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Curso: Arquitetura e Urbanismo

Disciplina: Língua Portuguesa

Professora:

Alunos:

Turma: Sexta-Tarde

Resenha Crítica do filme “A pele que habito”

“A pele que habito”,um filme de Pedro Almodóvar, circula em volta das frustações, das
experiências e da instável vida do renomado cirurgião plástico Robert Legdard. Uma história
conturbada, repleta de reviravoltas, subjetividade e duplo sentido. Além de forçar o pensamento
sobre a relação corpo e alma, influenciados pelos conceitos e padrões de sexualidade.
No começo da trama, o doutor é surpreendido pela traição e fuga de sua mulher com um
irmão, que tinha tal parentesco ocultado pela mãe, somadas ao acidente que quase a carbonizou.
Apesar de tal infidelidade, Robert opta por salvar e cuidar incondicionalmente da companheira.
Todos os espelhos da casa foram retirados, concomitante ao fechamento das janelas,
com o intuito de amenizar a situação estética de sua mulher. Contudo, certo dia, ela escuta a
filha cantando no jardim e decide abrir a janela para observá-la deparando-se com o próprio
reflexo. A imagem rebatida causa-lhe horror, e ela comete suicídio. A filha, Norma, presencia a
cena e desenvolve problemas psicológicos por causa do trauma.
O tempo passa, Norma que após a morte da mãe vivera sobre os cuidados constantes de
médicos, tem permissão para tentar se adaptar a uma vida social normal, acompanhando o pai a
uma festa. Nesse evento ela sofre uma “tentativa de estupro”, e devido a circunstância em que é
reanimada do desmaio provocado, acredita que o pai era o violador. Tantas turbulências
psicológicas subsequentes a fazem seguir o mesmo destino da mãe e tira a própria vida.
Em meio a incontáveis tragédias, Robert toma medidas extremas, enclausura o possível
estuprador da filha e realiza uma vaginoplastia sem o consentimento do mesmo. E ao longo de
meses, realiza experimentos na busca de uma pele com resistência incomparável, utilizando
Vicente como protótipo. Tais testes vão contra os princípios da bioética e refletem os fantasmas
passados que ainda perturbam o médico.
Depois de tantas investidas, o jovem ganha traços femininos, deixando de ser Vicente
para ser Vera. Sua aparência é intencionalmente e assustadoramente similar a da falecida esposa
de Robert.
Com tantas reviravoltas, se sentido perdida e sem perspectivas de uma vida normal, ela
tenta fugir e tirar a própria vida, para por um fim nessa situação caótica, mas não o consegue.
Mas é na aproximação com Robert e com laços afetivos que encontra a maneira de amenizar
seus dramas e conflitos.
O autor desconstrói a história passando a contá-la do meio para o começo, e só assim
mostrar o desfecho. Tal desconstrução pode confundir quem assiste ao filme, já que no
desenvolver da trama muitos casos vão ocorrendo como lapsos de memórias dos integrantes.
Lapsos, esses, que em algumas partes dependem da perspectiva dos acontecimentos de
personagens em particular.
Cenas fortes e chocantes circundam o contexto do filme, como estupros, mortes,
processos surreais contra a ética social e profissional. Ações exorbitantes que tentam encontrar
justificativas para serem realizadas, deixando a critério do interlocutor o julgamento de cada
uma.
O jogo de luz e sombras utilizado no filme é muito bem elaborado e perturbador,
permitindo a criação de um ambiente sombrio e mórbido, mesmo na cozinha, onde existem
diversas cores, a sombra transfere uma áurea intrigante ao ambiente.
A presença de diversos quadros expondo o corpo da mulher de maneira distorcida,
também é notável, permitindo que a sensualidade e a estética caminhem lado a lado.
Os desenhos na parede e as esculturas de tecido feitas por Vicente permitem que o
interlocutor perceba que apesar de tantas mudanças estéticas, o eu interior dele ainda vive em
meio aquela vida surreal.
Um desenho, em particular, o corpo com a cabeça de casa, possibilita a associação de
que o pensamento e as memórias do jovem foram o que restou do corpo como lugar sagrado e
pessoal do personagem.
A ioga, por sua vez, torna-se um refúgio para o interior do corpo, já que em tais
momentos relaxantes ele consegue adentrar-se e encontrar-se, deixando Vera e voltando a ser
Vicente.
A ideia do corpo como um abrigo e lugar de proteção está intrínseca com a Arquitetura,
já que a primeira ideia de casa que temos, é a que nos conforta e nos traz paz, sensação que
Vicente não tira proveito. A face sensual também se mantém presente nas associações, já que
ele constrói um lar dentro de si, enquanto a capa vagueia dissimuladamente.
A partir do momento que Vera ganha voz na casa, e liberdade de ir e vir, sua vida se
resume a um paradoxo gigantesco, já que mesmo possuindo livre-arbítrio ela se encontra presa,
e dentro de onde deveria se sentir livre.
É um filme que exige um olhar voltado para psicologia e para as relações interpessoais e
intrapessoais. Exige uma crítica complexa de cada um, de acordo com princípios e valores,
trazendo para uma realidade inexistente, sentimentos e convenções do cotidiano.

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