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DIREITO CIVIL

Direito Civil Clássico X Direito Civil Contemporâneo


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DIREITO CIVIL CLÁSSICO X DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO

Nesta aula, mostrar-se-á o sistema em que o Direito Civil está inserido, quais são
os pressupostos, o fundamento, a causa de justificação e a finalidade do Direito Civil
contemporâneo para que se possa entender os institutos de Direito Civil.
Não adianta começar a trabalhar com personalidade, capacidade, teoria da incapacidade,
ausência, pessoa jurídica, negócio jurídico, obrigações, contratos reais, família e sucessões
sem que se entenda os pressupostos, a premissa e qual é o sistema em que tudo isso está
inserido, isto é, a base de justificação, o fundamento e o que servirá de suporte para toda essa
compreensão.
O estudo se iniciará com a parte geral; depois, seguirá para obrigações, contratos,
contratos em espécie, reais, família, sucessões e, por fim, responsabilidade civil.
Vale ressaltar que esta é uma aula teórica e fundamental para se entender os pressupostos
para que se possa analisar todos os institutos de Direito Civil.
Para se entender personalidade, capacidade e incapacidade, como se trabalha com
propriedade, posse, o que é a família contemporânea, como identificar regras que estão
no Código Civil sobre determinado assunto, como interpretar essas regras à luz de valores
condicionais, ou não, enfim, tudo isso depende de algumas premissas que serão trabalhadas
nesta aula de introdução ao Direito Civil.
Aqui, se trabalhará principalmente com a ideia do que é o Direito Civil contemporâneo,
quais são os paradigmas do Direito Civil contemporâneo, ou seja, o que o fundamenta, bem
como o que é essencial para se compreender todos os institutos do Direito Civil.
Não se consegue entender o Direito Civil apenas lendo artigos do Código Civil, porque
o que fundamenta o Direito Civil contemporâneo não é mais o Código Civil. A causa de
justificação do Direito Civil contemporâneo e os parâmetros hermenêuticos dele estão na
Constituição Federal.

 Obs.: Por que se deve entender os paradigmas e parâmetros? O que é esse Direito Civil
contemporâneo? Qual o sistema em que ele está inserido? Muito simples. Infelizmente,
o Código Civil de 2002 ainda retrata um modelo clássico de Direito Civil. É preciso
saber quais são os paradigmas desse Direito Civil clássico e quais são os paradigmas
5m do Direito Civil contemporâneo.
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PARTE GERAL DO DIREITO CIVIL

A parte geral do Direito Civil é uma teoria geral não apenas do Direito Civil, mas de Direito,
ou seja, o que será estudado na parte geral de Direito Civil – personalidade, capacidade,
incapacidade, ausência, pessoa jurídica, teoria dos bens jurídicos, teoria do fato jurídico,
prescrição, decadência e prova – transcende o Direito Civil. Assim, mais do que uma teoria
geral do Direito Civil, é uma teoria geral de Direito.
Na parte geral de Direito Civil se encontram os elementos de toda e qualquer relação
jurídica, ou seja, o que compõe uma relação jurídica, que é a base do Direito em geral. Aliás,
o que diferencia uma relação jurídica de uma relação meramente social é que, no caso das
relações jurídica, se tem uma norma jurídica que, de alguma forma, confere juridicidade a uma
relação social – tira a relação social do mundo da vida e trás para o mundo do Direito. Essa
ideia básica é essencial para entender o Direito Civil de uma forma dinâmica.

• Quais são os elementos de toda e qualquer relação jurídica que se encontra na parte
geral do Código Civil?

Primeiro, o elemento de toda e qualquer relação jurídica: sujeito de Direito – uma pessoa
natural ou jurídica. No Código Civil se estuda esse sujeito de Direito, a pessoa natural e todos
os temas a ela relacionados, bem como a pessoa jurídica e todos os temas a ela relacionados.
A pessoa jurídica ganha um destaque na atualidade em razão da lei recente que trata da
declaração de direitos de liberdade econômica, que altera toda concepção, fundamentação e
finalidade da PJ dentro do sistema.
Segundo elemento de toda e qualquer relação jurídica, não apenas a Civil: objeto de
Direito; no caso, um bem jurídico – ou seja, pessoas ou sujeitos de Direito se relacionam
juridicamente por um motivo.

• Qual é a causa, a razão, de uma relação jurídica? Por que pessoas se relacionam
juridicamente?

Pessoas se relacionam juridicamente pela necessidade e interesse a um determinado


bem jurídico, que é o objeto dessa relação jurídica.
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O último elemento de toda e qualquer relação jurídica, e que origina a relação jurídica
criando o vínculo é a teoria do fato jurídico.

Obs.: Sobre os elementos da relação jurídica, os sujeitos (pessoa natural e jurídica) se


encontram nos artigos 1º a 39 do Código Civil, a teoria dos bens jurídicos (objeto)
10m
está nos artigos 79 a 103 do Código Civil, e toda a teoria do fato jurídico está nos
artigos 104 a 232 do Código Civil.

Será visto como se consegue diferenciar, hoje, obrigações e reais. Essa diferenciação só
é possível de fazer se tiver a noção de que se está trabalhando sempre no Direito Civil com os
elementos de uma relação jurídica.
A relação jurídica é o vínculo (que se origina de um fato) que o Direito reconhece entre
pessoas ou grupos (sujeitos de direito – pessoa natural/pessoa jurídica) e atribui a estes
poderes e deveres para a tutela de um interesse (necessidade de ter bens materiais ou
imateriais).
Quando se fala sobre o que gerou a relação jurídica, o fato jurídico pode ser em sentido
estrito (evento da natureza), um ato-fato que depende de uma ação humana, um negócio
jurídico ou um ato ilícito.

• O que causou esse vínculo? Qual foi o motivo de nascimento dessa relação jurídica?

A relação jurídica é o vínculo que o Direito reconhece entre pessoas ou grupos, ou seja,
um vínculo jurídico entre sujeitos de Direito. No mundo jurídico, tais sujeitos terão poderes e
deveres em função dessa relação jurídica. Quando o sujeito titulariza uma relação jurídica, ele
tem poder que decorre de direito subjetivo ou direito potestativo, assim como deveres jurídicos
a serem efetivamente concretizados. Esses poderes e esses deveres vão depender do tipo de
relação jurídica no mundo obrigacional, no mundo dos direitos reais, na família ou no direito
sucessório.

• No conceito de relação jurídica já se tem o vínculo, o sujeito de direito, e por que esse
sujeito de direito se vincula juridicamente?
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Por um motivo simples: para a tutela de interesse em ter acesso a bens materiais e
imateriais, ou seja, a um bem jurídico – e se fala na teoria dos bens jurídicos.
A relação social que está fora do mundo do Direito é convertida em vínculo jurídico a partir
de dois elementos:
1 – Material: relação social;
– Essa relação social não interessa ao mundo do Direito e passa a interessar quando
se agrega a ela um elemento formal.

2 – Formal: reconhecimento da relação social pela ordem jurídica (confere juridicidade –


qualificação jurídica das relações sociais).
– No caso do Direito Civil, quando o Código Civil – ou uma lei de natureza civil que
está fora do Código – normatiza uma determinada relação social por considerá-la
relevante.

Na teoria geral do Direito Civil serão estudados os elementos de uma relação jurídica.
Nesse sentido, para saber como trabalhar na prática com essa relação jurídica é preciso
dominar o sujeito de direito, as questões que envolvem os bens jurídicos e a teoria do
fato jurídico.
Todavia, antes de se começar a trabalhar com esses institutos relacionados a esses
elementos seguindo a sequência do Código Civil – sujeito de direito, pessoa natural, pessoa
15m
jurídica, bem jurídico e teoria do fato jurídico –, é fundamental que se compreenda qual é
o fundamento, a causa de justificação, o objetivo, o fim do Direito Civil na atualidade, porque,
a depender do modelo que se utiliza para resolver um problema e entender um instituto do
Direito Civil, chega-se a resultados diferentes.
Exemplo: pode-se considerar que a personalidade da pessoa humana se inicia com o
nascimento com vida (teoria natalista) ou desde a concepção (teoria concepcionista), e não
porque existem teorias que defendem uma coisa ou outra. Na realidade, as teorias que tentam
explicar o início da personalidade da pessoa natural têm a ver com o modelo de Direito Civil
que se utiliza como paradigma para entender o início da personalidade da pessoa natural.
Então, se o modelo é clássico, observar-se-á que a teoria natalista se encaixa nesse modelo.
Se o modelo é contemporâneo (Direito Civil constitucionalizado, funcionalizado), percebe-se
que a teoria concepcionista é totalmente afinada com este modelo.
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Se for estudar a teoria da incapacidade sob uma perspectiva clássica, chega-se a um


resultado; se estuda a teoria da incapacidade sob uma perspectiva constitucionalizada e
contemporânea, chega-se a outro resultado.
É necessário saber que, antes de se trabalhar com os elementos da relação jurídica (sujeito
de direito, objeto de direito, fato jurídico), há um pressuposto. Antes de se falar em introdução
ao Direito Civil constitucional e sobre os princípios de Direito Civil que o fundamentam o
Direito Civil contemporâneo, tem-se uma premissa: Como compreender o Direito Civil e os
institutos dele?
Cada autor do Direito Civil afirma uma coisa sobre personalidade jurídica. Portanto, há de
se entender o porquê de um autor defender X e outro defender Y. O objetivo é mostrar que,
na realidade, quando se tem contato com o artigo do Código Civil, se terá uma compreensão
lógica do sistema.
Para ter essa compreensão lógica há uma premissa; tem-se um problema a resolver: é
preciso saber qual é o fundamento, qual é a causa de justificação e qual é a finalidade do
Direito Civil. Para isso, deve-se saber quais são os pilares que sustentam os dois grandes
modelos de Direito Civil.
Exemplo: há um modelo de Direito Civil chamado de clássico e um outro chamado
contemporâneo. Esse Direito Civil clássico é o Direito Civil que ainda faz parte da nossa
cultura, que é baseado em alguns paradigmas que nada tem a ver com os paradigmas do
20m
Direito Civil contemporâneo.
Contudo, se o Direito Civil atual está constitucionalizado, submete-se a parâmetros
hermenêuticos que estão na Constituição Federal e que devem ser interpretados à luz de
conceitos constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a
igualdade substancial.
Infelizmente, o Código Civil ainda retrata, e muito, o modelo clássico de Direito Civil. O
Direito Civil clássico contém ciência e história; enquanto o Direito Civil contemporâneo é
superficial, possui muita retórica e pouca ciência.
Exemplo: quando o Código Civil, no art. 2º, dispõe que a personalidade da pessoa natural
começa com o nascimento com vida, esse parâmetro tem a ver com o modelo clássico, porque
é uma concepção positivista e normativa. A concepção positivista é um dos paradigmas do
Direito Civil clássico.
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• Como o Código Civil trabalha com a capacidade de fato e com a teoria da incapacidade?

O Código Civil retrata a incapacidade de uma maneira melancólica, porque para o sujeito
ser considerado incapaz, basta que ele esteja inserido nos rols dos arts. 3º e 4º do Código
Civil, em uma perspectiva clássica e positivista.
Obviamente, quando se estuda a personalidade e a incapacidade sobre esse paradigma
contemporâneo constitucionalizado, percebe-se que, para ser incapaz, não basta estar
inserido no rol dos arts. 3º e 4º. É necessário que se verifique, na realidade, se a pessoa
realmente precisa de uma proteção; caso contrário, embora formalmente possa ser
considerada incapaz, ela não o será – aqui muda-se a perspectiva.

• Por que, na perspectiva constitucionalizada, a personalidade da pessoa natural começa


desde a concepção, e não desde o nascimento com vida?

Porque o fundamento da personalidade nessa visão constitucionalizada não é a


norma, é a própria pessoa. Se a própria pessoa humana é o fundamento da sua própria
personalidade, é óbvio que a partir do momento em que há uma condição existencial já se
tenha personalidade e pessoa. Para uma concepção normativa e positivista é necessário se
submeter ao que a norma estabelece.
Então, percebe-se que é fundamental saber quais são os paradigmas e os pilares de
sustentação do Direito Civil clássico e do Direito Civil contemporâneo para identificar, no
Código Civil, o modelo que ele retrata ao tratar de um assunto, bem como entender porque
as teorias de Direito Civil são de uma forma ou outra e o porquê da teoria natalista e da
25m
concepção – que não tem nada a ver com teorias, mas com o modelo de Direito Civil ao qual
estão vinculadas.
A proposta é: antes de se começar a falar dos elementos da relação jurídica, dos sujeitos
de direito, do objeto de direito e do fato jurídico, deve-se entender todo esse sistema, porque
a partir disso, tudo – ou quase tudo – é lógico.
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DIREITO CIVIL CLÁSSICO X DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO – PILARES QUE


CARACTERIZAM CADA UM DESSES MODELOS

Direito Civil Clássico

No caso do Direito Civil Clássico, que ainda é muito retratado no Código Civil, pode-se
entendê-lo a partir de três parâmetros:
1 – É um direito positivista, ou seja, é um Direito Civil inserido em uma visão positivista,
desde o positivismo clássico e fechado, em que praticamente não se permitia interpretação,
até o positivismo normativo, mais moderno, em que já se admite a interpretação, embora
dentro de um sistema fechado, ou seja, um positivismo onde a moral não se relaciona com
o Direito, os valores da sociedade não interagem com o sistema jurídico; há uma separação
entre moral e Direito, onde o sistema jurídico é autossuficiente.
Os princípios no positivismo têm a finalidade supletiva, um caráter residual. Claro que
não se tem mais a ideia metafísica do jus naturalismo, pois se tem força normativa, mas
ainda de uma forma muito acanhada; eles não são equiparados às regras, e sim servem para
suprir lacunas.
Na visão positivista a ideia básica é que o Direito Civil é igual à lei, de que saber o Direito
Civil é saber os artigos do Código Civil – mas saber Direito Civil vai muito além disso, pois
é preciso entender a teoria da Constituição, argumentação jurídica, ou seja, há uma base
hermenêutica muito mais sofisticada, senão não se consegue dialogar com o Código Civil e
com o Direito Civil.
Portanto, o positivismo tem a ideia de que se consegue entender o Direito Civil a partir de
uma concepção puramente normativa.
A norma jurídica estabelece que a pessoa natural passa a ter personalidade no momento
em que ela nasce com vida.
30m Não há certo ou errado. A depender de qual modelo de direito se submete o instituto,
chega-se em resultados diferentes.
No positivismo se trabalha com o sistema fechado. O positivismo tem o objetivo de a
segurança jurídica tornar o sistema muito mais objetivo. Todavia, essa visão, no Direito Civil
contemporâneo, foi superada por uma ideia pós-positivista que ainda se tenta entender.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Daniel Eduardo Branco Carnacchioni.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

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