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Tânia Goldbach
(Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de Ciências - IFRJ)
Florence Casariego
Priscilla Braga A. Bedor
Glaucia Alegre dos Santos B. de Gusmão
(Bolsistas IC – IFRJ/ Licenciatura UFRJ)
tania.goldbach@ifrj.edu.br
Resumo Este trabalho se apóia nos levantamentos, realizados pelo NEDIC-IFRJ, a fim de
esboçar um retrato das pesquisas do campo do Ensino de Genética e temáticas afins.
Envolveu metodologias específicas conforme as fontes investigadas: (1)Anais dos Encontros
da Área de Ensino de Ciências/Biologia (2001-2009), com 167 trabalhos identificados em 14
Anais; (2) Dissertações e teses presentes em bancos digitalizados (54 títulos); (3)Trabalhos
apresentados nas Oficinas “Genética na Praça” e na Seção de Ensino (SBG). Conclui-se que é
preciso uma maior integração entre os atores envolvidos com a pesquisa, definição,
elaboração, execução e revisão de atividades de ensino, em todos os níveis.
Introdução
Realizar levantamentos e esboçar um retrato das pesquisas nacionais do campo do
“Ensino de Genética e temas afins” com vistas a reconhecer tendências, sugestões e caminhos
a serem construídos na direção de renovação da genética escolar são os objetivos deste
trabalho. Este pretende contribuir para os estudos denominados “estado da arte”, isto é, para
compor um “gênero de investigação fundamental para estudos analíticos da produção em
determinada área de pesquisa” (TEIXEIRA & NETO, 2007). Um dos propósitos desta
natureza de inventário é favorecer a socialização de resultados para a comunidade
pesquisadores e professores, além de estabelecer um processo reflexivo sobre a geração de
conhecimentos e suas contribuições, os pontos de redundância, as deficiências e as lacunas
ainda a preencher, apontando para novas demandas.
Objetivo
Formular um panorama da produção acadêmica sobre o ensino de Genética e temáticas
afins, provindo dos principais eventos acadêmicos, das dissertações e teses da Área de Ensino
de Biologia e Ciências e dos trabalhos voltados para o ensino de genética dos Congressos da
SBG. Pretende-se refletir sobre este inventário, contribuindo para construir novos horizontes
na renovação da “genética escolar”.
Metodologia
Resultados e discussão
Totalizaram-se 167 trabalhos (Tabela 1) e verificou-se uma tendência de aumento no
decorrer dos anos, o que pode indicar uma percepção da comunidade de pesquisadores e
professores participantes destes fóruns sobre a necessidade de pesquisas sobre o tema. Foram
elaboradas duas categorias para classificar os trabalhos: os prioritariamente de cunho
acadêmico e aqueles que apresentam proposição/aplicação de atividades práticas – estes
foram arranjados em distintos focos e estratégias, conforme a Tabela 2 indica, atualizando o
relatado em trabalho anterior (GOLDBACH, 2007),
Tabela 2- Estratégias e focos dos trabalhos selecionados nos Anais sobre a temática Genética
e Afins
1 – TRABALHO 2 - PROPOSTAS/APLICAÇOES DE
DE CUNHO ACADÊMICO ATIVIDADES PRÁTICAS
Foram inúmeras as dificuldades encontradas para reunir os dados sobre esta produção,
como salienta Teixeira e Megid-Neto (2007), ao afirmar que o processo de divulgação da
produção acadêmica é incipiente. Muitas vezes os registros e originais se mantém apenas nas
bibliotecas das instituições de origem e não existe um sistema de intercâmbio eficiente. A
busca nos catálogos de teses e dissertações, que estão em progressivo processo de
informatização, ainda requer aperfeiçoamento. Pode-se justifiar o pequeno índice de trabalhos
nos dois últimos anos pelo intervalo de tempo que existe entre a defesa do trabalho e sua
disponibilização nos sítios dos programas ou nos bancos gerais consultados.
Nota-se, na Tabela 4, uma distribuição majoritária de pesquisas provindas dos
Programas da Área de Ensino de Ciências e Matemática (25), quando comparado com os
resultantes da Área de Educação (15), e menos ainda de institutos biológicos (10) e outros (4).
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Constata-se que a maioria dos autores que apresentou trabalhos nesta última fonte
analisada, provém dos Centros, Institutos e Faculdades da área biológica e afins (Biologia,
Genética, Bioquímica, Medicina, Ciências Agrárias, etc) - com os índices de 73,7% (posters)
e 60,6 % (oficinas) – quando comparados com aqueles oriundos de Instituições e Faculdades
diretamente da área de Educação, 10,5% e 18,2% (ver Tabelas 5).
Ainda não foi criteriosamente verificado, mas observa-se baixa circulação entre os
pesquisadores nos eventos da área de Ensino de Ciências e da Seção de Ensino do CBG. Em
trabalho anterior (GOLDBACH et al, 2009), ao se reconhecer os autores recorrentes dos
trabalhos das diversas fontes aqui citadas, observa-se cruzamento positivo entre pesquisadores
presentes nas listagens da produção de teses e dissertações, de trabalhos em eventos da área e
em autoria de artigos de periódicos nacionais. Mas estes não coincidem, em grande
freqüência, com os autores presentes nos trabalhos da Tabela 5.
3 (1,8%).
Região Norte
Tocantins – FACIPAL 1
1 (0.6%).
Região Sudeste UFRJ (4), UFF (2), FIOCRUZ (4), USP (9), 27 (48,9%)
UNESP (7) UNICAMP (1)
Considerações finais
Constatamos que são vários os espaços envolvidos na produção de conhecimento e
idéias sobre a temática – as salas de aula, os espaços de formação de professores, os
programas de pós-graduação situados na área de educação, ensino e sub-áreas biológicas. Em
cada um destes espaços, existem desafios e disputas a serem encaradas.
Os problemas a serem enfrentados são inúmeros: a estrutura curricular que leva ao
tratamento fragmentado da temática no contexto escolar, levando a dificuldade de
compreensão e localização das estruturas, processos (gen, cromossomos, duplicação,
funcionamento gênico) e suas correlações; a simplificação do entendimento do que seja um
gene e como funciona (EL HANI, 2005); a pouca abordagem do aspecto interacionista
presente na expressão e definição das características; o tratamento de aspectos atuais das
aplicações biotecnológicas e suas implicações sociais, ambientais e políticas; são alguns dos
exemplos que podemos mencionar (NOTA 2). A necessidade do domínio dos conceitos em
genética e da dinâmica dos sistemas genéticos com suas interações é fundamental para uma
melhor leitura da vida e do mundo.
Frente ao tamanho dos problemas presentes no ensino da temática Genética e afins,
conforme relata a literatura e inúmeras pesquisas aqui listadas; mas também frente a
multiplicidade de sugestões e caminhos mencionados nos trabalhos, necessário se faz estreitar
os fios das redes tecidas pelos diferentes referidos atores - que aparecem nos números das
tabelas presentes nesta pesquisa-, para constituir um movimento de ressignificação dos
saberes escolares (Lopes, 1998; Marandino, 2002; Chevallard, 2005) e trilhar caminhos na
construção de novos horizontes para o ensino da temática em questão.
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NOTA 1
O termo “Ensino de Genética e Afins”, como tem sido utilizado neste trabalho e nos
levantamentos mencionados, envolve o ensino de temas relacionados à hereditariedade, com
suas bases citológicas, genéticas, moleculares, evolutivas, além das aplicações
biotecnológicas e suas implicações éticas.
NOTA 2
Ver Goldbach (2007-a, 2007-b, 2009) onde são citados autores estrangeiros e nacionais e seus
trabalhos, agrupados em diversas frentes de investigação, apontando problemas, desafios e
caminhos para a pesquisa e o ensino da temática.
NOTA 3:
O detalhamento destes levantamentos estão disponíveis junto ao Núcleo de Pesquisa em
Ensino e Divulgação de Ciências (NEDIC) –IFRJ, sendo que alguns deles fazem parte de
artigos publicados ou em vias de publicação pelo Grupo de Pesquisa. Brevemente estarão
disponibilizados em sítio próprio, vinculado ao sítio institucional.
Referências
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− MOREIRA, M.A. – “Área de Ensino de Ciências e Matemática na CAPES: Panorama
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http://www.fae.ufmg.br
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