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Analise Toxicologica Forense Da Ficcao Cientifica A Realidade
Analise Toxicologica Forense Da Ficcao Cientifica A Realidade
Sorocaba
2011
TALITA BIANCHI AIELLO
PROFA. DRA. MARCELA PELLEGRINI PEÇANHA
Sorocaba
2011
RESUMO
A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos tóxicos de um agente químico em
decorrência de sua interação com o sistema biológico. Na área forense, a ciência é
aplicada com propósitos legais, detectando e quantificando substâncias envolvidas
em crimes. Órgãos colhidos em autópsia, fluídos biológicos obtidos do cadáver ou do
vivo, e produtos orgânicos e inorgânicos suspeitos são usados como amostras de
análise em toxicologia forense e devem ser acondicionadas sem qualquer
conservante, obedecendo aos critérios de garantia da cadeia de custódia. As
principais técnicas de análise toxicológica, no Brasil, variam desde métodos não
instrumentais até os mais sofisticados, como a cromatografia, utilizando como
principais matrizes biológicas o sangue, a urina e o cabelo. Atualmente, muitos
seriados retratam a ciência forense, no entanto com uma visão idealizada, criando
expectativas no mundo real. Embora tenha favorecido à valorização e ao interesse
da carreira de perito, nota-se divergências entre os seriados e a realidade, como
tempo disponível para as análises, demanda dos peritos e alta tecnologia das
técnicas disponíveis. Portanto, ainda há uma barreira que separa a ficção da
realidade.
Toxicology is the science that studies the effects of a toxic chemical agent due to its
interaction with the biological system. In the forensic science is applied for lawful
purposes, detecting and quantifying substances involved in crimes. Organs harvested
at autopsy, biological fluids obtained from living or dead, and organic and inorganic
suspects are used as samples for analysis in forensic toxicology and shall be secured
without any preservative, according to criteria of ensuring the chain of custody. The
main techniques for toxicological analysis in Brazil are ranging from non-instrumental
methods to the most sophisticated, such as chromatography, using as main biological
matrices blood, urine and hair. Currently, many serials portray forensic science, but
with an idealized vision, creating expectations in the real world. Although it favored
the recovery and the interest of career expert, there is disagreement between the
series and reality, as time available for analysis, demand for high-tech experts and
techniques available. Therefore, there is still a barrier that separates fiction from
reality.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 10
4 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 11
4.1 A Toxicologia Forense – Um breve histórico ....................................................... 11
4.2 A Toxicologia Forense – Aplicações ................................................................... 12
4.3 Fluxo de procedimentos ...................................................................................... 14
4.4 Técnicas disponíveis ........................................................................................... 16
4.4.1 Principais técnicas utilizadas ............................................................................ 17
4.4.2 Detecção de substâncias em diferentes matrizes ............................................ 19
4.4.3 Técnica X Uso forense ..................................................................................... 19
4.5 O papel dos seriados .......................................................................................... 21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 24
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26
6
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
4 DESENVOLVIMENTO
polícia, é responsável por providenciar medidas que não alterem a cena do crime,
até a chegada dos peritos (SOUZA, 2010).
Atualmente, tomando por base o estado de São Paulo, a Secretaria de
Segurança Pública é dividida em Polícia Militar, Polícia Civil e, recentemente,
Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) (Organograma 1). Esta,
anteriormente, estava dentro da Polícia Civil, como ainda é possível observar em
alguns estados brasileiros. Por sua vez, a Polícia Científica é subdividida em Instituto
de Criminalística (IC), responsável por perícias em objetos e locais, e Instituto
Médico-Legal (IML), que realiza perícias “in vivo” e “post-mortem”1.
Secretaria de
Segurança Pública
Superintendência de
Polícia Militar Polícia Civil Polícia Técnico-
Científica
1
Informação obtida durante o mini-curso “Toxiologia Forense”, ministrado pela Profª. Drª. Sílvia O. S.
Cazenave, durante o III Simpósio Forense realizado em Ribeirão Preto (setembro de 2011).
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toxicológica, os exames têm por objetivo diagnosticar intoxicações, que podem ser
acidentais, voluntárias ou intencionais (RANGEL, 2004; COSTA, 2008).
As análises que visam identificar e quantificar o agente tóxico são realizadas
tanto em fluidos biológicos, como em água, alimentos e medicamentos. Pode ser
aplicada em diversos segmentos, como dopagem no esporte e assuntos
regulatórios, porém sua principal finalidade é identificar substâncias que possam
estar relacionadas a uma situação criminal (COSTA, 2008).
As atividades da toxicologia forense têm sido importantes para a sociedade
como auxílio na tomada de decisões sobre a relação causa/efeito entre um
determinado composto e um efeito adverso observado. Logo, na toxicologia forense
é importante ter uma análise específica e sensível para a quantificação de
substâncias lícitas e ilícitas em matrizes biológicas (COSTA;CRUZ;OSHIMA-
FRANCO, 2010).
Qualquer erro no campo forense acarreta conseqüências de grande efeito,
uma vez que podem permitir falhas na análise e interpretação da evidência. Um
inocente pode ser julgado culpado, assim como um criminoso pode ser libertado
(GONTIJO; SILVA, 2010).
Nesta área forense, vale ressaltar que as amostras são, na maioria das vezes,
únicas e a perda das mesmas significa um prejuízo, inviabilizando a análise, no caso
toxicológica. Portanto, assegurar a memória de todas as fases do processo garante a
idoneidade do resultado e permite rebater possíveis contestações que venham a
surgir (LOPES;GABRIEL;BARETA, 2006).
De acordo com a especificidade do caso e o tipo de análise pretendida, são
realizadas a seleção e colheita das amostras mais adequadas. A estas não pode ser
adicionado qualquer preservante, devendo o seu acondicionamento obedecer aos
critérios de garantia da Cadeia de Custódia (ALVES, 2005). Assim, as evidências são
mantidas intactas (DINIS-OLIVEIRA et al., 2010).
A legitimidade de uma evidência está principalmente relacionada ao modo
como ela é obtida: os cuidados tomados para evitar contaminação, perda parcial ou
total, ou não percepção da existência da evidência.
As metodologias de investigação apresentam uma série de fases: rastreio,
confirmação, quantificação e interpretação. Iniciam-se por um teste geral (que
detecta um grande número de substâncias, permitindo fazer uma triagem de casos
negativos) e, só numa fase posterior se recorre aos métodos de confirmação (que
permitem confirmar a presença de substância suspeita, bem como identificá-la e/ou
quantificá-la) (ALVES, 2005).
Os materiais disponíveis para análise forense são os mais diversos possíveis,
o que aumenta muito o grau de dificuldade deste tipo de análise (COSTA, 2008). As
matrizes biológicas utilizadas na caracterização da exposição humana, em testes in
vivo, são: urina, plasma, sangue, saliva e cabelo, podendo ser utilizadas matrizes
alternativas como suor, unha mecônio, tecidos e cabelos de recém-nascidos (BICHO,
2004; CAZENAVE;CHASIN, 2009).
Por outro lado, as matrizes biológicas normalmente utilizadas na
caracterização da exposição humana, em análises post mortem, são: sangue total
(aorta, cavidade cardíaca e femoral), humor vítreo e vísceras, como fígado, rins e
cérebro (BICHO, 2004).
Por fim, o resultado destas perícias constitui o Laudo de Análise Toxicológica,
no qual devem constar, entre outros, a identificação do processo ou inquérito e da
entidade requisitante, o método analítico utilizado, o especialista responsável pela
execução das análises e os níveis de detecção e de quantificação (ALVES, 2005).
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4.4.1.1 Colorimétricos
4.4.1.2 Imunoensaios
4.4.1.3 Cromatografias
Teste de Marquis
Teste de Ácido Nítrico
Opiáceos X X X X
Pac-Nik
Teste de Duquenois-
Levine
Canabinóides X X X X
Teste Fast Blue B Salt
Teste de Simon
Teste de Marquis
Alucinógenos X X X X
Teste de Ehrlich
Pac-Nik
Teste de Iodofórmio
Voláteis X X X -
NICLOUX
Teste de Dille-Kopany
Teste de Zwikker
Depressores de SNC X X X -
Teste de Millon
Pac-Nik
Venenos - X X X -
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As séries de ficção criminal, como o “CSI”, “Cold Case” e “Bones”, têm por
base a dramatização de casos criminais nos quais o detetive é capaz de solucioná-
los graças à ciência forense (MACHADO;SANTOS, 2008a). Retratam o trabalho dos
investigadores e da perícia, inclusive em laboratório (TAUFIC, 2007; SANTOS,
2009).
A popularidade e multiplicação desses seriados despertaram a curiosidade da
população pelo cotidiano desses profissionais, assim como o interesse em saber se
o que é transmitido na televisão condiz com a realidade da Polícia Técnica-
Científica. (TAUFIC, 2007; SANTOS, 2009)
O fato das séries investigativas retratarem que a prova científica e os
trabalhos realizados nos laboratório conduzem, em sua grande maioria, à
descoberta da “verdade”, permitiu que se acreditasse que a ciência e a tecnologia
apresentam potencial infinito (PODLAS, 2006; MACHADO;SANTOS, 2008a;
MACHADO;SANTOS, 2008b).
Dessa forma, as percepções da ciência forense são construídas a partir do
que é transmitido pelos seriados, ou seja, uma visão idealizada e irrealista do
trabalho do perito durante uma investigação criminal (MACHADO;SANTOS, 2008a).
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2
Informação obtida durante o mini-curso “Perícia Criminal e Análise Forense”, ministrado pela Profª. Drª. Ana
Cláudia Pacheco, durante a XIX Semana da Biologia da PUC-SP, realizada em Sorocaba (18 de outubro de
2011).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em geral, a toxicologia e todas as outras ciências forenses eram um grande
mistério para a população, até o surgimento dos seriados criminais, que nos dias
atuais são constantes na televisão.
O exercício das atividades dos profissionais forenses sempre foi muito restrito
ao ambiente investigativo e pouco era comentado a respeito de suas habilidades e
responsabilidades. Até mesmo diante de casos de grande repercussão que
envolveram a perícia criminal, estes profissionais mantiveram-se discretos.
Em função da multiplicação dos seriados como “CSI”, a população passou a
se interessar mais pela realidade investigativa, o que de certa forma repercutiu de
maneira positiva. A ciência e a tecnologia são melhor compreendidas, os peritos são
mais valorizados e o número de interessados em seguir esta carreira aumentou
significativamente.
Por outro lado, a popularidade das séries de ficção criminal permitiu que o
público criasse uma visão idealizada e incorreta da realidade do trabalho de um
perito. As divergências são notadas diante do modo como os peritos trabalham, do
tempo de duração de cada análise pericial e da alta tecnologia das técnicas
laboratoriais.
Nossos peritos são responsáveis apenas pela análise do local de crime e das
amostras, não sendo de sua competência qualquer contato com um possível
suspeito. Ainda mais, a perícia deve ser minuciosa, por esse motivo não é possível
realizá-la em pouco tempo.
Quanto aos métodos, o Brasil dispõem de diversas técnicas para fins
toxicológicos, de simples a sofisticadas, mas a tecnologia não se compara ao que é
transmitido. A determinação da técnica adotada para um determinado caso depende
da substância em questão e do tipo de matriz, biológica ou não, recebida para
análise.
De certa forma, a influência dos seriados na contribuição da crença de que a
ciência forense é infalível tem refletido diretamente no aumento da expectativa no
mundo real.
Cabe ao público aproveitar o que os seriados estão disponibilizando, a critério
de curiosidade, mas entender que da ficção à realidade existe uma barreira que
25
REFERÊNCIAS
AIEA diz ser improvável que crise tome as proporções de Chernobyl. 2011.
Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/03/110314_japao_atualiza_usina_cc
.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2011.
<http://bdtd.ufg.br/tedesimplificado/tde_arquivos/43/TDE-2009-08-31T095156Z-
300/Publico/tese%20sergio%20nascente%20costa%20ciencias%20saude.pdf>.
Acesso em: 28 out. 2011.
EMSLEY, J. The poisons of secret agents. InfoChem. v. 121. 2010. Disponível em:
<http://mag.digitalpc.co.uk/Olive/ODE/infochem/Default.aspx?href=INFOCHode%2F2
010%2F03%2F01&pageno=2&view=document>. Acesso em: 25 ago. 2011.
FLETCHER, C. Não existe crime perfeito – todo contato deixa um vestígio. São
Paulo: Prestígio, 2007.
LIMA, C. E.; SILVA C .L. Cabelo como Matriz Analítica Alternativa para a
determinação de drogas de abuso. NewsLab, São Paulo, v. 82, p. 156-169, 2007.
PODLAS, K. The CSI effect: exposing the media myth. Fordham Intellectual
Property, Media and Entertainment Law Journal, v. 16, p. 429-465, 2006.