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Análise Experimental de Estruturas

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


INSTITUTO DE TECNOLOGIA
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA CIVIL

DISCIPLINA: Análise Experimental de Estruturas

PROFESSOR: Dênio Ramam Carvalho de Oliveira

CARGA HORÁRIA: 45 h.

Ementa: Análise Experimental de Estruturas; Estado de Deformação; Instrumentos de


Medição; Sistemas de Ensaio; Procedimentos de Ensaio; Interpretação de Resultados;
Exemplos Diversos.

Conteúdo Programático: 1 – Análise Experimental de Estruturas: Introdução; Objetivos


da Análise Experimental; Programa Experimental; Técnicas de Ensaio; Montagem do Ensaio;
Segurança no Ensaio; Documentação do Ensaio e da Pesquisa; Análise de Resultados; 2 –
Estado de Deformação: Introdução; Deformações Axiais e Transversais; Deformações de
Peças a Flexão; Deformações de Peças ao Cisalhamento; Deformações de Peças sob Torção; 3
– Instrumentos de Medição: Considerações Iniciais; Relógios Comparadores ou
Defletômetros; Clinômetros; Extensômetros Mecânicos; Transdutores Indutivos de
Deslocamento; Extensômetros Elétricos de Resistência; Transdutores à Base de
Extensômetros Elétricos de Resistência; Sistema de Vasos Comunicantes; 4 – Sistemas de
Ensaio: Introdução; Ensaio de Corpos de Prova de Aço; Ensaio de Corpos de Prova de
Concreto; Ensaio de Peças Estruturais de Aço; Ensaio de Peças Estruturais de Concreto
Armado; Ensaio de Paredes de Alvenaria; Ensaio de Aderência em Argamassas; 5 –
Procedimentos de Ensaio: Controle Tecnológico dos Materiais; Controle de Fatores
Externos; Aplicação de Carga; Ensaio de Estruturas em Serviço; Ensaio de Modelos em
Laboratório; 6 – Interpretação de Resultados: Considerações Iniciais; Tratamento
Estatístico Simples; Intervalo de Confiança da Média; Critério de Chauvenet; 7 – Exemplos
Diversos (Visitas técnicas): Ensaios em Laboratório; Ensaios na Construção.

Metodologia: A disciplina será ministrada através de aulas teóricas e experimentais, onde


serão realizados ensaios em materiais constituintes e modelos reduzidos de peças estruturais.

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Capítulo 1: Análise Experimental de Estruturas
Análise Experimental de Estruturas

Bibliografia:

ACI 318:2002. Building Code Requirements for Structural Concrete, American Concrete
Institute, Farmington Hills, Michigan, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739/94 – Ensaio de
compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto. Rio de Janeiro, 1994-a.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto e Execução


de Obras de Concreto Armado. Rio de Janeiro, 1978.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6152/92 – Materiais


metálicos. Determinação das Propriedades Mecânicas à Tração – Método de Ensaio. Rio de
Janeiro, 1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7222/94 – Argamassa e


Concreto - Determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos de
prova cilíndricos – Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 1994-b.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8522/84 – Concreto -


Determinação do módulo de deformação estática e diagrama tensão-deformação – Método
de Ensaio. Rio de Janeiro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto e Execução


de Obras de Concreto Armado. Rio de Janeiro, 2003.

BS 8110:1997. Structural Use of Concrete, Part 1, Code of Practice for Design and
Construction, British Standards Institution, London, 1997.

CEB-FIP. Model Code 1990, Thomas Telford, London, 1993.

EUROCODE 2. Design of Concrete Structures, Part 1, General rules and rules for buildings,
DD ENV 1992-1-1, British Standards Institution, London, 1992.

NAGATO, YOSIAKI, Mecânica Experimental. Notas de Aula, Universidade de Brasília, DF,


300 p., 1999.

OLIVEIRA, D. R. C., Análise Experimental de Lajes Cogumelo de Concreto Armado com


Armadura de Cisalhamento ao Puncionamento. Dissertação de Mestrado, Publicação No.
EDM-003 A/98, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
DF, 121 p., 1998.

TAKEYA, TOSHIAKI, Análise Experimental de Estruturas, Notas de Aula, EESC-USP,


São Carlos, SP, 50 p., 2001.

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Capítulo 1: Análise Experimental de Estruturas
Análise Experimental de Estruturas

1. ANÁLISE EXPERIMENTAL DE ESTRUTURAS

1.1 INTRODUÇÃO

Existem basicamente dois tipos de análise para estruturas em Engenharia, a análise teórica e a
experimental. Entretanto, é comum a aplicação dos dois tipos na realização de um estudo mais
abrangente. A ordem e a intensidade da utilização de cada análise dependem da natureza do
tema abordado. É bastante comum a realização de análises teóricas antes e depois de uma
análise experimental. Os resultados experimentais podem fornecer dados para o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de modelos teóricos, computacionais ou não.

A análise teórica clássica utiliza modelos matemáticos desenvolvidos a partir da Resistência


dos Materiais, Teoria da Elasticidade, Teoria da Plasticidade, Teoria das Placas e Cascas,
Teoria das Charneiras Plásticas, Análise Dinâmica, etc. Já a análise teórica numérica usa
recursos computacionais para processar dados e simular o comportamento de modelos reais.
O método dos elementos finitos (MEF), dos elementos de contorno (MEC) e das diferenças
finitas são amplamente empregados na análise computacional.

A análise experimental usa modelos físicos em escala natural, reduzida ou até mesmo
ampliada, em laboratório ou no campo (na construção), com sistemas de carregamento muitas
vezes personalizados, instrumentos de medição e equipe especializada. A tabela 1.1 apresenta
as principais vantagens e desvantagens das análises teórica e experimental.

Tabela 1.1 Vantagens e desvantagens das análises teórica e experimental


Tipo de análise Vantagens Desvantagens
 Facilita estudos paramétricos;  Difícil estimar o
 Custo geralmente menor; comportamento plástico;
Teórica
 Execução mais rápida;  Modelagem trabalhosa de
 Estima o comportamento real. estruturas complexas.
 Analisa a estrutura até o colapso;  Custo elevado;
Experimental  Verifica estruturas complexas;  Execução demorada.
 Auxilia modelos teóricos.

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1.2 OBJETIVOS DA ANÁLISE EXPERIMENTAL

Dentre os principais objetivos da análise experimental de estruturas pode-se citar:


 Estudo de estruturas complexas, devido ao carregamento, às características dos materiais
constituintes, etc.;
 Avaliação e calibração de modelos teóricos;
 Desenvolvimento de novos sistemas estruturais, novos materiais e novos processos de
cálculo;
 Avaliar a segurança e o comportamento de estruturas em serviço;
 Melhorar projetos futuros;
 Fins didáticos.

Deste modo os ensaios podem ser classificados da seguinte forma:


a) Ensaios de modelos: são construídos especificamente para serem ensaiados. Podem ser em
escala natural, reduzida ou ampliada;
b) Ensaio de estruturas em serviço (prova de carga): realizado na obra.

A NBR 9607 define o termo prova de carga como o conjunto de atividades destinadas a
analisar o desempenho de estruturas através de medições e controle dos efeitos causados por
ações externas de natureza e intensidade previamente estabelecidas. A prova de carga deve
estar sempre associada a uma finalidade, decorrente de alguma das seguintes situações:
a) Aceitação da estrutura;
b) Mudança nas condições de utilização da estrutura;
c) Elevadas solicitações na estrutura em alguma de suas fases construtivas;
d) Acidentes ou anormalidades no comportamento observados durante a execução ou
utilização da estrutura;
e) Busca de informações ou, até mesmo, ausência de projetos;
f) Melhor entendimento do comportamento estrutural.

1.3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Para que uma investigação experimental atinja seus objetivos, é necessário que o programa
experimental seja minuciosamente planejado. Cada pesquisa tem suas particularidades e seus

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procedimentos de execução. O planejamento do programa experimental deve considerar


algumas definições básicas sobre o experimento:
 Definição do objeto da análise experimental;
 Conhecer o motivo e a finalidade do experimento;
 Levantar as informações disponíveis sobre o assunto;
 Cronograma físico e financeiro da pesquisa;
 Condições técnicas para execução do programa (equipamentos, sistemas de ensaio, etc.);
 Equipe de trabalho definida;

Deve ser observado que para a definição do cronograma físico deve-se estabelecer até que
ponto as análises serão realizadas. Para isso deve-se definir os objetivos do programa
experimental e o número de espécimes a ser ensaiado. O objetivo da pesquisa influencia
significativamente na definição da quantidade de material, na escala dos modelos, na
sensibilidade dos equipamentos de medição e ensaio, na técnica de ensaio a ser adotada, etc.

A seguir são enumerados alguns itens a serem verificados ou definidos dentro do


planejamento do programa experimental. A ordem em que são apresentados não está
relacionada com a prioridade de execução, que depende da natureza da pesquisa.

1.3.1 Objeto do estudo

Nesta etapa devem ser definidos os parâmetros mais importantes que serão analisados
(comportamento estrutural, resistência dos materiais, instabilidade, fadiga, etc.), as
características dos modelos, incluindo as condições de contorno, o tipo e a forma de aplicação
do carregamento, as grandezas a serem medidas, os equipamentos a utilizar, as condições de
segurança, etc. Deve-se estabelecer as medidas ou leituras que serão tomadas a partir do
sistema de ensaio. Os equipamentos devem ser adequados ao grau de acurácia exigido para o
estudo do problema. Muitas análises exigem certo grau de exatidão, fundamental para a
credibilidade ou confiabilidade da interpretação dos resultados do trabalho. Entretanto,
precisão demais pode significar desperdício de material, mão de obra e tempo. Como exemplo
da falta de precisão pode-se citar passos de carga elevados, impossibilitando o monitoramento
satisfatório do comportamento estrutural. Muitas vezes a transição de um regime para outro
não é detectada justamente por este motivo (inviabiliza a construção de curvas de
monitoramento).

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1.3.2 Pesquisa bibliográfica

Geralmente é uma das primeiras etapas realizadas em um trabalho experimental. Deve-se


sempre realizar um estudo teórico do problema antes de ser analisado experimentalmente.
Este procedimento é de grande valia pois revela a experiência de outros pesquisadores e as
soluções por eles encontradas diante das dificuldades que surgiram em análises semelhantes.
Todas estas informações auxiliam no planejamento e execução do programa experimental. A
pesquisa bibliográfica embasa e fortalece o trabalho experimental.

1.3.3 Definição e confecção dos modelos

A definição dos modelos depende inicialmente dos objetivos da pesquisa. Normalmente os


primeiros itens a serem definidos são a escala e a constituição dos modelos. Entretanto, alguns
aspectos básicos devem ser considerados na seleção dos materiais constituintes, dentre eles:
finalidade do ensaio, nível de semelhança com o protótipo, escala do modelo,
trabalhabilidade, disponibilidade no mercado, custo, complexidade e capacidade dos sistemas
de ensaio, instrumentos de medição, etc. Na etapa de confecção dos modelos também devem
ser lembrados os materiais acessórios utilizados na montagem do sistema de ensaio e
instrumentação dos modelos. A técnica de classificar previamente os materiais de acordo com
sua natureza (carpintaria, elétrica, hidráulica, etc.) auxilia bastante na aquisição dos mesmos,
inclusive economicamente.

A escala dos modelos pode ser estabelecida de forma que atenda aos objetivos da pesquisa e
ao sistema de ensaio existente. Caso haja a necessidade de confeccionar um sistema de ensaio,
a escala dos modelos influencia diretamente no custo dos materiais e equipamentos do
sistema, além do que, quanto maiores os modelos, maior área será ocupada para os serviços
de instrumentação e ensaio. A escala geométrica dos modelos é a relação entre uma
determinada dimensão linear do modelo e a respectiva dimensão correspondente no protótipo.
Um modelo reduzido não é uma simples maquete da estrutura. Para que o comportamento do
modelo represente satisfatoriamente o comportamento do protótipo devem ser atendidas
outras condições de semelhança, além da geométrica. No caso de modelos reduzidos de
concreto armado, a granulometria dos agregados pode influenciar no comportamento dos
modelos, interferindo na interpretação dos resultados. Os modelos reduzidos apresentam a
vantagem de baratear os ensaios. O manuseio, transporte e instalações necessárias podem ser

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mais simples. Outra vantagem é a menor intensidade do carregamento, permitindo a utilização


de equipamentos mais simples e leves. Os instrumentos de medição serão apresentados no
Capítulo 3.

A quantidade de modelos vai depender também dos objetivos do trabalho. No caso de


pesquisas de desenvolvimento, o ideal é ensaiar um determinado número de modelos que
permitam a realização de uma análise estatística satisfatória. Deve-se ressaltar que as
pesquisas experimentais envolvem altos custos e, dependendo da complexidade dos modelos
(escala, instrumentação, etc.), nem sempre é possível ensaiar a quantidade ideal de modelos.

1.3.4 Análise dos modelos

Existem basicamente dois métodos de análise do comportamento estrutural de modelos


reduzidos, em escala natural e em escala ampliada. Quando o modelo é carregado de modo
semelhante ao protótipo, diz-se que o método de análise é direto. Este método é geralmente
aplicado tanto para carregamentos limitados ao regime elástico quanto para estágio mais
avançados que acarretem a ruptura do modelo. Este método é o mais utilizado atualmente,
principalmente em ensaios de peças de concreto armado.

O método de análise indireto, quando o carregamento não apresenta semelhança direta com o
do protótipo, é bastante empregado em análises onde se emprega o método da superposição
dos efeitos. São exemplos os ensaios para determinação de linhas de influência, efeitos de
vibrações em estruturas, etc.

1.3.5 Sistemas de reação e ensaio

Um sistema de ensaio pode ser constituído por diversos subsistemas, dentre os quais estão os
sistemas de carregamento, instrumentação e aquisição de dados.

A aplicação do carregamento nos ensaios estruturais pode ser feita através de diversos
sistemas de aplicação de carga, dentre os quais: máquinas de ensaio tipo universal, que podem
trabalhar controlando os deslocamentos ou simplesmente o carregamento aplicado; cilindros
hidráulicos, pneumáticos e mecânicos, com comando manual ou servo-controlado; parafusos
de carga; materiais diversos (água, areia, etc.); sistemas de alavancas; túneis de vento;

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dispositivos vibratórios; impactos, etc. Em qualquer sistema de carregamento devem ser


consideradas a precisão e a sensibilidade dos dispositivos, além de suas dimensões, isto para
não comprometer a capacidade de carga dos modelos em cada passo de carregamento.
Quando necessário, o carregamento pode ser monitorado com células de carga adequadas e
devidamente calibradas. No Capítulo 4 serão apresentados diversos sistemas de carregamento
e ensaio empregados na análise experimental de estruturas.

1.3.6 Cronograma físico-financeiro

A realização de uma pesquisa experimental envolvendo ensaios de estruturas geralmente é


dispendiosa, envolvendo recursos financeiros e dedicação dos diretamente envolvidos no
projeto. A principal finalidade do cronograma é orientar o pesquisador em relação ao
desembolso por etapa de trabalho e ao andamento da pesquisa (prazos). Recomenda-se a
execução de um cronograma principal e cronogramas auxiliares para cada etapa do trabalho,
quando necessários. O planejamento deve contemplar principalmente as fases de execução
dos modelos, montagem do sistema de reação e a realização dos ensaios. Os custos e prazos
para aquisição de materiais e equipamentos também devem ser previamente definidos. Outros
itens que devem fazer parte do orçamento são: material bibliográfico, fotográfico (ou vídeo),
suprimentos de informática, serviços de terceiros, viagens, diárias, etc.

Outra finalidade do cronograma é contribuir para ordenar os trabalhos em laboratório. É


comum a ocorrência de outros trabalhos experimentais sendo realizados simultaneamente em
um mesmo laboratório. Neste caso deve-se programa a execução das tarefas com o corpo
técnico do laboratório. Alguns trabalhos podem exigir exclusividade na utilização de muitos
equipamentos (adequação aos modelos), e nem sempre há tal disponibilidade. De qualquer
modo o planejamento deve ser cuidadosamente elaborado para que a pesquisa não sofra
muitas interrupções.

Atualmente as agências de financiamento científico exigem um cronograma físico-financeiro


dos projetos. Um planejamento bem elaborado das etapas da pesquisa enriquece a proposta,
mas deve-se ressaltar que, devido à natureza experimental das pesquisas, imprevistos e
desperdícios podem acontecer, o que exige uma margem de segurança incorporada no
planejamento físico-financeiro. Não é muito raro algumas pesquisas terem algumas de suas
etapas paralisadas por falta de recursos. Entretanto, o financiamento de um trabalho

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experimental não é decisivo para executá-lo como planejado. Atrasos na entrega de materiais
e equipamentos, na liberação de recursos, greves e falta de pessoal de apoio prejudicam o
andamento do trabalho.

1.3.7 Equipe de trabalho

Toda pesquisa experimental deve ser realizada por pessoas devidamente treinadas, capazes de
operar os diversos equipamentos e instrumentos de medição utilizados nos ensaios, assim
como devem estar familiarizadas com os procedimentos de ensaio e demais aspectos do
trabalho. A equipe de trabalho é geralmente composta por um chefe de equipe ou
coordenador, responsável pela pesquisa, técnicos de laboratório, pessoal de apoio técnico e
administrativo. Os prestadores de serviços terceirizados também fazem parte da equipe de
trabalho, apesar de não serem permanentes.

Nos trabalhos experimentais realizados nos cursos de graduação e pós-graduação, é comum a


colaboração de alunos da mesma área de conhecimento na execução dos ensaios, mesmo
daqueles que desenvolvem temas não correlatos. Entretanto, todos os colaboradores devem
estar aptos a exercerem suas funções, o que geralmente é alcançado com treinamento prévio.
Deve-se evitar ao máximo a substituição dos membros da equipe como forma de minimizar
erros, como os de leitura, por exemplo.

1.3.8 Infraestrutura e condições ambientais

De acordo com o local onde são realizados, existem basicamente dois tipos de ensaios: os
realizados em laboratórios e os realizados no campo, a céu aberto. No primeiro caso deve-se
considerar a infraestrutura disponível para acesso de materiais e equipamentos, instalação de
equipamentos, instrumentos de medição e sistemas de reação, deslocamento de pessoal, etc.
Outro ponto fundamental é a presença de oficinas de apoio bem equipadas no local de
trabalho ou nas imediações para a confecção de modelos, fabricação e manutenção de
equipamentos, serviços emergenciais. Estas oficinas são indispensáveis para a realização da
pesquisa.

No segundo caso, que considera pesquisas de campo, devem ser consideradas as condições
ambientais para a realização de medições e observações. Mesmo em laboratório alguns

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ensaios exigem determinadas condições ambientais para sua realização (temperatura, umidade
do ar, etc.). Para que as condições ambientais não retardem o andamento da pesquisa, estas
devem ser também consideradas no planejamento.

1.4 TÉCNICAS DE ENSAIO

A técnica de ensaio é a forma como o ensaio é desenvolvido. Esta técnica pode ser pré-
determinada antes mesmo da montagem do sistema de ensaio, desde que este sistema tenha
sido devidamente planejado ou anteriormente executado por outros pesquisadores.

Em relação ao carregamento, este pode receber incrementos (passos de carga) com


velocidades controladas, até a ruptura do modelo. Os intervalos dos incrementos de carga são
geralmente constantes. Procura-se estipular a duração dos intervalos de forma que sejam
possíveis e tranqüilos a leitura dos instrumentos de medição e o registro e mapeamento de
fissuras, por exemplo. Para modelos de concreto armado carregados através de cilindros
hidráulicos acionados mecanicamente, a duração destes intervalos também deve considerar a
perda de carga tanto devido às elevadas deformações plásticas quanto a perda de pressão
destes sistemas, geralmente monitorados com células de carga. Outros sistemas podem
receber ciclos de carregamento e descarregamento sucessivos, aumentando gradualmente a
carga de cada ciclo.

Atualmente estão sendo empregados sistemas de aquisição de dados que armazenam as


leituras da maioria dos equipamentos de medição, é o registro contínuo das leituras. Neste
caso o carregamento pode ser contínuo também, dependendo dos objetivos do trabalho. Deve-
se observar no entanto, que para modelos de concreto armado geralmente se deseja
acompanhar a formação de fissuras e realizar a observação visual do comportamento do
modelo, o que exige certo tempo. A técnica de ensaio, então, depende das características dos
equipamentos utilizados no ensaio.

A técnica de ensaios também pode ser um critério normativo ou pode ser estabelecida de
acordo com a experiência da equipe de trabalho. Na ausência do registro contínuo de leituras,
faz-se necessário um número satisfatório de passos de carga, com intervalos constantes de
preferência, para gerar mais pontos de leitura, de modo que as curvas e gráficos sejam
realmente representativos do comportamento estrutural. Muitos aspectos do comportamento

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estrutural podem ser suprimidos por insuficiência de dados. Em ensaios de tração em barras
de aço o registro da transição entre o regime elástico e o plástico é fundamental para
determinação de algumas de suas propriedades. Contudo, deve ser observado que leituras em
excesso significam desperdício de mão-de-obra e desgaste desnecessários para os operadores
de determinados instrumentos (bomba hidráulica, indicadores de deformação de EER’s, etc.).

Um procedimento de ensaio geralmente recomendado é o de se aplicar ciclos iniciais de carga


e descarga de baixa intensidade para a acomodação do sistema de ensaio. É um procedimento
que serve de treinamento para a equipe de trabalho e testa os instrumentos de medição,
equipamentos diversos e o próprio sistema de reação. Como geralmente as peças estão em
regime elástico, as falhas detectadas neste procedimento podem ser geralmente corrigidas
com pouca influência nos resultados finais. Em estágios avançados de carregamento,
recomenda-se que algumas leituras sejam tomadas, mesmo sem grande precisão, para que se
obtenha o máximo de informações sobre o comportamento dos modelos. Em alguns ensaios
podem ser registradas leituras após a ruptura dos modelos, quando há interesse nas
deformações residuais.

1.4.1 Montagem do sistema de ensaio

Na montagem do sistema de ensaio deve-se ter em mente como as condições de contorno


serão executadas, considerando as condições de apoio, o tipo de carregamento a ser aplicado e
o posicionamento dos instrumentos de medição. Diversos itens devem ser verificados na
montagem do sistema, dentre os quais: apoios adequados, carregamento conforme o
planejado, correta localização dos equipamentos e instrumentos de medição, dimensões dos
modelos, equipamentos para movimentação dos modelos e montagem do sistema, folga na
capacidade resistente dos equipamentos e do próprio sistema de ensaio (eventuais excessos d
resistência dos modelos), provável instabilidade do conjunto ao longo do ensaio, iluminação
adequada para leituras e fotografias, disponibilidade de energia elétrica, fácil acesso para
inspeção visual, etc. No Capítulo 5 serão apresentados alguns procedimentos de aplicação de
carga e ensaio para estruturas em serviço e para modelos em laboratório.

Também é durante a montagem do sistema de ensaio que se deve fazer a primeira verificação
dos equipamentos de medição. Nesta verificação os equipamentos devem estar posicionados
adequadamente para que deslocamentos excessivos, por exemplo, não venham a danifica-los.

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Os equipamentos devem estar devidamente calibrados e não devem ser expostos a qualquer
risco de funcionamento incorreto durante os ensaios. O treinamento prévio dos operadores é
fundamental para que erros de leitura ou operação sejam evitados. Durante a tomada de
leituras e medições o responsável pela pesquisa deve estar atento e verificar regularmente a
coerência dos resultados.

1.4.2 Segurança no Ensaio

Em se tratando de ensaios de modelos em escala natural ou em estruturas em serviço,


geralmente o carregamento aplicado é bastante levado, podendo atingir dezenas de toneladas
força. Esta situação exige atenção especial na montagem do sistema de ensaio e na aplicação
do carregamento, que deve atender exigências pré-estabelecidas. O alinhamento dos eixos das
peças que compõem o sistema de carregamento e ensaio deve ser satisfatório e continuamente
verificado para não afetar a instabilidade do sistema de reação, comprometendo a segurança
da equipe. Deve verificar a capacidade resistente dos elementos do sistema de reação (tirantes,
vigas de reação, etc.) tendo em mente que a carga de ruptura de uma peça pode ultrapassar a
planejada. Pontos com alta concentração de tensões devem ser evitados com a utilização de
chapas e vigas metálicas de distribuição no sistema de ensaio.

Outro ponto importante na segurança do ensaio refere-se aos instrumentos de medição, que
devem estar protegidos antes e durante a realização dos ensaios, para que não sejam
danificados e as leituras prejudicadas. Alguns instrumentos de medição devem ser protegidos
da umidade, poeira, campos magnéticos, vibrações, temperaturas extremas, choques diversos,
etc. O correto funcionamento dos instrumentos de medição evita situações caóticas e
conseqüentes interrupções durante o ensaio. Em ensaios de campo deve-se ter a preocupação
de evitar o roubo e a depredação dos equipamentos, principalmente em ensaios de longa
duração.

A segurança do ensaio deve ser assegurada independentemente do sistema de ensaio e do tipo


de experimento. A segurança da equipe é prioritária. O fácil acesso do pessoal aos
equipamentos de leitura com intervalos adequados de carregamento reduzem
significativamente os riscos de acidentes. O aluno atento pode tirar excelente proveito da
revisão bibliográfica para desenvolver sistemas de ensaio adequados e satisfatoriamente
seguros.

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1.4.3 Documentação do Ensaio e da Pesquisa

1.4.3.1 Documentação do Ensaio

A realização de um ensaio deve ser agradável, com o mínimo possível de interrupções, para
que não ocasione o desgaste da equipe. Para que os resultados sejam satisfatórios, é
necessário que todas as fases e seqüências do ensaio sejam cuidadosamente planejadas. A
montagem do ensaio deve ser realizada com o apoio de desenhos detalhados. Durante o ensaio
estes detalhes devem estar disponíveis, assim como informações referentes à capacidade
resistente dos materiais (dimensões dos modelos e outros componentes do sistema,
propriedades dos materiais e equipamentos, etc.). No caso dos modelos estruturais o
procedimento é semelhante, contudo recomenda-se uma análise teórica prévia para estimar a
capacidade resistente dos modelos e o passo de carga do ensaio, bem como as deformações
dos materiais, rotações e flechas dos modelos. Em ensaios envolvendo peças de concreto
armado procura-se aplicar passos de carga de mesma intensidade, com intervalos constantes
para realização das leituras, mas os passos de carga podem sofre variações, dependendo dos
objetivos da pesquisa. De qualquer forma, é importante que a carga máxima seja estimada e as
etapas de carregamento sejam previamente definidas.

A tomada manual de leituras exige tabelas destinadas à anotação das medições. Nas tabelas
devem constar: identificação do trabalho, do principal interessado, do modelo, do instrumento
de medição e do operador/anotador, data, local e hora, unidade de medida, passo de carga,
espaço para observações diversas e outros. Também se deve prever a possibilidade de leituras
repetidas – Zero. A prévia organização das tabelas agiliza o ensaio e facilita o trabalho de
digitação para a análise dos resultados. É recomendável a organização de tabelas
sobressalentes para o caso de substituição ou complementação das tabelas iniciais. No caso de
aquisição automática de dados, deve-se identificar corretamente as etapas de leitura e os
valores lidos, para evitar qualquer confusão no tratamento dos dados. Recomenda-se utilizar
programas que permitam a gravação contínua das leituras, e posterior backup. Em peças de
concreto armado tornam-se convenientes os intervalos de leitura, são nesses intervalos que o
pesquisador analisa o comportamento das fissuras, pontos com esmagamento do concreto,
enfim, faz a inspeção visual minuciosa e acompanha de forma mais ampla o comportamento
do modelo sob carga.

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1.4.3.2 Documentação da Pesquisa

A documentação da pesquisa engloba todos os dados dos ensaios, da bibliografia consultada,


os estudos teóricos realizados, a procedência e características dos materiais, condições
ambientais, a execução dos modelos, cargas de ruptura, observações diversas realizadas na
execução dos ensaios (comportamento do sistema e dos modelos), dificuldades encontradas,
soluções adotadas, fotografias dos ensaios, vídeos e outros dados que possam parecer
irrelevantes (processo de fabricação, condições de cura, data de validade, etc.). Deve-se
ressaltar que esta documentação será fundamental para a redação final do trabalho. Na
maioria dos ensaios de modelos de concreto armado a peça vai a ruptura, e o pesquisador não
consegue recuperar uma informação perdida durante os ensaios.

1.4.4 Análise de Resultados

A fase de planejamento da pesquisa deve compreender o tipo de tratamento dos resultados e o


custo envolvido no processo. Os resultados são geralmente apresentados em tabelas e gráficos
diversos, geralmente obtidos com recursos computacionais. Muitas vezes os computadores
estão conectados aos instrumentos de medição (aquisição automática de dados), e podem
confeccionar e armazenar tabelas e gráficos quase que imediatamente. Os gráficos podem ser
então adaptados às necessidades do pesquisador (unidades, cor, escala, legendas, etc.) e
algumas curvas podem ser ajustadas. Recomenda-se a utilização da mesma escala em gráficos
de mesma natureza, para facilitar comparações. Deve-se estar atento aos gráficos coloridos.
Algumas cores dificilmente são percebidas pelas máquinas de xerox monocromáticas (cor
preta). Legendas, títulos e demais informações devem estar claramente legíveis. Normalmente
os resultados observados experimentalmente são comparados com resultados teóricos,
computacionais ou não, e com os resultados obtidos por outros pesquisadores.

Após a análise dos resultados, o próximo passo é a elaboração do relatório ou redação final,
dependendo da finalidade da pesquisa. O texto final dever objetivo, ilustrado quando possível,
bastante detalhado, ou seja, completo. Como mencionado anteriormente, uma revisão
bibliográfica abrangente e a experiência do pesquisador facilitarão sobremaneira a redação
final. Normalmente o texto final também apresenta sugestões para melhorar as técnicas
anteriormente utilizadas e estudos complementares para trabalhos futuros.

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Capítulo 1: Análise Experimental de Estruturas
Análise Experimental de Estruturas

O texto apresentado neste capítulo tenta passar aos novos pesquisadores uma visão geral das
etapas envolvidas na maioria dos ensaios em estruturas de concreto armado. Cada
planejamento dependerá da natureza do trabalho. Inicialmente um trabalho experimental pode
parecer extremamente cansativo, mas com a prática e a experiência adquiridas o pesquisador
passará a dominar diversas técnicas de ensaio e análise de resultados, passando a trabalhar
confortavelmente e a produzir trabalhos cada vez mais refinados e qualificados. Todo ensaio
deve ser cuidadosamente planejado, controlados e os resultados corretamente interpretados
para que sejam bem sucedidos. Dificuldades sempre existirão, mas ao final de cada etapa
realizada tem-se a satisfação, em maior ou menor grau.

Prof. Dênio Ramam C. de Oliveira 15


Capítulo 1: Análise Experimental de Estruturas

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