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FUNDAÇÃO SÃO PAULO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO


FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

TALITA BIANCHI AIELLO


PROFA. DRA. MARCELA PELLEGRINI PEÇANHA

ANÁLISE TOXICOLÓGICA FORENSE: DA FICÇÃO CIENTÍFICA À REALIDADE

Sorocaba
2011
TALITA BIANCHI AIELLO
PROFA. DRA. MARCELA PELLEGRINI PEÇANHA

ANÁLISE TOXICOLÓGICA FORENSE: DA FICÇÃO CIENTÍFICA À REALIDADE

Relatório Final do Trabalho de Conclusão


de Curso apresentado à Faculdade
Ciências Médicas e da Saúde da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, sob a orientação da Profa. Dra.
Marcela Pellegrini Peçanha, requisito para
obtenção do título de bacharel
em Ciências Biológicas.

Sorocaba
2011
RESUMO
A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos tóxicos de um agente químico em
decorrência de sua interação com o sistema biológico. Na área forense, a ciência é
aplicada com propósitos legais, detectando e quantificando substâncias envolvidas
em crimes. Órgãos colhidos em autópsia, fluídos biológicos obtidos do cadáver ou do
vivo, e produtos orgânicos e inorgânicos suspeitos são usados como amostras de
análise em toxicologia forense e devem ser acondicionadas sem qualquer
conservante, obedecendo aos critérios de garantia da cadeia de custódia. As
principais técnicas de análise toxicológica, no Brasil, variam desde métodos não
instrumentais até os mais sofisticados, como a cromatografia, utilizando como
principais matrizes biológicas o sangue, a urina e o cabelo. Atualmente, muitos
seriados retratam a ciência forense, no entanto com uma visão idealizada, criando
expectativas no mundo real. Embora tenha favorecido à valorização e ao interesse
da carreira de perito, nota-se divergências entre os seriados e a realidade, como
tempo disponível para as análises, demanda dos peritos e alta tecnologia das
técnicas disponíveis. Portanto, ainda há uma barreira que separa a ficção da
realidade.

Palavras chaves: toxicologia forense, técnicas, seriados.


ABSTRACT

FORENSIC TOXICOLOGICAL ANALYSIS: FROM SCIENCE FICTION TO REALITY

Toxicology is the science that studies the effects of a toxic chemical agent due to its
interaction with the biological system. In the forensic science is applied for lawful
purposes, detecting and quantifying substances involved in crimes. Organs harvested
at autopsy, biological fluids obtained from living or dead, and organic and inorganic
suspects are used as samples for analysis in forensic toxicology and shall be secured
without any preservative, according to criteria of ensuring the chain of custody. The
main techniques for toxicological analysis in Brazil are ranging from non-instrumental
methods to the most sophisticated, such as chromatography, using as main biological
matrices blood, urine and hair. Currently, many serials portray forensic science, but
with an idealized vision, creating expectations in the real world. Although it favored
the recovery and the interest of career expert, there is disagreement between the
series and reality, as time available for analysis, demand for high-tech experts and
techniques available. Therefore, there is still a barrier that separates fiction from
reality.

Key-words: forensic toxicology, technical, series.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 10
4 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 11
4.1 A Toxicologia Forense – Um breve histórico ....................................................... 11
4.2 A Toxicologia Forense – Aplicações ................................................................... 12
4.3 Fluxo de procedimentos ...................................................................................... 14
4.4 Técnicas disponíveis ........................................................................................... 16
4.4.1 Principais técnicas utilizadas ............................................................................ 17
4.4.2 Detecção de substâncias em diferentes matrizes ............................................ 19
4.4.3 Técnica X Uso forense ..................................................................................... 19
4.5 O papel dos seriados .......................................................................................... 21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 24
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26
6

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a etimologia, toxicologia é o estudo dos tóxicos. Portanto, é a


ciência voltada a compreender os venenos, sua existência, sua ocorrência, seus
comportamentos e mecanismos de ação (FUKUSHIMA;AZEVEDO, 2008), ou seja,
os efeitos tóxicos de um determinado agente químico em decorrência de sua
interação com o sistema biológico. Se tais efeitos não forem diagnosticados, podem
levar até ao óbito (PEDROZA, 2011). O veneno pode ser definido como qualquer
substância que causa efeitos deletérios para um organismo vivo, quando
administrada acidental ou intencionalmente (HODGSON, 2004).
O histórico da toxicologia e a reação da sociedade diante de seus vários
problemas podem ser divididas em várias fases (ALVES, 2005). Primeiramente, o
homem observava o efeito de determinadas plantas e animais ingeridos por outros
animais e seres humanos, e a partir dos efeitos tóxicos causados pela substância no
organismo, o uso de determinadas plantas e animais era evitado (ARAÚJO, 2011).
Na Idade Média, os venenos foram usados para punição e homicídio. No entanto,
somente alguns produtos eram classificados venenosos, como arsênio, cianeto e
ácido sulfúrico. Essa fase determina o período mais extenso e marcante na história
da toxicologia (ALVES, 2005).
No século XIV, Paracelsus difundiu o uso de medicamentos, porém
ressaltando que um determinado medicamento, dependendo da dose administrada,
poderia se tornar tóxico (ARAÚJO, 2011; ALVES, 2005). Postulou que a diferença
entre o que cura e o que envenena é a dose (FUKUSHIMA;AZEVEDO, 2008).
Somente após a Segunda Guerra Mundial, os mecanismos de toxicidade das
substâncias tornaram-se mais conhecidos. Os efeitos benéficos dos fármacos foram
percebidos com a introdução dos primeiros antibióticos, ao mesmo passo que já se
conhecia a possibilidade de reações adversas (ALVES, 2005).
Alguns casos de intoxicação com repercussão mundial estimularam a
realização de congressos internacionais e a formação de sociedades internacionais
para discussão de temas em toxicologia e para propor metodologias a serem
empregadas na detecção de ações tóxicas de substâncias (ALVES, 2005). Dentre
eles, o caso da talidomida no princípio dos anos 60, quando aumentou a incidência
7

de nascimentos de bebês com malformações de membros


(OLIVEIRA;BERMUDEZ;SOUZA, 1999; SILVEIRA;PARDINHO;GOMEZ, 2001).
A exemplo mais recente de riscos toxicológicos, temos a explosão dos
reatores da usina de Fukushima, no Japão, constatando o vazamento de isótopos de
césio e iodo nas redondezas da usina. Embora se faça a relação com o desastre de
Chernobyl, na Ucrânia (1986) onde uma nuvem de resíduos radioativos se espalhou
pela Europa, especialistas afirmam que o caso de Fukushima não tomará as
proporções de Chernobyl (AIEA, 2011; ENTENDA, 2011). Tais ocorrências podem
apresentar implicações forenses também, como indenizações. De acordo com
publicação recente, a Tokyo Electric Power (Tepco) ofereceu indenizações a dez
cidades vizinhas à usina de Fukushima (VAZAMENTO, 2011).
Inicia-se uma terceira fase, onde a intoxicação é encarada sob diferentes
aspectos, permitindo uma subdivisão em várias áreas, na sua grande maioria
correlacionadas, tais como: Toxicologia ambiental, Toxicologia ocupacional,
Toxicologia clínica, Toxicologia analítica, Toxicologia regulatória, Toxicologia social e
Toxicologia forense (ALVES, 2005). Trata-se, portanto, de uma ciência
multidisciplinar, permitindo diversos campos de atuação (PEDROZA, 2011).
Assim, a toxicologia deixou de ser uma ciência apenas descritiva e analítica e
adquiriu um cunho experimental. Com isso, assumiu um enfoque de prevenção,
através da sua aplicação para o reconhecimento, identificação e quantificação de
riscos (MORAES, 1991).
Considerando apenas a Toxicologia Forense, temos a aplicação da toxicologia
com propósitos legais (BICHO, 2004), com o principal objetivo de detectar e
quantificar as substâncias tóxicas eventualmente presentes em situações criminais
(ALVES, 2005).
Até ao século XX, a toxicologia forense limitava-se a estabelecer a origem
tóxica de um determinado crime e o profissional atuava diretamente no cadáver
apenas para pesquisar e identificar o agente. Atualmente o campo de ação estende-
se desde as perícias no vivo e no cadáver, até situações de saúde pública (ALVES,
2005).
As análises toxicológicas, qualquer que seja a área da toxicologia a que se
destinam, envolvem detecção, identificação e quantificação das substâncias
relevantes do ponto de vista toxicológico e a interpretação dos resultados. O
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resultado obtido estabelece a relação de causa e efeito, ou seja, se houve ou não a


intoxicação sobre a qual recai a suspeita (BICHO, 2004).
Hoje, muitos seriados retratam a ciência forense, no entanto com uma visão
idealizada e irrealista do trabalho do perito e da realidade dos laboratórios de
análise, criando expectativas de que a resolução de um crime é objetiva, imediata e
fácil (MACHADO;SANTOS, 2008a). Por esse motivo, quando se assiste a episódios
da franquia de TV “CSI” há o risco de formar uma opinião errada sobre as análises
de material genético empregadas em investigações criminais e processos
(NOGUEIRA, 2010). Além disso, no seriado uma equipe faz todo o trabalho desde a
análise do local do crime, análise de laboratório e interrogatório dos suspeitos, o que
não condiz com a realidade de uma investigação criminal (FLETCHER, 2007).
Sob esse ponto de vista, torna-se interessante verificar se a realidade da
investigação criminal corresponde ao que é transmitido pelos seriados (FLETCHER,
2007), a fim de traçar o verdadeiro panorama da toxicologia forense no Brasil.
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2 OBJETIVOS

• Verificar as técnicas de análise toxicológica forense disponíveis no Brasil


• Entender a aplicabilidade de cada técnica toxicológica
• Traçar o cenário real da situação atual da toxicologia forense e desmitificar
sua utilização distinguindo procedimentos reais de fictícios.
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3 METODOLOGIA

O desenvolvimento do projeto baseou-se na busca de artigos científicos,


revisões bibliográficas, periódicos científicos e livros de ciências forense,
criminalística e toxicologia, de modo a realizar um levantamento teórico do assunto.
Portanto, a pesquisa foi exclusivamente teórica, não sendo necessária a
realização de nenhum teste prático.
Para maior obtenção de dados e esclarecimento de dúvidas, o pesquisador
realizou uma visita ao Núcleo de Perícias Criminalísticas de Sorocaba. Além disso,
participou do III Simpósio Forense do Instituto Paulista de Estudos Bioéticos e
Jurídicos, nos dias 29/30 de setembro e 01 de outubro, em Ribeirão Preto/SP.
As pesquisas estiveram compreendidas no período de maio a setembro de
2011. Para a realização da pesquisa, foram utilizadas as palavras-chave: toxicologia,
toxicologia forense, técnicas analíticas e medicina legal.
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4 DESENVOLVIMENTO

4.1 A Toxicologia Forense – Um breve histórico

A toxicologia forense é a aplicação da toxicologia com propósitos legais


(BICHO, 2004), com o principal objetivo de detectar e quantificar as substâncias
tóxicas eventualmente presentes em situações criminais (ALVES, 2005). Portanto,
toxicologia forense e legislação se sobrepõem (COSTA, 2008).
Acontecimentos como o assassinato da atriz Daniela Perez (1992), o caso
“Suzane von Richtofen“ (2002), “Casal Nardoni” com a morte da menina Isabela
(2008), a queda do airbus da Air France vôo 447 (2009) e a advogada Giovana
Mathias Manzano que pagou para ser morta (2011), tiveram grande repercussão na
mídia, sensibilizando a população como um todo e recrutando um grande número de
profissionais das mais diversas áreas.
Em situações como essas, a perícia desempenhou seu papel
incansavelmente, sendo persistente nas buscas até alcançarem a verdadeira causa
dos crimes, com provas periciais que permitiram o julgamento dos suspeitos.
Até o ano de 1700, as convicções associadas à intoxicação eram
simplesmente baseadas em evidências circunstanciais, não havendo a identificação
do verdadeiro agente tóxico que acometeu a vítima (BRANCH, 2004).
Já na Antiguidade, se suspeitava de crimes com envolvimento de substâncias
nocivas ao homem, como o caso da imperatriz romana Agrippina que envenenou
seu marido com arsênio para poder se casar com seu tio, a quem ela veio a
envenenar posteriormente para que seu filho Nero tomasse seu lugar (EMSLEY,
2010). No entanto, não havia técnicas que pudessem confirmar tal suspeita, ao
contrário dos dias atuais que dispõem dos mais variados e sofisticados métodos
para elucidar crimes e situações de intoxicação.
Em 1781, Joseph Plenic afirmou que a detecção e identificação do veneno
nos órgãos do cadáver eram os únicos sinais verdadeiros de envenenamento
(BRANCH, 2004). Contudo, somente no início do século XVIII o conhecimento sobre
venenos aumentou.
Mathieu J. B. Orfila (1787-1853) foi o primeiro a utilizar materiais coletados
durante sessões de necropsia e a aplicar a química analítica para comprovar
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cientificamente envenenamentos (COSTA, 2008). Assim, foi considerado o “pai da


toxicologia forense”, e em 1813 publicou o primeiro livro sobre venenos e medicina
legal (BRANCH, 2004).
A partir daí, nota-se que a toxicologia forense tornou-se uma ciência de
extrema importância, principalmente na área de perícia criminal.
No Brasil, o exame do corpo de delito e as perícias em geral são previstos no
Decreto-Lei Nº 3.689, de 03 de Outubro de 1941 – Código de Processo Penal
Brasileiro (SOUZA, 2010), onde lê-se (título VII, capítulo II):

"Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será


indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado.

A prova pericial, então, é considerada fundamental durante investigações


policiais e há décadas as ciências forenses têm produzido evidências que
contribuíram para o sucesso na condenação de criminosos, assim como na
absolvição de inocentes (GONTIJO;SILVA, 2010).
A toxicologia forense ainda é uma área em desenvolvimento e está sempre
incorporando as novas tecnologias disponíveis na área analítica. Além do avanço
tecnológico, a toxicologia forense também se moderniza constantemente, pois novos
“venenos” são descobertos diariamente. (COSTA, 2008).
Observa-se que, a princípio, a confirmação de um crime baseava-se apenas
em suspeitas e indícios. Diante da necessidade de desvendar corretamente um
caso, técnicas de identificação foram estudadas, desenvolvidas e colocadas em
prática. Partiram de níveis simples de complexidade, chegando nos dias atuais aos
mais avançados níveis moleculares.
Com o dinamismo dessa ciência, o aperfeiçoamento das técnicas tende a
evoluir cada vez mais, acompanhando a evolução tecnológica dos recursos
disponíveis às pesquisas científicas.

4.2 A Toxicologia Forense – Aplicações

Toda atividade pericial é prevista no Código de Processo Penal. Diante de um


delito/situação criminal, está determinado que a autoridade policial, o delegado de
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polícia, é responsável por providenciar medidas que não alterem a cena do crime,
até a chegada dos peritos (SOUZA, 2010).
Atualmente, tomando por base o estado de São Paulo, a Secretaria de
Segurança Pública é dividida em Polícia Militar, Polícia Civil e, recentemente,
Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) (Organograma 1). Esta,
anteriormente, estava dentro da Polícia Civil, como ainda é possível observar em
alguns estados brasileiros. Por sua vez, a Polícia Científica é subdividida em Instituto
de Criminalística (IC), responsável por perícias em objetos e locais, e Instituto
Médico-Legal (IML), que realiza perícias “in vivo” e “post-mortem”1.

Organograma 1 - Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo

Secretaria de
Segurança Pública

Superintendência de
Polícia Militar Polícia Civil Polícia Técnico-
Científica

Instituto de Instituto Médico-Legal


Criminalística (IC) (IML)

Para garantir a preservação das evidências, o delegado se dirige ao local e


solicita o isolamento da área, evitando qualquer interferência no trabalho do perito
criminal. Primeiramente, realiza-se uma observação do local como um todo,
registrando informações relevantes. Somente então, inicia-se a escolha e colheita
dos vestígios. A partir desse momento, é fundamental manter o procedimento de
garantia da cadeia de custódia, que será detalhado no capítulo 3 (SOUZA, 2010).
A perícia é organizada em função de responder aos questionamentos do
delegado, embora nem sempre, dependendo do caso, seja possível oferecer uma
resposta com embasamento técnico-científico confiável (QUÍMICA, 2007).
O material coletado será enviado para os laboratórios do IC e do IML para a
realização das análises pertinentes ao suposto delito. Quando necessária a análise

1
Informação obtida durante o mini-curso “Toxiologia Forense”, ministrado pela Profª. Drª. Sílvia O. S.
Cazenave, durante o III Simpósio Forense realizado em Ribeirão Preto (setembro de 2011).
14

toxicológica, os exames têm por objetivo diagnosticar intoxicações, que podem ser
acidentais, voluntárias ou intencionais (RANGEL, 2004; COSTA, 2008).
As análises que visam identificar e quantificar o agente tóxico são realizadas
tanto em fluidos biológicos, como em água, alimentos e medicamentos. Pode ser
aplicada em diversos segmentos, como dopagem no esporte e assuntos
regulatórios, porém sua principal finalidade é identificar substâncias que possam
estar relacionadas a uma situação criminal (COSTA, 2008).
As atividades da toxicologia forense têm sido importantes para a sociedade
como auxílio na tomada de decisões sobre a relação causa/efeito entre um
determinado composto e um efeito adverso observado. Logo, na toxicologia forense
é importante ter uma análise específica e sensível para a quantificação de
substâncias lícitas e ilícitas em matrizes biológicas (COSTA;CRUZ;OSHIMA-
FRANCO, 2010).
Qualquer erro no campo forense acarreta conseqüências de grande efeito,
uma vez que podem permitir falhas na análise e interpretação da evidência. Um
inocente pode ser julgado culpado, assim como um criminoso pode ser libertado
(GONTIJO; SILVA, 2010).

4.3 Fluxo de procedimentos

Por mais que os avanços tecnológico e científico venham contribuindo com as


ciências forenses de modo a melhorar a capacidade de reunir evidências
importantes em processos criminais, não há garantia de que estas evidências serão
aceitas como prova pericial pela justiça (LOPES;GABRIEL;BARETA, 2006).
Legalmente, para garantir a identidade e integridade da amostra, todos os
procedimentos adotados, da coleta ao descarte, precisam ser devidamente
documentados, constituindo o que se denomina Cadeia de Custódia (CC)
(LOPES;GABRIEL;BARETA, 2006).
A CC registra informações de campo, de laboratório e das pessoas que
manusearam a amostra (LOPES;GABRIEL;BARETA, 2006) e por isso trata-se de
uma documentação que deve estar disponível em caso de qualquer questionamento
com relação ao trabalho desenvolvido (LIMBERGER et al., 2010).
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Nesta área forense, vale ressaltar que as amostras são, na maioria das vezes,
únicas e a perda das mesmas significa um prejuízo, inviabilizando a análise, no caso
toxicológica. Portanto, assegurar a memória de todas as fases do processo garante a
idoneidade do resultado e permite rebater possíveis contestações que venham a
surgir (LOPES;GABRIEL;BARETA, 2006).
De acordo com a especificidade do caso e o tipo de análise pretendida, são
realizadas a seleção e colheita das amostras mais adequadas. A estas não pode ser
adicionado qualquer preservante, devendo o seu acondicionamento obedecer aos
critérios de garantia da Cadeia de Custódia (ALVES, 2005). Assim, as evidências são
mantidas intactas (DINIS-OLIVEIRA et al., 2010).
A legitimidade de uma evidência está principalmente relacionada ao modo
como ela é obtida: os cuidados tomados para evitar contaminação, perda parcial ou
total, ou não percepção da existência da evidência.
As metodologias de investigação apresentam uma série de fases: rastreio,
confirmação, quantificação e interpretação. Iniciam-se por um teste geral (que
detecta um grande número de substâncias, permitindo fazer uma triagem de casos
negativos) e, só numa fase posterior se recorre aos métodos de confirmação (que
permitem confirmar a presença de substância suspeita, bem como identificá-la e/ou
quantificá-la) (ALVES, 2005).
Os materiais disponíveis para análise forense são os mais diversos possíveis,
o que aumenta muito o grau de dificuldade deste tipo de análise (COSTA, 2008). As
matrizes biológicas utilizadas na caracterização da exposição humana, em testes in
vivo, são: urina, plasma, sangue, saliva e cabelo, podendo ser utilizadas matrizes
alternativas como suor, unha mecônio, tecidos e cabelos de recém-nascidos (BICHO,
2004; CAZENAVE;CHASIN, 2009).
Por outro lado, as matrizes biológicas normalmente utilizadas na
caracterização da exposição humana, em análises post mortem, são: sangue total
(aorta, cavidade cardíaca e femoral), humor vítreo e vísceras, como fígado, rins e
cérebro (BICHO, 2004).
Por fim, o resultado destas perícias constitui o Laudo de Análise Toxicológica,
no qual devem constar, entre outros, a identificação do processo ou inquérito e da
entidade requisitante, o método analítico utilizado, o especialista responsável pela
execução das análises e os níveis de detecção e de quantificação (ALVES, 2005).
16

Ao passo que se desenvolveram, as ciências forenses adotaram técnicas,


equipamentos e procedimentos para a otimização do processo de coleta e manejo
das evidências encontradas em cenas de crimes ou em objetos de interesse
(GONTIJO;SILVA, 2010).

4.4 Técnicas disponíveis

Para as análises toxicológicas é imprescindível que o laboratório tenha à


disposição métodos analíticos simples e inequívocos, uma vez que os resultados
obtidos contribuem para a confirmação da substância em pesquisa ou análise
(COSTA;CRUZ;OSHIMA-FRANCO, 2010).
Esses métodos variam de acordo com a disponibilidade de recursos -
laboratórios com poucos recursos tendem a utilizar mais procedimentos manuais;
laboratórios com maior investimento utilizam equipamentos que mecanizam o
processo (GONTIJO;SILVA, 2010).
Para tanto, requer técnicas de fácil execução e com respostas rápidas, como
os testes de triagem, e técnicas mais específicas baseadas em um princípio de
detecção diferente, que concretizam uma etapa confirmatória (LIMBERGER et al.,
2010).
Os métodos de triagem apresentam alta sensibilidade e menor especificidade.
Já os métodos confirmatórios são de alta especificidade. Para que o resultado da
análise seja considerado como positivo, o resultado da triagem e da confirmação
devem ser positivos, segundo os critérios pré-determinados e internacionalmente
aceitos (FASSINA et al., 2007).
Independente da metodologia empregada, demonstrar confiança e
aplicabilidade é fundamental e consiste na avaliação de um método que garante um
desempenho adequado para a análise a que se tem interesse (LIMBERGER et al.,
2010).
Cabe ao toxicologista forense escolher qual técnica é mais apropriada para a
análise, baseando-se em critérios como aplicabilidade, sensibilidade, seletividade,
precisão e exatidão da técnica, além da disponibilidade e do custo da análise.
(COSTA, 2008). No entanto, é um desafio selecionar o método mais apropriado
diante da diversidade de alternativas disponíveis.
17

4.4.1 Principais técnicas utilizadas

As principais técnicas de análise toxicológica incluem desde os clássicos


métodos não instrumentais, como os testes colorimétricos, até outros mais
sofisticados, sendo o caso dos imunoensaios e da cromatografia – cromatografia em
camada delgada (CCD), cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta
eficiência (CLAE) (CUNHA et al., 2001; OSSELTON, 2004).
Os testes podem ser rápidos, fáceis de se realizar e de baixo custo, ou
complexos e de alto custo, normalmente não sendo utilizados como técnicas de
triagem (CUNHA et al., 2001).

4.4.1.1 Colorimétricos

Os métodos colorimétricos baseiam-se na mudança de cor em resposta a


interação de uma substância com um meio ácido ou alcalino (GAMA;AFONSO,
2007). É considerado um dos métodos mais tradicionais de uso em laboratório,
devido a sua simplicidade, baixo custo e rapidez. Porém, o risco de sofrer
interferência de outros elementos é alto (MICARONI;BUENO;JARDIM, 2000), por
isso são indicados para testes de triagem.

4.4.1.2 Imunoensaios

Os imunoensaios são testes bioquímicos usados para detectar ou quantificar


uma substância específica, o analito, em uma amostra biológica, por meio do
reconhecimento de um antígeno por um anticorpo (AMATO, et al., 2009).
Caracterizam-se por serem testes simples e práticos, fáceis para o preparo da
amostra e apresentam resultados em tempo consideravelmente curto. Podem tanto
ser aplicados in loco, utilizando testes imunocromatográficos rápidos, como por meio
de métodos automatizados em laboratórios, como exemplo o teste de ELISA
(Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) (LIMBERGER et al., 2010).
O analito pesquisado na amostra biológica pode ser tanto um anticorpo, como
um antígeno. Se tratando de anticorpos, estes podem ser policlonais ou monoclonais
(AMATO, et al., 2009).
18

Os anticorpos policlonais são produzidos em diversas espécies animais e


reconhecem vários sítios da molécula de interesse. Já os monoclonais derivam de
uma única espécie animal e reconhecem um único sítio da molécula. Por esse
motivo, os anticorpos monoclonais são considerados mais específicos e, por
conseqüência, utilizados com maior freqüência (AMATO, et al., 2009).
O resultado, como já dito, é emitido em poucos minutos, a partir da leitura
visual do dispositivo na presença ou ausência de coloração. Podem ser encontradas
no mercado em versões destinadas à detecção de uma única substância ou de
várias substâncias simultaneamente (COSTA, 2009).
A aplicação desse método em análises de fármacos e drogas de abuso com
finalidade forense é restrita à testes da etapa de triagem (FUKUSHIMA et al., 2009).

4.4.1.3 Cromatografias

A cromatografia é um método físico-químico de separação, baseado na


migração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a
diferentes interações, entre duas fases imiscíveis, a fase móvel e a fase
estacionária. A grande variedade de combinações entre fases móveis e
estacionárias a torna uma técnica extremamente versátil e de grande aplicação
(DEGANI; CASS; VIEIRA, 1998).
Essa técnica possibilita a identificação e quantificação simultânea de diversos
compostos, nas mais diversas matrizes, demonstrando sua alta sensibilidade e
confiabilidade na determinação da substância de interesse (LIMBERGER et al.,
2010).
Os métodos cromatográficos como CLAE (cromatografia líquida de alta
eficiência) e CG-EM (cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas)
são os mais utilizados para análises de drogas em indivíduos e em seus fluidos e
tecidos biológicos (sangue, urina, cabelo, etc.) (LIMA;SILVA, 2007), sendo
atualmente as técnicas mais difundidas nas análises forenses sob o aspecto
toxicológico (LIMBERGER et al., 2010).
Dentre estas, a técnica de CG apresenta menor custo, no entanto é aplicável
somente a analitos voláteis e termicamente estáveis. Em contrapartida, a CLAE é
considerada mais sensível, sendo que um maior número de substâncias podem ser
19

analisados simultaneamente, contudo possui um custo geralmente muito maior


quando comparado a CG (LIMBERGER et al., 2010).
Independentemente, qualquer técnica cromatográfica, considerando as
vantagens aqui expostas, tem sido a melhor escolha para ser aplicada nos testes da
etapa confirmatória de uma análise toxicológica forense.

4.4.2 Detecção de substâncias em diferentes matrizes

Reforçando o que já foi dito no capítulo 3, diversas são as matrizes biológicas


que permitem a análise toxicológica forense. Dentre as mais comuns e de maior
ocorrência dentro dos Institutos de Criminalística e dos Departamentos Médico-
Legais estão amostras de sangue, humor vítreo, urina, fígado, cérebro, estômago e
conteúdo gástrico (FASSINA et al., 2007).
Cada matriz, considerando sua peculiaridade, é mais adequada para a
análise de uma determinada substância (COSTA, 2008). Logo, a diversidade de
substâncias pesquisadas varia em função da matriz biológica (FASSINA et al.,
2007).
Partindo do estudo realizado por Fassina et al. (2007), por exemplo, o sangue
é indicado em casos de dosagem alcoólica, assim como o humor vítreo. Já urina é
utilizada em grande parte na detecção de psicotrópicos, enquanto que as vísceras
são as melhores em análise de venenos.

4.4.3 Técnica X Uso forense

Após descritas as principais técnicas utilizadas nos laboratórios de toxicologia


forense, é necessário entender em que momento serão empregadas.
Considerando a variedade de substâncias conhecidas, boa parte delas pode
estar envolvida em situações de intoxicações (COSTA, 2008). Baseado em
publicação da ANVISA (BICHO, 2004) e do Laboratório Central de Polícia Técnica
do Estado da Bahia (BANDEIRA, 2008), determinou-se sete grupos de substâncias
de interesse forense, baseado na publicação: estimulantes, opiáceos, depressores
de sistema nervoso central (SNC), voláteis, canabinóides, alucinógenos e venenos.
Dentre os estimulantes, estão cocaína, anfetamina e metanfetamina, cafeína
e nicotina. Para opiáceos, destacam-se morfina, metadona e heroína. Barbitúricos e
benzodiazepínicos compõem o grupo dos depressores de SNC, enquanto nos
20

voláteis estão álcoois e inalantes, como clorofórmio, diclorometano e acetona


(BICHO, 2004).
O grupo dos canabinóides determinam tetrahidrocanabinol (THC) e os
alucinógenos compreendem LSD, ecstasy, e algumas plantas e fungos
alucinógenos. Por fim, dentro da classificação dos venenos, destacam-se monóxido
de carbono, cianeto e agrotóxicos, como organoclorados, organofosforados e
carbamatos (BICHO, 2004).
Todos os grupos podem ser analisados a partir das três principais técnicas
forense – testes colorimétricos, imunoensaios e cromatografia, como pode-se
observar na tabela 1. No entanto, os tipos de testes colorimétricos variam para cada
grupo de substância. Isso depende da composição da substância, logo o reagente
deve ser específico para que apresente alteração de cor após a interação.

Tabela 1 - Principais técnicas utilizadas em análise toxicológica forense em relação aos


grupos de substâncias mais comuns em casos de suspeita de intoxicação.
TÉCNICA
Cromatografia
SUBSTÂNCIA Testes colorimétricos Imunoensaios
CG CLAE CCD
Teste de Simon
Teste de Marquis
Teste de Mayer
Estimulantes Teste com Tiocinato de X X X X
Cobalto
Pac-Nik

Teste de Marquis
Teste de Ácido Nítrico
Opiáceos X X X X
Pac-Nik

Teste de Duquenois-
Levine
Canabinóides X X X X
Teste Fast Blue B Salt

Teste de Simon
Teste de Marquis
Alucinógenos X X X X
Teste de Ehrlich
Pac-Nik
Teste de Iodofórmio
Voláteis X X X -
NICLOUX
Teste de Dille-Kopany
Teste de Zwikker
Depressores de SNC X X X -
Teste de Millon
Pac-Nik
Venenos - X X X -
21

Em relação aos imunoensaios, de um modo geral, os testes mais empregados


são imunocromatográficos, imunofluorescência (exceto canabinóides) e ELISA.
Lembrando que para substância, o anticorpo utilizado será específico.
Como as técnicas de cromatografia são as mais sofisticadas e precisas no
cenário forense, nota-se que a CG e a CLAE podem ser utilizadas para detectar e
quantificar a presença de todos os sete grupos citados. No caso da CCD, exclui-se o
seu uso nos casos de análise de depressores de SNC e voláteis.
Ainda com base no estudo de Bicho (2004), algumas outras técnicas são
aplicadas, em menor freqüência, como a espectrofotometria. Outras, ainda estão
sendo aprimoradas e implantadas nos laboratórios, mas já apresentam resultados
significativos, no caso a eletroforese capilar. Além de se tratar de uma técnica nova,
explora uma matriz biológica que também tem recebido maior importância
recentemente, o cabelo (COSTA, 2008).

4.5 O papel dos seriados

As séries de ficção criminal, como o “CSI”, “Cold Case” e “Bones”, têm por
base a dramatização de casos criminais nos quais o detetive é capaz de solucioná-
los graças à ciência forense (MACHADO;SANTOS, 2008a). Retratam o trabalho dos
investigadores e da perícia, inclusive em laboratório (TAUFIC, 2007; SANTOS,
2009).
A popularidade e multiplicação desses seriados despertaram a curiosidade da
população pelo cotidiano desses profissionais, assim como o interesse em saber se
o que é transmitido na televisão condiz com a realidade da Polícia Técnica-
Científica. (TAUFIC, 2007; SANTOS, 2009)
O fato das séries investigativas retratarem que a prova científica e os
trabalhos realizados nos laboratório conduzem, em sua grande maioria, à
descoberta da “verdade”, permitiu que se acreditasse que a ciência e a tecnologia
apresentam potencial infinito (PODLAS, 2006; MACHADO;SANTOS, 2008a;
MACHADO;SANTOS, 2008b).
Dessa forma, as percepções da ciência forense são construídas a partir do
que é transmitido pelos seriados, ou seja, uma visão idealizada e irrealista do
trabalho do perito durante uma investigação criminal (MACHADO;SANTOS, 2008a).
22

A princípio, tem-se a impressão de que existem duas ou três pessoas que


fazem tudo durante a perícia, desde a análise do local do crime, análises
laboratoriais, até o interrogatório dos suspeitos. Especialmente no “CSI”, as pessoas
do laboratório criminal ficam correndo, lutando com os suspeitos, indo para os locais
de crime, fazendo prisões, algemando os suspeitos. Isso não condiz com a
realidade. Pode até haver algum trabalho no local de crime, mas não há contato com
suspeitos (FLETCHER, 2007).
Aos peritos, cabe analisar o local de crime e realizar os testes com as
amostras, sendo que as equipe se dividem em peritos de linha e peritos de
laboratório. Cabe a cada profissional realizar uma atividade distinta.
Outro ponto plausível de discussão é o tempo reservado para a análise das
amostras. Ao contrário do que se espera, os casos não são resolvidos em 40
minutos, pois os detalhes devem ser analisados com calma (FLETCHER, 2007), não
havendo duração pré-determinada para a realização de uma perícia.
Em decorrência do exposto pela televisão, cria-se expectativas de que os
laboratórios criminais são supridos de recursos incríveis, o que remete à idéia de
facilidade e imediatismo para obtenção e análise de provas (FLETCHER, 2007;
MACHADO;SANTOS, 2008a). Quando o laboratório não corresponde ao perfil “high-
tech” demonstrado pelas séries, acaba por gerar questionamentos quanto a sua
qualidade (MACHADO;SANTOS, 2008a).
Na verdade, a estrutura dos laboratórios espalhados pelo Brasil é variável. É
possível encontrar alguns que dispõem de aparelhos mais novos e sofisticados e
que conseguem realizar suas análises com mais precisão, sem dispensar os
métodos tradicionais, mas também há aqueles que ainda estão com estrutura
precária, muitas vezes precisando recorrer a outros laboratórios2.
Não há dúvidas de que um dos motivos desse fascínio popular encontra-se
na sofisticação dos equipamentos utilizados nos seriados (SANTOS, 2009). Dessa
forma, o efeito CSI se tornou um verdadeiro desafio para os laboratórios criminais,
que agora enfrentam grandes expectativas (FLETCHER, 2007).
Além disso, aos poucos tem se disseminado a idéia de que os resultados das
perícias aplicam-se diretamente no veredito dos envolvidos em um suposto crime,

2
Informação obtida durante o mini-curso “Perícia Criminal e Análise Forense”, ministrado pela Profª. Drª. Ana
Cláudia Pacheco, durante a XIX Semana da Biologia da PUC-SP, realizada em Sorocaba (18 de outubro de
2011).
23

sendo que na realidade a legislação coloca a perícia apenas como um meio de


prova, estando entre a prova e a sentença (LIMA et al., 2011).
O que ocorre é que o “CSI” retrata uma super-ciência, influenciando na crença
de que a ciência forense é sempre precisa e infalível (PODLAS, 2006), aumentando
as expectativas no mundo real (MACHADO;SANTOS, 2008a).
Mas o efeito que os seriados estão causando na sociedade não é de um todo
em malefício. Por mais que se crie essa expectativa idealizada (principalmente na
mídia e nas famílias de vítimas), existe o lado positivo do público estar
compreendendo melhor as vantagens da tecnologia. A fusão entre realidade e ficção
veio em benefício, pois contribui para reforçar a autoridade moral da ciência
(MACHADO;SANTOS, 2008a).
Independentemente, um fator é indiscutível: tanto a ficção quanto a realidade
revelam o caráter relevante do trabalho dos investigadores e peritos criminais,
dentro de um contexto tecnológico e de interação das mais variadas áreas de
conhecimento (SANTOS, 2009).
24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em geral, a toxicologia e todas as outras ciências forenses eram um grande
mistério para a população, até o surgimento dos seriados criminais, que nos dias
atuais são constantes na televisão.
O exercício das atividades dos profissionais forenses sempre foi muito restrito
ao ambiente investigativo e pouco era comentado a respeito de suas habilidades e
responsabilidades. Até mesmo diante de casos de grande repercussão que
envolveram a perícia criminal, estes profissionais mantiveram-se discretos.
Em função da multiplicação dos seriados como “CSI”, a população passou a
se interessar mais pela realidade investigativa, o que de certa forma repercutiu de
maneira positiva. A ciência e a tecnologia são melhor compreendidas, os peritos são
mais valorizados e o número de interessados em seguir esta carreira aumentou
significativamente.
Por outro lado, a popularidade das séries de ficção criminal permitiu que o
público criasse uma visão idealizada e incorreta da realidade do trabalho de um
perito. As divergências são notadas diante do modo como os peritos trabalham, do
tempo de duração de cada análise pericial e da alta tecnologia das técnicas
laboratoriais.
Nossos peritos são responsáveis apenas pela análise do local de crime e das
amostras, não sendo de sua competência qualquer contato com um possível
suspeito. Ainda mais, a perícia deve ser minuciosa, por esse motivo não é possível
realizá-la em pouco tempo.
Quanto aos métodos, o Brasil dispõem de diversas técnicas para fins
toxicológicos, de simples a sofisticadas, mas a tecnologia não se compara ao que é
transmitido. A determinação da técnica adotada para um determinado caso depende
da substância em questão e do tipo de matriz, biológica ou não, recebida para
análise.
De certa forma, a influência dos seriados na contribuição da crença de que a
ciência forense é infalível tem refletido diretamente no aumento da expectativa no
mundo real.
Cabe ao público aproveitar o que os seriados estão disponibilizando, a critério
de curiosidade, mas entender que da ficção à realidade existe uma barreira que
25

separa o conteúdo idealista do realista. O ambiente retratado na televisão do


verdadeiro cenário forense do Brasil.
Talvez um dia a realidade se aproxime, ou até se iguale, a dos seriados. Mas,
por enquanto, a única certeza é que com o avanço tecnológico, novas técnicas
forenses serão desenvolvidas para garantir que todo o processo criminal ocorra
seguramente.
26

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