Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
autor
HELSON MOREIRA DA COSTA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.
Inspeção visual 14
O olho humano 16
Classificação das principais técnicas de inspeção visual 17
Acessórios utilizados na inspeção visual 21
Planejamento da inspeção visual 22
Pontos críticos em peças/equipamentos durante a inspeção visual 22
Soldagem 26
Processos de soldagem por pressão 31
Soldagem por oxi-gás (solda a gás) 32
Soldagem com eletrodo revestido 34
Soldagem TIG (Tungsten inert gas) ou soldagem GTAW
(Gas tungsten arc welding) 36
Soldagem GMAW (Gas metal arc welding) 37
Ensaio radiográfico 70
Fundamentos da radiação 70
Produção das radiações X 74
Os raios γ 76
Detalhes finais 78
Macrografia 165
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
Ensaios
não destrutivos –
Parte I
Ensaios não destrutivos – Parte I
Todo projeto de um componente mecânico ou, mais amplamente, qualquer
projeto de engenharia requer, para sua viabilização, um vasto conhecimento das
características, propriedades e comportamento dos materiais disponíveis. Desta forma,
a primeira pergunta óbvia parece ser “Que materiais estão disponíveis para o projeto?”.
Ainda que diversos sistemas de classificação sejam possíveis para o amplo es-
pectro de respostas, cinco categorias principais podem ser visualizadas em um nível
mais básico: metais, cerâmicas e vidros, polímeros, compósitos e semicondutores.
O comportamento mecânico de qualquer material utilizado em engenharia é fun-
ção de sua estrutura interna e de sua aplicação em projeto. Assim, o grande desafio
fica centrado nos critérios de especificação ou escolha de materiais. Tal tarefa requer
a realização de ensaios, segundo métodos normalizados1, que objetivam levantar as
propriedades mecânicas e o comportamento sob determinadas condições de esforços.
Quanto à integridade geométrica e dimensional de uma peça ou componente,
os ensaios dos materiais podem ser classificados em:
• Ensaios destrutivos: provocam a inutilização parcial ou total da peça; e,
• Ensaios não destrutivos: não comprometem a integridade da peça.
OBJETIVOS
• Compreender o conceito de ensaio não destrutivo;
• Compreender os fundamentos da inspeção visual;
• Conhecer os fundamentos da soldagem e do ensaio dimensional e visual de soldagem.
1 A normalização é fundamental para que se estabeleça uma linguagem comum entre fornecedores e usuários
dos materiais. Além disso, ao fixar os conceitos e procedimentos gerais que se aplicam aos diferentes métodos de
ensaios, a normalização permite: tornar a qualidade do produto mais uniforme; reduzir os tipos similares de materiais;
comparar resultados obtidos entre diferentes laboratórios; conferir orientação ao projetista em suas escolhas.
capítulo 1 •8
Na indústria mecânica, em particular na aeronáutica, é muito comum a ne-
cessidade de inspecionar máquinas e peças durante o período de vida útil. Nesses
casos, não será possível a destruição da peça ou do componente a ser testado, uma
vez que, após a inspeção, ele deverá ser recolocado no sistema de origem.
Nos setores de manutenção e inspeção de máquinas e motores, os END’s
podem proporcionar praticidade, rapidez e baixos custos de utilização, além da
segurança da substituição do componente antes que ele falhe em operação.
a)
b)
capítulo 1 •9
Uma característica marcante dos END’s é que raramente medem diretamente
a propriedade de interesse. O valor dessa propriedade é geralmente obtido a partir
da sua correlação com outra grandeza que é medida durante a realização do teste.
As propriedades ou características típicas medidas nos END’s são:
• Propriedades geométricas, tais como o tamanho, a forma, a espessura e as
descontinuidades dos materiais (trincas, porosidades e delaminação);
• Propriedades mecânicas, tais como a dureza, as constantes elásticas e os
estados de tensão e deformação;
• Propriedades estruturais e composição, tais como o tamanho do grão, as
inclusões, a segregação e o teor de elementos em ligas;
• Propriedades de absorção e reflexão, como a reflexão e a refração de raios-X
e as vibrações mecânicas sonoras e ultrassônicas;
• Propriedades elétricas e magnéticas, como a condutividade elétrica, a per-
meabilidade magnética, a distribuição de correntes parasitas e a energia armaze-
nada; e,
• Propriedades térmicas, como condutividade e expansão térmica.
capítulo 1 • 10
• Não há perda da peça ou de suas condições de serviço;
• Permitem inspeções repetidas em uma mesma peça ao longo do tempo, o
que possibilita acompanhar a evolução do desgaste ou dano, conseguindo uma
correlação destes com as condições de serviço;
• Pouca ou nenhuma preparação é necessária para a maioria dos END’s.
Alguns equipamentos são portáteis, que testam e qualificam as peças rapidamente
e de forma quase automática; e,
• Os custos dos END’s são relativamente baixos.
Dessa maneira, pode-se garantir que as principais razões para o uso dos END’s
estão pautadas na garantia da qualidade dos produtos e da reputação dos fabrican-
tes. Além disso, há a prevenção de acidentes e a consequente preservação da vida
humana. Outra razão é não interrupção de serviços básicos e, em última análise, o
aumento do lucro dos fabricantes.
A aplicação dos ensaios não destrutivos nas indústrias metalúrgica e mecâ-
nica é estudada do ponto de vista técnico, selecionando-se o método e a técnica
corretos associados ao fator econômico. Sempre há a necessidade de comparar-se
o custo dos ensaios não destrutivos com a economia nos custos de produção tra-
zida por eles. Alguns fatores que entram nesse estudo técnico-econômico são os
seguintes: custo da mão de obra (no ensaio), custo dos materiais de consumo (no
ensaio), custo das energias consumidas pelos equipamentos, custo da área destina-
da à inspeção dos equipamentos, sua depreciação e seguro.
Além disso, a fim de se obterem resultados satisfatórios e válidos, os seguintes
requisitos são imprescindíveis:
• Pessoal treinado e qualificado;
• Procedimento qualificado para a realização dos ensaios;
• Equipamento devidamente calibrado;
• Normas e critérios de aceitação perfeitamente definidos.
capítulo 1 • 11
Muitos fatores devem ser considerados quando da procura e da seleção do me-
lhor tipo de ensaio a ser realizado, além da melhor técnica a ser aplicada para exa-
minar uma peça. Fatores como o tipo de material da peça (características magné-
ticas, massa específica e composição); os processos de fabricação aplicados à peça
(fundição, forjamento, processo de revestimento etc.); geometria da peça (forma,
dimensões, condições superficiais); defeitos possíveis esperados (superficiais, sub-
superficiais, internos, localização e tamanho dos defeitos, qualificação quanto à
sua importância); e estágios em que aparece o defeito (na elaboração da matéria-
-prima, na fabricação da peça, na sua utilização). Os END’s mais utilizados são:
• Inspeção visual;
• Radiografia (raios-X e raios) e ultrassons;
• Partículas magnéticas e líquidos penetrantes;
• Termografia e correntes parasitas (eddy currents).
a)
b)
capítulo 1 • 12
c)
d)
e)
capítulo 1 • 13
f)
g)
Inspeção visual
O ensaio visual (inspeção visual) foi o primeiro método de ensaios não destru-
tivos aplicado pelo homem. É certamente o ensaio mais usado de todos, em todos
os ramos da Engenharia. A história do exame visual de objetos, pertences, metais
etc. remonta à Antiguidade. Por este motivo, pode-se imaginar que seja o ensaio
mais simples de todos; entretanto, na moderna época em que vivemos, ensaio
ainda é fundamental.
Todos os modernos métodos de ensaios não destrutivos não fizeram do ensaio
visual um ensaio obsoleto. Certamente, por muitos anos, ainda será utilizado,
pois dele dependem informações de alta importância para a segurança e econo-
mia industriais.
capítulo 1 • 14
A inspeção visual constitui um importante recurso na verificação de alterações
dimensionais, padrão de acabamento superficial e na observação de descontinui-
dades superficiais visuais em materiais e produtos em geral, tais como trincas,
corrosão, deformação, desalinhamento, cavidades, porosidade, montagem errônea
de sistemas mecânicos e outros. Por exemplo, se uma peça apresenta uma falha
passível de ser identificada a olho nu, o processo de produção é interrompido antes
da próxima etapa.
Para a inspeção de peças ou componentes que não permitem o acesso direto
interno — por exemplo, interior de blocos de motores, turbinas, bombas, tubu-
lações, etc. —, utilizam-se fibras óticas conectadas a espelhos ou microcâmaras
de TV com alta resolução, além de sistemas de iluminação, fazendo a imagem
aparecer em oculares ou em monitores de TV. São soluções simples e eficientes,
conhecidas como técnicas de inspeção visual remota.
Na aviação, a inspeção visual é a principal ferramenta para a verificação de com-
ponentes e análise de suas condições de operação e manutenção. Não existe nenhum
processo industrial em que a inspeção visual não esteja presente. Simplicidade de
realização e baixo custo operacional são as principais características deste método.
Todavia, a inspeção visual requer uma técnica apurada e obedece a sólidos requisitos
básicos, os quais devem ser conhecidos e corretamente aplicados.
A inspeção visual baseia-se em um simples princípio: a peça a se inspecionar
é iluminada com uma fonte de luz e, em seguida, é examinada pelo inspetor ou
por um engenheiro. Contudo, por se tratar de um ensaio no qual a preparação do
inspetor que o realiza é essencial para que os resultados obtidos sejam viáveis, o
erro mais comum de quem realiza esse tipo de ensaio é assumir que “o que se vê
é como se vê”.
capítulo 1 • 15
O olho humano
As variáveis intituladas com (c) e (d) podem sempre ser controladas, de modo
que um bom inspetor sempre exige "boa luz” e "posição da luz".
O tipo de luz usado também tem importante influência sobre o êxito da ins-
peção visual. A luz branca natural é amplamente usada por razões óbvias, mas,
nos recintos fechados das fábricas, merecem toda a atenção a escolha do tipo de
iluminação e a forma e disposição dos pontos luminosos.
Na inspeção em recintos fechados, a lâmpada elétrica atrás do inspetor (para
não ofuscar) produz melhores resultados do que o foco da lanterna de pilhas. Nas
inspeções visuais de peças acabadas e de alta responsabilidade, é comum se usar
luz monocromática. O olho humano normalmente tem sensibilidade relativa va-
riável, em função do comprimento de onda, tendo maior sensibilidade na faixa de
550 nm a 560 nm (1 nm = 10-9 m).
capítulo 1 • 16
Re�na
Íris
Córnea
Cristalino
Nervo Óp�co
Figura 1.5 – A princípio e de forma bem simplificada, o olho humano pode ser considerado
um instrumento óptico, pois é constituído por uma lente biconvexa (o cristalino), que fica
situada na região anterior ao globo ocular. No fundo do globo ocular, está a retina, que
é sensível à luz e serve de anteparo para as imagens. As sensações luminosas, após
serem captadas e projetadas sobre a retina, são enviadas ao cérebro pelo nervo óptico.
capítulo 1 • 17
Para a detecção e a avaliação de pequenas descontinuidades com o método de
ensaio visual direto, o ângulo de observação em relação à superfície a ser ensaiada
não deve ser inferior a 30°, e sua distância do olho do observador ao local do en-
saio não deve ser superior a 600 mm.
• Remoto
A inspeção visual pode ser auxiliada por uma série de instrumentos óticos. Esses
instrumentos desempenham funções importantes, seja para compensar a acuidade
do olho humano, seja para permitir a inspeção visual em locais de difícil acesso.
Deve ser assinalado que a utilização de sistemas óticos suplementares deve
sempre tomar em consideração os seguintes requisitos para uma boa inspeção:
a) vasto campo de visão;
b) imagem sem distorção;
c) preservação das cores naturais;
d) iluminação adequada;
e) capacidade de resolução igual ou maior que o ensaio visual pelo méto-
do direto.
Entre os instrumentos óticos auxiliares, temos:
capítulo 1 • 18
• Telelupa ou buroscópio
São dispositivos óticos que permitem a transmissão de imagens de locais ina-
cessíveis à visão por meio de refrações e reflexões sucessivas de imagens através de
combinações seriadas de lentes, prismas e espelhos.
Geralmente, as telelupas são formadas de tubos modulados, permitindo va-
riações no seu comprimento. As telelupas são fornecidas com vários tipos de ob-
jetivas, permitindo visão à frente, retrovisão, visão a 45°, 90° e 360°. A ocular
tem dispositivo de focalização, e a objetiva é munida de lâmpada, o que permite
iluminar os locais inspecionados.
As telelupas são usadas para inspeção de interior de tubulações, feixes tubu-
lares de permutadores, serpentinas de fornos e caldeiras. Existe um tipo especial
de telelupa chamada fibroscópio, onde o tubo transmissor é flexível e tendo no
seu interior fibras de luctite, as quais, sendo oticamente dirigidas, permitem que
a luz descreva “curvas” (na realidade, descreve uma linha poligonal de segmentos
extremamente pequenos).
a)
b)
Figura 1.7 – (a) Exemplo de buroscópio digital com tubo flexível e alcance de
950 mm. Iluminação de Led com intensidade ajustável. Ângulo de visão horizontal
de 48; (b) Exemplo de fibroscópio. Flexível, portátil e fornece detalhes em alta
resolução nos diâmetros tão pequenos quanto 2,4 mm. Fonte: Google imagens.
capítulo 1 • 19
• Espelho
O espelho auxilia a visão normal, de difícil visão direta. São normalmente arti-
culados na extremidade de uma haste, permitindo a procura de um melhor ângulo
de reflexão. Os espelhos podem ser ligeiramente convexos, para dar um pequeno
aumento da região focada.
Um espelho angular com cabo permite a inspeção de cantos, de soldas e de ângu-
los em lugares onde a cabeça humana dificilmente poderia achar acomodação visual.
©© JOESTORY | SHUTTERSTOCK.COM
• Circuito fechado de TV
Quando o acesso é difícil ou perigoso, pode-se utilizar uma câmera de televi-
são em circuito fechado – por exemplo, na inspeção submarina em plataformas
para exploração de petróleo.
Figura 1.9 – ROV (Remotely Operated Vehicle) de inspeção. Fonte: Google imagens.
• Transluzente
É a inspeção utilizada para detectar descontinuidades no material pela proje-
ção ou contraste de sombras, obtidas pela difusão de um feixe de luz por meio da
peça ensaiada.
capítulo 1 • 20
Deve ser utilizada iluminação artificial focalizada, com intensidade suficiente
para ultrapassar toda a seção do material na região de interesse. A iluminação do
ambiente deve ter intensidade inferior àquela emergente do material e não deve
causar clarões ou reflexões na superfície ensaiada.
• Percussão ou sensitivo
É uma técnica empregada durante a inspeção visual, onde se efetua o marte-
lamento da peça inspecionada. O objetivo é de detectar indicações sobre o tipo
de espessura de parede, a presença de crosta interna, esfoliações de superfície e
parafusos fraturados etc.
É necessário saber distinguir pequenas diferenças de vibrações sonoras, con-
jugando-as com a reação ou “resposta” do material ao impacto do martelo. Por
exemplo, quando não há vibração ou o martelo provoca uma mossa2, em decor-
rência de um golpe mais forte, há indicação de parede com uma fina espessura.
É uma técnica que depende muito da sensibilidade, do treinamento e da ex-
periência do inspetor.
Uma listagem dos acessórios presentes durante uma inspeção visual inclui:
espátula, martelo, ímã, máquina fotográfica, lanterna, binóculos e instrumentos
de medição (paquímetro, micrômetro interno/externo, goniômetro, nível, trena,
prumo e compassos de ponta).
Figura 1.10 – Acessórios e instrumentos para uma inspeção visual. Fonte: Google imagens.
capítulo 1 • 21
Planejamento da inspeção visual
capítulo 1 • 22
entrada de fluido, acessórios, suportes, juntas soldadas, interfaces líquido/gás,
flanges, deposições, chapas de sacrifício, incrustações, vertedouros, enchimentos.
capítulo 1 • 23
• Trocadores
Internamente: condição externa dos tubos, espelhos, interfaces tubo/chicana
e tubo /espelho, região de entrada do fluido, chapas divisoras de passes, juntas
soldadas.
Figura 1.15 – Válvula de globo BOA-H com fole. Fonte: Google imagens.
capítulo 1 • 24
• Caldeiras: deposição, queimadores, dutos, juntas de expansão, tomadas de
instrumentos, sopradores de fuligem, visores, piso, refratário, suportes, zonas de
temperatura mais baixa, incrustação, pré-aquecedor, regenerativo de ar e de vapor,
mudanças de especificação.
capítulo 1 • 25
• Juntas de expansão: fole, movimento livre, vazamentos, interfaces.
• Conexões: faces de vedação dos flanges, soldas, tipo e posição de montagem
das juntas
Soldagem
Os métodos de união dos metais podem ser divididos em duas categorias prin-
cipais. Os métodos baseados no aparecimento de forças mecânicas macroscópicas
entre as partes a serem unidas; e os métodos baseados em forças microscópicas
(interatômicas ou intermoleculares).
No primeiro caso, do qual são exemplos a parafusagem e a rebitagem, a re-
sistência da junta é dada pela resistência ao cisalhamento do parafuso ou rebite,
mais as forças de atrito entre as superfícies em contato. No segundo caso, a união
é conseguida pela aproximação dos átomos e moléculas das partes a serem unidas;
ou, destas e um material intermediário até distâncias suficientemente pequenas
para a formação de ligações químicas primárias (metálica, covalente ou iônica)
ou secundárias (ligação de van der Waals). Como exemplos desta última categoria
citam-se a soldagem, a brasagem e a colagem.
A soldagem é o processo de união localizada de metais ou não metais, por
meio da fusão ou não das peças. É importante não confundir solda com soldagem.
Soldagem é a operação que visa a obter a união de duas ou mais peças, asse-
gurando na junta a continuidade das propriedades físicas e químicas necessárias
ao seu desempenho. Solda é a zona de união onde houve solubilização, ou seja, é
a junta resultante da operação de soldagem.
capítulo 1 • 26
A soldagem é o mais importante processo industrial de fabricação de peças
metálicas. Processos de soldagem e processos afins são também utilizados na recu-
peração de peças desgastadas, para a aplicação de revestimentos de características
especiais sobre superfícies metálicas e para corte. O sucesso da soldagem está as-
sociado a diversos fatores e, em particular, à sua relativa simplicidade operacional.
A história da soldagem mostra que, desde as mais remotas épocas, muitos
artefatos já eram confeccionados utilizando-se recursos de brasagem4, tendo sido
descobertos alguns com mais de 4.000 anos; a soldagem por forjamento também
tem sido utilizada há mais de 3.000 anos.
capítulo 1 • 27
automotiva e aeronáutica, linhas de tubulação, tanques e embarcações, peças de
máquinas etc. depende muito da tecnologia de soldagem.
Entre as vantagens da soldagem, temos:
• maior economia de tempo e de material;
• redução do peso;
• uniões mais estanques;
• uniões mais resistentes;
• uniões possíveis de serem usinadas.
Óxidos
Rebarba
Pressão
capítulo 1 • 28
• Soldagem por fusão ou soldagem sem pressão: consiste na aplicação loca-
lizada de calor na região de união para a sua fusão e do metal de adição (quando
este for utilizado), produzindo a ligação pela solidificação do metal fundido e,
portanto, a destruição das interfaces.
Metal de base
Solda
7 A reação conhecida como Termite ou Thermite é um tipo de reação aluminotérmica, em que o alumínio metálico
é oxidado por um óxido de outro metal, normalmente óxidos de ferro (FeO, Fe2O3 e Fe3O4). A mistura entre
esses reagentes também é chamada de Termite. Esta reação é altamente exotérmica (libera energia), em que a
temperatura da reação pode ultrapassar 3.000 °C. Foi inventada em 1893 por Johann Wilhelm Goldschmidt e
patenteada em 1895, sendo conhecida como Processo Goldschmidt.
capítulo 1 • 29
Estima-se que, hoje em dia, estão sendo utilizados mais de 70 processos de
soldagem mundialmente, sendo este um número dinâmico, pois vários outros
processos estão em desenvolvimento em nível de pesquisa e projetando, para bre-
ve, novas alterações no mercado de soldagem.
Isto implica em grandes controvérsias na classificação dos processos, não ha-
vendo uma classificação universalmente aceita para os mesmos. A classificação
mostrada na figura 1.24, utiliza o critério de divisão em famílias, envolvendo o
fenômeno físico e utilizando para as subdivisões a forma de energia empregada
no processo.
capítulo 1 • 30
Processos de soldagem por pressão
Este primeiro grupo inclui, entre outros, os processos de soldagem por ultras-
som, por fricção, por forjamento, por resistência elétrica, por difusão e por ex-
plosão. Diversos desses processos, como a soldagem por resistência e, mais recen-
temente, o processo de soldagem por fricção com mistura (Friction Stir Welding,
FSW), têm enorme importância tecnológica.
Nesses processos, a união é obtida principalmente pela deformação do mate-
rial confinado, preferencialmente em uma região restrita às vizinhanças da junta.
Para isso, em vários desses processos, essa região é aquecida em relação ao restante
das peças.
Nos processos de soldagem por resistência, isto é conseguido pela passagem de
uma corrente elétrica elevada em função de maior resistência elétrica no contato
entre as peças e/ou nas conduções de extração de calor na junta. Nos processos
de soldagem por fricção, o calor é gerado pelo atrito entre as superfícies das peças
colocadas em movimento relativo. No processo de soldagem por fricção com mis-
tura, o aquecimento e a deformação são conseguidos por meio de uma ferramenta
especial que, em rotação, é forçada contra e entre as peças.
Força Axial
Direção da Soldagem
Lado de
Retrocesso
Lado de
Avanço
“Shoulder”
Pino
Lente de Soldagem
capítulo 1 • 31
Soldagem por oxi-gás (solda a gás)
capítulo 1 • 32
Deslocamento
da vareta
Deslocamento da vareta
45°
30°
45° 40° 45°
Movimento do maçarico
capítulo 1 • 33
Fazem-se restrições ao uso do gás acetileno nas operações de corte submarino
a grandes profundidades, quando ele é substituído por gases sintetizados ou mis-
tura de gases, como, entre outros, o metil-acetileno-propadieno (MPS), bastante
similar ao acetileno, porém estabilizado.
capítulo 1 • 34
Os sopros das forças do arco, bem como o impacto dos glóbulos de metal
fundido, formam uma pequena depressão no metal de base que é chamada de
cratera. A distância medida no centro do arco, da extremidade do eletrodo até
o fundo da cratera, é chamada comprimento do arco. O comprimento do arco
deve ser o menor possível (variando na faixa entre 3 e 4 mm ou, ainda, de 0,5 a
1,1 o diâmetro da alma do eletrodo), a fim de reduzir a chance de os glóbulos do
metal em fusão entrarem em contato com o ar ambiente, absorvendo oxigênio e
nitrogênio, os quais têm efeito bastante adverso nas propriedades mecânicas do
metal depositado.
Reves�mento
Vareta (Alma)
Atmosfera Escória
Poça de protetora solidificada
fusão
Metal de Solda
Metal de Base
capítulo 1 • 35
Quando comparada com outros processos, particularmente com a soldagem
com eletrodo consumível e proteção gasosa ou com a soldagem a arco submerso, a
soldagem com eletrodos revestidos apresenta como principal limitação uma baixa
produtividade, tanto em termos de taxa de deposição (entre 1,5 e 5 kg/h para
eletrodos de aço carbono), como em termos de ocupação do soldador, geralmente
inferior a 40%.
Outras limitações são a necessidade de um treinamento específico, que é de-
morado e oneroso, particularmente para certas aplicações de maior responsabili-
dade, necessidade de cuidados especiais para os eletrodos, principalmente com os
do tipo básico (baixo hidrogênio) e o grande volume de gases e fumos gerados no
processo, que são prejudiciais à saúde, particularmente em ambientes fechados.
Mesmo com esses inconvenientes, ainda continua a ser um processo de solda-
gem empregado na fabricação e montagem de equipamentos, na área de manuten-
ção e reparos, em construções no campo, na soldagem em locais de difícil acesso
em estaleiros, e, de modo mais abrangente, na soldagem em geral de chapas de
espessura variando de 3 mm a 40 mm.
Soldagem TIG (Tungsten inert gas) ou soldagem GTAW (Gas tungsten arc welding)
É um processo de soldagem por fusão a arco elétrico que utiliza o calor gerado
pelo arco formado entre o eletrodo de tungstênio, não consumível, e a peça que
se deseja soldar.
A proteção da poça de fusão é conseguida com a adição de um gás inerte ou
mistura de gases inertes sobre ela, sendo que o gás também tem a função de trans-
mitir a corrente elétrica quando ionizado durante o processo e auxiliar a resfriar o
eletrodo; a soldagem pode ser realizada com ou sem metal de adição.
A abertura do arco pode ser facilitada pela sobreposição de uma corrente de
alta frequência, para evitar que se tenha de riscar a peça com o eletrodo de tungs-
tênio. O arco inicial, obtido pela corrente de alta frequência, ioniza o gás, possibi-
litando a abertura do arco principal.
O eletrodo não consumível utilizado para soldagem é constituído de tungstê-
nio puro ou ligado a diversos elementos químicos, pois a presença desses elemen-
tos de liga aumenta a capacidade de emissão de elétrons, além de permitir maior
vida útil ao eletrodo. Os gases de proteção mais utilizados são o argônio e o hélio,
ou uma mistura de ambos.
capítulo 1 • 36
A soldagem TIG é bastante adequada para espessuras finas, pois possibilita
o perfeito controle da fonte de calor, sendo que muitas vezes ela é utilizada sem
metal de adição, somente caldeando-se as bordas do metal a ser soldado. É muito
comum, também, utilizar o TIG para o passe de raiz na soldagem de peças espes-
sas e de grande responsabilidade.
É um processo que requer muita habilidade do soldador, uma limpeza per-
feita dos metais a serem soldados, além de emitir grande quantidade de radiação
ultravioleta. Essas radiações queimam rapidamente as partes da pele expostas, bem
como as vistas, e ainda têm capacidade de decompor solventes armazenados nas
imediações, liberando gases bastante tóxicos; as radiações facilitam a geração de
O3 nas proximidades.
Ga�lho
Energia
Pinça
Difusor de Gás
Bocal Cerâmico
Eletrodo Tungstênio Gás de Proteção
Cordão de Solda
Arco Elétrico
Gás de Proteção
So
da
do
Aterramento da peça
n�
sendo soldada
Se
capítulo 1 • 37
Tocha
Gás de
Proteção
Eletrodo
Solda
Metal de
Base
Poça de Fusão
capítulo 1 • 38
Problemas no processo de soldagem
capítulo 1 • 39
Compressão Tração
capítulo 1 • 40
σθ σr
Solda
r
Remendo
θ
σr
f
σθ
capítulo 1 • 41
Alguns efeitos específicos da presença de tensões residuais em um componente
soldado são:
• Flambagem (ou cambagem ou, em inglês, “buckling”): essa instabilidade é
um risco em componentes estruturais que atuam sob compressão, particularmen-
te naqueles longos e delgados. Em algumas situações, a flambagem pode levar à
falha rápida e inesperada de um componente submetido a uma tensão, em geral,
menor que o limite de escoamento do material. Em outras situações, embora não
chegue a causar a falha final do componente, a flambagem pode levar ao apareci-
mento de intensas distorções na estrutura.
FLAMBAGEM
capítulo 1 • 42
Figura 1.34 – Exemplo de fratura por fadiga. Fonte: Google imagens.
Figura 1.35 – Corrosão sob tensão em uma tubulação. Fonte: Google imagens.
capítulo 1 • 43
• Fratura frágil: a fratura final de um componente metálico ocorre quando
uma trinca, que pode ter-se desenvolvido por diferentes mecanismos (por fadiga,
por exemplo), atinge um tamanho suficientemente grande pode ocorrer de duas
formas básicas, do ponto de vista metalúrgico: 1. Dúctil ou 2. Frágil.
capítulo 1 • 44
Fragilização da região da solda e de regiões adjacentes à solda pode acorrer
por diversos motivos (formação de filmes de líquido em contornos de grão a alta
temperatura, crescimento de grão, presença de hidrogênio dissolvido no material,
precipitação etc.) durante e após a soldagem.
• Instabilidade dimensional: quando um componente soldado é usinado
ou submetido a outra operação de remoção de material, os balanços das forças
por causa das tensões residuais deixam, momentaneamente, de ser satisfeitos.
Para restaurar o equilíbrio das forças e de momento, o componente tende a sofrer
pequenas distorções que causam uma redistribuição das tensões residuais dentro
do componente.
REFLEXÃO
O capítulo 1 chega ao final e desejo que você tenha começado a perceber a importância
dos ensaios mecânicos no cotidiano da Engenharia. A inspeção visual e os detalhes do pro-
cesso de soldagem foram apenas o início de nossa jornada.
No próximo capítulo, você continuará em contato com os ensaios não destrutivos (END’s).
Entretanto, você irá conhecer técnicas mais apuras na detecção de imperfeições em peças e
equipamentos. Você verá desde o ensaio por líquidos penetrantes, mais simples, até o ensaio
radiográfico, uma técnica operatória mais complexa.
A seguir, deixo para você alguns endereços eletrônicos onde desejo que seu interesse
possa ser ampliado ainda mais.
Telecurso 2000. Ensaios de Materiais 18. Ensaios visuais. Disponível no endereço eletrô-
nico: <https://youtu.be/N4wgm2ZdHOA>. Acesso em: 05 out. 2018.
Telecurso 2000. Processos de Fabricação 12. A união faz a solda. Disponível no endere-
ço eletrônico: <https://youtu.be/n_aL4ku0v7E>. Acesso em: 05 out. 2018.
Maravilhas Modernas – Soldagem. Disponível no endereço: <https://youtu.be/u38rvQ-
-NT1c>. Acesso em: 05 out. 2018.
capítulo 1 • 45
ATIVIDADE
Abaixo deixo algumas questões às quais se deve responder e que servirão para fixar os
principais conceitos desenvolvidos ao longo do capítulo 1.
a) Qual a diferença entre um ensaio destrutivo e um ensaio não destrutivo? Cite exemplos
de ambos.
b) Quais as principais vantagens dos ensaios não destrutivos?
c) Quais as principais desvantagens dos ensaios não destrutivos?
d) O que é inspeção visual?
e) Quais os principais fatores que afetam a avaliação de descontinuidades por inspeção visual?
f) Entre os instrumentos auxiliares para a inspeção visual, cite dois exemplos e avalie
suas vantagens.
g) Qual a diferença entre solda e soldagem?
h) O que é soldagem por pressão? Cite exemplos.
i) O que é soldagem por fusão? Cite exemplos.
j) Quais os problemas comumente verificados no processo de soldagem que reque-
rem atenção?
Todas as respostas podem ser encontradas ao longo das páginas do Capítulo 1. Aprovei-
te a oportunidade de rever o conteúdo antes de avançar neste livro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Noções básicas de processos de soldagem e corte. CPM – Programa de Certificação de Pessoal de
Manutenção. Apostila SENAI / Companhia Siderúrgica de Tubarão, Espírito Santo, 1996.
2. Ensaio visual e dimensionamento de solda. Nível II. Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A. Apostila
PROMINP, 2006.
3. Garcia, A.; Spim, J.A.; Santos, C. A. dos. Ensaios dos materiais. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda, 2012.
4. Modenesi, P.J.; Marques, P.V.; Santos, D.B. Introdução à metalurgia da soldagem. Departamento
de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
janeiro de 2012.
5. Neris, M. N. Soldagem. Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, São Paulo, abril de
2012.
capítulo 1 • 46
2
Ensaios não
destrutivos –
Parte II
Ensaios não destrutivos – Parte II
No capítulo anterior, você começou a ver os fundamentos básicos dos ensaios
não destrutivos (END’s). Agora, você verá os principais métodos aplicados na
indústria metal-mecânica.
O ensaio por líquidos penetrantes, o ensaio por partículas magnéticas, o
ensaio de ultrassom e o ensaio radiográfico serão abordados ao longo deste
capítulo. Você verá como tais métodos são capazes de proporcionar informações
a respeito do teor de defeitos de um determinado produto, das características
tecnológicas de um material ou, ainda, da monitoração da degradação em serviço
de componentes, equipamentos e estruturas.
OBJETIVOS
Neste segundo capítulo, você deve procurar alcançar os seguintes objetivos;
• Compreender os fundamentos do ensaio por líquidos penetrantes;
• Compreender os fundamentos do ensaio por partículas magnéticas;
• Compreender os fundamentos do ensaio por ultrassom e do ensaio radiográfico.
8 As ligas metálicas não ferrosas são aquelas que não têm o elemento químico ferro em sua composição ou o
apresentam em pequena quantidade. O bronze, por exemplo, é um exemplo desse tipo de liga, pois é obtido a partir
da mistura de cobre (Cu) e estanho (Sn). Outro exemplo é o latão, o qual é obtido da junção do cobre com o zinco
(Zn) e é utilizado desde a pré-história.
capítulo 2 • 48
de detecção de defeitos superficiais diferentes do ensaio por partículas magnéticas
(não aplicável a materiais não magnéticos).
A partir da Segunda Guerra Mundial, o método foi se desenvolvendo, por
meio da pesquisa e do aprimoramento de novos produtos utilizados no ensaio, até
atingir o seu estágio atual. Atualmente, o ensaio por líquidos penetrantes também
encontra uso na detecção de vazamentos em tubos, tanques, soldas e componentes.
Os princípios básicos do método envolvem as seguintes etapas:
• Preparação da superfície (limpeza superficial): antes de se iniciar o en-
saio, a superfície deve ser limpa e seca. Não devem existir água, óleo ou outro
contaminante. Contaminantes ou excesso de rugosidade, ferrugem etc. tornam o
ensaio não confiável;
• Aplicação do líquido penetrante: consiste na aplicação de um líquido cha-
mado penetrante, geralmente de cor vermelha, de tal maneira que forme um filme
sobre a superfície e que, por ação do fenômeno chamado capilaridade9, penetre
na descontinuidade. Deve ser dado certo tempo para que a penetração se com-
plete. O penetrante deve ser aplicado uniformemente sobre a superfície da peça a
ser ensaiada;
• Remoção do excesso de penetrante: após um período adequado, o excesso
de penetrante é removido da superfície. A remoção deve ser feita por meio do uso
de produtos adequados, condizentes com o tipo de líquido penetrante aplicado. A
remoção deve permitir que a superfície fique isenta de qualquer resíduo;
• Revelação: consiste na aplicação de um filme uniforme de revelador sobre a
superfície. O revelador é usualmente um pó fino (talco) branco. Pode ser aplicado
seco ou em suspensão em algum líquido. O revelador age absorvendo o penetrante
(efeito mata-borrão) das descontinuidades e revelando-as. Deve ser previsto um
determinado tempo de revelação para o sucesso do ensaio;
• Avaliação e inspeção: após a aplicação do revelador, as descontinuidades
começam a serem observadas, por meio da mancha causada pela absorção do pe-
netrante contido nas aberturas e que serão objetos de avaliação. A inspeção deve
ser feita sob boas condições de luminosidade, se o penetrante é do tipo visível
(cor contrastante com o revelador), ou sob luz negra, em área escurecida, caso o
penetrante seja fluorescente.
A interpretação dos resultados deve ser baseada no Código de Fabricação da
peça, em norma aplicável ou, ainda, em especificação técnica do cliente. Nessa
9 Tendência que os líquidos apresentam de subir em tubos capilares ou de fluir através de corpos porosos, causada
pela tensão superficial.
capítulo 2 • 49
etapa, deve ser preparado um relatório escrito que mostre as condições do ensaio,
tipo e identificação da peça ensaiada, resultado da inspeção e condição de aprova-
ção ou rejeição da peça.
Em geral, a etapa de registro das indicações é bastante demorada e complexa,
sobretudo quando a peça mostra muitos defeitos. Portanto, o reparo imediato das
indicações rejeitadas com posterior reteste é o procedimento mais recomendável.
• Limpeza pós-ensaio: esta última etapa, geralmente obrigatória, consiste
na limpeza de todos os resíduos de produtos, que podem prejudicar uma etapa
posterior de trabalho da peça (soldagem, usinagem etc.).
Etapas:
(a) (b) a) Preparação e limpeza de superfície.
b) Aplicação do líquido penetrante.
c) Remoção do excesso de penetrante.
(c) (d) d) Revelação.
e) Inspeção.
f) Limpeza final.
(e) (f)
capítulo 2 • 50
Uma das grandes vantagens do método é a sua simplicidade. Além disso, em
pouco tempo, o inspetor torna-se apto para interpretar os resultados. Como a
indicação assemelha-se a uma fotografia do defeito, a avaliação dos resultados é
muito fácil.
Em contrapartida, o inspetor deve estar ciente dos cuidados básicos a serem
tomados (limpeza, tempo de penetração etc.), pois a simplicidade pode tornar-se
um “calcanhar de Aquiles”.
Não há limitação para o tamanho e forma das peças a ensaiar nem para o
tipo de material; em contrapartida, as peças devem ser suscetíveis à limpeza, e sua
superfície não pode ser muito rugosa nem porosa. O método pode revelar des-
continuidades (trincas) extremamente finas (da ordem de 0,001 mm de abertura).
Em relação às limitações do método, pode ser apontada a necessidade de que
o penetrante entre na descontinuidade para ser, posteriormente, revelado. Em ou-
tras palavras, o método só detecta descontinuidades abertas para a superfície. Por
essa razão, a descontinuidade não deve estar preenchida com material estranho.
Além disso, a superfície do material não pode ser porosa ou absorvente, já que
não haveria possibilidade de remover totalmente o excesso de penetrante, o que
causaria o mascaramento de resultados.
Com relação à temperatura, a aplicação do penetrante deve ser feita em uma
determinada faixa permitida ou recomendada pelo fabricante dos produtos.
Superfícies muito frias (abaixo de 10 °C) ou muito quentes (acima de 52 °C) não
são recomendáveis ao ensaio. É comum que a temperatura ótima de aplicação
do penetrante seja de 20 °C. Em temperaturas ambientes acima de 52 °C, há o
aumento da evaporação dos constituintes voláteis do penetrante, tornando-o insu-
ficiente. Acima de certo valor (> 100 °C), há o risco de inflamabilidade.
Finalmente, quando aplicado em algumas peças específicas, há a necessidade
de que a limpeza seja efetuada da maneira mais completa possível após o ensaio.
Exemplos: maquinaria para indústria alimentícia; material que será soldado poste-
riormente etc. Este fato pode tornar-se limitativo ao exame, especialmente quando
esta limpeza for difícil de fazer.
capítulo 2 • 51
Os solventes são utilizados para desobstruir as descontinuidades superficiais
de graxa, óleo etc., não sendo permitido o uso de produtos que contenham frações
pesadas causadoras de depósito oleoso na superfície em ensaio.
Os tipos e métodos de ensaios por líquidos penetrantes são classificados con-
forme a tabela 2.1.
capítulo 2 • 52
superfície, formando uma mistura lavável em água, que pode ser removida da
superfície da peça por lavagem, deixando-a livre do fundo fluorescente. O pene-
trante que permanece no interior da descontinuidade não está sujeito a excesso de
lavagem.
O tempo adequado de emulsificação deve ser estabelecido experimentalmente
e deve ser sempre observado, para assegurar que não ocorra emulsificação em ex-
cesso, da qual resultaria perda de indicações.
Os penetrantes removíveis por solvente são formulados de modo que o ex-
cesso de penetrante na superfície possa ser removido esfregando-se a superfície
com materiais limpos, que não soltem fiapos, e em sucessivas operações, até que a
maioria dos resíduos de penetrante tenha sido removida.
Os resíduos remanescentes devem ser removidos com os mesmos materiais
de limpeza, porém levemente umedecidos com o removedor. Para minimizar a
remoção de penetrante das descontinuidades, deve-se evitar o uso de removedor
em excesso. É proibido aspergir ou lavar a superfície da peça com removedor para
a remoção do excesso de penetrante.
O ensaio por penetrante visível (método B) utiliza um penetrante que é per-
ceptível com luz visível. O penetrante é, geralmente, de cor vermelha, para que
as indicações produzam um contraste acentuado com o fundo branco do revela-
dor. As indicações obtidas por penetrante visível devem ser observadas com “luz
branca” adequada. Os métodos de ensaio por penetrantes visíveis são classifica-
dos como:
a) removível com água;
b) removível com água após emulsificação;
c) removível por solvente.
capítulo 2 • 53
química. Os emulsificadores de alta viscosidade são, geralmente, de ação mais
lenta do que os emulsificadores de baixa viscosidade.
Os emulsificadores à base de óleo agem por difusão (dissolução) no penetrante
existente em excesso na superfície da peça, tornando-o removível com água; a taxa
de difusão determina o tempo de emulsificação.
Os emulsificadores à base de água (removedor tipo detergente) são forne-
cidos normalmente concentrados, para serem diluídos em água e utilizados por
imersão ou pulverização. Os emulsificadores à base de água, por meio de sua ação
detergente, deslocam o excesso de penetrante da superfície da peça.
A força do jato de água ou a agitação pelo ar, em tanques de imersão abertos,
propiciam a ação de lavagem, enquanto o detergente desloca o filme de penetrante. O
tempo de emulsificação é variável, em função da concentração do detergente na água.
Os removedores dissolvem o penetrante, permitindo a limpeza da superfície,
deixando-a totalmente livre de resíduos. A revelação das indicações do penetrante
corresponde à operação de remoção dele, uma vez retido nas descontinuidades,
pela ação de mata-borrão do revelador aplicado, aumentando, dessa forma, a visi-
bilidade das indicações do penetrante.
Os reveladores secos são utilizados tal como fornecidos (ou seja, um pó não
aglutinável e facilmente espalhável). Deve ser evitada a contaminação do revelador
com penetrante fluorescente, pois as manchas resultantes podem apresentar-se
como falsas indicações.
Os reveladores aquosos são normalmente fornecidos como pó seco, para dis-
solução ou suspensão em água, dependendo do tipo empregado. Os reveladores
em suspensão aquosa são suspensões de partículas de revelador em água. A con-
centração, o uso e a conservação devem estar de acordo com as recomendações do
fabricante. Os reveladores solúveis em água são fornecidos na forma de pó solúvel
em água e utilizados nas concentrações recomendadas pelo fabricante.
Os reveladores para suspensões não aquosas são fornecidos na forma de
suspensões de partículas de revelador em solventes não aquosos, já prontas para
uso. Devem ser aplicados à peça por pulverização, após a remoção do excesso de
penetrante e a secagem da superfície. Esses reveladores são aplicados com pistolas
eletrostáticas ou de ar comprimido ou, ainda, por sistemas de pulverização por
pressão de ar (aerossol).
Esse tipo de revelador não deve ser aplicado por nenhum outro processo que
não seja o de pulverização nem deve ser usado em tanques de imersão. Os revela-
dores não aquosos formam, após a secagem, um revestimento branco na superfície
capítulo 2 • 54
da peça, servindo como fundo contrastante para os penetrantes visíveis, bem como
um meio de revelação para os penetrantes fluorescentes.
capítulo 2 • 55
Eletromagnetismo é o ramo da física que estuda a relação entre as forças da
eletricidade e do magnetismo como um fenômeno único. O eletromagnetismo
é uma interação fundamental, muito mais importante do que a gravitação no
domínio do que nos é mais familiar. Com efeito, as forças que atuam na escala
macroscópica, responsáveis pela estrutura da matéria e pela quase totalidade dos
fenômenos físicos e químicos que intervêm em nossa vida diária, são de natureza
eletromagnética.
Até o fim do século XVIII, eletricidade e magnetismo eram pouco mais que
curiosidades de laboratório, sem nenhuma interconexão conhecida. Em ambos
os casos, conheciam-se apenas os fenômenos estáticos. Foi somente no início do
século XIX que se descobriram os efeitos magnéticos das correntes. Pouco depois,
veio a grande descoberta de Faraday do fenômeno de indução eletromagnética:
em linguagem atual, campos magnéticos variáveis com o tempo produzem cam-
pos elétricos. O efeito simétrico, a produção de campos magnéticos por campos
elétricos que variam com o tempo, foi previsto teoricamente por Maxwell quan-
do formulou suas famosas equações, as quais sintetizam todo o eletromagnetis-
mo clássico.
Se uma agulha magnética se aproximar de um condutor elétrico retilíneo por
onde circula uma corrente elétrica, observa-se que a agulha tende a se colocar
perpendicularmente ao plano que passa pelo eixo do condutor e pelo centro de
rotação da agulha. Tal experiência, elementar em Física, mostra que sobre a agu-
lha atuam forças específicas, que se chamam forças magnéticas. Toda a região
próxima do condutor elétrico pelo qual circula a corrente elétrica exerce essa ação
sobre a agulha magnética. Chama-se essa zona de campo magnético da corrente.
O campo magnético age também sobre outros condutores nos quais circule uma
corrente elétrica.
Se um papelão for atravessado por um condutor elétrico, como na figura 2.3,
e uma corrente passar por ele, será gerado um campo magnético em torno desse
condutor elétrico. Se for colocada limalha de ferro muito fina sobre o papelão,
ao se fazer vibrar o papelão, a limalha de ferro vai se organizar em forma de cír-
culos concêntricos, tendo no eixo do condutor elétrico o seu centro. Tais círculos
concêntricos, formados pela limalha de ferro, chamam-se linhas magnéticas ou
espectro do campo. Se sobre o papelão forem colocadas pequenas agulhas mag-
néticas e for invertido o sentido da corrente elétrica no condutor, observa-se que
as agulhas magnéticas também vão inverter sua posição.
capítulo 2 • 56
Condutor i
+
Papelão
Limalha de ferro –
N S
capítulo 2 • 57
acumular em todo o contorno do campo de fuga. Dessa forma, pode-se dizer que
o ensaio por partículas magnéticas é um “detector” de campos de fuga, os quais
são “evidenciados” pela presença de acúmulos de partículas.
a)
b)
Campo de Fuga
Campo
Magné�co
Material Ferromagné�co
capítulo 2 • 58
material (B) pela presença de um magnetismo externo e a força de magnetização
externa (H). A permeabilidade magnética de um material não é constante e de-
pende da magnitude do parâmetro H.
Os materiais ideais (materiais ferromagnéticos) para a inspeção por partícu-
las magnéticas apresentam m > 1, ou seja, são fortemente atraídos por um ímã.
Materiais paramagnéticos (m = 1) são materiais que apresentam leve atração e,
dessa forma, não são recomendadas para a inspeção. De igual maneira, materiais
diamagnéticos (m < 1) não são também recomendados, pois são levemente repeli-
dos por um ímã. Exemplos de materiais diamagnéticos são: prata (Ag), zinco (Zn),
cobre (Cu), chumbo (Pb) e mercúrio (Hg).
A magnetização em uma peça pode ser do tipo circular e/ou longitudinal. A
magnetização circular consiste em se fazer passar através da peça uma corrente
elétrica, que irá produzir um campo ao seu redor. Para casos em que a peça é va-
zada, como no caso de tubos, o condutor de corrente não é a própria peça, mas,
sim, outro objeto colocado dentro dela. A magnetização longitudinal é feita
colocando-se a peça entre dois polos de um eletroímã ou dentro de uma bobina
do tipo solenoide.
Direção da
corrente
Trinca longitudinal
será visualizada
Trinca transversal
não será visualizada
Trinca a 45°
será visualizada
Campo
magné�co
capítulo 2 • 59
Trinca transversal
Corrente passando
será visualizada
pelo solenoide
Solenoide
Trinca a 45°
será visualizada
Trinca longitudinal
não será visualizada
Campo
magné�co
capítulo 2 • 60
A magnetização simultânea possibilita menor tempo de execução, trazendo
como benefício maior produção. Contudo, é limitada pelo ajuste da intensida-
de dos campos magnéticos que são necessários para obtenção de uma resultante
capaz de detectar adequadamente as descontinuidades nas duas direções da peça
em ensaio, descontinuidades longitudinais e transversais. Na prática, esse ajuste é
conseguido realizando-se testes com peças ou corpos de prova contendo defeitos
conhecidos.
capítulo 2 • 61
+
Corrente Contínua
Retificação Meia Onda
Tempo
R S T
+
120°
Trifásica
240°
360°
capítulo 2 • 62
Ensaio por ultrassom
3
Som agudo
2
–3 –2 –1 1 2 3
–1
–2
–3
capítulo 2 • 63
3
Som grave
2
1
–6 –5 –4 –3 –2 –1 1 2 3 4 5 6
–1
–2
–3
capítulo 2 • 64
• Reflexão: quando uma onda sonora encontra um obstáculo, por exemplo
uma parede, uma certa quantidade de energia é refletida e volta à sala. As reflexões
sucessivas constituem a reverberação;
• Absorção: uma outra parte da energia é absorvida pelos materiais consti-
tuintes da parede; as altas frequências são mais facilmente absorvidas, atenuando-
-se mais que as frequências baixas;
• Transmissão: uma parte da energia é transmitida para a divisão vizinha
através da parede, que funciona como uma fonte sonora secundária.
capítulo 2 • 65
Osciloscópio
Transdutor digital
Peça de ensaio
Ultrassom
Assim sendo, o ensaio por ultrassom pode ser definido como um método
não destrutivo que tem por objetivo a detecção de defeitos ou descontinuidades
internas, os quais podem estar presentes nos mais variados tipos ou formas de
materiais ferrosos ou não ferrosos. Na maioria dos casos, os ensaios são aplicados
em aços-carbonos e, em menor porcentagem, em aços inoxidáveis. Materiais não
ferrosos são difíceis de serem examinados e, dessa forma, requerem procedimen-
tos especiais.
Tais defeitos podem ser caracterizados no próprio processo de fabricação da
peça ou componentes a serem examinados, como bolhas de gás em fundidos,
dupla laminação em laminados, microtrincas em forjados, escórias em uniões sol-
dadas e muitos outros. Na moderna indústria, principalmente nas áreas de cal-
deiraria e estruturas marítimas, o exame ultrassônico constitui uma ferramenta
capítulo 2 • 66
indispensável para garantia de qualidade de peças de grandes espessuras, geome-
trias complexas, análise de juntas soldadas e chapas.
Assim como todo ensaio não destrutivo, o ensaio ultrassônico tem vantagens e
limitações nas aplicações. As vantagens em relação a outros ensaios são:
• Apresenta alta sensibilidade, detectando trincas em razão do tratamento tér-
mico, fissuras e outras descontinuidades de difícil detecção por ensaio de radiações
penetrantes (radiografia ou gamagrafia);
• Para interpretação das indicações, dispensa processos intermediários, agili-
zando a inspeção;
• Não há necessidade de processos posteriores para emissão dos resultados. No
caso de radiografia ou gamagrafia, por exemplo, existe a necessidade do processo
de revelação do filme, que via de regra demanda tempo do informe de resultado;
• Ao contrário dos ensaios por radiações penetrantes, o ensaio ultrassônico não
requer planos especiais de segurança ou quaisquer acessórios para sua aplicação;
• A localização, a avaliação do tamanho e a interpretação das descontinuida-
des encontradas são fatores intrínsecos ao exame ultrassônico, enquanto outros
exames não definem tais fatores. Por exemplo, um defeito mostrado em um filme
radiográfico define o tamanho, mas não sua profundidade, o que, em muitos ca-
sos, é um fator importante para proceder um reparo.
A inspeção de materiais por ultrassom pode ser efetuada por meio dos seguin-
tes métodos ou técnicas.
capítulo 2 • 67
• Técnica de impulso-eco ou pulso-eco
É a técnica em que somente um transdutor12 é responsável por emitir e receber
as ondas ultrassônicas que se propagam no material. Portanto, o transdutor é aco-
plado em somente um lado do material, podendo ser verificadas a profundidade
da descontinuidade, suas dimensões e a localização na peça.
P
P
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
• Técnica de transparência
É uma técnica em que são utilizados dois transdutores separados, um trans-
mitindo e outro recebendo as ondas ultrassônicas. Neste caso, é necessário acoplar
os transdutores nos dois lados da peça, de forma que estes estejam perfeitamente
alinhados. Nesse tipo de inspeção, não se pode determinar a posição da desconti-
nuidade, a extensão ou mesmo a localização na peça. O ensaio é somente um tipo
“passa ou não passa”.
A técnica de transparência pode ser aplicada para chapas, juntas soldadas e
barras. O intuito do ensaio é estabelecer um critério comparativo de avaliação do
sinal recebido, ou seja, da altura do eco na tela.
A altura do sinal recebido na técnica de transparência varia em função da quan-
tidade e do tamanho das descontinuidades presentes no percurso das vibrações ul-
trassônicas. Embora não saiba analisar as características das indicações, o inspetor,
por comparação entre queda do eco com aquele produzido em uma peça sem
descontinuidades, pode estabelecer critérios de aceitação do material fabricado.
12 As ondas ultrassônicas são geradas ou introduzidas no material por meio de um elemento emissor com uma
determinada dimensão e que vibra com certa frequência. Este emissor pode apresentar-se com determinadas
formas (circular ou retangular). Tanto o elemento emissor quanto o receptor são denominados transdutores, também
designados por cabeçotes.
capítulo 2 • 68
Emissor
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Receptor
• Técnica de imersão
Nessa técnica, é empregado um transdutor de imersão à prova d’água, preso a
um dispositivo. O transdutor pode movimentar-se, tanto na distância até a peça
quanto na inclinação do feixe de entrada na superfície da peça. Na técnica de
imersão, a peça é colocada dentro de um tanque com água, propiciado um acopla-
mento sempre homogêneo.
Água Transdutor
como
Acoplante
Figura 2.14 – Técnica por imersão no ensaio de ultrassom. Fonte: ANDREUCCI, 2008.
capítulo 2 • 69
Para aços, as frequências atingem até 10 MHz, enquanto para a borracha é
indicada a frequência de 100 kHz. No primeiro caso, é possível detectar falhas de
até 1 mm e, no segundo, só falhas maiores de 5 mm. O julgamento da desconti-
nuidade encontrada deve ser feito de acordo com o procedimento escrito, norma
aplicável, especificação do cliente ou por outro documento da qualidade aplicável.
Ensaio radiográfico
Fundamentos da radiação
capítulo 2 • 70
Nessa época, destacaram-se dois cientistas, Pierre e Marie Curie, os quais des-
cobriram os elementos químicos polônio e rádio e criaram o termo “radioativida-
de”13 para a propriedade de emissão de radiações por diversas substâncias.
O nome “radiação penetrante” se originou da propriedade que certas formas
de energia radiante têm de atravessar materiais opacos à luz visível. Podemos dis-
tinguir dois tipos de radiação penetrante usados em radiografia industrial: os raios
X e os raios gama (raios γ). Eles se distinguem da luz visível por terem comprimen-
to de onda extremamente curto, o que lhes dá a capacidade de atravessar materiais
que absorvem ou refletem a luz visível.
Por serem de natureza semelhante à luz, os raios X e os raios γ têm uma série
de propriedades em comum com a luz, entre as quais podemos citar: têm mesma
velocidade de propagação (300.000 km/s); deslocam-se em linha reta; não são
afetados por campos elétricos ou magnéticos; têm a propriedade de impressionar
emulsões fotográficas.
Poderíamos citar outras propriedades comuns entre as radiações penetrantes
e a luz visível. Ocorre, no entanto, que vários fenômenos que observamos na luz
são muitos difíceis de serem detectados. O fenômeno de refração, por exemplo,
ocorre nas radiações penetrantes, mas em uma escala tão pequena que são necessá-
rios instrumentos muito sensíveis para detectá-lo. Isso explica por que a radiação
penetrante não pode ser focalizada através de lentes, como acontece com a luz.
No âmbito dos ensaios não destrutivos, devem ser salientadas seis proprieda-
des da radiação penetrante que são de particular importância:
• deslocam-se em linha reta;
• podem atravessar materiais opacos a luz, ao fazê-lo, são parcialmente absor-
vidos por esses materiais;
• podem impressionar películas fotográficas, formando imagens;
• provocam o fenômeno da fluorescência;
• provocam efeitos genéticos;
• provocam ionizações nos gases.
capítulo 2 • 71
• partículas alfa (a);
• partículas beta (b);
• raios gama (γ).
alfa
beta
gama
–––
α
tela
fluorescente
material placas carregadas
radioa�vo eletricamente
capítulo 2 • 72
A radiação X (composta por raios X) é uma forma de radiação eletromag-
nética, de natureza semelhante à luz. A maioria dos raios X tem comprimentos
de onda entre 0,01 e 10 nanômetros, correspondendo a frequências na faixa de
30 petahertz a 30 exahertz (3 x 1016 Hz a 3 x 1019 Hz) e energias entre 100 eV e
100 keV14 . Os comprimentos de onda dos raios X são menores do que os raios
ultravioleta (UV) e tipicamente maiores do que a dos raios gama. A produção de
raios X se deve principalmente à transições de elétrons nos átomos ou é resultado
da desaceleração de partículas energéticas carregadas.
Luz Visível
700nm a 400nm
Infravermelho
Ultravioleta
Raios-X
Microondas
Ondas
Baixas
Gama
Rádio
Raios
λ
f = c/λ
f
10 102 104 106 108 1010 1012 1014 1016 1018 1020 1022 1024 1026
KHz MHz GHz THz
Radiação Não-Ionizante Radiação Ionizante
capítulo 2 • 73
em que:
E = energia (J)
h = constante de Planck (6,624 x 10-34 J s-1)
c = velocidade da luz (no vácuo, 299.792.458 m s-1)
λ = comprimento de onda (m)
As radiações X são emitidas a partir das camadas eletrônicas dos átomos. Essas
emissões não ocorrem de forma desordenada; elas têm um “padrão” de emissão
denominado espectro de emissão.
Os raios X, destinados ao uso industrial, são gerados numa ampola de vidro,
denominada tubo de Coolidge, o qual tem duas partes distintas: o ânodo e o
cátodo. O ânodo e o cátodo são submetidos a uma tensão elétrica da ordem de
milhares de volts, sendo o polo positivo ligado ao ânodo, e o negativo, no cátodo.
O ânodo é constituído de uma pequena parte fabricada em tungstênio, também
denominado de alvo, e o cátodo é constituído de um pequeno filamento, tal qual
uma lâmpada incandescente, por onde passa uma corrente elétrica da ordem de
mA (miliampères).
Envoltório de vidro
plumbífero do tubo de raio X
Ânodo (+)
área focal Calota focalizadora
da fonte de molibdênio
Óleo Óleo
Circuito de baixa
voltagem
Selamento do
cabeçote de vidro Janela de vidro
ou alumínio não-plumbífero
Colimador de chumbo
Filtros de alumínio
acessórios
Cilindro localizador (CL)
capítulo 2 • 74
Quando o tubo é ligado, a corrente elétrica aquece o filamento, que passa a
emitir espontaneamente elétrons que são atraídos e acelerados em direção ao alvo.
Nessa interação dos elétrons com os átomos de tungstênio, ocorre a desaceleração
repentina dos elétrons, transformando a energia cinética adquirida em raios X.
Outros fenômenos de interação dos elétrons acelerados com as camadas eletrôni-
cas dos átomos de tungstênio também são responsáveis pela emissão dos raios X.
Os raios X são gerados nas camadas eletrônicas dos átomos por variados pro-
cessos físicos. Caracteriza-se por apresentar um espectro contínuo de emissão, ao
contrário das radiações gama. Em outras palavras, os raios X emitidos pelo apare-
lho apresentam uma variedade muito grande de comprimento de onda, ou seja, a
energia varia de uma forma contínua.
O calor que acompanha a formação de raios X é considerável. Assim, é neces-
sário especial atenção aos sistemas e métodos para refrigerar o ânodo. Esta refrige-
ração pode ser feita de diversas maneiras:
• Refrigeração por irradiação: neste caso, o bloco de tungstênio, que com-
põe o alvo, se aquece, e o calor se irradia pelo ânodo;
• Refrigeração por convecção: o calor irradiado pelo ânodo se transmite ao
prolongamento de cobre, o qual está imerso em óleo ou gás, que se refrigera por
convecção natural ou por circulação;
• Refrigeração por circulação forçada de água: a refrigeração por convecção
é limitada, principalmente se o aparelho for operado continuamente e exposto ao
sol. Neste caso, a circulação de água por uma serpentina interna à unidade gerado-
ra é mais eficaz e permite o uso do aparelho por longos períodos.
capítulo 2 • 75
Os raios γ
capítulo 2 • 76
atividades. Esse tipo de operação só pode ser conduzida por profissionais especia-
lizados, nunca pelo pessoal que opera o equipamento.
A fonte radioativa consta de determinada quantidade de um isótopo radioa-
tivo. Essa massa de radioisótopo é encapsulada e lacrada dentro de um pequeno
envoltório metálico, muitas vezes denominado "porta-fonte" ou “torpedo”, por
causa de sua forma, ou, simplesmente, fonte selada.
O porta-fonte se destina a impedir que o material radioativo entre em contato
com qualquer superfície ou objeto, diminuindo os riscos de uma eventual conta-
minação radioativa.
cabo de aço
fonte radioa�va reforçado
na forma de discos
3 mm
Apenas poucas fontes radiativas seladas são atualmente utilizadas pela indús-
tria moderna. As principais são:
• Cobalto - 60 (60Co, Z = 27): o cobalto 60 é obtido por meio do bombar-
deamento por nêutrons do isótopo estável Co-59. Tem meia-vida de 5,24 anos;
• Irídio - 192 (192Ir, Z = 77): o irídio 192 é obtido a partir do bombardea-
mento com nêutrons do isótopo estável Ir-191. Tem meia-vida de 74,4 dias;
• Túlio - 170 (170Tu, Z = 69): o túlio 170 é obtido com o bombardeamento
por nêutrons do isótopo estável Tu - 169. Como esse material é extremamente
difícil de produzir, o material é geralmente manuseado sob a forma de óxido.
A meia-vida é de 127 dias;
• Césio - 137 (137Cs, Z = 55): o césio 137 é um dos produtos da fissão do
urânio 235. Ele é extraído por meio de processos químicos que o separam do urâ-
nio combustível e dos outros produtos de fissão. Apresenta meia-vida de 33 anos.
É uma fonte de radiação quase sem utilidade no momento, em razão das dificul-
dades de obtenção e da má qualidade do filme radiográfico;
capítulo 2 • 77
• Selênio - 75 (75Se, Z = 34): apresenta meia-vida de 119,78 dias. É um ra-
dioisótopo de uso recente na indústria, proporcionando uma qualidade muito boa
de imagem, assemelhando-se à qualidade dos raios X.
Detalhes finais
Além dos raios X e dos raios γ, a radioscopia industrial também é usada para
a avaliação das descontinuidades em peças. Tal técnica é usada para detectar a ra-
diação que emerge de uma peça, usando-se uma tela fluorescente. As telas fluores-
centes se baseiam no princípio de que determinados sais (tungstato ou volframato
de cálcio, CaWO4, por exemplo) têm a propriedade de emitir luz em intensidade
mais ou menos proporcional à intensidade de radiação que incide sobre eles.
capítulo 2 • 78
A radiação é emitida de um tubo de raios X, colocado no interior de
um gabinete
blindado, atravessando a peça e indo atingir uma tela fluorescente. Este, por
sua vez, transforma as intensidades de radiação que emergem da peça em luz de
diferentes intensidades, formando na tela a imagem da peça. Essa imagem, refle-
tida em um espelho, é examinada pelo inspetor, a procura de possíveis defeitos.
A radioscopia é usada, principalmente, no exame de pequenas peças, com
espessura baixa. Sua grande vantagem reside na rapidez do ensaio e no seu baixo
custo. Em contrapartida, apresenta limitações importantes:
• Não é possível inspecionar peças de grande espessura ou de alto número
atômico, pois, nesse caso, a intensidade dos raios X não seria suficientemente alta
para produzir uma imagem clara sobre a tela fluorescente;
• Por causa das características próprias das telas fluorescentes e da baixa dis-
tância foco-tela usada, a qualidade de imagem na fluoroscopia não é tão boa quan-
to a da radiografia;
• A radioscopia, com imagem visualizada diretamente na tela fluorescente,
não fornece um registro que documente o ensaio executado nem permite a locali-
zação precisa na peça das áreas que contém descontinuidades inaceitáveis.
Material a ser inspecionado
Filme
Fonte
Descontinuidade
Figura 2.20 – Ensaio de raios X em uma peça metálica. Fonte: Google imagens.
capítulo 2 • 79
Figura 2.21 – Sistema de radioscopia convencional utilizando um
aparelho de raios X, o sistema de suporte da peça e a tela que
forma a imagem radioscópica. Fonte: Google imagens.
REFLEXÃO
O capítulo 2 chega ao final e desejo que você tenha compreendido a importância dos
ensaios não destrutivos nas diversas áreas da Engenharia.
No próximo capítulo, nossa jornada terá continuidade. No entanto, de agora em diante,
você entrará em contato com os ensaios destrutivos (ED’s). Você conhecerá ensaios mecâ-
nicos fundamentais não apenas para a inspeção ou controle de qualidade, mas também para
a definição de estruturas que serão solicitadas por cargas estáticas ou dinâmicas.
No capítulo 3, você verá os fundamentos do ensaio de tração e do ensaio de flexão,
assim como os instrumentos, as técnicas de operação, as vantagens e as limitações de tais
ensaios.
A seguir, deixo para você alguns endereços eletrônicos onde desejo que seu interesse
possa ser ampliado ainda mais.
Produção de raios X (animação). Disponível em: <https://youtu.be/2yvsr-UO8FA>.
Acesso em: 17 out. 2018.
Como funcionam os raios X. Disponível em: <https://youtu.be/hST9DRCwBto>. Aces-
so em: 17 out. 2018.
Documentário: Marie Curie – a mãe da radiação. Disponível em: <https://youtu.be/
dhQsU0QDYew>. Acesso em: 17 out. 2018.
capítulo 2 • 80
Como o ultrassom funciona? Disponível em: <https://youtu.be/GcPvhTuz8cs>. Acesso
em: 17 out. 2018.
Entendendo o magnetismo. Disponível em: <https://youtu.be/GKG52DKdIog>. Acesso
em: 17 out. 2018.
ATIVIDADE
Abaixo deixo algumas questões ás quais se deve responder e que servirão para fixar os
principais conceitos desenvolvidos ao longo do Capítulo 2.
I. Em que consiste o ensaio por líquidos penetrantes?
II. Quais as principais etapas do ensaio por líquidos penetrantes?
III. Quais as principais vantagens do ensaio por líquidos penetrantes?
IV. Quais as principais desvantagens do ensaio por líquidos penetrantes?
V. Em que consiste o ensaio por partículas magnéticas?
VI. Quais as principais características da magnetização de uma peça através do método
circular?
VII. Quais as principais características da magnetização de uma peça através do método
longitudinal?
VIII. Em que consiste o ensaio por ultrassom?
IX. Quais as principais vantagens do ensaio por ultrassom?
X. Quais as principais desvantagens do ensaio por ultrassom?
XI. Quais as principais diferenças entre os raios X e o raios γ?
XII. Quais as vantagens dos raios γ em relação aos raios X?
XIII. Quais as desvantagens dos raios γ em relação aos raios X?
Todas as respostas podem ser encontradas ao longo das páginas do Capítulo 2. Aprovei-
te a oportunidade de rever o conteúdo antes de avançar neste livro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. NBR 8407, ABNT, Ensaio por líquido penetrante. Julho 1990.
2. Echevarria, R. Líquidos penetrantes. Universidad Nacional del Comahue. Facultad de Ingenieria.
Apostila. 2003.
capítulo 2 • 81
3. Andreucci, R. Radiologia industrial. Aplicação Industrial, ANDREUCCI Assessoria e Serviços
Técnicos Ltda. Junho de 2006. Disponível em: <www.infosolda.com.br/andreucci>.
4. Andreucci, R. Partículas magnéticas. Aplicação Industrial, ANDREUCCI Assessoria e Serviços
Técnicos Ltda. Janeiro de 2007. Disponível em: <www.infosolda.com.br/andreucci>.
5. Andreucci, R. Líquidos penetrantes. Aplicação Industrial, ANDREUCCI Assessoria e Serviços
Técnicos Ltda. Março de 2007. Disponível em: <www.infosolda.com.br/andreucci>.
6. Andreucci, R. Ensaio por ultrassom. Aplicação Industrial, ANDREUCCI Assessoria e Serviços
Técnicos Ltda. Julho de 2008. Disponível em: <www.infosolda.com.br/andreucci>.
7. Garcia, A.; Spim, J.A.; Santos, C.A. dos. Ensaios dos materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda., 2012.
capítulo 2 • 82
3
Ensaios não
destrutivos –
tração e flexão
Ensaios destrutivos – tração e flexão
Nos capítulos anteriores, a nossa atenção foi voltada para os chamados ensaios
não destrutivos. No entanto, em muitas situações, é necessário que um material
seja avaliado quanto ao seu desempenho, ou seja, informações precisam ser ob-
tidas em relação ao comportamento do material quando sob a ação de esforços.
Neste caso, a nossa preocupação está voltada para as relações entre tensões e
deformações que um material irá apresentar. De forma geral, a ideia é “uma tensão
causa uma deformação”. A tensão é algo que é aplicado a um material por carre-
gamento, enquanto a deformação é uma mudança de forma, ou seja, a resposta
que depende da magnitude da tensão e do modo de como ela é aplicada (modo
de carregamento).
Neste capítulo, você entrará em contato com os ensaios de tração e flexão.
Ambos os ensaios são de natureza destrutiva, ou seja, provocam a inutilização
parcial ou total da peça. Ao mesmo tempo, tanto um quanto o outro irão permitir
desde informações rotineiras do produto até o desenvolvimento de novos mate-
riais, novos processos de fabricação e/ou novos tratamentos.
OBJETIVOS
Neste terceiro capítulo, você deve procurar alcançar os seguintes objetivos;
• Compreender os fundamentos do ensaio de tração;
• Compreender os fundamentos do ensaio de flexão;
• Interpretar os resultados experimentais e apresentá-los de forma adequada.
Ensaio de tração
capítulo 3 • 84
Figura 3.1 – Ponte de tirante em aço e cabo de aço. Fonte: Google imagens.
σ σavg
m m m m
F
m m
F F
σ σavg
n n
n n n n
F
F F
Figura 3.2 – Tensão normal (tensão de tração) em uma barra prismática. A tensão
ou a distribuição de forças na seção transversal não é necessariamente uniforme.
capítulo 3 • 85
Componentes de engenharia podem ter formas complexas e podem ser carre-
gados de muitos modos, criando complexas distribuições de tensões. No entanto,
não importando quão complexas sejam, as tensões em qualquer elemento peque-
no no interior do componente sempre podem ser descritas por uma combinação
de tração, compressão e/ou cisalhamento. De forma bem simples:
• Tração: a força “puxa” o corpo;
• Compressão: a força “empurra” toda a área do corpo; e,
• Cisalhamento: a força tende “a cortar” o corpo.
a)
b)
F1
A B
F2
capítulo 3 • 86
Embora o ensaio mecânico possa ser realizado na própria peça, em corpos de pro-
va retirados de parte da estrutura ou em modelos, costuma-se utilizar corpos de prova
fabricados de acordo com normas técnicas vigentes. As normas técnicas mais utilizadas
pelos laboratórios de ensaios de tração são elaboradas pelas seguintes instituições:
• ASTM: American Society for Testing and Materials;
• ASME: American Society of Mechanical Engineer;
• ISO: International Organization for Standardization;
• DIN: Deutsches Institut für Normung;
• BSI: British Standards Institution;
• ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Em geral, essas normas dão critérios e métodos para que o ensaio de tração
possa ser conduzido. Se você seguir a mesma norma e método, os resultados ob-
tidos para um mesmo material serão semelhantes. Isso é importante para garantir
a reprodutibilidade do resultado onde quer que o ensaio de tração seja executado.
Por exemplo:
• ASTM A370: "Métodos de teste padrões e terminologia para testes mecâ-
nicos em produtos feitos de aço";
• ASTM E21 e ISO 783: Ensaio de tração em altas temperaturas;
• ASTM D638: Ensaio de tração de materiais plásticos;
• ASTM F606: Ensaio de tração de parafusos, arruelas, rebites etc.;
• ASTM D3039: Ensaio de tração de polímeros, materiais compósitos etc.
capítulo 3 • 87
a)
Travessa
superior
móvel
mostrador
de carga
corpo-de-prova
de tração
motor
e controles
da carga
b)
6,5mm
32mm
6mm 8mm
30mm
c)
W Wc WO
G T
R
L
D
LO
Tipos I, II, III e IV
capítulo 3 • 88
O levantamento da curva de tensão de tração (σ) versus a deformação sofrida
pelo corpo de prova consiste no resultado do teste de tração. Na figura 3.5, temos
uma curva típica tensão x deformação para um aço doce.
σ
I II
[N/mm2]
F
B
A
P
ε [%]
Figura 3.5 – Curva σ versus ε para um aço doce.
capítulo 3 • 89
Lo
Lf
capítulo 3 • 90
• A tensão máxima (limite de resistência à tração), σu, é definida como a
máxima tensão que o material suporta sem apresentar nenhum traço de fratura
interna ou externa no corpo de prova. Após esse nível de tensão, o material irá
iniciar o processo de fratura. Na figura 3.5, corresponde ao ponto C do gráfico;
• A tensão de ruptura, σr, é definida como a tensão na qual ocorrerá a fratura
definitiva do corpo de prova (ponto F do gráfico da figura 3.5).
capítulo 3 • 91
x
60 Polímeros frágeis
50
Tensão (MPa)
40
x
30 (b) (a) (b) (c) (d)
(c) Plás�cos
20 x
(a)
10
Elastoméricos
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Deformação
Embora diversos parâmetros possam ser obtidos por meio do ensaio de tração,
as perguntas principais que devem nortear um projeto de engenharia são:
• O quanto este material é forte?
• Quanto deformação é esperada para certa quantidade de carga?
Dessa forma, ainda que em muitos trabalhos acadêmicos sejam discutidos vá-
rios parâmetros, você deve atentar para aqueles que efetivamente têm uso prático.
Um desses parâmetros é o módulo de elasticidade, E, também conhecido como
módulo de Young (Thomas Young, físico e médico inglês, 1773-1829).
Quando uma amostra de um material é solicitada por uma força e sofre uma
deformação e, após retirada da força aplicada, recupera suas dimensões originais,
essa deformação é definida como deformação elástica. Esse comportamento foi
estudado por Robert Hooke (1635-1703), físico inglês, que em 1676 expressou:
“A tensão resultante da aplicação de uma força em um material é diretamente pro-
porcional à sua deformação”. Esse enunciado ficou conhecido como lei de Hooke
e pode ser descrito matematicamente pela equação de elasticidade de uma mola,
em que a carga aplicada é diretamente proporcional ao deslocamento, ou seja:
P=k∙x Equação 4
capítulo 3 • 92
Em que: P é a carga aplicada (N); k é a constante de proporcionalidade ou
constante da mola (N/m); e x é o deslocamento (m).
De modo semelhante, a deformação elástica de um corpo de prova é descrita
por uma relação linear entre tensão (σ) e deformação (e), em que a constante de
proporcionalidade é dada pelo módulo de elasticidade (E), ou seja:
σ=Ε∙eΕ Equação 5
Figura 3.9 – Átomos em posição de equilíbrio. O espaçamento entre eles pode ser
denotado por ao. Quando uma força F os afasta um pouco, até ao + δ, eles retornam ao
seu espaçamento original quando F é liberada. A analogia é válida em compressão.
capítulo 3 • 93
O módulo de Young está relacionado com a rigidez da ligação pela rela-
ção aproximada:
S
E= Equação 7
a0
capítulo 3 • 94
Uma observação importante é que os módulos de elasticidade medidos como
inclinações das curvas tensão-deformação são imprecisos, muitas vezes por um
fator de 2 ou mais, em razão das contribuições à deformação dadas pela fluência15
do material ou pela deflexão da máquina de ensaio. Módulos de elasticidade preci-
sos são medidos por métodos dinâmicos pela medição da frequência das vibrações
naturais de uma viga ou fio, ou pela medição da velocidade das ondas sonoras no
material. Ambas dependem de E ; portanto, se você conhecer a densidade ρ,
poderá calcular E. ρ
Uma utilização importante do módulo de elasticidade em projetos de enge-
nharia, por exemplo, é a obtenção de materiais rígidos e leves. Na figura 3.10,
temos um diagrama módulo de elasticidade versus densidade16 para materiais
de engenharia.
15 A fluência é a deformação plástica que ocorre em um material, sob tensão constante ou quase constante,
em função do tempo. A temperatura tem um papel importantíssimo nesse fenômeno. Existem metais que exibem
o fenômeno de fluência mesmo à temperatura ambiente, enquanto outros resistem a essa deformação mesmo a
temperaturas elevadas.
16 Caso o corpo analisado seja maciço e homogêneo, como um cubo de metal ou um tijolo, a densidade pode ser
chamada de massa específica – sendo representada pela letra grega mi (µ) – do material do qual é feito o corpo.
capítulo 3 • 95
Uma última observação sobre o módulo de elasticidade é que há uma forte
dependência entre E e o plano cristalino no material que sofre o esforço de tração.
Desta forma, em um material policristalino17, o valor de E aferido corresponde a
uma média global dos módulos nas diferentes direções cristalográficas na linha de
aplicação da carga.
σz
εy x
εx
σz
17 Policristal ou agregado policristalino é um sólido constituído de uma infinidade de cristais, denominados grãos
ou cristalitos, com orientações e dimensões aleatórias, fortemente unidos entre si, que preenchem todo o volume
do sólido.
18 Em resistência dos materiais, um material é dito isotrópico se suas propriedades mecânicas são as mesmas em
todas as direções. Os metais geralmente são materiais isotrópicos, ainda que, após serem sujeitos a processos de
laminagem ou forja, essas propriedades mecânicas passem a ser anisotrópicas.
capítulo 3 • 96
Módulo de resiliência, limite de proporcionalidade e limite de escoamento
capítulo 3 • 97
σ kgf/mm
2
A: limite elás�co
C A’: limite de proporcionalidade
D C: limite de resistência
A’ B D: limite de ruptura
A escoamento
Módulo Secante
ε (%) ε
0,002 Métodos do módulo tangente e módulo
Material com limite de secante para a determinação do limite
escoamento indefinido. de escoamento (σe)
19 O encruamento, também chamado de trabalho a frio, é um fenômeno modificativo da estrutura cristalina dos
metais e ligas pouco ferrosas, em que a deformação plástica realizada abaixo da temperatura de recristalização
causará o aumento de discordâncias na estrutura cristalina e, consequentemente, o aumento de resistência do
metal. Resumindo, o encruamento é o aumento da rigidez do material (resistência a tração) por deformação plástica.
capítulo 3 • 98
constante, durante o qual as macromoléculas são obrigadas a se alinhar com a di-
reção da deformação, seguida por endurecimento e fratura quando o alinhamento
é concluído).
Um projeto de engenharia que envolva a seleção de materiais para molas, dia-
fragmas elásticos, acoplamentos flexíveis e componentes de engate, por exemplo,
exige a análise da deformação por escoamento σ e de um material, ou seja, a
E
deformação em que o material cessa de ser linearmente elástico. Nesta situação, a
figura 3.13 relaciona os dois parâmetros para diferentes materiais de engenharia.
capítulo 3 • 99
qual consiste na energia absorvida por unidade de volume, do início do ensaio de
tração até a fratura. Uma maneira de se avaliar a tenacidade consiste em considerar
a área total sob a curva tensão-deformação.
Denomina-se fratura a separação de um corpo em duas ou mais partes quan-
do submetido a um esforço mecânico. A análise do aspecto da fratura de corpos
de prova submetido ao ensaio de tração, por exemplo, permite caracterizar os
materiais em dúcteis ou frágeis.
Na fratura dúctil ocorre apenas após extensa deformação plástica. Caracteriza-
se pela propagação lenta de trincas resultantes da nucleação e crescimento de mi-
crocavidades. Na fratura frágil, ocorre uma propagação rápida de trincas, acom-
panhada de pouca ou nenhuma deformação. Nos materiais cristalinos, ocorre em
determinados planos cristalinos, chamados planos de clivagem, ou ao longo dos
contornos de grão.
capítulo 3 • 100
Ensaio de flexão
Corpo de prova
Apoio Apoio
P
Corpo de prova
Apoio υ Apoio
υ – deslocamento ou flecha de
flexão em três pontos
capítulo 3 • 101
P
Corpo de prova
Apoio Apoio
L
a Pmáx a
Corpo
de prova
Apoio υ Apoio
υ – deslocamento ou flecha de
flexão em três pontos
L
Extremidade
engastada P
Corpo de prova
Corpo de prova
Pmáx
υ
capítulo 3 • 102
O ensaio de flexão é bastante empregado para o controle das especificações
mecânicas de componentes. Os resultados fornecidos pelo ensaio podem variar
com temperatura, velocidade da aplicação da carga, defeitos superficiais e carac-
terísticas microscópicas e, principalmente, com a geometria da seção transversal
da amostra.
Contrastando com os ensaios que aplicam ao corpo de prova exclusivamente
tensões normais, como a tração e a compressão, e os ensaios de cisalhamento puro,
como o ensaio de torção, o ensaio de flexão impõe sobre a seção transversal níveis
de tensões trativas, compressivas e cisalhantes ao mesmo tempo.
y
C
M’ A B M
A’ B’
x
Figura 3.16 – Viga delgada em flexão pura. Os momentos fletores M e M’ fazem com
que, no plano AB, atuem tensões compressivas, σx < 0 (parte superior da viga). Em
contrapartida, no plano A’B’ há tensões trativas, atuando, σx > 0 (parte inferior da viga).
capítulo 3 • 103
Seção
Pmáx transversal do
corpo de prova
Pmáx
Pmáx
Carga aplicada (N)
υ υ υ Flecha (mm)
capítulo 3 • 104
Figura 3.18 – Corpo de prova sendo submetido ao ensaio de flexão em três pontos.
capítulo 3 • 105
A estatística é uma ciência que não apenas permite a sequência de ações des-
critas no parágrafo anterior, mas também facilita a obtenção de conclusões sobre
as características das fontes de onde os dados foram retirados, para melhor com-
preender as situações. Algumas práticas estatísticas incluem, por exemplo, o pla-
nejamento, a sumarização e a interpretação de observações. Dado que o objetivo
da estatística é a produção da melhor informação possível a partir dos dados dis-
poníveis, alguns autores sugerem que a estatística é um ramo da teoria da decisão.
Compreendo a aversão inicial ao tema, mas, com a quantidade de informa-
ções de fácil acesso promovida pela Internet e os diversos programas comerciais
específicos para o assunto, torna-se imprescindível a aplicação de ferramentas es-
tatísticas no tratamento de dados presentes em quaisquer textos acadêmicos ou
correlatos. Embora fuja ao escopo deste livro didático, veremos alguns pontos de
maior relevância.
Se um experimento é repetido várias vezes e se os erros são puramente alea-
tórios, então os resultados tendem a se agrupar simetricamente em torno de um
valor médio. Quanto mais vezes o experimento é repetido, mais os resultados se
aproximam de uma curva idealmente suave chamada distribuição gaussiana ou
distribuição normal20.
Particularmente, os resultados obtidos nos ensaios mecânicos devem seguir
uma distribuição normal, variando em torno de um valor médio, que quantifica
numericamente a propriedade observada. O valor médio, ou média, é dado por:
n
∑ x1
i =1
x= Equação 9
n
i =1
x= Equação 10
n −1
20 Em probabilidade e estatística, a distribuição normal é uma das distribuições de probabilidade mais utilizadas
para modelar fenômenos naturais. Isso se deve ao fato de que um grande número de fenômenos naturais apresenta
sua distribuição de probabilidade tão proximamente normal, que a ela pode ser com sucesso referida, e, portanto,
com adequado acerto por ela representada como se normal fosse.
capítulo 3 • 106
O desvio-padrão é a representação do erro numérico, ou a quantificação da
precisão21 do valor experimental obtido em um determinado ensaio. Em engenha-
ria, o valor numérico (X) de uma propriedade obtida pela análise de uma amostra
é dado por:
X = x ± s Equação 11
Em geral, em razão do tempo e/ou dos custos envolvidos, não podemos fazer
muitas medidas experimentais de laboratório. O mais provável, seguindo as nor-
mas técnicas, é que um ensaio utilize de 6 a 10 corpos de prova para cada amostra.
A amostra deve ser entendida como um subconjunto de medidas selecionadas a
partir de uma população22.
O teste t de Student é uma ferramenta estatística utilizada com muita fre-
quência para expressar intervalos de confiança e para comparação de resultados de
experimentos diferentes. É uma ferramenta que pode ser utilizada, por exemplo,
para calcular a probabilidade de que determinado valor experimental seja encon-
trado em certo intervalo em “condições normais”.
Exemplo 1: A tensão de escoamento (σe) de um novo material foi determina-
da experimentalmente em um laboratório de testes. Os dados são apresentados na
tabela 3.2 a seguir. Calcule o intervalo de confiança23 para 95%.
21 É uma medida da reprodutibilidade de um resultado. Se uma grandeza for medida várias vezes e os valores
forem muito próximos uns dos outros, a medida será precisa. A exatidão, por sua vez, refere-se a quão próximo um
valor de uma medida está do valor “real”.
22 Para entender os fundamentos para testes de hipóteses e outros tipos de estatísticas inferenciais, é importante
perceber a diferença entre amostra e população. Uma população é um conjunto de pessoas, itens ou eventos sobre
os quais você quer fazer inferências. Nem sempre é conveniente ou possível examinar todos os membros de uma
população inteira. Por exemplo, não é prático contar os amassados em todas as maçãs colhidas em um pomar.
É possível, no entanto, contar os amassados em um conjunto de maçãs tomadas a partir dessa população. Este
subconjunto de população é chamado de amostra. Amostra é um subconjunto de pessoas, itens ou eventos de uma
população maior que você coleta e analisa para fazer inferências. Para representar bem a população, uma amostra
deve ser coletada aleatoriamente e ser adequadamente grande.
23 Em estatística, intervalo de confiança (IC) é um tipo de estimativa por intervalo de um parâmetro populacional
desconhecido. Introduzido na estatística por Jerzy Neyman em 1937, IC é um intervalo observado (calculado a partir
de observações) que pode variar de amostra para amostra e que, com dada frequência (nível de confiança), inclui
o parâmetro de interesse real não observável. Como os dados observados são amostras aleatórias da população,
o intervalo de confiança construído a partir dos dados também é aleatório. Entretanto, o intervalo de confiança
calculado a partir de uma amostra particular não inclui necessariamente o valor real do parâmetro. Quando se tem
99% de confiança de que o valor real do parâmetro está no intervalo de confiança, significa que 99% dos intervalos
de confiança observados têm o valor real do parâmetro. Tomando-se qualquer amostra particular, o parâmetro
populacional desconhecido pode ou não pode estar no intervalo de confiança observado.
capítulo 3 • 107
CORPO DE PROVA σe (MPA)
1 12,6
2 11,9
3 13,1
4 12,7
5 12,5
capítulo 3 • 108
Resolução: Nova metodologia
33, 0 + 32, 5 + 32, 3 + 32, 0 + 30, 9
x= = 32,14 ≈ 32,1MPa
5
(33, 0 − 32,14 )2 + (332, 5 − 32,14 )2 + + (30, 9 − 32,14 )2
s= = 0, 782943 ≈ 0, 8MPa
REFLEXÃO
O capítulo 3 chega ao final e espero que você tenha percebido a importância dos ensaios
de tração e flexão em aplicações da Engenharia. Mais do que isso, que tenha despertado o
interesse pela Estatística e suas aplicações no tratamento de dados experimentais.
No próximo capítulo, nossa jornada terá continuidade. Você irá ver os fundamentos do
ensaio de fadiga e do ensaio de torção, assim como instrumentos, técnicas de operação,
vantagens e limitações de tais ensaios.
A seguir, deixo para você alguns endereços eletrônicos para que seu interesse possa ser
ampliado ainda mais.
Ensaio Tração em Aço Carbono - Laboratório Tork. Disponível em: <https://youtu.be/
CMdKW09HWzs>. Acesso em: 09 jan. 2019.
Telecurso 2000. Ensaios de Materiais 02. Ensaio de tração. Cálculo da tensão. Disponí-
vel em: <https://youtu.be/VTNwWTK98sw>. Acesso em: 09 jan. 2019.
Telecurso 2000. Ensaios de Materiais – 08. Dobramento e flexao.avi. Disponível em:
<https://youtu.be/r5k0Vy5YUlE>. Acesso em: 09 jan. 2019.
capítulo 3 • 109
ATIVIDADES
Abaixo deixo algumas questões às quais se deve responder e que servirão para fixar os
principais conceitos desenvolvidos ao longo do capítulo 3.
I. Em que consiste o ensaio de tração?
II. Qual a diferença entre o limite de proporcionalidade e o limite de escoamento?
III. O que é módulo de elasticidade?
IV. Um determinado material metálico A apresenta um ponto de fusão (PF) de 750 °C. Um
material B, também metálico, apresenta um ponto de fusão (PF) de 1500 °C. Com base nos
valores de PF, qual apresentaria maior valor de módulo elástico? Dica: avalie através das
forças intermoleculares.
V. Qual a diferença entre ductilidade e tenacidade?
VI. Qual a diferença entre uma fratura frágil e uma fratura dúctil?
VII. Em que consiste o ensaio de flexão?
VIII. Por que o ensaio de flexão não é indicado para materiais dúcteis?
Todas as respostas podem ser encontradas ao longo das páginas do Capítulo 3. Aproveite
a oportunidade de rever o conteúdo antes de avançar neste livro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ashby, M.; Shercliff, H.; Cebon, D. Materiais: Engenharia, Ciência, Processamento e Projeto.
2.ed. Rio de Janeiro: Campus, Elsevier Editora Ltda, 2012.
2. Fávero, L.P.; Belfiore, P. Manual de análise de dados: estatística e modelagem multivariada
com Excel, SPSS e Stata. 1.ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2017.
3. Garcia, A.; Spim, J.A.; Santos, C.A. dos. Ensaios dos materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda, 2012.
capítulo 3 • 110
4
Ensaios destrutivos
– fadiga e torção
Ensaios destrutivos – fadiga e torção
A repetição é cansativa e é a causa de muitos erros humanos e acidentes. Os
materiais também se “cansam” ao sofrerem tensões repetitivas e, consequentemen-
te, falham. Mesmo quando a amplitude dos carregamentos cíclicos é muito pe-
quena, ocorre alguma dissipação de energia. Em amplitudes maiores, há o lento
acúmulo de dano, até que um nível crítico é atingido e uma trinca é formada. A
ciclagem continuada faz, então, com que a trinca cresça até o componente falhar
repentinamente.
Diversas pesquisas sobre fadiga de materiais foram feitas para se identificar o
percentual de falhas mecânicas que são ocasionadas por esse fenômeno, e pode-se
dizer que esse número é de 50% a 90% de todas as falhas mecânicas. Considerando
a importância e os efeitos catastróficos gerados, você verá, neste capítulo, os fun-
damentos do ensaio de fadiga.
Em paralelo, você também entrará em contato com um ensaio amplamente
utilizado na indústria de componentes mecânicos, como motores de arranque,
turbinas aeronáuticas, rotores de máquinas pesadas, brocas, parafusos e outros – o
ensaio de torção.
T T
Falha em um eixo de madeira devido à torção
capítulo 4 • 112
OBJETIVOS
Neste quarto capítulo, você deve procurar alcançar os seguintes objetivos:
• Compreender os fundamentos do ensaio de fadiga;
• Aprimorar a resistência à fadiga de materiais;
• Compreender os fundamentos do ensaio de torção.
Ensaio de fadiga
Tração Suporte
Rotação
Compressão
Carga
Fixação
Corpo de prova Base Corpo de
fixa prova
Torque
capítulo 4 • 113
O ensaio de fadiga é capaz de fornecer dados quantitativos relativos às carac-
terísticas de um material ou componente ao suportar, por longos períodos, sem se
romper, cargas repetitivas e/ou cíclicas.
O estudo da fadiga
capítulo 4 • 114
σts
(c)
σe
Tensão, σ (b)
(a)
Tempo, t
–σe
–σts
capítulo 4 • 115
Figura 4.5 – Principais cargas envolvidas na operação
de uma aeronave. Fonte: Google imagens.
σa
σt
Tempo
Período
de 1 ciclo
σmin
σcompressão
Vale
capítulo 4 • 116
σ máx + σ mín
σM = Equação1
2
Em que:
σM = tensão média (Pa)
σmáx = tensão máxima (Pa)
σmín= tensão mínima (Pa)
Na figura 4.7, você pode observar um caso geral de ciclo de tensão que se
repete em torno de uma tensão média (σM), em que os valores da tensão máxima
(σmáx) e da tensão mínima (σmín) não são iguais. É evidente que esse ciclo pode
deslocar-se na direção do eixo das ordenadas, situando-se totalmente no campo de
tração ou de compressão ou em situações em que as tensões máximas e mínimas
têm sinais opostos.
σmáx = σmin
σtração
σM = 0
σmáx
σa
σM
σt
σmin
Tempo
σcompressão Período
de 1 ciclo
capítulo 4 • 117
Na figura 4.8, a variação do ciclo de tensão ocorre aleatoriamente, com ciclos
complexos como os que ocorrem em asas de avião sobrecarregadas por corren-
tes de vento ou em molas da suspensão de veículos que trafegam por estradas
não pavimentadas.
σtração
Tempo
σcompressão
capítulo 4 • 118
preestabelecida, o próximo é ensaiado com uma tensão mais alta, e assim por
diante. Os valores obtidos são plotados em um gráfico σ x N e ajustados por uma
curva média mais conservativa.
1100
965 Curva σ x N média
825
Tensão (MPa)
690
550 Não rompeu
410
275 Curva σ x N conserva�va
138
550
500
450
Tensão (MPa)
400
350
300
250
200
104 105 106 107 108
Números de ciclos (N)
capítulo 4 • 119
Como procedimento inicial para o método da tensão constante, submete-se o
corpo de prova a um ciclo de tensões com uma tensão máxima geralmente elevada
(quase sempre a uma tensão da ordem de 2⁄3 do limite de resistência à tração ou
3⁄4 do limite de escoamento do material). Repete-se esse procedimento com ou-
tros corpos de prova, diminuindo-se gradativamente a tensão máxima aplicada até
níveis em que não mais ocorra a fratura para ciclos acima do máximo especificado.
Em geral, a curva σ x N de materiais ferrosos e ligas de titânio apresenta um
limite de tensão tal que, para valores abaixo desse limite, o corpo de prova nunca
sofrerá ruptura por fadiga. Esse limite de tensão é conhecido como limite de re-
sistência à fadiga (σRf ).
A curva σ x N nesse ponto toma a forma de um patamar horizontal. Para os
aços, o limite de resistência à fadiga está compreendido na faixa de 35% a 65% do
limite de resistência à tração.
σ(MPa)
Curva �pica para:
Aço-C
Ligas de Ti
Ligas de Mo
Ferrosos em geral
σRf
Figura 4.11 – Curva típica obtida no ensaio de fadiga para materiais ferrosos em geral.
A maioria das ligas não ferrosas (alumínio, cobre, magnésio etc.) não apre-
senta limite de resistência à fadiga, já que a tensão decresce continuamente com o
número de ciclos de aplicação de carga. Para esses materiais, a fadiga é caracteri-
zada pela resistência à fadiga (σf ), que é a tensão na qual ocorre ruptura para um
número arbitrário de ciclos de aplicação de carga. Na prática, esse número se situa
entre 107 e 108 ciclos.
capítulo 4 • 120
σ(MPa)
Curva �pica para:
Alumínio
Cobre
σf1 Não ferrosos em geral
σ f2
σf
∆σN bf = C1 Equação 5
capítulo 4 • 121
resistência), a amostra inteira é plástica. A lei de Basquin não é válida e, nesse caso,
outra lei empírica deve ser empregada – a lei de Lou Coffin:
C2
∆ε pl = Equação8
N cf
“Grosso” da
deformação
Resposta global plás�ca
0.01
Inclinação b de “Grosso” da
Basquin Inclinação c de Coffin
εpl = 0,46(N)–0,617 deformação
∆ε = 0,00794(N)–0,07 elás�ca
Fadiga de alto ciclo N Fadiga de baixo ciclo
t
0.001
102 103 104 105 106
Ciclos até a falha (N)
Figura 4.13 – Os regimes de fadiga de baixo e alto ciclos e suas descrições empíricas.
σ
∆σ σ = ∆σ σ ⋅ 1 − m Equação 9
m 0
σ ts
capítulo 4 • 122
Em que: σts é o limite de resistência à tração, resultando em uma correção para
a faixa de tensão. Aumentar σm faz uma pequena faixa de tensão ∆σ σ ser tão
m
prejudicial quanto uma ∆σ σ maior, aplicada com média zero. Então, a faixa de
0
tensão corrigida pode ser acoplada à Lei de Basquin.
σmáx
σ
R = σ min
máx
R = +0,3
R = +0
R = –0,3
R = –1,0
σa
σM1
σ M2
σM3 σmin + σmáx
σM =
σM 2
4
capítulo 4 • 123
O problema da amplitude variável pode ser abordado utilizando-se a Regra
do Dano Cumulativo de Miner. Admitindo-se que o dano de fadiga é acumu-
lativo, ou seja, removendo os esforços de fadiga não há melhora dos efeitos das
solicitações cíclicas, é possível estimar a vida de um componente mecânico por
meio de várias técnicas abrangidas pela teoria do dano acumulativo. O dano que
o material sofre sob a ação de uma dada amplitude da tensão cíclica é diretamente
proporcional ao número de ciclos em que atuou aquela amplitude de tensão.
O estudo sobre acúmulo de dano por fadiga vem sendo desenvolvido desde
1924. Em 1945, Miner expressou o conceito matematicamente por meio da equação:
Ni
D=∑ = 1Equação10
N i ,f
capítulo 4 • 124
O número total de repetições que o material suportará é:
1, 0 1, 0
Repetições = = = 25
∑ Di 0, 04
Figura 4.15 – A superfície polida de uma amostra metálica exibindo a presença de grande
quantidade de inclusões não metálicas, que são as partes pretas dessa foto. O fundo
branco é a parte metálica. Essa microestrutura é típica de materiais do início do século
XIX. A fração volumétrica de inclusões foi estimada em 7%. Fonte: Google imagens.
capítulo 4 • 125
Assim, é necessário considerar que existe uma trinca inicial e projetar a estru-
tura para sobreviver a um determinado número de carregamentos. Então, como
você caracteriza a propagação de uma trinca de fadiga?
O crescimento de trincas de fadiga é estudado submetendo-se a carregamento
cíclico corpos de prova que contêm uma trinca aguda de comprimento c, como
mostrado na figura 4.16. Definimos a faixa de intensidade da tensão cíclica, ∆K,
usando a Equação:
Carga
Carga
A faixa ∆K aumenta com o tempo, sob tensão cíclica constante, porque a trin-
ca aumenta no comprimento: o crescimento por ciclo, dc⁄dN, aumenta com ∆K,
conforme apresenta a figura 4.17.
capítulo 4 • 126
10–3
I II III
dN
dc
Região de Paris
10–4
log
limitar de propagação
10–5
estável de rasgamento
crescimento da trinca
10–6
m
o
a çã te
n n
10–7 cli ta
in ons
c
10–8
10–9
10–10
log(∆K)
∆Kth Ke
Figura 4.17 – Três regiões da taxa de crescimento da trinca como função de ∆K.
capítulo 4 • 127
Informações adicionais sobre a fadiga dos materiais
O limite de fadiga, σf, a 107 ciclos e o limite de resistência à tração, σts, estão
relacionados. Os dados para metais e polimeros aglomeram-se ao redor da linha:
σf = 0,33σts Equação 13
capítulo 4 • 128
Inclusão Super�cie Super�cie Planos em
Entalhe ou trinca deslizamento
de super�cie
Trinca
Poro
Concentrador
de tensão
Trinca de
fadiga
∆σ
capítulo 4 • 129
possível submeter uma superfície fina a uma tensão de compressão interna e, com
isso, ocorrer qualquer trinca, ela permanecerá fechada, mesmo quando a tensão
média em toda a seção é de tração. Esse processo é possível por meio de tra-
tamentos que comprimem plasticamente a superfície, como o bombardeio com
partículas duríssimas (jato-percussão). Resultado semelhante é conseguido por ja-
teamento com areia ou brunidura24.
Ensaio de torção
24 O brunimento é feito com uma ferramenta especial de retificação, constituída de segmentos de material
abrasivo, montados em grupo. Durante o processo, os grãos ativos do brunidor entram em contato com a superfície da
peça, girando lentamente e deslocando o brunidor ao longo da geratriz da superfície de revolução com movimentos
alternativos de pouca amplitude e frequência relativamente grande.
Ao girar, o brunidor faz um movimento vertical oscilante de subir e descer. A operação de brunimento é realizada
em cilindro de motores, alojamento de êmbolos hidráulicos, canos de canhão, cilindros de freios, tanto cilindro
mestre quanto cilindro de roda, cilindro de embreagem, comandos hidráulicos e válvulas, matrizes para parafuso,
entre outros. Durante o giro e avanço, o brunidor é sempre guiado pela peça. O brunimento externo é aplicado na
usinagem de eixos e árvores.
capítulo 4 • 130
A torção é diferente da compressão, da tração e do cisalhamento porque, nes-
tes casos, o esforço é aplicado no sentido longitudinal ou transversal e, na torção,
o esforço é aplicado no sentido de rotação.
Mr = P . B
Mancal de
torção
Corpo de prova
(eixo cilíndrico)
0
Região de Ângulo de torção
engaste no mancal
capítulo 4 • 131
de elasticidade transversal (G), o módulo de resiliência à torção (UTr) e o módulo
de tenacidade à torção (UTt).
O ensaio de torção é de execução relativamente simples, porém, para ob-
ter as propriedades do material ensaiado, são necessários cálculos matemáticos
complexos. Além disso, não é um ensaio indicado como teste para controle
de especificações de entrada de matéria-prima, sendo utilizado apenas em ca-
sos específicos.
Os resultados fornecidos pelo ensaio de torção são fortemente influenciados
pela temperatura, pela velocidade de deformação, pela anisotropia do material,
pelo tamanho de grão, pela porcentagem de impurezas, por qualquer tipo de tra-
tamento térmico sofrido pelo corpo de prova, assim como pelas condições am-
bientais do ensaio.
capítulo 4 • 132
Mt
Extremidade
engastada τmáx
o O’
Plano sem
deformação τmáx
Plano com
Mt deformação
L
0 Mt
A
z B τ
τ
O τ
τ r
y
x dS
D τ
τ dr
τ
dS = 2 . π . r . dr
capítulo 4 • 133
Em que: Ir é o momento polar de inércia de uma figura plana. Pela
figura 4.24(c), tem-se que dS = 2π∙rdr, em que a solução do momento polar de
inércia para os limites do raio variando de 0 a D⁄2 resulta em:
πD4 r
Ir = Equação18
32
16 Mt máx
τ máx = ⋅ Equação 20
π D3
Analogamente, para o caso do tubo, r=Dext. Assim:
16 Mt máx ⋅ Dext
τ máx = ⋅ 4 Equação 21
π (Dext − Dint
4
)
Para tubos com parede de espessura menor que 1⁄10 vezes o diâmetro externo,
pode-se mostrar que:
2 Mt máx
τ máx = ⋅ 2 Equação 22
π (Dext ⋅ t)
capítulo 4 • 134
Admitindo que dois eixos cilíndricos, um deles maciço e o outro tubular,
de mesmo comprimento (L) e de diâmetro externo iguais (Dext), com diâmetro
interno do eixo tubular igual à metade do diâmetro externo (Dint = Dext⁄2) sejam
submetidos a um mesmo momento de torção, pode-se provar que, enquanto o
eixo oco sofre uma redução de massa da ordem de 25%, a tensão máxima atingida
neste cresce em apenas 7%.
Assim, quando se deseja uma redução de peso de determinados componentes
mecânicos, como aqueles empregados na indústria aeronáutica, é interessante a
utilização de eixos ocos ou tubulares, uma vez que sua resistência à torção não cai
na mesma proporção que a redução de massa.
Mtmáx
Engaste
τmáx
Dext
Mtmáx
Engaste
τmáx
Dint Dext
Figura 4.25 – Aplicação de mesmo momento de torção. (a) Eixo maciço; e (b) Eixo oco.
capítulo 4 • 135
Engastado
Es
�r
am
en
to
po
rt
ra
çã
o
τ
τ Mt
L
Engastado
L
Mt
AB D θ
γ = tan (φ ) = = ⋅ Equação 23
L 2 L
capítulo 4 • 136
Em que: θ é o ângulo de torção (em radianos); L é o comprimento do corpo
de prova (em metros); e D⁄2 representa o raio do corpo de prova (em metros).
AB Mt
tan (o) =
Engaste L
τmáx
o 0 D
O 2 τmáx
τ τ τ τ τ τ τmáx
τmáx
L
capítulo 4 • 137
superficiais são impedidas de escoar pelas fibras mais internas que são submetidas
a menores níveis de tensão.
Assim, da mesma forma que no ensaio de tração, é comum a utilização da
deformação angular padrão (γn) para a determinação do limite de escoamento τe).
Além disso, é indicada a utilização de corpos de prova tubulares, pois o efeito é
minimizado (distribuição mais uniforme de tensões). Um fator de importância a
ser observado na torção, tanto de tubos quanto em eixos maciços, é o uso de rela-
ções entre o comprimento e os diâmetros dos corpos de prova para evitar o efeito
da cambagem, os quais devem atender às condições:
• L < 10 Dext, para eixos maciços; e,
• 8 (Dext – Dint) < Dext < 10 (Dext – Dint).
Para detalhes específicos sobre o ensaio de torção, é interessante que você con-
sulte as normas apropriadas e atualizadas da ABNT, ASTM, DIN e outras.
As fraturas observadas no ensaio de torção são diferentes das obtidas no en-
saio de tração, assim como a deformação plástica na fratura é localizada e muito
pequena quando comparada com o alongamento e a redução da área em tração.
Os materiais dúcteis rompem-se por cisalhamento ao longo de um plano de
máxima tensão de cisalhamento, geralmente um plano normal ao eixo longitu-
dinal do corpo de prova, ou plano transversal. No caso de materiais metálicos
frágeis, estes se rompem em função das tensões de tração decorrentes, já que o
estado de cisalhamento puro é equivalente ao da tração em uma direção e ao da
compressão na direção perpendicular.
capítulo 4 • 138
Fratura dúc�l
Fratura frágil
Figura 4.29 – O aspecto das fraturas varia conforme o corpo de prova seja feito
de material dúctil ou frágil. Os corpos de prova de materiais dúcteis apresentam
uma fratura segundo um plano perpendicular ao seu eixo longitudinal.
REFLEXÃO
O capítulo 4 chega ao final e espero que você tenha percebido a importância dos ensaios
de fadiga e torção em aplicações da Engenharia. No próximo e último capítulo, nossa jorna-
da terá continuidade com os fundamentos dos ensaios de dureza e impacto e das técnicas
macrográficas.
A seguir, deixo para você alguns endereços eletrônicos para que seu interesse possa ser
ampliado ainda mais.
Saiba mais:
Aula 10 - Ensaio de Materiais - Profissionalizante - Telecurso. Disponível em: <https://
youtu.be/ueT4LAVp46I>. Acesso em: 13 mai. 2019.
Máquina de Ensaio de Torção – Biopdi. Disponível em: <https://youtu.be/wPcJ4Wqe-
4Lo>. Acesso em: 13 jan. 2019.
Telecurso 2000 Ensaios de Materiais 15. Ensaio de fadiga. Disponível em: <https://
youtu.be/l6CkNgB-FqU>. Acesso em: 13 jan. 2019.
ATIVIDADES
Abaixo deixo algumas questões às quais se deve responder e que servirão para fixar os
principais conceitos desenvolvidos ao longo do Capítulo 4.
I. Em que consiste o ensaio de fadiga?
II. Em quais categorias o ensaio de fadiga é dividido?
III. A fratura de fadiga é utilizada para o estudo de aeronaves e estruturas de grande porte.
Por quê?
capítulo 4 • 139
IV. Qual a diferença entre o método padrão e o método da tensão constante utilizados no
ensaio de fadiga?
V. O que é o limite de resistência à fadiga?
VI. Em que consiste o ensaio de torção?
VII. Quais fatores influem nos resultados experimentais do ensaio de torção?
VIII. O que é cambagem?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ashby, M.; Shercliff, H.; Cebon, D. Materiais: engenharia, ciência, processamento e projeto. 2.ed. Rio
de Janeiro: Campus, Elsevier Editora Ltda, 2012.
2. Garcia, A.; Spim, J.A.; Santos, C.A. dos. Ensaios dos materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda, 2012.
3. Rodrigues, L.E.M.J. Ensaios mecânicos de materiais. Aula 11: Ensaio de Fadiga. Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia. São Paulo, SP. Disponível em: <www.engbrasil.eng.br/pp/em/
aula11.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2019.
capítulo 4 • 140
5
Dureza, impacto e
macrografia
Dureza, impacto e macrografia
Você chegou ao último capítulo e verá mais dois ensaios destrutivos: o ensaio
de dureza e o ensaio de impacto. Além disso, conhecerá a análise por macrografia.
A dureza de um material é um conceito relativamente complexo de definir.
Entretanto, intuitivamente, você já deve ter percebido que, ao escrever a lápis ou
lapiseira, há diferença entre um grafite macio, que desliza suavemente sobre o
papel, e um grafite duro, que deixa o papel marcado. Mesmo se você utilizar um
bom dicionário, o máximo que encontrará será: “qualidade ou estado de duro,
rijeza”; e duro, por sua vez, é definido como “difícil de penetrar ou de riscar, con-
sistente, sólido”. Essas definições não caracterizam o que é dureza para todas as
situações, pois ela assume um significado diferente conforme o contexto em que
é empregada.
Em relação ao ensaio de impacto, em função de simplicidade, rapidez e cus-
to, ele pode ser entendido como um ensaio amplamente utilizado para medir a
tenacidade de materiais.
Finalmente, caso seja necessário que você avalie a aparência (textura) da su-
perfície de uma peça metálica, tal superfície precisa ser plana, polida e atacada
por um reagente químico adequado. A observação poderá, então, ser feita a olho
nu ou com o auxílio de uma lupa com ampliação de 10 vezes no máximo. O
procedimento, em detalhes, e a interpretação das informações são encontradas
na macrografia.
OBJETIVOS
Neste quinto capítulo, você deve procurar alcançar os seguintes objetivos;
• Compreender os fundamentos do ensaio de dureza;
• Compreender os fundamentos do ensaio de impacto;
• Conhecer a técnica macrográfica e seu uso na análise de superfícies.
Ensaio de dureza
capítulo 5 • 142
foca a atenção na deformação plástica dos metais. Em contrapartida, na área da
mecânica, dureza é a resistência à penetração de um material no outro, pois esta é
uma característica que pode ser facilmente medida.
Para um projetista, dureza é uma base de medida, a qual serve para conhecer a
resistência mecânica e o efeito do tratamento térmico ou mecânico em um metal.
Além disso, permite avaliar a resistência do material ao desgaste. Para um técnico
em usinagem, dureza é a resistência ao corte do metal, pois este profissional atua
com corte de metais e, portanto, a maior ou menor dificuldade de usinar um
metal é caracterizada como maior ou menor dureza. Para um mineralogista, é a
resistência ao risco que um material pode produzir em outro. Aliás, esse é um dos
critérios usados para classificar minerais.
Você pode, então, concluir que a dureza não é uma propriedade absoluta.
Consequentemente, só há sentido em se falar em dureza quando se comparam
materiais, isto é, só existe um material duro se houver outro mole.
É conveniente ressaltar que, apesar das diversas definições, um material com
grande resistência à deformação plástica permanente também terá alta resistência
ao desgaste, alta resistência ao corte e será difícil de ser riscado, ou seja, será duro
em qualquer uma dessas situações.
capítulo 5 • 143
No entanto, a escala Mohs não permite uma definição adequada da dureza
dos metais, pois a maioria destes localiza-se entre os pontos 3 e 8. Por exemplo:
• O cobre recozido tem dureza de Mohs igual a 3.
• Um aço temperado com estrutura martensítica tem dureza Mohs igual a 7.
Outro método de dureza por risco que pode ser mencionado é a microdureza
Bierbaum, que consiste na aplicação de uma força de 3 gf (o grama-força, gf, é
uma unidade de medida de força que representa a força necessária a ser exercida
sobre a massa de um grama para se obter a aceleração equivalente à aceleração
da gravidade), por um diamante padronizado, com formato igual a um canto de
cubo com ângulo de contato de 35°, sobre uma superfície previamente preparada
por polimento e ataque químico.
capítulo 5 • 144
Por meio de um microscópio, mede-se a largura do risco, λ, em micrômetros
(µm), e o valor numérico da dureza Bierbaum (K) será determinado por:
Riscador Impressão
de diamante
P = 3 gf 35°
0123
Material
capítulo 5 • 145
dureza por escleroscópio25, nome do primeiro equipamento fabricado comercial-
mente para esse método.
capítulo 5 • 146
O método de dureza Shore também é amplamente empregado na determi-
nação da dureza de materiais metálicos finais ou acabados. O equipamento de
dureza Shore, por ser leve e portátil, torna-se adequado à determinação de durezas
de peças metálicas grandes, como cilindros laminadores, trens de pouso de avião
e também para ensaios em campo. Como a marca superficial deixada pelo ensaio
é pequena, ele é também indicado no levantamento da dureza de peças acabadas.
Outra vantagem oferecida por esse ensaio é a oportunidade de realização também
em condições adversas, como em altas temperaturas.
Você deve ter em mente que o método de dureza Shore mede a dureza em ter-
mos da elasticidade do material e o valor da dureza depende da altura do retorno.
Quanto mais duro o material, maior é o percurso de retorno.
Figura 5.4 – : Durômetro manual Shore com indicador de arrasto. As diferentes ponteiras
(endentadores) são apresentadas em destaque. O Shore A é indicado para elastômeros em
geral, materiais sintéticos macios, feltro, vinílicos e outros materiais semelhantes. O Shore
D é indicado para materiais plásticos, resina epóxi, Plexiglas e semelhantes. O Shore A0 é
usado para a medida de dureza de espuma, esponja e análogos. Fonte: Google Imagens.
Caso você precise consultar mais detalhes sobre o ensaio de dureza Shore, você
pode consultar as normas: ASTM D-2240; DIN 53 505; ISO 7619 Part 1; JIS K
6301; e, ASKER C-SRIS-0101.
Os resultados obtidos desse teste são medidas úteis da resistência relativa à
endentação para várias gamas de polímeros. Entretanto, o teste de dureza Shore
não serve para prever outras propriedades, como resistência, abrasão ou desgaste, e
não deve ser usado sozinho para especificação de projeto de produto.
capítulo 5 • 147
Dureza brinell
Esse ensaio foi inicialmente proposto por James A. Brinell em 1900 e foi o pri-
meiro ensaio de penetração padronizado e reconhecido industrialmente. Consiste
em comprimir uma esfera metálica padronizada na superfície do material ensaia-
do, gerando uma calota esférica, conforme mostra a figura 5.5.
A dureza Brinell é o quociente da carga normal aplicada pela área da superfície
côncava (calota esférica) após a retirada da força, dada por:
P
Dureza = Equação 2
S
136° D
Esfera
Material h h
d e d
Corpo de prova
Pcarga d1 + d 2
d=
2
36° D
Calota
Esfera
d2
h h 0123
d e d
Corpo de prova d1
capítulo 5 • 148
2⋅P
HB = 0,102 ⋅
( )
Equação 3
2
π ⋅ D ⋅ D − D2 − d
capítulo 5 • 149
Figura 5.6 – Alguns penetradores usados no ensaio Brinell.
capítulo 5 • 150
Em que: σu é o limite de resistência à tração (MPa); e α é uma constante ex-
perimental (3,60 para aço carbono; 4,0 para alumínio e suas ligas; 5,20 para cobre
recozido etc.).
Dureza rockwell
O ensaio recebeu esse nome pelo fato de a sua proposta ter sido feita pela
indústria Rockwell, dos Estados Unidos, por volta de 1922. É o método mais
utilizado internacionalmente.
Esse tipo de ensaio de dureza utiliza-se da profundidade da impressão causada
por um penetrador sob a ação de uma carga aplicada em dois estágios (pré-carga
e carga suplementar) como indicador da medida de dureza. Não há relação com a
área da impressão como no caso da dureza Brinell.
A dureza Rockwell pode ser classificada como comum ou superficial, depen-
dendo da pré-carga e da carga aplicadas. Originalmente, o método foi proposto
em kgf e polegadas, mas, por causa da adoção do Sistema Internacional (SI) de
unidade, os valores foram convertidos para N e mm, sendo prática comum refe-
rir-se às unidades inicialmente propostas.
O penetrador tanto pode ser um diamante esferocônico com ângulo de 120° e
ponta ligeiramente arredondada (r = 0,2 mm) como uma esfera de aço endurecido ou
carboneto de tungstênio, geralmente com diâmetro de 1,59 mm (1/16 "), existindo
também nos diâmetros de 3,17 mm (1/8 "), 6,35 mm (1/4 ") e 12,70 mm (1/2 ").
penetrador penetrador
cônico esférico
capítulo 5 • 151
Figura 5.8 – Durômetro para o ensaio de dureza rockwell.
Carga Carga
principal principal
Pré-carga
Pré-carga Pré-carga
Super�cie Linha de
da peça referência
120° para
medições
produzida por P0
penetração permanente
Recuperação elás�ca
produzida por P
Profundidade
Profundidade
após remoção P
Profundidade de
capítulo 5 • 152
A profundidade de penetração (p) é correlacionada, pela máquina de ensaio,
a um número arbitrário, cuja leitura é feita diretamente na escala do equipamen-
to, após a retirada da carga principal, mantendo-se, entretanto, a carga inicial ou
pré-carga. A figura 5.9 apresenta uma representação do princípio de medição de
dureza pelo método Rockwell, destacando as deformações causadas pelas aplica-
ções da pré-carga e carga principal.
A profundidade que o penetrador vai atingir durante o ensaio é importante
para definir a espessura mínima do corpo de prova. De modo geral, a espessura
mínima do corpo de prova deve ser 17 vezes a profundidade atingida pelo pene-
trador. Entretanto, não há meios de medir a profundidade exata atingida pelo
penetrador no ensaio de dureza Rockwell.
É possível obter a medida aproximada da profundidade (p) em milímetros
(mm), a partir do valor de dureza indicado na escala da máquina de ensaio, utili-
zando as fórmulas a seguir:
Penetrador de diamante:
HR normal: p = 0,002×(100 – HR)
HR superficial: p = 0,001×(100 – HR)
Penetrador esférico:
HR normal: p = 0,002×(130 – HR)
HR superficial: p = 0,001×(100 – HR)
capítulo 5 • 153
geral, a peça pode ser utilizada depois da medida. Entre as desvantagens estão a
multiplicidade de escalas não relacionadas e os possíveis efeitos da mesa usada para
suporte do corpo de prova.
A norma brasileira é a NBR NM-146-1:1998 (ABNT). A norma internacio-
nal de maior utilização no país é a ASTM E18:2007 (ASTM). Basicamente, o
procedimento do ensaio consiste em:
• Escolha da escala (penetrador e cargas);
• Aplicação de pré-carga;
• Aplicação da carga principal por período específico;
• Retirada da carga principal e manutenção da pré-carga;
• Leitura da medida.
O ensaio em materiais desconhecidos deve partir de escalas mais altas (pene-
trador de diamante), a fim de evitar danos no penetrador. Posteriormente, segue-
-se para escalas mais baixas (penetrador de esfera).
Dureza Vickers
Embora o ensaio Rockwell tenha uso difundido, ele também mostra limita-
ções. Por exemplo, suas escalas não têm continuidade. Assim, materiais que apre-
sentam dureza no limite de uma escala e no início de outra não podem ser com-
parados entre si quanto à dureza. Outra limitação importante é que o resultado
de dureza no ensaio Rockwell não tem relação com o valor de resistência à tração,
como acontece no ensaio Brinell.
Na busca por uma solução para superar essas dificuldades, coube a Smith e
Sandland, em 1925, o mérito de desenvolver um método de ensaio que ficou
conhecido como ensaio de dureza Vickers. O ensaio desenvolvido por Smith e
Sandland ficou conhecido como ensaio de dureza Vickers, porque a empresa que
fabricava as máquinas mais difundidas para operar com este método chamava-se
Companhia Vickers-Armstrong Ltda.
Esse método leva em conta a relação ideal entre o diâmetro da esfera do pene-
trador Brinell e o diâmetro da calota esférica obtida e vai além, pois utiliza outro
tipo de penetrador (um penetrador padronizado na forma de uma pirâmide de
diamante de base quadrada e com um ângulo de 136° entre faces opostas), que
possibilita medir qualquer valor de dureza, incluindo desde os materiais mais du-
ros até os mais moles.
capítulo 5 • 154
136°
Pcarga d1 + d 2
d=
2
136°
Losango
Pirâmide de
diamante
d2
136° h 0123
e d
d1
Corpo de prova
HV = 0,102 ⋅
( )
2P ⋅ θ 2 P
= 0,189 ⋅ 2 Equação 6
d2 d
capítulo 5 • 155
Como o penetrador é indeformável, a dureza obtida independe da carga uti-
lizada, devendo, se o material for homogêneo, apresentar o mesmo número re-
presentativo da dureza. Sempre que possível, recomendam-se as maiores cargas.
A designação da dureza é formada pelo valor da dureza, seguido pelo símbolo
HV, da carga aplicada e do tempo de aplicação de carga, se este for diferente dos
previstos em normas (10 a 15 segundos para materiais duros e 30 a 60 segundos
para materiais moles).
D = 10 mm D = 5 mm D = 2 mm
Q = 3000 kgf P = 750 kgf P = 120 kgf
d = 3,76 mm d = 1,88 mm d = 0,75 mm
D = 1 mm P = 30 kgf P = 10 kgf
P = 30 kgf L = 0,463 mm L = 0,267 mm
d = 0,375 mm
capítulo 5 • 156
Para materiais desconhecidos, recomenda-se a utilização de uma carga in-
termediária, observando-se a identação e verificando se ela é possível de medi-
ção no sistema óptico do equipamento ou se ficou muito pequena, dificultando
a medição.
A dureza Vickers é de utilização industrial limitada, em função da demora do
ensaio; entretanto, o ensaio é de utilização ampla em pesquisa. Há necessidade de
cuidadosa preparação do corpo de prova para o caso de ensaio com microcarga
(polimento eletrolítico e, em alguns casos, ataque químico para identificação das
fases e regiões de medição).
O ensaio de dureza Vickers é indicado no levantamento de curvas de profun-
didade de têmpera e de cementação. Aplica-se a qualquer espessura de corpo de
prova, desde que não haja ocorrência de deformação no lado oposto ao da super-
fície ensaiada.
Microdureza
capítulo 5 • 157
Pirâmide
172° 30’ Knoop
130°
peça
P
l/b = 7,11
b/t = 4,00 b
t Pirâmide de diamante e
Lateral Impressão
Ensaio de impacto
capítulo 5 • 158
um martelo ou pêndulo, de uma altura determinada, sobre a peça a examinar. As
massas utilizadas nos ensaios são intercambiáveis, têm diferentes pesos e podem
cair de alturas variáveis.
Mostrador
Ponteiro Posição
inicial
Posição Martelo
final
h
Corpo de h’
prova
capítulo 5 • 159
IZO D Charpy
Figura 5.15 – (a) Representação simplificada dos ensaios Charpy e Izod. Observe a
configuração geométrica do entalhe e o modo de fixação do corpo de prova na máquina.
(b) Ilustração de um equipamento comercial destinado à realização do ensaio de impacto.
capítulo 5 • 160
A energia absorvida por um corpo de prova de um metal pode variar sensivel-
mente com a temperatura de ensaio. Define-se a temperatura de transição para o
aço ou outro metal, como a temperatura na qual a ruptura do material se altera de
dúctil para frágil ou vice-versa.
Energia de
impácto (J)
Região de Região de
fratura frágil fratura dúc�l
(baixas (altas
temperaturas) temperaturas)
Região de
transição
dúc�l–frágil
0
–T Tmin Tmáx +T Temperatura (°C)
capítulo 5 • 161
Figura 5.17 – Células unitárias das estruturas cristalinas. Da esquerda
para a direita: cúbica simples; cúbica de corpo centrado (CCC) e cúbica de
face centrada (CFC), respectivamente. Em destaque, na representação de
esferas em azul, a célula unitária da rede hexagonal compacta (HC).
Como já vimos, dois tipos padronizados de ensaios de impacto são mais am-
plamente utilizados: Charpy e Izod. Em ambos os casos, o corpo de prova tem o
formato de uma barra de seção transversal quadrada, na qual é usinado um entalhe
em forma de V, U ou key-hole.
Os corpos de prova Charpy são classificados em tipo A, B e C, com seção qua-
drada de 10 mm, comprimento de 55 mm e entalhes no centro do corpo de prova.
O tipo A tem o entalhe na forma de V; o tipo B, na forma de buraco de fechadura
(key-hole); e o tipo C, na forma de U. Os corpos de prova tipo Charpy são apoiados
de forma centralizada, e a distância entre esses apoios é de 40 mm. A figura 5.18
mostra o formato, as dimensões e os entalhes desses três tipos de corpos de prova.
55 10
raio = 0,25
10 6
charpy tipo A
45°
10
10 5
10 5
charpy tipo C 2
capítulo 5 • 162
O corpo de prova Izod tem seção quadrada de 10 mm, comprimento de 75
mm, entalhe a uma distância de 28 mm de uma das extremidades, em forma de
V. É engastado na sua parte maior, e o entalhe fica próximo ao ponto de engaste.
Os corpos de prova com entalhes mais profundos (Izod e Charpy tipo A) são
empregados para mostrar a diferença de energias absorvidas nos ensaios de metais
mais dúcteis. Esses corpos de prova têm a tendência de ocasionar fraturas frágeis
mais facilmente. Em ensaio de materiais mais frágeis, como é o caso do ferro fun-
dido (F°F°) ou metais fundidos sob pressão, os corpos de prova normalmente não
necessitam do entalhe, pois o material já é naturalmente mais frágil.
Todas as dimensões em mm
28 10 45°
Izod (�po D)
10 8 raio = 0,25
75 6,25
F°F° e fundidos
sob pressão 6,35
152 6,45
Figura 5.19 – Recomendações gerais com respeito aos entalhes. Entalhes agudos
para o corpo de prova Izod e corpo de prova, sem entalhe, para materiais mais frágeis.
capítulo 5 • 163
Em relação às informações que podem ser obtidas do ensaio de impacto,
têm-se:
• Energia absorvida: medida diretamente pela máquina;
• Contração lateral: quantidade de contração em cada lado do corpo de pro-
va fraturado;
• Aparência da fratura: determinação da porcentagem de fratura frágil ocor-
rida durante o processo de ruptura por métodos como medida direta em função do
aspecto da superfície de fratura, comparação com resultados de outros ensaios ou
ensaios-padrão ou por meio de fotografias da superfície e interpretação adequada.
Figura 5.20 – Fratura frágil-dúctil em corpo de prova metálico após o ensaio de impacto.
capítulo 5 • 164
Macrografia
27 Metalografia faz parte da Ciência dos Materiais e é o estudo da morfologia e estrutura dos metais. A metalografia
é uma área da materialografia que, além do estudo dos materiais metálicos, compreende a plastografia (materiais
plásticos ou poliméricos) e a ceramografia (materiais cerâmicos). A metalografia pode ser dividida em: macrografia
(aumento < 20x) e micrografia (aumento > 50x).
capítulo 5 • 165
• Bolhas: são pequenas cavidades que contêm aprisionados os gases existen-
tes nos metais. Os metais líquidos dissolvem grandes quantidades de gases, como
oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, monóxido de carbono e dióxido de carbono. À
medida que a temperatura do banho diminui, esses gases vão sendo liberados até
que, em um determinado valor de viscosidade, tal liberação não é mais possível
e formam-se, então, bolhas no interior da massa metálica. Para atenuar o desen-
volvimento das bolhas nas peças, costuma-se adicionar ao banho metálico certas
substâncias, chamadas “desoxidantes”. No caso dos aços, usam-se como desoxi-
dantes o silício, o manganês, o alumínio e outros.
• Porosidades: correspondem a pequeníssimas cavidades no interior das pe-
ças. Elas são bem menos nocivas que as bolhas, mas devem ser evitadas, principal-
mente em peças sujeitas à fadiga.
• Trincas: são fissuras que existem nos materiais. Podem ser superficiais ou
internas. Elas ocorrem em razão do trabalho mecânico ou do resfriamento e aque-
cimento bruscos.
• Dendritas: os metais se solidificam sob a forma de cristais, segundo di-
reções preferenciais chamadas eixos de cristalização. Cada eixo, atingindo certo
desenvolvimento, passa a emitir outros eixos até toda a massa se tornar sólida. Ao
conjunto de cada eixo principal e seus eixos secundários dá-se o nome de dendri-
ta. Por causa do mecanismo exposto, todos os metais, logo após sua solidificação
completa, são formados por numerosos grãos fortemente unidos, cada um com
orientação cristalográfica independente dos demais. Junto às paredes do molde, os
grãos resultantes são longos e perpendiculares às paredes, enquanto, no interior da
peça, os grãos são equiaxiais (forma octoédrica).
capítulo 5 • 166
• Descarbonetação: é a perda de carbono na superfície de uma peça de aço
ou ferro fundido, por causa do contato com um meio oxidante. Essa perda de car-
bono será maior quanto mais alta for a temperatura e quanto maior for o tempo
de contato da peça com o meio.
• Cementação: é um processo inverso da descarbonetação, isto é, vem a ser a
difusão de carbono na superfície externa de uma peça.
• Têmpera: consiste no aquecimento de uma peça de aço acima de deter-
minada temperatura, seguido de um resfriamento rápido em água, óleo ou um
banho de sal, com a finalidade de aumentar a dureza dessa peça.
• Encruamento: dizemos que um material sofreu encruamento quando há
uma variação das suas propriedades em razão do trabalho mecânico a frio, como
a laminação a frio ou a trefilação. O metal terá aumento de dureza, aumento de
resistência a tração, aumento de fragilidade etc. e terá diminuição do alongamen-
to, da estricção etc.
• Gotas frias: ao verter o metal líquido na lingoteira, pequenas gotas respin-
gam contra as paredes, resfriando-se com rapidez e oxidando-se superficialmente.
Tais gotas não aderem depois completamente ao lingote, por causa da película de
óxido, e constituem um defeito superficial.
capítulo 5 • 167
O corte longitudinal é indicado nos seguintes casos:
• Verificar se uma peça foi laminada, fundida ou forjada;
• Se a peça foi estampada ou torneada;
• Verificar a extensão de tratamentos térmicos;
• Verificar a solda em barras;
• Eventuais defeitos nas proximidades de fraturas.
Figura 5.24 – Cortes em uma peça metálica para a inspeção por macrografia.
capítulo 5 • 168
O ataque químico pode ser feito de três maneiras:
• por imersão da superfície a ser estudada em um recipiente contendo
o reagente;
• por aplicação do reagente sobre a superfície, com o auxílio de um chumaço
de algodão;
• por aplicação de papel fotográfico, umedecido com reagente adequado, so-
bre a superfície polida do corpo de prova.
capítulo 5 • 169
O reativo de Fry (ácido clorídrico / água destilada / cloreto cúprico) é empre-
gado para revelar linhas de deformação em material encruado (linhas de Lüder). O
corpo de prova é aquecido até uma temperatura de 200 ºC, durante 30 minutos,
e, em seguida, é mergulhado. Posteriormente, a amostra é resfriada na solução
com o reativo. A amostra deverá permanecer imersa na solução até que sejam
visíveis as linhas de deformação.
O reativo de Heyn (cloreto cupro-amoniacal / água destilada) é utilizado para
revelar zonas ricas em fósforo. Forma-se uma camada de cobre sobre a superfície
do corpo de prova, a qual deve ser removida com um algodão embebido em água.
Caso a remoção seja difícil, utiliza-se uma solução 0,5% de perssulfato de amônio.
O reativo de perssulfato de amônio (perssulfato de amônio / água destilada)
é usado para revelar a disposição dos grãos nos casos de recristalização, soldas e
crescimento do grão.
Em relação aos reativos por aplicação, tem-se:
• Método de Baumann: este método é utilizado com a finalidade de detectar
as regiões ricas em enxofre nos aços;
• Método para detectar áreas ricas em fósforo nos aços;
• Método para detectar inclusões de óxidos nos aços.
Secção transversal com faixa periférica clara e Têmpera superficial violenta ou camada cemen-
com alta dureza tada temperada
capítulo 5 • 170
REFLEXÃO
O capítulo 5 chegou ao final e, com ele, você terminou a leitura deste livro didático. De-
sejo que você tenha percebido a importância dos ensaios de dureza e impacto em aplicações
da Engenharia. Além disso, também espero que as técnicas macrográficas possam ser usa-
das futuramente em sua análise de peças metálicas.
A seguir, deixo para você alguns endereços eletrônicos para que seu interesse possa ser
ampliado ainda mais.
Saiba mais:
Telecurso 2000 Ensaios de Materiais 16 Ensaio de impacto. Disponível em: <https://you-
tu.be/GirrGcJSb_0>. Acesso em: 20. Jan de 2019.
Telecurso 2000 - Ensaios de Materiais - 11 Dureza Brinell.avi. Disponível em: <https://
youtu.be/n4kT3wNJpx4?list=PLDl4yYsc6YfMjZ-bCU3usj0mp9_v4zn_E>. Acesso em: 20
jan. 2019.
Telecurso 2000 - Ensaios de Materiais - 12 Dureza Rockwell.avi. Disponível em: <https://
youtu.be/FzHHzN6YqJ0?list=PLDl4yYsc6YfMjZ-bCU3usj0mp9_v4zn_E>. Acesso em: 20
jan. 2019.
Telecurso 2000 Ensaios de Materiais 13 Dureza Vickers. Disponível em <https://youtu.
be/V-gEC8Wlttg?list=PLDl4yYsc6YfMjZ-bCU3usj0mp9_v4zn_E>. Acesso em: 20 jan. 2019
ATIVIDADES
Abaixo deixo algumas questões às quais se deve responder e que servirão para fixar os
principais conceitos desenvolvidos ao longo do Capítulo 5.
I. Em que consiste o ensaio de dureza?
II. Em quais categorias o ensaio de dureza é dividido?
III. Por que a dureza Mohs não é indicada para metais?
IV. Quais as vantagens e desvantagens da dureza Brinell?
V. Quais as vantagens e desvantagens da dureza Rockwell?
VI. Em que consiste o ensaio de dureza Knoop?
VII. Em que consiste o ensaio de impacto? Qual a sua importância prática?
capítulo 5 • 171
VIII. O que é o ensaio macrográfico?
IX. Qual a diferença entre bolhas, porosidades e trincas que podem surgir em uma peça
metálica?
X. Qual o procedimento para a avaliação de superfícies por meio de um ensaio macrográ-
fico?
Todas as respostas podem ser encontradas ao longo das páginas do Capítulo 5. Aprovei-
te a oportunidade de rever o conteúdo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ashby, M.; Shercliff, H.; Cebon, D. Materiais: engenharia, ciência, processamento e projeto. 2.ed. Rio
de Janeiro: Campus, Elsevier Editora Ltda, 2012.
2. Garcia, A.; Spim, J.A.; Santos, C.A. dos. Ensaios dos materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda, 2012.
3. Ensaios macrográficos. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Laboratório de Ensaios
Metalográficos, São Paulo. Notas de aula. 2010.
capítulo 5 • 172
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 173
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 174
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 175
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 176