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Ensaio de fadiga por fretting: uma breve

revisão da literatura
Luiz Fernando Vieira Corrêa1,
¹ Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail
acadêmico: luiz.f.correa@edu.ufes.br.

Resumo: O presente trabalho fornece uma revisão da literatura sobre a temática da fadiga por
fretting. A norma E2789-10 da American Society for Testing and Materials (ASTM), que define os en-
saios de fadiga por fretting, é especialmente apresentada em paralelo com as contribuições teóricas
de outros autores sobre o assunto. São apresentadas as configurações de contato e de aparatos de
ensaio mais usuais. Ainda, apresenta-se a resposta do fretting como sistêmica e a forma como se
deve reportar os resultados dos ensaios diante disso.
Palavras chave: fadiga, fretting, ensaio, revisão.

Introdução Desenvolvimento

Garcia et al (2000) abordam a problemática da Segundo Garcia et al (2000), ao realizar-se um


ruptura por fadiga. Os autores a definem como a projeto de engenharia é necessário dispor de con-
falha sofrida por materiais, metálicos principal- hecimentos sobre o comportamento dos materiais
mente, expostos a tensões flutuantes ou cíclicas. disponíveis quando sob a ação de esforços. Essas
No geral, esse fenômeno ocorre em tensões muito informações são obtidas em ensaios mecânicos
inferiores ao limite de escoamento em tração geralmente normalizados.
uniaxial e após um longo período de serviço do
material. O comportamento dos materiais em A norma ASTM E2789-10 define procedi-
resposta aos esforços cíclicos ou flutuantes deve mentos para realização de ensaios de fadiga por
ser muito bem compreendido para um bom desen- fretting para materiais metálicos. Essa norma-
volvimento de projetos de engenharia, uma vez tização é importante, pois a fadiga por fretting
que trata-se de uma falha imprevisível que pode é uma resposta sistêmica. Isto é, não apenas o
gerar danos catastróficos. material em questão mas todo o ambiente em que
os ensaios são realizados interferem nos resultados
obtidos. Desta forma, todos os parâmetros críticos
Um caso especial de fadiga é a fadiga por para a fadiga por fretting devem ser especificados,
fretting. Hutchings (1999) define fretting como garantindo que os ensaios sejam replicáveis e
um movimento oscilatório de baixa amplitude comparáveis em diferentes laboratórios.
entre as superfícies sólidas de dois materiais. O
autor enuncia que o processo de fretting diminui Os parâmetros observados, tais quais o mate-
a resistência à fadiga dos materiais e define fadiga rial utilizado, a carga aplicada e a geometria da
por fretting como a falha por fadiga associada ao peça, são controlados nos ensaios de fadiga por
fenômeno de fretting. fretting a fim de determinar seus efeitos sobre o
comportamento. Ainda, esses ensaios podem ser
O presente trabalho busca realizar uma revisão aplicados com objetivo de averiguar a efetividade
da literatura do tipo narrativa sobre o tema da da aplicação de substâncias que visam mitigar a
fadiga por fretting. Colheu-se trabalhos acadêmi- geração e desenvolvimentos de trincas.
cos publicados e disponíveis na internet, em es-
pecial a norma ASTM E2789-10, para elaboração
deste texto. As obras foram lidas e analisadas e o A figura 1 apresenta os mapas de fretting. Esses
resultado está apresentado nas seções seguintes. diagramas são úteis para determinar o mecanismo

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Fig. 2. Formas de contato entre corpo-de-prova e suporte. Fonte: ASTM E2789-10.

Fig. 1. Mapas de fretting. Fonte: ASTM E2789-10.

de degradação do material em função da carga


normal e amplitude do deslocamento oscilatório.
No mapa denominado material response fretting
map é possível visualizar a região de cracking.
Nessa região, a fadiga por fretting é o mecanismo
dominante de falha do material. Pode-se utilizar
de ensaios puramente de fretting para identificar
em qual dos três regimes dos mapas de fretting o
material, nas condições especificadas, se encontra.

Nos ensaios de fadiga por fretting pode-se


adotar três diferentes formas de contato entre o
corpo-de-prova e o suporte, como evidenciado na Fig. 3. Configurações mais usuais do aparato de ensaio. Fonte: ASTM E2789-10.
figura 2. Os dois primeiros fornecem uma geome-
tria de contato cuja teoria está bem fundamentada resposta sistêmica, é sensível a tais características.
na teoria de Hertz. Contudo, caso o desgaste seja Para simular adequadamente as condições de
relevante, os corpos começam a apresentar um trabalho do material, recomenda-se que os pro-
contato conformal. A terceira forma de contato cessos de fabricação da peça sejam reproduzidos
é a plana. As mudanças na geometria de contato na fabricação do corpo-de-prova. Ainda, deve-se
devem ser reportadas, uma vez que o fenômeno da tomar o cuidado de limpar o material antes do
fadiga por fretting é sensível a tais alterações. ensaio.

As principais estruturas de ensaio de fadiga por Por ser uma resposta sistêmica, e não unica-
fretting estão apresentadas na figura 3. Cada um mente do material estudado, o máximo possível
deles objetiva estudar um dos regimes exibidos na de condições do ambiente de realização do ensaio
figura 1. Em cada uma dessas estruturas, a ampli- devem ser fornecidos junto aos resultados obtidos.
tude de deslocamento e a carga normal devem ser Isso inclui os processos de fabricação do corpo-
devidamente controladas. de-prova e do suporte, as medidas quantitativas de
topografia de superfície, uma descrição detalhada
Como em vários outros ensaios de materiais, do aparato utilizado e características físicas dos
as condições de superfície devem receber devida materiais em contato. Condições ambientes, como
atenção. A fadiga por fretting, por se tratar de uma umidade e temperatura, também devem ser apre-
sentadas.

Mecanismos de desgaste estão associados com


o movimento de fretting. Esse desgaste deve ser
levado em consideração nas análises dos ensaios,
pois modifica a forma de contato entre as super-
fícies e a acumulação dos detritos gerados nesse
processo podem influenciar na força normal. Infor-
mações valiosas, como a especificação dos regimes
de fretting da figura 1, podem ser extraídas de im-
agens da morfologia dos materiais após o ensaio.

Considerações finais
O desenvolvimento deste trabalho trouxe à tona
a complexidade e o rigor necessário nos ensaios
de fadiga por fretting. O estudo desse mecan-
ismo de falha, por estar presente em diversos pro-
jetos mecânicos, é de grande importância, princi-
palmente na formação de engenheiros. Devido ao
seu caráter sistêmico, a apresentação dos resulta-
dos deve ser a mais completa possível a fim de
garantir a repetibilidade dos ensaios. Informações
construtivas do corpo de prova e do aparato, carac-
terísticas morfológicas e topográficas e condições
ambientes devem constar na exposição dos resulta-
dos dos ensaios.

Referências
ASTM E2789-10(2015), Standard Guide for
Fretting Fatigue Testing, ASTM International,
West Conshohocken, PA, 2015, www.astm.org.

GARCIA, A.; SPIM, J. A.; SANTOS, C. A.


Ensaios dos Materiais. Rio de Janeiro (RJ): LTC -
livros técnicos e científicos, 2000. p.119-127.

HUTCHINGS, I. M. Tribology: friction and


wear of engineering materials. 5 ed. London:
Arnold; 1999. 273 p.

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