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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

1. MULHERES NEGRAS NO MERCADO DE TRABALHO: os desafios


e possibilidades
























​Cuiabá/M, 2021
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​Semestre 2020/1
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

​Valquíria Fernandes Rodrigues

​Mulheres negras no mercado de trabalho:os desafios e possibilidades


Projeto de Pesquisa apresentado no Departamento
de Serviço Social da Universidade Federal de
Mato Grosso como requisito básico para a
conclusão da disciplina de Pesquisa em Serviço
Social II
Orientadora/Professora: Betina Ahlert

​Cuiabá/MT, 2021
​Semestre 2020/1
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​SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................
1. TEMA ...................................................................................
1.1 Delimitação do tema .....................................
2. PROBLEMA ..............................................................
3.1 Questões norteadoras
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
3.2 Objetivos Específicos
4. JUSTIFICATIVA ..............................................................................................
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 Categoria 1
5.2 Categoria 2
5.3 Categoria 3
6. METODOLOGIA DA PESQUISA.....................................................................
6.1 Método
6.2 Tipo de Pesquisa
6.3 Universo e amostra
6.4 Instrumentos de pesquisa
6.5 Análise de dados
6.6 Aspectos éticos
7. CRONOGRAMA ..............................................................................................
8. ORÇAMENTO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................
ANEXOS
APÊNDICES
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​INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa aborda o tema Mulheres Negras no Mercado de


Trabalho, buscando analisar como se dá a inserção dessas mulheres no campo de
atuação, partindo do pressuposto as relações étnico-raciais. Este projeto está sendo
desenvolvido no âmbito da disciplina de Pesquisa em Serviço Social II, do curso de
graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A referida pesquisa pretende apresentar e promover um debate de reflexões
para sanar dúvidas levantadas referentes à inserção da mulher negra como
assistente social recém formada no mercado de trabalho. Dessa forma, investigar
os primeiros passos, objetivos e desafios que regem a profissional, as dificuldades e
estratégias construídas para conseguir se manter, já que o racismo estrutural ainda
impera. Buscamos, assim, refletir sobre a divisão racial no mercado de trabalho e
para isso precisamos entender como se constituiu historicamente essa estrutura
social, histórica e cultural que impõe estereótipos sobre essa mulher, os
preconceitos e discriminação. Promover um debate social sobre esse tema de
pesquisa é de extrema importância para promover avanços sociais e culturais com
fundamentação teórica e objetivos mais plurais em níveis individuais e coletivos, não
só como discente e sim como trabalhadora desse modo de produção capitalista.
A pesquisa se justifica ainda pela importância de buscar compreender como a
assistente social negra identifica a questão do racismo trazendo apontamentos de
suas experiências na atuação profissional e sua representatividade com base no
racismo, sexismo e patriarcado. Acreditamos que onde quer que se encontre essa
mulher negra, no mercado de trabalho ou na formação profissional, tem que fazer
frente a história de lutas e conflitos.
Para desenvolver esse projeto busca-se fazer um levantamento das alunas
negras que se formaram nos anos de 2019 e 2020 na Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), procurar compreender sua trajetória, trazer debates com autores
conceituados sobre essa temática sócio-histórica e cultural, acerca do racismo
estrutural, pertencimento social e divisão racial no mercado de trabalho. Fazer uma
análise do perfil dessas alunas negras graduadas do curso de Serviço Social
considerando buscar sua trajetória como mulher negra discente da universidade
pública e agora profissional. Apontamos ainda o interesse em compreender a
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construção profissional tendo em vista que a mulher negra sofre mais preconceitos
no campo de atuação profissional.
Inicialmente vamos apresentar o tema de pesquisa e sua delimitação,
seguindo do problema, questões norteadoras e objetivo, buscar direcionamento
com leituras de material selecionados com autores que abordam esse assunto em
artigos, livros e revistas para um possível direcionamento e definições para com o
exercício profissional. Para fins desta pesquisa analisar dados do CFESS/CRESS
trazer entrevistas com assistente social que concluíram o curso de Serviço Social
no ano de 2019 e 2020.
1. TEMA

Mulheres negras no mercado de trabalho.

1.1. Delimitação do tema

O ingresso no mercado de trabalho de mulheres negras graduadas em


Serviço Social na UFMT nos anos de 2019 e 2020.

2. PROBLEMA

A partir do estudo do processo de inserção no mercado de trabalho das


mulheres negras graduadas em Serviço Social na UFMT, que relações podemos
estabelecer para refletir sobre a divisão racial do mercado de trabalho?

2.1 Questões norteadoras

a) Quais dificuldades, estratégias e desafios as mulheres negras graduadas


em Serviço Social na UFMT tiveram para ingressar e manter-se no mercado de
trabalho?
b) Quantas alunas negras que ingressaram nas turmas formandas nos anos
de 2019 e 2020 e concluíram o curso de graduação em Serviço Social?
c) Como as assistentes sociais graduadas na UFMT percebem a importância
da mulher negra e sua representatividade nos espaços sócio-ocupacionais?
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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Apreender, a partir do estudo do processo de inserção no mercado de


trabalho das mulheres negras graduadas em Serviço Social na UFMT, que relações
podemos estabelecer para refletir sobre a divisão racial do mercado de trabalho.

3.2 Objetivos específicos


a) Analisar as dificuldades, as estratégias e os desafios que as mulheres
negras graduadas em Serviço Social na UFMT tiveram para ingressar e manter-se
no mercado de trabalho.
b) Identificar quantas alunas negras ingressaram nas turmas formandas nos
anos de 2019 e 2020 e efetivamente conseguiram concluir o curso de graduação em
Serviço Social.
c) Compreender como as assistentes sociais recém graduadas na UFMT
percebem a importância da mulher negra e sua representatividade nos espaços
sócio-ocupacionais.
d) Identificar nas pesquisas realizadas pelo conjunto CFESS/CRESS e ABEPSS
dados sobre assistente social negras e sua representatividade na formação e atuação
profissional.

4. JUSTIFICATIVA

O tema abordado nesta pesquisa surgiu pela inquietação e interesse de saber


como se dá a inserção das mulheres negras assistentes sociais recém formadas no
mercado de trabalho. Uma das questões colocadas era a de quantas mulheres
negras, que não trabalham com beleza, podem expor seus cabelos crespos e
cacheados com orgulho no trabalho. Quantas mulheres sofrem com medo da
opressão no trabalho por receio de não combinar com sua aparência e sua rotina, já
que a mulher negra tem o seu estereótipo como base para a discriminação racial.
Isso é perceptível até mesmo no mercado consumista que, por muitos anos não era
acessado pela mulher negra, porque esta não tinha pertencimento a esses espaços
na nossa sociedade. Esses elementos cristalizam uma estrutura de dominação,
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onde a raça negra e a mulher ganham destaque quando analisamos os espaços de


ocupação. Essas mulheres ocupam papéis destinados pela estrutura social desde a
escravidão, história que continua se perpetuando nos dias de hoje, por exemplo nos
trabalhos domésticos. É necessário entender a nossa história para não
reproduzirmos os erros do passado em nosso futuro, para isso é importante alterar
as estruturas sociais a começar pelo lugar que as mulheres negras estão ocupando.
Ângela Davis (1974) traz em sua autobiografia que somente um sujeito que
vivencia situações históricas que perpassa por dificuldade de aceitação e busca por
vivência mais igualitária na questão raça/gênero, até mesmo os privilegiados. O que
os coloca na situação de privilégios é exatamente esse motivo. São situações
históricas de opressão e exploração [...]"Quando as mulheres negras se movem pela
liberdade, elas representam todas as comunidades negras, indígenas, pobres. Todas
as comunidades que sofrem exploração econômica, opressão de gênero e violência
racial." Sendo assim, me incluo nessa discussão reconhecendo que sou uma mulher
negra e futuramente graduada no curso de Serviço Social.
As Mulheres negras para sobreviverem nessa sociedade patriarcal são
submetidas a trabalhos domésticos ou, em menor grau, nas indústrias, esses são
resíduos da escravidão e desigualdade racial que ainda imperam na nossa
sociedade. A mulher negra sofre com racismo estrutural tendo que estudar, trabalhar
mais para provar sempre que é capaz de ocupar um lugar superior e ainda dados
demonstram que, em geral, elas são destinadas às menores remunerações. A
igualdade de gênero e raça só será possível com muita luta, movimentos e debates
sobre o tema. Buscamos com essa pesquisa trazer dados e resultados satisfatórios
para poder responder essas inquietações e dúvidas. Como assistente social em
formação e mulher negra consideramos de extrema importância que o curso de
Serviço Social da UFMT conheça o perfil de suas estudantes negras e suas
necessidades perante o mercado de trabalho para abordar com mais frequência
debates sobre essa temática.
Nesse sentido, cabe destacar ainda que essa pesquisa se justifica porque
pretende refletir sobre alguns aspectos estruturais na vida das mulheres negras na
relação com o mercado de trabalho, como as dificuldades e estratégias essa
profissional busca para exercer sua profissão, as oportunidades e desafios
encontrados perante esse percurso, as oportunidades de trabalho e proposta
profissional são de ampla concorrência ou de perfil estabelecidos.
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Já que essa profissão de Assistente Social lida diretamente com expressões


da questão social buscando entender a realidade social no Brasil, as demandas
sociais, desigualdades, violências, fome, desemprego, pobreza, carências materiais
e outras coisas que envolvem nosso cotidiano, através desta pesquisa busco
entender como lidar com a condições materiais que as mulheres negras enfrenta no
seu cotidiano e que tenha implicações na sua subjetividade. Comprometida com
valores que regem essa profissão, aprendemos que as pessoas e suas diferenças
precisam ser respeitadas e sem discriminação de qualquer natureza.
Enquanto profissional temos que desenvolver uma capacidade crítica e
reflexiva para compreender a problemática e saber lidar com usuários e seus
questionamentos. Conforme o Código de Ética do/a Assistente Social, Lei 8.662/93
de Regulamentação da Profissão nos Princípios Fundamentais diz que:

VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao


processo de construção de uma nova ordem societária,
sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero;
XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a
nem discriminar, por questão de inserção de classe
social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação
sexual, identidade de gênero, idade e condições
física.(CEFSS,1993 p.24)

Portanto, pretendo com essa pesquisa entender como se dá o engajamento


da mulher negra no mercado de trabalho, qual o caminho percorreu e como o
racismo estrutural afeta essa profissional direta ou indiretamente, já que as
assistentes sociais em formação precisam unir forças com assistentes sociais que já
estão no campo de atuação para trazer um debate público e democrático que
deliberam valores coletivos para sair do campo teórico-metodológico para
materialização do trabalho, com noção do cotidiano supõe sair do campo do
aparente, e potencializar caminhos que reforcem os direitos nos diversos espaços
ocupacionais em que a assistente social atua.

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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O trabalho apresentado nesta pesquisa é uma breve abordagem histórica que


tem como definição e objetivo fazer um levantamento acadêmico de como o racismo
estrutural afeta direta ou indiretamente as formadas no curso de Serviço Social da
Universidade Federal de Mato Grosso, com foco nas mulheres negras. Trazer um
diálogo com autores que discorram sobre o assunto racismo, mercado de trabalho e
como o curso de serviço social da UFMT debate a questão etnico racial na grade
curricular, suas contribuições para o desenvolvimento de uma boa profissional, já
que o racismo está cada vez mais naturalizado na nossa sociedade.
Fazendo um breve levantamento histórico das relações etnico racial no
Brasil, alguns autores como Davis (2016), Gonzalez (1984), Carneiro (2003)
ressaltam que a construção história se deu com a exploração do trabalho escravo,
de indígenas e dominação de raça. No período colonial (1530 -1822) a discriminação
racial ocorreu de forma explícita, os negros, mesmo quando libertos, não tinha
oportunidade de trabalho assalariado, e quando arrumava um emprego, era em
condições precárias em regime de trabalho exaustivo e desumano, mal se
alimentavam e sofreram vários tipos de violência. No caso das mulheres negras, a
violência era ainda maior, eram exploradas e tinham seus corpos violados.
Quanto às mulheres negras aos olhos de seus proprietários, elas não eram
realmente mães; eram apenas instrumentos que garantiam a ampliação da força de
trabalho escravo (DAVIS, 2016). Essa violência que as mulheres negras
escravizadas sofriam fazia parte dessa exploração e dominação, as mulheres eram
desumanizadas e toda essa exploração fundada no racismo. Para a autora é preciso
considerar a intersecção de raça, classe e gênero para consideras um novo modelo
de sociedade.

O sistema escravista definir o povo negro como propriedade. Já que as


mulheres eram vistas, não menos do que os homens, como unidade de
trabalho lucrativa, para os proprietários de escravos elas poderiam ser
desprovidas de gênero. [...] “a mulher escrava era, antes de tudo, uma
trabalhadora em tempo integral para o seu proprietário, e apenas
ocasionalmente esposa, mãe e dona de casa”. A julgar pela crescente
ideologia da feminilidade do século XIX, que enfatizava o papel das
mulheres como mães protetoras, parceiras e donas de casa amáveis para seus
maridos, as mulheres negras eram praticamente anomalias (DAVIS 2016, p.
24).

A mulher negra era explorada apenas pelo fato de ser mulher, seu corpo
feminino era pré-condicionado. A democracia racial naturaliza a desigualdade,
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muitos querem simplesmente apagar/excluir a história naturalizando o racismo sem


notar que o trabalho doméstico para uma mulher negra é uma herança colonial
(mucama), e que a miscigenação existe pela exploração sexual de mulheres negras
e indígenas no período colonial.
Para Gonzalez (1984, p.224) “O lugar que nos situamos determina a nossa
interpretação sobre o duplo fenômeno do racismo e do sexismo”. A autora traz a
identificação sobre o dominado e dominador, como ficou naturalizado a questão
racial. Na nossa sociedade, a cor da pele é tida como servidão, ocupando o cargo
de Sub empregos, trabalho braçal com baixa escolaridade. Isso materializa a
realidade do racismo estrutural através da falta de oportunidade no mercado de
trabalho e de um ensino público de qualidade, tudo isso desencadeia a discrepância
racial.
"É sobejamente conhecido a distância que separa negros e brancos no país
no que diz respeito à posição ocupacional"(CARNEIRO,2003,p.120). Essa
discriminação racial/gênero consequentemente reflete na geração de renda e
ascensão econômica de várias famílias, aumentando a gênese da desigualdade
social no Brasil.
Fica evidente que as mulheres negras sofrem mais com a opressão e a
exploração. Para sobrevivermos nesta sociedade socialmente machista e patriarcal
precisamos gerar valor através do trabalho, vender nossa força de trabalho para
gerar valor de uso, seja cultural, estético ou econômico. Para a mulher negra a
busca por emprego é ainda maior, nem sempre essa mulher vai se encaixar no perfil
que empregadores desejam.
O livro Mulheres em movimento de Sueli Carneiro, resgata a luta das
mulheres negras do século XIX no movimento abolicionista, fala da desigualdade
intergênero, reivindicando que toda mulher sofre com o racismo e machismo. E tem
como prioridade o entendimento que a luta contra o racismo ainda é maior que a luta
de gênero. O movimento de mulher negras vem ganhando grandes proporções nos
debates gênero/raça, com ganhos obtidos com a luta feminista no mercado de
trabalho.

Os diferentes retornos auferidos pelas mulheres de uma luta que se pretendia


universalizante tornava insustentável o não reconhecimento do peso do
racismo e da discriminação racial nos processos de seleção e alocação da
mão-de-obra feminina, posto que as desigualdades se mantêm mesmo
quando controladas as condições educacionais. Em síntese, o quesito “boa
aparência”, um eufemismo sistematicamente denunciado pelas mulheres
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negras como uma forma sutil de barrar as aspirações dos negros, em geral, e
das mulheres negras, em particular, revelava em números, no mercado de
trabalho, todo o seu potencial discricionário. (CARNEIRO, 2003, p.121)

Outra contradição do mercado de trabalho e das vantagens que o homem tem


em relação às mulheres: os homens se formam mais rápido e vão mais cedo para o
mercado de trabalho, a mulher demora de 8 a 11 anos para se igualar aos homens,
para a mulher negra essa diferença é ainda maior. Em muitos casos a mulher
negra é chefe de família, e ela é a responsável pelo sustento da casa.
O modo de produção capitalista influencia diretamente nos fenômenos
sociais, no sistema político e nas relações sociais, no código moral e ideológico, de
como o racismo se consolida e se estrutura nesta sociedade, enfatizando como
historicamente o capitalismo se utiliza do racismo para potencializar o seu processo
de acumulação . Naturaliza e materializa valores , essa é a dinâmica da sociedade,
naturaliza as opressões e a luta de classe "corpos negros a engrenagem necessaria
para o impulsionamento do processo de exploracao e denvolvimento capitalista"
(MOREIRA.2019,p.15)
Como o curso de serviço social lida diretamente com a classe trabalhadora,
como base na questão social precisamos de uma abordagem mais ampla e
elaborada sobre a temática etnico racial, por meio de disciplinas, ementas e oficinas,
para que ao longo da formação profissional o/a estudante possa ter um
conhecimento histórico. Como categoria profissional pensar nas demandas
históricas, na formação academica pautas das mulheres negras e mercado de
trabalho, luta do movimento feminista negro, entre outros. Podemos observar uma
deficiência na formação acadêmica sobre essa temática.
Para Moreira (2019,p.95), partindo do pressuposto que o “racismo é um
elemento estruturante e fundante da sociedade”. Penso que o curso de serviço
social precisa se debruçar com mais complexidade sobre a questão etnico-racial.

Partindo desse pressuposto é considerando as reflexões já elaboradas acerca


da relação ontológica entre o serviço social e a “Questão social” bem como
do histórico complexo e moroso sobre a apreensão do racismo pela
profissão, coloca-se para nós a necessidade de refletir alguns dos dilemas e
desafios postos para esse debate no âmbito da formação e trabalho
profissional na contemporaneidade. (MOREIRA, 2019, p.95)
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Moreira (2019, p.95) diz ainda que “o debate étnico-racial deve estabelecer
enquanto viés analítico na formação em serviço social”, para que esse assunto não
seja abordado de forma fragmentada.

Sob uma perspectiva de totalidade, coerente com a essência das diretrizes


curriculares elaborada pela ABEPSS em 1996, a questão étnico- racial deve
ser trabalhada enquanto eixo estruturante e não como algo simplesmente
temático de forma fragmentada ou ainda pior na condição de disciplina
optativa como muitas vezes ocorre em algumas universidades. (MOREIRA
2019, p.95)

Buscamos, por meio de pesquisa, fazer esse levantamento com as


assistentes sociais negras que possuem formação no curso de Serviço Social na
UFMT, para justamente responder se o curso conseguiu aprofundar o debate
etinico-racial com a realidade política, social, econômica e cultural, a partir da
dialética que envolvem as categorias de classe, raça, gênero e etnia. Há uma
necessidade de reflexão da formação em Serviço Social, se não tiver um debate
mais aprofundado corre o risco de se formar profissionais ideologicamente racistas.
Bem sabemos que esse processo de formação profissional é importante,
precisamos buscar sempre embasamento teórico metodológico e crítico para fazer
uma leitura da realidade. Compreender a realidade já que a grande maioria da
população usuária do serviço social e negra, e 49% das assistentes sociais que
participaram de pesquisa do Conjunto CFESS/CRESS entre 2016 e 2019 se auto
declararam pretas ou pardas (CFESS/CRESS,2020 p.1)

[...] Compreendemos como principal marco a campanha de


gestão do conjunto CFESS/CRESS (2017-2020) "Assistentes
Sociais no Combate ao Racismo". Ousamos dizer, sem muito
medo de errar, que essa campanha é o principal marco
histórico, no âmbito da luta anti-racista, construído até hoje
pelo Serviço Social brasileiro, visto que trata-se de uma
campanha aprovada coletivamente pelo conselho Federal e
por todos os regionais do país _o que mais uma vez não nos
deixa dúvida de que essa questão deve ser central para nossa
profissão.(MOREIRA,2019,p.146)
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Essa campanha desenvolvida pelo Conjunto CFESS/CRESS é importante


para fazer um aprofundamento da questão raça/gênero são organizadas e
elaboradas de forma que possa atingir a categoria profissional e a população usuária
de serviços e políticas públicas com as quais a assistente social trabalha. O objetivo
dessa campanha Assistente Sociais no Combate ao Racismo (2017-2020) e
identificar a contribuição do Serviço Social enquanto categoria profissional nas
demandas históricas apresentadas pelo segmento de mulheres negras no
enfrentamento contra o racismo para ampliar o debate na profissão e
instrumentalizar a categoria enquanto parte conciente da sociedada.
Trazendo na campanha contribuição de depoimentos e relatos de vivencias
de profissionais, que falam de suas experiências de trabalho. Para a categoria
profissional dialogar e trazer possobilidades de avancos na praticas profissional,
buscar gerar respostas técnicas, teóricas e politica na atual conjuntura para por em
pratica politicas publicas de qualidade construídas coletivamente.

Costa(2020) sou militante e diretora do


departamento de gestão do Suas (DGSuas),
da secretaria de Estado de assistência social
(Seas) e, quando você fala que nós pessoas
negras somos minoria, afirmo: nós não
somos! Dados do IBGE apontam que somos
pretas ou pardos 55,8% da população
brasileira .(...)Quando você se depara com
racismo nos bairros e nas escolas, está
lidando com pessoas que não tiveram a
mesma formação no (Serviço Social), mas
quando você está em um ambiente
institucional, onde a premissa é o Código de
Ética e a formação, e se depara com outro
colega com o mesmo nível de ensino superior
ter cerceando (por preconceito), fica o
questionamento: o quanto ainda precisamos
fazer? (CFESS/CRESS,2020,p.110)

As assistentes sociais que participaram dessa campanha ressalta a importância da


representatividade das mulheres negras nos espaços sócios ocupacionais, de como
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as usuários/as negras se identificam e conseguem uma abordagem mais ampla no


seu atendimento.

As mulheres negras representam 26% da população brasileira, portanto, a


exclusão dessa temática na formação profissional, nas pautas de debates e na
produção acadêmica do conjunto CFESS/CRESS, expressaria a
invisibilidade de uma importante parcela de cidadãs brasileiras pela
categoria de Assistentes Sociais, podendo levar o Serviço Social a contribuir
para a reprodução do racismo institucional, o que acarretaria na contradição
da profissão com o compromisso da defesa de uma sociedade mais justa,
sobretudo pela autonomia e emancipação das mulheres, uma utopia se não
consideramos a demandas atuais e históricas das mulheres negras no Brasil.
(LEMOS,2018,p.2)

Realizar campanhas com debates gênero, raça/etnia realizados pela


categoria profissional e de extrema importância para desenvolver possibilidades de
melhor interação com usuários/as para analisarmos as contradições que a categoria
produz e reproduz ao identificar a questão social e como materializam na defesa de
direitos. Campanhas e debates com embasamento profissional precisam ser
pautado na regulamentação profissional, nas diretrizes curriculares e competências
para uma formação profissional qualificada, recorrer sempre ao embasamento
teórico-metodológico para se formar assistentes sociais, com pensamento crítico
para compreender o momento histórico, e essa realidade em movimento. Apreender
através da realidade e construir uma reflexão com representatividade sócio
ocupacional.

6. METODOLOGIA DA PESQUISA

Essa pesquisa está embasada no método de materialismo dialético de


Marx com análise das lutas de classes sobre a história da formação da
sociedade capitalista, conceituado como o debate étnico-raciais no âmbito do
Serviço Social Brasileiro, com aprofundamento na singularidade,
particularidades e universalidade, aprendendo a essência é transformando a
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práxis. A opção por esse método é fazer uma análise do fenômeno social
através do materialismo histórico dialético. O método serve como um
"parâmetro para caminharmos conhecimento"(MINAYO, 1994, p.17). O método
que será utilizado nesta pesquisa busca como objetivos responder quais
dificuldades, desafios e estratégias que as mulheres negras utilizam para se
manter no mercado de trabalho, trazer uma reflexão sobre a divisão racial no
mercado de trabalho e como o curso de Serviço Social aborda esse tema.
A proposta para realização do projeto e que trata-se de uma pesquisa
qualitativa com objetivo de compreender os fenômenos comportamentais da
sociedade capitalista de como as mulheres negras enfrentam o racismo
estrutural, a pesquisa e do tipo bibliografia trazer fontes de livros do Serviço
Social e afins, artigos científicos e revistas do Conjunto CFESS/ CRESS.
Dialogando com autores conceituados como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro
que fazem uma discussão sobre gênero/raça, Tales Morreria faz um debate
sobre a formação profissional e Sílvio de Almeida traz um debate sobre
racismo estrutural, esses autores serão as minhas referências bibliográficas. A
pesquisa exploratória tem como objetivo tornar explícito ou construir
hipóteses com levantamento bibliográfico, entrevistas e análise . Entrevistar
Assistentes sociais que se formaram na UFMT nos anos de 2019 e 2020, através da
solicitação das listas de formando ao Departamento de Serviço Social e identificação
do quesito raça/cor autodeclarado pelas alunas no momento de matrícula. Já que a
entrevista é uma técnica de investigar e coletar dados, a entrevista a ser aplicada
será semiestruturada com o roteiro para que possa ser respondidas minhas
questões norteadoras quais dificuldade, estratégia e desafios para se ingressar no
mercado de trabalho, e como o curso de Serviço Social debate o tema étnico-racial.

"A entrevista é o procedimento mais usado


no trabalho de campo. Através dela o
pesquisador busca obter informações
contidos nas falas dos atores sociais. Ela não
significa uma conversa despretensiosa e
neutra, uma vez que se insere como meio de
coleta dos fatos relatados pelos autores,
enquanto sujeito objeto da pesquisa que
vivenciam uma determinada realidade que
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está sendo focalizada suas formas de


realização pode ser de natureza individual e
ou coletiva"(NETO, 1994, p.57)

Amostra intencional das três bacharéis em Serviço Social para realização de


entrevista.
A metodologia a ser usada nessa pesquisa será a pesquisa qualitativa , pesquisa de
campo (entrevista ) , pesquisa bibliográfica. Essa pesquisa será submetida ao
Comitê de Ética, para que aja uma avaliação e acompanhamento ético e haverá
Consentimento livre e esclarecido, falar das autorizações das entrevistadas
envolvidas na pesquisa, legislação relacionada à ética em pesquisa.

7. CRONOGRAMA

Atividades Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4


Submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa X

Pesquisa bibliográfica X

Coleta de dados (se for o caso) X


(agendamento de entrevistas, realização de
entrevistas, etc)
Análise dos dados X

Elaboração do texto final da pesquisa X

Entrega e apresentação do trabalho X

2. ORÇAMENTO

Descrição do Quantidade Valor unitário Valor total Fonte pagadora


ítem (em R$) (em R$)
Notebook 01 2.000,00 2.000,00 Pesquisador
Canetas 05 3,00 15,00 Pesquisador
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2. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estud. Av., São Paulo, v. 17, n. 49, p.117-133, Dec.
2003. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?scr ipt=sci_ar7tt Ext&pid=S0103401
42003000300008&lng=em&nrm=isso>. Access on 26 Apr. 2021.

Gonzales, Lélia. Racismo e sexismo na cultura Brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje,
Anpocs, 1984, p. 223-244

Assistente Sociais no combate ao racismo. O Livro. Conjunto CFESS/ CRESS Campanha de


Gestão 2017-2020 p.1_135

DAVIS, Ângela. Mulher, raça e classe. São Paulo: Plataforma Gueto, 2013.

LEMOS, lira. Mulheres negras e o Serviço social. In: xcopene (Re) Existência Intelectual Negra e
Ancestral .Encontro internacional de política social,6 ,2018, Vitória,p.1-3
http://servicosocialcontraracismo.com.br/

Moreira, Tales Willian Fornazier. Serviço Social e Luta Antirracista: contribuição das entidades da
categoria no combate ao racismo. In:mestrado em Serviço Social 2019. São Paulo p.1_180

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018
Peres.Ilson; Penha.Oliva: Serviço Social e Questão Racial;o termo raça e sua (não) apropriação.
Xcopene . Uberlândia.2018.p.1_11.

CFESS. Conselho Federal de Serviço Social. Resolução CFESS N⁰273, de 13 de Março 1993
Disponível em: http://www.cefess.org.br/arquivos/ccp-1993.pdf Acesso:20/04/2021

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.


Petrópolis/RJ:Vozes,1994.

NETO, José Paulo . Introdução ao estudo do Método em Marx. São Paulo: Expressão Popular,
2011

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