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IV ENEBIO e II EREBIO da Regional 4 Goiânia, 18 a 21 de setembro de 2012
Resumo
INTRODUÇÃO
Autores como Baganha, Gonzalez e Boal (2011) ressaltam o livro didático como um
artefato cultural, fundamental no processo de escolarização. Para estes, a importância do livro
didático é tão grande justamente porque esta foi a única ferramenta presente e utilizada nas
escolas para os processos de ensino e aprendizagem em um momento da história no Brasil,
em meados da década de 1970.
Nascimento e Martins (2009) afirmam que os livros didáticos são componentes que
exercem papel determinante no trabalho dos professores. Segundo as autoras, os livros
didáticos são elementos que norteiam o planejamento, a atualização do professor, a seleção
dos conteúdos a ser trabalhado com os estudantes e os modelos de avaliação reproduzidos em
sala de aula.
Neste texto, destacamos algumas das ideias e resultados da pesquisa com o tema.
Especialmente no que diz respeito à trajetória histórica e a relação dos professores de Ciências
com os livros didáticos, seja na sua seleção ou nas práticas pedagógicas associadas a este
recurso.
Este estudo faz parte de uma dissertação de mestrado que visa identificar a forma com
que os livros didáticos são selecionados e utilizados pelos docentes de Ciências. Dentro deste
contexto e no âmbito delimitado para este texto, os objetivos da presente investigação são:
A busca pelos artigos de interesse foi feita através de leitura dos sumários dos periódicos
e atas, seguida da leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos textos selecionados. Os artigos
potencialmente interessantes para discussão do assunto foram listados em relatório para posterior
leitura e análise. Identificamos vinte. Além dos periódicos e atas, incluímos no presente texto
alguns livros e trabalhos acadêmicos sobre a temática.
A partir da leitura destes textos, identificamos duas temáticas recorrentes que são
importantes para o trabalho de análise que nos propomos a realizar na dissertação de mestrado: (1)
Os livros didáticos e o ensino de Ciências; (2) A atuação docente relacionada ao livro didático de
Ciências. A distribuição dos autores com relação às temática propostas é sumarizada na tabela 2.
Tabela 2. Temáticas e autores dos textos selecionados (em negrito, autores com dois textos).
Temática Autores
Macedo
Moreira
Martins et al
Carneiro
Os livros didáticos e o ensino de Ciências
Amaral
Bizzo
Megid Neto & Fracalanza
Nascimento & Martins
Silva & Trivelato
Megid Neto & Fracalanza
Delizoicov
Cassab & Martins
A atuação docente relacionada ao livro didático
de Ciências. Maffia et al
Fracalanza
Silva et al
Ferreira
Tolentino-Neto et al
como os livros didáticos. Os PCNs, apesar de serem apenas recomendações, são considerados
autoritários e arbitrários por alguns docentes, servindo como elemento regulador e impositivo
para o ensino no Brasil (MOREIRA, 2002).
Bizzo (1988) afirma que boa parcela das críticas feitas aos livros didáticos de Ciências
provinha da estimulação, pelos escritores destas obras, de habilidades rasteiras e superficiais
nos estudantes. Ou seja, estes recursos pedagógicos estariam estimulando nada mais que a
memorização de seus conteúdos. A memorização, segundo o autor, vem quase sempre
acompanhada da desatualização destes conteúdos e dos próprios conceitos das obras, o que
constitui outro grave problema.
Outro aspecto importante é aquele enunciado por Megid Neto e Fracalanza (2006): o
livro didático de Ciências atual apresenta uma visão de Ciência dogmática, positivista,
inquestionável e pronta. Os autores chamam a atenção para a importância e o peso deste fator
na adoção parcial do uso dos livros didáticos em sala de aula pelos professores a alunos, fato
que consideramos bastante positivo nestas situações.
O livro didático de Ciências está bastante presente nas escolas desde a década de 1970.
O acesso fácil e custeado pelo poder público a este material, segundo Silva e Trivelato (2000),
parece ser uma razão plausível para este fato. A forte presença destes livros nas escolas torna
evidente, mais uma vez, a necessidade de averiguação da atuação docente relacionada à
utilização destes materiais.
Para Cassab e Martins (2003), analisar o livro didático no trabalho dos professores
confere sentido à utilização deste recurso didático no ensino de Ciências. Para estas autoras,
os docentes costumam avaliar a linguagem-escrita (texto) e a linguagem-visual
(representações gráficas). O estímulo e a motivação nos alunos é fator determinante para os
professores usarem este material em seus trabalhos em sala de aula (CASSAB & MARTINS,
2003; 2008).
Outros pontos estão sendo também observados pelos docentes na adoção e utilização
de livros didáticos nas aulas de Ciências. Obedecer a critérios como a flexibilidade curricular,
interdisciplinaridade, contextualização e adequação à realidade local dos estudantes também
se torna um grande desafio para as obras, o que faz professores de Ciências adotarem os livros
didáticos de forma parcial, utilizando o que julgam bom neste material e adequando-os às
próprias realidades de trabalho (MAFFIA et al, 2002; MEGID NETO & FRACALANZA,
2006).
Uma solução para melhor adequação dos livros didáticos de Ciências às práticas
docentes, segundo Maffia et al (2002), pode ser a participação mais ativa dos professores na
elaboração de critérios para seleção e trabalho com estes materiais. Segundo estes autores, o
professor que pensa as formas de uso dos materiais desenvolve uma criticidade mais aguçada
e foge do senso comum. Desta forma, o docente de Ciências pode se preocupar com aspectos
como a contextualização, a interdisciplinaridade e o estímulo pelo interesse no ensino das
Ciências (MAFFIA et al, 2002).
Alguns autores ainda colocam o professor como agente muitas vezes passivo no
trabalho com o livro didático, tendo sua prática restrita ou limitada a ele (FRACALANZA,
2006; SILVA et al, 2009). Verifica-se neste caso uma situação onde, para o docente, o bom
livro é aquele que existe para contemplar os currículos propostos e obedecer a padronizações,
o que muitas vezes não é um fator positivo. O problema é justamente o excesso de
padronizações e fragmentações de conteúdos, o que não contribui para o interesse dos
educandos. E como não questiona o material que tem em mãos, muitas vezes, este professor
não consegue ver uma possível relação entre a (falta de) qualidade destes livros e as
dificuldades cognitivas dos seus estudantes (FRACALANZA, 2006).
A grande crítica feita por Silva et al (2009), e acompanhada por nós, nestes casos, é a
questão da preparação do professor de Ciências para que o mesmo saiba escolher e trabalhar
com livros didáticos, sem tornar-se dependente dos mesmos. Ferreira (2000) frisa que o livro
didático, por si só, não garante uma boa educação. Maffia et al (2002) associam a qualidade
do ensino de Ciências com uma boa seleção e uso dos livros didáticos, complementada por
outros recursos. A capacitação dos docentes parece ser uma boa maneira para se trabalhar de
forma parcimoniosa com os livros didáticos. Esta medida envolve atitudes como a formação
continuada e a melhora das condições econômicas dos professores, para compra e uso de
outros materiais e recursos didáticos (MAFFIA et al, 2002; FRACALANZA, 2005; SILVA et
al 2009).
como fortemente relacionados aos livros didáticos, adotando-os como norteadores de toda e
qualquer ação em sala de aula, junto aos alunos. Os professores em transição são profissionais
que ainda associam fortemente o livro didático de Ciências as suas práticas pedagógicas, mas
já apresentam algum grau de autonomia em relação ao uso do mesmo. O último grupo
identificado pela autora é o dos professores transformadores, que possuem uma postura crítica
e reflexiva em relação ao livro didático, abandonando ou relativizando a utilização dos
mesmos como auxiliares, quando os estes colaboram no ensino e aprendizagem das Ciências
Naturais. Ainda segundo Delizoicov (1995), a questão dos professores como meros
reprodutores dos conteúdos dos livros didáticos era um sério problema a ser vencido, ainda
mais num contexto em que se visualizavam confusões e erros grosseiros na edição destas
obras didáticas.
Considerações finais
Notamos também que o conteúdo das pesquisas vem mudando: inicialmente mais
preocupados com a análise da correção conceitual, atualmente os trabalhos abordam também
a dinâmica do uso deste material pelos professores e alunos do ensino fundamental.
O trabalho que envolve pesquisa com livros didáticos visa não apenas a melhoria
destes materiais, mas também a observação de como estes se articulam junto à atuação
docente e o ensino dos conteúdos científicos. A observação desta relação diagnostica as
particularidades do ensino da disciplina e pode sugerir novos caminhos para a educação
escolar, o que pode contribuir para avanços ainda maiores na área.
REFERÊNCIAS
MARTINS, I.; GOUVÊA, G.; PICCINI, C.; BUENO, T.; LENTO, C.; PAULO, N..
Uma Análise das Imagens nos Livros Didáticos de Ciências para o Ensino Fundamental.
In: Anais IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2003.