DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO:

UTILIZADO NO DIMENSIONAMENTO DE VIGAS

DE CONCRETO ARMADO

Lauro Henrique Ferreira Costa Vasconcelos1, Wisner Coimbra De Paula2

RESUMO
O dimensionamento detalhamento das vigas de concreto armado (CA) é um dos temas
estudados na disciplina de concreto armado I durante o curso de graduação em
Engenharia Civil, sendo estes cálculos, lentos e iterativos quando realizados
manualmente. Durante o processo de aprendizado, surgem dúvidas pertinentes aos
referidos dimensionamentos junto aos graduandos, por isso há necessidade de
verificações dos resultados obtidos por etapas, a fim de possibilitar com precisão os
cálculos posteriores. Nesse sentido a pesquisa teve como objetivo desenvolver um
aplicativo computacional didático, sendo específico para auxiliar os graduandos de
Engenharia Civil, de forma a possibilitar a verificação por etapas do dimensionamento
das armaduras longitudinais de vigas de CA. A fim de demonstrar a capacidade de
utilização do aplicativo e discutir os resultados obtidos, utilizou-se um exemplo
numérico proposto por Carvalho e Figueiredo (2014), no qual se analisou a as condições
que garante a ductilidade de uma viga de CA.

Palavras-chave: detalhamento; didático; aprendizado; software.

ABSTRACT
The detailed sizing of the reinforced concrete beams (AC) is one of the topics studied in
the discipline of reinforced concrete I during the undergraduate course in Civil
Engineering, these calculations being slow and iterative when performed manually.
During the learning process, there are questions related to the said dimensions with the
undergraduates, so there is a need to verify the results obtained in stages, in order to
accurately provide the subsequent calculations. In this sense, the research had as
objective to develop a didactic computational application, being specific to assist the
undergraduate students of Civil Engineering, in order to enable the verification by
stages of the dimensioning of the longitudinal reinforcement of CA beams. In order to
demonstrate the usability of the application and to discuss the obtained results, a
numerical example was proposed by Carvalho and Figueiredo (2014), in which the
conditions that guarantee the ductility of an AC beam were analyzed.

Keyword: detailed; didactic; learning; software.

1 Graduando em Engenharia Civil, Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS; lauro.vasconcelos@hotmail.com

2 Prof. Ms. e Coordenador do curso de Engenharia Civil, Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS; wisnercp@yahoo.com.br.
 INTRODUÇÃO
As estruturas de concreto armado (CA)
são de grande relevância na Engenharia Civil,
sendo muito empregadas nas construções.
Existem quatro elementos estruturais básicos
que são frequentemente utilizados para
sustentação de uma edificação desta
modalidade: lajes, vigas, pilares e fundações,
dentre os quais, destacam-se as vigas, objeto
de estudo deste artigo.
Vigas são elementos lineares sujeitas a
esforços de flexão, torção e cisalhamento,
sendo a flexão preponderante aos demais. Sua
função é receber as ações de outras vigas,
lajes, alvenarias das paredes e eventualmente
de pilares. Podem fazer parte de pórticos
responsáveis por garantir estabilidade global
da estrutura, resistindo a esforços de vento
entre outros (NIMY, 2014).
No que se refere ao aprendizado do
graduando em Engenharia Civil, é comum
perceber sua dificuldade em dimensionar de
modo otimizado as estruturas de concreto, e
compreender todos os dispositivos impostos
pela norma ABNT NBR 6118 (2014) “Projeto
de Estruturas de Concreto – Procedimento”, os
quais visam estabelecer condições de
segurança, conforto e durabilidade.
Os programas computacionais estão cada
vez mais presentes no cotidiano dos profis-
sionais da área de engenharia, de forma a
propiciar soluções rápidas para dimensiona-
mentos comumente complexos nos cálculos
manuais (OLIVEIRA, 2014). Porém, é de
suma importância ao aluno conhecer os
fundamentos das equações utilizadas por estes
aplicativos, pois assim ele poderá identificar
possíveis erros e dimensionar uma estrutura de
forma econômica e segura.
Alguns softwares gratuitos para cálculo de
vigas já estão disponíveis no meio eletrônico,
como por exemplo: programas de dimensiona-
mento C.A. da UNESP e o PrjFlex. Entretanto
estes aplicativos estão desatualizados
conforme as novas preconizações da norma
vigente. Por outro lado, existem outros
atualizados, no entanto não possuem uma
versão completa gratuita, além disso, a maioria
deles tem como foco principal demonstrar o
resultado final, não permitindo aos graduandos
um aproveitamento eficiente para o seu
processo de aprendizagem.
Portanto torna-se necessário e de grande
importância criar uma ferramenta didática e
atualizada, de maneira a viabilizar as diversas
possibilidades de cálculos estruturais das vigas
de CA, que atenda as expectativas e apresente
soluções para as possíveis dúvidas dos
discentes ou profissionais da área.
Diante do exposto, o objetivo desta
pesquisa foi desenvolver um software didático
com base na plataforma do ACCESS 2007,
denominado VIGAFLEX, com o intuito de
suprir as deficiências anteriormente citadas.
Tal sistema foi elaborado, por meio do Projeto
PICIB/FAPEMIG 01/2016 realizado no Centro
Universitário de Lavras (UNILAVRAS), cuja
função principal é realizar o dimensionamento
de armaduras longitudinais de flexão simples
para seções retangulares e seção do tipo “T”,
atendendo os requisitos da ABNT NBR
6118(2014) em seus Estados Limites Últimos
(ELU), sendo este programa limitado à
utilização de cálculos para concretos de fck
(resistência característica do concreto à
compressão) menores e ou iguais a 50 Mega
Pascal (MPa).
Durante a elaboração do VIGAFLEX,
com intuito de validar suas respostas, foi
realizado e discutido neste artigo o passo a
passo da resolução de um exemplo numérico
disponível na literatura de referência.
REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Branco Netto e Schuvart
(2007), “dentre as tecnologias computacionais
utilizadas como base para o desenvolvimento
de ambientes virtuais de ensino, tem-se a
Inteligência Artificial (IA), mais especifica-
mente a área de Sistemas Tutores Inteligentes
(STI)”.
No seguimento da IA aplicada como
suporte para o desenvolvimento do ambiente
de ensino-aprendizagem são denominadas STI,
ferramentas de ensino computacionais que
buscam utilizar algumas das práticas
cognitivas dos alunos e empregar esses
resultados como base para as decisões
pedagógicas a serem decididas no
desenvolvimento de problemas (GIRAFFA,
2003).
A norma de concreto armado
A ABNT NBR 6118 (2014) apresenta
requisitos básicos para elaboração de um
projeto de concreto simples, armado e
protendido, sejam elas de edifícios, pontes
viadutos, obras hidráulicas, arcos, silos, torres,
portos, aeroportos etc.
As estruturas de concreto devem ser
elaboradas com nível de segurança adequado,
o qual está relacionado com a verificação dos
estados limites. Conforme ABNT NBR 6118
(2014), os estados limites é situação a partir da
qual a estrutura deixa de atender a uma das
finalidades de sua construção para qual foi
projetada. Em geral os estados a serem levados
em consideração para constituição de um
projeto estrutural de concreto são: os Estados
Limites de Serviço (ELS) e Estados Limites
Últimos (ELU) (CARVALHO FILHO;
NÓBREGA; ALMEIDA, 2015).
O Estado Limite Último (ELU) está
relacionado ao colapso ou a qualquer outra
forma de ruína estrutural que ocasione a
paralisação total ou parcial de sua utilização.
Sendo nesta situação em que é realizado o
dimensionamento dos elementos estruturais
para que haja o melhor aproveitamento dos
materiais utilizados. Posteriormente ao ELU,
devem-se fazer verificações quanto a ELS para
garantir as condições de utilização normal da
estrutura. Esta verificação é de suma
importância para o controle de abertura e
quantidade de fissuras, além de garantir
durabilidade, conforto e boa aparência
(CAMPOS FILHO, 2014).
Materiais e suas características
Segundo Pinheiro (2007), concreto é um
material composto de água, cimento e
agregados, nos casos em que houver
necessidade podem ser adicionados aditivos
para melhorar o desempenho do material.
Conforme ABNT NBR 8953 (2011, p.2),
os concretos são dividos em dois grupos:
Grupo I classes até C50, Grupo II (concretos
de alto desempenho) classes superiores à C50.
A ABNT NBR 6118 (2014, p.26),
estabelece os valores a serem adotados para os
parâmetros de deformação específicos do
encurtamento do concreto de classe até C50 no
início do patamar plástico (εc2 = 2,0‰) e na
ruptura (εcu = 3,5‰).
A resistência do concreto pode variar
devido a diversos fatores, tais como
fabricação, condicionamento, cura, material de
composição, temperatura etc. No entanto, para
o dimensionamento de estruturas, a resistência
do concreto passa por várias etapas de cálculos
e ponderação que visam estabelecer um valor
seguro que possa ser utilizado (FUSCO, 1981).
Conforme Carvalho e Figueiredo (2014),
para avaliar a resistência à compressão de um
determinado concreto, deve-se realizar certo
número de rompimentos de corpos de prova,
considerando que apenas 5% dos corpos
analisados têm a probabilidade de não atingir a
resistência desejada, obtendo assim, por meio
da curva de Gauss, a fórmula para a resistência
característica do concreto aos 28 dias, dado
por fck. Ainda no que se refere à sua
resistência, para concretos até C50, devem ser
considerados três efeitos importantes:
1º) Princípio estabelecido por Saint Venant, no
qual foi verificado que há um impedimento de
deformação junto as faces extremas do corpo
de prova utilizado para o cálculo do fck, diante
disso determinou-se um coeficiente igual à
0,95.
2º) O efeito Rüsch, trata-se de uma diferença
dos resultados obtidos entre a aplicação de
cargas rápidas no teste em laboratório e a real
condição que ocorre na estrutura durante toda
sua vida útil, estabelecendo assim um
coeficiente igual à 0,75.
3º) O concreto possui um ganho de resistência
de acordo com o aumento de sua idade,
proporcionando um coeficiente igual 1,20.
O produto dos três efeitos supracitados é
igual a 0,85, sendo este um coeficiente muito
importante para os dimensionamentos das
estruturas de CA. Outro fator utilizado para
garantir segurança ao projeto é a minoração
das resistências dos materiais conforme a
Tabela 1 da norma vigente.
Tabela 1 - Coeficiente de ponderações das
resistências de materiais.
Fonte: ABNT NBR 6118(2014, p.71).
 O aço é uma liga metálica composta por
ligas de ferro e uma pequena quantidade de
carbono. Devido a sua produção proporcionar
um controle tecnológico mais eficiente que o
concreto, seu coeficiente de minoração para
ações normais, especiais ou de construção é
dado por Ƴs = 1,15 (OLIVEIRA, 2014).
De acordo com Carvalho e Figueiredo
(2014), o aço utilizado para fabricação de
estruturas de concreto é classificado de acordo
com sua resistência característica de
escoamento (fyk). A Tabela 2 apresenta
algumas propriedades mecânicas do aço.
Tabela 2- Propriedades mecânicas do aço.
Fonte: Carvalho & Figueiredo (2014, p.45).
O concreto apresenta uma boa resistência
à compressão, porém pouco resistente à tração
(cerca de 1/10 da resistência à compressão),
sendo que praticamente todos os tipos de
estruturas de concreto sofrem algum tipo de
esforço de tração. Para que uma viga deste
material possa resistir a este esforço, o
concreto deve trabalhar em conjunto com
outro material que resista bem a tração, ou
seja, o aço específico para concreto armado
(OLVEIRA; BEZERRA; AMORIN NETO,
2014).
Conforme Oliveira (2014), concreto
armado é obtido por meio da junção do
concreto simples a uma armadura de aço
passiva, de tal forma que ambos resistam aos
esforços solicitados. Para que possa formar
uma estrutura monolítica, deve haver uma
aderência entre a armadura e o concreto,
garantindo segurança e durabilidade.
As aderências possuem três classificações:
química, física e mecânica, sendo a mais
representativa a resistência mecânica que
ocorre por causa da barreira ocasionada pelas
nervuras das barras de aço, evitando os
deslizamentos das armaduras. Outro fator
importante que resulta na boa combinação
entre os dois materiais são coeficientes de
dilatação do aço e do concreto, os quais
possuem valores muito próximos, garantindo
que não haverá tensões internas por variação
de temperatura na estrutura (BASTOS, 2014).
Dimensionamento para vigas de CA
De acordo com Oliveira (2014), os
esforços mais relevantes que atuam sobre as
vigas são o Momento Fletor, a Força Cortante
e o Momento Torçor. Com o objetivo de
combater tais esforços associam-se armaduras
de aço ao concreto, de forma a suportá-los,
sendo assim a necessidade da utilização das
seguintes armaduras:
 armadura longitudinal: responsável por
combater os esforços de tração e
compressão ao longo da viga e Momento
Torçor;
 armadura transversal: responsável por
suportar os esforços e tensões de
cisalhamento ao longo da viga e tensões
internas de compressão e tração da seção
transversal, além de manter as fissuração
dentro dos limites;
 armadura de pele: responsável por
combater o surgimento de fissuras nas
laterais da viga, sendo obrigatória para
seções com altura superior a 60 cm.
No caso das vigas, os esforços são obtidos
com o aumento do momento característico Mk,
por meio do coeficiente de ponderação Ƴf, para
obter o momento solicitante de cálculo,
representado por Msd. Sendo o coeficiente Ƴf
estabelecido de acordo com: a variabilidade e
simultaneidade de atuação das ações; possíveis
desvios gerados nas construções; e as
aproximações feitas em projeto do ponto de
vista das solicitações (MAGALHÃES; LIMA;
COSTA, 2016).
Para Carvalho e Figueiredo (2014) é
necessário estabelecer alguns parâmetros antes
de iniciar o dimensionamento das armaduras
de flexão para vigas de CA, estes parâmetros
são:
 tipos de flexão;
 estádios de deformação;
 hipóteses básicas de cálculos;
 domínios de deformação na seção
transversal.
A flexão nos elementos estruturais é
causada pelo momento fletor atuante ao longo
da viga, e nas seções transversais ocorrem
tensões normais (perpendicular à seção). Há
diversos tipos de flexão: normal, oblíqua,
simples, composta, pura e não pura. A flexão
normal (simples ou composta) ocorre quando
as cargas atuantes na estrutura são
perpendiculares à linha neutra (LN = x),
considerando que um plano contém um dos
eixos principais de inércia na seção, no caso de
seções simétricas o momento fletor atua no
plano de simetria ao eixo principal.
(CARVALHO; FIGUEIREDO, 2014).
De acordo com Rocha (1982), em uma
viga de CA apoiada e sujeita a um esforço
crescente que causa flexão pura até ocorrer seu
colapso, é possível identificar três níveis de
deformação denominados estádios I, II e III.
Sendo estes respectivamente: estado elástico,
estado de fissuração e valor próximo à ruína
(utilizado para dimensionamento no ELU).
Segundo Carvalho e Figueiredo (2014), o
item 17.2.2 da ABNT NBR 6118 (2014) inclui
todas as hipóteses referentes às estruturas de
concreto, sendo que para as vigas de CA, são
consideradas as seguintes suposições básicas:
Figura 1- Diagrama tensão do concreto no ELU
para classe até C50.
Fonte: Carvalho & Figueiredo (2014, p.117).
Conforme Fusco (1981), as ruínas em uma
estrutura de concreto, ocorrem devido à
deformação excessiva do concreto e ou
armadura, por isso para determinar a força
resistente desta estrutura deve-se primeiro
estabelecer como a estrutura irá deformar. Para
identificar o domínio de deformação de
atuação da estrutura é necessário identificar a
posição da linha neutra, que pode ser obtida de
forma adimensional por meio do coeficiente ξ
que é dado pela equação:

1º) O dimensionamento é feito no Estado

Limite Último (ELU), por esmagamento do
Em que:
concreto ou deformação plástica excessiva da
x é à distância da LN até fibra mais
armadura.
comprimida da seção;
2º) As seções transversais permanecem planas,
d é altura útil da seção da viga.
isto significa que o diagrama de deformações
na seção transversal é linear.
De acordo com a ABNT NBR 6118
3º) A deformação máxima admissível para o
(2014, p.122) há cinco tipos de deformação
concreto é de 3,5‰ (em compressão).
que são denominadas por domínio de
4º) As tensões resistentes de tração do
deformação da seção transversal. Os elementos
concreto são desprezadas no dimensionamento
de concreto armado possuem cinco domínios
no ELU.
(Figura 2) que são estabelecidos pelo modo de
5º) Para concretos de classe até C50, o
ruptura e tipo de esforços atuantes na estrutura,
diagrama tensão versus deformação do
sendo estes:
concreto é o diagrama parábola retângulo,
 domínio 1 - tração não uniforme, sem
conforme Figura 1.
compressão;
6º) A deformação máxima admissível para
armadura é de εs = 10‰ na tração.  domínio 2 - flexão simples ou composta;
7º) A relação tensão versus deformação do aço  domínio 3 - flexão simples (seção sub-
é linear, elástica e perfeitamente plástica. armada) ou composta;
8º) Existe aderência perfeita entre concreto e  domínio 4 - flexão simples (seção super-
armadura. armada) ou composta;
 domínio 4a - flexão composta com arma-
duras comprimidas;
 domínio 5 - compressão não uniforme,
sem tração.
Figura 2- Domínios de deformação no ELU.
Fonte: ABNT NBR 6118 (2014, p.122).
Para Campos Filho (2014) o domínio 2 é
caracterizado por grandes deformações da
viga, a linha neutra corta a seção transversal
ocasionando tração do aço e compressão do
concreto. Neste domínio a deformação
específica do aço (εs) é fixada em 10‰ e a
deformação específica do concreto (εc) varia
de zero até 3,5‰.
Segundo Bastos (2014), o domínio 3 é
verificado pelo alongamento excessivo da
armadura tracionada e da plastificação do
concreto comprimido, ocorrendo ao mesmo
tempo. Nesta situação há um melhor
aproveitamento dos dois materiais, podendo
ser considerado a condição ideal para
dimensionamento. Neste caso a deformação
específica do concreto (εc) é fixada em 3,5‰ e
a deformação específica do aço (εs) varia
desde o início do patamar de escoamento (εyd)
até 10‰.
Devido às novas prescrições na ABNT
NBR 6118 (2014, p.91), conforme item
14.6.4.3 o qual tem como objetivo garantir a
ductilidade em vigas de CA, quando se trata de
concretos com fck ≤ 50 MPa, deve-se respeitar
o limite da relação x/d, o que implica a não
utilização domínio 3 como um todo, mas sim
uma parte dele, limitada por x/d ≤ 0,45
(CARVALHO FILHO; NÓBREGA;
ALMEIDA, 2015).
O domínio 4 deve ser evitado em vigas,
pois este se caracteriza por uma ruptura frágil
da peça, portanto não ocorrem avisos sobre a
possível ruína. Quando presente neste domínio
diz-se que a viga está superarmada.
(PINHEIRO, 2007).
MATERIAIS E MÉTODOS
Na elaboração do aplicativo de caráter
experimental denominado VIGAFLEX,
utilizou-se como ferramenta de construção a
plataforma Access 2007, a qual faz parte do
pacote do Officce Microsoft®. Cujo local de
sua criação foi o laboratório de informática do
UNILAVRAS.
Para o desenvolvimento das equações
necessárias na elaboração dos cálculos, foram
utilizados livros relacionados à disciplina de
Concreto Armado I e normas técnicas
pertinentes, disponíveis na biblioteca da
referida universidade, além dos artigos e
monografias dos autores (OLIVEIRA, 2014;
NIMY, 2014; MAGALHÃES et al., 2016)
entre outros citados na Referência
Bibliográfica, todos com respaldo científico e
de acordo com a preconizações da ABNT
NBR 6118 (2014) que trata do tema em
questão.
Definição dos parâmetros técnicos
Para estabelecer as fórmulas e equações
utilizadas na elaboração do VIGAFLEX, no
que se refere ao dimensionamento das vigas,
de forma a garantir as conformidades previstas
na norma vigente, foram adotados os
parâmetros a seguir:
 dimensionamentos para Estado de Limite
Último (ELU), ou seja, estádio III;
 vigas de seções retangulares ou seções do
tipo “T”;
 domínios de deformação 2 e 3;
 domínio de deformação 4 (apenas de
forma didática, já que a norma não
permite tal procedimento para vigas);
 relação x/d ≤ 0,45, para proporcionar o
adequado comportamento dúctil em vigas
de concreto armado;
 coeficiente de majoração das ações tendo
como uma edificação do tipo 2 segundo
item 5.1.4 da ABNT NBR 8681 (2003),
sendo Ƴf = 1,4;
 coeficiente de minoração da resistência do
concreto de acordo com a Tabela 1, sendo
Ƴc = 1,4;
 coeficiente de minoração da resistência
do aço conforme Tabela 1, Ƴs = 1,15;
 concretos de classe até C50;
  deformação máxima do concreto sujeito à
compressão εc = 3,5‰;
 deformação máxima do aço εs = 10‰;
 dimensionamento de armaduras para
combater os esforços de flexão normal;
 condicionado às hipóteses básicas para
elementos lineares sujeito a solicitações
normais no ELU, citada no item 17.2.2 da
ABNT NBR 6118 (2014, p.121).
Fluxograma
Com o objetivo de facilitar ao usuário, a
compreensão do cronograma de cálculo e
demonstrar as funções disponíveis no
VIGAFLEX, foi elaborado o fluxograma do
algoritmo conforme Figura 3.
Figura 3 - Fluxograma do algoritmo.
Fonte: o autor (2016).
Dentro de cada seção e subseção do apli-
cativo, conforme demonstrado no fluxograma,
desenvolveu-se uma tela em que é possível o
usuário alimentar os dados solicitados pelo
aplicativo e, em seguida obter o resultado
esperado. Além da obtenção do resultado final
o VIGAFLEX foi programado para informar o
valor individual de cada variável pertinente à
tela em uso.
Outra importante função criada dentro de
cada tela é a possibilidade de acesso
instantâneo a todas as equações, demons-
trações e parâmetros utilizados no cálculo em
questão, com suas respectivas referências
bibliográficas e fonte de consulta teórica, por
meio das teclas “fx; fx1; fx2 e fx3”.
Exemplo numérico
Neste contexto, utilizou-se um exercício
numérico que tem como foco demonstrar uma
parte da capacidade total de cálculo do
aplicativo VIGAFLEX, bem como sua
interatividade com usuário. Para comparação
e verificação da validade dos resultados
encontrados nesta operação, foi empregado o
exemplo 3 da página 134 do livro “Cálculo e
Detalhamento de Estruturas Usuais de
Concreto Armado”, conforme a seguir:
Considerando uma viga de seção
retangular de concreto armado, com largura bw
= 12 cm e altura útil d = 17,65 cm, determinar
o momento resistente da seção e o valor da
área de aço necessária correspondente.
Considerar fck = 20 MPa (20.000 kN/m²) e aço
CA50. Apenas para efeito de comparação, os
cálculos foram feitos no limite entre os
domínios 3 e 4 e para relação x/d = 0,45
(CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO,
2015).
Na tela inicial (Figura 4), o primeiro passo
foi acessar o item “Limitadores de Domínios”.
Figura 4 - Tela inicial.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Na tela seguinte, denominada limitadores
de domínios (Figura 5), verificaram-se dois
resultados pertinentes no prosseguimento da
resolução do exercício: o Mkmáx (3;4) = 12,20
kN.m e o Mkmáx (x/d = 0,45) = 9,57 kN.m, que
são os momentos característicos máximos
suportado pela seção com armadura simples,
respectivamente no limite do domínio 3 e na
relação x/d = 0,45.
Figura 5 - Tela limitadores de domínios.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Conhecendo os valores dos momentos
máximos, a próxima etapa consistiu no
preenchimento dos dados solicitados na tela
“Cálculos Iniciais (Viga Retangular)”,
conforme demonstrado nas Figuras 6 e 7.
Figura 6 - Tela “Cálculos Iniciais de Vigas
Retangulares” com valor de Mk = 12,20 kN.m.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Figura 7 - Tela “Cálculos Iniciais de Vigas
Retangulares” com valor de Mk = 9,57 kN.m.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Conforme Figuras 6 e 7, foi possível
identificar em qual domínio se enquadra o
dimensionamento, bem como todas as outras
variáveis pertinentes ao exemplo em questão.
Para dar seguimento no mesmo raciocínio
do autor deste exercício, por meio da tela
“Dimensionamento no Domínio 3 (Armadura
Simples)”, calculou-se as armaduras longitu-
dinais da viga com os dois momentos
encontrados anteriormente, conforme demons-
trado nas Figuras 8 e 9.
Figura 8 – Tela “Domínio 3 com Armadura
Simples” com valor de Mk = 12,20 kN.m.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Figura 9 – Tela “Domínio 3 com Armadura
Simples” com valor de Mk = 9,57 kN.m.
Fonte: VIGAFLEX (2016).
Conforme Figuras 8 e 9, na mesma seção
solicitada foram obtidas as seguintes áreas de
aço (As): para Mk = 12,20 kN.m, As = 2,98 cm² e
Mk = 9,57 kN.m, As = 2,13 cm.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo, o intuito é discutir os
resultados obtidos no exemplo numérico, uma
vez que a demonstração e as condicionantes
aplicadas na elaboração do aplicativo já foram
apresentadas no capítulo anterior.
Conforme observado nas Figuras 6 e 7,
apesar de ter sido utilizado dois valores de
momentos diferentes resultaram em um
mesmo domínio de cálculo, no entanto a
relação x/d é diferente. Conforme Carvalho e
Figueiredo (2014), tal situação tem como
objetivo demonstrar que apesar de ser
estudado e construído o intervalo entre os
domínios 3 e 4, só é possível a utilização de
parte do domínio 3, e assim garantir a
ductilidade nas vigas.
Nas Figuras 8 e 9, foi possível observar
que o maior momento gerou uma maior
quantidade de armadura do que o menor
momento, o que é coerente, pois um maior
esforço na mesma seção exige uma maior
quantidade do material solicitado, que neste
caso é o aço. No entanto o menor momento
resultou em uma maior deformação específica
do aço (εs = 4,28‰), o que comprova que
quanto menor a relação x/d de uma seção
qualquer, maior será sua εs (até o limite de
10‰). De acordo com Carvalho e Figueiredo
(2014), esta é a situação ideal, pois
proporciona o melhor aproveitamento dos
materiais e a ductilidade necessária à estrutura,
resultando em economia e segurança ao
projeto.
Ao final deste exercício numérico
identificaram-se algumas das funções do
aplicativo e constatou-se que os valores
obtidos como resposta coincidem exatamente
com a resolução disposta no livro de referência
de Carvalho e Figueiredo (2014). Outro fato
relevante foi a possibilidade da interpretação
dos dados, de modo a analisar como os
resultados numéricos podem influenciar no
comportamento, segurança e quantidade de
materiais utilizados na estrutura. È importante
ressaltar que o exemplo numérico desenvol-
vido neste artigo é apenas uma das diversas
possibilidades comparações que podem ser
realizadas por meio do VIGAFLEX, mediante
a interpretação dos resultados obtidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aplicativo VIGAFLEX, apresentou uma
interface bem simples e objetiva, atendendo a
ideia principal que é torna-lo didático. O
desenvolvimento do fluxograma foi elaborado
com objetivo de demonstrar as diversas
possibilidades de cálculos, de acordo com a
necessidade do usuário. Todas as literaturas
de referência, equações e critérios foram
estabelecidas conforme as prescrições da
ABNT NBR 6118 (2014). Portanto, foi
possível elaborar com sucesso uma ferramenta
atual e gratuita, caracterizada como um
Sistema de Tutor Inteligente (STI), que serve
como material de apoio no processo de ensino-
aprendizado dos alunos e profissionais da área
de Engenharia Civil, no que se refere ao
dimensionamento de armaduras longitudinais
de vigas de CA, além de possibilitar
aprofundamento do tema em questão.
Como sugestão para trabalhos futuros, fica
a possibilidade de acrescentar ao VIGAFLEX
outros recursos como cálculo de armaduras
transversais, armaduras de torção, flechas
entre outros itens, ou mesmo estender o
programa para os diversos temas da área,
como por exemplo, o dimensionamento de
pilares, lajes, fundações etc.
AGRADECIMENTOS
Ao UNILAVRAS, por propiciar este ambiente
de ensino, pesquisa e extensão, agradecemos
pela dedicação de todos os colaboradores desta
instituição. À FAPEMIG por fomentar esta
pesquisa, por meio da parceria entre as
instituições de ensino.
REFERÊNCIAS
_____ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
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 DADOS DOS AUTORES
Lauro Henrique Ferreira Costa Vasconcelos é, atualmente, graduando do 9º período
do curso de Engenharia Civil do Centro Educacional de Lavras – UNILAVRAS (2017),
bolsista do programa de Inciação Científica PICIB/FAPEMIG (01/2016), monitor da
disciplina de Concreto Armado I do UNILAVRAS (2017). Áreas de interesse:
estruturas de concreto armado e tecnologias educacionais no apoio ao ensino da
engenharia.

Wisner Coimbra de Paula é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal

de Ouro Preto (2004) e mestrado em Engenharia Civil (Engenharia de Estruturas de
Concreto) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2007). Desenvolve seu
doutorado na Universidade Federal de Lavras, no Departamento de Engenharia
Agrícola daquela instituição (2017). Atualmente é coordenador e professor do curso de
Engenharia Civil do Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS. Também atua
como engenheiro civil na cidade de Lavras/MG e região, estando à frente do escritório
TW Engenharia Ltda. Tem experiência na área de estruturas de concreto, com ênfase
em análise e projeto estrutural e construção civil, atuando principalmente nos seguintes
temas: modelagem computacional, lajes nervuradas, concreto armado, método dos ele-
mentos finitos, modelagem de silos e supervisão de obras industriais e residenciais.