Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(1) Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) - Departamento de Engenharia Mecânica – Praça Frei Orlando, 170, Centro, São
João del Rei, MG
RESUMO: Tendo em vista a importância do estudo dos materiais compósitos, o presente trabalho procurou
analisar a resistência e massa de laminados de fibra de vidro. O estudo foi fomentado, inicialmente, pela
necessidade que se tem de aplicar a fibra de vidro no protótipo veicular de eficiência energética da equipe
Milhas Gerais da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), porém o emprego dos resultados aqui
descritos pode ser feito em outros projetos na área de engenharia. Para a análise, foram realizados ensaios
mecânicos de flexão de 90 amostras no Centro de Inovação e Tecnologias em Compósitos (CITeC) da UFSJ,
na máquina SHIMADZU AG-X Plus 100kN utilizando como padrão a norma Internacional ASTM D7264. Um
passo importante na análise foi a padronização da fabricação das amostras, utilizando o método de
compressão, mesmo tempo de cura e quantidade de resina poliéster para as três réplicas feitas em cada tipo
de laminado. Dessa forma, foi possível avaliar a tensão máxima de flexão que as amostras resistiam e sua
massa, sendo que o objetivo era definir o laminado que possuísse boa resistência e baixo peso para futuras
aplicações. Os dados obtidos foram tratados através do critério de Chauvenet, que busca excluir medições
que estejam fora de um intervalo padrão. De acordo com os resultados obtidos, foi perceptível que o material
que melhor aliou tolerância à tensões e leveza foi o laminado de três camadas de tecido de fibra de vidro. A
pesquisa foi importante, por fim, para contribuir com os estudos de resistência e peso de compósitos e,
consequentemente, futuras aplicações em engenharia.
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
Segundo (CALLISTER, 2002), os materiais, quando em serviço, estão sujeitos a diversos tipos
de cargas, que podem ser de tração, compressão, torção, flexão, etc. Desta forma, é necessário
conhecer as propriedades mecânicas dos materiais para que não haja deformações excessivas ou
falhas, garantindo um bom funcionamento dos componentes. As propriedades mecânicas
relacionam a deformação ou resposta de um material a uma carga aplicada e são determinadas por
meio de ensaios mecânicos.
Os ensaios mecânicos consistem em métodos normalizados (normas técnicas) que objetivam
levantar propriedades mecânicas dos materiais sob a ação de esforços e são expressas em função
de tensões e/ou deformações. O conceito de tensão é, segundo (CALLISTER, 2002), a resistência de
um corpo a uma força aplicada por unidade de área. Com o uso de normas, brasileiras ou
internacionais, resultados obtidos são semelhantes e reprodutíveis e com isto podem ser
comparados quando realizados por diferentes laboratórios.
Um dos ensaios mecânicos mais recorrentes feito nos materiais é o de flexão de três pontos,
que consiste na aplicação de uma carga crescente na metade do comprimento de um corpo de
prova apoiado em dois roletes. Mede-se, como resultado do ensaio, o valor da carga versus a
deformação máxima. A Figura 1 tem um esquema deste tipo de ensaio de flexão.
As dimensões do sistema e do corpo de prova (amostra) do material são definidas através das
normas brasileiras ou internacionais para um certo tipo de material.
Quando se realiza uma série de medições de qualquer fenômeno físico, geralmente os dados
obtidos devem passar por um tratamento estatístico, a fim de diminuir o erro gerado pelas
medições. O Teste de Chauvenet é um dos critérios mais utilizados para tratamento de dados e
A fração “r” de cada amostra, descrita pela Equação 1, é a divisão do valor de desvio de cada
dado (di) pelo desvio padrão de toda a população (σ).
𝑑𝑖
𝑟= (1)
𝜎
O desvio de cada dado (di) e desvio padrão (σ) são calculados de acordo com a Equação 2 e
Equação 3, respectivamente.
𝑑𝑖 = 𝑥𝑖 − 𝑋̅ (2)
∑(𝑥𝑖 − 𝑋̅)2
𝜎=√ (3)
𝑁−1
Em que “N” é o número de medições, “xi” é o valor medido e “𝑋̅” é a média aritmética dos
valores medidos. A rejeição do dado se dá caso a seguinte inequação for verdadeira:
4. MATERIAIS E METODOLOGIA
Para analisar peso e resistência dos materiais em rigor científico, foram feitos ensaios de
flexão na máquina SHIMADZU AG-X Plus 100kN, com amostras segundo os padrões internacionais
das normas ASTM D7264 e ASTM D790. Os testes foram feitos em três tipos diferentes de laminados
com poucas camadas, já que o objetivo principal era analisar materiais leves. Assim, os ensaios
foram em amostras de duas e três camadas de tecido fibra de vidro e amostras laminadas com 1
camada de tecido com 1 camada de manta de fibra de vidro.
A diferença entre manta e tecido está essencialmente na orientação das fibras. Enquanto o
tecido tem orientação ordenada, garantindo alta resistência, a manta possui fibras com arranjos
aleatórios, unidas em forma de lençol por ligantes. A Figura 2 apresenta a manta e o tecido de fibra
de vidro utilizados para a laminação das amostras.
Considerando que materiais compósitos fabricados manualmente por laminação quase nunca
possuem uniformidade em sua extensão, devido a falhas principalmente de erro humano, faz-se
necessário uma padronização do processo para conseguir igualar ao máximo as amostras e tornar
os resultados laboratoriais mais homogêneos. Para as análises no presente artigo, foram laminadas
o total de 90 espécimes, sendo que cada tipo de laminado teve três réplicas e, de cada réplica, foram
obtidas 10 amostras. Também foi mantido o mesmo operador para a laminação e a quantidade de
resina poliéster para as réplicas.
3 camadas de Tecido 3T 3 10 30 18 7
1 camada de manta + 1
MT 3 10 30 23 7
camada de Tecido
Após a laminação de cada réplica em placas, as amostras foram cortadas segundo a norma
ASTM D7264 no padrão de forma retangular, nas dimensões 130 mm x 13 mm. A Figura 3 apresenta
algumas amostras cortadas para serem ensaiadas. Por fim, foi escrito na própria amostra uma
designação para identificação no software.
Assim, foram feitos os ensaios, também padronizados pela norma ASTM D7264.
O ensaio de flexão foi de três pontos, ou seja, as amostras foram biapoiadas em roletes
separados por uma distância calculada através da norma ASTM D790, com a carga variável sendo
aplicada no centro da amostra. A velocidade da ponta aplicadora de carga foi mantida constante à
2 mm/min, que é a máxima permitida pela norma ASTM D790. A Figura 4 mostra o sistema durante
o ensaio para exemplificação.
A dimensão da distância entre os roletes (L0) foi padronizada através da norma ASTM D790.
De acordo com o item 7.5 (ASTM, 2007), para materiais compósitos laminados e altamente
anisotrópicos, o espaço entre os roletes deve ser calculado através de uma relação de 60:1 entre o
vão dos roletes (L0) e espessura média das amostras (e) de acordo com a Equação 5:
𝐿0 = 60 ∙ 𝑒 (5)
A espessura (e) foi calculada através da média aritmética de três medições ao longo de cada
amostra feita com paquímetro. As espessuras médias encontradas para cada tipo de laminado estão
dispostas na Tabela 5.
Os ensaios de flexão geraram as medições de tensão máxima suportada por cada amostra.
Com os dados obtidos, foi aplicado o critério de Chauvenet na amostragem. A aplicação do teste
bem como os resultados e discussões finais podem ser vistos a seguir.
Os dados da massa em gramas (g) e tensões em megapascal (MPa) das 90 amostras obtidas
nos ensaios estão dispostos a seguir, bem como a aplicação do critério de Chauvenet, descrito no
Item 3.2 deste artigo. Na nomenclatura da amostra, R1 e R2 representam a réplica na qual a amostra
faz parte; 2T, 3T e MT representam se a amostra foi laminada em camadas de fibra de vidro de 2
tecidos, 3 tecidos ou mista (manta e tecido), respectivamente; e o número ao final representa o
número dessa amostra dentro da réplica.
A Tabela 6, Tabela 7 e Tabela 8 apresentam, respectivamente, o critério aplicado para as
amostras de 2 tecidos, 3 tecidos e manta com tecido. Para o teste de Chauvenet, foram consideradas
as populações separadas dos tipos de laminado. Como todas as populações apresentaram 30 dados
(N = 30), o critério de rejeição (Rc) tem o valor padronizado de Rc = 2,39, como mostrado
anteriormente na Tabela 1. As tabelas com os testes para cada laminado estão apresentadas a
seguir, onde “N” é a quantidade de amostras, xi é o valor da amostra, “σ” é o desvio padrão, “𝑋̅” é
a média aritmética dos valores em xi e “r” é a fração dada pela Equação 1. O status da amostra foi
definido depois da aplicação da condição de rejeição estabelecida anteriormente na Equação 4.
Como é facilmente visualizado nas tabelas anteriores, nenhum valor de “r” excede o valor de
“Rc” para a população de 30 de pontos, portanto nenhum ponto precisa ser rejeitado. Com essa
análise, conclui-se que a população segue um bom padrão de distribuição normal gaussiana e que
a coleta de dados tem poucos erros devido à medição, além de que o controle do experimento está
suficiente para permitir boa confiabilidade de resultados.
Após o tratamento dos dados pelo método de Chauvenet, foram construídos os gráficos,
utilizando o Software Excel do pacote Microsoft Office, para melhor visualização comparativa
entre os três tipos de laminados testados, utilizando todos os pontos coletados já que nenhum dado
foi rejeitado segundo o critério estatístico. A Figura 5 e a Figura 6 representam, respectivamente,
os dados coletados de tensões suportadas e massa para os laminados em resina poliéster de 2
camadas de tecido (2T), 3 camadas de tecido (3T) e o laminado misto de 1 camada de tecido com 1
camada de manta de fibra de vidro (MT).
300
250
200
150
100
50
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Medições
2T 3T MT
2
Massa (g)
1,5
0,5
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Medições
2T 3T MT
Analisando o primeiro gráfico, é possível perceber, primeiramente, que as tensões têm grande
flutuação ao longo das medições. Isso já era esperado, porque sabe-se previamente que os
materiais compósitos podem ser altamente anisotrópicos. Porém, de modo geral, é visível que os
dados de tensão suportada para os laminados de 2 e 3 camadas de tecido tiveram certa
inconsistência se comparados com o laminado misto de manta e tecido.
A diferença no gráfico ocorre exatamente na mudança de réplica, como também é perceptível
pelos dados apresentados na Tabela 7 e Tabela 8, em que dentro de uma mesma réplica os dados
de tensão aparecem consistentes, porém quando se compara com outra réplica há disparidade nos
resultados.
Porém, analisando graficamente, é notável que o laminado de 3 camadas de tecido de fibra
de vidro tem uma tendência a suportar maiores tensões se comparado com os outros. O de 2 tecidos
possui os menores valores nas primeiras medições, como era de se esperar já que é o que possui
menos quantidade de fibra entre os laminados, mas tem um salto de dados nas últimas medições.
É razoável pensar que, nesse caso, a segunda réplica desse laminado conteve algum erro na
fabricação e seria necessário, possivelmente, fazer mais algumas réplicas para confirmar a hipótese
de que realmente o laminado com menor quantidade de fibra é o menos resistente.
O laminado misto de manta e tecido apresentou os dados mais consistentes e possibilitou a
noção de que essas amostras suportaram as menores tensões. Têm-se em tese que isso ocorreu
devido à quantidade de fibra utilizada, porém seria necessário a confirmação pelo ensaio de mais
réplicas.
Já pelo segundo gráfico, é possível perceber que as medições de massa foram
consideravelmente uniformes dentro dos dados de cada tipo de laminado. Isso mostra que o corte
das amostras foi mais próximo do padronizado, já que a massa está diretamente ligada com o
volume do espécime. É visível também que o laminado de 2 camadas de Tecido (2T) possui a menor
massa, o que era de se esperar já que teve a menor quantidade de material utilizado no processo
de fabricação. Vale ressaltar também que a quantidade de resina utilizada para laminar 3 camadas
de tecido foi menor que para laminar as camadas mistas, como mostrado na Tabela 2, o que é um
ponto positivo para os laminados em 3 tecidos já que se gasta menos do produto adesivo.
6. CONCLUSÕES
A utilização dos compósitos se torna cada vez mais necessária devido à sua capacidade de
associar boa resistência e baixo peso. Materiais mais leves que possam suportar grandes cargas são
vantajosos no sentido de alívio de massa e tensões, já que projetos desse tipo resultam em menos
esforços mecânicos não só para fabricação, mas também em questão de transporte e possibilidade
de falha.
O laminado fibra de vidro em resina poliéster é um dos materiais mais comuns nas aplicações
atuais por atrelar boa resistência, leveza e baixo custo ao ser comparado com outros tipos de
compósitos. Portanto, pesquisas focadas na observação do comportamento físico desse material se
fazem essenciais. Este artigo teve o objetivo de contribuir para fomentar o estudo da fibra de vidro
através da análise de três tipos de laminado em resina poliéster.
Neste trabalho, em uma análise geral, foi visível que laminados de 2 camadas de tecido de
fibra de vidro possuem menor peso e resistência se comparados com 3 camadas e camada mista.
As amostras mistas apresentam o maior peso, mas também maior resistência se comparado com a
de 3 tecidos, sendo que a discrepância de massa foi visivelmente bem baixa em relação à diferença
de tensão máxima suportada.
Tendo como base os resultados obtidos neste artigo e procurando boa relação entre peso e
tensão suportada, o material mais ideal dentre os três analisados é o laminado com 3 camadas de
fibra de vidro para aplicações que exigem certa resistência. Por fim, levando em consideração que
alguns resultados não foram consistentes, seria relevante futuramente investigar a causa das
dispersões e possivelmente fabricar mais réplicas para obter distribuições mais precisas nas
populações.
7. AGRADECIMENTOS
Primeiramente, ao orientador do projeto Milhas Gerais, Prof. Dr. Frederico Ozanan Neves,
agradecemos pela instrução e ensinamentos que possibilitaram a realização deste trabalho.
Também aos professores responsáveis pelo CITeC (Centro de Inovação e Tecnologias em
Compósitos) da Universidade Federal de São João del Rei (SJDR), Prof. Dr. Leandro José da Silva e
8. DIREITOS AUTORAIS.
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo das informações contidas neste artigo.
REFERÊNCIAS
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D790- Standard Test Methods for
Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating Material. New
York, ASTM, 2007.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D7264- Standard Test Methods for
Flexural Properties of Polymer Matrix Composite Material. New York, ASTM, 2007.
CALLISTER, W. D. Ciência e Engenharia dos Materiais: Uma Introdução. 5. ed., LTC, Rio de
Janeiro, Brasil, 589 p., 2002.
CAPELLA, M. C. et al. Propriedades Mecânicas em Laminados Fibras de Vidro e Fibra de
Carbono em Resina Epóxi. Anais do 20º Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais,
Vol.1, Joinville, SC, Brasil, pp. 11663-11671, 2012.
FICHA DE INFORMAÇÕES DE SEGURANÇA DE PRODUTO QUÍMICO (FISPQ) – Adesivo
para Laminação. 2015. Disponível em: < http://www.maxirubber.com.br/uploads/fispq/adesivo-para-
laminacao-maxi-rubber.pdf>. Acesso em: 18 set. 2017.
GEHLEN, L. R. Efeito da Utilização de Fibras Lignocelulósicas (Açaí e Curuá) em Compósitos
com Matriz de Resina Poliéster Insaturado. Dissertação de Mestrado em Engenharia e Ciência dos
Materiais- Universidade Federal do Paraná, 104 p., 2014.
HOLMAN, J.P. Experimental Methods for Engineers. 5. ed., McGraw-Hill, New York, USA,
1990.
ORLANDO A.F. Análise da Incerteza de Medição em um Processo Metrológico. Dissertação de
Mestrado em Metrologia, Qualidade e Inovação - Departamento de Engenharia Mecânica, PUC-Rio,
Rio de Janeiro, 2004.
SHIMADZU. AG-X Plus Series Dual Column Electromechanical Test Frame. Hardware
Specifications. Disponível em:
<http://www.ssi.shimadzu.com/products/product.cfm?product=testing_agxPlus_specifications>.
Acesso em: 18 ago. 2017.
(1) Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) - Departamento de Engenharia Mecânica – Praça Frei Orlando, 170, Centro, São
João del Rei, MG
ABSTRACT: Considering the importance of composites materials study, the present work sought to analyze
the strength and mass of fiberglass laminates with two and three layers of fabric and also mixed samples of
mats and fabric. The study was initially promoted by the need to apply fiberglass in the vehicular efficiency
prototype of Milhas Gerais team of the Federal University of São João del Rei (UFSJ), but the use of the results
here described can be applied in any other engineering area. For the analysis, mechanical bending tests of
90 samples were performed at the Center of Innovation and Technologies in Composites (CITeC) of UFSJ, in
the SHIMADZU AG-X Plus 100kN machine using as standard the International Standard ASTM D7264. An
important step in the analysis was the standardization of the samples, using the compression method, the
same curing time and amount of polyester resin for the three replicates made in each type of laminate. In
this way, it was possible to evaluate the maximum bending stress that the samples withstand and their mass,
being the objective to define the laminate that had good strength and low weight for future applications.
There was a treatment in the data obtained using the Chauvenet method, which seeks to exclude
measurements that are outside a standard range. According to the results, the material that best combined
tensile tolerance and lightness was the laminate of three fiberglass fabric layers. The research was important,
finally, to contribute to the studies of strength and weight in composites and, consequently, future
applications in engineering.