumínio de cerca de 1,0 mg/kg em todas as bebidas. López et al. (2002) avaliaram
a concentração de alumínio em refigerantes e sucos de frutas comercializados em la-
tas de alumínio. Foi quantificado o maior teor de alumínio de 1,15 mg/L em suco de
laranja.

Os alimentos são sistemas bioquímicos complexos que apresentam ampla faixa


de pH, podendo ser considerado um meio corrosivo (AZEREDO, FARIA, AZEREDO,
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2000; GENTIL, 2011). Alimentos de elevada condutividade elétrica e baixo pH podem


acelerar a corrosão metálica. Este fato reforça a importância da integridade do verniz
(VARGAS, SILVA, RODRIGUES, 2016).

Metodologia

As embalagens selecionadas para a realização deste trabalho foram adquiridas


no mercado dos municípios de Bagé e Pelotas-RS, sendo compostas de latas de alumí-
nio de sucos de manga, pêssego e uva, e chás de pêssego, com e sem adição de açúcar.
Uma amostra de cada tipo de bebida é apresentada na Figura 1. As embalagens foram
esvaziadas, higienizadas com água destilada, secas, e submetidas ao corte de amostras.
Foram preparadas amostras da tampa, corpo e base das latas. A morfologia do verniz
das amostras foi analisada por microscopia ótica, em estereomicroscópio (MOTIC),
e microscópio metalúrgico com aquisição de dados acoplado (FORTEL). As bebidas
foram caracterizadas por análises de pH (medidor digital de bancada, METROHM) e
condutividade elétrica (medidor digital portátil, HANNA).
Figura 1: Bebidas selecionadas.

Fonte: Autores (2019).

A caracterização das amostras de verniz foi relativa à determinação da quanti-


dade do verniz aplicado; o grau de cura; a aderência; e morfologia; descritas por Faria
(2000), Coles e Kirwan (2011), e Machado (2006).

A quantificação da camada de verniz foi determinada por gravimetria, com a


remoção do verniz com acetona. O grau de cura foi obtido através do teste de dissolu-
ção em metil-etilcetona, no qual a maior dissolução, revela baixo nível de cura. A ade-
rência do verniz foi determinada pelo teste de grade ou cross hatch conforme a norma
ABNT NBR 11003. A classificação das amostras foi determinada conforme a Tabela 1.

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Tabela 1: Classificação do verniz quanto a sua aderência.

GRAU DESCRIÇÃO
GRAU 0 Cantos dos cortes em grade retos, sem parte
destacada.
GRAU 1 Nos cruzamentos dos cortes destacam-se partes do
verniz.
GRAU 2 Destacamento do verniz nos cruzamentos e/ou ao longo
dos cortes, área destacada de 15%.
GRAU 3 Destacamento do verniz ao longo dos cortes e alguns
quadriculados, área destacada de 35%.
GRAU 4 Destacamento do verniz em faixa e/ou alguns
quadriculados, área destacada de 65%.
Fonte: Coles e Kirwan (2011).

A análise morfológica foi efetuada em microscópio ótico metalúrgico. As amos-


tras foram classificadas por níveis de corrosão, segundo a Tabela 2. Para avaliar a
presença de um defeito no verniz foram efetuadas incisões em “X” na base das latas e
expostos por 365 dias à bebida considerada a mais agressiva.
Tabela 2: Classificação do verniz quanto aos níveis de corrosão.

GRAU DESCRIÇÃO
GRAU 1 Verniz bem aplicado, sem falhas ou manchas.
GRAU 2 Verniz aplicado satisfatoriamente, poucos riscos, alguns
pontos pretos espalhados na superfície, sem manchas.
GRAU 3 Aspecto regular, começo de desestanhamento sob a
película do verniz ou presença de manchas pretas.
GRAU 4 Aspecto ruim, desestanhamento ou manchas pretas em
quase toda a superfície da lata.
GRAU 5 Aspecto muito ruim, superfície tomada por corrosão.
Fonte: Machado (2006).

Resultados e discussões

A caracterização das bebidas e dos vernizes é apresentada na Tabela 3. As be-


bidas foram numeradas de 1 a 5. Observou-se que o suco de uva apresentou elevada
acidez (pH 2,0), em comparação às demais bebidas, seguido dos chás e sucos de pêsse-
go (3,0 a 3,5). O meio ácido é considerado fortemente agressivo ao metal e ao revesti-
mento polimérico, segundo Gentil (2011). Os valores de condutividade elétrica foram
definidos como elevados, principalmente para os sucos com maior teor de polpa de
fruta (40%), aumentando a densidade destas bebidas. Os resultados apresentaram α
entre 3,6 (chá de pêssego sem açúcar) e 8,2 mS/cm (suco de uva). Um elevado valor da
condutividade elétrica indica grande concentração de sais no meio, os quais são pro-
motores de reações eletroquímicas, como o processo de corrosão em metais (oxidação).
Gentil (2011) alerta que meios com elevada condutividade elétrica aceleram a oxidação
de materiais metálicos desprotegidos.

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Verificou-se que a quantidade de verniz aplicada esteve na faixa de 1,3 (chá de


pêssego sem açúcar) a 2,1 mg/cm² (suco de uva). O grau de cura demonstrou-se efi-
ciente para os chás e insuficiente para a maioria dos sucos. Além disso, todas as amos-
tras apresentaram grau 1 de aderência do verniz, ou seja, boa aderência ao metal.

A morfologia dos vernizes das latas analisadas é apresentada na Figura 2. São


apresentadas as imagens do verniz presente nas regiões de tampa, corpo e base das
embalagens, para cada um dos 5 tipos de bebidas.
Tabela 3: Caracterização das bebidas e vernizes.

Bebidas pH α Quantidade Cura Aderência


(mS/cm) (mg/cm2)

1 Suco de pêssego 4,0 4,00 1,4 Insuficiente Grau 1 – boa

2 Suco de manga 3,5 5,04 2,0 Insuficiente Grau 1 – boa


3 Suco de uva 2,0 8,15 2,1 Insuficiente Grau 1 – boa
4 Chá de pêssego 3,0 5,05 1,8 Eficiente Grau 1 – boa
5 Chá de pêssego 3,5 3,60 1,3 Eficiente Grau 1 – boa
0% açúcar

Fonte: Autores (2019).

Figura 2: Morfologia do verniz: a) estereomicroscópio e b) metalúrgico (100x)

Fonte: Autores (2019).

Observando-se as imagens obtidas por estereomicroscópio (Figura 2a) pode-se


constatar que o verniz foi aplicado em um único sentido sobre o metal, refletindo a
existência de monocamada interna de verniz. Para as latas que continham suco de
uva ou chá de pêssego foram facilmente detectados pontos de degradação do verniz,
destacados em amarelo nas imagens, ocorrendo na base das latas, principalmente. Esta
degradação do verniz pode estar associada ao pH ácido e elevada condutividade elé-
trica das bebidas.

As imagens obtidas por microscópio metalúrgico em campo escuro (Figura 2b),


no qual o metal é observado com menor incidência de luz, pelo emprego de filtros,
permite maior riqueza de detalhes nas imagens. Foi possível verificar uma maior ru-
gosidade dos vernizes no corpo das latas de suco de uva e chás de pêssego, identifi-
cado por setas sobre as imagens. Deformações profundas no verniz da base da lata de

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suco de uva foram visualizadas, e pontos de ataque aos vernizes das latas de chás e
suco de pêssego também foram detectados e destacados por círculos amarelos sobre
as imagens. A adição ou não de açúcar ao chá não refletiu alguma diferença no estado
do verniz.

Na Figura 3 visualiza-se o defeito simulado no verniz, antes e após exposição ao


suco de uva, por estereomicroscópio. Após 20 dias de exposição o alumínio da base de
uma lata não foi fortemente atacado, apenas observou-se a formação de fina camada
de produto alaranjado, o qual promoveu sutil alteração da cor da amostra da embala-
gem.

Fonte: Autores (2019).

Após 365 dias de exposição em suco de uva a amostra de alumínio sofreu ataques
localizados (pite) e perda de material metálico, como visualizado na Figura 4 por ima-
gem digital. Os ataques foram nucleados a partir do defeito.
Figura 4: Morfologia do ataque ao alumínio após 365 dias de exposição.

Fonte: Autores (2020).

Considerações finais

A morfologia do verniz das embalagens de sucos e chás foi facilmente caracteri-


zada por microscopia ótica. A base das latas foi a região de maior ocorrência de casos
de ataques ou degradação do verniz, seguida pelas tampas. As bebidas com pH mais
ácidos e maiores condutividades elétricas promoveram a maioria dos casos de defeitos
no verniz (suco de uva e chá de pêssego).

Após 20 dias de exposição da base das latas, contendo defeito simulado no verniz,
ao suco de uva, não foi observado ataque ao alumínio, mas após 365 dias, foi nucleado
pelo defeito, a perda de material metálico, perfurando o metal e ataques localizados.
É fundamental a manutenção da qualidade do verniz das embalagens metálicas para
alimentos, garantindo sua qualidade.

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