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AULAS ESPECIAIS
OBRAS DA FUVEST/UNICAMP – 2009
PORTUGUÊS
CAPITÃES DA AREIA
JORGE AMADO românticas e sensuais... A que, vez por outra, emprestaria
(Itabuna, 1912 – Bahia, 2001) matizes políticos. (...) Cronista de tensão mínima, soube
esboçar largos painéis coloridos e facilmente comuni-
cáveis que lhe franqueariam um grande e nunca des-
medido êxito junto ao público. Ao leitor curioso e glutão
a sua obra tem dado de tudo um pouco: pieguice e volúpia
em vez de paixão; estereótipos em vez de trato orgânico
dos conflitos sociais, pitoresco em vez de captação
estética do meio; tipos folclóricos em vez de pessoas,
descuido formal a pretexto de oralidade (...). O populismo
literário deu uma mistura de equívocos e o maior deles
será, por certo, o de passar por arte revolucionária.”
OBRA
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Sem-Pernas, em frente a uma casa rica, habitada por Esse é um capítulo bem curto que se passa no bar
um casal já idoso, disse à proprietária, Dona Ester, ser um Porta do Mar. Gato, Professor, Boa-Vida e Pedro Bala
esperavam Querido-de-Deus.Várias mortes causadas pela
pobre órfão, faminto, sem lar que não pretendia tornar-se
varíola foram comentadas pelos fregueses. Um velho
ladrão. A dona da casa acolheu-o e pediu para a disse para que todos ouvissem que o destino era imutável.
empregada preparar o quarto, mostrar o banheiro e dar ao Foi retrucado, primeiramente, por João de Adão: “Um dia
garoto o roupão do filho já falecido, e uma boa refeição. a gente muda o destino dos pobres”, depois por Pedro Bala
Esse tipo de atitude de Sem-Pernas, fingir que era um que reiterou parte da frase: “Um dia a gente muda...”
garoto de boa índole abandonado, sempre ocorria quando
os Capitães da Areia queriam saquear uma casa burguesa.
A NOITE DA GRANDE PAZ,
Mas na casa da Dona Ester e do Doutor Raul estava sendo
DA GRANDE PAZ DOS TEUS OLHOS
diferente, pois o casal projetava em Sem-Pernas o amor
que tinha pelo filho único falecido, Augusto. Essa transfe- Os oito capítulos dessa parte narram principalmente
rência de sentimento deixou Sem-Pernas com medo, teve os fatos relacionados a Dora, a única menina integrante
receio de que a bondade do casal fizesse desaparecer o dos Capitães da Areia. Já o título remete aos olhos da
ódio que nutria por todos. Pela primeira vez, a demora no moça. O ingresso dela causa grande tensão. Após a aceita-
levantamento dos objetos de valor foi maior, mas Sem- ção, ela cumprirá o papel de mãe, de irmã do grupo e,
Pernas cumpriu, após certa hesitação, a tarefa dada pelos finalmente, de noiva e esposa, in extremis, de Pedro Bala.
Capitães da Areia. Esses papéis são indicados já no título de cada capítulo.
1. FILHA DE BEXIGUENTO
9. MANHÃ COMO UM QUADRO
Dora tinha entre 13 e 14 anos, cabelos muito loiros.
Nesse capítulo que capta pictoricamente as ruas e as Morava no morro. Era mulata, filha de bexiguentos, pois
cores de Salvador, a descrição surge já logo no início. seu pai, Estêvão, morrera de varíola. Os então órfãos,
Professor e Bala caminhavam pela cidade. Professor Dora e seu irmão, Zé Fuinha, andavam pela rua, quando
desenhou na calçada, como habitualmente fazia, um tran- conheceram João Grande e Professor, que decidiram
acolhê-los no trapiche, como novos integrantes do grupo.
seunte que estava com uma piteira. O retratado ficou tão
A chegada de Dora causou grande tensão, pois a maioria
satisfeito que deu ao desenhista um cartão, que o desejava-a sexualmente e estava disposta ao estupro. Bala
encaminhava para aulas de pintura, e a própria piteira. chegou no momento crucial, quando o bando já partia para
Professor jogou o cartão fora, dizendo a Bala que o único cima de Dora, e tomou, inicialmente, o partido dos que
caminho existencial de um capitão da areia era viver como queriam o ato sexual. Mudou de opinião após a inter-
ladrão. venção de João Grande, que disse que Dora era apenas
órfã de pais bexiguentos, não era prostituta.
10. ALASTRIM
2. DORA, MÃE
Alastrim é a epidemia de bexiga branca. O narrador Dora ganhou com suas atitudes carinhosas, solidárias
afirma: “Omolu mandou a bexiga negra, a varíola, para a e valentes o respeito dos Capitães da Areia. Paulatina-
cidade. Mas lá em cima os homens se vacinaram...”. É mente, o grupo, com exceção de Pedro Bala e Professor,
bom lembrar da importância da topografia da cidade de foi projetando na nova companheira a imagem de mãe.
Salvador para o sentido do livro. Na cidade alta, moram as
pessoas bem situadas economicamente. Já na cidade
3. DORA, IRMÃ, NOIVA
baixa, ao nível do mar, moram os pobres, os Capitães da
Areia inclusive. A epidemia de varíola alastrou-se tanto Dora ganhou a condição de irmã dos Capitães da
na cidade alta como na cidade baixa. Almiro e Boa-Vida Areia por vestir-se como eles, com roupa de homem, por
contraíram a doença, e somente o primeiro não lhe resiste. participar dos assaltos e por ser tão valente como um
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Exercícios
1. Pode-se dizer, após a leitura de “Cartas à Redação”, Leia o texto e responda às questões:
que
a) a direção do jornal acatou as denúncias contra o Um mês de Orfanato bastou para matar a alegria
reformatório e iniciou uma campanha para a e a saúde de Dora. Nascera no morro, infância em
destituição do diretor. correrias no morro. Depois a liberdade das ruas da
b) a costureira Maria Ricardina, mãe de um interno, cidade, a vida aventurosa dos Capitães da Areia. Não
defende o diretor do Reformatório. era uma flor de estufa. Amava o sol, a rua, a
c) a partir de uma notícia, relatando o assalto liberdade.
praticado pelos Capitães da Areia, a opinião de
todas as cartas é a mesma: repressão total aos 3. A que parte do romance pertence esse fragmento?
menores delinquentes, inclusive com castigos
corporais.
d) a carta do padre José Pedro corrobora as
afirmações da carta de Maria Ricardina, mãe de um
interno.
e) O juiz de menores assume a responsabilidade pela
delinquência juvenil.
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GABARITO
OBRAS DA FUVEST/UNICAMP – 2009
PORTUGUÊS
CAPITÃES DA AREIA
1) D 5) Essa metáfora conota a repressão do orfanato,
visto como a estufa que contém a vitalidade, a
2) As matérias jornalísticas e a série de cartas pro- criatividade, o porvir da criança, metaforizados
curam ligar o tema da obra, os menores delin- em flor.
quentes e abandonados, à vida cotidiana, pre-
sentificando nessa obra neorrealista o problema 6) Sim, porque ao lado da constatação da condição
social. Além disso, mostram não só a divergência precária e marginal dos menores abandonados
insolúvel entre o grupo que representa o poder (“vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados”)
político-cultural e o que tem relação afetiva com não deixa de haver uma idealização dessa condição
os menores delinquentes como também mostram quando o narrador considera que esses seres são
a parcialidade da imprensa, manipulada pelo “os que totalmente amavam” a cidade, “os seus
poder vigente. poetas”.
4) D 10) E
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