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10.26843/rencima.v12n1a06
Resumo: Este artigo refere-se a uma revisão sistemática de literatura e tem como objetivo
identificar as principais temáticas da abordagem em Ensino de Ciências por Investigação
(EI) nos artigos Qualis A1 e A2 nacionais dos últimos anos. O levantamento considerou os
artigos publicados no período de 2015 a 2019. Para a organização e análise do corpus
realizou-se três movimentos específicos. O primeiro movimento buscou organizar,
categorizar e analisar os 39 artigos. O segundo movimento analisou os artigos da área de
Biologia. O terceiro movimento analisou as temáticas encontradas na área de Biologia. A
partir dos procedimentos foi possível identificar as principais áreas de conhecimento
categorizados como Biologia; Química; Física; Multidisciplinar e Reflexões/fundamentos
teórico-metodológicos, bem como, temáticas associadas a essas áreas. As principais
temáticas encontradas nos diversos artigos são: Atividades experimentais; Formação de
professores; Sequências didáticas investigativas. Em se tratando dos artigos específicos
da área de Biologia, as principais temáticas evidenciadas referem-se a Sequências
didáticas investigativas; Atividades investigativas e Argumentação. Para os artigos com
foco na área de Biologia foi possível uma caracterização a partir das Propostas de estudo;
Conceito e/ou definição de EI apresentada no artigo; Conceitos e temáticas relacionadas a
EI; Aspectos metodológicos utilizados e Principais resultados apresentados.
Palavras-chave: Ensino de Ciências por investigação. Ensino de Biologia. Revisão
Sistemática de Literatura.
1 Mestranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Paraná,
Brasil. keilapadilhal@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-3607-6790
2 Mestre em Biociências (Zoologia). Professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Londrina. Paraná, Brasil.
paulo.cypriano@ifpr.edu.br https://orcid.org/0000-0002-2350-0070
3 Doutor em Física. Professor Associado do Departamento Acadêmico de Física da Universidade Tecnológica Federal do
O ensino por investigação foi iniciado século XIX e denominado como inquiry, nome
dado pelo filósofo John Dewey (1971). O autor estabelece a ciência como um método de
ensino envolvendo a observação, verificação e reflexão, onde os conhecimentos científicos
são experiências convertidas em instrumentos de descobertas e progresso, especialmente
a ciência experimental (TRÓPIA, 2009). A partir das práticas escolares, o método científico
é um modelo importante para se utilizar nas experiências dos estudantes em sala de aula.
Segundo Trópia (2009), nas palavras de Dewey (1971, p. 93), “para delas extrairmos luzes
e conhecimentos que nos guiem para frente e para fora em nosso mundo em expansão”.
Tal método consistia em: definição do problema, sugestão de uma solução,
desenvolvimento e aplicação do teste experimental e formulação da conclusão. Ainda
dentro do escopo das ideias de Dewey, o estudante deveria participar ativamente de sua
aprendizagem, por isso os estudantes proporiam um problema para investigarem aplicando
seus conhecimentos de ciências aos fenômenos naturais observados (TRÓPIA, 2009). O
inquiry foi proposto para que o estudante pudesse desenvolver habilidades de raciocínio
para resolução de problemas, e, assim, preparar o estudante para o mundo científico, mas
para isso deveria dar aos estudantes habilidades para formular questões sobre os
problemas encontrados.
publicações de pesquisa na área de ensino. Muitas revistas são da área de educação que também publicam artigos
com temáticas específicas da área de ensino.
A partir da leitura integral dos artigos foram construídos um quadro (Quadro 1) e uma
tabela (Tabela 1), que ajudaram a compreender questões relacionadas às temáticas do
Ensino de Ciências por Investigação. Esta organização resultou na Tabela 1, que promoveu
o mapeamento, sendo classificados os artigos por revista ou periódico, título, autores e ano,
e, também, uma tabela que mostra a distribuição dos artigos por quantidade, período de
publicação nas revistas.
7 Consideramos as revistas mais representativas para comunidade do ensino de ciências, as revistas que por sua tradição,
pioneirismo, número de citações, características das publicações, que possuem origem e vínculos a grupos de pesquisa,
ou programas de pós-graduação e associações de pesquisadores e professores que fazem a pesquisa de alta qualidade.
Total de
Revista 2015 2016 2017 2018 2019
artigos
Ciência & Educação 0 0 2 0 0 2
Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências 3 0 0 0 1 4
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em
0 0 0 11 0 11
Ciências
Investigações em Ensino de Ciências 1 0 2 3 1 7
REnCiMa 0 0 0 3 2 5
Alexandria — Revista de Educação em Ciência e
1 0 0 0 1 2
Tecnologia
Revista de Educação, Ciências e Matemática 1 0 0 0 0 1
Acta Scientiae 1 0 0 0 0 1
Revista Brasileira de Ensino de Ciências e
2 2 1 1 0 6
Tecnologia
Total 9 2 5 18 5 39
Fonte: Elaborado pelos Autores
Áreas Temáticas
Alfabetização científica; Argumentação; Atividades investigativas; Autonomia;
Biologia Educação/ambiente não formal; Formação de professores; Práticas investigativas;
Produtos educacionais; Sequências didáticas investigativas.
Ambiente interativo; Argumentação; Atividade experimental; Educação não formal;
Física
Engajamento videoanálise; Formação de professores.
Ambiente interativo de aprendizagem; Atividade experimental; Educação não
Química
formal; Formação de professores.
Ciências da
natureza Atividades experimentais; Educação não formal; Formação de professores;
Habilidades cognitivas; Propostas didáticas; Sequências didáticas investigativas.
(fundamental)
Multidisciplinas
Ambiente interativo de aprendizagem; Atividades experimentais; Educação não
(Física, Química e
formal; Formação de professores.
Biologia)
Reflexões e
Alfabetização científica; Ambiente interativo; Argumentação; Base nacional;
fundamentos
Designer por projeto; Objetivos formativos/visões das ciências; Proposta didática;
teórico-
Sequências didáticas investigativas.
-metodológicos
Fonte: Elaborado pelos Autores
Após esse agrupamento observou-se o surgimento de temáticas, “tendências”,
abrangendo as diversas áreas de Ciências da Natureza. As temáticas que mais aparecem
nos artigos analisados do Ensino de Ciências por Investigação são: Atividades
experimentais, Sequências didáticas investigativas e Formação de professores.
Vários autores não apontam uma descrição precisa em relação ao conceito, mas
fundamentam seus artigos com conceitos como práticas investigativas e práticas
epistêmicas de investigação (SILVA; TRIVELATO, 2017; SILVA, GEROLIN; TRIVELATO,
2018).
Outros autores apontam o ensino por investigação como: uma perspectiva de ensino
capaz de promover a compreensão da Ciência; sendo um fator determinante para a
construção de um processo instigador; é a valorização das diferentes maneiras de
expressar o conhecimento (OLIVEIRA; OBARA, 2018); como uma abordagem didática
promissora para a apropriação das práticas epistêmicas (SILVA; GEROLIN; TRIVELATO,
Roldi, Silva e Trazzi (2018) apresentam em seu artigo o ensino por investigação
como sendo a ferramenta principal para a construção do conhecimento em processos de
pesquisa científica, e se fundamenta na orientação fornecida pelo professor; privilegia
práticas da comunidade científica e propõe explicações baseadas em evidências do
trabalho investigativo, relacionando o conceito de ensino por investigação com espaços de
educação formal, contando com várias propostas pedagógicas que utilizam a investigação
como foco principal para ensinar ciências.
Trópia (2015) aponta que o Ensino de Ciências por Investigação deve ir além das
atividades técnicas instrumentalistas, como coleta e análise de dados, discutindo relações
e implicações sociais e políticas da investigação científica na sociedade, com inclusão das
controvérsias e possíveis limites das Ciências durante a realização das atividades.
Quanto aos principais resultados apontados pelos autores nos artigos, iniciou-se a
análise com o artigo de Silva e Trivelato (2017). Os principais resultados encontrados em
relação ao Ensino de Ciências por Investigação indicam que as atividades investigativas
com enfoque experimental possibilitam a integração de objetivos conceituais e epistêmicos,
pois exige do aluno uma tomada de decisões nos dados obtidos e um determinado modelo
teórico para explicá-lo, justificando assim sua tomada de decisão. Outro ponto é em relação
à participação dos alunos em atividades investigativas. Segundo os autores, as atividades
propiciam o engajamento em práticas epistêmicas, mas também a construção de
argumentos através de elementos causais para a produção de explicações e justificativas
para argumentação.
Roldi, Silva e Trazzi (2018) identificaram que uma ação mediada colabora para que
os estudantes possam utilizar diversas ferramentas culturais na construção do
conhecimento. Havendo uma interação entre os estudantes para resolver a questão-
-problema, disponibilizando a eles as ferramentas culturais necessárias para a atividade
investigativa.
O artigo de Trópia (2015) analisa as relações com o saber estabelecidas por alunos
que estão inseridos numa proposta de ensino de Biologia, através de atividades
investigativas no ensino médio. Enfatizando o que os alunos entendem por aprender dentro
do ensino de Biologia por atividades investigativas, tendo como base teórica para o
desenvolvimento da pesquisa os estudos da Relação com o Saber de Bernard Charlot
(2000).
Nesse tópico, as relações com o saber dos estudantes superaram a visão restrita da
Ciência, mas afastada da sociedade ao discutir as atividades investigativas para além dos
experimentos empíricos. Trópia (2015) ressalta que a relação com o saber Biologia
encontra-se distante do contexto social, os alunos não relacionaram o saber no ensino por
investigação às relações e implicações sociais da atividade científica na sociedade.
Considerações Finais
Referências
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