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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Direito Interno – Aula 09

Prof. Ricardo Macau – 01.10.2018

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES DO ESTADO – PODER LEGISLATIVO (continuação)

IMUNIDADES PARLAMENTARES
→ Artigo 53 da CF/88.

“CF/88. Art. 53. Os Deputados e Senadores são


invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos.
(...)
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros
do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse
caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto
da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão.

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou


Deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação. (...)”

As imunidades parlamentares são prerrogativas que a CF/88 prevê aos deputados e aos
senadores. Não podem ser consideradas privilégios, uma vez que os privilégios são
incompatíveis com a forma republicana de governo.

Ao interpretar o artigo 53 da CF/88, a doutrina identificou 2 (dois) tipos de imunidades


parlamentares:

1) IMUNIDADES PARLAMENTARES MATERIAIS:


→ Artigo 53, caput, da CF/88

As imunidades parlamentares materiais exigem a posse do deputado ou senador para serem


gozadas ou opostas. As imunidades materiais impedem que os parlamentares sofram processos
civis e penais em virtude de suas opiniões, palavras e votos.

As imunidades parlamentares materiais acompanham os deputados e senadores em qualquer


local em que exerçam o mandato.

Ex.: programas de TV e de rádio, inaugurações de obras públicas, etc.


2) IMUNIDADES PARLAMENTARES FORMAIS:
→ Artigo 53, § 2o e § 3o, da CF/88

A diplomação é um ato formal da Justiça Eleitoral que antecede a posse e as imunidades


parlamentares formais passam a valer a partir da diplomação. Logo, as imunidades
parlamentares formais valem desde antes da posse do deputado e senador.

A doutrina divide as imunidades parlamentares formais em 2 (duas) subespécies:

A. Imunidade à prisão:
→ Artigo 53, § 2o, da CF/88

Desde a diplomação, deputados e senadores apenas poderão ser presos em flagrante de crime
inafiançável. Caso ocorra essa prisão, maioria absoluta da Casa Legislativa respectiva poderá
SUSTÁ-LA.

B. Imunidade ao prosseguimento da ação penal:


→ Artigo 53, § 3o, da CF/88

Iniciada ação penal contra deputado ou senador, em virtude de crime praticado após a
diplomação, o STF notificará a Casa Legislativa respectiva para que esta, por MAIORIA
ABSOLUTA, decida sobre o prosseguimento ou a sustação da ação penal em curso.

*PEGADINHA: a CF/88 deve ser interpretada do seguinte modo quanto ao artigo 53, § 3o:
(i) não é possível sustar o andamento de ação penal referente a crime praticado ANTES da
diplomação do deputado ou senador.
(ii) não se exige autorização prévia da Casa Legislativa respectiva para iniciar ação penal contra
deputado ou senador.

INVESTIDURA DE PARLAMENTARES NA CHEFIA DE MISSÕES DIPLOMÁTICAS


→ Artigo 56, inciso I, da CF/88

“CF/88. Art. 56. Não perderá o mandato o


Deputado ou Senador:
I - investido no cargo de Ministro de Estado,
Governador de Território, Secretário de Estado, do
Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de
Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
(...)”

Ao se interpretar o disposto no artigo 56, inciso I, da CF/88, é possível extrair 2 (duas) conclusões
referentes à investidura de deputados e senadores na chefia de missões diplomáticas:

a. Missões diplomáticas temporárias


→ Parlamentar investido na chefia de missão diplomática temporária não perderá o mandato.

b. Missões diplomáticas permanentes


→ Parlamentar investido na chefia de missão diplomática permanente perderá o mandato.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO (CPIs)
→ Artigo 58, § 2o, da CF/88

“CF/88. Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas


terão comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições
previstas no respectivo regimento ou no ato de que
resultar sua criação. (...)
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua
competência, cabe:
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na
forma do regimento, a competência do Plenário,
salvo se houver recurso de um décimo dos
membros da Casa;
II - realizar audiências públicas com entidades da
sociedade civil;
III - convocar Ministros de Estado para prestar
informações sobre assuntos inerentes a suas
atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações
ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou
omissões das autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou
cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos nacionais,
regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre
eles emitir parecer. (...)”

As CPIs não têm poderes para condenar os investigados. Apenas realiza investigações e, se for o
caso, encaminha suas conclusões ao Ministério Público, para que esta instituição promova as
ações judiciais pertinentes.

O artigo 58, § 3o, da CF/88, prevê as seguintes regras procedimentais sobre a criação e o
funcionamento das CPIs.
“CF/88. Art. 58. (...)
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos nos
regimentos das respectivas Casas, serão criadas
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
em conjunto ou separadamente, mediante
requerimento de um terço de seus membros, para
a apuração de fato determinado e por prazo certo,
sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos
infratores. (...)”
a. podem ser criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto (CPI mista)
ou separadamente (CPI simples).
b. a criação de CPIs exige requerimento de 1/3 (um terço) dos parlamentares da Casa Legislativa
respectiva.

c. devem investigar FATOS DETERMINADOS.

d. devem atuar por prazo CERTO.

PODERES DE INVESTIGAÇÃO DAS CPIs


O artigo 58, § 3o, da CF/88, prevê expressamente que as CPIs têm poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais. Coube à jurisprudência do STF definir quais são os poderes
judiciais de investigação das CPIs. Assim, tem-se o seguinte quadro:

❖ A CPI pode:
- Intimar investigados e testemunhas;
- Determinar a condução coercitiva de testemunhas;
- Requerer a realização de provas periciais;
- Realizar prisão em flagrante; e
- Determinar, por ordem própria, a quebra dos sigilos* bancário, fiscal e telefônico.
*Esses 3 sigilos são quebrados por meio do acesso aos dados e registros das respectivas contas.

❖ A CPI não pode:


- Condenar os investigados;
- Determinar o bloqueio de bens, nem a restrição de direitos (ex.: apreensão de passaporte);
- Decretar a realização de prisão preventiva e de prisão provisória;
- Decretar a realização de busca e de apreensão domiciliar; e
- Decretar, por ordem própria, decretar a quebra de sigilo das comunicações telefônicas*.
*Ou seja, determinar a realização de “grampo” ou de interceptação de conversas telefônicas.

→ Para o STF, atos de investigação que a CPI não pode realizar estão sob reserva de jurisdição*
*Exigem ordem judicial.
COMPETÊNCIAS DO PODER LEGISLATIVO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ao se analisar os artigos 49, 51 e 52 da CF/88, identifica-se as seguintes competências do Poder
Legislativo, no âmbito das relações internacionais:

1) Câmara dos Deputados – artigo 51 da CF/88:


O artigo 51 da CF/88 não prevê nenhuma competência privativa da Câmara dos Deputados em
matéria de relações internacionais.

2) Senado Federal – artigo 52 da CF/88:

“CF/88. Art. 52. Compete privativamente ao


Senado Federal:
(...)
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após
arguição em sessão secreta, a escolha dos chefes
de missão diplomática de caráter permanente;
V - autorizar operações externas de natureza
financeira, de interesse da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
(...)”

O artigo 52 da CF/88 prevê 2 (duas) competências privativas do Senado Federal em matéria de


relações internacionais:

a. Artigo 52, inciso IV, da CF/88:


O Senado Federal tem competência para aprovar, em sessão e votação secreta, após arguição
secreta, o chefe de missão diplomática permanente.

b. Artigo 52, inciso V, da CF/88:


Compete ao Senado Federal autorizar operações externas de natureza financeira de interesse
da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios.

*OBSERVAÇÕES:

(i) as operações externas financeiras realizadas pelos entes federados e Territórios não são
tratados internacionais, uma vez que os entes federados e os Territórios não gozam de
personalidade jurídica de Direito Internacional. Em verdade, essas operações externas
financeiras têm natureza de contratos internacionais (Direito Internacional Privado).

(ii) a competência do Senado Federal para autorizar essas operações externas de natureza
financeiras realizadas por entes federados e Territórios justifica-se pelo fato de que o Senado
Federal é a Casa Federativa e, em situações extremas, o aporte de recursos financeiros do
exterior poderá desestabilizar o pacto federativo.

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