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2020-36-0220

Panorama geral sobre tecnologias de assistência à direção em veículos automotores e os


principais tipos de acidentes de trânsito no Brasil

Autor
Filipe Leopoldo R. F. A. Moreira
Universidade Federal de Minas Gerais
FCA – Fiat Chrysler Automobiles

Felipe De Oliveira Nunan Leite


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Resumo Medidas capazes de reduzir esses índices se fazem necessárias tanto


visando a preservação da integridade física e da própria vida da
população, quanto na redução dos gastos despendidos relacionados aos
Abordagem das principais tecnologias consolidadas de Sistemas de
acidentes. Avaliando os números da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
Assistência Avançada ao Motorista capazes de evitar ou reduzir os
e com base em levantamentos bibliográficos, mais de 90% dos
danos causados em um acidente como proposta de redução do número
acidentes de trânsito são causados por falha humana.
de vítimas de trânsito, considerando a ocorrência de cada tipo de
acidente no território brasileiro. Correlação das tecnologias com os
dados estatísticos como principais formas de diminuir os índices O objetivo do presente estudo é apresentar as tecnologias disponíveis
oferecendo melhor segurança aos usuários da via dentro e fora dos e o funcionamento de sistemas de auxílio ao condutor de um veículo
veículos. nas diversas intempéries que possam ocorrer durante o tráfego nas vias
como opção para reduzir o número de acidentes.

Introdução
Sistemas de Assistência (ADAS)
Considerando o cenário de acidentes de transito no Brasil, verificamos
que centenas de milhares de vítimas são envolvidas todos os anos Os Sistemas de Assistência Avançada ao Motorista (Advanced Driver
nesses eventos, com significativa parcela de feridos e óbitos. Somente Assistance Systems – ADAS) são o conjunto de dispositivos que
no ano de 2011, foram registrados no território nacional 188.925 informam, fornecem feedback sobre ações, aumentam o conforto, a
acidentes, dos quais 34% apresentaram feridos e 4% óbitos segurança e reduzem a carga de trabalho estabilizando ativamente ou
diretamente no local do acidente [1]. manobrando o veículo com maior uso de algoritmos complexos de
processamento para detectar e avaliar o ambiente do veículo com base
em dados coletados por meio de várias entradas de sensores de
diferentes tipos [2]. O ADAS fornece assistência ao motorista e
melhora sua experiência de condução. Sua principal função é garantir
segurança do veículo, dos ocupantes do veículo e dos demais usuários
da via (como pedestres e ciclistas). Pode ser utilizado para economizar
custos de combustível, permitindo que os veículos sigam um ao outro
a uma curta distância avisando qualquer incidente na pista e aplicando
frenagens de emergência para evitar colisão. Para o sistema funcionar
de forma confiável, deve ser capaz de reconhecer objetos, sinais,
placas, superfícies, veículos em movimento na estrada, tomar decisões
e avisar e/ou agir em nome de um motorista.

Tabela 1 - Número de acidentes de trânsito no Brasil (2011)

As principais causas dos acidentes com mortes ocorridos em 2016


foram: falta de atenção (30,8%); velocidade incompatível (21,9%);
ingestão de álcool (15,6%); desobediência à sinalização (10%);
ultrapassagens indevidas (9,3%); e sono (6,7%) [1]. Figura 1 - Exemplo de sensores de reconhecimento do veículo [3]
Sistema de Cruzeiro Autônomo onde as imagens dos retrovisores podem não ser eficientes em
evidenciar um veículo que se aproxima.
Sistema de Cruzeiro Autônomo ou Sistema Adaptativo de Cruzeiro
(Adaptive Cruise Control – ACC) é um sistema que controla
automaticamente a velocidade de um veículo, de modo a manter uma
distância segura do veículo na frente. Esse processo é baseado no uso
de sensores que são instalados no veículo, dos tipos: Câmeras, Radar
ou Câmera + Radar.

Figura 4 - Exemplo de BSM [3]

- Sistema Emergencial de Permanência na Faixa (Emergency Lane


Keeping - ELK): deve permanecer ativado continuamente e corrigir
automaticamente o avanço do veículo em alteração de trajetória em
resposta à detecção de que o veículo está prestes a se mover além dos
limites da via ou pela detecção de outro veículo no tráfego que se
aproxima ou que realiza ultrapassagem na pista adjacente [4].
Figura 2 - Exemplo de ACC [3]

Uma versão mais avançada é chamada de Sistema Inteligente Freio Autônomo de Emergência
Adaptativo de Cruzeiro (Intelligent Adaptive Cruise Control – iACC)
onde a velocidade é definida por meio de uma função com a qual o O Freio Autônomo de Emergência (Autonomous Emergency Brake -
veículo conhece e comunica o limite de velocidade com ou sem AEB) avisa o motorista com um alerta áudio/visual sobre uma colisão
confirmação do motorista [4]. Esta detecção pode ser feita por eminente e aplica automaticamente a frenagem do veículo em resposta
mapeamento de velocidade da via por GPS e/ou através de sistemas à detecção da provável colisão para reduzir a velocidade e
capazes de ler a informação de placas nas vias. O sistema ainda pode potencialmente evitar o acidente ou reduzir ao máximo os possíveis
trazer funções avançadas capazes de alterar a velocidade de forma danos. Sua aplicação é estudada e desenvolvida nas seguintes
automática mediante a condições climáticas (chuva, neve, etc.), condições:
variação de velocidade baseada no horário do dia ou na categoria do - Cidade (AEB City): considera acidentes típicos durante a condução
veículo. na cidade que ocorrem normalmente em velocidades relativamente
baixas, onde o carro impactado já está parado, mas com alto risco de
Sistema de Suporte de Faixa uma lesão de chicote no pescoço ao motorista do veículo atingido.
Embora as gravidades sejam geralmente baixas, esses acidentes são
muito frequentes e representam mais de um quarto de todos os
Os Sistemas de Suporte de Faixa (Lane Support System - LSS) alertam acidentes de trânsito nas cidades [5].
a mudança ou auxiliam permanência do veículo dentro dos limites da - Interurbano (AEB Interurban): são projetados para trabalhar em
faixa na via, são classificados como: velocidades típicas para dirigir fora do ambiente da cidade, por
- Sistema de Aviso de Mudança de Faixa (Lane Departure Warning – exemplo, em vias urbanas ou rodovias [4]. Cenários de acidentes
LDW): avisa o motorista quando o veículo está prestes a se mover além semelhantes ocorrem na estrada aberta, em velocidades moderadas a
dos limites da faixa da via em que trafega. O aviso é feito por sinal mais altas, onde um motorista pode se distrair e pode deixar de
sonoro e luminoso. reconhecer que o tráfego à sua frente está parado, parando ou dirigindo
a uma velocidade menor [5].

- Usuários Vulneráveis da Via (AEB VRU - Vulnerable Road Users):


projetados para autonomamente detectar pedestres e/ou ciclistas que
cruzam o caminho do veículo e efetuar a frenagem para evitar ou
minimizar os danos do atropelamento. São considerados ciclistas,
pedestres adultos e crianças em diferentes distâncias do veículo para
verificar a detecção e eficiência da frenagem [6].

Figura 3 - Exemplo de LDW [3]

- Sistema de Assistência de Permanência Na Faixa (Lane Keep


Assistance – LKA): corrige automaticamente a direção do veículo
retornando-o à trajetória de sua faixa na via.
- Monitoramento de Ponto Cego (Blind Spot Monitoring - BSM): alerta
o motorista da presença de outros veículos no chamado ponto cego, Figura 5 - Exemplo de detecção de VRU [3]
Estatísticas de Acidentes Acidentes
ADAS Tipo de acidente Total
com Vítimas
Colisão frontal 6,10%
SISTEMA DE
Principais tipos de acidentes ordenados por ocorrência em 2002 no Saída de pista 20,40%
SUPORTE DE 38,50%
Brasil com vítimas fatais [10]: Abalroamento lateral sentido oposto 5,90%
FAIXA
Abalroamento lateral mesmo sentido 6,10%
Atropelamento 19,50%
FREIO
Colisão traseira 12,90%
AUTÔNOMO
Choque com objeto fixo 7,30% 41,30%
DE
Atropelamento de animal 1,50%
EMERGÊNCIA
Choque com veículo estacionado 0,10%
Total 79,80%
Tabela 3 - Correlação de tecnologias e acidentes

É notório que a ação apenas desses dois sistemas (suporte de


faixa, com contribuição direta em 38,5% dos acidentes de maior
ocorrência, assim como o sistema de frenagem de emergência,
contribuindo diretamente em 41,3% dessa gama),
preferencialmente em suas versões de atuação automática sobre
o veículo, em detrimento das versões apenas de alerta, substitui
a ação do condutor, reduzindo a possibilidade de erro humano
e assim sendo capaz de agir ativamente para evitar e/ou
abrandar em 79,8% dos casos os danos oriundos do acidente
com o veículo.

Há de se considerar que os sistemas de segurança passiva do


veículo atuam de forma complementar e, quanto mais
tecnologias envolvidas, os danos sofridos pelos ocupantes são
reduzidos e, somados com os demais sistemas de segurança
ativa supracitados, contribuem principalmente para a
diminuição do número de óbitos e a severidade dos traumas
sofridos nos acidentes de trânsito.

Conclusões
Apenas com o uso de tecnologias existentes, e já consolidadas para o
auxílio de direção ao motorista, é possível evitar ou diminuir a
severidade de quase 80% dos acidentes com vítimas que ocorrem todos
os dias no território brasileiro. Não apenas seria possível salvar
milhares de vidas todos os anos, mas também reduzir
significativamente as indenizações e os custos médicos na assistência
às vítimas de acidentes de trânsito e desocupar a rede de saúde para
tratamento de outros acidentes e enfermidades.

O alto custo de desenvolvimento e implementação dessas tecnologias


nos veículos ainda é um empecilho a ser vencido para que a totalidade
dos veículos sejam equipados com esses dispositivos. Em um mercado
cada vez mais concorrido, qualquer custo adicional ao projeto ou
Tabela 2- Ocorrência de tipos de acidente com vítima equipamento que onere o valor final do veículo é tema de grande
discussão nas montadoras de veículos e dessa forma não se faz tarefa
simples a inclusão total ou mesmo parcial dessas tecnologias em todos
os projetos.
Análise dos Dados Estatísticos
Todavia, existe possibilidade de discussão do governo com fabricantes
Correlacionando os principais tipos de acidentes e sua taxa de dos veículos sobre a obrigatoriedade dos sistemas e também incentivos
ocorrência (citados na tabela anterior), com a capacidade de (através de reduções de impostos) aos que se prontificarem a equipar
intervenção dos sistemas de assistência à direção apresentados os sistemas de assistência à direção como itens de série em seus
anteriormente e sua possibilidade de auxiliar o condutor em cada um projetos. Algumas iniciativas já são implementadas pelo governo,
desses casos, chegamos ao seguinte universo de acidentes que podem porém a abrangência das tecnologias e a escala temporal de aplicação
ser evitados ou abrandados com a implementação das tecnologias nos retardam em vários anos a utilização de soluções já disponíveis
veículos: atualmente. Um estudo sobre a economia com os gastos provenientes
de acidentes de transito em relação a perda de arrecadação devido a
redução dos impostos é relevante para tornar essa iniciativa viável.

Outro fator a se considerar é que a larga implementação das


tecnologias implica em maior produção pelos fornecedores de
equipamentos e, dessa forma, a redução do custo unitário de cada peça
necessária nos sistemas de assistência a direção. Como exemplo de Electronics and Communication Engineering (IJARECE),
fácil visualização, basta analisar o custo de veículos que dispunham de 2015
airbags anteriormente a obrigatoriedade imposta por nosso governo
em 2014 e o aumento de preço dos veículos base que passaram a ter o 14. Carsten, O.M.J.; Nilsson, L.,“Safety Assessment of Driver
dispositivo. Assistance Systems. European Journal of Transport and
Infrastructure Research”, 1(3), pp.225-243, 2001
O interesse da população por veículos mais seguros, assim como
ocorre do mercado europeu, também é fator motivador que contribui 15. Brookhuis, A. K.; Waard, D.; Janssen, W. H., “Behavioural
para a implementação das tecnologias. A maior divulgação por parte impacts of Advanced Driver Assistance Systems–an
da mídia sobre esse conteúdo já começa a despertar no mercado local overview”, University of Groningen, EJTIR, 1, no. 3, pp.
uma maior preocupação com itens voltados a segurança dentro dos 245 – 253, 2001
veículos automotores.
16. Hojjati-Emamia, K.; Dhillona, B. S.; Jenabb, K., “Reliability
prediction for the vehicles equipped with advanced driver
Referências assistance systems (ADAS) and passive safety systems
(PSS)”, International Journal of Industrial Engineering
1. Departamento de Polícia Rodoviária Federal – Computations (IJIEC), 2012
https://www.prf.gov.br/portal/, acessado em dezembro,
2018

2. Annapoorani, M.; Dheleep, K. C.; Jaikrishna, S., Yaswanth, Informações para Contato
A., “Study on the Advanced Driver Assistant System”,
International Journal of Recent Trends in Engineering & Email coorporativo:
Research (IJRTER), 2018 filipe.leopoldo@fcagroup.com

3. Costa, F., “Advanced Driver Assistance Systems (ADAS)”, Email pessoal:


Universidad Católica "Nuestra Señora de la Asunción"”, filipeleopoldo@gmail.com
2017

4. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP), Definições / Abreviações


“Assessment Protocol – Safety Assist v8.0.2”, 2017
PRF Policia Rodoviária Federal
5. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP),
“Test Protocol – AEB systems v2.0.1”,2017 ADAS Advanced Driver Assistance Systems

6. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP), ACC Adaptive Cruise Control
“Assessment Protocol – Pedestrian Protection v9.0.2”, 2017
iACC Intelligent Adaptive Cruise Control
7. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP),
“Assessment Protocol – Adult Occupant Protection v8.0.2”, GPS Global Positioning System
2017
LSS Lane Support System
8. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP),
“Test Protocol – Speed Assist Systems v2.0”,2017 LDW Lane Departure Warning

9. European New Car Assessment Programme (Euro NCAP), LKA Lane Keep Assistance
“Test Protocol – Lane Support Systems v2.0.1”,2017
BSM Blind Spot Monitoring
10. Por Vias Seguras - Associação brasileira de prevenção dos
acidentes de trânsito, “Tipos de acidentes nas rodovias”,
ELK Emergency Lane Keeping
2006
AEB Autonomous Emergency Brake
11. Kuehn, M.; Hummel, T.; Bende,J., “Benefit Estimation Of
Advanced Driver Assistance Systems For Cars Derived
From Real-Life Accidents”, 2009 VRU Vulnerable Road Users

12. Kannan, S.; Thangavelu, A.; Kalivaradhan, R. B., “An


Intelligent Driver Assistance System (I-DAS) for Vehicle
safety modeling using ontology Approach”, International
journal of UbiComp (IJU), 2010

13. Ramnath, C. P., “Advanced Driver Assistance System


(ADAS)”, International Journal of Advanced Research in

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