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FACULDADE UNA DE CATALÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Modelagem Analítica e Numérica de Propagação de Ondas Dinâmicas


em Estruturas de Fundações do Tipo Estacas Aplicadas ao Pile Integrity
Test
Maria Angélica da Silva e Thalia do Nascimento de Lucena de Melo
Universidade UNA de Catalão – Campus Santa Cruz
Davidson de Oliveira França Júnior; Professor Orientador, Curso de Engenharia Civil
mariaangelica2015@hotmail.com; thalia.lucena10@hotmail.com

Resumo
Patologia das construções é a área da engenharia civil que identifica, estuda e analisa as causas das
manifestações patológicas de uma edificação. Para se prevenir da ocorrência de manifestações patológicas
em fundações profundas pode ser realizado o ensaio de integridade Pile Integrity test (PIT). Tal ensaio
consiste na avaliação da integridade estrutural do elemento de fundação através da análise de ondas que
propagam ao longo da estrutura, ou seja, o seu princípio de realização tem fundamento consistente em
conceitos na dinâmica das estruturas. A dinâmica das estruturas é uma área da engenharia que envolve
conceitos de vibrações livres e vibrações forçadas, representada por grande parte das diferentes cargas que
são aplicadas nas estruturas. Analisar a resposta dinâmica de estruturas é uma tarefa que envolve um certo
grau de complexidade, e para tal pode ser utilizado o Método dos Elementos Finitos (MEF), que se trata de
um método numérico que resolve problemas de equações diferenciais através de métodos numéricos
algébricos aproximados. O MEF é amplamente utilizado em análises estruturais estáticas e dinâmicas, na
qual o software ANSYS pode ser utilizado para tal. Tendo em vista tais fenômenos, o objetivo deste trabalho
foi modelar fundações profundas do tipo estacas através de uma metodologia progressiva de análise.
Incialmente foram simuladas cargas estáticas aplicadas na estaca, tendo seus resultados numéricos
comparados com a teoria analítica clássica de resistência dos materiais (Lei de Hooke). Posteriormente foi
feita uma análise dinâmica em vibrações livres, com o intuito de se identificar as propriedades dinâmicas
(frequências naturais e modos de vibração) do elemento de fundação. A análise de vibração livre obtida pelo
MEF foi comparada com a teoria analítica da dinâmica estrutural. Por fim, com as modelagens validadas, uma
carga impulsiva simulando o impacto de um martelo na cabeça da estaca foi aplicada no modelo numérico,
com intuito de compreender a aplicabilidade do ensaio PIT e as ondas de tensão no elemento estrutural,
apresentando de uma forma numérica. Os resultados das análises são explorados em termos de
deslocamentos, deformações, tensões, frequências naturais, modos de vibração e espectros de frequência.
Os resultados se mostraram satisfatórios quando comparados com as formulações analíticas e as análises
realizadas foram validadas. A análise numérica do ensaio PIT foi satisfatória e os resultados podem ser
expandidos a casos mais complexos de análise. Portanto, afirma-se que este trabalho contribui em um
contexto de simulações numéricas aplicadas no campo da dinâmica estrutural.

Palavra-Chave: Patologia de Fundações, Pile Integrity Test, Método dos Elementos Finitos e Análise Estrutural.

Abstract
Construction pathology is the area of civil engineering that identifies, studies and analyzes the causes of pathological
manifestations in a building. To prevent the occurrence of pathological manifestations in deep foundations the Pile
Integrity test (PIT) integrity test can be performed. This test consists of evaluating the structural integrity of the foundation
element through the analysis of waves that propagate along the structure, that is, its realization principle is based on
consistent concepts in the dynamics of structures. The dynamics of structures is an engineering area that involves concepts
of free vibrations and forced vibrations, represented by a large part of the different loads that are applied to the structures.
Analyzing the dynamic response of structures is a task that involves a certain degree of complexity, and for this the Finite
Element Method (FEM) can be used, that it is a numerical method that solves problems of differential equations using
approximate algebraic numerical methods. The MEF is widely used in static and dynamic structural analyses, in which
ANSYS software can be used for this. In view of such phenomena, the objective of this work was to model deep pile
foundations through a progressive methodology of analysis. Initially, static loads applied to the pile were simulated, and
their numerical results were compared with the classical analytical theory of strength of materials (Hooke's Law).
Subsequently, a dynamic analysis was carried out in free vibrations, in order to identify the dynamic properties (natural
frequencies and modes of vibration) of the foundation element. The free vibration analysis obtained by MEF was
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compared with the analytical theory of structural dynamics. Finally, with the validated models an impulsive load
simulating the impact of a hammer on the pile head was applied in the numerical model, in order to understand the
applicability of the PIT test and the stress waves in the structural element, presenting it in a numerical way. The analysis
results are explored in terms of displacements, strains, stresses, natural frequencies, vibration modes and frequency
spectra. The results were satisfactory when compared with the analytical formulations and the analyzes performed were
validated. The numerical analysis of the PIT assay was satisfactory and the results can be expanded to more complex
analysis cases. Therefore, it is stated that this work contributes in a context of numerical simulations applied in the field
of structural dynamics.

Keywords: Foundation Pathology, Pile Integrity Test, Finite Element Method and Structural Analysis.

1. INTRODUÇÃO
Patologia das construções é a área da engenharia civil que identifica, estuda e
analisa as causas das manifestações patológicas de uma determinada estrutura/edificação.
Manifestações patológicas são as degradações identificadas na edificação, que indicam
anormalidades em seus componentes que podem afetar aspectos estruturais e/ou
estéticos. De uma forma generalizada, os tipos de patologias provêm de origens distintas,
podendo ser classificadas como: patologia das estruturas de concreto armado, de
fundações, revestimentos, impermeabilizações e alvenarias (ZUCHETTI, 2015).
Fundações são elementos estruturais, cuja função é transmitir as cargas da estrutura
para o solo, fazendo assim, a interação solo-estrutura. Quanto a profundidade da cota de
apoio, as fundações podem ser divididas em rasas ou profundas. As rasas com
profundidade de até 3 metros e as profundas maiores que 3 metros. Além desta
classificação, existem mais duas classificações das fundações: diretas e indiretas, que
diferem entre si a forma como o solo recebe esta carga. Nas fundações do tipo diretas, a
carga recebida é distribuída pela base, enquanto nas indiretas, pode ser distribuída pela
base, pela superfície lateral ou por uma combinação de ambas (FERREIRA, 2016).
O solo possui uma estrutura não-linear, com grandes variações em suas
propriedades físicas e mecânicas, favorecendo a ocorrência de deformações e variações
de volume, que provocam deslocamentos das fundações, ocasionando os chamados
recalques. O recalque pode causar manifestações patológicas, pois, conforme ele acontece
a resistência ao deslizamento diminui, causando movimentações na estrutura, e assim,
gerando fissuras e, consequentemente, alterando a distribuição de esforços na estrutura.
Segundo Milititsky et al. (2015), as manifestações em fundações podem surgir devido a
deficiências na fase de estudo do solo, de elaboração de projeto, durante a execução e/ou
pós- execução.
Para inibir a possibilidade de manifestações patológicas relacionadas a fundações
indiretas e profundas, existem ensaios que podem ser realizados para avaliar se a fundação
está executada corretamente ou se apresenta alguma falha. Os ensaios mais usuais são a
prova de carga estática (PCE), que como o próprio nome já diz, é um teste que verifica se
a estrutura suporta a carga dimensionada, e o Pile Integrity Test (PIT), que é um teste
realizado para verificar a integridade da estrutura. Ambos são ensaios não destrutivos.
A prova de carga estática, é um ensaio normatizado pela ABNT NBR 16903/2020 e
é realizado para determinar a capacidade de carga de uma estaca, onde são aplicados
esforços estáticos crescentes à estaca, e assim, verificado os deslocamentos acometidos.
É necessário a montagem “in loco” de uma estrutura com vigas metálicas rígidas para
aplicação da carga de ensaio com macaco hidráulico, exigindo a necessidade de um grande
aparato experimental a ser montado cuidadosamente.
O Pile Integrity Test (PIT), é um ensaio que ainda não possui normatização
específica no Brasil, mas para a realização seguem-se as recomendações da norma ASTM
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D5882. O PIT é realizado para avaliar a integridade estrutural das estacas, que possibilita
detectar falhas na concretagem, (desde bicheiras, fissuras e afunilamento), falha na
armadura, alargamento da seção transversal, verificar o comprimento e diâmetro da estaca,
todas variáveis avaliadas tendo por base a velocidade de propagação da onda no material.
É um ensaio de baixo custo e rápida execução, pois para realização do mesmo é necessário
martelo instrumental e acelerômetro.
O PIT consiste basicamente no posicionamento de um acelerômetro de alta
sensibilidade no topo da estaca, preparado para receber as ondas de tensões, provenientes
da aplicação de golpes sobre a estaca, que se propagam pela estrutura e sofrem reflexões
(retorno da onda dinâmica a origem), devido à variação de impedância da estaca
(PASQUAL,2018).
A compreensão dos diferentes tipos de ondas, que podem ser ondas de compressão,
cisalhamento ou ondas Rayleigh, bem como a velocidade e amplitude destas ondas são
fatores que influenciam o entendimento da propagação da onda dinâmica em um meio
elástico. Durante a reflexão das ondas dinâmicas, as alterações no material da estaca, ou
qualquer dano, causam variações nestas reflexões (diferentes tempos de retorno das
ondas), originam refrações (mudanças no meio de propagação) e proporcionam a difração
da onda dinâmica (modificações na direção da onda), (PASQUAL, 2018).
Nesse sentido, o PIT trata-se de um ensaio que tem essência no campo da dinâmica
estrutural, estudado por diversos pesquisadores, tais como podemos mencionar os
trabalhos de Pasqual (2018), que desenvolveu modelos por elementos finitos que permitem
a simulação numérica do ensaio PIT, e analisou os aspectos que afetam o ensaio. Sinhorini
(2017), que estudou a avaliação de integridade de estacas de concreto através do PIT,
abordou as limitações e simplificações adotadas durante a modelagem.
As ações dinâmicas, segundo Clough (2003), são carregamentos em que a
magnitude, a direção e a posição podem variar ao longo do tempo. Desta forma, as
respostas da estrutura (deslocamentos, acelerações etc.) também variam com o tempo e
algumas destas podem ser acima do previsto no cálculo estático. As cargas dinâmicas
podem ser originadas a partir da ação da natureza (sismos, ventos etc.) ou devidas ações
humanas (veículos, equipamentos, movimentação de pessoas etc.), impondo assim uma
análise estrutural característica para cada caso e, consequentemente, um respectivo
comportamento da estrutura.
Uma das técnicas numéricas mais empregadas para análise estrutural estática e
dinâmica é o método dos elementos finitos (MEF), no qual possibilita a resolução das
equações governantes do problema através de procedimentos numéricos. Realizar uma
simulação numérica pelo MEF envolve conceitos complexos que devem ser tratados e
investigados minunciosamente (SORIANO, 2009).

1.1. OBJETIVO

Tendo em vista a importância do ensaio PIT na avaliação da integridade estrutural


de fundações profundas, bem como a investigação de suas variáveis na área dinâmica
estrutural por métodos numéricos, este trabalho tem por objetivo realizar uma análise
estrutural analítica e numérica das características estáticas e dinâmicas em fundações
profundas do tipo estacas, bem como avaliar as propagações de ondas dinâmicas que
contribuem no entendimento do ensaio PIT.
Assim, o método dos elementos finitos (MEF), por meio do software ANSYS, é
utilizado para a análise estrutural e a modelagem é validada através da formulação clássica
da estática e da dinâmica das estruturas. As simulações envolvem apenas o elemento
estrutural da estaca, representado por um meio elástico linear integro sem danos. Apenas
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a estaca é modelada, uma vez que o solo não é incorporado neste trabalho. Por fim,
destaca-se que os resultados são explorados em termos de deslocamentos, deformações,
tensões, frequências naturais, deformadas modais (modos de vibração) e espectro de
frequências das ondas dinâmicas na estrutura.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. FUNDAÇÕES PROFUNDAS

De acordo com a NBR 6122/2019, fundação profunda é o elemento de fundação que


transmite a carga ao terreno, ou pela base (resistência de ponta) ou por sua superfície
lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas, sendo sua ponta ou base
apoiada em uma profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta e no
mínimo 3 metros. Quando não for atingido o limite de oito vezes, a denominação é mesmo
assim justificada. Neste tipo de fundação incluem-se as estacas e os tubulões.
Estaca é um elemento de fundação profunda, executado por equipamentos sem que,
em qualquer fase de execução haja descida de operário. Já o tubulão é um elemento de
fundação cilíndrico, em que, pelo menos na sua etapa final, há descida de operário,
podendo ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido, e ter ou não base alargada. (NBR
6122). Atualmente, o tipo mais usado na construção em geral, é a estaca.
Podemos distinguir os tipos de estacas de acordo com seu tipo de material, sendo
ele, aço, concreto (podendo ser pré-moldada ou moldada in loco), madeira, ou misto (aço
e concreto). De acordo com Sinhorini (2017), ainda podemos distingui-las quanto a seu tipo
de execução, sendo os principais, estacas de deslocamento, estacas escavadas, estacas
cravadas e estacas fabricadas in loco.
Na figura a seguir, é apresentado o mecanismo de funcionamento de uma estaca
profunda, indicando onde ocorre a resistência de ponta, e a resistência lateral.

Figura 1 - Mecanismo do funcionamento de uma fundação profunda (AMÂNCIO, 2013).

Tanto a resistência lateral (RL) como a resistência de ponta (RP), são fundamentais
para os cálculos de capacidade de carga, sendo utilizados na fase de dimensionamento da
estaca tendo por base um laudo de sondagem. Durante a fase de projeto e execução de
fundações, diversas são as etapas e variáveis envolvidas. No item 2.2, explicitamos as
principais manifestações patológicas aplicadas em fundações profundas, objeto de estudo
neste trabalho.

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2.2. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS FUNDAÇÕES

Uma fundação adequada é aquela que apresenta conveniente fator de segurança à


ruptura (da estrutura que a compõe e do solo afetado pela transmissão das cargas) e
recalques (deslocamentos verticais do solo) compatíveis com o funcionamento do elemento
suportado. Pode-se afirmar que todas as fundações sob carga apresentam recalques, pois
os solos são materiais deformáveis que, ao serem carregados, apresentam variações de
volume, provocando deslocamentos das fundações. (MILITITSKY ET AL. 2015).
Se um elemento da fundação se desloca e outro não, temos então, o recalque
diferencial. Caso o deslocamento ocorra em todos os elementos, trata-se de um recalque
total. As principais manifestações devido ao recalque da estrutura são as fissuras e trincas,
podendo indicar danos arquitetônicos, danos funcionais ou até estruturais. (MILITITSKY ET
AL. 2015).
Milititsky et al. (2015) afirmam também que a maioria das causas de manifestações
patológicas nas fundações (Figura 2) ocorrem por falta de investigação do subsolo, eventos
pós-conclusão da obra (acréscimos de cargas não previstas), na fase de análise e projeto
(determinação das cargas atuantes, dimensionamento e desconsideração do atrito
negativo), e por fim, erros que são cometidos na execução. O autor também aponta a
maioria das manifestações patológicas encontrados especificamente quanto a execução de
fundações profundas do tipo estacas, conforme também apresenta a Figura 2.

(a) – Principais causas de patologias em fundações (b) Principais manifestações em estruturas de


estacas
Figura 2 – Análise das Manifestações Patológicas (Milititsky et al., 2015).

Ao abordar especificamente as fundações do tipo profundas e indiretas,


caracterizadas pelas estacas, Milititsky et al. (2015) apontam que as principais falhas na
execução ocorrem devido ao uso de materiais inadequados, erros de locação, erros no
arrasamento das estacas, no comprimento insuficiente, falhas de concretagem que
originam vazios em seu corpo (fuste ou ponta) causando estrangulamento, fissuras
excessivas no elemento estrutural, e ainda, a quebra ou desvio da estaca durante a
cravação, como pode ser observado na Figura 3, que demonstra alguns dos erros
cometidos na execução.

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(a) Apoio excêntrico em estaca pré- moldada (b) Falta de vinculação entre estaca e bloco

(c) Armadura danificada no processo de cravação (d) Desvio durante a execução


Figura 3 - Patologias em fundações profundas (Milititsky et al.2015)

Portanto, a investigação de possíveis danos na estrutura da estaca, logo após seu


período de cura, faz-se necessária, uma vez que, descobrindo logo no início possíveis
erros/ falhas na estaca, é possível tomar uma atitude corretiva e minimizar danos
patológicos futuros, garantindo o melhor desempenho possível da fundação e da estrutura.
Para se identificar diversos problemas nas estacas pode-se realizar o ensaio do PIT,
descrito no item 2.3.

2.3. PILE INTEGRITY TESTING (PIT)

De acordo com Sinhorini (2017), o Pile Integrity Test (PIT), é um teste de integridade
de estacas, trata-se de um ensaio dinâmico de baixa deformação que pode ser executado
tanto em estacas tipo hélice contínua, estacas moldadas in loco ou pré-fabricadas. O ensaio
detecta defeitos como fissuras significativas, redução no diâmetro e descontinuidades ao
longo do fuste e pode ser utilizado para determinação do comprimento de estacas
executadas ou pré-existentes.
Segundo Pasqual (2018), antes de iniciar o ensaio, deve-se obter algumas
informações acerca da estrutura analisada. Deve-se checar o diâmetro da estaca no topo,
obter dados da concretagem, como data, traço do concreto, a armadura projetada e
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executada. Depois, prosseguir nivelando o topo da estaca para evitar que qualquer
microfissura ou contaminação altere a transmissão da onda ao longo do fuste.
O ensaio consiste em golpes, aplicados por um martelo na estrutura, mais
precisamente no topo da estaca, gerando ondas acústicas longitudinais. Essas ondas são
ondas de compressão que se propagam pelo fuste, sofrem reflexão na ponta e retornam ao
topo da estaca. Caso haja alguma variação na estrutura a reflexão das ondas sofrem
alterações e são possíveis de se identificar. Essas ondas são captadas por um sensor,
geralmente, utiliza-se um acelerômetro, que fica acoplado no topo da estaca e
posteriormente, são convertidos a sinais elétricos para fazer as devidas análises
(SINHORINI,2017).
Para maior precisão de dados, comumente é realizado várias vezes o ensaio, no
mínimo três vezes, para fazer uma média dos resultados obtidos pelo equipamento. Na
Figura 4, é mostrado um exemplo da disposição dos equipamentos para realização do
ensaio.

Figura 4 - Representação esquemática do ensaio PIT (Sinhorini,2017)

No Brasil, a norma NBR 6122/2019 dispõe sobre execução de ensaios dinâmicos,


porém, não há regulamentação sobre o ensaio PIT. Tal ensaio é regulamentado por uma
norma internacional, ASTM (American Society for Testing and Materials) através da norma
ASTM D5882:2013. A norma trata sobre o procedimento para determinar a integridade de
estacas individuais que estejam posicionadas verticalmente ou inclinadas pela medição e
análise da velocidade e da força (opcional) induzida por um impacto através de um martelo
portátil (SINHORINI, 2017).
O PIT é um ensaio de baixo custo, necessitando apenas de três equipamentos,
sendo eles, o martelo, o sensor (acelerômetro) e o processador de dados. A norma prevê
algumas recomendações para execução do ensaio. De acordo com a ASTM D5882:2013,
a fixação do acelerômetro deve ser feita em local afastado do perímetro da seção
transversal da estaca, sendo que para estacas com diâmetro superior a 50 cm, é
recomendada a instalação em 3 locais diferentes para uma análise mais completa, e deve
ser conectado ao processador de dados.
O golpe é aplicado na vertical, no topo da estaca, a uma distância menor que 300
mm do sensor. O golpe deve ter duração em torno de 1 ms, sem danificar a estaca. A
velocidade é obtida através da integração do sinal receptado no acelerômetro, os dados
são armazenados no processador, para depois fazer as análises. A Figura 5 abaixo
representa a execução do ensaio.

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(a) Estacas preparadas e prontas para ensaio (b) Execução do ensaio PIT
Figura 5 - Preparação da estaca e execução do ensaio PIT (Guedes, 2018; Andraos, 2009).

A partir do entendimento físico da execução do ensaio PIT, pode-se observar que o


princípio do ensaio tem origem no campo da dinâmica estrutural. Para se alcançar o objetivo
proposto neste trabalho, é discorrida nos itens 2.4 e 2.5 sobre as formulações aplicadas na
análise estática e dinâmica das estruturas, respectivamente. Tais formulações são
fundamentais para validações da metodologia proposta neste trabalho.

2.4. FORMULAÇÃO ANALÍTICA ESTÁTICA DE BARRAS SOB ESFORÇO AXIAL

O problema de estacas no geral, é que as estacas de fundação são carregadas


axialmente. Elas podem estar submetidas a outros esforços como cisalhamento, flexão,
mas em geral, o dimensionamento de fundações é preponderante para o cálculo e efeito
das forças axiais, sejam estacas tracionadas, ou na maioria das vezes, comprimidas. O
problema de uma estaca simplificada e considerada como um meio homogêneo linear-
elástico, pode ser representada por um elemento de barra submetida a carga axial que é
regida pela resistência dos materiais, regida pela lei de Hooke, a qual é demonstrada pela
figura 6 a seguir.

(a) Deslocamento e forças em um elemento de barra (b) Princípio de Saint-Venant


Figura 6 – Efeitos em barras sob esforços axiais (Adaptada de Hibbeler, 2010).

Para barras submetidas a carregamentos axiais, rege o princípio de Saint Venant.


Segundo Hibbeler (2010), este princípio afirma que a tensão e deformação produzidas em
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pontos de um corpo suficientemente distantes da região da aplicação da carga serão iguais
à tensão e à deformação produzidas por quaisquer carregamentos aplicados que tenham
a mesma resultante estaticamente equivalente e sejam aplicados ao corpo dentro da
mesma região. Então para barras submetidas a carregamento axial, partindo da lei de
Hooke, sabemos que, a tensão e deformação no elemento são dadas por:
𝑃(𝑦)
𝜎= (2.1)
𝐴(𝑦)

𝑑𝛿
𝜖= (2.2)
𝑑𝑦
Onde:
σ é a tensão de compressão ou de tração em uma seção da barra;
P(y) é a força axial interna na seção, localizada a distância y de uma extremidade
que pode ser variável (uma função) ou constante;
A(y) é a área da seção transversal da barra, expressa variável em função de y e que
pode ser constante;
dδ= deslocamento de alongamento ou encurtamento de um ponto na barra.

Podemos relacionar as tensões e deformações usando a Lei de Hooke, dada por:

𝜎 = 𝐸𝜖 (2.3)

Em que E é o módulo de elasticidade do material. Substituindo a Eq. (2.1) e a Eq.


(2.2) na Lei de Hooke Eq. (2.3), temos:
𝑃(𝑦) 𝑑𝛿
=𝐸 (2.4)
𝐴(𝑦) 𝑑𝑦
Assim, o alongamento ou encurtamento da barra, em termos do elemento diferencial,
é dado por:
𝑃(𝑦)
𝑑𝛿 = 𝑑𝑦 (2.5)
𝐸𝐴(𝑦)
Para uma barra de seção transversal constante (A=cte) e carregamentos pontuais
constantes (P=cte), ou seja, não distribuídos ao longo da barra, a Eq. (2.5) pode ser
integrada no comprimento da barra (L), apresentado na Eq. (2.6), e assim, o deslocamento
de alongamento ou encurtamento final da barra (δ) é representado pela Eq. (2.7).
𝐿
𝑃
𝑑𝛿 = ∫ 𝑑𝑦 (2.6)
0 𝐸𝐴
𝑃𝐿
𝛿= (2.7)
𝐸𝐴

Tendo em vista a formulação da estática apresentada, neste trabalho, é utilizada


para validar as estacas modeladas através do MEF como comparativo na análise estática
no primeiro momento. A formulação empregada pelo método dos elementos finitos para
análise estática e apresentada no item 2.6 a seguir.

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2.5. ANÁLISE DINÂMICA DE ESTRUTURAS

Clough (2003) afirma que o termo dinâmica pode ser definido como variável no
tempo. Assim, uma carga dinâmica é qualquer carga cuja magnitude, direção e/ou posição
varia com o tempo. Portanto, as tensões e deflexões resultantes a estas cargas, também
variam com o tempo. Há duas formas de se avaliar a resposta estrutural a cargas dinâmicas
determinística e não determinística, dependendo de como o carregamento é definido. Se a
variação da carga com o tempo é conhecida, se trata de uma carga dinâmica prescrita, a
análise será determinística. Porém, se a variação da carga ao longo do tempo não for
conhecida, trata-se de um carregamento dinâmico aleatório, portanto, análise não
determinística. Em geral, a resposta estrutural a qualquer carregamento dinâmico é então,
expressa em termos de deslocamentos, deformações, tensões, frequências naturais e
modos de vibração da estrutura.
Praticamente todo tipo de sistema estrutural pode estar sujeito a um carregamento
dinâmico. Para uma visão analítica, é possível dividir as cargas em duas categorias básicas:
periódicas, onde ocorre a mesma variação no tempo por um grande número de ciclos, e
não periódicas, em que as variações no tempo ocorrem a todo ciclo. A figura 7 detalha
alguns tipos destas cargas.

Figura 7 - Características e fontes de carregamentos dinâmicos típicos. (Adaptada de Clough,


2003).

Na Figura 7, a imagem (a), trata-se de uma carga periódica, e tem como exemplo
uma máquina rotativa desequilibrada no edifício. A imagem (b) também mostra uma carga
periódica, e apresenta um exemplo de hélice girando na popa do navio. Já as imagens (c)
e (d), são cargas não periódicas, tendo como exemplos, para (c), pressão de explosão de
uma bomba na edificação, e para caso (d), terremoto no tanque de água.

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As cargas não periódicas podem ser cargas impulsivas de curta duração ou
formas gerais de cargas de longa duração. Uma explosão é uma fonte típica de carga
impulsiva. Para essas cargas de curta duração, podem ser empregadas formas
simplificadas especiais de análise. Por outro lado, um carregamento geral de longa
duração, como de um terremoto só pode ser tratado por procedimentos de análise dinâmica
completamente gerais (CHOPRA,1995).
A carga impulsiva se enquadra como carga não periódica. Essa carga consiste em
um único impulso principal de forma arbitrária, e tem curta duração. Cargas impulsivas são
importantes no projeto de certas classes de sistemas estruturais, como veículos, ponte
rolante, etc. O amortecimento tem menos relevância no controle da resposta máxima de
uma estrutura para carga impulsiva, que para cargas periódicas, pois a resposta máxima
será alcançada em tempo muito curto, antes que as forças de amortecimento absorvam
muita energia da estrutura (CLOUGH 2003). As cargas modeladas neste trabalho, são
cargas de curta duração, de acordo com o objetivo do trabalho.
As propriedades físicas essenciais de qualquer estrutura linearmente elástica,
sistema sujeito a um carregamento dinâmico são sua massa, propriedades elásticas
(flexibilidade ou rigidez) e mecanismo de perda de energia ou amortecimento. No modelo
mostrado abaixo (Figura 8), cada uma dessas propriedades é considerada concentrada em
um único elemento físico. Toda massa deste sistema está incluída no bloco rígido que é
restringido por rolos de modo que só pode se mover em translação simples, assim, a única
coordenada de deslocamento v(t) define sua posição. A resistência elástica para
deslocamento é fornecida pela mola leve de rigidez k, enquanto a perda de energia é
representada pelo amortecedor c. Já o carregamento dinâmico externo é a força variável
no tempo p(t).

Figura 8- Sistema dinâmico idealizado (Clough,2003).

A fórmula geral para casos dinâmicos, é dada pela somatória de equilíbrio: ∑Fx=0

−𝐹𝑎(𝑡) − 𝐹𝑒(𝑡) − 𝐹𝑖(𝑡) + 𝑝(𝑡) = 0 (2.8)

Ou na sua forma clássica:

𝐹𝑎(𝑡) + 𝐹𝑒(𝑡) + 𝐹𝑖(𝑡) = 𝑝(𝑡) (2.9)

Onde, Fa(t) é a força de amortecimento em função do tempo, Fe é força elástica na


mola em função do tempo, Fi é a força inercial da massa da estrutura em função do tempo
e p(t) é a força externa de um carregamento externo em função do tempo. As forças são
representadas por:
𝐹𝑎(𝑡) = 𝑐. 𝑣̇ (𝑡) (2.10)

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𝐹𝑒(𝑡) = 𝐾𝑒 . 𝑣(𝑡) (2.11)

𝐹𝑖(𝑡) = 𝑚 . 𝑣̈ (𝑡) (2.12)


Onde c é a constante de amortecimento, 𝑣̇ (𝑡) é a velocidade da estrutura, Ke a rigidez
da estrutura (mola), v(t) o deslocamento da estrutura, m a massa da estrutura e 𝑣̈ (𝑡) a
aceleração da estrutura. Substituindo as equações (2.10) a (2.12) na equação (2.9), temos
a equação de geral de equilíbrio dinâmico, dada por:

𝐶. 𝑣̇ (𝑡) + 𝐾𝑒 . 𝑣(𝑡) + 𝑚 . 𝑣̈ (𝑡) = 𝑝(𝑡) (2.13)

Existem várias formas para resolver a equação de movimento dinâmico representada


pela equação (2.13) com todas as variáveis contidas nela. Entretanto, o primeiro
procedimento em qualquer análise dinâmica, independentemente do tipo de carregamento
externo dinâmico aplicado, consiste em determinar inicialmente as características
dinâmicas de uma estrutura em termos de suas frequências naturais e modos de vibração.
Para isto, é realizada uma análise em vibrações livres não amortecidas, pois com isso pode-
se determinar os parâmetros citados (frequências e modos de vibração) e, uma vez
conhecidos tais parâmetros, pode-se proceder a resolução da equação governante
completa Eq. (2.13) sob qualquer carregamento externo. Assim, o item 2.5.1 apresenta a
resolução da equação para vibrações livres não amortecidas.

2.5.1. Análise em vibrações livres não amortecida

Quando se faz este tipo de análise, não considera o amortecimento estrutural, e nem
a carga externa, ou seja, c=0 e P(t)=0, pois o objetivo é encontrar as frequências naturais
e modos de vibração da própria estrutura (propriedades relacionadas e semelhantes a
rigidez e massa – propriedades da estrutura), portanto a Eq. (2.13), é reescrita por:

𝐾𝑒 . 𝑣(𝑡) + 𝑚 . 𝑣̈ (𝑡) = 0 (2.14)

Para resolver esta equação diferencial, pode-se assumir os deslocamentos da


estrutura representados por uma função senoidal, sendo que tal adoção expressam a
situação dinâmica durante a vibração, em que a estrutura sai da posição de equilíbrio se
desloca no sentido positivo ou negativo do eixo, ao chegar em seu máximo deslocamento
a estrutura se deforma no sentido oposto ao do movimento, passando pelo ponto de
equilíbrio. A função senoidal que representam os deslocamentos é aplicada em diversas
estruturas, como por exemplo, edifícios (vigas, pilares ou lajes), pontes, barragens, entre
outras. A forma de assumir os deslocamentos e sua respectiva analogia é representada
através da Eq. (2.15) e da Figura 9.

𝑣(𝑡) = 𝐴 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) (2.15)

Onde: A é a amplitude de deslocamentos, ω é a frequência natural e t é o tempo.

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Figura 9 – Deslocamentos assumidos por função senoidal (Adaptada de Clough, 2003).

Através da Figura 9 pode-se observar o comportamento dos deslocamentos em


função do tempo, podendo os deslocamentos ter um valor inicial V(0) no tempo conforme
na figura ou não. A frequência natural (ω) tem relação com o período de vibração da
estrutura (T), ou seja, o período é o tempo para que a onda realize um ciclo completo (2π).
Assim, com os deslocamentos assumidos pela forma senoidal, sabe-se que a velocidade é
derivada do deslocamento e que a aceleração é a derivada da velocidade, respectivamente
dadas por:

𝑑𝑣
𝑣̇ (𝑡) = = 𝐴 . 𝜔 . cos(𝜔𝑡) (2.16)
𝑑𝑡

𝑑2 𝑣
= −𝐴 . 𝜔2 . sen(𝜔𝑡)
𝑣̈ (𝑡) = (2.17)
𝑑𝑡 2
Uma vez dispondo das funções de deslocamento e aceleração (Eq. 2.15 e Eq. 2.17)
estas podem ser substituídas na equação diferencial (Eq. 2.14). A equação pode ser
reescrita na forma:

𝐾𝑒 . 𝐴 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) + 𝑚 . [−𝐴. 𝜔². 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡)] = 0 (2.18)

Desenvolvendo os termos da Eq. (2.18), chega-se a um problema de autovalor e


autovetor dado pela Eq. (2.19), em que os autovalores são as frequências naturais e os
autovetores os modos de vibração u(t). É válido salientar que os autovalores são expressos
em Rad/s ou Hz e os autovetores são adimensionais, pois representam apenas as
amplitudes de deslocamentos da estrutura, ou seja, seus modos de vibração.

𝑢(𝑡). [−𝑚. 𝜔² + 𝐾𝑒 ] = 0 (2.19)

Como sabe-se que u(t)≠0, então para ser válida a relação, a parcela [−𝑚. 𝜔² + 𝐾𝑒 ]
da Eq. (2.19) deve ser igual a zero, dada por:
−𝑚. 𝜔² + 𝐾𝑒 = 0 (2.20)
Isolando os termos, a fórmula da frequência natural geral para qualquer sistema
dinâmico é dada por:
𝐾𝑒
𝜔=√ (2.21)
𝑚

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Dispondo da frequência natural, os modos de vibração (autovetores) são
determinados pela Eq. (2.15), ou seja, para cada frequência natural da estrutura existe um
respectivo modo de vibração. A formulação apresentada trata-se de uma forma geral para
qualquer problema dinâmico. A formulação apresentada é empregada também pelo
software ANSYS na sua forma matricial. Entretanto, o problema de vibração exclusivamente
no sentido axial em uma barra é discorrido no item 2.5.2.

2.5.2. Ações Dinâmicas em Barras Na Direção Axial

Para vibrações de barras na direção axial, deve-se avaliar o sistema apresentado na


Figura 10.

Figura 10 – Diagrama de barra sob carga dinâmica axial (ANDRÉS, 2008)

Partindo do equilíbrio de forças na direção horizontal, a equação dinâmica que


governa o problema de barras submetidas a esforço axial em vibrações livres é dada por:
𝜕2 𝑢 𝜕2 𝑢
𝐸𝐴𝑆 . 2
− 𝑚. =0 (2.22)
𝜕𝑥 𝜕𝑡 2
Onde E é o módulo de elasticidade, As é a área da seção transversal, m a massa da
estrutura, u o deslocamento. Ao resolver a equação diferencial para o problema da barra
apoiada em uma extremidade e livre em outra (semelhante o problema da estaca), Pedroso
(2005) traz que a solução da Eq. (2.22) em termos de frequências naturais e modos de
vibração axiais da barra é dada pela Eq. 2.23 e Eq. 2.24:

𝜆𝑖 𝐸
𝜔= √ (2.23)
2𝜋𝐿 𝜌

𝜋(2𝑖−1)
𝜆𝑖 = para i=1,2,3... (2.24)
2

𝜋(2𝑖−1) 𝑥
𝑢(𝑥) = 𝑠𝑒𝑛 ( ) para i=1,2,3... (2.25)
2

Onde ρ é a massa específica do material, λi é o parâmetro de frequência que está


relacionado aos modos de vibração i, ou seja, quando i=1 têm-se a 1o frequência e 1o modo,
para i=2 tem-se a 2o frequência e 2o modo, e assim, sucessivamente.
A forma de vibração é representada por u(x). Tal formulação é fundamental para
análise das características dinâmicas da estrutura da estaca. No caso da estaca o problema
é o mesmo, porém na vertical.

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2.6. MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)

Soriano (2009) traz que o Método dos Elementos Finitos (MEF) tem como objetivo
modelar um sistema complexo por um número finito de elementos mais simples, ou seja,
resolver um problema de equações diferenciais através de métodos numéricos, e assim
obter uma aproximação do sistema a partir dos vários elementos agrupados. Podem ser
empregados em análises diversos programas computacionais, como exemplo, os softwares
ANSYS®, NASTRAN®, COSMOS®, ABAQUS®, ALGOR®, SAP® E ADINA®.
Neste estudo em específico, é utilizado o software ANSYS®, software este que
permite simular casos complexos. O desenvolvimento de softwares vem crescendo muito,
isto porque a engenharia cresce mais a cada dia, e programas computacionais como este
possibilitam análises de estruturas com mais rapidez. Porém, as modelagens devem ser
tratadas com atenção e as formulações matemáticas, quando disponíveis, ou
procedimentos similares devem servir sempre para validação dos modelos feitos
computacionalmente. Diante a um problema de análise de estruturas, e havendo um
software intuitivo, é perfeitamente acessível a um projetista a obtenção de resultados
plausíveis, desde que modelagem ande fielmente em acordo com a base teórica.
Embora o método dos elementos finitos considere os elementos individuais como
contínuos, no seu propósito, um procedimento de discretização pois exprime os
deslocamentos e deformações da estrutura a ser estudada. Sua ideia central é discretizar
o domínio, mesmo que de forma aproximada, por um grande número finito de elementos.
De acordo com Soriano (2009) esses elementos são interconectados através de
pontos nodais em seus contornos e, os infinitos pontos do modelo matemático contínuo são
substituídos por um número finito de pontos, o que é chamado de processo de discretização
do modelo matemático contínuo. Sendo assim, esse modelo matemático, que por sua vez
já é aproximado ao sistema físico, tem seu comportamento determinado com aproximação
adicional através de um modelo discreto do MEF, mostrado na figura 11.

Figura 11- Esquema de análise de um sistema físico idealizado como contínuo (Soriano,2009)

Como aponta Soriano (2009), a forma dos elementos a serem escolhidos para
caracterizar as discretizações de um sistema, é definida conforme o domínio em análise,
buscando aproximar às condições geométricas e mecânicas de contorno. Os elementos
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podem assumir diversas formas e padrões, podendo ser unidimensionais, bidimensionais e
tridimensionais, com uma variedade de formas padrões e com números distintos de pontos
nodais em seus lados e faces. Além do mais, existem elementos especiais para simular
comportamentos físicos particulares, como exemplo as placas e cascas laminadas, de
contato, de concreto armado e de domínio semi-infinitos.
Segundo Felippa (2001), para iniciar o processo de discretização, deve-se começar
com a substituição dos infinitos pontos nodais do modelo matemático contínuo por um
número finitos de pontos. Isto, sob uma condição matemática que assegure que a solução
aproximada obtida convirja para a solução do modelo matemático original, na medida que
reduz o tamanho dos elementos.
Os pontos nodais e os elementos das malhas precisam ter posições propriamente
definidas. Na figura 12 a localização de cada ponto nodal da malha é definida por um
referencial global XYZ e a posição de cada elemento da malha é especificado por meio de
correspondência entre a numeração local de seus pontos nodais, afirma Soriano (2009), e
ainda recorda que essa correspondência é denominada incidência, conectividade ou
topologia do elemento e é expressa através de uma matriz de incidência ou de
conectividade.

Figura 12 - Malha de elementos e a sua conectividade dos nós (Soriano,2009).

Com base na Figura 12 é possível observar que no encontro entre elementos finitos
ocorre a conectividade dos nós, e ainda, cada elemento possui as suas funções
interpoladoras que são funções aproximadas que quando reunidas em um sistema matricial
global fornece a resolução do problema. A formulação empregada pelo ANSYS para
resolução da análise estrutural estática é dada por:
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{𝐹} = [𝐾]{𝑈} (2.26)

Onde:
[K] é a matriz de rigidez global;
{F} é o vetor global de forças nodais;
{U} é o vetor global de deslocamentos nodais.

A formulação dinâmica empregada pelo ANSYS para resolução da análise estrutural


dinâmica em vibrações livres não amortecidas é a mesma apresentada na Equação (2.13),
porém devido a quantidade de elementos finitos a solução é tida na forma matricial, ou seja,
matrizes estas que englobam a massa e rigidez de cada elemento finito. A formulação na
forma matricial é dada por:

[𝐾𝑒 ] . {𝑣(𝑡)} + [𝑚] . {𝑣̈ (𝑡)} = {0} (2.27)

Em que: [Ke] é a matriz de rigidez, {v(t)} é o vetor de deslocamentos, [m] é a matriz de


massa e {𝑣̈ (𝑡)} é o vetor de aceleração da estrutura. Todas as formulações citadas foram
empregadas neste trabalho. No item 3 é apresentado a metodologia.

3. METODOLOGIA
Inicialmente, para realização deste trabalho, foi realizado um estudo teórico sobre
fundações e suas patologias, levantamento dos trabalhos existentes acerca do ensaio PIT,
método dos elementos finitos (MEF), e por fim, análise estrutural em barras submetidas a
carregamentos estáticos e dinâmicos.
Após a compreensão de todos esses fundamentos e respectivas formulações, foram
iniciadas as modelagens numéricas através do software ANSYS. O software foi adquirido
através da licença estudantil.
Para chegar ao objetivo proposto, uma metodologia progressiva foi feita neste
trabalho, inicialmente pela análise estática e posteriormente a análise dinâmica. Foram
modelados 05 casos de estacas de concreto, com propriedades físicas e mecânicas iguais,
de módulo de elasticidade de 24GPa, coeficiente de Poisson 0,2 e densidade de 2500
kg/m3. Os parâmetros citados foram assumidos com base no item 8.2.8 da NBR 6118/2014
para um concreto com resistência característica a compressão fck de 25 MPa e agregado
graúdo do tipo granito.
Conforme citado, o objetivo deste trabalho é analisar as características estáticas e
dinâmicas (vibrações livres e propagações de ondas) somente no próprio material da estaca
integra, então as estacas foram assumidas com condição de contorno simplesmente
apoiadas na base, simulando uma alta resistência de ponta e devido à complexidade das
análises foi desconsiderado a interação com o solo. A Figura 13 apresenta as dimensões
geométricas, as cargas aplicadas e parâmetros do caso 1 ao caso 5 em análise.

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Figura 13 – Casos estudados com dimensões geométricas, malha e cargas aplicadas.

Conforme observado na figura, para o caso 1, foi modelado uma estaca circular, com
dimensões de 0,30 m de diâmetro e 8 m de comprimento. Foi aplicada uma carga
relativamente alta na cabeça da estaca de 80 toneladas, com o intuito de produzir maiores
respostas estruturais (deslocamentos, deformações e tensões). A carga aplicada no topo
da estaca foi na forma de pressão, para que assim não fosse introduzida nenhuma
concentração de tensão em relação a um lançamento por carga pontuais nodais.
Em seguida, foi realizada o lançamento da malha de elementos finitos utilizando o
elemento finito volumétrico SOLID186 do ANSYS. Tal elemento possui 8 nós e reproduziu
adequadamente todas as análises realizadas neste trabalho. Com isso, procedeu-se o
estudo numérico pelo MEF, através do ANSYS, da análise estrutural estática e os valores
obtidos para os deslocamentos, deformações e tensões normais axiais foram comparados
com formulação analítica. Logo após, foi plotado os resultados do comportamento estático
da estrutura e seus respectivos gráficos.
Esta análise numérica e analítica estática se repetiu denominada de caso 2, porém
alternando as dimensões da estaca, sendo, portanto, agora neste caso uma estaca
quadrada, com dimensões de 0,25 m x 0,25 m de seção transversal e de profundidade x 8
m de comprimento. A forma de aplicação e magnitude da carga aplicada de 80 toneladas,
bem como o tipo de elemento finito (SOLID186) foram mantidos os mesmos em relação ao
caso 1.
Com a modelagem validada para o caso estático foi possível proceder a análise
dinâmica em vibração livre para determinar as características vibratórias das estacas
circular e quadrada, denominadas agora caso 3 e caso 4, respectivamente.

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Para o caso 03, foi modelado novamente à estaca circular, com as mesmas
dimensões, propriedades físicas e mecânicas do caso 01, porém foi realizada uma análise
dinâmica de vibração livre, desconsiderando qualquer tipo de carga, em que apenas a
massa de peso próprio da estrutura é levada em consideração. A condição de contorno se
manteve simplesmente apoiada na base e livre no topo. Com a abordagem numérica
realizada foi possível comparar os valores de frequências naturais e modos de vibração
axiais (deformadas modais) para as três primeiras frequências e modos.
Vale ressaltar que em uma análise dinâmica as primeiras frequências são as mais
importantes para o projeto, pois produzem as maiores respostas na estrutura
(deslocamentos, deformações e tensões). Com tal análise, foi plotado os gráficos e tabelas
comparativas para os três modos de vibração estudados. A mesma análise dinâmica em
vibração livre se repete no denominado caso 04, porém alterando o formato da estaca para
quadrada, com as mesmas dimensões, propriedades físicas e mecânicas do caso 2.
Com as modelagens dos casos 1, 2, 3 e 4 validadas tanto para a análise estática
quanto para análise dinâmica em vibrações livres, foi possível proceder uma análise
dinâmica com carga impulsiva, denominada caso 5. Por possuírem resposta dinâmica axial
semelhantes e independente da geometria, para a carga impulsiva a geometria escolhida
foi a mesma estaca quadrada (caso 2 e 4).
Assim sendo, conforme citado, para o caso 5, foi realizada modelagem numérica
dinâmica, de carga impulsiva, simulando o impacto do martelo na cabeça da estaca
quadrada, com as mesmas dimensões do caso 2 e 4. A estrutura foi mantida simplesmente
apoiada na ponta, e a força do martelo idealizada foi de 100 Newtons, aplicada no centro
da cabeça da estaca, e de duração de 1 ms (0,001 segundo). O formato da carga de
impacto assumido pode ser visualizado na figura 14 abaixo.

Figura 14 – Carga de Impacto aplicada na cabeça da estaca.

Com a aplicação da carga de impacto no modelo numérico, os resultados dos


deslocamentos, deformações e tensões foram extraídas em função do espectro de
frequência até após a primeira frequência, ou seja, resultados extraídos de 0 a 100Hz, uma
vez que as frequências do primeiro modo se mantiveram nessa faixa. Os valores numéricos
se mostraram condizentes com o efeito e as ondas dinâmicas na estaca foram extraídas
para título de entendimento do fenômeno dinâmico.

4. RESULTADOS
Neste tópico é discorrido sobre os resultados das análises, sendo para os casos 1 e
2, da análise estática, para os casos 3 e 4, da análise dinâmica (vibração livre), e por fim,
caso 5 (análise dinâmica com carga impulsiva).
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4.1. ANÁLISE ESTÁTICA

Na análise dos resultados para situação estática foi aplicado a carga estática de 80
toneladas para a estaca de seção circular (caso 1) e para a estaca de seção quadrada
(caso 2), na qual foram obtidos os seguintes resultados de deslocamentos, deformações e
tensões máximas, através da formulação analítica, e por meio do MEF. Os resultados são
apresentados na tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Resultados da Análise Estática para os Casos 1 e 2.


Deslocamentos ∆L (m) Deformações ε (m/m) Tensões normais σy (Pa)
Caso ∆L (m) ∆L (m) ε (m/m) ε(m/m) σy (Pa) Erro
Erro (%) Erro (%) σy (Pa) MEF
Analítico MEF analítica MEF analítica (%)
1 0,003772 0,003771 0,026 0,0471 0,0473 0,424 11317684,84 11300000,00 0,156
2 0,004266 0,004265 0,023 0,0530 0,0550 3,773 12800000,00 12800000,00 0

Através da tabela acima, pode-se observar que para ambos os casos, os resultados
de deslocamentos de encurtamento na estaca foram próximos, bem como, os valores de
deformação e tensão de compressão. Assim, pode-se afirmar que a modelagem e a
utilização das formulações foram empregadas de forma correta, validando a análise estática
e a discretização da malha pelo MEF. Para uma melhor compreensão do comportamento
estrutural estático da estaca, foram extraídos diagramas que pode ser visualizado na figura
15 abaixo.

(a) Deslocamentos numéricos de encurtamento

(b) Deformações numéricas de encurtamento

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(c) Tensões numéricas de compressão


Figura 15 – Resultados do Comportamento Estático para o Caso 1 (Seção Circular).

Ao analisar as figuras acima, é visto que os deslocamentos estáticos variam


linearmente, tendo valor máximo na extremidade livre (topo da estaca) e valor igual a zero
na ponta. Tal efeito condiz com a teoria da lei de Hooke para barras axiais. Os valores de
deformação seguem a mesma tendência da Lei de Hooke e a taxa de deformação
apresenta valor constante.
As tensões de compressão apresentaram valores constantes e condizem com o
princípio de Saint Venant ao longo do fuste da estaca. Na parte superior da estaca, a carga
de 80 toneladas foi aplicada superficialmente na forma de pressão e se distribuem
igualitariamente na cabeça da estaca. Entretanto, ao observar as tensões na parte inferior
do gráfico, que correspondente a base da estaca, é possível ver que as tensões aumentam
um pouco naquela região. Tal efeito é explicado porque naquele local foram inseridos os
apoios nos nós, ou seja, as reações de apoio que surgem são aplicadas na estaca de forma
pontual e geram estes acrescimentos de tensão.
Diante disso, o princípio de Saint Venant também pode ser observado, pois existe
uma relação entre os resultados obtidos neste trecho e a figura 6 apresentada na
fundamentação teórica, uma vez que na região de acréscimos de tensão na ponta da
estaca, estas não se distribuem de forma igualitária na seção porque a carga pontual citada
distorce as retas aplicadas próximas perto dos apoios. De maneira análoga ao caso 1, os
resultados para estaca de seção quadrada (caso 2), podem ser visualizados abaixo.

(a) Deslocamentos numéricos de encurtamento

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(b) Deformações numéricas de encurtamento

(c) Tensões numéricas de encurtamento


Figura 16 – Resultados do Comportamento Estático para o Caso 2 (Seção Quadrada).

Através dos gráficos e imagens apresentados na figura 16 acima, os efeitos de


deslocamento, deformação e tensão na estaca de seção quadrada se repete, entretanto,
possuem valores diferentes devido a rigidez axial (EA) ser distinta em relação ao caso 1.
Uma vez que a modelagem estática foi validada através das formulações, pode-se proceder
a análise dinâmica em vibrações livres, denominados casos 3 e 4, sendo apresentados no
tópico abaixo.

4.2. ANÁLISE DINÂMICA EM VIBRAÇÃO LIVRE

Na determinação dos resultados dos casos 3 e 4, foi avaliada a resposta dinâmica


das estacas em vibração livre, em que, a massa e a rigidez da estaca refletem as
características vibratórias da estrutura da estaca. As três primeiras frequências naturais
axiais e seus respectivos modos de vibração foram obtidos através da formulação dinâmica
e por meio do MEF. Foram analisadas apenas as três primeiras frequências axiais devido
ao fato das menores frequências (as mais baixas) produzirem os maiores efeitos dinâmicos
(amplitude de deslocamentos). Os resultados são apresentados na tabela 2 abaixo.

Tabela 2 – Resultados da Análise Dinâmica das Frequências Naturais (ωn) para os Casos 3 e 4.
Caso 3 Caso 4
Modo de ωn (Hz) ωn (Hz) Modo de ωn (Hz) ωn (Hz)
Erro (%) Erro (%)
Vibração Analítico MEF Vibração Analítico MEF
1º 96,8245 96,8674 0,044 1º 96,8245 96,8675 0,044
2º 290,4737 290,582 0,037 2º 290,4737 290,584 0,037
3º 484,1229 484,237 0,023 3º 484,1229 484,245 0,025

Com base na tabela 2, é nítido que os resultados obtidos pela formulação analítica
e pelo MEF são próximos, confirmando a correta modelagem e a validação da análise. Os
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valores das frequências naturais das estacas de seção circular e quadrada foram idênticos,
sendo tal fato explicado por apenas as variáveis de elasticidade e massa específica,
influenciarem na resposta dinâmica. A parcela √𝐸 ⁄𝜌 da equação 2.23 corresponde a
velocidade de propagação da onda dinâmica na estrutura, então, como a estaca tem a
mesma elasticidade e massa específica, a resposta dinâmica axial é a mesma e a área da
seção transversal não influencia nos modos axiais da estrutura. Na figura 17 abaixo, são
apresentados os três modos de vibração para as respectivas frequências naturais da tabela
4. Os gráficos são os resultados analíticos e a figura em mapa de calor, os resultados do
MEF.

(a) 1o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).

(a) 2o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).

(b) 3o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).


Figura 17- Resultados dos três modos de vibração do caso 3.

Através das figuras acima, pode-se observar os três primeiros modos de vibração
axial da estaca de seção circular. O primeiro modo, corresponde a uma vibração que alonga
ou encurta à estaca em todo seu comprimento, tendo amplitude de deslocamento nulo na
ponta. A amplitude do deslocamento na análise dinâmica é um número adimensional, pois
representam apenas a forma de vibrar da estrutura, ou seja, os autovetores.

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O segundo modo de vibração é um modo que alonga e encurta à estaca em metade
do seu comprimento, ou seja, podendo representar o alongamento do ½ do comprimento
superior da estaca e um encurtamento do ½ do comprimento inferior da estaca ao mesmo
tempo, ou vice-versa. Tal modo de vibração pode ser idealizado como duas molas
acopladas em série, em que uma mola alonga e a outra encurta, ou vice-versa.
O terceiro modo de vibração também é um modo que alonga e encurta à estaca,
porém, o alongamento representa 1⁄3 do comprimento e encurtando em 2/3 do comprimento
da estrutura, ou vice-versa. Os modos de vibração da estaca no caso 4 é apresentada a
seguir.

(a) 1o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).

(b) 2o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).

(c) 3o modo de vibração analítico (gráfico) e numérico (diagrama cores).


Figura 18- Resultados dos três modos de vibração do caso 4.

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Analisando as imagens acima, é possível verificar que as deformações ocorridas na
estaca de seção quadrada seguiram a mesma tendência das deformadas do caso 03 de
seção circular.

4.3. ANÁLISE DINÂMICA FORÇADA (CARGA IMPULSIVA)

Na análise do caso 5, foi aplicada uma carga impulsiva de 100 N no centro da estaca.
Esta força de 100 N representa a carga do golpe de um martelo de 10 kg, simulando o
impacto causado pelo mesmo, em um ensaio PIT. Por possuir as mesmas características
vibratórias axiais, a estaca modelada foi de seção retangular. Após a aplicação da carga
impulsiva, as modelagens e gráfico apresentados a seguir, mostram a propagação das
ondas dinâmicas. As ondas propagando são visualizadas nas imagens da esquerda para
direita, ou seja, da cabeça da estaca para a ponta.

Figura 19 – Propagação das ondas numéricas na estaca ao golpe do martelo no ensaio PIT.
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Através das imagens acima, pode-se observar como ocorre a propagação das ondas
quando a estrutura sofre uma carga impulsiva, neste caso, o golpe do martelo. A
propagação acontece de forma decrescente, as ondas vão se propagando do topo da
estaca e refletem na fronteira. Na imagem a seguir, é possível analisar a saída da onda na
estrutura no momento do impacto do martelo.

Figura 20– Análise na saída da onda no ponto de aplicação da carga de impacto.

Na imagem acima é possível observar de forma ampliada como ocorre a saída da


onda no ponto de aplicação da carga, que foi o centro da cabeça da estaca. A carga do
martelo é aplicada em um ponto pequeno da estaca, portanto, essa onda se propaga e sai
em uma forma geométrica irregular e a partir de uma certa distância ela fica constante na
seção até atingir o limite inferior da estrutura e retornar a origem.
Neste estudo foi modelada apenas a estrutura da estaca e os resultados servem de
base para análises mais complexas, pois caso o efeito do solo seja incorporado o fenômeno
é mais difícil de ser entendido, pois com o solo as propagações podem se modificar, ou
seja, as ondas podem sofrer além das reflexões (diferentes tempos de retorno das ondas)
diferentes, surgem refrações (mudanças no meio de propagação) e difração da onda
dinâmica (modificações na direção da onda).
Em seguida, temos os gráficos em relação aos deslocamentos, deformações e
tensões em função da faixa de frequência que envolve o primeiro modo (0 a 100Hz). Para
uma melhor representação e visualização dos valores, os gráficos são apresentados de 80
a 110Hz, uma vez que de 0 a 80 Hz não houve modificações nos valores.

(a) Deslocamentos de encurtamento (b) Deformações de encurtamento

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(c) Tensões de Compressão Devido a Carga do Martelo


Figura 21 – Resultados Numéricos da Análise Dinâmica para Carga Impulsiva (Caso 5).

Com base na análise dos gráficos apresentados acima, nota-se que os máximos
deslocamentos e tensões ocorrem na frequência de 96,7Hz, confirmando a teoria da
dinâmica das estruturas, em que quando sob qualquer ação externa as máximas tensões
dinâmicas estarão na ressonância, ou seja, exatamente nas frequências naturais da
estrutura. Os valores de máximas deformações também estarão na ressonância, porém em
valores alternados muito pequenos.
Ao realizar o cálculo analítico para a carga do martelo caso fosse aplicada de forma
estática, os valores de tensão em uma situação estática é de 1600 Pascal (Pa). As máximas
tensões dinâmicas devido a aplicação do martelo têm valores de 11920 Pa e não coincidem
com as tensões estáticas citadas (1600PA), ou seja, as ondas de tensão no caso dinâmico
propagam em valores muito maiores devido ao fato da carga ser aplicada em um curto
intervalo de tempo (1ms) e produzem um efeito mais crítico na estrutura, o que também
condiz com a teoria da dinâmica estrutural.

5. CONCLUSÃO
Esse trabalho abordou análise estática de barras sob esforço axial, onde foram
obtidos resultados em relação a deslocamentos, deformações e tensões, bem como análise
dinâmica, compreendendo as vibrações livres e quando imposta uma carga impulsiva.
Com as análises estáticas, apresentadas nos casos 1 e 2, pode-se concluir que as
modelagens realizadas através do ANSYS, pelo Método dos Elementos Finitos (MEF),
foram condizentes com a teoria de resistência dos materiais, onde os resultados obtidos
tiveram pequena diferença entre si e forneceram um entendimento maior sobre o
comportamento estrutural destas estruturas.
A modelagem em um software de elementos finitos é uma tarefa difícil, pois envolve
conceitos complexos e análises minuciosas. Portanto, o presente trabalho forneceu um bom
embasamento teórico também referente a utilização desse software.
Quanto as análises dinâmicas em vibrações livres, apresentadas nos casos 3 e 4, os
resultados numéricos também quando comparados as formulações analíticas
apresentaram pequenas diferenças. Entender conceitos iniciais sobre dinâmica das
estruturas, que é um campo complexo da engenharia estrutural, forneceu um embasamento
inicial para grande parte de problemas de engenharia, uma vez que a maioria das cargas
nas estruturas também são de origem dinâmica.
Nesse sentido, para o caso 05, análise dinâmica com carga impulsiva, foi possível
compreender o princípio teórico do ensaio PIT através do entendimento de propagação de
ondas em um meio elástico.
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Por fim, afirma-se que os resultados abordados neste trabalho foram satisfatórios e
as análises podem ser estendidas a casos mais complexos sobre a temática, ou seja, pode
ser sugerido para trabalhos futuros: análises incorporando na modelagem o comportamento
do solo; realizar e avaliar o cálculo da velocidade da propagação da onda; realizar as
modelagens para outros tipos de estacas quanto ao material (metálicas) ou com variações
de seção transversal; realizar um estudo comparativo com a carga impulsiva de um bate
estacas para simular as tensões durante a cravação das estacas; entre outros.

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