Você está na página 1de 90

Animal

ÉTIMA EDIÇÃO
S

E.S.E. Hafez e B. Hafez


REPRODUÇÃO ANIMAL
Sétima
Edição

REPRODUÇÃO ANIMAL
Sétima
Edição
Editado por
B. Hafez e E. S. E. Hafez
Co-Directors
Reproductive Health Center
IVF/Andrology International
Kiawah Island, South Carolina, USA

Copyright © Lippincott Williams & Wilkins


Título do original em inglês: Reproduction in farm animals
Coordenador de tradução: Renato Campanarut Barnabe – Prof. Titular do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP Revisor
científico: Renato Campanarut Barnabe – Prof. Titular do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP Tradução: Alício Martins
Júnior (capítulos 9 e 20) – Prof. Assistente Doutor do Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal da FMV-Unesp (Araçatuba)
André Monteiro da Rocha (capítulo 19) – Doutorando do curso de Pós-graduação em Reprodução Animal da FMVZ-USP Carlos
Henrique Cabral Viana (capítulo 13) – Doutor pelo curso de Pós-graduação em Reprodução Animal da FMVZ-USP Clair Motos de
Oliveira (capítulo 10) – Prof. Assistente Doutor do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP Cláudia Lima Verde Leal
(capítulos 29, 30 e 31) – Profa. Assistente Doutora do Departamento de Ciências Básicas da FZEA-USP Cláudio Alvarenga de
Oliveira (capítulo 3) – Prof. Associado do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP Eneiva Carla de Carvalho Celeghini
(capítulo 16) – Doutoranda do curso de Pós-graduação em Reprodução Animal da FMVZ-USP Guilherme de Paula Nogueira
(capítulo 14) – Prof. Assistente Doutor do Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal da FMV-Unesp (Araçatuba) José
Fernando Garcia (capítulos 21, 23 e 24) – Prof. Assistente Doutor do Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal da
FMV-Unesp (Araçatuba) Márcio de Oliveira Marques (capítulo 28) – Mestre pelo curso de Pós-graduação em Reprodução Animal da
FMVZ-USP Maria Angélica Miglino (capítulo 1) – Profa. Titular do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP
Mário Binelli (capítulos 5 e 6) – Prof. Assistente Doutor do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP
Pietro Sampaio Baruselli (capítulo 11) – Prof. Associado do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP
Renato Campanarut Barnabe (capítulos 4, 8, 12, 15, 17, 18, 25, 26 e 27) – Prof. Titular do Departamento de Reprodução Animal
da FMVZ-USP Silvana Lima Górniak (capítulo 22) – Profa. Associada do Departamento de Patologia da FMVZ-USP
Tatiana Carlesso dos Santos (capítulo 2) – Mestre em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres pela
FMVZ-USP Valquíria Hyppólito Barnabe (capítulo 7) – Profa. Titular do Departamento de Reprodução Animal
da FMVZ-USP
Editoração eletrônica: AVIT’S Estúdio Gráfico Ltda.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

H159r

Hafez, B.
Reprodução animal
/ B. Hafez, E. S. E. Hafez ; [coordenador de tradução da 7. ed. original Renato Campanarut Barnabe]. – Barueri, SP :
Manole, 2004 il.;
Tradução de: Reproduction in farm animals
ISBN 85-204-1222-X

1. Reprodução animal. 2. Fisiologia veterinária.


I. Hafez, E. S. E. (Elsayed Saad Eldin), 1922 –. II. Título.

02-2039. CDD 636.08926


CDU 619:612.6

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer
processo, sem a permissão expressa dos editores.
É proibida a reprodução por xerox.

a
7 edição brasileira – 2004

Direitos em língua portuguesa adquiridos pela:


Editora Manole Ltda.
Avenida Ceci, 672 – Tamboré
06460-120 – Barueri – SP – Brasil
Fone: (0__11) 4196-6000 – Fax: (0__11) 4196-6021
www.manole.com.br
info@manole.com.br

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Durante a década passada houve uma série de
importan tes avanços nos principais conceitos da
reprodução animal resultantes da biotecnologia
moderna, tais como o uso de hormônios liberadores
de gonadotrofinas e seus análogos, a reprodução
assistida em tecnologia/andrologia (ARTA), genética,
biologia molecular, imunologia, toxicologia e far
macologia. Cinco novos capítulos foram
A primeira edição, publicada em 1962, tratou dos acrescentados nesta edição:
aspectos básicos e comparativos da fisiologia da
reprodução, de maneira simplificada, no intuito de 1. Reprodução em lhamas e alpacas
preencher as neces sidades de estudantes de 2. Engenharia genética
biologia reprodutiva, medicina veterinária e zootecnia. 3. Fatores farmacológicos e reprodução
Esse objetivo continua válido nesta sétima edição, 4. Imunologia da reprodução
constituída de dissertações condensadas e concisas 5. Biologia molecular da reprodução
sobre a fisiologia e a bioquímica da reprodução de
animais domésticos. O livro está dividido em seções Técnicas modernas de bioengenharia de animais
maiores que, por sua vez, estão ordenadas em dois domés ticos envolvem microinseminação,
domínios: os com ponentes do sistema reprodutivo e recombinação de DNA, manipulação in vitro,
a regulação do processo reprodutivo, desde o transferência e expressão de genes. Essas técnicas
controle da ovulação até o início do parto. O leitor irá foram muito melhoradas com o uso de com
notar profundas diferenças entre as várias espécies putadores, microcomputadores e kits analíticos de
animais. Para atingir esse propósito, estipulamos diagnósti cos, disponíveis no comércio. Grande
abrangências das maiores espécies em separado, variedade de técnicas tem sido empregada para
quando jul gadas apropriadas, de modo que o avaliação de sêmen, por exemplo, avaliação da
estudante de reprodução possa inteirar-se das capacidade fertilizante dos espermatozóides
semelhanças e das diferenças entre elas.
PREFÁCIO

usando oócitos zona-free de hamster (frescos ou


congelados); padrão de motilidade verificado em
microscopia com video teipe; penetrabilidade in vitro
de espermatozóides no muco cervical bovino e
criopreservação de embriões e de sêmen em v
congeladores computadorizados. A maior parte das
investigações citadas nesta edição é mais baseada
em pesqui sas holísticas do que em nível
submicroscópico ou molecu lar. Contudo, a
excitabilidade gerada pelos recentes avanços em
biologia molecular e o desenvolvimento tendem a
decli nar o valor das pesquisas com animais íntegros.
Não houve preocupação de fornecer uma bibliografia
detalhada, mas um número selecionado de artigos As contribuições e valiosas informações incluídas
clássicos e de revisão está relacionado no final de na sétima edição foram fornecidas por S. E.
cada capítulo. Abdelgadir, L. L. Anderson, A. E. Archibong, R. L. Ax,
Esta edição não poderia ter sido revisada sem a M. Dally, B. A. Didion, D. P. Froman, D. L. Garner, R.
coope ração dos autores e sua disposição de seguir D. Geisett, P. J. Hansen, J. D. Kirby, S. S. Koide, R.
as diretrizes editoriais. Os capítulos foram W. Lenz, C. C. Love, J. R. Malayer, J. A. Proudman, J.
concisamente editados e os principais conceitos Sumar, D. D. Varner, H. Wahid e professor M. R.
foram resumidos em tabelas comple mentadas por Jainudeen, meu amigo e associa do há longo tempo,
desenhos lineares e micrografias eletrônicas de que muito tem contribuído para a
varredura. Todos os capítulos foram revisados e
conden sados. Houve numerosos cortes na sexta
edição, assim como a integração de novos e
AGRADECIMENTOS
modernos conceitos como os “fato res de
crescimento”, biologia molecular, genética e micro
manipulação in vitro de gametas e embriões.
Alguns apêndices tabulados incluem: números de
cro mossomos e habilidade reprodutiva das espécies
bovina, caprina e eqüina e de alguns de seus melhoria das tabelas e para estruturas detalhadas de
híbridos; preparo de soluções fisiológicas, corantes de vários capítulos. Sinceros agradecimentos a Donna
espermatozóides, meios de cultura de tecidos e Balado e Crystal Taylor, da Lippincott Williams &
crioprotetores. Esses apêndices pro varam sua Wilkins, pelo meticuloso empenho e esmero durante o
utilidade para demonstração de representações, preparo do livro. Agradecimento especial também ao
exercícios laboratoriais, treinamento em oficinas de vice-presidente Timothy Satterfield por sua excelente
traba lho (workshops) para professores, técnicos de cooperação e contí nuo interesse no desenvolvimento
laboratório e estudantes. Esperamos que a sétima da zootecnia e da vete rinária.
edição seja de alguma ajuda para os estudantes de
graduação dos cursos de zootec nia e de medicina
veterinária.

B. Hafez e E. S. E. Hafez
Kiawah Island, South Carolina USA
vii

COLABORADORES
ix
x COLABORADORES
..1

CAPÍTULO 1
Anatomia da Reprodução Masculina . . . . .
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v . 3 E. S. E. Hafez

SUMÁRIO C APÍTULO 2
Anatomia da Reprodução Feminina . . . . .
. 13 B. Hafez e E. S. E. Hafez
CAPÍTULO 8
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PARTE II
. vii Colaboradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fisiologia da Reprodução . . . . . . . . . . .
. . . . ix . 31

CAPÍTULO 3
Hormônios, Fatores de Crescimento e
PARTE I Reprodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
33 E. S. E. Hafez, M. R. Jainudeen e Y. Rosnina
Reprodução Anatômica Funcional ...
CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 16
Ciclos Reprodutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . Reprodução em Aves: Macho e Fêmea . .
. 55 E. S. E. Hafez e B. Hafez . 237 D. P. Froman, J. D. Kirby e J. A.
Proudman
CAPÍTULO 5
Foliculogênese, Maturação Ovocitária e
PARTE IV
Ovulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
69 E. S. E. Hafez e B. Hafez Falha Reprodutiva . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO 6
Transporte e Sobrevivência de Gametas . 2
. . 83 E. S. E. Hafez e B. Hafez
5
CAPÍTULO 7
Espermatozóides e Plasma Seminal . . . . .
. . 97 D. L. Garner e E. S. E. Hafez 9
Fertilização e Clivagem . . . . . . . . . . . . . . .
111 E. S. E. Hafez e B. Hafez
x

CAPÍTULO 9
Implantação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i

127 R. D. Geisert e J. R. Malayer


xii SUMÁRIO

CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 17
Gestação, Fisiologia Pré-natal e Parto . . .
Falha Reprodutiva em Fêmeas . . . . . . . . .
141 M. R. Jainudeen e E. S. E. Hafez
261 M. R. Jainudeen e E. S. E. Hafez

PARTE III CAPÍTULO 18


Ciclos Reprodutivos . . . . . . . . . . . . . . . . Falha Reprodutiva em Machos . . . . . . . . .
157 279 M. R. Jainudeen e B. Hafez

CAPÍTULO 11
Bovinos e Bubalinos . . . . . . . . . . . . . . . . . PARTE V
. 159 M. R. Jainudeen e E. S. E. Hafez Mecanismos Fisiopatológicos . . . . . . .
. 291
CAPÍTULO 12
Ovinos e Caprinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 19
173 M. R. Jainudeen, H. Wahid e E. S. E. Hafez Comportamento Reprodutivo . . . . . . . . . .
. 293 B. Hafez e E. S. E. Hafez
CAPÍTULO 13
Suínos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 20
183 L. L. Anderson Genética das Falhas Reprodutivas . . . . . .
307 Y. Rosnina, M. R. Jainudeen e E. S. E.
CAPÍTULO 14 Hafez
Eqüinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
193 E. S. E. Hafez e B. Hafez CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 15
Engenharia Genética em Animais
Lhamas e Alpacas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Domésticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319
219 J. B. Sumar C. A. Pinkert
399 M. R. Jainudeen e E. S. E. Hafez
CAPÍTULO 22
Fatores Farmacotoxicológicos e CAPÍTULO 29
Reprodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Indução da Ovulação, Produção e
. . 333 A. E. Archibong e S. E. Abdelgadir Transferência de Embriões . . . . . . . . . . . .
409 M. R. Jainudeen, H. Wahid e E. S. E. Hafez
CAPÍTULO 23
Imunologia da Reprodução . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 30
345 P. J. Hansen Preservação e Criopreservação de
Gametas e Embriões . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CAPÍTULO 24 . . . . . . . . 435 E. S. E. Hafez
Biologia Molecular da Reprodução . . . . . .
359 R. Juneja e S. S. Koide CAPÍTULO 31
Micromanipulação de Gametas e
Embriões: Fertilização In Vitro e
PARTE VI Transferência de Embriões (FIV/TE) . . . . .
Tecnologia da Reprodução Assistida . . . . . . . . . . . . . 447 B. Hafez e E. S. E. Hafez
. . 367

CAPÍTULO 25 Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Avaliação do Sêmen . . . . . . . . . . . . . . . . . .
369 R. L. Ax, M. R. Dally, B. A. Didion, R. W. 471 Glossário de Abreviações Comuns . .
Lenz, C. C. Love, D. D. Varner, B. Hafez e M. E.
. . . . . 479
Bellin

CAPÍTULO 26 Apêndices
Inseminação Artificial . . . . . . . . . . . . . . . .
381 R. L. Ax, M. R. Dally, B. A. Didion, R. W. APÊNDICE I
Lenz, C. C. Love, D. D. Varner, B. Hafez e M. E. Número de Cromossomos das Espécies
Bellin Bovinae, Equinae e Caprinae . . . . . . . . . . .
. . . . . . . 481
CAPÍTULO 27
Cromossomos X e Y: Espermatozóides APÊNDICE II
Transportadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Número de Cromossomos e Habilidade
395 E. S. E. Hafez e B. Hafez Reprodutiva em Híbridos de Eqüinos,
Bovinos e Caprinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CAPÍTULO 28 . . . . . . 482
Diagnóstico da Gestação . . . . . . . . . . . . . .
SUMÁRIO xiii

APÊNDICE III APÊNDICE VII


Hemocitômetro . . . . . . . 485

Preparo de Soluções Fisiológicas . . . . . . . . APÊNDICE V


483 Preparo de Colorações Espermáticas . . . .
486
APÊNDICE IV
Técnica para a Determinação da APÊNDICE VI
Concentração Espermática com Preparo de Tripsina para Oócito
Zona-free de Hamster . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . 489 494 Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Avaliação dos Cromossomos dos Óvulos .
. 489

APÊNDICE VIII
. . 501
Livros/Companhias de FIV . . . . . . . . . . . .
490

APÊNDICE IX
Fertilização In Vitro por Microinjeção . . .
Reprodução
P ARTE I
Anatômica Funcional
CAPÍTULO 1

Anatomia da Reprodução
Masculina E. S. E. HAFEZ

As gônadas masculinas (testículos) situam-se fora do abdome, no escroto, uma estrutura semelhante
a uma bolsa, derivada da pele e da fáscia da parede abdominal. O testícu lo localiza-se dentro do
processo vaginal, uma extensão separada do peritôneo, o qual atravessa a parede abdominal pelo
canal inguinal. Os anéis inguinais profundos e superfi ciais são as aberturas profundas e superficiais
do canal ingui nal. Os vasos e os nervos alcançam os testículos no funícu lo espermático, que se
posiciona dentro do processo vaginal; o ducto deferente acompanha os vasos, mas se separa deles no
orifício do processo vaginal para se unir à uretra. Além de permitir a passagem do processo vaginal e
de seu conteúdo, o canal inguinal também dá passagem a vasos e nervos para o suprimento da
genitália externa.
Os espermatozóides deixam o testículo pelos dúctulos eferentes e vão em direção ao ducto espiralado
do epidídi mo, que continua como ducto deferente. As glândulas aces sórias eliminam seus conteúdos
no ducto deferente ou na porção pélvica da uretra.
A uretra se origina no colo da bexiga. Em toda sua extensão, ela é rodeada pelo tecido vascular
cavernoso. Sua porção pélvica, que é envolvida pelo músculo estriado ure tral e recebe secreções de
várias glândulas, leva à porção secundária do pênis na saída pélvica. Nesse local unem-se mais dois
corpos cavernosos para formar o corpo do pênis, que se localiza abaixo da pele da parede corpórea.
Alguns músculos agrupados ao redor da saída pélvica contribuem para a constituição da raiz do pênis.
O ápice ou parte livre do pênis é coberto por pele modificada – o tegumento peniano –, o restante está
incluso no prepúcio. As caracte rísticas topográficas dos órgãos de importantes espécies de animais
domésticos estão demonstradas na Figura 1-1.
O testículo e o epidídimo são supridos pela artéria testi cular, que se origina da aorta dorsal, próxima
ao sítio embrionário do testículo. A artéria pudenda interna supre a genitália pélvica e seus ramos
partem do arco isquiático da pelve para nutrir o pênis. A artéria pudenda externa deixa a cavidade
abdominal via canal inguinal para suprir o pênis, o
escroto e o prepúcio. A linfa do testículo e do epidídimo é drenada para os linfonodos aórtico
lombares. A linfa das glândulas acessórias, da uretra e do pênis é drenada para os nodos sacral e
ilíaco medial. A linfa do escroto, do prepúcio e dos tecidos ao redor do pênis é drenada para os
linfonodos inguinais superficiais.
Nervos aferentes e eferentes (simpáticos) acompanham a artéria testicular para os testículos. O plexo
pélvico supre as fibras autônomas (simpáticas e parassimpáticas) para a genitália pélvica e para os
músculos lisos do pênis. Os ner vos sacrais suprem as fibras motoras para os músculos estria dos do
pênis e as fibras sensoriais para a parte livre do pênis. Fibras aferentes do escroto e do prepúcio
atravessam princi palmente o nervo genitofemoral.

DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Pré-natal

O testículo se desenvolve no abdome, medialmente ao rim embrionário (mesonéfro). O plexo dos


ductos testicula res se desenvolve conectado aos túbulos mesonéfricos e, então, ao ducto mesonéfrico
para formar o epidídimo, o ducto deferente e a glândula vesicular. A próstata e a glân dula bulbouretral
se formam a partir do seio urogenital embrionário e o pênis forma-se da tubulação e do alonga mento
do tubérculo que se desenvolve a partir do orifício do seio urogenital.
Dois agentes produzidos no testículo fetal são responsá veis por sua diferenciação e desenvolvimento
(1). O andró geno fetal determina o desenvolvimento do trato reprodutor masculino. A “substância
inibidora Mülleriana”, uma glico proteína, é responsável pela supressão do ducto paramesoné frico
(Mülleriano), a partir do qual se desenvolvem o útero e a vagina (2). Anormalidades na diferenciação e
no desen volvimento das gônadas e dos ductos podem resultar em diferentes graus de
intersexualidade (3).

3
4 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
TOURO

CARNEIRO

CACHAÇO GARANHÃO
FIGURA 1-1. Diagrama do trato reprodutor masculino visto em dissecação lateral esquerda. a, ampola; bu, glândula
bulbouretral; cab. e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; cp, crus esquerda do pênis, separada do
ísquio esquerdo; dd, ducto deferente; dp, divertículo dorsal do prepúcio; ppp, prepúcio pré-peniano; pl, parte livre
do pênis; pp, prega prepucial; p, próstata; r, reto; rp, músculo retrator do pênis; e, escroto; fs, flexura sigmóide; t,
testículo; pu, processo uretral; gv, glândula vesicular. (Adaptado de Popesko, Atlas der topographischen anatomie
der Haustiere. Vol. 3, Jena: Fischer, 1968.)

Descida dos Testículos


Durante a descida dos testículos (4), a gônada migra cau dalmente dentro do abdome para o anel
inguinal profundo. Então atravessa a parede abdominal para emergir no anel inguinal superficial, o
qual é, de fato, a maior dilatação do fora me do nervo genitofemoral (L3, L4). O testículo completa
essa migração incluindo-se completamente no escroto. A descida é precedida pela formação do
processo vaginal, no qual o saco peritoneal estende-se até a parede abdominal e abriga o liga
mento inguinal do testículo. O ligamento inguinal da gônada é freqüentemente chamado de
gubernáculo testis e termina na região dos rudimentos escrotais. A descida segue a linha do
gubernáculo testis. O tempo da descida varia (Tab. 1-1). No cavalo, geralmente, o epidídimo entra no
canal inguinal antes dos testículos e parte do ligamento inguinal que conecta o tes tículo e o epidídimo
(ligamento próprio do testículo) perma nece estendida até o nascimento.
CAPÍTULO 1: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 5

TABELA 1-1. Desenvolvimento do Trato Reprodutor Masculino em Animais Domésticos

(Semanas) TOURO CARNEIRO CACHAÇO GARANHÃO

24 12 10 seminíferos de cada testículo


Espermatócitos primários nos túbulos Variável nas partes dos túbulos
seminíferos
Espermatozóides nos túbulos seminíferos sexualmente “maduro”
32 16 20 56 40 16 20 60
Espermatozóides na cauda do epidídimo

Espermatozóides no ejaculado 42 18 22 64-96 32 > 10 20 4


Conclusão da separação entre pênis e parte pré-peniana
do prepúcio
Idade em que cada animal pode ser considerado 150 > 24 30 90-150 (variável)

A descida dos testículos dirige-se ao escroto na metade da vida fetal (touro, carneiro), no último quarto da vida fetal (cachaço) ou
apenas pouco antes/após o nascimento (garanhão).

Desenvolvimento Pós-natal
Algumas vezes, os testículos não entram no
Cada componente do trato reprodutor de todos os
escroto. Nessa condição (criptorquidismo), os
ani mais domésticos desenvolve-se em tamanho
testículos e o epidídi mo não encontram a
relativo ao tamanho do corpo e passa por
temperatura necessária, embora a fun ção endócrina
diferenciação histológica. A competência funcional
do testículo não esteja prejudicada. Machos
não é concluída simultaneamente em todos os
criptorquídicos bilaterais, portanto, mostram desejo
componentes do sistema reprodutor. Assim, no touro,
sexual discreto mas são estéreis. Ocasionalmente,
a capacidade de ereção do pênis precede o apareci
algumas vísceras abdominais passam pelo orifício do
mento do espermatozóide no ejaculado em vários
processo vaginal e entram no escroto; a hérnia
meses. Em carneiros, o segmento terminal do
escrotal é particularmente comum em porcos.
epidídimo torna-se mor fologicamente “adulto” em 6 testicular é revestida por epitélio cuboidal
semanas, o que não acontece com o segmento inicial não-secretório.
até a 18ª semana (5). Na puberdade, todos os O tamanho testicular varia ao longo do ano em
componentes do sistema reprodutor masculino animais de estação reprodutiva sazonal (carneiro,
alcançam suficiente estágio avançado de garanhão, came lo). A remoção de um testículo
desenvolvimento para que o sistema como um todo resulta em considerável aumento da gônada
seja funcional. O período de rápido desenvolvimento remanescente (mais de 80% de aumen to no peso).
que precede a puberdade é conhecido como período No criptorquídico unilateral, a remoção do tes tículo
pré-puberdade, embora algumas vezes também seja que desceu pode ser seguida pela descida do
referido como “puberdade”. Durante o período testículo abdominal à medida que ele cresce.
pós-puberdade, o desenvolvimento continua e o trato As células intersticiais (Leydig), que se situam
reprodutor alcança maturidade sexual total após entre os túbulos seminíferos, secretam hormônios
meses ou até mesmo anos da idade em que ocorreu masculinos nas veias testiculares e nos vasos
a puberdade. Em cavalos, um aumento significativo linfáticos. As células esper matogênicas do túbulo
no peso testicular, na produção diária de dividem-se e diferenciam-se para formar
espermatozóides e na reserva de esperma epididimal espermatozóides. Pouco antes da puberdade, as
ocorre até 15 anos de idade. Algumas importan tes células de sustentação (Sertoli) do túbulo formam
mudanças anatômicas que ocorrem durante o uma barreira (6) que isola as células germinativas em
desenvol vimento pós-natal estão resumidas na diferen ciação da circulação geral. Essas células de
Tabela 1-1. sustentação contribuem para a produção do fluido
TESTÍCULOS E ESCROTO tubular e podem pro duzir o fator inibidor Mülleriano
encontrado no fluido da rede em machos adultos (2).
Os testículos estão protegidos na parede do As células de sustentação não aumentam em número
processo vaginal ao longo da linha de fixação após a chegada da puberdade. Este pode ser o limite
epididimal. A posição no escroto e a orientação do da espermiogênese. A produção de esper ma
eixo maior do testículo diferem de acordo com as aumenta com a idade no período pós-puberdade e
espécies (Fig. 1-1). A organização dos túbulos e dos está sujeita às mudanças sazonais em várias
ductos dentro do testículo do touro é mostra da na espécies. A castra ção de machos pré-púberes
Figura 1-2. As características histológicas e suprime o desenvolvimento sexual. Mudanças
citológicas dos componentes celulares dos túbulos regressivas no comportamento e na
seminíferos estão resumidas na Tabela 1-2. A rede
6 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

TABELA 1-2. Histologia Funcional dos Testículos dos Mamíferos

SEGMENTO CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS


FIGURA 1-2. Representação esquemática do sistema tubular dos testículos e do epidídimo no touro (para
simplificar, o sistema ductal da rete testis foi omitido). cab. e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo;
corp. e, corpo do epidídimo; dd, ducto deferente; de, ducto do epidídimo; def, dúctulo eferente; lb, lóbulo com
túbulos seminíferos; rt, rete testis; tr, túbulo reto; t, testículo. (Simplificado de Blom e Christensen. Nord Vet Med
1968; 12:453.)

estrutura ocorrem após a castração de machos adultos. A castração é um procedimento-padrão na


criação animal para modificar o comportamento agressivo do macho e eli minar qualidades de carcaça
indesejáveis, por exemplo, em cachaços.
Desordens na espermatogênese são causadas por mudan ças nos parâmetros dos espermatozóides
no ejaculado ou por infertilidade. Turner et al. (7) conduziram extensos estudos para identificar as
proteínas que podem desempenhar papéis mais importantes na espermatogênese e são subseqüente
mente transportadas para a corrente sangüínea.
A inervação autônoma do testículo desempenha papel muito importante nas funções de regulação do
trato genitu rinário masculino. Mecanismos adrenérgicos, colinérgicos, não-adrenérgicos e
não-colinérgicos (NANC) operam de maneira orquestrada para assegurar confiável armazenagem e
liberação de urina da vesícula urinária, para regular o transporte e o armazenamento de
espermatozóides no trato reprodutor e para coordenar a emissão/ejaculação das glân dulas sexuais
acessórias (8).
Túnica albugínea Túbulos seminíferos

Espermatogônia
Espermatócitos
primários

Espermatócitos
secundários

Espermátides

Células de Sertoli
Cápsula branca, espessa, de tecido conjuntivo que envolve os
testículos; formada principalmente de séries entrelaçadas de fibras colágenas.

Aparecem como grandes estruturas isoladas, com perfil arredondado ou oblongo; aparência varia
devido ao complexo enovelado dos túbulos em muitos ângulos e níveis diferentes. Entre os túbulos localizam-se
massas de células intersticiais (Leydig) que
produzem o hormônio sexual masculino.

Situa-se na região mais externa do túbulo; núcleos arredondados aparecem como uma camada irregular dentro
do tecido
conjuntivo circundante. Os
núcleos são pequenos e de
coloração escura devido à
presença de um grande número de grânulos de cromatina.

Localizados exatamente no interior de uma camada irregular de


espermatogônias e células de Sertoli; os núcleos são maiores e mais claros do que os das
espermatogônias.

Divisões de maturação e
espermatócitos secundários
normalmente não são visualizados no túbulo devido à curta duração desses estágios.

Localizadas internamente em relação aos espermatócitos primários. A camada de espermátides pode conter
várias células em espessura. Os espermatozóides situam-se ao longo da margem do lúmen. As cabeças dos
espermatozóides estão alojadas em profundas pregas na superfície das células de Sertoli.

Grandes e relativamente claras, exceto pelo nucléolo


proeminente e negro. O
citoplasma é difuso e seus limites são indefinidos.

A inervação adrenérgica pode desempenhar um papel na modulação da função epididimária. A


inervação simpáti ca dentro do epidídimo é necessária para eventos neuromus culares requeridos para
o transporte do sêmen. A absorção neuronal pode desempenhar um importante papel na manu tenção
da função epididimária (8).
Termorregulação dos Testículos
Para um funcionamento eficiente, os testículos dos mamíferos devem ser mantidos em uma
temperatura mais baixa que a do corpo. Características anatômicas dos testí culos e do escroto
permitem a regulação da temperatura tes ticular. Receptores de temperatura localizados na pele escro
tal podem provocar respostas para diminuir a temperatura do corpo todo e provocar palpitação e
transpiração (9). A pele escrotal é ricamente dotada de grandes glândulas sudo ríparas adrenérgicas,
e seu componente muscular (dartos) permite alterar a espessura e a área da superfície do escroto e
variar a proximidade de contato do testículo com a parede do corpo. No cavalo, esta ação pode ser
suportada pelo mús culo liso no interior do funículo espermático e túnica albu gínea, a qual pode
abaixar ou elevar os testículos. Em condi ções de frio, esses músculos lisos se contraem, elevando o
testículo e enrugando e engrossando a parede do escroto. Em condições de calor, os músculos
relaxam, abaixando o testí culo para o interior do escroto penduloso de parede fina. As vantagens
oferecidas por esse mecanismo são realçadas pela relação especial das artérias e veias.
Em todos os animais domésticos, a artéria testicular é uma estrutura convoluta na forma de cone, cuja
base dispõe se no pólo cranial ou dorsal do testículo. Essas convoluções arteriais estão intimamente
relacionadas ao chamado plexo pampiniforme das veias testiculares (10). Neste mecanismo
contracorrente, o sangue arterial que está entrando no testí culo é resfriado pelo sangue venoso que
o
está partindo do tes tículo. No carneiro, o sangue das artérias testiculares dimi nui 4 C no seu curso
desde o anel inguinal superficial até a superfície dos testículos; o sangue nas veias é aquecido a um
grau semelhante entre os testículos e o anel superficial. A posição das artérias e veias próxima à
superfície dos testícu los tende a aumentar a perda direta de calor dos testículos. No cachaço, o
escroto é menos pendular (Fig. 1-1) e a trans piração é menos eficiente. Isso pode explicar a menor
o
dife rença entre as temperaturas escrotal e retal (3,2 C) (11).

EPIDÍDIMO E DUCTOS
DEFERENTES
Três componentes anatômicos do epidídimo são reco nhecidos (Fig. 1-2). A cabeça do epidídimo, na
qual há um número variável de dúctulos eferentes (13 a 20) (12), une se ao ducto do epidídimo. Isso
forma uma estrutura achata da aplicada a um dos pólos dos testículos. O estreito corpo do epidídimo
termina no pólo oposto à cauda expandida do epidídimo. A região central de cada ducto eferente
mostra grande atividade secretória (13). O enovelado ducto do epi
CAPÍTULO 1: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 7

dídimo é muito longo (touro, 36 m; cachaço, 54 m). A parede do ducto do epidídimo possui uma
proeminente camada de fibras musculares circulares e um epitélio pseudo-estratifica do de células
colunares. Três segmentos de ductos do epidí dimo podem ser distintos histologicamente; isto não
coinci de com a região anatômica macroscópica (14).
Há uma progressiva diminuição na altura do epitélio e dos estereocílios e um aumento do lúmen ao
longo dos três segmentos. Os dois primeiros segmentos estão relacionados com a maturação
espermática, enquanto o segmento termi nal destina-se ao armazenamento de esperma.
O lúmen dos túbulos do epidídimo é revestido por um epitélio de camada basal formado por células
pequenas e por uma camada superficial de células ciliadas colunares altas.
A mucosa do ducto deferente dispõe-se em pregas lon gitudinais. Próximo à terminação do epidídimo,
o epitélio assemelha-se ao epidídimo: as células não-ciliadas têm pequena atividade secretória. O
lúmen é revestido por epi télio pseudo-estratificado. A ampola do ducto deferente é recoberta por
ramificações das glândulas tubulares, as quais, no garanhão, são altamente desenvolvidas e contri
buem com ergotioneína no ejaculado. O ducto ejaculatório entra na uretra. A absorção do fluido e a
espermiofagia ocorrem no epitélio do ducto ejaculatório (15). A micros copia eletrônica de varredura
tem sido usada para avaliar a ultra-estrutura funcional dos órgãos reprodutivos com ênfase à
espermatogênese (Fig. 1-3). Grandes volumes de fluido (mais de 60 ml no carneiro) partem dos
testículos diariamente, e a maior parte é absorvida na cabeça do epi dídimo pelo segmento inicial do
ducto do epidídimo. O transporte de espermatozóides ao longo do epidídimo ocorre por volta de 9 a 13
dias. A maturação dos espermatozóides ocorre durante a passagem pelo epidídimo e a sua motilida
de aumenta quando eles entram no corpo do epidídimo. O meio ambiente da cauda do epidídimo
fornece aos esperma tozóides fatores que acentuam a habilidade da fertilização. Os espermatozóides
dessa região possuem maior fertilidade que os encontrados no corpo do epidídimo (14).
O armazenamento de espermatozóides no epidídimo conserva a capacidade de fertilização durante
várias sema nas; a cauda do epidídimo é o principal órgão de armazena mento e contém cerca de
75% do total dos espermatozóides epididimários. A habilidade especial da cauda do epidídimo em
armazenar espermatozóides depende da manutenção da temperatura escrotal baixa e da ação do
hormônio sexual masculino (16). O depósito de espermatozóides na ampola constitui somente uma
pequena parte da reserva de esper matozóides extragonadais. Pequeno número de espermato zóides
sem motilidade aparece constantemente no ejaculado coletado semanas ou meses após a castração.

GLÂNDULAS ACESSÓRIAS
A próstata e as glândulas bulbouretrais eliminam suas secreções na uretra, onde, por ocasião da
ejaculação, essas secreções são misturadas com a suspensão fluida dos esperma tozóides e com
secreções ampulares do ducto deferente.
8 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

FIGURA 1-3. Micrografias eletrônicas de varredura (MEV) (A). Superfície luminal do ducto eferente
com células ciliadas e não-ciliadas e um espermatozóide. (B) Microvilos pequenos na superfície
luminal e células não-ciliadas nos ductos eferentes. A gota citoplasmática do espermatozóide (CD),
o acrossomo (A) e a peça intermediária (MP) são visíveis (6.500 3). (C) Secção transversal do
túbulo seminífero (ST). Note os vários “estágios” da espermatogênese revestindo o tecido
muscular. (A e B extraídos de Connell CJ. Spermatogenesis. In: Hafez ESE, ed. Scanning Electron
Microscopy of Human Reproduction. Ann Arbor, MI: Ann Arbor Science Pubs, 1978. C, cortesia do
Dr. Larry Johnson, de Johnson L, et al. Am J Vet Res 1978.)

VESÍCULAS SEMINAIS. Elas se posicionam


lateralmente às porções terminais de cada ducto
Weber et al. (17) demonstraram mudanças deferente. Em ruminan tes, são glândulas lobuladas
volumétricas nas glândulas acessórias do garanhão, compactas. No cachaço, são grandes e menos
resultado de estimulação sexual (volume aumentado) compactas. No garanhão, são grandes sacos
e ejaculação (volume reduzido). glandulares piriformes. O ducto das vesículas
seminais e o ducto deferente podem compartilhar um
Anatomia Comparativa ducto ejaculatório comum que se abre na uretra.
porção pélvica. No touro, elas estão quase ocultas
GLÂNDULA PROSTÁTICA. Uma distinta parte externa
pelo músculo bulboespon joso. Elas são grandes no
lobulada do corpo posiciona-se fora do delgado
cachaço e contribuem com um componente
músculo ure tral, e uma secundária parte interna ou
semelhante a gel no sêmen desse animal. Em
disseminada envolve
ruminantes e cachaços, os ductos das glândulas
a uretra pélvica. A próstata disseminada estende-se
bulboure trais abrem-se no recesso uretral (18).
caudal mente tanto quanto os ductos das glândulas
bulbouretrais. O corpo da próstata é pequeno no touroGLÂNDULAS URETRAIS. O touro carece de glândulas
e grande no cachaço. No garanhão, a glândula ure trais comparativamente ao homem (19). Essas
prostática é totalmente externa. glândulas, no cavalo, têm sido consideradas
comparáveis com a próstata dis seminada de
GLÂNDULAS BULBOURETRAIS. Elas são dorsais à
ruminantes.
uretra e localizam-se próximas à terminação dessa

Função

Além de fornecer veículo líquido para o transporte de espermatozóides, a função das glândulas
acessórias é pouco conhecida, embora muito se saiba sobre os agentes químicos específicos com os
quais elas contribuem para o ejaculado (20, 21). Frutose e ácido cítrico são importantes componen tes
das secreções da vesícula seminal dos ruminantes domes ticados. Ácido cítrico isolado é encontrado
na vesícula seminal de garanhões; a vesícula seminal de cachaços con
CAPÍTULO 1: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 9

tém pouca frutose e é caracterizada por conter grande quan tidade de ergotioneína e inositol.
Os espermatozóides da cauda do epidídimo são capazes de fertilização quando inseminados sem a
adição de secreções das glândulas acessórias. A fração semelhante ao gel forma um tampão na
vagina das fêmeas acasaladas. Na prática da insemi nação artificial, tal fração é removida do sêmen
por filtração.
Em animais grandes, é possível palpar por via retal algu mas glândulas acessórias. As posições
dessas glândulas em relação ao corpo do pênis estão demonstradas na Figura 1-4.

Touro Carneiro
Cachaço Garanhão
inteiro castrado

FIGURA 1-4. A genitália pélvica, entre os ossos pélvicos, em vista dorsal. a, ampola; be, músculo bulboesponjoso;
bu, glândula bulbouretral; dd, ducto deferente; ic, músculo isquiocavernoso; cp, corpo da glândula prostática; u.
pel, uretra pélvica; rp, músculo retrator do pênis; vu, vesícula urinária; gv, glândula vesicular. (Diagramas do touro,
cachaço e garanhão redesenhados por Nickel R. Tierarztl Umschau 1954;9:386.)
10 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

No porco, o tamanho das glândulas bulbouretrais pode ser usado para diferenciar o animal
criptorquídico do castra do. Após a castração pré-puberdade, as glândulas bulboure trais são
pequenas. Em cachaços com testículo retido, as glândulas são de tamanho normal (22). Essas
diferenças podem ser facilmente percebidas, ventralmente ao reto, com o dedo inserido no ânus.

PÊNIS E PREPÚCIO
Estrutura
No pênis dos mamíferos, três corpos cavernosos são agregados ao redor da uretra peniana. O corpo
esponjoso do pênis – que envolve a uretra – é amplo. Esse bulbo é recober to por músculo
bulboesponjoso estriado. O corpo cavernoso do pênis surge como uma parte da crus do arco
isquiático, o qual é recoberto por músculo isquiocavernoso. Uma cober tura espessa (túnica albugínea)
inclui os corpos cavernosos. Em ruminantes e suínos, o músculo retrator do pênis contro la o
comprimento efetivo do pênis e sua ação na flexura sig móide.
No garanhão, os corpos cavernosos contêm espaços cavernosos grandes; durante a ereção, o
considerável aumento de tamanho resulta do acúmulo de sangue nesses espaços. No touro, carneiro
e cachaço, os espaços caverno sos do corpo cavernoso do pênis são pequenos, exceto na crus e na
curva distal da flexura sigmóide.
Em ruminantes e suínos, o orifício do prepúcio é contro lado pelo músculo cranial do prepúcio; um
músculo caudal também pode estar presente. No cachaço, há um grande divertículo dorsal no qual a
urina e debris epiteliais se acu mulam.

Ereção e Protrusão
A estimulação sexual produz a dilatação das artérias que suprem os corpos cavernosos do pênis
(especialmente a crus). O pênis endurecido e reto dos ruminantes é determi nado pelo músculo
isquiocavernoso, que bombeia sangue dos espaços cavernosos da crus para dentro do restante do
corpo cavernoso do pênis.
Falhas de ereção (impotência) são provocadas por defeitos estruturais bem como por causas
psicológicas (23). O aumen to da pressão no corpo cavernoso do pênis produz considerável
alongamento com pequena dilatação no pênis dos ruminantes e suínos (24). Quando o pênis do touro
é protruído, o prepú cio é invertido e estendido acima do órgão protruído.
Em serviço normal, isso ocorre após a introdução. Se isso ocorrer antes, o pênis entra no vestíbulo e a
introdução não pode ser concluída.
A penetração do pênis do touro dura cerca de 2 segundos e seu enrijecimento após o
desembainhamento através do prepúcio, com freqüencia ocorre abruptamente assim que o ligamento
apical dorsal assegura sua ação de conservar o órgão ereto. O recolhimento do pênis para dentro do
prepúcio se dá após cessar a pressão nos espaços cavernosos. A arquitetura fibrosa do corpo
cavernoso do pênis na região da flexura sig móide tende a formar novamente a flexão, que é auxiliada
pelo
encurtamento do músculo retrator do pênis. A porção termi nal de mais ou menos 5 cm do pênis do
cachaço é espiralada (Fig. 1-5), e durante a ereção o comprimento total visível da extremidade livre do
pênis mostra-se espiralado (24). A intro dução do pênis dura até 7 minutos, tempo em que é ejaculado
um grande volume de sêmen. O desvio em espiral não ocorre no carneiro ou bode, e a introdução é de
curta duração. No cavalo, ela perdura por vários minutos.
Emissão e Ejaculação
A emissão consiste de movimentação do fluido esper mático ao longo do ducto deferente para a uretra
pélvica, onde ele é misturado com secreções das glândulas acessórias. A ejaculação é a passagem do
sêmen resultante ao longo da uretra peniana. A emissão ocorre por ação dos músculos lisos sob o
controle do sistema nervoso autônomo. A estimulação elétrica da ejaculação nos animais domésticos
não passa de uma imitação dos mecanismos naturais complexos. Durante o serviço natural, as
terminações nervosas sensoriais do tegu mento peniano e dos tecidos penianos profundos são essen
ciais no processo de ejaculação.
A passagem do sêmen através dos ductos deferentes é contínua durante a inatividade sexual. Prinz e
Zaneveld (25) sugerem que durante a inatividade sexual ocorre um complexo processo cíclico ou
casual de remoção de esperma tozóides da cauda do epidídimo, o que pode ajudar na regu lação das
reservas de espermatozóides. A excitação sexual e

Touro

Touro

Carneiro

Cachaço

Garanhão

FIGURA 1-5. Diagramas mostrando a forma da extremidade livre do pênis. (A1) A forma do pênis pouco antes da
introdução. (A2) A forma após a introdução, quando o desvio em espiral já ocorreu. (B) A forma do pênis durante a
monta natural. (C) Não demonstra o grau total de espiralação que ocorre durante a monta. (D) Esquema após a
injeção, demonstrando a dilatação dos corpos eréteis. (A1, A2 e B obtidas de fotografias. C e D, de espécimes
fixados. Não esquematizados em escala.)

a ejaculação são acompanhadas por contrações da cauda do epidídimo e do ducto deferente, as quais
aumentam a taxa de fluxo. O número total de espermatozóides que passa no ducto deferente não
sofre aumento com a atividade sexual.
A contração muscular da parede do ducto é controlada por nervos autônomos simpáticos do plexo
pélvico derivado dos nervos hipogástricos. Em garanhões normais, a estimulação de receptores e o
bloqueio de receptores aumentam a concen tração de espermatozóides no ejaculado (26).
Durante a ejaculação, o músculo bulboesponjoso com prime o bulbo peniano e, então, bombeia o
sangue dele para dentro do restante do corpo esponjoso do pênis. Diferente do corpo cavernoso do
pênis, este corpo cavernoso é nor malmente drenado pelas veias distais; a pressão máxima durante a
ejaculação é muito inferior àquela do corpo caver
CAPÍTULO 1: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 11
noso do pênis (27). As ondas de pressão que passam abaixo da uretra peniana podem ajudar a
transportar o ejaculado. As mudanças de pressão que ocorrem no corpo esponjoso do pênis durante a
ejaculação são transmitidas para o corpo esponjoso da glande; a glande peniana aumenta de tamanho
no carneiro, no bode e no garanhão, mas não no touro.

ANIMAIS DE LABORATÓRIO
Diferenças dos órgãos reprodutores masculinos entre espé cies são mostradas na Figura 1-1. Esses
órgãos podem se mover de uma posição totalmente escrotal para uma totalmente abdo minal. As
diferenças em relação ao tamanho das glândulas aces sórias são refletidas nas características do
sêmen (Tab. 1-3).

TABELA 1-3. Idade e Peso na Primeira Monta e Características do Sêmen VOLUME DE

CONCENTRAÇÃO ESPERMÁTICA
INÍCIO DA VIDA REPRODUTIVA
EJACULADO
108 POR ML

ESPÉCIES
Idade
(meses)
Peso
Corporal Variação Variação Média Média

Gato 9 3,5 kg 0,01-0,3 0,04 1,5-28 14 Cão 10-12 varia 2-25 9,0 0,6-5,4 1,3 Cobaia (Cavia porcellus) 3-5 450 g
0,4-0,8 0,6 0,05-0,2 0,1 Coelho 4-12 varia 0,4-6 1,0 0,5-3,5 1,5 De Hamner CE. The semen. In: Hafez ESE, ed.
Reproduction and Breeding Techniques for Laboratory Animals. Philadelphia: Lea & Febiger, 1970.

REFERÊNCIAS
12 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

SUGESTÕES DE LEITURA
CAPÍTULO 2

Anatomia da Reprodução
Feminina B. HAFEZ E E. S. E. HAFEZ

dispõe-se como os cornos de um carneiro, com a


convexidade dorsal e os ovários localizados próximos
à pelve.

EMBRIOLOGIA
O sistema reprodutivo fetal consiste de duas
Os órgãos femininos da reprodução são
gônadas não diferenciadas sexualmente; dois pares
compostos de ovários, ovidutos, útero, cérvix uterina,
de ductos; um seio urogenital; um tubérculo genital, e
vagina e genitália externa. Os órgãos genitais internos
pregas vestibulares (Fig. 2-1). Este sistema origina-se
(o primeiro de quatro componentes) são sustentados
primariamente de duas cristas germinativas, na
pelo ligamento largo. Este consiste do mesovário, que
parede dorsal da cavidade abdominal, e diferencia-se
suporta o ovário; do mesossal pinge, que suporta os
em sistema masculino ou feminino.
ovidutos e do mesométrio, que supor ta o útero. Em
bovinos e ovinos, a união do ligamento largo é O sexo do feto depende dos genes herdados, da
gonado gênese e da formação e maturação dos
dorsolateral na região do ílio, local onde o útero
órgãos reprodutivos acessórios.
Tanto os ductos de Wolff quanto os de Müller devido à presença de uma fossa de ovulação definida
estão pre sentes no embrião sexualmente e a uma incisura na borda unida do ovário. O ovário
indiferenciado. Na fêmea, os ductos de Müller dos suínos asse melha-se a um cacho de uvas, em
desenvolvem-se em um sistema ducto gonadal e os decorrência dos folículos salientes e dos corpos
ductos de Wolff atrofiam-se, ocorrendo o opos to nos lúteos que obscurecem o tecido ova riano subjacente.
machos. Os ductos de Müller femininos fundem-se A porção livre do ovário, que não se encontra
caudalmente para dar origem ao útero, à cérvix e à presa ao mesovário, fica exposta e saliente na
porção cranial da vagina. cavidade abdominal. O ovário, composto de medula e
No feto masculino, o andrógeno testicular age na córtex, é envolto pelo epitélio superficial, conhecido
persis tência e desenvolvimento dos ductos de Wolff e comumente como epitélio germinati vo. A medula
na atrofia dos ductos de Müller. ovariana é constituída por tecido conjuntivo
fibroelástico irregularmente distribuído e por nervos
OVÁRIO extensos e sistemas vasculares, que atingem o ovário
mediante seu hilo. As artérias são distribuídas de
O ovário, diferentemente dos testículos, forma espiralada. O córtex ova riano contém folículos
permanece na cavidade abdominal. Ele desempenha ovarianos e/ou corpos lúteos em vários estágios de
funções exócrinas (liberação de óvulos) e endócrinas desenvolvimento e regressão (Tab. 2-1).
(esteroidogênese). O tecido predominante do ovário é A vascularização do ovário modifica-se de acordo
o córtex. As células germi nativas primordiais têm com as diferentes situações hormonais. As variações
origem extragonadal e migram do saco vitelino na arquitetura dos vasos permitem adaptações do
mesentérico para as cristas genitais. Durante o suprimento sangüíneo con forme as necessidades do
desenvolvimento fetal, as oogônias são produzidas órgão. A distribuição intra-ovariana de sangue é
por mul tiplicação mitótica. Esta é seguida pela alterada durante o período pré-ovulatório.
primeira divisão meiótica, formando vários milhões de O fluxo sangüíneo arterial para o ovário varia em
oócitos, um processo interrompido na prófase. Uma pro porção à atividade luteínica. As modificações
atresia subseqüente reduz o número de oócitos por hemodinâmi cas parecem ser importantes no controle
ocasião do nascimento, uma redução pode ocorrer na da função e duração do corpo lúteo (CL). Assim,
puberdade e somente algumas centenas estarão modificações no fluxo sangüí neo precedem o
presentes durante a senescência reprodutiva. declínio na secreção de progesterona, enquanto a
No nascimento, uma camada de células regressão do fluxo sangüíneo ovariano causa
foliculares cir cunda os oócitos primários no ovário regressão do CL prematuro. Na época da luteólise em
para formar os folícu los primordiais. O formato e o ove lhas, há uma redução no fluxo sangüíneo
tamanho do ovário variam de acordo com a espécie ovariano (1).
animal e com a fase do ciclo estral (Fig. 2-2). Em
bovinos e ovinos, o ovário tem formato de amêndoa; 13
enquanto nos eqüinos, ele tem formato de feijão
14 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
FIGURA 2-1. Esquema simplificado da diferenciação embrionária em sistemas genitais masculino e feminino. (Centro) O
sistema indife renciado com longos mesonéfrons, ductos mesonéfricos, ductos de Müller e gônadas indiferenciadas. Note
que os ductos de Müller e meso néfricos cruzam antes de entrar nos cordões genitais. (Direita) O sistema feminino, em que
o ovário e os ductos de Müller se diferenciam enquanto os remanescentes dos mesonéfrons e dos ductos mesonéfricos se
atrofiam no epoóforo, paraóforo e ducto de Gartner. (Esquerda) Sistema masculino, no qual os testículos e os ductos
mesonéfricos (Wolff) se diferenciam e os únicos remanescentes dos ductos de Müller são o apêndice testicular e o utrículo
prostático (vagina masculina). A, ampola; B, bexiga; C, cérvix; Co, córtex ovariano; Ep, epidídimo; D. Mül., ductos de Müller;
O, ovário; T. S., túbulos seminíferos; T, testículo; U, útero; S. U-G., seio urogenital; V. D., vaso deferente.
ocorre ao mesmo tempo em que há regressão do CL
(2).
Corpo Lúteo

O fluxo sangüíneo do ovário bovino é alto durante O CL desenvolve-se após um colapso no folículo
ovula tório. A parede interna do folículo desdobra-se
a fase luteínica, decresce com a regressão luteínica e
em pregas macro e microscópicas, que penetram na
aumenta pouco antes da ovulação. O fluxo sangüíneo
cavidade central. Essas pregas consistem de uma
ovariano aumenta com o desenvolvimento de um
porção central de estroma e
novo CL. Um declínio abrupto no fluxo sangüíneo

FIGURA 2-2. Anatomia útero-ovariana em animais domésticos. (A) Mudanças no ciclo estral do ovário bovino. 1, folículo
maduro; 3, superfície do folículo colapsado, pregas e paredes tingidas de sangue; 9, corpus albicans (Arthur, 1964). (B)
Organização celular do CL da ovelha no cio: a, corpo hemorrágico; b, CL do segundo dia após o cio; c, CL do 4o dia após o
cio. (C) Folículo de Graaf: Co, cumulus oopho rus; Eg, epitélio germinativo; Lf, líquido folicular; Mg, membrana granulosa. (D)
Estruturas da parede do folículo de Graaf demonstrando como as células da granulosa não têm suprimento sangüíneo da
membrana basal (Baird, 1972). (E) Formato da zona pelúcida (ZP) rodean do um oócito no folículo de Graaf. Formam-se
microvilosidades do oócito interdigitado com processos das células da granulosa (G). Esse processo penetra no citoplasma
do oócito (C), provisão de nutrientes/proteína materna, N, núcleo oócito (Baker, 1972). (F) Anatomia vas cular do ovário de
bovinos (J. H. Wise et al., 1982). (G) Anatomia do ovário e do oviduto de ovinos. A, ampola; F, fímbria; In, infundíbu lo; I,
istmo; M. o., mesovário; O, ovário; A. o., artéria ovariana; B. o., bolsa ovárica; U, útero. Note a alça suspensa à qual se une a
bolsa ovárica. O oviduto da ovelha é pigmentado.(H) Principais segmentos do oviduto. (I) Seções transversal e longitudinal
dos diferentes seg mentos do oviduto; 1 representa o istmo; 8 representa o infundíbulo. Note a variabilidade no grau de
complexidade das pregas da mucosa.

Cio

Pouco depois da ovulação

2 dias após a ovulação

Diestro

Rede
capilar
Células da
teca interna

Células da
granulosa

Fluido
folicular

Membrana
basal
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 15 Superfície

Corpo lúteo

Artéria ovariana

Artéria
uterina

Artéria útero-ovariana
Veia ovariana
Infundíbulo Ampola Istmo Fímbria

16 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

TABELA 2-1. Histologia Funcional do Ovário/Folículo Ovariano de Mamíferos

UNIDADE
ANATÔMICA FUNCIONAL CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS
Tecido conjuntivo frouxo contendo nervos, vasos linfáticos e
Epitélio superficial Túnica albugínea
sangüíneos tortuosos de parede fina, fibras colágenas e
Córtex ovariano
elásticas e fibroblastos.
Pobremente diferenciado, células parecidas com as
embrionárias mesenquimatosas, capazes de sofrer
Medula ovariana
alterações morfológicas complexas durante a vida
reprodutiva; as células do estroma podem originar as
Estroma ovariano
células da teca interna.
As células musculares lisas estão presentes em todo o
ovário, especialmente no estroma cortical. As células
Musculatura lisa
mióides ovarianas são similares às células musculares lisas
de outros tecidos. Grande número de microfilamentos estão
dispostos em feixes característicos.
Células musculares lisas e elementos nervosos podem
estar diretamente envolvidos na ovulação. A presença de
FOLÍCULOS células musculares lisas, especialmente nas regiões
OVARIANOS perifoliculares, pode estar envolvida na “compressão do
Folículo primário folículo” durante a ovulação.
Folículo em crescimento

Folículo secundário Folículo terciário Oócito envolvido por uma única camada de células
foliculares planas ou cubóides. Oócito com diâmetro
(vesicular)
aumentado e maior número de camadas de células
foliculares; a zona pelúcida está presente ao redor do
oócito.
Células da granulosa planas do folículo primordial ou
Folículo de Graaf unilaminar proliferam. Sob a influência das gonadotrofinas
hipofisárias, as células da granulosa dos folículos com
camadas múltiplas secretam um fluido, o liquor folicular, que
se acumula nos espaços intercelulares. A secreção
Folículo pré-ovulatório contínua e o acúmulo de liquor folicular resultam na
Camada superficial de epitélio frouxo (conhecido dissociação das células da granulosa, que causa a
incorretamente como epitélio germinativo). Densa, tecido formação de uma grande cavidade cheia de fluido – o antro.
conjuntivo fibroso cobrindo todo o ovário logo abaixo do A zona pelúcida é circundada por uma massa sólida de
epitélio superficial. Contém vários folículos primários (com células foliculares radiais, formando a coroa radiata.
oócitos em estágio quiescente) e poucos folículos grandes. As células foliculares aumentam de tamanho; o antro fica
Durante cada ciclo estral, um número variável de folículos cheio de fluido folicular (liquor folicular). O oócito é
passa por rápido crescimento e desenvolvimento, pressionado para um lado, circundado pelo acúmulo de
culminando no processo da ovulação. células foliculares (cumulus oophorus); em qualquer outra
parte da cavidade folicular forma-se um epitélio de
espessura regularmente uniforme, chamado membrana visível cicatriz do tecido conjuntivo. Remanescentes
granulosa. do corpus albi cans bovino persistem durante vários
Uma estrutura semelhante a uma vesícula projeta-se da ciclos sucessivos. O CL bovino começa a regredir
superfície ovariana devido ao rápido acúmulo de fluido de 14 a 15 dias após o cio, e seu tamanho diminui
folicular e ao adelgaçamento da camada granulosa. O pela metade em 36 horas.
viscoso líquido folicular é formado de secreções das células
da granulosa e proteínas plasmáticas transportadas para
LUTEÓLISE. A luteólise induzida por estrógenos
dentro do folículo por transudação.
durante o ciclo estral da ovelha, provavelmente
Grandes modificações ocorrem no nível subcelular,
particularmente no complexo de Golgi, que está envolvido mediada pela pros taglandina uterina, é
na formação da zona pelúcida. responsável pela regressão normal do CL. Um
O oócito, na prófase da meiose, prossegue várias horas embrião deve estar presente no útero de 12 a 13
antes da ovulação. dias após o acasalamento, para que o CL seja
A primeira divisão meiótica (maturacional) está associada à mantido. Esse período representa o estado em que
expulsão do primeiro corpúsculo polar. o útero inicia as primei ras providências que levarão
à luteólise.
A veia uterina e a artéria ovariana são os
principais com ponentes, proximal e distal, de um
mecanismo local artério venoso, envolvido nos
de grandes vasos venosos que se distendem. As efeitos luteolíticos e antiluteolíticos. A histerectomia
células desenvolvem-se poucos dias antes da elimina o efeito luteolítico e mantém o CL. Em
ovulação e regridem rapidamente. Após 24 horas suínos, a luteólise está associada ao aumento de
da ovulação, todas as células remanescentes da prostaglandi na plasmática na veia útero-ovariana
teca encontram-se em estado avançado de (4).
degeneração. Inicia-se um processo hipertrófico e As modificações no fluxo sangüíneo para o
de luteini zação das células da granulosa após a ovário lutei nizado podem ser atribuídas às
ovulação. alterações no fluxo para o CL, que recebe a maior
A progesterona é secretada pelas células parte do suprimento sangüíneo. A irrigação
luteínicas na forma de grânulos. Em ovelhas, sangüínea do CL exerce um papel regulador
parece que esse processo atinge seu grau máximo nessas glândulas e atua no controle da atividade
no décimo dia do ciclo, começando a diminuir dos hormônios gonadotróficos no nível celular
notavelmente no 12o. A atividade secretora declina luteínico.
gradualmente até o 14o dia.
Em animais de idade avançada, as funções do CORPO LÚTEO E GESTAÇÃO. As substâncias com
CL decli nam resultando na inabilidade das células ativida des progestacionais são necessárias para a
foliculares (teca interna e granulosa) em responder manutenção da gestação. Algumas servem como
aos estímulos, modifica ções quantitativas e/ou precursoras imediatas para outros esteróides,
qualitativas da secreção hormonal e na redução de também necessários durante a gestação. Com
estímulos para a secreção hormonal. exceção da égua, nas demais espécies domésticas
há a necessidade obrigatória de atividades
DESENVOLVIMENTO. O aumento de peso do CL é secretoras contínuas do CL durante toda a
rápido no início. Geralmente, o período de gestação, porque a placenta não secre ta
crescimento ultrapassa a metade do ciclo estral. Na progesterona. A ovariectomia em marrãs, durante
vaca, o peso e o conteúdo de progesterona do CL qual quer fase da gestação, resulta em abortamento
aumentam rapidamente entre o tercei ro e o 12o dia dentro de 2 a 3 dias. Após a remoção de um ovário
do ciclo, e permanecem relativamente cons ou dos corpos lúteos de cada ovário no 40o dia da
gestação, é necessário o mínimo de cinco corpos
lúteos para mantê-la.
tantes até o 16o dia, quando se inicia a regressão.
Na porca e na ovelha, os corpos lúteos aumentam RECONHECIMENTO MATERNO DA GESTAÇÃO.
rapidamente de peso e conteúdo de progesterona Blastocistos devem estar presentes aos 12 dias
do segundo ao oitavo dia, per manecendo após a ovulação em ovelhas, e aos 13 dias em
relativamente constantes até o 15o dia, quando marrãs, para estender a vida útil do CL. Nos
começa a regressão (3). O diâmetro do CL maduro bovinos, o reconhecimento materno da gestação
é maior que o do folículo de Graaf maduro, exceto ocorre entre o 15oe o 17o dias de gestação.
na égua. Concentrações plasmáticas de progesterona são
mais altas nas vacas prenhes do que nas não
REGRESSÃO. Caso não ocorra a fertilização, o CL prenhes dentro de 8 dias após o acasalamento.
regri de, permitindo a maturação de outros grandes CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 17
folículos ova rianos. À medida que essas células
degeneram, todo o órgão diminui de tamanho, O CL da gestação é conhecido como corpus
tornando-se branco ou castanho claro e passando a luteum verum (corpo lúteo verdadeiro) e pode ser
se chamar corpo albicans (corpus albicans). Depois maior que o cor pus luteum spurium (falso corpo
de dois ou três ciclos, permanece apenas uma amarelo) do ciclo estral. Nos bovinos, ele aumenta
de tamanho durante 2 ou 3 meses da gestação, e pólo superior do ovário, que assegura sua
regride por 4 ou 6 meses. Após esse período, o aproximação da superfície ovariana. As técni cas
tamanho do CL permanece relativamente constante usadas in vivo e in vitro no estudo das funções do
até o parto, degenerando-se uma semana depois. oviduto estão descritas na Tabela 2-2.
A ampola, que corresponde a cerca da metade
do com primento do oviduto, funde-se com a
OVIDUTO porção constrita conhecida como istmo. O istmo
está conectado diretamen te ao útero, penetrando
Há uma íntima relação anatômica entre o ovário no corno uterino da égua na forma de uma
e o oviduto. Em mamíferos domésticos, o ovário pequena papila. Na porca, essa junção é
situa-se em uma bolsa ovárica aberta, ao contrário guarnecida por longas digitações mucosas. Na
de algumas espécies (exemplos: rata, vaca e na ovelha existe uma flexura na junção
camundongo), em que ele se instala dentro de uma uterotubárica, principalmente duran te o cio. O
bolsa fechada. Nos animais domésticos, essa bolsa espessamento da musculatura aumenta da extre
é uma invaginação, que consiste de uma fina prega midade ovariana para a extremidade distal do
peritoneal do mesossalpinge, ligada em uma alça oviduto.
suspensa na porção superior do oviduto. Na vaca e
na ovelha, a bolsa ovárica é larga e aberta. Na Mucosa do Oviduto
porca, ela é bem desenvolvida e aberta, porém
envolve o ovário em sua grande parte. Nos A mucosa do oviduto é formada por pregas
eqüinos, ela é estreita, semelhante a uma fenda e primárias, secundárias e terciárias. A mucosa da
envolve somente a fossa da ovulação. ampola possui pregas que se projetam para cima,
em direção ao istmo, e para baixo, no sentido da
Anatomia junção uterotubárica. A complexa disposição das
pregas da mucosa na ampola preenche quase
O comprimento e o grau de circunvoluções do totalmente o lúmen, de forma que existe apenas um
oviduto variam nos mamíferos domésticos. O único espaço poten cial. O fluido é mínimo e
oviduto pode ser divi dido em quatro segmentos constitui-se como uma massa do cumulus em
funcionais: as fímbrias, com for mato de franjas; a contato com a mucosa ciliada (Fig. 2-4). A muco sa
abertura abdominal próxima ao ovário, com formato consiste de uma camada de células epiteliais
de funil, o infundíbulo; a ampola dilatada mais colunares e o epitélio é constituído de células
distalmente, e uma estreita porção proximal do ciliadas e não-ciliadas.
oviduto, ligando-se ao lúmen uterino, o istmo (Fig.
2-3). As fímbrias são livres, exceto num ponto no
18 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
FIGURA 2-3. Fisiologia, histologia e citologia do oviduto. (A) Epitélio tubário. A, células secretoras evidenciando o material
ciliado/secre tor celular com cinecílios (foto do professor S. Reinius). (B) Contração das fímbrias em relação à superfície
ovariana, um mecanismo pelo qual os ovos são captados pelo infundíbulo. (C) A musculatura do oviduto em ungulados. A,
ampola: a musculatura consiste em fibras espi rais arranjadas quase circularmente; B, istmo: note diferenças na morfologia
das fibras musculares; C, junção uterotubária: note a muscu latura longitudinal de origem uterina bem como as fibras
peritoneais (Schilling. Zentralbl Veterinaermed 1962;9:805). (D) Células cilia das do oviduto (direita) e útero (esquerda). Note
a presença de microvilos na superfície apical das células. (E) Células secretoras mostran do biossíntese, empacotamento,
estocagem, liberação e distribuição do material secretório, que é o maior componente do fluido luminal no oviduto e no útero.
A ação dos cinecílios facilita a liberação da secreção granular da superfície das células.
ovulação ou logo após, quando a pulsação dos
cílios na porção do oviduto provida de fímbrias está
intima mente sincronizada e direcionada para o óstio.
A ação de pulsação do epitélio ciliado parece facilitar
CÉLULAS CILIADAS. As células ciliadas da mucosa que o óvulo, rodeado pelas células do cumulus, seja
do oviduto possuem motilidade ciliar reduzida desnudado da superfí cie dos folículos em colapso em
(cinecílios), que se estende para o lúmen. O ritmo de direção ao óstio do oviduto.
pulsação dos cílios é afetado pelos níveis de
hormônios ovarianos, com atividade máxima na
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 19

TABELA 2-2. Técnicas In Vivo e In Vitro Usadas para o Estudo das Funções
Tubárias FUNÇÃO SOB ESTUDO TÉCNICAS

Estrutura e ultra-estrutura do epitélio, da ati vidade o espermatozóide (fertilização), preve nindo,


secretora e dos cílios assim, uma implantação no próprio oviduto. No
macaco rhesus, o movimento ciliar do oviduto é
Identificação de receptores colinérgicos ou adrenérgicos controlado por hormônios: os cílios desaparecem
Contratilidade da musculatura tubária Composição quase que completa mente após a hipofisectomia
bioquímica do fluido tubário Detecção da captação de
e desenvolvem-se em resposta à administração
proteínas no epité lio tubário
de estrógenos exógenos. O oviduto atrofia se e
Transporte do ovo no oviduto
perde os cílios durante o anestro, hipertrofia-se e
cria novos cílios durante o proestro e cio, e
atrofia-se e perde os cílios durante a gestação.
Transporte espermático no oviduto Cinética dos Infecções no trato reprodutivo das fêmeas
estão associa das a alterações graves na
morfologia das células, comumen te a perdas de
batimentos ciliares células ciliadas. Uma diminuição no número de
cílios pode causar o acúmulo de fluidos tubários e
de exu datos inflamatórios no oviduto, o que
Microscopia eletrônica de varredura e transmissão contribui para uma aglutinação nas plicas tubárias
Cultura de fragmentos da mucosa tubária
e subseqüente desenvolvi mento de uma
Observações histoquímicas de seções congeladas
salpingite.
Técnicas de histoquímica fluorescente
Fisiofarmacologia da contratilidade tubária (ex.: resposta a
CÉLULAS NÃO-CILIADAS. As células secretoras
drogas) Observações visuais do oviduto através de janela da muco sa do oviduto não são ciliadas e
ou parede abdominal Meios extra ou intra-abdominais possuem característicos grâ nulos secretores,
para coletar fluidos sendo que o tamanho e o número deles variam
Imunofluorescência entre as espécies durante as diferentes fases do
Farmacologia/neurofarmacologia ciclo estral. A superfície apical das células
Efeitos da prostaglandina de hormônios esteróides não-ciliadas é coberta por inúmeros microvilos.
Lavagem segmentar do oviduto Os grânulos secretores são acumu lados nas
Uso de ovos substitutos células epiteliais durante a fase folicular do ciclo,
Recuperação de ovos no útero in vivo e, após a ovulação, esses grânulos são liberados
Lavagem segmentar do oviduto em intervalos após a dentro do lúmen, causando uma redução na altura
inseminação artificial Lavagem do oviduto a partir das do epitélio.
fímbrias, por laparoscopia, em intervalos após cobertura
O fluido tubário possui várias funções,
ou inseminação artificial
incluindo a capa citação e a hiperativação do
Cinematografia ultra-rápida
espermatozóide, a fertilização e o
desenvolvimento precoce da pré-implantação. Ele
é compos to por um transudato seletivo de soro e
por produtos dos grâ nulos das células secretoras
do epitélio tubário (5). As secre ções tubárias são
reguladas pelos hormônios esteróides.
O fluido e o soro do oviduto são compostos
A porcentagem de células ciliadas diminui por diversos componentes protéicos. Entretanto,
gradualmente na ampola em direção ao istmo e alguns destes compo nentes estão presentes nos
alcança o máximo na fímbria e no infundíbulo. As dois fluidos orgânicos, em dife rentes proporções.
células ciliadas são notadas em grande número Por exemplo, a quantidade de uma trans ferrina e
nos ápices das pregas da mucosa. As variações de pré-albumina no fluido tubário é relativamente
na porcentagem de células ciliadas e secretoras maior que a quantidade de albumina e proteínas
ao longo de toda a extensão do oviduto possuem presentes no soro. Muitas proteínas séricas não
alguma função signifi cativa. As células ciliadas fazem parte do fluido tubário e, contrariamente,
são mais abundantes na região onde o óvulo é muitas são exclusivas do fluido tubário.
captado, acima da superfície ovariana, enquanto
Musculatura do Oviduto
as células secretoras são abundantes onde os flui
dos luminais são necessários, numa interação e Ligamentos Relacionados
entre o óvulo e o espermatozóide. As contrações do oviduto facilitam a mistura
A pulsação dos cílios ocorre em direção ao de seus conteúdos, ajudam a desnudar os óvulos,
útero. Essa atividade, auxiliada pelas contrações promovem a ferti lização (facilitando o contato
do oviduto, mantém o óvulo em constante rotação entre o óvulo e o espermato
no oviduto, o que é essencial para juntar o óvulo e
20 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
FIGURA 2-4. Microscopia eletrônica
de varredura do oviduto. (A) O epitélio
tubário apresenta células secretoras
(seta) altamente revestidas por microvi
los e células ciliadas. Note que muitas
células são inteiramente ciliadas,
enquanto outras possuem cílios somen
te na periferia. (B) Estruturas em roseta
nas células ciliadas, um processo que
ocorre ao acaso, culminando na com
pleta ciliação, como mostrado aqui. (C)
Células inteiramente ciliadas nas fím
brias, que auxiliam na captação do ovo
após a expulsão no folículo de Graaf.
(D) E, epitélio tubário. Pregas mucosas
projetadas para o lúmen da ampola
(37TM). (E) Pregas da mucosa projeta
das para o lúmen do istmo (40TM).
geral, a ampola é menos ativa que o istmo. Fatores
adicionais de complexida de são as atividades
contráteis do mesossalpinge, do miométrio e dos
ligamentos suspensores, além dos movimentos
ciliares.
zóide) e regulam parcialmente o transporte do ovo.
As contrações musculares do oviduto são
Diferentemente do peristaltismo intestinal, o
estimuladas pela contração de duas membranas
peristaltismo do oviduto tende a atrasar ligeiramente a
maiores, de musculatura lisa e unidas às fímbrias, à
progressão do óvulo ao invés de transportá-lo.
ampola e ao ovário: o mesossal pinge e o
mesotubário superior. A freqüência e a amplitude das
PADRÕES DAS CONTRAÇÕES DO OVIDUTO. A
contrações espontâneas variam de acordo com a fase
musculatura do oviduto passa por vários tipos de
do
contrações complexas: contrações localizadas
semelhantes ao peristaltismo, que se originam em
segmentos isolados ou alças com curto trajeto, e
ciclo estral. Antes da ovulação, as contrações são
contrações segmentares e torções vermiculares de
suaves, com variações individuais na proporção e no
todo o ovi
padrão de con tratilidade. Durante a ovulação, as
duto. Contrações em direção oposta ao ovário são
contrações tornam-se mais vigorosas e as dobras em
mais comuns do que as dirigidas para ele. De modo
forma de franja se contraem ritmicamente e CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 21
“massageiam” a superfície ovariana.
O padrão e a amplitude das contrações variam roespecíficas. A proporção e a quantidade dessas
nos diferentes segmentos do oviduto. No istmo, as proteínas variam de acordo com o ciclo reprodutivo.
contrações peristálticas e antiperistálticas são As diferenças de concentração, assim como a
segmentais, vigorosas e quase contínuas. Na ampola, distribuição dos componentes nos fluidos uterinos,
fortes ondas peristálticas movem-se de maneira comparados ao soro sangüíneo, eviden ciam a
segmentada em direção à porção média do oviduto. ocorrência de secreção e de transudação. Na coelha,
uma proteína denominada blastoquinina
LIGAMENTO ÚTERO-OVARIANO E LIGAMENTOS RELACIO (uteroglobulina) pode influenciar a formação de
NADOS. O ligamento útero-ovariano é formado por blastocistos a partir da móru la. O fluido uterino em
células musculares lisas, dispostas em feixes camundongos contém um fator que dá início à
longitudinais, que aden tram o miométrio, mas não o implantação. Secreções uterinas fornecem um
estroma ovariano. Os múscu los lisos do mesovário e ambiente favorável para a sobrevivência e a
os vários ligamentos do mesentério, unidos ao ovário capacitação espermática, bem como para a clivagem
e às fímbrias, contraem-se internamente. Essas no blastocisto jovem antes da implantação.
contrações musculares rítmicas e intermitentes Proteínas específicas do útero e/ou de origem no
assegu ram a posição das fímbrias em relação à con cepto têm sido caracterizadas durante o início da
superfície dos ovários. gestação na ovelha. Uma das proteínas, de cor
púrpura, com glicopro teína contendo ferro, chamada
ÚTERO uteroferrina foi purificada (6). As secreções uterinas
participam do controle embrioná rio e da implantação.
O útero é composto de dois cornos uterinos
(cornuado), um corpo e uma cérvix (colo) (Fig. 2-5). A CONTRAÇÃO UTERINA. A contração do útero é
proporção rela tiva de cada parte, assim como o coordena da por movimentos rítmicos do oviduto e do
formato e a disposição dos cornos, varia entre as ovário. Há uma considerável variação na origem, na
espécies. Na porca, o útero é do tipo bicórneo, os direção, no grau de ampli tude e na freqüência das
cornos são dobrados ou convolutos e podem atingir contrações no trato reprodutivo.
de 120 cm a 150 cm de comprimento (Fig. 2-6). Esse Durante o ciclo estral, a freqüência das
comprimento é uma adaptação anatômica para suprir contrações do miométrio atinge seu grau máximo
satis fatoriamente a leitegada. Na vaca, na ovelha e durante e imediatamen te após o cio. Durante o cio,
na égua, um útero bipartido é típico. Esses animais as contrações uterinas origi nam-se da porção caudal
apresentam um septo que separa os dois cornos de do trato reprodutivo e são mais predominantes no
um proeminente corpo uterino (o maior é o da égua). oviduto. Durante a fase luteínica, a fre qüência das
Nos ruminantes, o epitélio uterino apresenta diversos contrações é reduzida e somente uma pequena
carúnculos. Ambas as margens uterinas são unidas à porcentagem move-se em direção ao oviduto. O
parede pélvica e abdominal pelo ligamento largo. estradiol aumenta a freqüência das contrações
uterinas em ovelhas ovariectomizadas, nas quais a
Glândulas Endometriais e Fluido Uterino progesterona reduz essa fre qüência. Altos níveis de
As glândulas endometriais são estruturas progesterona são observados quan do a atividade
tubulares rami ficadas e espiraladas, forradas por contrátil é relativamente quiescente.
epitélio colunar. Elas se abrem na superfície do Metabolismo Uterino
endométrio, exceto nas áreas carun culares (em
ruminantes). As glândulas apresentam-se relati O endométrio metaboliza carboidratos, lipídios e
vamente retas durante o cio, e crescem, secretam e proteí nas para suprir os requerimentos necessários
tornam se mais espiraladas e complexas à medida para a nutrição celular, para a rápida proliferação do
que aumenta o nível de progesterona produzido pelo tecido uterino e para o desenvolvimento do concepto.
CL em desenvolvi mento. Elas começam a regredir Essas reações dependem de quatro fenômenos: (a)
quando são notados tam bém os primeiros sinais de as reações enzimáticas envolvidas no metabolismo
regressão luteínica. As células epiteliais do da glicose, (b) aumento da circulação através de
endométrio ficam relativamente altas e passam por arteríolas espiraladas, (c) alterações morfológicas que
um período de secreção ativa durante o cio, ocorrem no endométrio e no miométrio, (d) ação
tornando-se baixas e cubóides 2 dias após esse estimu lante dos hormônios ovarianos e outros
período. hormônios.
O volume e a composição bioquímica do fluido Os hormônios ovarianos apresentam substancial
uterino mostram variações significativas durante o envol vimento na regulação do metabolismo uterino.
ciclo estral. Na ove lha, o volume do fluido uterino O cresci mento do útero (tanto síntese protéica
excede ao do oviduto durante o cio, enquanto durante quanto divisões celu lares) é induzido por estrógenos.
a fase luteínica acontece o contrário. Uma rápida modificação ocorre no metabolismo do
endométrio mais ou menos na época em que o ovo
PROTEÍNAS UTERINAS. O fluido endometrial contém passa pela junção uterotubária.
proteínas séricas e pequenas quantidades de Função do Útero
proteínas ute
O útero apresenta uma série de funções. O
Feto
endométrio e seus fluidos têm grande relevância no
processo reproduti vo: (a) transporte dos Útero
espermatozóides do ponto de ejacula ção até o local Omento maior
da fertilização no oviduto, (b) regulação da função do
CL e (c) início da implantação, gestação e parto.
22 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL

Rúmen Recesso intestinal

FIGURA 2-5. Parâmetros comparativos da anatomia reprodutiva da fêmea. (1) Diferenciações


ovarianas resul tantes das mudanças morfológicas e funcionais das espécies. A, ovário de porca
(forma de amora); B, ovário de vaca (forma de amêndoa) com folículo emergente; C, ovário de vaca
com CL totalmente desenvolvido; D, ovário de égua (formato de rim) com fossa de ovulação (Dyce
KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987).
(2) Posição do útero em vacas do terceiro ao sexto mês de prenhez. A, sobreposição do útero e
dos ovários (esquerda) (listras verticais, útero; círculo preto, ová rio) representando o útero no
terceiro mês de prenhez; B, secção transversal do útero no sexto mês de prenhez, contendo feto
relativamente adjacente às vísceras abdominais (rúmen à esquerda e útero à direita do abdome)
(Dyce KM, Wensing CJG. Essentials of bovine anatomy. Philadelphia: Lea & Febiger, 1971). (3)
Suprimento sangüíneo do trato reprodutivo de vaca. As artérias são mostradas à direita e as veias,
à esquerda. 1, artéria ova riana; 1’, ramo uterino; 2, artéria uterina; 3, artéria vaginal; 4, veia
ovariana; 5, veia uterina; 6, veia vaginal (Dyce KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary
anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987). (4) Relação da artéria ovariana em ruminantes e
seus ramos. 1, com aquelas da veia uterina; 2, as relações aumentadas de grande área de contato
(Dyce KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders,
1987).
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 23
SNC

Anexo à outra cérvix


Hipotálamo Estrógeno

Muco

RF Plasma seminal:
prostaglandinas,
Hipófise anterior enzimas seminais Secretora
(biossíntese)

FSH, LH

Progesterona
Leucócitos:
Contração do fagócitos
miométrio

Secreção do
Capacitação
endométrio
Criptas cervicais: Batimento
reservatório de ciliar. Célula
espermatozóide, barreira secretora
aos espermatózoides,
filtro de espermatozóides Muco cervical:
propriedades biofísicas,
propriedades
bioquímicas

Micelas:
Secretora
macromoléculas, (esvaziada)
micromoléculas

Ciliar

FIGURA 2-6. Anatomia funcional do útero e da cérvix. (A) Mudanças no tamanho e no


formato do útero de ruminantes durante a prenhez. Três úteros são mostrados no
diagrama: o interno representa o útero não-prenhe; o externo representa o útero prenhe
próximo ao parto e o central representa o útero após o parto, em processo de involução.
(B) Anatomia comparativa e fisiologia da cérvix. (C) Secção longitudinal da cérvix bovina
mostrando a complexidade das criptas cervi cais, que atraem um grande número de
espermatozóides. E, externo; I, interno; M, secreção da mucosa; S, estroma cervical. (D)
Filamentos de muco cervical fluem das criptas da cérvix (C) para o epitélio da vagina (V).
As características biofísicas do muco cervical e o arranjo macromolecular do muco
facilitam o transporte espermático da vagina para o útero (U). (E) Estrutura em saca-rolha
do canal cervical para acomodar a estrutura similar do pênis (Hunter, 1983). (F) Cérvix de
coelho. Note a complexidade do canal cervical duplo. (G) Cripta cervical (acima) e células
secretoras antes e depois da secreção de muco (abaixo).
24 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
IMPLANTAÇÃO E GESTAÇÃO. O útero é um órgão alta
TRANSPORTE ESPERMÁTICO. No acasalamento, a mente especializado, adaptado para aceitar e nutrir os
contra ção do miométrio é essencial para o transporte pro dutos da concepção, desde a implantação até o
dos esperma tozóides do ponto de ejaculação para o parto. Uma “diferenciação” uterina é governada pelos
local da fertilização. Um grande número de hormônios este róides ovarianos. Esse processo
espermatozóides se agrega nas glân dulas envolve alguns estágios críti cos quando o útero está
endometriais. À medida que eles são transportados preparado para aceitar seletivamen te o blastocisto.
ao longo do lúmen uterino até o oviduto, eles sofrem Se não ocorrer a diferenciação, o útero não estará
“capaci tação” nas secreções endometriais. adaptado para permitir a implantação.
Após a implantação, o embrião depende de um
MECANISMOS LUTEOLÍTICOS. Há um momento no supri mento vascular adequado do endométrio para o
ciclo útero-ovariano em que o o CL estimula o útero seu desen volvimento. Durante a gestação, as
para que este produza uma substância que o propriedades fisiológicas do endométrio e seu
destruirá. O útero possui um importante papel no suprimento sangüíneo são importantes para a
controle da função do CL, que é man tido sobrevivência e o desenvolvimento do feto. O útero
funcionalmente ativo por longos períodos, tem capacidade de sofrer extraordinárias
seguindo-se a histerectomia em vacas, ovelhas e modificações no tamanho, na estrutura e na posição a
porcas. Se pequenas porções de tecido uterino fim de acomodar as necessidades do concepto em
permanecerem in situ, a regressão luteínica ocorre e crescimento.
os ciclos recomeçam por períodos varia dos. Após a
histerectomia unilateral, os CLs adjacentes ao corno PARTO E INVOLUÇÃO PÓS-PARTO. A resposta contrátil
uterino retirado são mais bem mantidos do que os do útero permanece quiescente até a época do parto,
adjacentes ao corno remanescente. quando desempenha importante papel na expulsão
A administração intramuscular ou intra-uterina de fetal. Após o parto, o útero quase readquire seu
pros taglandina provoca total regressão luteínica na antigo tamanho e condi ção por meio de um processo
vaca e na ovelha. O corno uterino gravídico tem efeito chamado involução. Na porca, o útero diminui
antiluteolítico no nível do ovário adjacente. Esse efeito continuamente em peso e extensão durante 28 dias
é exercido através de um trajeto local após o parto; posteriormente, ele permanece sem
útero-ovariano-venoarterial. modificações durante o período de lactação. No
entanto, imediatamente após o desmame da
leitegada, o útero aumenta de peso e tamanho por 4
dias.
Durante o intervalo do pós-parto, a destruição do CÉRVIX UTERINA
teci do endometrial é acompanhada pela presença de
grande número de leucócitos e pela redução do leito A cérvix é uma estrutura semelhante a um
vascular endo metrial. As células do miométrio são esfíncter, que se projeta caudalmente na vagina (Fig.
reduzidas em número e tamanho. Essas rápidas e 2-7). Ela é um órgão fibroso composto
desproporcionais alterações do tecido uterino são a predominantemente por tecido conjunti vo com
possível causa do baixo índice de con pequenas quantidades de tecido muscular liso,
caracterizada por uma espessa parede e por um
lúmen cons trito. Embora haja diferenças de detalhes
cepção pós-parto. A involução uterina não é retardada na cérvix dos mamíferos domésticos, o canal cervical
pela presença dos bezerros em amamentação e nem é caracterizado por várias proeminências. Nos
por anemia. Os tecidos carunculares se destacam e ruminantes, a cérvix possui o formato transverso ou
são expulsos do útero 12 dias após o parto. espiralado, com saliências fixas conhecidas como
anéis, que apresentam vários graus de
EFEITOS DOS CORPOS ESTRANHOS E DIUS. O estímulo desenvolvimento nas diferentes espécies. São
do útero durante o início do ciclo estral apressa a especialmen te proeminentes na vaca (geralmente 4
regressão do CL e provoca cio precoce. O estímulo anéis) e na ovelha adaptam-se um no outro, ocluindo
uterino pode ser desenca deado pela colocação de a cérvix com segurança. Na porca os anéis
um pequeno corpo estranho dentro do útero. O ciclo dispõem-se em formato de saca-rolhas, adaptando-se
estral subseqüente será encurtado ou prolon gado à extremidade torcida em espiral do pênis do macho.
dependendo de quando se deu a inserção do corpo Na égua, são características as dobras da mucosa e
estra nho e da natureza e tamanho do material as alças que se projetam para dentro da vagina.
introduzido. O fato de o ciclo estral não ser afetado A cérvix permanece compactamente fechada,
quando o segmento uterino contendo o corpo exceto durante o cio, quando relaxa levemente,
estranho tiver sido denervado mostra que o sistema permitindo a entra da dos espermatozóides no útero.
nervoso é responsável por esse efeito. O muco que sai da cérvix é expelido pela vulva.
Embora os dispositivos intra-uterinos (DIUs)
Estroma Cervical e Alterações Fisiológicas
apresen tem efeito antifertilidade em vários animais
domésticos, aparentemente seu modo de ação varia O tecido conjuntivo do estroma cervical é
muitíssimo. O maior efeito antifertilidade dos DIUs constituído por substância sedimentar, constituintes
parece ser exercido entre o momento em que o fibrosos e elemen tos celulares. A substância
embrião entra no útero e o momento da implantação. sedimentar contém proteoglica nos e ácido
A inserção de DIUs de grande diâmetro em ovelhas e hialurônico, sulfato de condroitina-4, 6, sulfato de
vacas resulta em alteração do ciclo estral, caracte dermatan, sulfato de heparan e sulfato de queratan
rizada pelo encurtamento da atividade funcional do asso ciados às proteínas. Os constituintes fibrosos
CL. Na ovelha, os DIUS de grande diâmetro inibem o incluem colá
transporte espermático e a fertilização.
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 25
FIGURA 2-7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) de órgãos reprodutores femininos. (A) Endométrio de
ovelha: carúnculo rodeado pelas aberturas das glândulas endometriais. (B) Mucosa do corno uterino de ovelha
não-prenhe. Note os carúnculos e a pigmentação do endométrio. (C) Vagina de coelha mostrando as rugas do
epitélio vaginal para a expansão durante a cópula e o parto. (D) Morfologia e histologia da cérvix (cortada e
aberta) da novilha 4 dias após o cio. Note os anéis anulares rodeando o canal cervical. (E) Cérvix bovina aberta
mostrando a complexidade das criptas cervicais (59TM).
26 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL da cérvix durante a gestação indica que ela está
preparada para mudanças nas propriedades
geno, elastina e reticulina. Os elementos celulares funcionais, determinadas pelas alterações dos
com preendem mastócitos, fibroblastos e células parâmetros que regulam as propriedades físi cas da
errantes. O colá geno é composto por uma cadeia de matriz do tecido conjuntivo. Morfologicamente, tais
vários aminoácidos, tais como glicina, prolina, modificações relacionadas à gestação não se iniciam
hidroxiprolina, lisina e hidroxilisina. Os padrões de até que a gestação se torne avançada, quando há um
reticulinas, elastinas e substâncias de regiões esgotamento do tecido e a destruição da rede
interfibrosas facilitam a dilatação da cérvix no parto. A colágena torna-se aparente.
dis sociação das fibras colágenas, as quais estão Durante a gestação, a cérvix pode aumentar sua
separadas umas das outras, determina a abertura do massa em até 8 vezes seu tamanho normal. O
tecido cervical e aumen ta os espaços brancos entre acentuado cresci mento e o decréscimo nas
os feixes de colágeno. concentrações dos componentes da matriz podem ser
A acentuada mudança na composição bioquímica a conseqüência de vários fatores, incluindo o
aumento na vascularização e nas concentrações de duran te o cio e a ovulação, o grande tamanho das
glicoproteínas. malhas permi te o transporte de espermatozóides
A atenuação cervical não é exclusivamente através da rede de fila mentos e do canal cervical.
devida à ati vidade enzimática, que envolve somente
a degradação da matriz. A dinâmica natural da cérvix Funções
na época do parto é pro vida de bases anabólicas A cérvix possui várias funções no processo
para que a nova matriz seja produzi da com reproduti vo: (a) facilita o transporte espermático
propriedades físicas alteradas. As maiores característi através do muco cervical para o interior do útero, (b)
cas na cérvix parturiente incluem: (a) aumento da atua como reservató rio de espermatozóides e (c)
relação de proteoglicanos e síntese de hialuronatos pode tomar parte na seleção de espermatozóides
com uma concomi tante diminuição da concentração viáveis, impedindo a passagem de célu las
de hexuronato, (b) apare cimento de um novo tipo de espermáticas inviáveis e defeituosas.
proteoglicanos e (c) esgotamen to na estrutura e na
organização da rede de colágenos. TRANSPORTE ESPERMÁTICO. Depois da ejaculação,
os espermatozóides são orientados em direção ao
Muco Cervical
orifício inter no do útero. Com os movimentos e as
O muco cervical consiste de macromoléculas de vibrações do flagelo, a cabeça do espermatozóide é
muci na, de origem epitelial, que são compostas de impulsionada em direção aos canais de menor
glicoproteínas (particularmente do tipo sialomucina) resistência. As propriedades macro e microrreológicas
contendo 25% de aminoácidos e 75% de do muco cervical possuem importante papel na
carboidratos. A mucina é composta de uma longa migração espermática. A penetração aumenta com a
cadeia polipeptídica contínua com numerosas cadeias clarificação do muco, desde que os restos celulares e
colaterais oligossacáridas. A porção de carboidratos é os leu cócitos retardem a migração espermática. Os
composta de galactose, glicosamina, fucose e ácido espaços aquo sos entre as micelas permitem a
siálico. As proteínas do muco cervical incluem passagem dos espermatozói des, assim como a
pré-albumina, lipo proteína, albumina, ß-globulina e difusão de substâncias solúveis. As enzi mas
γ-globulina. O muco cer vical contém várias enzimas, proteolíticas podem hidrolisar o esqueleto da proteína,
incluindo glucoronidase, ami lase, fosforilase, ou algumas conexões cruzadas de mucina,
esterase e fosfatase. reduzindo, assim, a resistência das malhas e
Devido às características biofísicas específicas, o tornando os canais mais abertos para a migração
muco cervical possui várias propriedades reológicas, espermática. Quando o muco cervical e o sêmen são
como cristali zação, elasticidade, viscosidade, colocados em contato in vitro, as fases são separa
fluidificação e espessamen to. Fazendo-se um das por superfícies de descontinuidade entre os
esfregaço sobre uma lâmina com muco cervical fluidos. Logo aparecem falanges espermáticas e
durante o cio, observa-se que depois de seco, ele desenvolvem-se altos graus de arborização, cujos
apresenta uma cristalização, como nervuras de uma aspectos terminais consistem de canais pelos quais
folha de samambaia. Essa característica, associada um ou dois espermatozóides podem passar.
ao alto teor de clo retos no muco, não ocorre quando Após a cobertura ou inseminação artificial,
o esfregaço é feito nas fases do ciclo estral, em que grandes quantidades de espermatozóides ficam
predominam os níveis de pro gesterona, e nem alojadas nas compli cadas criptas cervicais. A cérvix
durante a gestação. O fenômeno pode ter algum valor pode atuar como reservató rio de espermatozóides,
quando combinado com outras observações abastecendo o trato reprodutivo com subseqüentes
liberações de material seminal. É possível também
que os espermatozóides presos nas criptas cervicais
para o diagnóstico precoce da gestação. A secreção nunca sejam liberados, impedindo que um número
do muco cervical é estimulada pelos estrógenos excessi vo atinja o local da fertilização.
ovarianos e inibida pela progesterona.
As modificações cíclicas qualitativas do muco
cervical durante o ciclo estral e as variações cíclicas Nos ruminantes, a prolongada sobrevivência dos
na disposição e na viscosidade das macromoléculas esper matozóides na cérvix, proporcionalmente a
provocam alterações periódicas na penetrabilidade outros segmen tos do trato reprodutivo, sugere que
dos espermatozóides no canal cervical. As alterações ela atue como um reser vatório espermático. Na
mais favoráveis nas propriedades do muco cervical – cérvix de vacas e cabras, a maioria dos
como aumento na quantidade, viscosidade, espermatozóides não é distribuída aleatoriamente,
cristalização e pH, assim como diminuição da mas localiza-se entre as criptas cervicais. A
viscosidade e do conteúdo celular – ocorrem durante penetração de esper matozóides nesses locais
o cio e a ovulação, e se invertem durante a fase depende da viabilidade e da estru tura espermática e,
luteínica, quando a penetração dos espermatozóides conseqüentemente, das propriedades reológicas do
na cérvix é inibida. Sob a influência dos estrógenos, muco cervical.
as macromoléculas de glicoproteínas do muco ficam
de tal modo orientadas que o espaço entre elas mede A CÉRVIX DURANTE A GESTAÇÃO. Durante a
de 2 a 5 µm. Na fase luteínica, os espaços da rede de gestação, o muco que oclui o canal cervical é
macromoléculas tornam-se cada vez menores. Assim, altamente viscoso, espesso, turvo e não se cristaliza,
atuando como uma barrei ra eficiente contra o trânsito
espermático e a invasão bacte riana no útero, além de FLUIDO VAGINAL. O fluido vaginal é composto
prevenir infecções uterinas. A única vez que a cérvix primaria mente de transudato da parede vaginal,
se abre novamente é antes do parto. Nessa hora, o misturado com secreções vulvares das glândulas
tampão cervical se liquefaz e a cérvix se dilata para sebáceas e sudoríparas e contaminado com muco
permitir a expulsão do feto e das membranas fetais. cervical, fluido endometrial e tubá rio e células
esfoliadas do epitélio vaginal. À medida que se
VAGINA aproxima o cio, aumenta a vascularização da parede
vaginal e o fluido vaginal torna-se mais fino.
A parede vaginal consiste de uma superfície Um odor específico e distinto é percebido no trato
epitelial, de uma camada muscular e de uma serosa. uro genital de vacas durante o cio. Durante o diestro,
A camada muscular da vagina não é tão bem esse odor aparentemente desaparece ou é bastante
desenvolvida como as partes exter nas do útero. Ela atenuado. Cães podem ser treinados para detectar e
consiste de uma espessa camada circular interna e responder a esses odores associados com o cio em
de uma fina camada longitudinal externa; esta últi ma bovinos (7).
estende-se por certa distância para dentro do útero. A
túnica muscular é suprida por vasos sangüíneos, FLORA MICROBIANA. A flora vaginal é composta de
feixes ner vosos, grupos de células nervosas e tecido uma mistura dinâmica de microorganismos aeróbios,
conjuntivo denso e frouxo. Na vaca, exclusivamente, anaeróbios facultativos e estritamente anaeróbios,
há um esfíncter muscu lar cranial, além do esfíncter sendo constante mente introduzidas novas linhagens.
caudal presente em outros mamíferos domésticos. A flora de microorga nismos é variável durante o ciclo
Existem diferenças interespecíficas nas vital e várias de suas popu lações apresentam
alterações vagi nais durante o ciclo estral que se enzimas que lhes permitem sobreviver e
refletem, provavelmente, em diferentes níveis de multiplicar-se no ambiente vaginal. Muitas são
secreção de estrógeno e progestero na e mesmo de preparadas enzimaticamente para sobreviver e se
gonadotrofinas. No entanto, os esfregaços vaginais reproduzir nesse ambiente. Durante os períodos de
não servem para o diagnóstico das fases do ciclo alto conteúdo glicogêni co, os organismos acidófilos
estral ou de disfunções hormonais. predominam, mas outros orga nismos estão
A superfície das células vaginais é constituída por presentes entre o grupo heterogêneo, consti tuindo a
numerosos microvilos que correm longitudinalmente flora normal.
ou em círculos. Nesse epitélio estratificado
Funções da Vagina
multiviloso, as células são dispostas com
microvilosidades opostas, entrosadas umas às outras, As funções da vagina na reprodução são
para manter a superfície firme. O padrão e a mor múltiplas. É um órgão copulatório onde o sêmen é
fologia desses microvilos afetam a firmeza do epitélio, depositado e coagulado até que os espermatozóides
que é totalmente variável com o ciclo reprodutivo. sejam transportados através das macromoléculas da
coluna de muco cervical. A vagina, dila tada como um
Respostas Fisiológicas
bulbo, atua como um reservatório de sêmen para
CONTRAÇÕES VAGINAIS. As contrações vaginais fornecer espermatozóides aos depósitos cervicais. As
repre sentam um importante papel nas respostas dobras vaginais e a estrutura muscular de forma
psicossexuais e possivelmente no transporte rombóide permitem a distensão da vagina durante o
espermático. A contração da vagina, do útero e do acasalamento e o parto. Embora a vagina não possua
oviduto é ativada pelo fluido secreta do na vagina glândulas, suas paredes são umedecidas por
durante o estímulo pré-coital. transudatos do epitélio vaginal (incorre tamente
chamado mucosa), por muco cervical e por secre
RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS. Parece que a vagina é o ções endometriais.
melhor local para a reação antígeno-anticorpo por Após a ejaculação, o plasma seminal não é
estar mais exposta ao antígeno espermático do que o transportado para o útero, a maior parte é expelida ou
útero e o oviduto. A produção local de anticorpos aos absorvida pelas paredes vaginais. Alguns dos
antígenos componentes bioquímicos do plasma seminal,
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 27 quando absorvidos pela vagina, exercem respostas
fisiológicas em outras partes do trato reprodutivo
espermáticos pode ocorrer dentro dos tecidos feminino.
vaginais. Células plasmáticas maduras e imaturas, O pH da secreção vaginal não é favorável aos
localizadas abaixo do epitélio, parecem estar sob esperma tozóides. Uma complexa interação do muco
controle endócrino, pois aumentam em número cervical, da secreção vaginal e do plasma seminal
durante a fase luteínica, após a ovariectomia e induz um sistema de
durante a fase após a menopausa. Essas célu las 28 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL
plasmáticas parecem estar envolvidas na secreção de
imunoglobulinas A e G, que parecem prevenir tampão que protege os espermatozóides até que eles
infecções bacterianas e produzir anticorpos contra os sejam transportados através das micelas do muco
espermatozóides. cervical. Condições patológicas que resultem em
tampões insufi cientes ao acúmulo seminal (como
pequeno volume de ejaculado, porções escassas de Gartner. As glândulas de Bartholin, que secretam um
muco cervical espesso e escoamento do sêmen) líquido viscoso, mais ativamente durante o cio,
podem ocasionar rápida imobiliza ção dos apresentam estrutura tuboalveolar similar às
espermatozóides. A vagina serve como um ducto glândulas bulbouretrais no macho.
excretor das secreções cervicais, endometriais e
tubárias, serve também de via natural durante o parto. Lábios Maiores e Lábios Menores
Essas fun ções são cumpridas por várias O tegumento dos lábios maiores é ricamente
características fisiológicas, principalmente contração, dotado de glândulas sebáceas e tubulares. Ele
expansão, involução, secreção e absorção. contém depósitos de gordu ra, tecido elástico e uma
camada fina de músculo liso, apresen tando a mesma
GENITÁLIA EXTERNA estrutura superficial externa da pele. Os lábios
menores têm um tecido conjuntivo esponjoso no
O vestíbulo, os lábios maiores, os lábios menores, centro.
o cli tóris e as glândulas vestibulares constituem a
genitália externa. Clitóris

Vestíbulo A comissura ventral do vestíbulo encobre o


clitóris, que tem a mesma origem embrionária do
A junção entre a vagina e o vestíbulo é marcada pênis. Ele é com posto de tecido erétil, coberto por
pelo orifício uretral e freqüentemente por uma um epitélio escamoso e estratificado, sendo bem
saliência (o hímen vestigial). Em certas vacas, o suprido por terminações nervosas sensitivas. Na
hímen é tão proemi nente que interfere na cópula. vaca, a maior parte do clitóris está oculta na mucosa
O vestíbulo da vaca estende-se internamente por do vestíbulo. Na égua, entretanto, ele é bem desen
apro ximadamente 10 cm, onde o orifício uretral volvido, e na porca é longo e sinuoso, terminando em
externo se abre uma pequena ponta ou cone.
Extensas investigações têm conduzido a uma
anatomia comparativa entre os órgãos do trato
em sua superfície ventral. Os ductos de Gartner reprodutivo feminino dos mamíferos domésticos
(resquícios dos ductos de Wolff) abrem-se no (8-12).
vestíbulo caudal e lateral mente aos ductos de
CAPÍTULO 2: A NATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 29

REFERÊNCIAS

P ARTE I I
Fisiologia da Reprodução
CAPÍTULO 3

Hormônios, Fatores de
Crescimento e Reprodução
E. S. E. HAFEZ, M. R. JAINUDEEN E Y. ROSNINA
definição clássica.
Além dos hormônios das glândulas endócrinas,
duran te a última década inúmeras pesquisas
revelaram o papel dos fatores de crescimento
peptídicos, normalmente conhe cidos como “Fatores
Ao longo do tempo, o controle da reprodução dos de Crescimento” em reprodução. Os fatores de
mamí feros deixou de ser considerado como regulado crescimento são substâncias relacionadas aos hor
apenas pelo sis tema nervoso central (SNC), mônios e que controlam o crescimento e o
passando a ser visto como uma função controlada por desenvolvimen to de diversos órgãos, tecidos e
dois sistemas separados: o sistema ner voso central e células em cultivo. Diferentemente dos hormônios, os
o sistema endócrino (Fig. 3-1). A seguir, desco briu-se fatores de crescimento são produzidos e secretados
que o hipotálamo ligava esses dois sistemas por meio por células de diferentes tecidos para se difundirem
do sistema porta-hipotálamo-hipofisário, coordenando por meio das células-alvo.
as funções das gônadas. Entretanto, muitos Este capítulo está dividido em duas seções. A
fenômenos não podiam ser explicados primeira aborda a estrutura bioquímica, os modos de
exclusivamente pelo controle neuroendócrino. comunicação e a função dos mecanismos de
Portanto, a última década testemunhou a descoberta retroalimentação na maioria dos hormônios
de deter minados mensageiros químicos (fatores de reprodutivos nos animais domésticos. A segunda
crescimento), bem como a presença de sistemas seção trata de uma revisão sobre os fatores de cres
regulatórios parácrinos e autócri nos no nível das cimento, seus respectivos modos de comunicação e
gônadas. Tais avanços ajudaram a desvendar seu papel nos processos reprodutivos dos animais
fenômenos que não conseguiam ser explicados domésticos. Maiores detalhes podem ser vistos nos
apenas pelo controle neuroendócrino. próximos capítulos.
Ambos os sistemas, nervoso e endócrino,
funcionam no sentido de iniciar, coordenar ou regular GLÂNDULAS ENDÓCRINAS
as funções do sistema reprodutivo. Diferentemente do
sistema nervoso, que contro la as funções orgânicas Antes de discutir sobre os hormônios da
por meio de rápidos impulsos nervosos elétricos reprodução, julgamos ser oportuna uma breve revisão
como, por exemplo, a regulação do sistema muscu da anatomia fun cional do hipotálamo, da hipófise e
loesquelético, o sistema endócrino utiliza-se de das gônadas.
mensageiros químicos ou hormônios para regular Hipotálamo
processos orgânicos mais lentos, como, por exemplo,
o crescimento e a reprodução. O hipotálamo ocupa apenas uma porção do
Um hormônio é classicamente definido como uma cérebro. Ele consiste da região do terceiro ventrículo,
subs tância química fisiológica, orgânica, sintetizada e estendendo-se do quiasma óptico aos corpos
secretada por uma glândula endócrina sem ducto e mamilares (Fig. 3-2). Existem conexões neurais entre
transportada via corrente circulatória. Os hormônios o hipotálamo e o lobo posterior através do trato
têm a ação básica de inibir, estimular ou regular a hipotálamo-hipofisário e conexões vascula res entre o
atividade funcional de seus órgãos ou tecidos-alvo. hipotálamo e o lobo anterior da hipófise (Fig. 3- 3). O
Entretanto, órgãos como o útero e o hipotálamo sangue arterial ganha a hipófise através da artéria
produzem hormônios que não se encaixam nessa hipofisária superior e inferior. A artéria hipofisária
superior forma alças capilares no nível da eminência
média e pars nervosa. Destes capilares, o sangue flui
para o sistema porta-hipotálamo-hipofisário, o qual Hipófise
começa e termina em capilares sem a passagem pelo A hipófise está localizada na sela túrcica, uma
coração. Parte do fluxo venoso que sai da hipófise depres são óssea localizada na base do cérebro. A
anterior se dá através de um fluxo retrógrado, que glândula está dividida em três partes anatômicas
expõe o hipotálamo a altas concen trações dos distintas: os lobos ante rior, intermediário e posterior.
hormônios da hipófise anterior. Tal fluxo san güíneo Existem variações conside
possibilita ao mecanismo hipofisário a retroalimen
tação negativa de regulação das funções 33
hipotalâmicas. Esse tipo de retroalimentação é
conhecido como retroali mentação de alça curta.
34 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Cérebro
Cérebro Cérebro Cérebro

Hipotálamo
Hipotálamo Hipotálamo
Hipófise Hipófise Hipófise

Ativinas

Inibinas

Gônadas
Gônadas Gônadas Gônadas

Esteróides Esteróides
Esteróides
Comportamento sexual Polipeptídeos

FIGURA 3-1. Cronologia da modificação dos conceitos sobre o controle da reprodução em mamíferos. (A) O sistema nervoso
central atua através das vias nervosas (controle nervoso). (B) A descoberta do sistema endócrino (SE) mudou a ênfase do
SNC para ES (controle endócrino). Os hormônios gonadotróficos da hipófise anterior controlaram a secreção de hormônios
gonadais (esteróides). Os esteróides, por meio de um mecanismo de retroalimentação negativo, diminuíram/aumentaram a
emissão de hormônio da hipófise anterior. (C) Mais tarde, o reconhecimento do sistema porta-hipotalâmico-hipofisário
propiciou a rota para os hormônios hipotalâmicos controlarem a hipófise anterior (controle neuroendócrino). (D) Os
reguladores intragonadais ou “fatores de crescimento”, agindo via mecanismos autócrinos/parácrinos, modulam a secreção
dos hormônios gonadotróficos hipofisários.
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH); os
mamótrofos, responsáveis pela secreção da
ráveis entre as espécies com relação à anatomia da prolactina; os tireótrofos, que secretam o hor mônio
glândula da hipófise. Por exemplo, a pars intermedia tiro-estimulante (TSH), e os gonadótrofos, que
é bem desenvol vida na hipófise de bovinos e secretam o hormônio folículo estimulante (FSH) e o
eqüinos. hormônio luteini zante (LH).
Os tipos celulares da hipófise anterior têm sido Gônadas
tradicional mente classificados, de acordo com suas
características de colo ração, em cromófilos Em ambos os sexos, as gônadas desempenham
granulares e agranulares. Os cromófilos são divididos um papel duplo: a produção das células germinativas
em acidófilos e basófilos. Tal classificação foi (gametogênese) e a secreção dos hormônios
revisada com o advento da imunoquímica e da gonadais. As células intersticiais locali zadas entre os
microscopia eletrônica. A hipófise anterior tem cinco túbulos seminíferos são denominadas células de
tipos diferentes de células, que secretam seis Leydig. As células de Leydig secretam testosterona
hormônios: os somatótrofos, que secretam hormô no macho, enquanto as células da teca interna do
nios do crescimento; os corticótrofos, que secretam o folículo ovulatório são a
fonte primária dos estrógenos circulantes. Após a
ruptura do folículo (ovulação), as células da granulosa
e da teca são substi tuídas pelo corpo lúteo (CL), que
secreta a progesterona.
Células nervosas
hipotalâmicas
Glândula Pineal
Hipotálamo
A glândula pineal (epífise) origina-se como uma
evaginação neuroepitelial do teto do terceiro
ventrículo sob a extremidade posterior do corpo
caloso. A glândula pineal dos anfíbios funcio na como
um fotorreceptor, que envia informações ao cérebro, e
a dos mamíferos comporta-se como uma glândula Plexo capilar
Artéria hipofisária
endócrina.
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 35
A atividade hormonal da glândula pineal é
influenciada tanto pelo ciclo claro/escuro quanto pelo
Estrutura dos Hormônios
ciclo estacional, exercendo, portanto, papel
importante no controle neu roendócrino da De acordo com suas estruturas químicas, os
reprodução. A glândula converte informa ções neurais hormônios da reprodução são divididos em quatro
provenientes dos olhos sobre a duração do dia em grupos:
uma liberação endócrina de melatonina, secretada na
Proteínas: são hormônios polipeptídeos, com
corrente sangüínea e no líquido cerebroespinal.
peso mole cular variando entre 300 e 70.000
dáltons. Exemplos: ocitocina, FSH e LH.
HORMÔNIOS
Esteróides: são hormônios derivados
Os hormônios podem ser classificados de acordo principalmente do colesterol, com peso molecular
com suas estruturas bioquímicas ou modos de ação. variando entre 300 e 400 dáltons. Exemplo:
A estrutura bioquímica dos hormônios inclui testosterona.
glicoproteínas, polipeptí deos, esteróides, ácidos Ácidos graxos: são derivados do ácido
graxos e aminas. araquidônico, com peso molecular em torno de
400 dáltons.
Aminas: são compostos derivados da tirosina ou
do trip tofano. Exemplo: melatonina.

Modos de Comunicação Intercelular


O SNC era considerado o principal dos sistemas
orgâni cos até a descoberta das glândulas
endócrinas. A partir daí, compreendeu-se que a
regulação da reprodução era compar tilhada por dois
sistemas distintos, com o hipotálamo servin do de
interface entre ambos. Atualmente, mensageiros quí
micos que não se encaixam em nenhum dos dois
sistemas, os fatores de crescimento, estão sendo
descobertos como importantes fatores no controle da
reprodução.
As células se comunicam entre si por meio de
mensagei ros químicos, como aminas, aminoácidos,
esteróides e poli peptídeos. Portanto, existem quatro
modos de comunicação intercelular:
Centros de controle do LH e do FSH pré-ovulatório.
Centros de controle da secreção tônica de LH e de FSH. Comunicação neural: os neurotransmissores são
libera dos das células nervosas nas junções
FIGURA 3-2. Desenho esquemático dos núcleos sinápticas e atuam entre elas através de estreitas
hipotalâmicos e hipófise. AH, adeno-hipófise; ARQ, núcleo fendas sinápticas.
arqueado; AHA, área hipotalâmica anterior; AHD, área Comunicação endócrina: os hormônios são
hipotalâmica dorsal; NMD, núcleo medial dorsal; EM,
transportados via corrente circulatória, típica da
eminência média; NH, neuro-hipófise; CM, corpo mamilar;
maioria dos hormônios.
PM, núcleo pré-mamilar; QO, quiasma óptico; NPV, núcleo
paraventricular; NPO, núcleo pré-óptico; AHP, área Comunicação parácrina: os produtos de
hipotalâmica posterior; PT, pars tuberalis; NSQ, núcleo determinadas células se difundem através do
supraquiasmático; NSO, núcleo supra-óptico; NVM, núcleo líquido extracelular, afe tando células vizinhas a
ventro-medial. uma certa distância. Exemplo: prostaglandinas.
Comunicação autócrina: as células secretam
mensageiros químicos que se ligam a receptores na mesma célula, os
mensageiros (Fig.3-4). Regulação
Hipófise anterior
da Secreção Hormonal
Plexo capilar O sistema nervoso desempenha
papel essencial na regu lação da
atividade gonadal por meio do
mecanismo de retroalimentação
Veia para o seio cavernoso
Sangue venoso retrógrado fluxo para o
endócrina das vias neurais e do
hipotálamo controle imunoendócrino.

superior Hipófise RETROALIMENTAÇÃO ENDÓCRINA


posterior Gônada. Um hormônio da
Vasos-porta hipofisários quais, por sua vez, secretam os glândula-alvo (por exemplo, o
trófico que causou a sua própria liberação (por
FIGURA 3-3. Complexo hipotálamo-hipófise-gônadas. Células
nervosas hipotalâmicas liberando neuro-hormônios nos exemplo, FSH). O controle por retroalimentação
vasos porta para transportar para a hipófise anterior via ocorre no nível do hipotálamo e da hipófi se (Fig. 3-3).
vasos hipotálamo-hipofisários. Partículas sólidas nas células Dependendo de suas concentrações na corrente cir
nervosas representam neuro-hormônios. O sangue é culatória, os hormônios esteróides podem exercer
transportado pelo sistema venoso retrógrado de volta para o uma retroali mentação estimulatória (positiva) ou
hipotálamo. inibitória (negativa).
estrógeno) pode influenciar a secreção do estímulo
36 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

LIGANTES
(hormônio, fator
de crescimento,
neurotrofina)
FATOR DE
CRESCIMENTO

AUTÓCRINO PARÁCRINO ENDÓCRINO

FIGURA 3-4. Modos de comunicação intercelular. Fatores de crescimento produzidos localmente agindo de modo
autócrino/parácrino intermedeiam a ação endócrina nas células-alvo.

Retroalimentação inibitória ou negativa. Esse sistema envolve inter-relações recíprocas entre duas
ou mais glândulas e órgãos-alvo. Por exemplo, a estimulação dos ovários pelo FSH eleva a secreção
de estrógenos, os quais, aumentando na corrente circulatória, conseqüentemente fazem com que a
secreção do FSH diminua. De modo semelhante, quando os hormônios hipofisários alcançam um
determinado nível, alguns núcleos hipotalâmicos respondem diminuindo a produ ção de seus
hormônios liberadores específicos, há um declínio na secreção do hormônio trófico hipofisário e,
finalmente, uma diminuição do nível funcional da glândula-alvo.
Retroalimentação positiva ou estimulatória. Nesse sistema, a elevação de determinado hormônio
provoca o aumento de um outro hormônio. Por exemplo, o aumento dos níveis de estrógeno durante a
fase pré-ovulatória acarre ta um pico do LH hipofisário. Esses dois eventos são preci samente
sincronizados, uma vez que o pico de LH é neces sário para a ruptura do folículo ovariano.
Hormônios hipotalâmicos. Tanto os hormônios hipofisá rios como os hormônios esteróides regulam
a síntese, o armaze namento e a liberação dos hormônios hipotalâmicos por meio de dois mecanismos
de retroalimentação: um deles denominado de alça longa e outro, de alça curta. O mecanismo de
retroali mentação de alça longa envolve a interação entre a gônada, a hipófise e o hipotálamo,
enquanto o de alça curta permite às gonadotrofinas hipofisárias influenciar a atividade secretória dos
hormônios liberadores sem a mediação das gônadas (ver Hipotálamo - fluxo sangüíneo retrógrado no
hipotálamo).
REFLEXO NEUROENDÓCRINO. Além dos mecanismos de retroalimentação anteriormente mencionados, o
sistema nervoso também pode controlar a liberação de hormônios por meio de vias nervosas, como,
por exemplo, a descida do leite pela ocitocina e a liberação de LH após a cópula, como será tratado
mais adiante.
CONTROLE IMUNOENDÓCRINO. Os sistemas endócrino e imune interagem extensivamente regulando-se
um ao outro. Diversos órgãos endócrinos estão envolvidos em alguns aspectos desse processo
regulatório: hipotálamo, hipófise, gônadas, adrenais, pineal, tireóide e timo. Muitos desses órgãos são
afetados pela função imune.
Receptores Hormonais
Cada hormônio tem um efeito seletivo em um ou mais órgãos-alvo. Tal efeito é atingido por meio de
dois mecanismos:
Cada órgão-alvo possui um método específico de se ligar a um determinado hormônio não encontrado
em outro tecido.
Os órgãos-alvo possuem determinadas vias metabólicas capazes de responder às vias
metabólico-hormonais, fato este que não é compartilhado por tecidos diferen tes do tecido-alvo.
O sistema de ligação específica é o mecanismo usual. Por exemplo, todos os tecidos-alvo que
respondem a hor mônios esteróides contêm um receptor protéico no inte rior da célula, o qual se liga
especificamente ao hormônio ativador. Dentro da célula-alvo, o hormônio esteróide é encontrado no
citoplasma, ligado a uma proteína relativa mente grande (peso molecular = 200.000 dáltons). Tal
ligação resulta na transformação ou ativação do complexo proteína-esteróide, permitindo que ele se
mova (translo cação) para o núcleo da célula. No sítio nuclear, o com plexo esteróide se liga a um
receptor específico, causando uma seqüência de respostas fisiológicas para aquela célula (Fig. 3-5).
As células-alvo da hipófise anterior possuem receptores de membrana celular que reconhecem e
seletivamente se ligam a hormônios protéicos, incluindo as gonadotrofinas (Fig. 3-6). Tal fenômeno de
ligação desencadeia a síntese e a secreção dos hormônios hipofisários por meio do sistema do AMP
cíclico-proteína quinase próprio da célula. Os níveis estrogênicos, por sua vez, influenciam os
receptores gonadotróficos (1).

Ensaios Hormonais
Diversas técnicas são utilizadas para estudos endocrino lógicos: ablação de glândulas, terapia de
reposição orgânica e isolamento de hormônios. Medidas quantitativas dos hor mônios são baseadas
em bioensaios, ensaios imunológicos e radioimunoensaios (RIEs).

VASO
SANGÜÍNEO
VASO
SANGÜÍNEO

Proteína
Hormônio
Adeninato
CITOPLASMA ciclase
Esteróide Receptor

CITOPLASMA
Difusão? NÚCLEO

CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES


DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO
37
Proteína
Esteróide quinase NÚCLEO
Esteróide Receptor

Enzima

Síntese de proteína
MEMBRANA CELULAR MEMBRANA CELULAR

FIGURA 3-5. Mecanismo esquemático da ação de hormônios


útero e placenta.
FIGURA 3-6. Mecanismo esquemático da ação de hormônios
esteróides. O esteróide passa através da membrana celular
protéicos. É demonstrada a seqüência de eventos celulares
para dentro do núcleo para se ligar ao seu receptor.
que ocorrem após a ligação de um hormônio protéico a um
receptor na membrana da célula-alvo.

Ensaios biológicos têm sido utilizados para medir


Hormônios Hipotalâmicos Liberadores/Inibidores
a atividade de todos os hormônios. Os hormônios são
admi nistrados ao animal para induzir respostas Os hormônios do hipotálamo que regulam a
biológicas men suráveis. O RIE, um dos maiores reprodução são o hormônio liberador das
avanços no campo da endocrinologia analítica, gonadotrofinas (GnRH ou LH-RH), a ACTH e o fator
permite medições rápidas de um grande número de inibidor da prolactina (PIF). O hipotálamo ainda é a
amostras contendo concentrações hor monais principal fonte de ocitocina e vaso pressina, que são
caracteristicamente baixas. O princípio do RIE está estocadas na neuro-hipófise (lobo posterior da
baseado na teoria de que na ausência do antígeno ou hipófise). O controle neuroendócrino dos hormônios
hormô nio na sua forma natural (H), este mesmo hipotalâmicos, das vias sensoriais e das áreas
hormônio marca do com um elemento radioativo (H*) integradoras está resumido na Tabela 3-1.
tem uma oportunida de máxima de reagir com os Em 1977, dois cientistas americanos, Schally e
sítios de ligação presentes no anticorpo (Ac). Guillemin, dividiram o prêmio Nobel por suas
pesquisas independentes na determinação da
HORMÔNIOS PRIMÁRIOS estrutura química dos hormônios hipotalâmicos que
controlam a função hipofisá ria. O GnRH é um
DA REPRODUÇÃO
decapeptídeo (dez aminoácidos) com peso molecular
de 1.183 dáltons. Ele é sintetizado e armaze nado no
Os hormônios primários regulam vários processos
hipotálamo basal médio. O GnRH fornece uma
repro dutivos, enquanto os secundários, ou hormônios
ligação humoral entre os sistemas endócrino e
metabóli cos, influenciam indiretamente a reprodução
nervoso. Em resposta à estimulação nervosa, pulsos
(estes últimos não serão discutidos neste capítulo).
de GnRH são libera dos no sistema
Os hormônios primá rios estão envolvidos em muitos
porta-hipotálamo-hipofisário promovendo a liberação
aspectos dos processos reprodutivos:
de LH e FSH da hipófise anterior.
espermatogênese, ovulação, comportamento sexual,
fertilização, implantação, manutenção da prenhez, Hormônios Adeno-hipofisários
parto, lactação e comportamento materno.
Os hormônios reprodutivos são derivados A hipófise anterior secreta três hormônios
primariamen te de quatro sistemas ou órgãos gonadotrófi cos: FSH, LH e prolactina (Tab. 3-2) (ver
maiores: várias áreas do hipotálamo, lobos anterior e tipos celulares em Hipófise). O LH e o FSH são
posterior da hipófise, gônadas (testículos e ovários, hormônios glicoprotéicos com peso molecular de
incluindo seus tecidos intersticiais e corpo lúteo), e o aproximadamente 32.000 dáltons. Gonadótrofos na
hipófise anterior secretam ambos os hor mônios. rentes chamadas alfa e beta. A subunidade ou cadeia
Cada hormônio consiste de duas subunidades dife alfa é
38 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

TABELA 3-1. Resumo da Origem e da Função dos Neuro-hormônios Que Regulam a Reprodução
qu es entram em
HORMÔNIOS ea Nú contato com receptores na
do cle pele e na genitália de
Hormônio inibidor
os espécies com ovulação
de prolactina (PIH)
su reflexa
Hormônio liberador
pr
de prolactina (PRH) Sensações tácteis da
a-
glândula mamária, útero
óp
Hormônio liberador de e cérvix
tic
gonadotrofina
os
(GnRH)
Retina via fibras retino
Eminência média
Hormônio liberador de hipotalâmicas
gonadotrofina Ár FUNÇÕES PRINCIPAIS Inibe
(GnRH) ea
a liberação de prolactina
hip
ot
Estimula a liberação de
alâ
prolactina
mi
Ocitocina ca
Estimula a liberação tônica
an
de FSH e LH
ter
ior
Melatonina Nú Estimula a onda
ORIGEM cle pré-ovulatória de FSH e
os LH
Hipotálamo
pr
é-
óp
tic Induz contrações
Nú os Pineal uterinas, descida do
cle Núcleo supraquiasmáticoVIAS NERVOSAS leite e facilita o
o Neurônios contendo transporte de gametas
ve dopamina no núcleo
ntr Nú arqueado Inibe a atividade
o- cle gonadotrófica em
m os reprodutores de dias
edi pa longos, p. ex., hamster
al ra Retroalimentação negativa Estimula o início da estação
Nú ve das gônadas de monta em reprodutores
cle ntr de dias curtos, p. ex.,
o icu Células hipotalâmicas ovinos
ar lar sensíveis ao estrógeno
folícu lo-estimulante estimula o crescimento e a
maturação do folí culo ovariano ou folículo de De
Graaf. O FSH por si só não causa secreção de
comum a ambos, FSH e LH, entre as espécies,
estrógenos no ovário; ao contrário, ele necessita da
enquanto a subunidade beta é diferente e confere
presença do LH para estimular a produção estro
especificidade a cada gonadotrofina. As subunidades
gênica. No macho, o FSH atua nas células germinais,
alfa e beta de qualquer um desses hormônios não
nos túbulos seminíferos dos testículos e é
possuem atividade biológica de modo separado. A
responsável pela esper matogênese até o estágio de
prolactina não é uma glicoproteína.
espermatócitos secundários; num passo mais adiante,
Como dito anteriormente, tanto o GnRH como os os andrógenos dos testículos atuam nas fases finais
este róides gonadais regulam a secreção das
da espermatogênese.
gonadotrofinas. Além disso, peptídeos gonadais
regulam a secreção de FSH. Tais peptídeos podem HORMÔNIO LUTEINIZANTE. O hormônio luteinizante é
estimular (ativinas) ou inibir (inibi nas, folistatina) a uma glicoproteína composta de uma subunidade alfa
secreção de FSH, como será discutido mais adiante e uma beta com peso molecular de 30.000 dáltons e
neste capítulo. meia-vida bio lógica de 30 minutos. Níveis tônicos ou
basais de LH atuam em conjunto com o FSH no
HORMÔNIO FOLÍCULO-ESTIMULANTE. O hormônio
sentido de induzir a secreção de estrógenos do sistema porta-hipotálamo-hipofisário até a
folículo ovariano desenvolvido. O pico pré ovulatório adeno-hipófise.
do LH é responsável pela ruptura da parede foli A prolactina inicia e mantém a lactação. É
cular e ovulação. O LH estimula as células intersticiais reconhecida como um hormônio gonadotrófico por
tanto no ovário quanto nos testículos. No macho, as causa das suas pro priedades luteotróficas
células intersticiais (células de Leydig) produzem (manutenção do corpo lúteo) em roedores. Entretanto,
andrógenos depois do estímulo do LH. em animais domesticados, o LH é o principal
hormônio luteotrófico, sendo que a prolactina
PROLACTINA. A prolactina é um hormônio
desempenha um papel menos importante no
polipeptídi co secretado pela adeno-hipófise. Como
complexo luteotrófico. A prolactina pode ainda estar
dito anteriormente, ela não é uma glicoproteína como
envolvida na mediação dos efeitos estacionais e
as outras gonadotrofinas. A prolactina ovina é uma
lactacionais na reprodu ção em animais domésticos.
proteína com 198 aminoácidos e peso molecular de
24.000 dáltons. A molécula da prolactina tem uma
estrutura similar ao hormônio do crescimento, em
algumas espécies estes hormônios têm propriedades TABELA 3-2. Resumo dos Hormônios
biológi cas semelhantes. Reprodutivos Secretados pela Hipófise
Um hormônio inibitório denominado fator inibidor CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 39
da pro lactina (PIF) regula a secreção da prolactina. O
PIF é, provavel mente, a catecolamina, dopamina, ocitocina é o reflexo de liberação do leite. Na fêmea
uma amina de baixo peso molecular sintetizada a lactante, estímulos tácteis e visuais associados à
partir da L-tirosina. Ela é secretada dos terminais sucção ou ordenha induzem a liberação de ocitocina na
nervosos, predominantemente no núcleo arqueado corrente circulatória. A
localizado na eminência média, e transportada pelo
das células mioepiteliais etapa envolve a enzima
HORMÔNIOS
(células musculares lisas) formadora de melatonina,
que circundam os alvéolos hidroxiindol
Hormônio na glândula mamária, O-metil-transferase
estimulante do folículo (FSH) resultando na descida do (HIOMT) (Fig. 3-8).
leite (Fig. 3-7). A síntese e a secreção de
Proteína, A ocitocina ovariana está melatonina encontram-se
Hormônio Mamótrofos no lobo anterior envolvida na função luteíni signi ficativamente
luteinizante ca. Ela age no endométrio elevadas durante os
(LH) induzindo a liberação de períodos de dias curtos.
Proteína,
Armazenada no lobo posterior prosta glandina F2α(PGF 2α), Longos períodos diários de
da hipófise que possui uma ação secreção elevada de
luteolítica (regressão do melatonina provavelmente
FUNÇÕES são responsáveis pela
corpo lúteo).
PRINCIPAIS indução dos ciclos ova
Estimula o cresci mento
MELATONINA. A melatonina rianos em ovelhas e pela
Prolactina (PRL) Ocitocina folicular na fêmea e a (N-acetil-5-metoxitripta inibição da ciclicidade em
espermatogêne se no macho mina) é sintetizada pela éguas.
glândula pineal. As células Diferenças interespecíficas
Estimula a ovula ção e a luteinido parênquima pineal
zação dos folí culos ovarianos são evidentes no efeito da
ESTRUTURA E FONTE captam o aminoácido administração exógena de
(corpo lúteo)
triptofano da cir culação e o melatonina nas gônadas e
Glicoproteína, Gonadótrofos na fêmea e a
secreção de tes tosterona no
convertem em serotonina no intervalo de tratamento.
no lobo anterior (2). Duas etapas do
macho A melatonina exógena
metabolismo da serotonina regula a ati vidade gonadal
Promove a lacta ção e o com estão sob controle neural.
ovina; a administração
Glicoproteína, Gonadótrofos portamento A pri meira é a conversão contínua de melato nina
no lobo anterior materno da serotonina em induz a atividade
Estimula as con trações do N-acetil-serotonina, que reprodutiva em ovelhas
útero prenhe e promove a eje depois é convertida em acíclicas em
ção do leite melatonina. A segunda
ocitocina causa contração
ocitocina (o hormônio da descida do leite) e
Hormônios Neuro-hipofisários
vasopressina (o hormônio antidiurético ou ADH) são,
Os hormônios da hipófise posterior na verdade, produzi dos no hipotálamo. Esses
(neuro-hipófise) diferem dos outros hormônios hormônios são transferidos do hipotálamo para a
hipofisários pelo fato de que eles não se originam da hipófise posterior não através do sistema vascular
hipófise, mas são apenas armazena dos ali até mas ao longo dos axônios do sistema nervoso.
quando forem necessários. Os dois hormônios, OCITOCINA. A ocitocina é sintetizada no núcleo
supra óptico do hipotálamo e transportada em podem ser de quatro tipos: andrógenos, estrógenos,
pequenas vesículas envoltas por uma membrana progestágenos e relaxi na. Os três primeiros tipos são
através dos axônios do nervo hipotálamo-hipofisário. esteróides, enquanto o quarto é uma proteína. Os
Elas são armazenadas nos terminais nervosos ovários produzem dois hormônios esteróides
próximos dos leitos capilares na neuro-hipófise até a (estradiol e progesterona) e um protéico (relaxina); o
sua liberação para a corrente circulatória (Fig. 3-3). testículo secreta um único hormônio (testosterona)
Como afirmado anteriormente, a ocitocina é também (Tab. 3-3).
produzida pelo corpo lúteo. Portanto, a ocitocina tem Os hormônios esteróides secretados pelos
dois sítios de ori gem: um ovariano e outro ovários, testícu los, placenta e córtex adrenal têm um
hipotalâmico. núcleo básico em comum denominado ciclo
A ocitocina também desempenha um importante pentanoperidrofenantreno. Este núcleo con siste de
papel no processo reprodutivo. Durante a fase três anéis fenantrênicos com seis átomos de carbono
folicular do ciclo estral e durante os últimos estágios completamente hidrogenados (peridro), designados A,
da gestação, a ocitocina estimula as contrações B e C, e um anel de cinco átomos de carbono
uterinas, que facilitam o transporte do esperma para o (ciclopentano), designado com a letra D (Fig. 3-9). Um
oviduto durante o cio. esteróide com dezoito átomos de carbono possui
A dilatação da cérvix no momento do parto, atividade estrogênica; com dezenove átomos de
causada pela passagem do feto, estimula a liberação carbono, atividade androgênica, e com 21, possui
reflexa de ocitocina (reflexo de Ferguson). Porém, a atividade pro gestacional. O colesterol, um esteróide
ação mais bem conhecida da com 27 átomos de car bono, converte-se em
meados do verão. pregnenolona (vinte átomos de carbono) quando sua
cadeia lateral é clivada. A pregnenolona é subse
Hormônios Esteróides Gonadais qüentemente convertida em progesterona, que, por
sua vez, converte-se em andrógenos e estrógenos
Os hormônios esteróides gonadais são
(Fig. 3-10).
produzidos primaria mente nos ovários e nos
As vias biossintéticas em todos os órgãos
testículos. Órgãos não-gonadais, tais como as
endócrinos que produzem hormônios esteróides são
adrenais e a placenta, também secretam uma certa
similares, os órgãos
quantidade de hormônios esteróides. Tais hormônios
40 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Núcleos supra-ópticos –
núcleos paraventriculares do
hipotálamo

Via nervosa

Neuro-hipófise

Liberação de ocitocina
no sangue

Artéria

Estímulo da
teta

FIGURA 3-7. A descida do leite pode ser considerada um


reflexo neuroendócrino. O estímulo da teta envia um sinal
nervoso para o hipotálamo liberar ocitocina da neuro
hipófise, que estimula as células mioepiteliais a contrair os
alvéolos, resultando na secreção do leite.
Alvéolos
Células
mioepiteliais
(musculatura
Leite
lisa)

Vaso
sangüíneo

Triptofano Luz Escuridão

Serotonina

N-acetil
transferase
diferem apenas quanto aos sistemas enzimáticos que con têm. Os testículos primariamente sintetizam
andrógenos, enquanto os ovários sintetizam dois tipos principais de este róides: os estrógenos, com
dezoito átomos de carbono, e os progestágenos, com 21 átomos de carbono.
No plasma sangüíneo, a maior parte dos hormônios esteróides está ligada à albumina, uma proteína
plasmática com baixa afinidade e alta capacidade para esteróides. Uma outra parte dos hormônios
esteróides encontra-se ligada a uma ou mais proteínas específicas de alta afinidade.
A meia-vida dos esteróides naturais no organismo animal é muito curta. Portanto, diversos esteróides
com estruturas quí micas modificadas têm sido sintetizados para uso clínico.
Células do parênquima pineal

Vaso
N-acetil-serotonina

Hidroxiindol-0
-metil
transferase

Melatonina

Melatonina
sangüíneo

FIGURA 3-8. Formação de melatonina e ritmo diurno na pineal e na melatonina no sangue.


FIGURA 3-9. Nomenclatura do núcleo esteróide de acordo com a Unidade Internacional de Química Pura e
Aplicada (IUPAC). As letras designam anéis e os números designam carbonos.
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 41

TABELA 3-3. Resumo dos Hormônios Secretados pelos Órgãos Reprodutores


Estrógeno
HORMÔNIO
corpo lúteo
Atua sinergicamente com estrógenos
na promoção do comportamento de cio
Progesterona e prepara o trato reprodutivo para a
Esteróide, carbono 19. Secretado pelas implantação
células de Leydig nos testículos
Desenvolve e mantém as glândulas
sexuais acessórias; estimula as
Testosterona características sexuais secundárias, o
Hormônio polipeptídico com comportamento sexual e a
subunidades a e b. Secretado pelo espermatogênese; possui efeitos
corpo lúteo anabólicos
Relaxina Ácido graxo não-saturado carbono 20. Dilata a cérvix; provoca contrações
Secretado por quase todos os tecidos uterinas
Prostaglandina F do organismo

Provoca contrações uterinas ajudando
o transporte espermático no trato
Proteína. Encontrada no fluido folicular
reprodutivo feminino e no parto
da fêmea e no fluido da rete testis do
Provoca regressão do corpo lúteo
macho
Ativinas
Proteína. Encontrada nas células de (luteolítico) Estimula a secreção de
Sertoli no macho e nas células da
Inibinas granulosa nas fêmeas FSH

Proteína. Encontrada no fluido folicular


Folistatina ovariano na fêmea Inibe a liberação de FSH a um nível
ESTRUTURA E FONTE FUNÇÕES PRINCIPAIS que mantém o número
Esteróide, carbono 18. Secretado pela espécie/específico de ovulações
Promove o comportamento sexual;
teca interna do folículo ovariano
estimula o desenvolvimento das Modula a secreção de FSH
características sexuais secundárias;
Esteróide, carbono 21. Secretado pelo possui efeitos anabólicos
zeranol (Ralgro) é um composto com ativida de
estrogênica produzido por um fungo. Na forma de
implante auricular, essa droga promove o crescimento
dos animais em engorda. Esses compostos atuam
A atividade secretora de hormônios esteróides como estróge nos, mas não possuem o núcleo
pelas gônadas está sob controle endócrino da característico com dezoito átomos de carbono.
hipófise anterior. A hipofisectomia, ou remoção da Os estrógenos são carregados na corrente
hipófise antes ou depois da puberdade, causa atrofia circulatória por meio de proteínas ligadoras. De todos
das gônadas, enquan to a injeção de preparados os esteróides, os estrógenos têm a mais ampla gama
hipofisários ou o implante de tecido da hipófise de funções fisiológicas. Algumas dessas funções são:
restauram sua atividade secretora. Atuam no SNC induzindo comportamento de cio
na fêmea; entretanto, pequenas quantidades de
ESTRÓGENOS. O estradiol é o estrógeno primário progestero na, juntamente com o estrógeno, são
(Fig. 3-10), sendo que a estrona e o estriol necessárias para a indução do cio em algumas
representam outros estrógenos metabolicamente espécies, tais como a ovelha e a vaca.
ativos (Tab. 3-3). Diversas substâncias com atividade Atuam no útero aumentando tanto a amplitude
estrogênica são encontradas tanto no reino animal quanto a freqüência das contrações,
como no vegetal. da ocitocina e de
O estradiol é o estrógeno biologicamente ativo potencializando os efeitos
produzi do pelo ovário, com quantidades menores de PGF
estrona. Exceto por uma possível secreção de 2α.
pequena quantidade de estriol na fase luteínica do Desenvolvimento físico das características
ciclo, a maior parte do estriol e os estró genos sexuais secundárias femininas.
urinários correlatos são produtos do metabolismo do Estimulam o crescimento dos ductos e
estradiol e da estrona. Todos os estrógenos ovarianos desenvolvem as glândulas mamárias.
são produzidos a partir de precursores androgênicos. Exercem efeitos de retroalimentação tanto
Estrógenos vegetais (isoflavonas) são negativos quanto positivos no controle da
encontrados pri mariamente em legumes, tais como a liberação de LH e FSH através do hipotálamo. O
alfafa e o trevo subter râneo. Dois desses compostos, efeito negativo se dá no centro tônico do
a genisteína e o cumestrol, causam infertilidade em hipotálamo e o efeito positivo, no centro pré
fêmeas e, menos freqüentemente, em machos. O ovulatório.
42 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Em ruminantes, os estrógenos também possuem um efei to anabólico protéico, aumentando o ganho


de peso e o cres cimento. O mecanismo provável para o aumento do cresci mento pode estar
relacionado à habilidade dos estrógenos em estimular a hipófise para a liberação de maiores quanti
dades de hormônio do crescimento.
O dietilestilbestrol (DES), um estrógeno sintético não esteróide, foi primeiramente utilizado como
promotor do crescimento em bovinos e ovinos. O DES se liga ao receptor estrogênico e age com a
mesma potência do 17 -estradiol. Por causa de seus efeitos carcinogênicos, o DES foi substituí do por
outros implantes estrogênicos.
Os estrógenos ainda têm sido utilizados para provocar o aborto em vacas e ovelhas por causa de suas
propriedades luteo líticas (regressão do CL), enquanto na porca, os estrógenos pos suem uma ação
luteotrófica (auxiliam na manutenção do CL).
PROGESTÁGENOS. A progesterona (Fig. 3-10) é o proges tágeno natural de maior prevalência, sendo
secretada pelas células luteínicas do corpo lúteo (Tab. 3-3), pela placenta e pelas glândulas adrenais.
A progesterona, assim como os andrógenos e os estrógenos, é transportada na corrente cir culatória
por uma proteína de ligação. Sua secreção é esti mulada primariamente pelo LH.

COLESTEROL

PREGNENOLONA

PROGESTERONA

TESTOSTERONA

ESTRADIOL

FIGURA 3-10. Biossíntese dos hormônios esteróides a partir do colesterol. Este esquema reflete uma visão
simplista de um processo complicado e altamente organizado que requer múltiplos sistemas enzimáticos.
A progesterona desempenha as seguintes funções:
Prepara o endométrio para a implantação e a manutenção da prenhez, aumentando a atividade
secretora das glândulas do endométrio e inibindo a motilidade do miométrio.
Atua sinergisticamente com os estrógenos na indução do comportamento de cio.
Auxilia no desenvolvimento do tecido secretor (alvéo los) da glândula mamária.
Provoca a inibição do cio e do pico pré-ovulatório do LH quando em níveis elevados. Portanto, a
progestero na desempenha papel fundamental na regulação hormo nal do ciclo estral.
Inibe a motilidade uterina.
Alguns progestágenos sintéticos estão disponíveis para sincronização do ciclo estral de ruminantes.
Os progestágenos atuam inibindo a secreção hipofisária de LH. Tais hormônios podem ser
administrados por via oral ou inseridos no interior da vagina por meio de um dispositivo intravaginal
pelo perío do correspondente a um ciclo estral. Ao encerrar-se esse trata mento, os animais mostrarão
cio e ovularão em 48 a 72 horas.
ANDRÓGENOS. Os andrógenos são esteróides com deze nove átomos de carbono (C19), uma hidroxila
ou um oxigê nio nas posições 3 e 17 e uma dupla ligação na posição 4. Os andrógenos são chamados
17-cetoesteróides quando um oxi gênio é encontrado na posição 17 (Fig. 3-10). A testostero na é um
andrógeno produzido pelas células intersticiais (células de Leydig) dos testículos (Tab. 3-3), sendo
uma pequena quantidade produzida pelo córtex adrenal.
A testosterona (Fig. 3-11) é transportada na corrente circulatória por uma α-globulina designada
globulina liga dora de esteróides. Cerca de 98% da testosterona circulante encontra-se na forma
ligada; permanecendo o restante na forma livre, capaz de adentrar a célula-alvo, onde uma enzi ma
citoplasmática converte a testosterona em diidrotestos terona (DHT), que atua no respectivo receptor
nuclear.

TESTOSTERONA

DIIDROTESTOSTERONA
(biologicamente ativa)

FIGURA 3-11. A testosterona não é a forma biologicamente ativa, mas é convertida em diidrotestosterona, que se
liga ao receptor nuclear.

O cavalo é o único animal que produz altos níveis de testosterona também no epidídimo e nos túbulos
seminífe ros. Criadores de cavalos sabem, há séculos, que se parte do epidídimo for deixada ligada ao
ducto deferente durante a castração, o animal continuará parecendo e se comportando como um
garanhão. Isso acontece porque os andrógenos são produzidos pela porção não-retirada do epidídimo.
O ato da não-retirada total do epidídimo é denominado “cortar o orgulho de um cavalo”. O alto nível de
andrógeno prolonga a vida do esperma epididimário no garanhão ao invés de atuar nas características
sexuais secundárias.
As funções da testosterona são:
Estimular os estágios finais da espermatogênese e pro longar a vida útil do esperma epididimário.
Promover crescimento, desenvolvimento e atividade secretora das glândulas sexuais acessórias do
macho.
Manutenção das características sexuais secundárias e do comportamento sexual (libido) do macho.
Os andrógenos sintéticos, propionato de testosterona e androstenediona, são freqüentemente
utilizados para a pre paração de rufiões para a detecção do cio. As vacas e as ove lhas
androgenizadas possuem a vantagem de não transmitir doenças venéreas.

Relaxina
A relaxina é um hormônio polipeptídico que consiste de uma subunidade alfa e outra beta, conectadas
por duas pontes dissulfídicas e possui peso molecular de 5.700 dáltons. Inibinas e insulina são
estruturalmente similares, mas as suas ações bio lógicas são diferentes. A relaxina é secretada
primariamente pelo corpo lúteo durante a gestação (Tab. 3-3). Em algumas espécies, a placenta e o
útero também secretam relaxina. A principal ação biológica da relaxina é a dilatação da cérvix e da
vagina antes do parto. Ela também inibe as contrações ute rinas e causa crescimento das glândulas
mamárias quando administrada em conjunto com o estradiol. No porquinho-da índia, a relaxina
provoca a separação da sínfise púbica cerca de 6 horas após sua injeção. Nessa espécie, a
separação da sínfise púbica normalmente ocorre durante o parto.

Inibinas e Ativinas
As inibinas e as ativinas foram isoladas de fluidos gona dais por causa de seus efeitos na produção de
FSH (Tab. 3- 3). Elas são reguladores parácrinos, pois modulam o sinal endócrino do LH.
INIBINAS. As gônadas são a principal fonte de inibina e proteínas correlatas, que contribuem para a
regulação endó crina do sistema reprodutivo. A células de Sertoli, no macho, e da granulosa, na
fêmea, são produtoras de inibinas. As inibinas não são esteróides, mas proteínas compreenden do
duas subunidades e interligadas por pontes dissulfídi cas. No macho, as inibinas são secretadas
pelos vasos linfá ticos e não venosos, como nas fêmeas (3).
As inibinas desempenham um papel importante na regulação hormonal da foliculogênese ovariana
durante o
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 43

ciclo estral. Elas atuam como sinalizadores químicos para a hipófise sobre o número de folículos em
crescimento no ová rio. A inibina reduz a secreção de FSH até um certo nível, o que mantém o número
de ovulações espécie-específico tanto nas espécies mono quanto poliovulatórias (4). Pela inibição da
liberação do FSH sem alteração da liberação do LH, as inibinas podem ser parcialmente responsáveis
pela liberação diferenciada de LH e FSH pela hipófise.
Além da regulação do FSH hipofisário, proteínas relacio nadas à inibina regulam as funções da célula
de Leydig (5).
ATIVINAS. O fluido folicular contém uma fração que esti mula ao invés de inibir a secreção de FSH (6).
As proteínas responsáveis por essa atividade são caracterizadas como ativi nas (Fig. 3-12). Ativinas
são potentes dímeros liberadores de FSH (dímeros de subunidades da inibina) e estão presentes nos
fluidos gonadais, como, por exemplo, no fluido folicular e no fluido da rete testis. Esses hormônios
heterodiméricos são compostos de subunidades e uma das duas subunidades ( ou ). A ativina é
um membro completamente funcio nal dos fatores de crescimento (6).
FOLISTATINA. A folistatina é uma outra proteína isolada do fluido folicular. Ela não somente inibe a
secreção de FSH similarmente à inibina, mas também liga-se à ativina, neu tralizando sua atividade
biológica. Portanto, constitui-se num agente modulatório da secreção de FSH.

Hormônios Placentários
A placenta secreta diversos hormônios idênticos ou com atividades biológicas similares aos hormônios
reprodu tivos dos mamíferos. São eles: gonadotrofina coriônica eqüi na (eCG), gonadotrofina coriônica
humana (hCG), lacto gêneo placentário (PL) e proteína B (Tab. 3-4).
GONADOTROFINA CORIÔNICA EQÜINA. O hormônio eCG (originalmente chamado PMSG) foi descoberto
quando se verificou que o sangue de éguas prenhes produzia maturida de sexual quando injetado em
ratos imaturos. A eCG é uma glicoproteína com subunidades e similares ao LH e ao FSH; porém,
com um conteúdo de carboidrato mais elevado (especialmente o ácido siálico). O alto conteúdo de
ácido siá lico parece contribuir para a longa meia-vida de diversos dias da eCG. Portanto, uma única
injeção de eCG possui efeitos biológicos na glândula-alvo por mais de uma semana.
O útero eqüino secreta essa gonadotrofina placentária, sendo os cálices endometriais a fonte
específica da eCG. Tais cálices, que são formados ao redor de 40 dias, permanecem até 85 dias de
gestação. A eCG possui atividade biológica seme lhante tanto ao FSH quanto ao LH, porém,
predominante mente ao FSH. A eCG circula na corrente sangüínea de éguas prenhes e não é
excretada na urina. A secreção da eCG esti mula o desenvolvimento de folículos ovarianos (Tab. 3-4).
Alguns folículos ovulam, mas a maioria transforma-se em folí culos luteinizados devido à ação da eCG
semelhante ao LH. Tais corpos lúteos acessórios produzem progesterona, o que mantém a prenhez na
égua. A eCG foi uma das primeiras gonadotrofinas comercialmente disponíveis usadas para indu ção
da superovulação em animais domésticos.
44 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Inibina Ativina

Gônadas Placenta
Hipófise
inibinas e das ativinas. Raven Press, 1994;34).
(Adaptado de Vale W, Estrógenos Andrógenos
Bilezikjian LM, River C. hCG
Reproductive and other roles
of inhibins and activins. In: Progesterona Ativina
Knobil E, Neill JD, eds.
FIGURA 3-12. Resumo das Inibina
Reproductive Physiology,
ações fisiológicas das FSH
Vol. 1, 2nd Ed. New York:
(vacas de baixa pro dução leiteira).
PROTEÍNA B. O concepto bovino produz uma série
de sinais durante o início da prenhez. Atualmente,
somente uma proteína oriunda do tecido placentário
foi parcialmen te purificada, a proteína B específica da
prenhez bovina (bPSPB) (7). A ação fisiológica da
proteína B parece estar
envolvida na prevenção da luteólise no início da
prenhez da vaca ou da ovelha (Tab. 3-4). Esse
GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA. A glicoproteí hormônio placentário tem o potencial de ser o
na hCG consiste de uma subunidade e outra com primeiro teste hormonal de prenhez confiável para
peso molecular de 40.000 dáltons. A subunidade ruminantes.
possui 92 ami noácidos e duas cadeias de
carboidrato. A subunidade do hCG é similar à Prostaglandinas
subunidade do LH em humanos, suínos, ovinos e
bovinos. A subunidade possui 145 aminoácidos e As prostaglandinas, primeiramente isoladas de
cinco cadeias de carboidrato. O hCG é primariamente fluidos das glândulas sexuais acessórias, receberam
lutei nizante e luteotrófico, possuindo baixa atividade essa nomencla tura por causa de sua associação
de FSH. As células do sinciciotrofoblasto na placenta com a glândula prostática, sendo que quase todos os
dos primatas são responsáveis pela síntese do hCG, tecidos orgânicos podem secretá las. Todas as
que pode ser encontrado tanto no sangue como na prostaglandinas são ácidos graxos hidroxilados
urina (Tab. 3-4). Sua presença na urina no início da insaturados com vinte átomos de carbono e um anel
gestação constitui a base de vários testes ciclo/pentano. O ácido araquidônico, um ácido graxo
laboratoriais para a gravidez humana. Ela pode ser essen cial, é o precursor da maioria das
detectada na urina por meio de imunoensaios prostaglandinas mais inti mamente associadas com a
sensíveis a partir de 8 dias após a concepção. PGF e a
reprodução, principalmente a 2α
LACTOGÊNIO PLACENTÁRIO. O lactogênio placentário prostaglandina E (PGE
é uma proteína com propriedades químicas similares 2 2) (Fig. 3-13).
à prolac tina e ao hormônio do crescimento. Seu peso A maior parte das prostaglandinas atua
molecular é de 22.000 a 23.000 dáltons em ovinos localmente no seu sítio de produção numa interação
com 192 aminoácidos. O lactogênio placentário é célula a célula e, por tanto, não se encaixa
isolado do tecido placentário, porém, não pode ser perfeitamente na definição clássica de um hormônio.
detectado no soro do animal prenhe antes do último Ao contrário de outros agentes humorais, as
trimestre da gestação (Tab. 3-4). O lacto gênio prostaglandinas não estão localizadas em um único
placentário é mais importante por suas propriedades tecido em particular. Elas são transportadas na
de hormônio do crescimento do que por suas corrente circulató ria para atuar num tecido-alvo
propriedades de prolactina. Ele é importante na distante do sítio de produção. Algumas formas nunca
regulação da passagem de nutrientes maternos para aparecem na corrente circulatória, enquanto outras
o feto e, possivelmente, no cresci mento fetal. O e pelos
lactogênio placentário pode ainda desempe nhar são degradadas após circularem pelo fígado
funções na produção do leite, uma vez que seus pulmões. A PGF
2 é o agente luteolítico natural
níveis são mais elevados em vacas leiteiras (vacas de
associado ao final da fase luteínica (corpo lúteo) do
alta produ ção leiteira) do que em vacas de corte
ciclo estral, permitindo, assim, o início de um novo
ciclo quando da ausência de fertilização. Ela é da musculatura lisa dos tratos reprodutivo e
particularmente potente na interrupção da prenhez gastrintestinal, a ereção, a ejaculação, o transporte
em sua fase inicial. espermático, a ovulação, a formação do corpo lúteo,
As prostaglandinas podem ser consideradas o parto e a ejeção do leite. As prostaglandinas estão
hormônios que regulam diversos fenômenos ainda envolvidas na ovulação
fisiológicos e farmacológicos, tais como a contração
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 45

TABELA 3-4. Resumo dos Hormônios Secretados pela Placenta

FLUIDOS ORGÂNICOS
B da gestação Ovinos, Proteína, Tecido
HORMÔNIOS placentário FUNÇÕES PRINCIPAIS
bovinos
Gonadotrofina Atividade LH, mantém
coriônica humana Proteína do concepto o corpo lúteo da
(somente gestação em
ESPÉCIE EM QUE
primatas) (hCG) primatas
Ovinos, bovinos HORMÔNIOS ESTÃO
Gonadotrofina Humanos, Atividade FSH,
ESTRUTURA E PRESENTES
coriônica eqüina estimula a formação
LOCAL
(eCG/PMSG) Sangue, urina de corpos lúteos
macacos Glicoproteína, acessórios na égua
Estrógenos Células
sinciotrofoblásticas Sangue
Progesterona Eqüinos Manutenção da
Glicoproteína, gestação
Lactogênio Cálices Sangue
Ovinos, endometriais de Regula o transporte de
origem fetal Sangue nutrientes da mãe ao
bovinos Esteróide, feto, embora não
placentário Proteína Unidade Sangue comple
Ovinos, fetoplacentária tamente elucidado
Esteróide, Reconhecimento
bovinos Unidade materno da gestação
fetoplacentária Sangue
referências em diversos capítulos deste livro
relacionadas a uma plêiade de aplicações hormonais,
(8). Por exemplo, na ovelha e na vaca, a ovulação é quer seja em produção animal ou em medicina
bloqueada pela administração de indometacina, uma veterinária.
inibidora da síntese de prostaglandinas (9). Uma vez
que a liberação de LH não é afetada nesses animais, REGULAÇÃO HORMONAL DA REPRODUÇÃO
envolve a PGF
a ação ao nível do folículo ovariano 2, O hipotálamo funciona como uma interface entre
a PGE
2ou ambas. o sis tema nervoso e o sistema endócrino,
Uma elevação nos níveis de estrógenos, os quais desempenhando um papel crucial na regulação
promo vem crescimento do miométrio, estimula a hormonal da reprodução. Edqvist apresentou uma
ração de PGF . Em fêmeas prenhes, revisão do controle endógeno dos processos
síntese e a libe 2 reprodutivos nos animais domésticos (10). Como
o embrião em desen
volvimento envia um sinal ao mencio nado anteriormente, os hormônios gonadais
inibem a libe ração de LH e FSH em ambos os sexos
útero (reconhecimento materno da prenhez),
(retroalimentação negativa), enquanto aumentam a
PGF
prevenindo os efeitos luteolíticos da 2 (ver liberação de LH e FSH somente na fêmea
Capítulo 10). (retroalimentação positiva).
A capacidade da PGF Mecanismos Endócrinos
2 em induzir a luteólise foi Os mecanismos endócrinos a serem discutidos
explorada para a manipulação do ciclo estral e
aqui incluirão puberdade, ciclo estral, gestação e
também para a indução do parto.
parto, função testicular, células de Sertoli, ativinas e
inibinas.
UTILIZAÇÃO CLÍNICA DE HORMÔNIOS
PUBERDADE. Por definição, um macho ou uma
Quase todos os hormônios discutidos fêmea alcança a puberdade quando se mostra capaz
anteriormente são utilizados na melhoria da eficiência de liberar seus gametas e exibir comportamento
reprodutiva em animais domésticos. O leitor encontra sexual. O início da puber dade é regulado pela
maturação do eixo hipotalâmico adeno-hipofisário ao Vias nervosas tam bém estão associadas com o
invés da inabilidade da hipófise em produzir momento da ovulação (Fig. 3-14).
gonadotrofinas ou pela insensibilidade ovariana aos Liberação tônica de LH e FSH. Os níveis tônicos
seus efeitos. É sabido de longa data que uma novilha, de LH e FSH são controlados pela retroalimentação
marrã ou cordeira pré-púbere normalmente ovula negativa das gônadas. O nível tônico de LH não é
após administra ção exógena de gonadotrofinas. estacionário, mas mostra oscilações
aproximadamente a cada hora. Os níveis séricos
tônicos de LH são elevados após a gonadotectomia

Neurotransmissores

Hipotálamo

tanto em machos como em fêmeas. Os níveis


aumentados de LH e FSH após a gonadotectomia
são devidos à falta de uma retroalimentação negativa
dos esteróides gonadais sobre o centro de controle
do LH tônico no hipotálamo (Fig. 3-15).
As ondas de LH e FSH também induzem os
estágios finais da maturação do oócito, pouco antes
da ovulação, à metáfase II.
FIGURA 3-13. Estrutura química da PGF e da PGE Hipotálamo
2 2.
46 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

A fêmea pré-púbere responde a secreções


pulsáteis de gonadotrofinas secretando estrógenos
gradualmente. Em ovelhas e novilhas, o aumento da
freqüência dos picos de LH é seguido por uma
elevação transitória no pico pré-ovu latório de LH. Tal
fato está associado ao comportamento de cio durante
o período puberal.
Hipófise anterior
Machos pré-púberes, em resposta à estimulação
gonado trófica, secretam testosterona
progressivamente. Cada pulso de LH é seguido por
um aumento transitório na secreção de testosterona a
intervalos de uma hora. À medida que a puberdade
progride, o aumento da testosterona no sangue
provoca um decréscimo na secreção de
gonadotrofinas pelo mecanismo de retroalimentação
negativa.
CICLO ESTRAL. Durante o ciclo estral, o LH e o FSH
Inibina
são liberados de modo tônico ou como uma onda.

Progesterona Corpo lúteo


Estradiol Folículo
Tronco
o
Inibina
Estradiol Ovário
Hipófise

m
anteriorHipófise
i
ã
l
ç

a posterior
t a

n o

r
e
t

R
LH e FSH e as manifestações psíquicas de cio
diminuem. O ani mal ovula 24 a 30 horas após a onda
máxima inicial de gonadotrofinas.
VIAS NERVOSAS. Existem várias vias nervosas entre
o sistema reprodutivo e o eixo
Estrógeno
hipotalâmico-hipofisário. A
progesterona
Figura 3-14. Relação endócrina-neuroendócrina entre
Andrógeno hipotálamo, hipófise e gônadas (ovário-testículo). Material
FIGURA 3-15. Inter-relações hipotálamo, hipófise anterior eneurossecretor hipotalâmico (GnRH) é transportado pelos
ovário. As setas indicam efeitos estimulatórios e setas capilares-porta para as células da hipófise anterior. O FSH
tracejadas indicam efeitos inibidores. e o LH estimulam as gônadas. Os estrógenos e os
andrógenos secretados pelas gônadas exercem uma
Liberação Pré-ovulatória de LH e FSH. Umretroalimentação.
segundo tipo de liberação de LH e FSH, denominado cobertura pode modular a onda pré-ovulatória de LH
onda pré-ovulatória de LH e FSH, é evidente na mais em função do prolongamento da duração da
fêmea antes da ovulação. O aumento na liberação de LH do que do aumento das
concentração de estrógenos circulantes tem efeito de concentrações plasmáticas.
retroalimen tação positiva sobre o hipotálamo, A cobertura afeta o momento da ovulação nas
induzindo uma onda repenti na de liberação de espécies de ovulação espontânea, como a ovina.
GnRH, acompanhada pela onda pré-ovulató ria de LH Em gado de corte, o estí mulo do clitóris acelera o
e FSH. As ondas pré-ovulatórias de LH e FSH duram início da ovulação e o estímulo da
de 6 a 12 horas e são responsáveis pela ovulação.
Os níveis de estradiol declinam após as ondas de

cérvix reduz o tempo desde o início do cio até a ocorrência da onda de LH. Em porcas, a cobertura
natural afeta a ovulação pelo encurtamento do intervalo do início do cio à ovulação e pela redução do
intervalo da primeira à última ovulação. Porcas cobertas naturalmente apresentam concentrações mais
altas de LH plasmático imediatamente após a cobertura.

GESTAÇÃO E PARTO. Tanto a manutenção da gestação quanto o início do parto estão sob controle
endócrino. A progesterona é um hormônio importante necessário para a continuidade da gestação. Em
todos os animais domésticos, a progesterona secretada pelo corpo lúteo é essencial para a
manutenção da gestação inicial. Porém, na égua, a placenta assume a função de secreção de
progesterona (ver Capítulo 9). À medida que o parto se aproxima, o declínio dos níveis de
progesterona aciona uma interação complexa envolvendo o feto e a mãe. Alguns dos hormônios
PGF
associados com o parto são 2 ,estrógenos, ocitocina e cortisol fetal.
FUNÇÃO TESTICULAR. O controle neuroendócrino da função testicular é similar àquele das fêmeas. O
controle endócrino da reprodução masculina foi revisado (3). O FSH e os andrógenos mantêm a
função gametogênica, enquanto o LH controla a secreção de testosterona pelas células de
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 47 Hipotálamo

Hipófise anterior
Testosterona Inibina de LeydigCélulas

Leydig. Diferentemente na fêmea, não há um sistema de retroalimentação positiva. Assim, após a


castração, a con centração e a freqüência de pulso de LH e FSH são retidas. A secreção de
testosterona é regulada por alças longas,
Células
Efeitos
androgênicos
e anabólicos
de Sertoli
Testículos

curtas e ultracurtas. A alça longa envolve FSH, inibina e interações LH-testosterona (Fig. 3-16). A alça
curta entre os epitélios intersticial e seminífero envolve fatores do cresci mento e hormônios. A alça
ultracurta regula as interações células de Sertoli/células germinativas/células mióides. No touro, cada
pulso de LH resulta em um pico de testosterona cerca de 30 a 45 minutos mais tarde.
Garanhões produzem e excretam grandes quantidades de estrógeno comparadas àquelas produzidas
pelos machos da maioria das espécies de mamíferos. Os testículos produ zem estrógenos. As
concentrações de 17ß-estradiol (estra diol) são estacionais no garanhão, paralelas às concentra ções
de LH e testosterona.

CÉLULAS DE SERTOLI. As células de Sertoli e as células germinativas regulam reciprocamente a secreção


de proteí nas ao longo da extensão dos túbulos seminíferos. As células mióides ampliam esse
processo, transformando fatores de crescimento, moduladores humorais e matriz extracelular. As
células de Sertoli possuem vias de baixa resistência para o transporte intercelular de metabólitos
celulares, que coor denam a atividade do epitélio seminífero.
Várias proteínas circulantes são internalizadas através do compartimento basal em células de Sertoli
por mecanismos endócrinos: transferrina, andrógeno ligado à proteína (ABP), fatores de crescimento
semelhantes à insulina (IGF) e fatores de crescimento relacionados. Proteínas secretadas pelas
células de Sertoli no compartimento adluminal são internalizadas por um mecanismo parácrino nas
células germinativas. Os esper matócitos e as jovens espermátidas são alvos preferenciais das
proteínas das células de Sertoli nos testículos.
FIGURA 3-16. Inter-relações hipotálamo, hipófise anterior e testículos. As setas indicam efeitos estimulatórios e as
setas tracejadas indicam efeitos inibidores.

ATIVINAS E INIBINAS. As ativinas e as inibinas atuam dentro das gônadas e na placenta como
moduladores autó crinos e parácrinos da produção de esteróides e outros hor mônios e fatores de
crescimento. Como já foi mencionado, as inibinas e as ativinas são produzidas pelas células de Sertoli.
Estas regulam a secreção de FSH mas têm um efeito mínimo sobre a secreção de LH. Para uma
discussão detalha da do papel reprodutivo e de outros com relação às ativinas e inibinas, o leitor deve
procurar em outro local (6).
Comportamento Sexual
COMPORTAMENTO SEXUAL MASCULINO. A castração de machos é um procedimento rotineiro em
programas de manejo da reprodução de animais domésticos. A ação depressiva da castra ção varia
de acordo com as espécies, os indivíduos e os estados fisiológico e comportamental do animal na
época da operação.
Em touros e carneiros, uma certa atividade de monta é conservada após a castração pré-puberal, mas
o subdesenvolvi mento do trato genital resultante da falta de andrógenos durante a ontogenia inibe
drasticamente a cópula.
Dois parâmetros de comportamento sexual normal parecem um tanto independentes: o desejo do
animal de montar com impulso e a habilidade para ejacular. Após a castração, o desejo de monta é
mantido por um período mais longo do que a habili dade de ejacular. O alcance de uma ereção é o
último aspecto de comportamento sexual normal a desaparecer após a castração.
48 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO de cresci mento de nervos, fator I de crescimento
semelhante à insulina (IGF-I), ativinas e inibinas e
COMPORTAMENTO SEXUAL FEMININO. Ele depende de fatores de cresci mento epidérmico (EGF).
um balanço endócrino apropriado resultando no
Citocinas, produzidas por macrófagos e linfócitos,
desenvol vimento de folículos ovarianos. A
são importantes na regulação do sistema
ovariectomia inibe o comportamento sexual mas, na
imunológico.
vaca e na porca ovariecto mizadas, o comportamento
sexual é restaurado após a inje ção de uma dose
mínima de estrógeno depois de 8 a 12 dias de um Fatores estimulantes de colônias (CSF), que
pré-tratamento com progesterona. Na porca e na ove regulam a proliferação e a maturação de células
lha, há uma relação linear dose-resposta entre a sangüíneas bran cas e vermelhas.
duração do cio e o logaritmo da dose de estrógeno.
Existe também uma relação entre a duração do cio Métodos de Estudo
natural e o número de ovula ções nessas duas
espécies. Os fatores de crescimento são normalmente
definidos por sua capacidade de estimular a
ESPECIFICIDADE SEXUAL. A especificidade sexual multiplicação da célula alvo; sua atividade é medida
dos hormônios esteróides-andrógenos para machos e por ensaios em que se determi na o aumento das
estrógenos e progestágenos para fêmeas propicia a populações celulares ou, então, a incorpo ração de
possibilidade de uma influência direta do hormônio timidina marcada no DNA. Nos últimos anos, vários
sobre a resposta comporta mental. O ritmo de estudos foram conduzidos sobre os fatores de cresci
secreção, porém, difere entre os sexos e uma mento relacionados à reprodução masculina e
possível sexualização do cérebro pode influenciar a feminina, tanto na espécie humana quanto nos
rea ção. O tratamento de animais gonadectomizados animais.
com o hor mônio do sexo oposto mostra que a
especificidade sexual do hormônio está limitada tanto Mecanismo de Ação
quanto estão envolvidas as respostas Os fatores de crescimento obtêm respostas
comportamentais. Injeções diárias de estrógenos celulares ligando-se a células específicas, receptores
permitem uma recuperação completa da atividade superficiais em seus tecidos-alvo. Fatores de
masculi na em carneiros castrados, enquanto um crescimento polipeptídeos regulam a proliferação
único tratamento com testosterona induz uma sobre muitos tipos celulares e regulam também o
receptividade feminina normal na ovelha castrada. crescimento do trato reprodutivo. Esses fatores
MECANISMOS NERVOSOS. O sinal fisiológico que apresentam uma grande variedade de tipos celulares
inicia a motivação sexual é a secreção de hormônios que expressam os receptores adequados dos fatores
esteróides. Uma vez liberados na corrente sangüínea, de crescimento (11).
os hormônios são rapidamente ligados a sítios
receptores no SNC. Níveis máximos de estrógenos no Fatores de Crescimento
sangue de ovelhas e porcas ocor rem cerca de 24 Neste capítulo, a discussão sobre os fatores de
horas antes do início do cio. Quando o ani mal está crescimento está restrita às fisiologias testicular e
sexualmente motivado, iniciam-se os eventos ovariana. A Tabela 3-5 menciona alguns fatores de
comportamentais. Estímulos sensoriais específicos ou crescimento relacionados à reprodu ção de animais
não específicos, atuando sobre órgãos sensitivos por domésticos. A Tabela 3-6 apresenta estudos recentes
meio de mecanismos inatos ou adquiridos, são sobre a regulação da função ovariana (12-31).
integrados no cérebro para deduzir reações motoras As descrições dos fatores de crescimento,
apropriadas. relevantes para este capítulo, foram compiladas de
várias fontes (2, 6, 32-34).
FATORES DE CRESCIMENTO
CITOCINAS. Citocinas são mensageiros químicos
Os fatores de crescimento tornaram-se cada vez seme lhantes a hormônios secretados por linfócitos e
mais importantes em muitas áreas da fisiologia macrófagos que afetam o sistema imunológico. Uma
reprodutiva. Fatores de crescimento são polipeptídeos vez estabelecida a seqüência aminoácida de um fator,
semelhantes a hor mônios e proteínas, o nome muda para inter leucina, p. ex., interleucina 1
predominantemente parácrinos e autó crinos na (IL-1) ou interleucina 2 (IL 2). Esta última é um fator
promoção de atividade mitogênica em proliferação de de crescimento produzido por células T4, que
tecido local e remodelamento, p. ex., transformação aumenta a síntese de células T8 e ßB.
do folículo ovariano em corpo lúteo. Grande parte das
pesqui sas sobre os fatores de crescimento está FATOR DE CRESCIMENTO EPIDÉRMICO (EGF). É um
dirigida às suas ações promotoras de crescimento. poli peptídeo com potente atividade mitogênica em
Os fatores de crescimento podem ser divididos vários tipos de células in vivo e in vitro. O fator foi
em três classes: originalmente isolado das glândulas submaxilares do
camundongo, urina humana e outras fontes.
Agentes que promovem a multiplicação e/ou o
desen volvimento de vários tipos celulares – fator FATOR DE CRESCIMENTO DE FIBROBLASTO (FGF). É um
polipeptídeo originalmente isolado da hipófise de parácrinos/autócrinos de FSH e LH. A estrutura, a
bovinos. É angiogênico (isto é, estimula o fonte e as ações foram discutidas anteriormente.
crescimento de vasos sangüí neos), sendo também
INSULINA E FATORES DE CRESCIMENTO SEMELHANTES À
mitogênico. A síntese de FGF no ová rio estimula as
INSULINA (IGFs). IGFs ou somatomedinas são fatores
células luteínicas bovinas, mas atrasa a dife
de cres cimento polipeptídicos secretados pelo fígado
renciação de células da granulosa bovinas em
e por vários teci
cultura.
INIBINAS E ATIVINAS. São importantes reguladores
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 49

TABELA 3-5. Supostos Reguladores Autócrinos/Parácrinos e Função Reprodutora em


Animais Domésticos (Compilado da Literatura)
Citocinas com efeitos complexos sobre as células do
SUPOSTOS REGULADORES
sistema imunológico em ovinos e bovinos
EGF (fator de crescimento epidérmico) O concepto produz IFN como seu principal fator secretor
antes da implantação Desempenha um papel na gestação
ECG- I semelhante (peptídeos semelhantes a ECG-I) inicial de ruminantes
FGF (fator de crescimento de fibroblasto) O endométrio sintetiza e secreta quatro IGFs
EGF testicular desempenha um papel na regulação da
divisão espermatogônica e a produção de IGF-I testicular
GHRH (hormônio liberador do hormônio de crescimento) estimulada pelo retinol sem modificações cíclicas nas
concentrações testiculares de IGF-I
GM-CSF (fator estimulante de colônias de Regula a esteroidogênese nas células da granulosa dos
granulócitos-macrófagos)
grandes folículos ovarianos via atividade aromatase
Fosfolipídeos secretados pelo blastocisto humano, um fator
de crescimento autócrino necessário para a implantação
IFN (interferon)
PAF executa função antiluteolítica e luteotrófica durante a
gestação Promove incubação e amadurecimento do
blastocisto após microinjeção in vitro de anticorpos
IGF (fator de crescimento semelhante à insulina)
anti-PDGF dentro do lúmen uterino
Polipeptídeo, estrutura muito próxima da insulina e fatores
de crescimento semelhantes à insulina, sintetizado e
secretado pelo corpo lúteo Imunoistoquimicamente
Fator de crescimento intrafolicular PAF (fator ativador de localizado no ovário: células da granulosa do folículo antral
Aumenta a produção de progesterona da teca e inibe a
plaquetas) progesterona basal e a estimulada pelo FSH nas células da
granulosa
TNF e hCG aumentam a secreção de progesterona acima
PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas) da dose máxima de hCG
Relaxina

dos em resposta ao estímulo do hormônio do


TNF (fator de necrose tumoral)
crescimento. Eles são mediadores da maioria das
FUNÇÕES PRINCIPAIS
ações promotoras de crescimen to do hormônio do
Pode estimular um novo crescimento do epitélio após crescimento. Os fatores de crescimento
dilaceração da superfície ovariana pela ovulação semelhantes à insulina (IGF-I e IGF-II) são
Crescimento e desenvolvimento do útero neonatal; a polipeptídeos de cadeia única com homologia
relação desses peptídeos com os estrógenos é de ação estrutural da pró-insulina. Eles regulam a
desconhecida proliferação e a diferenciação de vários tipos celu
Proteína de 18.000 dáltons estimula a proliferação de várioslares e têm efeitos metabólicos semelhantes à
tipos celulares necessários para a implantação de insulina. Diferentemente da insulina, a maioria dos
blastocistos e o desenvolvimento embrionário tecidos os produ zem. As IGFs têm a capacidade
Ação modulatória do GHRH sobre a função das gônadas é de atuar por via endócrina, assim como por
FSH dependente GFR formado localmente exerce ação mecanismo autócrino e/ou parácrino.
sinergística durante a maturação do folículo ovariano
Secretado pelas células placentárias, autócrino dentro de INTERFERONS (IFNs). São um grupo de proteínas
certas células da placenta fetal inicial mente identificadas por sua habilidade de
Uma importante citocina que serve de base para a proteger células contra infecções virais. Existem,
interação entre o sistema imunológico materno e os tecidos pelo menos, três classes: , e . Ambos, e , são
reprodutivos durante a gestação de mamíferos sintetizados em resposta à infecção
por vírus, enquanto um IFN- é produzido em tipos celulares: neutrófilos, macrófagos, células
linfócito T após um estímulo mitogênico ou endoteliais e embriões pré implantação. O PAF
antigênico. induz uma grande variedade de respostas
fisiológicas e farmacológicas envolvendo processos
FATOR DE CRESCIMENTO DE NERVOS (NGF). É um reproduti vos (35), agregação de plaquetas,
fator de crescimento protéico necessário ao anafilaxia e permeabilidade vascular. O PAF
crescimento e à manutenção de neurônios produzido pelos espermatozóides aumenta a
simpáticos. motilidade espermática e a fertilização in vitro
FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS (PAF). É um durante a coin cubação dos espermatozóides com o
potente mediador fosfolipídico produzido por vários óvulo.
50 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

TABELA 3-6. Avanços Recentes em Supostos Reguladores Autócrinos/Parácrinos e


Função Ovariana em Animais Domésticos

SUPOSTOS
REGULADORES ECF

ECF + IGF-I

EGF + IGF-I

EGF, TGF

PDGF

EGF, IGF

VEGF

TGF-

GM-CSF

IGF-I

IGF-I, Insulina

Interferon-bovino (IFN )

Inibinas, Ativinas, IGF-I


PROJETOS
EXPERIMENTAIS/HIPÓTESES
Bovinos/Maturação do oócito ou cultura de embrião em meio definido
Oócitos bovinos in vitro

Oócitos bovinos amadurecidos in vitro em meio livre de soro

Células do cumulus bovino envolvendo oócitos

Embriões bovinos amadurecidos in vitro e fertilizados in vitro por plaquetas

Regulação intra-ovariana em ovário de porca

Tecidos luteínicos de ovelhas em diferentes estágios do ciclo estral

Função secretora do corpo lúteo de bovinos durante o ciclo estral e gestação in vitro
Estimulação do desenvolvi mento de embriões bovinos

Desenvolvimento do blastocisto de embriões bovinos


produzidos in vitro

Embriões bovinos de uma célula cultivados em meio livre de proteína, quimicamente


definido
Secreção de PGF e PGF
2 2por células epiteliais e do estroma no endométrio

Alterações das quantidades intrafoliculares durante a seleção do folículo dominante da primeira onda (DFI)
RESULTADOS/ACHADOS/
CONCLUSÕES
O efeito maturação/promoção foi evidente para oócitos desnudos

Estímulo da expansão do cumulus, maturação nuclear e clivagem após a fertilização de oócitos bovinos in vitro
Ambos os fatores de crescimento, agindo isolados ou juntos, estimulam a expansão do cumulus e realçam a
maturação nuclear em oócitos circundados por células compactas do cumulus
Aumenta o número de ovos fertilizados que se desenvolveram até o estágio de blastocisto
Efeitos estimuladores do PDGF sobre o desenvolvimento do embrião bovino podem ser derivados do epitélio do
oviduto e também das plaquetas
Pelo menos quatro peptídeos relacionados ao EGF são expressos em ovários suínos, porém, é difícil predizer sua
regulação fisiológica
O VEGF é expresso no tecido luteínico durante o ciclo estral ovino e a expressão de mRNA codificando VEGF é
regulada durante o rápido desenvolvimento luteínico
TGF- e PDGF estimulam a liberação de P4, particularmente no final da gestação

Molécula útil para aumentar as taxas de produção de blastocistos em sistemas de cultura livre de soro
Meios de cultura contendo altas
concentrações de IGF-I combinados com soro de vaca em cio e células da
granulosa melhoram o desenvolvimento de embriões produzidos in vitro
Insulina e IGF- melhoram o
desenvolvimento in vitro de embriões bovinos

bIFN suprime a secreção de prostaglandina nas células epiteliais do endométrio, o que sugere um papel
antiluteolítico
O declínio das concentrações do hormônio folículo-estimulante no soro altera os fatores-chave de crescimento
intrafolicular envolvidos na seleção do folículo dominante em novilhas
REFERÊNCIAS
Lonergan et al. (12) Rieger et al. (13) Lorenzo et al. (14)

Kobayashi et al. (15)

Thibodeaux et al. (16,17)

Hammond et al. (18) Redmer et al. (19)

Liebermann et al. (20)

De Moraes e Hansen (21)

Palma et al. (22)

Matsui et al. (23)

Danet-Denoyers et al. (24)

Mihn et al. (25)

continua
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 51

TABELA 3-6. (Continuação)


no folículo Esteroidogênese folicular
ovariana durante a fase
SUPOSTOS folicular do ciclo estral
REGULADORES IGF-I+ IGF-I Modificação durante o bovino
crescimento do folículo A influência das reservas de
IGFBPs dominante em vacas energia orgânica sobre o
holandesas em lactação anestro pós-parto de vacas
de corte depois de desmame
IGF-I Produção de progesterona e precoce
androstenediona pelas RESULTADOS/ACHADOS/
IGF-I + IGFBPs células da teca bovina CONCLUSÕES

IGF-I
Células da granulosa e
PROJETOS tecais do folículo dominante
EXPERIMENTAIS/HIPÓTESES pré A ausência de IGFBPs,
IGF-I outros que não o IGFBP-3,
Modificações associadas ovulatório (DO) e folículos nos folículos pré-ovulatórios
com a capacidade não-ovulatórios (DNO)
bovinos pode permitir o
esteroidogênica que ocorrembovinos aumento da disponibilidade
de IGF-I, que é importante desmame precoce de vacas
para a maturação do oócito de corte em anestro
e a ovulação influenciado pelo BCS
Quantidades baixas de
IGFBP-2 e aumento de REFERÊNCIAS Funston et al.
locais de ligação tecal para o (26)
hCG/LH estão relacionados
ao estabelecimento do
folículo dominante durante a
primeira
onda folicular em bovinos
Stewart et al. (27)
Papel significativo na
mitogênese celular tecal e
esteroidogênese celular
tecal induzida por LH,
durante o Stewart et al. (28) Bao et al.
desenvolvimento folicular em
bovinos Proliferação
potencial pareceu ser
desligada durante os últimos
(29)
estágios de maturação de
folículos DNO e ligada após
Um possível papel regulador
regressão luteínica induzida
dos IGFBPs na maturação
e salvamento de folículos
folicular e na atividade
DO
aromatase
Echternkamp et al. (30)
O número de pulsos de LH
ao desmame, IGF-I sérico e
Bishop et al. (31)
o intervalo ao início da
atividade ovariana após o
útero, câncer do trato reprodutivo feminino, maturação
placentária e desenvolvimento embrionário (38).
FATOR DE CRESCIMENTO DO ENDOTÉLIO VASCULAR
(VEGF). Os órgãos reprodutivos exibem marcante
crescimento periódico e regressão acompanhado por
modificações igualmente notáveis nas taxas do fluxo
FATOR DE CRESCIMENTO DERIVADO DE PLAQUETAS sangüíneo. Esses são alguns dos poucos teci dos
(PDGF). É um polipeptídeo produzido por plaquetas, adultos nos quais ocorre angiogênese como um
macrófagos e célu las endoteliais. É um potente processo normal. Folículos ovarianos e corpos lúteos
mitógeno para a musculatura lisa vascular e acelera o produzem fatores angiogênicos. Estes parecem ser
fechamento de feridas. O PDGF aumenta também a heparina ligados e pertencem a famílias de proteínas
produção de progestina estimulada por FSH. do fator de crescimento de fibroblasto (FGF) e fator
FATOR SEMELHANTE À RELAXINA (RLF). É um novo de crescimento endotelial vascular (VEGF). O VEGF
mem bro da família da insulina/fator de crescimento foi demonstrado primeiro no corpo lúteo bovino e
semelhante à insulina, que parece ser mais tarde no corpo lúteo ovino. As mudanças
predominantemente expresso nas células de Leydig cíclicas associadas com a formação e a regressão do
dos testículos. Além disso, ele é produzido no ovário corpo lúteo estão relacionadas com a formação de
de uma série de espécies, tanto nas células novos vasos sangüíneos – angiogênese (19).
foliculares da teca como no corpo lúteo cíclico e no da
Fatores de Crescimento e Reprodução
gestação (36). O RLF pode substituir funcionalmente
a relaxina na vaca (37). Já está suficientemente estabelecido que o FSH e
FATOR DE CRESCIMENTO DE TRANSFORMAÇÃO (TGF ou o LH regulam as funções ovariana e testicular.
TGFa). Intimamente relacionado ao EGF, liga-se aos Todavia, é difícil explicar processos reprodutivos
recep tores EGF, exercendo efeitos similares. TGFb é como foliculogênese, sele ção de folículos ovulatórios
produzido na granulosa, células da teca e no oócito. e atrésicos, e maturação de oóci tos simplesmente
por modificações dos níveis de gonadotro finas.
FATOR DE NECROSE TUMORAL (TNF ou TNFa). Tem Durante a década passada, as atenções foram
sido tradicionalmente associado com inflamação, mas dirigidas sobre os fatores produzidos localmente e
várias comuni cações descrevem uma potencial ativados por meca nismos autócrinos e parácrinos
função no trato feminino. O TNF está envolvido no capazes de modular a capaci-
desenvolvimento dos gametas, mudan ças cíclicas no
52 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

dade de respostas das células-alvo ao FSH e ao LH. Esses agentes autócrinos e parácrinos podem
servir para alterar a sensibilidade ou a capacidade de resposta do FSH ou do LH de uma maneira
estimuladora ou inibidora.
REGULADORES INTRA-OVARIANOS. O folículo ovariano sofre uma rápida proliferação celular durante seu
crescimen to inicial, que aparentemente é independente de gonadotro finas circulantes. Talvez os
agentes ovarianos autócrinos e parácrinos regulem o início do crescimento folicular.
Muitos fatores de crescimento e citocinas alteram a capa cidade de resposta das células da teca ao LH
e das células da gra nulosa ao LH e ao FSH in vitro (39). Esses fatores incluem ati vinas, inibinas,
IGF-I, EGF, FGF, TGF-a e TGF-b, TNFa, interleucina-1, interferon-g e endotélio. Contudo, as ações de
apenas uns poucos desses fatores foram demonstradas in vivo.
Em 1995, Campbell testou os fatores de crescimento in vivo por infusão intra-arterial em ovelhas com
transplantes ovarianos (40). Ele descobriu que EGF, TGFa, FGF básico, inibina e flui do folicular de
bovino livre de esteróide inibiram a função ova riana, enquanto IGF-1 estimulou a secreção hormonal.
Aparentemente, o controle do desenvolvimento e a seleção do folículo ovulatório ocorre em três níveis
(21):
As gonadotrofinas iniciam o desenvolvimento folicular.
O folículo ovulatório produz fatores de crescimento que suprimem o desenvolvimento de outros
folículos por meio de mecanismos dependentes de gonadotrofinas.
Fatores dentro do folículo ovulatório modulam as ações das gonadotrofinas.
A esse respeito, as inibinas e as ativinas são potenciais sistemas reguladores intra-ovarianos. A
bioquímica das ati vinas e inibinas já foi comentada anteriormente. Cada uma é composta de duas de
três unidades peptídicas. No ovário, a expressão das subunidades peptídicas das ativinas e inibi nas
parece ser regulada pelo desenvolvimento.
IMPLANTAÇÃO E GESTAÇÃO. Os fatores de crescimento controlam a proliferação celular, a diferenciação, a
migração e a invasão durante o desenvolvimento da pré-implantação, implantação e estágios
subseqüentes da gestação. Na ovelha, o principal produto da pré-implantação do blastocisto é o trofo
blasto ovino proteína-1 (oTP-1), atualmente classificado como um q-interferon (IFN). Um interferon
trofoblasto simi lar (IFN), trofoblasto bovino proteína-1 (bTP-1) ou IFNt é um produto secretório do
efeito
concepto bovino. In vivo, esses inter ferons prolongam a duração do ciclo estral por meio de um
antiluteolítico sobre a produção uterina de PGF
2a(24).
EMBRIÃO PRECOCE. Vários fatores de crescimento estão envolvidos na implantação do blastocisto.
PDGF, uma glicopro teína (peso molecular de 30.000 dáltons), garante o crescimento das células
soro-dependentes (Tab. 3-6). O PDGF, normalmente confinado às ações parácrinas e autócrinas, é
secretado por alguns blastocistos humanos e está presente nas secreções uterinas humanas. Os
fatores de crescimento no zigoto, na mórula e nos blastocistos incluem fatores de crescimento
transformadores (TGFB1), fator-a de crescimento transformador (TGFF-a), IGF (IGF-II), PDGF e
interleucina-6 (IL-6).
Outros fatores de crescimento e isoformas relacionadas que não são transcritos pela mórula e pelo
blastocisto incluem IGF-1, fator de crescimento epidérmico (EGF) e fator de crescimento de nervos.
CONTRAÇÕES UTERINAS. O fator de crescimento deriva do de plaquetas (PDGF) e os receptores de
insulina possuem efeitos profundos sobre as células endometriais e miome trais, estimulando a sua
nas.
proliferação. O PDGF libera ácido araquidônico e a subseqüente conversão em prostaglandi
PGF
2aestimula as contrações uterinas.
FUNÇÃO DA CÉLULA DE LEYDIG. O papel das inibinas e das proteínas relacionadas não é restrito à
regulação do FSH hipofi sário. Essas proteínas são hoje reconhecidas como fatores de crescimento e
diferenciação e, nos testículos, regulam as funções celulares epiteliais e intersticiais. Em roedores e
suínos, as inibi nas e as ativinas são reguladores da esteroidogênese parácrina, por onde eles
modulam o sinal endócrino do LH. As ativinas têm um papel significativo no desenvolvimento das
células de Leydig no testículo fetal e na puberdade, isto é, as ativinas (como a TGFb) mantêm o
crescimento das células de Leydig em inatividade até a diferenciação ou puberdade (5).
Peptídeos opióides endógenos (EOP) parecem ter efeitos reguladores parácrino e autócrino sobre a
esteroidogênese das células de Leydig e participam do controle intratesticular da per meabilidade
vascular. A b-endorfina está presente no fluido tes ticular intersticial (TIF) em uma concentração muitas
vezes mais alta do que a encontrada no plasma.

REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 3: HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO 53
CAPÍTULO 4

Ciclos Reprodutivos
E. S. E. HAFEZ E B. HAFEZ
Definição retroalimentação negativa dos
esteróides das gônadas. O aumento
radiantes, levemente expandidas,
de gonadotrofinas resulta na elimi
compactas ou ausentes, únicas ou em
massa nação do controle inibidor do sistema
presente em fina matriz de ácido nervoso central quan do o
mucopolissacarídeo, matriz densa ou desenvolvimento corpóreo atinge
ausente, distribuição única ou em massa progressivamente um nível
quantidade de citoplasma, agregação compatível com a reprodução (Fig.
Termo
frouxa ou de aparência compacta, cor 4-1).
Células da corona pálida ou escura e em massa
No início do período da puberdade, Gônadas
aumenta a secreção de Durante a vida pré-natal e neonatal,
Massa do cumulus expandido gonadotrofinas. Esse processo a gametogênese e a
ocorre não somente em ani mais esteroidogênese parecem ser
normais, como também nos que independentes, tornando-se
Células foram castrados preco cemente,
da granulosa da intimamente relacionadas no início
sendo que nestes o processo é mais da puberdade (Tab. 4-1).
membrana folicular
evidente devi do à ausência da
O ciclo reprodutivo relaciona-se com vários fenômenos: puberdade e maturidade sexual, estação
de monta, ciclo estral, atividade sexual pós-parto e
envelhecimento. Esses componentes são regulados da secreção gonadotrófica. Em suí nos, ocorre uma
por fatores ambientais, genéticos, fisiológicos, secreção transitória de testosterona ao redor do dia
hormonais, comportamentais e psicossociais. O nível 55, quando as células de Leydig se diferenciam;
de fertilidade da época da puberdade é mantido duran depois essa secreção cai até que o feto comece a
te alguns anos antes de um declínio gradual em secretar LH pouco antes do parto. No início da
virtude do envelhecimento. Animais domésticos, puberdade, a secreção de gona dotrofina é reiniciada
porém, são abatidos bem antes de seus níveis de e as células de Leydig são reativadas. Em suínos, as
fertilidade diminuírem. células de Leydig, que estavam ativas durante a vida
fetal e neonatal, ocupam grandes áreas entre os túbu
FISIOLOGIA PRÉ-NATAL E NEONATAL los, sendo que, após a puberdade, as células
peritubulares são mais ativas.
Gonadotrofinas OVÁRIOS. A estrutura ovariana inicial não é
fundamen talmente diferente daquela dos testículos.
A secreção das gonadotrofinas FSH e LH e de O aparecimento precoce da prófase meiótica é uma
seu fator liberador hipotalâmico, hormônio LHRH, das principais diferenças entre a evolução celular
inicia-se durante a vida fetal. Na ovelha e na vaca, ela germinativa dos ovários e dos testí culos. Contudo, à
começa mais cedo, logo após a diferenciação sexual medida que as oogônias desaparecem
(no primeiro ou segundo mês de gestação), enquanto completamente, os oócitos formados durante o
na porca ocorre apenas no final da vida fetal (cerca período fetal e neonatal são a única fonte de oócitos
de 1,5 mês após a diferenciação sexual das gôna avaliáveis durante toda a vida sexual.
das). Essa secreção regride temporariamente: ela é
levemente reduzida 2 meses antes do nascimento em PUBERDADE
bovinos, quase a termo nos ovinos e 1 mês após o
nascimento em suínos. Os níveis de gonadotrofinas De um ponto de vista prático, um animal macho
permanecem baixos até o início da puberdade. A ou fêmea atinge a puberdade quando se torna capaz
duração dessa “infância” é extremamente variá vel. de liberar gametas e de manifestar seqüências de
Ela dura poucos dias no rato, 1 mês em ovinos e comportamento sexual completo. Basicamente, a
suínos, 3 meses em bovinos e 6 a 7 anos na espécie puberdade é o resultado de
humana.
TESTÍCULOS. As células de Leydig são 55
gonadotrofinas sensitivas e sua atividade
esteroidogênica continuada depende essencialmente
56 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Vida fetal e neonatal

Secreção de
Evolução variável durante o
gonadotrofinas
?
Retroalimentação positiva

Período púbere Vida adulta


atresia total

Atividade das gônadas Esteroidogênese


Efeito do estradiol

Completo
crescimento
folicular e
esteroidogênese

OVULAÇÃO

Reativação da
esteroidogênese
Início da
espermatogênese
envelhecimento
OVÁRIO Oogênese Foliculogênese, Diferenciação TESTÍCULOS
espermática
ENVELHECIMENT
O
Taxa de ovulação

Qualidade
Fertilidade de maturidade. Perda completa devida ao
ESPERMATOZÓIDES envelhecimento do útero

* E2 = estradiol, T = testosterona FERTILIDADE


FIGURA 4-1. Estágios neonatal, púbere e PLENA

TABELA 4-1. Fisiologia Comparativa dos Eventos da Puberdade nos Dois

Sexos MACHO FÊMEA

Gônadas diferenciem/antes que a função permanecem basicamente sem


gonadotrófica seja acionada. modificações.
Oócitos são envolvidos por poucas
células somáticas para formar os
folículos primordiais dentro de uma
estrutura de tecido intersticial.
Em resposta à secreção gonadotrófica,
a testosterona aumenta desde níveis Tão logo a reserva de folículos
primordiais esteja constituída, ela
muito baixos até atingir níveis adultos.
diminui rapidamente por atresia. Um feto
A secreção de testosterona aumenta à
bovino fêmea que possui 2.700.000
medida que avança a puberdade até,
oócitos no dia 110 da gestação
finalmente, os níveis permanecerem
apresenta apenas 70.000 ao
definitivamente altos. O aumento do
nascimento.
nível sangüíneo de testosterona
eventualmente causa uma diminuição A secreção de estrógenos eleva-se em
Controle endócrino da puberdade da secreção de resposta ao aumento de gonadotrofinas
gonadotrofinas devido a um efeito na puberdade contanto que tenha
retroalimentar negativo. começado a formação de folículos
antrais (na ovelha/vaca). O nível de
Na puberdade, os gonócitos migram
estrógenos aumenta somente em
para a periferia dos
marrãs até 11 semanas depois do
túbulos/diferenciam-se em
nascimento, quando aparecem os
espermatogônias; ajudando as células a
primeiros folículos antrais.
produzir células de Sertoli.
A secreção gonadotrófica da puberdade
Estas modificações ocorrem por ocasião
Gametogênese começa 3 semanas mais cedo (8
da elevação dos níveis de
Estrutura básica dos testículos (cordões semanas de idade).
seminíferos/tecido intersticial) gonadotrofinas pré-púberes. As células
permanece sem modificações desde a de Sertoli permanecem presentes
diferenciação sexual das gônadas no durante toda a vida sexual; seu número Os primeiros folículos antrais aparecem
início da vida fetal até o início da é um fator limitante na produção durante o período pré-puberdade
puberdade. espermática. (porca, coelha) ou mesmo mais cedo
O tecido intersticial preenche o espaço A estrutura ovariana inicial é similar à (vaca, ovelha).
entre os cordões sexuais, composto de dos testículos.
Desenvolvimento folicular completo,
células Os cordões sexuais, formados por
recomeço da meiose dos
alongadas/células esteroidogênicas. células somáticas e germinativas, estão
oócitos/ovulação ocorrem somente
Células de Leydig secretam andrógenos presentes no início da diferenciação quando FSH/LH atingem o perfil adulto.
tão logo os testículos se ovariana/testicular; essas estruturas

Idade na Puberdade
um ajuste gradativo entre o aumento da atividade trófica e a habilidade das gônadas em assumir
gonado simultanea mente a esteroidogênese e a
CAPÍTULO 4: CICLOS REPRODUTIVOS 57 gametogênese.
Mecanismos Endócrinos da Puberdade Em condições normais de criação, a puberdade
ocorre ao redor de 3 a 4 meses de idade em coelhos;
No início da puberdade, as concentrações 6 a 7 meses em ovinos, caprinos e suínos; 12 meses
circulantes de gonadotrofinas aumentam em em bovinos e 15 a 18 meses em eqüinos.
conseqüência do aumen to simultâneo da amplitude e A idade da puberdade é influenciada pelo
da freqüência dos impulsos periódicos de ambiente físi co, fotoperiodismo, idade e raça da mãe,
gonadotrofinas. Isso resulta dos esteróides sexuais e raça do pai e dife rentes reprodutores dentro da raça,
possivelmente de um aumento da capacidade de heterose, temperatura ambiente, peso corpóreo
resposta do hormônio GnRH, secretado pelo afetado pela nutrição e taxas de crescimento antes e
hipotálamo para regular as gonadotrofinas. Em após o desmame. O início da puberdade está mais
cordeiros de 2 a 8 sema nas, as freqüências de intimamente relacionado com o peso corpóreo do que
pulsos aumentam de 1 a 5 em um período de 6 horas com a idade. O gado leiteiro atinge a puberdade quan
(Fig. 4-2). do o peso do corpo representa 30 a 40% do peso
adulto, e no gado de corte essa porcentagem é maior
(45 a 55% do peso adulto) (3). A mesma diferença
Castrados ocorre em ovinos (ovelhas Romney: 40%; Suffolk:
50%; Scottish Blackface: 63% do peso adulto) (4).
Níveis de nutrição modulam a idade da puberdade.
Se o crescimento for acelerado por supernutri ção, o
animal atinge a puberdade em idade mais jovem. Por
outro lado, se o crescimento for retardado por
Ovariectomia Normais subnutrição, a puberdade também sofre atraso.
A puberdade e a regularidade dos ciclos estrais
em marrãs são afetadas pela raça, pelo tipo de
alojamento e pela estação do ano durante a
maturação sexual. Marrãs criadas em confi namento
Idade (semanas)
ou não e que foram expostas a um cachaço atingi ram
FIGURA 4-2. Evolução comparativa dos níveis plasmáticos de a puberdade em uma idade inferior às que não foram
LH em cordeiras normais e castradas. O aumento sub metidas a essa exposição. Em reprodutores
pré-púbere ocorre na mesma idade em ambos os animais, estacionais, a idade da puberdade depende da
sendo mais pronunciado nos castrados. (De Foster DL, estação do nascimento. Ovelhas nascidas em janeiro
Lemons JA, Jaffe RB, Niswender GD. Sequential patterns of atingem a puberdade 8 meses mais tarde, ao passo
circulating luteinizing hormone and follicle stimulating que aquelas nascidas em abril tornam-se púberes aos
hormone in female sheep from early postnatal life through 6 meses de idade (durante a plena estação de monta
the first estrous cycles. Endocrinology 1975;97:985.) de adul tos em ambos os casos). A puberdade ocorre
mais precoce mente em marrãs criadas junto a um
Gametogênese grupo do que sozinhas. A presença de um cachaço
adulto acelera a puberdade em ambas as situações
A manipulação de certos fatores durante o (5). Uma eficiência reprodutiva plena não é atin gida
período pré púbere pode adiar o início da puberdade em qualquer espécie por ocasião do primeiro cio ou
ou aumentar a pro porção do crescimento testicular. eja culação. Há um período de “esterilidade
Os gonócitos desenvolvem se ao acaso nos testículos adolescente”, acen tuadamente curto (algumas
para espermatogônias A definitivas. Esse fato, semanas) em animais domésticos se comparado com
juntamente com a formação das células de Sertoli, a espécie humana (1 ano ou mais).
marca o final do período pré-púbere e o início da
espermato gênese (1). A concentração da motilidade APLICAÇÕES PRÁTICAS DA IDADE DA PUBERDADE. A
progressiva dos espermatozóides, a concentração da idade da maturidade sexual em ovelhas está
proteína seminal e a por centagem de relacionada com a ingestão adequada de energia e
espermatozóides com morfologia normal da cabeça, com o peso corporal sufi ciente. O início precoce da
cauda e acrossoma aumentam a partir da puberdade maturidade sexual traz vanta gens econômicas pelo
por 16 semanas após a mesma. Rápidos aumentos aumento da taxa reprodutiva vital. Desse modo, é
da porcen tagem de espermatozóides com cabeças vantajoso maximizar as taxas de crescimento das
morfologicamente normais (excluindo acrossomas) e cordeiras destinadas a fazer parte do rebanho de
motilidade estão associados com rápidas diminuições reprodu ção. A aplicação de sistemas de partos
da porcentagem de espermatozóides com gotas múltiplos permite a criação de cordeiros ao longo das
citoplasmáticas proximais (2). Os primeiros folícu los várias estações do ano.
antrais aparecem durante o período pré-púbere O melhoramento genético conseguido por meio
(porca, coelha) e até mais cedo (vaca, ovelha). da inse minação artificial e da transferência de
Porém, o desenvolvi mento folicular completo, o embriões em gado leiteiro resultou da utilização de
recomeço da meiose do oócito e a ovulação são reprodutores provados. A obtenção de sêmen na
observados somente quando o FSH e o LH atingem idade mais precoce possível, de tou ros submetidos a
perfis adultos (Figs. 4-2, 4-3, 4-4). testes de progênie é altamente desejável para
acelerar a identificação de reprodutores superiores.
Basicamente, o impacto genético de um reprodutor produzidos, uma função direta do tamanho testicular.
superior é limitado pelo número de espermatozóides
58 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

Fertilização
Nascimento
280 dias
Vaca

Ovelha

Porca

Coelha

Diferenciação
sexual
Divisões
oogoniais
Prófase meiótica
Atresia

FIGURA 4-3. Diferenças específicas nos padrões da oogênese de alguns mamíferos.

Nascimento
MACHO

GonócitoPERÍODO
FETAL e
PÓS-NATAL
PRÓFASE
MEIÓTICA
FÊMEA

Gonócito

Oogônia

Oócito (estágio de descanso por dias, meses ou anos)

Folículo primordial
Nascimento

Coelha

Porca

Todos os
mamíferos
Gonócito
Folículo em crescimento Folículo antral

Atresia
Vaca, ovelha mulher

Reserva de células-tronco Ao
Espermatogônia
Espermatócito
Espermatócito
Espermiogênese

EspermiogêneseDegeneração

Espermatozóides
MEIOSE Espermatócito
Espermiogênese
MEIOSE

INÍCIO DA
PUBERDADE

PUBERDADE
Folículo em crescimento Folículo antral

Atresia

Folículo em crescimento Folículo antral

Crescimento final
Espermatozóides
FIM DA MEIOSE
Folículo de Graaf

Ovulação Atresia

FIGURA 4-4. Comparação da gametogênese em mamíferos machos e fêmeas desde a vida fetal até a vida sexual
ativa. A o, reserva de células-tronco; A Ecélula-tronco da espermatogônia.

Ovulação

Menstruação

Ovulação

Cio
Ovulação

Menstruação
Ciclo menstrual

Ovulação

Cio
CAPÍTULO 4: CICLOS REPRODUTIVOS 59

FIGURA 4-5. Diagrama com parativo demonstrando diferen ças nos padrões e estágios do ciclo estral em animais
domésticos em relação ao ciclo menstrual da mulher. Note a incidência de ovulação em relação ao cio e à
menstruação. (Adaptado de uma

Ciclo estral Fase estrogênica Fase luteínica

ilustração do professor C. Thibault.)

CICLOS ESTRAIS
A cobertura é limitada pela duração do cio, coincidindo com o momento da ovulação. Na espécie
humana e em outros primatas, a cópula não é restrita a determinado tempo do ciclo menstrual e a
ovulação ocorre no meio do ciclo (Fig. 4-5). A duração do ciclo estral em diferentes espécies é: ovelha,
16 a 17 dias; vaca, porca e cabra, 20 a 21 dias; égua, 20 a 24 dias. A duração do cio é
espécie-dependente e varia ligeiramente de uma fêmea para outra dentro da mesma espécie. Isso
também é válido para o momento da ovulação, que ocorre de 24 a 30 horas após o início do cio na
maior parte das ovelhas e vacas, 35 a 45 horas em porcas e 4 a 6 dias em éguas (Tab. 4-2). O muco
cervical sofre notáveis modificações ultra-estruturais no decorrer do ciclo.

TABELA 4-2. Ciclo Estral, Cio e Ovulação em Animais Domésticos

DURAÇÃO
A duração do cio e o momento da ovulação também variam de acordo com fatores internos e externos.
Em ove lhas, o intervalo entre o início do cio e a onda ovulatória de LH (portanto, o intervalo entre o cio
e a ovulação) prolon ga-se à medida que aumenta o número de ovulações.
Regulação Endócrina de Ciclos Estrais
(Figs. 4-6 a 4-9)
O ciclo estral é regulado por mecanismos endócrinos e neuroendócrinos, principalmente os hormônios
hipotalâmi cos, as gonadotrofinas e os esteróides secretados pelos testí culos e ovários. A regulação
da secreção de gonadotrofina durante o ciclo estral requer um esmerado balanceamento entre
complexas interações hormonais. Um componente
Ovelha

Cabra Porca

Vaca

Égua
DO CICLO
ESTRAL
(DIAS)
16–17

21 (também ciclos curtos) 19–20

21–22

19–25
DURAÇÃO DO CIO
(HORAS)
24–36
32–40

20–35

48–72

18–19

4–8 dias
MOMENTO DA
OVULAÇÃO
30-36 horas a partir do
início do cio Inavaliável

35–45 horas a partir do


início do cio 10–11 horas após o fim
do cio
1–2 dias antes do fim do cio
Cio Horas a partir do início do cio — 1 ovulação — 2 ovulações

FIGURA 4-6. Aparecimento da onda de LH em ovelhas de acordo com o número de ovulações (raça Île-de-France).
(De Thimonier, Pelletier. Ann Biol Anim Biochim Biophys 1971;11:559.)
60 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

HIPÓFISESNC
SNC prolactina
secreção tônica LH, Onda
FSH, prolactina ovulatória HIPÓFISE
cíclica

Retroalimentação
negativa
Progesterona e/ou
estradiol

Retroalimentação MULHER Retroalimentação


Retroalimentação negativa
positiva positiva Progesterona e/ou
Estradiol Estradiol estradiol
Secreção do corpo lúteo,
OVÁRIO Crescimento de folículos

Secreção do corpo lúteo, ANIMAIS DOMÉSTICOS


Crescimento de folículos
secreção do CL
Progesterona e estradiol
Prostaglandina
F2aProgesterona depois estradiol

Fim da
Menstruação Fase secretora
ENDOMÉTRIO

ÚTERO
UTERINA ENDOMÉTRIO UTERINO

CICLO MENSTRUAL CICLO ESTRAL FIGURA 4-7. Inter-relação entre ovário e

hipotálamo-hipófise e entre ovário e útero.

secretam pouca progesterona estimuladas pelo LH,


enquan to as células luteínicas grandes secretam
progesterona espontaneamente em alta proporção. O
conhecido pela sua importante influência é o corpo lúteo da ges tação é resistente ao efeito
hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). 2 e é a prin
Modificações nas taxas de síntese e liberação de luteolítico da PGF a cipal fonte de
GnRH, assim como a taxa de degradação desse progesterona e de relaxina na porca prenhe. A
hormônio, são fatores adicionais que modificam sua relaxina pode exercer importante papel no parto e no
influência na liberação de gonadotrofinas (6). No nível iní cio da lactação. O ovário é a fonte primária de
dos ovários, o período de cio é caracterizado por relaxina em várias espécies que requerem esse órgão
elevada secreção de estrógenos dos folículos durante toda a ges tação, isto é, suínos e roedores. A
pré-ovula tórios de Graaf. Os estrógenos estimulam o relaxina é uniformemen te distribuída no tecido
crescimento ute rino por meio de um mecanismo que ovariano, não estando confinada aos corpos lúteos.
envolve a interação do hormônio com receptores e o 2 2 ) é o hormônio luteolíti
A prostaglandina F a(PGF a
aumento dos processos de sín tese dentro das
células. Os estrógenos também estimulam a co uterino em várias espécies de mamíferos. A
produção de prostaglandinas pelo útero. 2 ute
PGF a rina controla a vida útil do corpo lúteo, que,
No final do cio, ocorre a ovulação seguida pela em contrapar tida, regula a extensão do ciclo.
forma ção do corpo lúteo, resultando na secreção de
Ocorrendo gestação, a influência luteolítica uterina é
progesterona. O corpo lúteo é formado por dois tipos
anulada, pois a progestero na secretada pelo corpo
celulares esteroido gênicos distintos e ambos
lúteo é necessária para a manuten ção da gestação.
contribuem significativamente para a quantidade de
O período de atividade do corpo lúteo é
progesterona total secretada durante a fase luteínica
do ciclo estral. As células luteínicas pequenas
gonadotrofinas folículos ovarianos, as
Secreção d A duração do anestro
e con centrações de
prolactin pós-parto é afetada por
a gonadotrofinas
vários fatores
hipofisárias e periféricas,
ambientais, genéticos,
os
fisiológicos e
metabólicos, incluindo
Hipófise Ovário
quiescente
raça, linhagem, nível
nutricional,
amamentação, produção
Útero ainda não leiteira, freqüência de
completamente
involuído ordenha e nível de poten
CAPÍTULO 4: cial genético de
CICLOS produção leiteira. Além
REPRODUTIVOS 61 desses fatores, deve-se
considerar também o
Cio grau de involução
Pós-parto e uterina, o grau de
Ausência de Ovulação desenvolvimento dos
Estímulo da período de amamentação e a ausência relativa da secreção
amamentação de gonadotrofinas associada ao anestro lactacional,
involução do anestro incompleto e involução uterina
FIGURA 4-8. Relações endócrinas no pós-parto da porca incompleta. Ocorre uma modificação na secreção relativa
mostrando a secreção ativa de prolactina no início do de gonadotrofinas e de prolactina conforme diminui a
freqüência da amamentação com o intervalo após o 2
nascimento. (Hunter RHF. Reproduction of Farm Animals. PGF a.
New York: Longman, 1982.) níveis periféricos de estrógenos e progesterona, o
início da secreção episódica e as modificações no
peso corporal e no consumo de energia (7). Em
bovinos, o balanço energético durante os primeiros 20
dias de lactação é importante para determinar o início
da atividade ovariana pós-parto (8). O tempo
necessário para a involução uterina pós-parto varia de
4 a 6 semanas.
Nos sistemas modernos de criação suína, é
importante que as porcas retornem ao cio
rapidamente após o desmame. Vários fatores influem
no intervalo do desmame ao cio, como o tipo de
alimentação e o consumo alimentar durante a
gestação, o consumo de lisina durante a lactação, o
consu mo de proteína durante a gestação e a
lactação, o consumo alimentar após o desmame, a
duração da lactação e os estí mulos alterados de
o

amamentação (9). A alteração do padrão de


r

p
amamentação em suínos pode ser eficiente para a
o
indu ção do cio na fêmea antes do desmame e
ó
s

também para dimi nuir o intervalo até a nova


p

a
cobertura após o desmame. Em geral, porcas com
a
prolongados intervalos do desmame ao cio
r

u
apresentam-se magras. O consumo de energia
t

r
durante a lac tação é inversamente relacionado à
b
e
perda de peso pela porca durante a lactação, assim,
o uma baixa ingestão de energia durante a lactação
pode causar o retardamento do cio após o desmame
c

(Fig. 4-8).
a

r
i

m
FATORES ENDÓCRINOS. Um nível relativamente alto
de progesterona é estritamente necessário durante
i

toda a gesta ção. A progesterona é secretada pelo


p

corpo lúteo e em algu mas espécies (vaca, ovelha) é


a

e secretada principalmente pela placenta. A secreção


d

a
contínua de progesterona elimina o cio e, na maioria
d
i dos mamíferos, a ovulação.
Após o parto, a progesterona cai a níveis
l
i

e
indetectáveis, sendo possível que ocorram o cio e a
F ovulação. A porca exibe cio dentro de 48 horas após
o parto, embora sem ovu lação. O alto aumento de
Meses após o parto estrógeno plasmático após o parto (10) pode explicar
o comportamento de cio em porcas. Em éguas, ocorre
FIGURA 4-9. Fertilidade do gado leiteiro na primeira um cio fértil 1 a 3 semanas após o parto. Em vacas,
cobertura após o parto. (De Casida. Wisc Expt Sta ovelhas e cabras, podem ocorrer ovulações
Research Bull No. 270.1968.) silenciosas 2 a 3 semanas após o parto, porém, ciclos
estrais férteis vol tam somente mais tarde (11-13).
Fêmeas anéstricas pós parto apresentam ciclos
estrais curtos em resposta ao desma me.
chamado de fase luteínica, que dura de 14 a 15 dias Aproximadamente 80% das vacas anéstricas
em ove lhas e de 16 a 17 dias em vacas e porcas. A pós-parto que exibiram cio dentro de 10 dias após o
fase folicular, desde a regressão do corpo lúteo até a desmame de seus bezerros apresentam ciclos estrais
ovulação, é relativa mente curta: 2 a 3 dias em de 7 a 12 dias com um pequeno aumento da
ovelhas e cabras e 3 a 6 dias em vacas e porcas. progesterona sérica após o primeiro cio. O declínio
Essa fase folicular curta não reflete a verda deira precoce de progesterona após o primeiro cio não é
duração do crescimento do folículo de Graaf. Assim, a devido à falta de LH no soro. Contudo, níveis mais
duração do ciclo estral está intimamente relacionada baixos de FSH antes da primeira ovulação podem ser
com a duração da fase luteínica. A regressão do devi dos à reduzida vida útil do corpo lúteo (Tabs. 4-1,
corpo lúteo não é causada por uma diminuição da 4-2) (14).
secreção de hormô nios luteotróficos hipofisários (LH 62 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO
e prolactina), mas sim pela ação do fator luteolítico,
Parece que os corpos lúteos associados a ciclos
curtos em bovinos têm uma vida útil também curta ao cio depois de cerca de 1 mês, enquanto ovelhas
como conseqüên cia de (a) falta de suporte em amamentação apresentaram cio algu mas
luteotrófico; (b) falha do tecido luteínico em semanas mais tarde. Em ovinos e bovinos, a duração
reconhecer uma luteotrofina e/ou (c) secreção do anestro pós-parto varia com a raça e parece ser
aumentada de um agente luteolítico. constante para a mesma fêmea durante sucessivas
gestações.
ALEITAMENTO E LACTAÇÃO. A duração do anestro pós
parto depende do grau de estimulação mamária que a
mãe recebe e de sua condição nutricional no final da A fertilidade é baixa por ocasião do primeiro cio,
gestação e no início da lactação. Durante esse parti cularmente quando a fêmea amamenta. A
período de freqüente amamentação, as fertilidade máxi ma na vaca ocorre 60 a 90 dias após
concentrações séricas de prolactina são elevadas e o parto. Em porcas, a fertilidade é nula durante a
inversamente relacionadas às concentrações cir amamentação, mas um cio alta mente fértil ocorre
culantes de FSH e LH (15). Em gado leiteiro, o poucos dias após o desmame.
intervalo do parto à primeira ovulação está A seqüência da involução uterina ocorre da
relacionado ao nível de pro dução leiteira, sendo mais seguinte maneira:
longo em vacas com potencial genético mais alto para
Parto
essa finalidade. Devido ao fato de as vacas de alta
produção não poderem manter um balanço energético a) enrugamento preliminar do endométrio
positivo no início da lactação e necessitarem mobilizar b) necrose das carúnculas
reservas orgânicas, a atividade ovariana pós-parto c) desprendimento/descarga de tecidos
está mais intimamente associada com a produção d) regeneração/renovação do endométrio
leiteira do que com a ingestão de nutrientes e) novo revestimento epitelial totalmente restaurado
digestíveis totais (8). f) renovação retardada durante a estação
A relação inibidora entre a glândula mamária e a não-reprodutiva
função reprodutiva pode ser devida ao estímulo Existem notáveis diferenças entre espécies
neural, à secreção de uma substância inibidora ou ao quanto ao mecanismo de
meio hormonal. O nível de nutrição também influi na desprendimento/renovação/regeneração do
reprodução pós-parto, embora o efeito da endométrio de mamíferos. Nos ruminantes, as
amamentação não esteja relacionado ao efeito carúnculas são desprendidas e expulsas dentro de 4
nutricional. O intervalo do parto à involução uterina a 6 semanas. Em suí nos, ocorrem discretas
pode ser encurtado pela amamentação. Vacas em eliminações de fluido até uma sema na após o parto,
amamentação apresentam intervalos mais curtos para seguidas de regeneração do epitélio colunar e total
a involução uterina. restauração do endométrio em 3 a 4 semanas.
O intervalo do parto à primeira ovulação é
encurtado em vacas com ovariectomia unilateral
quando a cirurgia é feita 5 dias após o parto. Existe ESTAÇÃO DE MONTA
também uma interação sig nificativa entre o efeito da
Em animais selvagens, há uma estação de monta
amamentação e a ovariectomia unilateral. Esta
bem definida, com ambos os sexos em atividade
cirurgia encurta o intervalo para o primeiro cio
sexual. O ovino Barbary, uma raça selvagem,
pós-parto, ocorrendo uma hipertrofia ovariana
apresenta duas estações sexuais, uma de outubro a
compen satória nos animais que amamentam. Em
janeiro e outra de abril a junho. Em mamí feros
animais que não amamentam, a ovariectomia
domesticados, a natureza e a duração da estação de
unilateral não exerce influên cia sobre o intervalo já
monta são variáveis. Bovinos e suínos não exibem
curto (16).
estacio nalidade da reprodução, enquanto ovinos,
Em vacas de corte amamentando, o intervalo do
caprinos e eqüi nos têm uma estação de monta que
parto ao primeiro cio varia de 60 a 100 dias. Várias
varia em duração.
tentativas com desmames precoces, amamentação
limitada, tratamento com hormônio liberador de NATUREZA DA ESTAÇÃO DE MONTA. Em ovinos e capri
gonadotrofinas ou com uma combinação de nos existem importantes diferenças raciais quanto à
esteróides sexuais foram feitas para desenca dear os duração da estação de monta. Ovinos Pré-Alpinos e
ciclos ovarianos em vacas de corte anéstricas, em Merinos são reprodutores de estação longa, enquanto
amamentação, e todas induziram a ovulação. Blackface e Southdown são de estação curta. A
Todavia, a fase luteínica do primeiro ciclo estral duração da estação sexual dessas raças é 260, 200,
pós-parto e o primeiro ciclo estral após o desmame 139 e 120 dias, respectiva mente. Uma estação
precoce com amamentação limitada e tratamento com sexual longa é um caráter genético dominante. Todos
GnRH foram mais curtos do que em ciclos estrais os cruzamentos de Merino exibem uma estação
normais. sexual longa como o Merino. O cruzamento de Dorset
A importância da amamentação sobre a duração Horn com ovelha Persa produziu uma raça – Dorper –
do anestro pós-parto foi demonstrada em ovelhas que apresenta anestro de apenas 1 mês (Fig. 4-10).
com gestação experimentalmente induzida no anestro Ciclos ovulatórios silenciosos ocorrem sempre no
estacional, de modo que o parto ocorresse durante a início e no fim da estação sexual e continuam durante
estação de monta. Ovelhas desmamadas retornaram o período de anestro em um número variável de
ovelhas. Em ovelhas Ile-de France e Pré-Alpinas, a ligeiramente ativos de fevereiro a março e quiescen
freqüência de ciclos silenciosos aumen ta tes de abril a julho; a atividade é abruptamente
temporariamente na primavera. Com um carneiro reiniciada em todas as cabras em setembro.
presente, o cio comportamental aparece, permitindo Ovulações silenciosas são menos freqüentes do que
uma segunda esta ção sexual anual nessas raças. em ovelhas. Como estas, em climas tropicais, cabras
Em caprinos, a estação sexual é bem definida em Crioulas exibem contínua atividade sexual.
climas temperados. Os ovários da cabra Alpina são
ovelhas outras, como a estrais
adultas Welsh duplicam ou
na Mountain, triplicam a
apresentaram duração usual
Nº de cio/ uma estação ocorrida, o que
ovelha
(média) de monta é devido às
Blackface M. restrita. Em ovulações
quase todos os silenciosas ou
casos, a à falha na
Welsh M. estação de
monta
situou-se
B. Leicester dentro do
período dos
equinócios de
Romney M.
outono e de
primavera, e o
Suffolk meio da
estação
correspondeu
Welsh M.
Dorset H. mais
intimamente ao
dia mais curto
Dorset H.
do ano, ou
seja, 21 de
Equinócio Dia mais longo FIGURA 4-10. Grã-Bretanha. dezembro. Isso
de outono
Diferenças Algumas raças, ilustra a íntima
Duração da raciais quanto como a Dorset relação entre a
estação de monta Equinócio de outono
(média) dias Dia mais curto à duração da Horn, tiveram estação de
CAPÍTULO 4: estação de uma estação monta e a
CICLOS monta e de de monta duração do dia.
Dia mais curto REPRODUTIVOS 63 períodos sem prolongada, Note que
Equinócio
de primavera cobertura de enquanto alguns ciclos

Jul Set Nov Jan Mar Maio Jul Set Nov Cio Ovulação silenciosa

Embora os carneiros possam copular durante o ano s

detecção do cio nas fêmeas não-prenhes observadas. t

(Após Hafez ESE. J Agric Sci 1952;42:305.) janeiro a agosto, e aumenta subitamente no início da
esta

todo, o peso dos testículos e os níveis de testosterona


e
)

( o

gonadotrofinas são mínimos de janeiro a maio, s

P e

durante o ção de monta. Um ciclo reprodutivo anual em eqüinos


está bem documentado em ambos os hemisférios.
r
Nos países temperados do Norte, pode-se observar
a
l silêncio ovariano em éguas e baixos níveis
anestro das fêmeas (Fig. 4-11). Similarmente, no bodeplasmáticos de testosterona e LH em garanhões de
o outubro a fevereiro.
Em bovinos e suínos, o cio ocorre regularmente
durante o ano todo, com discreta estacionalidade.
u

c
Condições repro dutivas locais freqüentemente
mascaram sua expressão. Em
i

nível de testosterona plasmática permanece baixo de


)
l

bovinos, uma variação estacional de fertilidade em


climas a

(Fig. 4-12). A fertilidade mínima ocorre em junho e a


máxi

temperados apenas se torna evidente após se


estudar um

ma, em novembro. Essa variação pode estar


relacionada

grande número de rebanhos por um período de vários


anos

mais ao fotoperiodismo do que à temperatura e à


reprodu
Bode

Carneiro

Meses

PAPEL DO FOTOPERIODISMO E DA TEMPERATURA. O


foto período e a temperatura ambiental afetam os
e ciclos sexuais anuais; o primeiro é o fator mais
eficiente.
T

ção, que podem mudar de ano para ano. As vacas A experiência mais conclusiva mostrando o
são as principais responsáveis pela variação controle da reprodução pelo fotoperiodismo foi
estacional da fertilida de, conforme demonstrado conduzida em ovinos. Com dois ciclos
pelos índices de não retorno após inseminações na fotoperiódicos por ano, as ovelhas passam
primavera e outono com sêmen congelado colhido no FIGURA 4-11. (A) Variação estacional do peso testicular no
outono ou na primavera. A fertilidade na porca é mais carneiro Île-de-France (o peso testicular é ajustado ao
baixa no verão e, conseqüentemente o tamanho da peso corporal) (47° N). (De Pelletier. Tese de PhD.
leitegada também é menor (Fig. 4-13). Universidade de Paris, 1971). (B) Variações estacionais
dos níveis de testosterona plasmática em carneiros
Île-de-France e bode Alpino. (Carneiro: de Attal. Tese de
PhD, Universidade de Paris, 1970; Bode: de Saumande,
Rouger. CR Acad Sci Paris D 1972;274:89.)

Meses
64 PARTE II: FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO

a
0

d
0

a
1

.
g

p
e

(
t
i

e
d
l

s
9

-
a

0
d

o
h

n
n

t
m

a
r

Meses
é

Porcas

Marrãs

Meses de um ano
FIGURA 4-12. Variação estacional da fertilidade em bovinos com 320.000 inseminações artificiais durante sete anos
(raça Montbéliard no Jura Francês, 47° N). O índice de não retorno é mais baixo na primavera e mais alto no
outono. (De Courot et al. Ann Biol Anim Biochim Biophys 1968;8:209.)

por duas estações de monta anuais (Fig. 4-14). Quando é per mitido à ovelha acasalar-se
meses, sendo que aos 5 meses de gestação segue
regularmente, os partos ocorrem a cada 6 1/2 se
mês. A égua é uma repro
um anestro lactacional de 1 1/2 dutora estacional de dias longos, com
ciclicidade reprodutiva ocorrendo de maio a outubro nas latitudes norte, o que é considerado cedo. A
determinação arbitrária de 1º de janei ro como data de nascimento de todos os potros de determi nado
ano criou uma demanda na indústria eqüina, como a administração de hormônios para adiantar o
início da esta ção de monta natural de éguas por 3 a 4 meses. Assim, os potros nascerão mais
próximos ao primeiro dia do ano.
No hemisfério norte, o aumento da luz diária para 16 horas em novembro e dezembro adianta o início
da estação

Dia mais curto Dia mais longo

a
i

ç
a

Estação de monta
FIGURA 4-13. Evolução do tamanho da leitegada em porcas e marrãs inseminadas artificialmente no oeste da
França (46° N). Esse estudo inclui 4.510 marrãs e 13.324 porcas e corresponde a 3 anos consecutivos. (De
Courot, Bariteau. Comunicação pessoal, 1978). A fertilidade suína é mínima sob condições de dias longos e
temperaturas altas, conforme ficou evidenciado pelas leitegadas menores de julho nas porcas e marrãs. Note que
porcas adultas tiveram 1,5 leitão a mais por leitegada do que as marrãs durante o ano inteiro.

sexual da égua; a primeira ovulação ocorre até 3 meses mais cedo do que sob o fotoperiodismo
natural. Ciclos induzidos são normais e férteis endocrinologicamente (17). Vários tra tamentos
hormonais foram utilizados com variado sucesso, como a gonadotrofina sérica de égua prenhe
(PMSG), gona dotrofina coriônica humana (hCG), hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH),
progesterona e extrato hipofisário eqüino (18). Manipulações similares também são eficientes com
carneiros. Usando dois ciclos fotoperiódicos por ano, o carneiro exibe dois períodos de atividade
espermatogênica

Natural

Artificial

Meses

FIGURA 4-14. Períodos de atividade sexual em ovelhas Limousine. Acima: Sob periodicidade natural, o cio ocorre
normalmente durante o período de diminuição da luz do dia. Abaixo: Sob ciclos de fotoperiodismo de 6 meses, o
cio ocorre durante o período de aumento da luz do dia. (De Mauleon, Rougeot. Ann Anim Biochim Biophys
1962;2:209.)

Você também pode gostar