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2 Capítulo

  Silmara da Costa Pereira Cestari

noções de anatomia e histologia da pele


A pele é um órgão de composição complexa e estrutura própria, que se caracteriza por diversos
tecidos, tipos celulares e estruturas especializadas, distribuídos em camadas interdependentes.
É o maior órgão do corpo humano, com área variando de 1,5 a 2 m2 no indivíduo adulto e
peso de aproximadamente 15% do peso corporal. Tem aspecto, estrutura e funções variáveis, de
acordo com a região do corpo.
A pele é um órgão de defesa e de revestimento externo, com capacidade de se adaptar às
variações do meio ambiente e às necessidades do organismo que protege, cobrindo-o em sua
totalidade. É multifuncional, desempenhando funções essenciais para a vida, como termorre-
gulação, vigilância imunológica, sensibilidade e proteção contra agressões exógenas (quími-
cas, físicas ou biológicas) e contra a perda de água e de proteínas para o meio externo. Recebe
também estímulos do ambiente e colabora com mecanismos para regular sua temperatura.
Anatomicamente, a pele está estratificada em três camadas distintas, mas que, no funciona-
mento, estão intimamente relacionadas: epiderme, derme e hipoderme (Figura 2.1).

Poro sudoríparo
Corpúsculo Glândula
de Meissner sebácea

Epiderme Camada córnea (queratinizada)

Terminação nervosa livre

Glândula sudorípara

Derme
Músculo eretor do pêlo

Hipoderme
Tecido subcutâneo (adiposo)

Artéria Veia Folículo piloso

Figura 2.1  Esquema da pele.


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10 DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA

  EPIDERME As células espinhosas estão justapostas e unidas por


junções intercelulares, os desmossomas e as tight
A epiderme (do grego epi = acima; derma = pele) é a junctions (daí o aspecto de espinhos). Os desmosso-
camada mais superficial e também a mais importante mos são estruturas complexas que conferem à pele
da pele. É constituída por um epitélio pavimentoso es- resistência a traumas mecânicos. Na camada basal,
tratificado e queratinizado (várias camadas de células há apenas uma placa de aderência ligando a mem-
achatadas justapostas). Tem espessura irregular, varian- brana plasmática das células basais à membrana ba-
do conforme a região do corpo, sendo mais fina nas pál- sal denominada hemidesmossomos (Figura 2.2).
pebras e mais espessa nas palmas e plantas. ƒƒ Camada granulosa: é constituída de 1 a 3 camadas
Apresenta cinco camadas distintas: a camada basal (es- de células losangulares, de coloração mais escura
trato germinativo), a camada espinhosa, a camada granu- e estrutura granulosa, devido aos grânulos de que-
losa, o estrato lúcido e a camada córnea. As células dessas ratohialina (precursora da eleidina e da filagrina, é
camadas, os queratinócitos, derivam da camada basal. um importante componente do envelope das célu-
As células da camada basal multiplicam-se de ma- las corneificadas). Esta camada é rica em lipídios e
neira continua e, à medida que se aproximam da super- proteínas, além de outros componentes necessários
fície, se diferenciam, se tornam achatadas e passam a para a morte programada das células e a formação
fabricar e a acumular dentro de si quantidades cres- da barreira superficial impermeável à água, como
centes de queratina, uma proteína resistente e imper- involucrina, queratolinina, pancornulinas e loricrina.
meável, integrante da pele, dos cabelos e das unhas. ƒƒ Estrato lúcido: zona de células achatadas, sem nú-
As células mais superficiais, ao se tornarem repletas de cleo, com aspecto homogêneo e translúcido, eosi-
queratina, perdem o núcleo e passam a constituir um nofílico. Apresenta na sua constituição a eleidina,
revestimento resistente ao atrito e altamente imper- substância gelatinosa que impede a entrada e saída
meável à água, denominado camada queratinizada ou de água e que, posteriormente, vai originar a quera-
camada córnea. O tempo de maturação de uma célula tina. Esse estrato é muito fino, podendo mesmo não
basal até atingir a camada córnea é de, aproximada- existir em algumas áreas. Normalmente, está pre-
mente, 26 a 28 dias. sente na pele com folículos pilosos ausentes, como
A superfície da epiderme é relativamente plana, as palmas e plantas.
com exceção das áreas de dobras cutâneas, submetidas ƒƒ Estrato córneo: é a camada mais superficial da pele.
a extensões e contrações. É marcada por uma rede de Sua espessura é variável de acordo com a topogra-
sulcos que a dividem em pequenos polígonos, corres- fia anatômica, sendo maior nas palmas e plantas.
pondentes às áreas de elevação da epiderme pelas pa- As células dessa camada correspondem ao estágio
pilas dérmicas. A base da epiderme é sinuosa, formada final de diferenciação celular. São células eosinofíli-
por cones epidérmicos que se projetam na derme e se
encontram intercalados com projeções digitiformes da
derme denominadas papilas. Essa disposição confere Camada córnea
grande adesão da epiderme à derme e maior superfí-
cie de contato entre elas, permitindo uma área eficaz de
troca entre esses dois componentes. À epiderme, che-
Camada lúdica
gam terminações nervosas minúsculas da dor, porém,
não existem nervos nem vasos sanguíneos. Os nutrien-
tes e o oxigênio alcançam a epiderme por difusão, a par- Camada granulosa
tir dos vasos sanguíneos da derme.
ƒƒ Camada basal (estrato germinativo): é a camada de
células mais interna, em contato com a derme, sendo
constituída por células de forma cúbica que se mul- Camada espinhosa
tiplicam continuamente, dando origem a todas as
outras camadas. As células da camada basal (querati-
nócitos) são cilíndricas, com citoplasma basófilo e nú-
cleos grandes, alongados, ovais e hipercromáticos, em
contínua divisão mitótica. Estão dispostas lado a lado Camada germinativa
em paliçada, e são ligadas à derme por finos prolon- ou Basal
gamentos radiculares, originando a membrana basal.
ƒƒ Camada espinhosa (estrato de Malpighi): está aci-
ma da camada basal, sendo formada por 5 a 10 ca-
madas de células poliédricas que vão se tornando
achatadas à medida que se aproximam da superfície. Figura 2.2  Camadas da epiderme.

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CAPÍTULO 2 noções de anatomia e histologia da pele 11

cas, anucleadas, e possuem um sistema de filamen- olhos (epitélio pigmentar retiniano, íris e coroide),
tos de queratina imerso em uma matriz contínua, ouvidos (estrias vasculares), sistema nervoso central
circundada por uma membrana celular espessada. (leptomeninges). Na pele, localizam-se na camada
Encontram-se achatadas e empilhadas umas sobre basal da epiderme e, por vezes, na derme. Seus den-
as outras, descamando continuamente. A queratina dritos estendem-se por longas distâncias na camada
é a proteína de suporte desta camada, conferindo- malpighiana da epiderme, estando em contato com
-lhe elasticidade, resistência e impermeabilidade. muitos queratinócitos, para os quais transfere seus
Resulta da transformação dos elementos constitu- melanossomas. O melanócito e os queratinócitos
tivos da célula basal ao longo da sua migração em com os quais se relaciona constituem as unidades
direção à superfície. No decorrer da sua migração, epidermomelânicas da pele, numa proporção de 1
as células sintetizam elementos estruturais específi- para 36, respectivamente (Figura 2.4).
cos, de natureza proteica (tonofilamentos, querato- ƒƒ Células de Merkel: são receptores sensoriais que se
-hialina) ou lipídicas (corpos lamelares de Odland). dispõem entre os queratinócitos, encontradas nas
No final da diferenciação, estas células sofrem uma extremidades distais dos dedos, lábios, gengivas e
fase de transição que as leva à morte e as transfor- bainha externa dos folículos pilosos. São células de
ma nos constituintes da camada córnea em esfolia- origem controversa. Alguns acreditam na sua origem
ção superficial.
Os corpos de Odland libertam seus lipídios no es-
Camada
paço intercelular, constituindo uma barreira contra a granulosa
perda de água. Cada célula ainda possui substâncias
higroscópicas e hidrossolúveis, resíduos da lise celular Lamina densa
(NMF – Natural Moisturizing Factors), que também
Ceratinócitos
são importantes na hidratação cutânea. A elasticida-
de, a flexibilidade e a resistência desta camada podem Células de
ser modificadas segundo o seu teor de água. Langerhans
Intercalados entre os queratinócitos, há outros
tipos celulares, como os melanócitos, as células de
Langerhans e as células de Merkel.
ƒƒ Melanócitos: são células dendríticas de origem neu-
roectodérmica (crista neural) que, por meio de estru-
turas intracitoplasmáticas específicas denominadas
melanossomas, sintetizam e armazenam a melanina,
um pigmento que determina a cor da pele e absorve Célula de
Melanócitos
a radiação ultravioleta. Ela é sintetizada a partir da Merkel
tirosina, cuja enzima responsável é a tirosinase, que
catalisa a reação da melanogênese (Figura 2.3)
Os melanócitos distribuem-se em diversos locais Figura 2.4  Disposição dos melanócitos na epiderme e sua inte-
do corpo humano: pele, mucosas, matriz dos pelos, ração com os ceratinócitos.

Tirosinase Tirosinase
Tirosina DOPA Dopaquinona Leucodopacromo
O2

Tirosina- Indol 5,6 Zn


5,6-diidroxindrol Dopacromo
melanina quinona

+
Proteína

Melanoproteína Melanina

Figura 2.3  Melanogênese.

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12 DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA

neuroendócrina, pois apresentam grânulos intraci- que serve de suporte para extensas redes vasculares e
toplasmáticos com substâncias neurotransmissoras nervosas e anexos cutâneos que derivam da epiderme.
e estão em contato íntimo com fibras nervosas da Os principais componentes da derme incluem o colá-
derme, constituindo os discos de Merkel, que prova- geno (70% a 80%), que confere a resistência; a elastina
velmente são mecanorreceptores. (1% a 3%), que dá a elasticidade; e os proteoglicanos,
ƒƒ Células de Langerhans: são células dendríticas ori- que constituem a substância amorfa em torno das fibras
ginadas na medula óssea a partir de células-tronco colágenas e elásticas; além de fibras proteicas, fibras de
hematopoiéticas que migram e se tornam residentes reticulina, vasos sanguíneos e linfáticos, terminações
na epiderme. Constituem de 2% a 8% das células da nervosas, órgãos sensoriais, folículos pilosos e glândulas
epiderme e localizam-se na camada espinhosa. Têm sudoríparas e sebáceas.
função imunológica, como células apresentadoras Todo esse conjunto está envolvido pela substância
de antígenos aos linfócitos T. fundamental, que contém, ainda, vários tipos celulares
A morfologia das células de Langerhans depende como fibroblastos, macrófagos, melanófagos, mastóci-
do seu estágio de maturação. A forma madura ca- tos, leucócitos (como neutrófilos, eosinófilos, linfócitos,
racteriza-se pelo aspecto irregular, estrelado e com monócitos e plasmócitos), linfócitos T e células dendrí-
prolongamentos citoplasmáticos longos e delgados, ticas, envolvidas com a defesa imunológica da pele. As
enquanto a forma imatura ou alterada apresenta-se fibras e a substância fundamental são produzidas pelos
mais regular, com aspecto arredondado com prolon- fibroblastos, as principais células da derme.
gamentos ausentes ou em pequena quantidade. Na A derme é dividida estruturalmente em camadas: a
microscopia eletrônica, são caracterizadas por es- derme papilar (superficial), a derme reticular (profunda)
truturas citoplasmáticas, denominadas grânulos de e a derme perianexial.
Birbeck, que se assemelham a uma raquete de tênis. A derme papilar acompanha a camada basal, é mais
A epiderme penetra na derme e origina os folícu- delgada, altamente vascularizada e preenche as conca-
los pilosos, as glândulas sebáceas e sudoríparas. vidades entre as cristas epidérmicas, dando origem às
papilas dérmicas. É formada por feixes delicados de fi-
Junção dermo-epidérmica bras colágenas (principalmente do tipo III) e elásticas,
É uma zona de junção entre a epiderme e a derme, a dispostas em uma rede frouxa, circundada por abun-
qual permite que essas duas camadas estejam correta- dante gel de mucopolissacarídeos. Na derme papilar,
as fibras colágenas e elásticas estão orientadas vertical-
mente ancoradas. As células da camada basal da epider-
mente e a substância fundamental é mais abundante do
me repousam sobre uma estrutura chamada membrana
que na derme reticular, porém, menos espessa, rica em
basal e estão fixas por intermédio de hemidesmosso-
tecido conjuntivo frouxo e fibroblastos, além de vasos
mas e de fibras de fixação. A zona da membrana basal
sanguíneos de menor espessura e calibre.
é constituída por quatro áreas distintas: a membrana
A derme reticular representa 4/5 da espessura da
celular da célula basal; a lâmina lúcida, sob a membrana
derme, estando localizada abaixo do nível das cristas
plasmática dos queratinócitos basais, com seus hemi-
epidérmicas. É constituída de fibras colágenas espessas
desmossomos; a lâmina densa, formada por colágeno
(principalmente do tipo I) entrelaçadas, com direção pa-
tipo IV; e a lâmina fibrorreticular, que tem continuidade
ralela à epiderme, misturadas com fibras elásticas, dis-
com a derme subjacente.
postas paralelamente à superfície da pele, reunidas com
A função da zona da membrana basal é fornecer a
a substância fundamental.
ancoragem e a adesão da epiderme com a derme, man-
A derme perianexial tem a mesma estrutura da derme
tendo a permeabilidade nas trocas entre estes dois com-
papilar, mas localiza-se em torno dos anexos cutâneos.
ponentes e atuando como filtro para a transferência de
materiais e células inflamatórias ou neoplásicas. Tem du- ƒƒ Vascularização: na derme, se localizam os vasos san-
pla função, desempenhando papel de barreira e filtro. É guíneos e linfáticos que vascularizam a epiderme. O
uma barreira seletiva que permite a passagem de nutrien- suprimento vascular da pele é limitado à derme e
tes da derme para as células da epiderme, mas, no senti- constitui-se de um plexo profundo, em conexão com
do inverso (da epiderme para a derme), tudo o que entra um plexo superficial. Estes plexos correm paralelos à
em contato com a epiderme e que poderia atravessá-la, superfície cutânea e estão ligados por vasos comuni-
encontra nela uma barreira dificilmente transponível. cantes dispostos perpendicularmente.
O plexo superficial situa-se na porção superficial
  DERME da derme reticular, com arteríolas pequenas das
quais partem alças capilares que ascendem até o
A derme está localizada sob a epiderme e apresenta es- topo de cada papila dérmica e retornam como capi-
pessura variável de 0,3 a 3 milímetros, de acordo com lares venosos.
a região do corpo. É um tecido de sustentação da epi- O plexo profundo localiza-se na base da derme
derme, formado por um denso estroma fibroelástico de reticular e é composto por arteríolas e vênulas de
tecido conectivo, em meio à substância fundamental, paredes mais espessas. Há uma ligação íntima en-

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tre os plexos por meio dos vasos comunicantes, e o com células acessórias. Localizam-se nas polpas
controle do fluxo sanguíneo dérmico por esses vasos dos dedos, mais especificamente nas saliências
contribui para o controle da temperatura corpórea. das impressões digitais.
ƒƒ Inervação: a inervação da pele é abundante e consti- ŒŒ corpúsculos de Krause: específicos para o frio. São
tuída por nervos motores autonômicos e por nervos formados por uma fibra nervosa com terminação em
sensoriais somáticos. forma de clava. Estão localizados nas áreas de tran-
O sistema autonômico é composto por fibras sim- sição entre a pele e as mucosas (lábios e genitais).
páticas, sendo responsável pela piloereção, constri- ŒŒ corpúsculos de Ruffini: são sensíveis ao calor. Têm
ção da vasculatura cutânea e secreção de suor. As forma ramificada.
fibras que inervam as glândulas écrinas são simpáti- ŒŒ discos de Merkel: promovem a sensibilidade tátil e
cas, mas têm como neurotransmissor a acetilcolina. de pressão. Uma fibra aferente está ramificada com
O sistema somático é responsável pelas sensa- vários discos terminais, englobados em uma célu-
ções de dor, prurido, tato suave, tato discriminati- la especializada (célula de Merkel), cuja superfície
vo, pressão, vibração, propriocepção e térmica. Os distal se fixa às células epidérmicas (queratinócitos)
nervos sensitivos têm receptores especializados di- por um prolongamento de seu protoplasma. Assim,
vididos funcionalmente em mecanorreceptores, ter- os movimentos de pressão e tração sobre a epider-
morreceptores e nociceptores. me desencadeiam o estímulo.
Morfologicamente, estes receptores podem cons- ŒŒ terminações nervosas livres: receptores despro-
tituir estruturas especializadas, como: vidos de características estruturais específicas.
ŒŒ corpúsculos de Vater-Pacini: específicos para São sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos
pressão e vibração. São formados por fibra ner- e especialmente aos dolorosos, sendo responsá-
vosa cuja porção terminal, amielínica, é envolta veis pela sensibilidade à dor, ao prurido e à tem-
por várias camadas que correspondem a diversas peratura. São formadas por um axônio ramificado
células de sustentação. A camada terminal é capaz envolto por células de Schwann, e ambos são en-
de captar a aplicação de pressão, que é transmiti- volvidos por uma membrana basal (Figura 2.5).
da para as outras camadas e enviada aos centros
nervosos correspondentes. Localizam-se, princi-   HIPODERME
palmente, nas regiões palmoplantares.
ŒŒ corpúsculos de Meissner: específicos para o tato, A hipoderme (do grego hipo = abaixo; derma = pele), tam-
com função de detecção de pressões de frequên- bém denominada de tecido celular subcutâneo ou panícu-
cia diferente. São formados por um axônio mielí- lo adiposo, é a camada mais profunda da pele, localizada
nico, cujas ramificações terminais se entrelaçam abaixo da derme e unindo-a à fáscia muscular subjacente.

Pele glabra Pele com pêlo

Epiderme

Terminação nervosa livre

Limite epiderme-derme

Derme Disco de Merkel

Corpúsculo de Meissner

Receptor do folículo piloso

Corpúsculo de Pacini

Corpúsculo de Ruffini

Figura 2.5  Receptores sensitivos especializados.

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14 DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA

É um tecido complexo constituído por adipócitos, as terminal, mais grosso, escuro e longo, encontrado nas
células especializadas no armazenamento de gordura. axilas, nos cabelos, na barba e na região púbica.
A hipoderme atua como reserva energética, proteção Os pelos não crescem continuamente, mas de ma-
contra choques mecânicos e isolante térmico. Está or- neira cíclica, podendo-se identificar três fases distintas:
ganizada em lóbulos de gordura divididos por septos fi- ƒƒ anágena: fase de crescimento ativo, com duração de
brosos compostos de colágeno, por onde correm vasos 2 a 3 anos e corresponde a 85% dos cabelos;
sanguíneos, linfáticos e nervos. ƒƒ catágena: fase de involução, com duração de 3 se-
Duas camadas podem ser detectadas: manas e corresponde a 1% dos cabelos;
ƒƒ Camada areolar: é a mais superficial, caracterizada ƒƒ telógena: fase de queda, com duração de 3 a 4 meses
por adipócitos globulares e volumosos e numerosos e corresponde a 14% dos cabelos (Figuras 2.6 A e B).
e delicados vasos.
ƒƒ Camada lamelar: mais profunda, apresentando au-
Glândulas sebáceas
mento da espessura com ganho de peso (hiperplasia). São glândulas holócrinas, cuja função é produzir o sebo.
Ocorrem por toda a pele, exceto palmas e plantas, e seu
Essas duas camadas são separadas pela lâmina fibrosa. controle é hormonal, especialmente andrógeno.
Os vasos sanguíneos e linfáticos, os feixes nervosos e os O sebo é uma combinação de ésteres de cera, esqua-
folículos pilosos também atravessam a hipoderme. Abai- leno, ésteres de colesterol e triglicérides, secretados por
xo do tecido subcutâneo encontra-se a fáscia muscular. meio do ducto sebáceo na luz do folículo piloso. Recobre
As principais funções da hipoderme são: reservató- a superfície cutânea, atuando como lubrificante natural
rio energético, isolante térmico, protetora contra cho- do pelo, além de evitar a perda de água pela camada
que mecânicos, modeladora da superfície corporal e córnea, proteger contra o excesso de água na superfície
fixadora dos órgãos. e ter ação bactericida e antifúngica.
A espessura e a consistência da hipoderme variam
individualmente e conforme as diferentes regiões do Glândulas sudoríparas écrinas
corpo. Nos mamilos, nádegas e abdome, a hipoderme é Derivam da epiderme e não pertencem à unidade pi-
mais espessa e mole. Nos calcanhares, palmas e fronte, lossebácea. Cada glândula é um túbulo simples com um
é menos espessa, menos fibrosa e menos elástica. segmento secretor enovelado, situado na derme, e um
ducto reto que se estende até a superfície da pele. São
  ANEXOS CUTÂNEOS inervadas por fibras simpáticas, mas têm a acetilcolina
como mediador.
Unidade pilossebácea Localizam-se em toda a superfície cutânea, exceto
lábios, leitos ungueais e glande. Participam da termor-
As unidades pilossebáceas são encontradas em toda a regulação, produzindo suor hipotônico que evapora du-
superfície da pele, exceto nas palmas, plantas, nos lá- rante o calor ou estresse emocional.
bios e na glande.
São compostas por uma haste pilosa circundada por Glândulas sudoríparas apócrinas
uma bainha epitelial contínua com a epiderme, uma glân-
Derivam da epiderme e fazem parte da unidade pilos-
dula sebácea responsável pela lubrificação do pelo, mús-
sebácea, desembocando, em geral, nos folículos pilo-
culo eretor que permite a movimentação do pelo e, em sos. Localizam-se nas axilas, no escroto, no prepúcio,
certas regiões, ducto excretor de uma glândula apócrina nos pequenos lábios, nos mamilos e na região perineal,
que desemboca acima da glândula sebácea. além de, modificadamente, nas pálpebras (glândulas de
O pelo é constituído por células epidérmicas querati- Moll), nas mamas (glândulas mamárias) e no conduto
nizadas mortas e compactadas. Sua haste é composta por auditivo externo (glândulas ceruminosas). Produzem se-
cutícula externa, córtex intermediário e medula. A bainha creção viscosa e leitosa, constituída de proteínas, açúca-
epitelial da raiz divide-se em bainhas radiculares externas res, amônio e ácidos graxos. O suor apócrino é inodoro
e internas. A externa dá continuidade às células da camada quando atinge a superfície, mas as bactérias o decom-
espinhosa da epiderme superficial e a interna é formada põem, causando odor desagradável. São inervadas por
por três camadas celulares distintas: camada de Henle, ca- fibras nervosas simpáticas e estão sob o controle dos
mada de Huxley e cutícula, formada por escamas que se hormônios sexuais. Sua função provavelmente repre-
entrelaçam com as escamas da cutícula do pelo. senta vestígios de espécies inferiores, cuja comunicação
Na porção mais inferior do folículo piloso, há uma ex- sexual se dá por meio de substâncias químicas.
pansão denominada bulbo piloso, que contém a matriz
do pelo. É na matriz que ocorre a atividade mitótica e Unhas
encontram-se os melanócitos, sendo, portanto, respon- São placas córneas, constituídas por células epidérmicas
sável pelo crescimento e pela pigmentação do pelo. queratinizadas, mortas e compactadas, localizadas no dor-
Há dois tipos de pelo: o lanugo ou pelo fetal, curto, so das falanges distais dos quirodáctilos e pododáctilos (Fi-
delicado e claro, idêntico aos pelos velus do adulto; e o gura 2.7). São compostas por quatro partes:

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CAPÍTULO 2 noções de anatomia e histologia da pele 15

1. Matriz: parte proximal recoberta por prega de pele 4. Borda livre.


(prega ungueal proximal); No leito ungueal, a epiderme apresenta somente a
2. Lâmina ungueal: aderida sobre o leito ungueal; camada basal, que se torna opaca na sua parte proximal,
3. Dobras laterais: cobrem as bordas laterais da lâmina formando a lúnula. A matriz apresenta intensa atividade
ungueal; proliferativa e é responsável pelo crescimento da unha.

  B
 A
Medula
Córtex
Cutícula

Glândula
sebácea

Epiderme
Músculo Músculo
Haste do pêlo eretor do eretor
pêlo do pêlo
Derme

Bulbo Glândulas
cebáceas
Bulbo
Camada subcutãnea
Papila
Células adiposas

Figura 2.6  (A) Unidade pilossebácea; (B) Haste do pelo.

Borda livre
Corpo da unha
Lúmula

Campoungueal
ungueal Prega ungueal proximal
Campo
Campo ungueal Eponíquio

Placa ungueal

  A   B
  C

Prega ungueal lateral Leito ungueal


Placa ungueal

Figura 2.7  Estrutura anatômica da unha.

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16 DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA

Bibliografia

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