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3/14/2019 Documento sem título - Documentos Google

No  que  diz respeito à Roma antiga, não sabemos se deixou, de fato, contribuições importantes 


à  música  ocidental,  uma  vez  que  se  embasou  muito na cultura grega. No entanto, podemos ressaltar o 
papel  importante  que a música exercia na religião, no exército e no teatro; além de que a familiaridade 
com  termos  musicais  fazia  parte  da  educação  do  indivíduo  culto,  sendo  de  suma  importância  para  a 
sua  formação.  É  notório,  também,  o  renome  possuído  pelos  virtuosos,  além  da  existência  de  grandes 
coros  e  orquestras,  assim  como  grandiosos  festivais  e  concursos  de  música.  Porém,  conforme  o 
império  declinou  economicamente,  as  grandes  produções  musicais,  que  de  fato  eram  muito  caras, 
também acabaram por desaparecer. 
A  Idade  Média  levou,  do mundo Antigo, algumas ideias fundamentais no domínio da música: 
(1)  música  consiste  em  uma  linha  melódica  pura  e  despojada;  (2)  melodia  intimamente  ligada  às 
palavras;  (3)  interpretação  musical  baseada  na  improvisação,  sem  notação  fixa;  (4)  música  não  é 
apenas  um  conjunto de belos sons, mas uma força capaz de alterar o caráter do homem; (5) uma teoria 
acústica  cientificamente  fundamentada;  (6)  um  sistema  de  formação  de  escalas  com  base  nos 
tetracordes;  (7)  uma  terminologia  musical.  Parte  desta  herança  era  especificamente  grega;  o resto era 
comum  ao  mundo  antigo  como  um  todo.  Esses  conhecimentos  foram  transmitidos  ao  Ocidente  por 
meio  da  Igreja,  os  escritos  dos  padres  e  os tratados enciclopédicos do início da Idade Média (os quais 
abordavam a música juntamente com outros temas). 
À  medida  que  a  igreja  cristã  primitiva  se  expandia  de  Jerusalém  para  a  Ásia  Menor  e  para  o 
Ocidente,  chegando  à  África  e  à  Europa,  ia  acumulando  elementos  musicais  advindos  de  diversas 
zonas.  Os  mosteiros  e  igrejas  da  Síria  tiveram  um  papel importante no desenvolvimento do canto dos 
salmos e dos hinos, sendo o canto destes a primeira atividade musical documentada da igreja cristã. 
Já  seguindo  para  prática  musical  bizantina,  sabemos  que  deixou  marcas  no  cantochão 
ocidental,  particularmente  na  classificação  do  repertório  em  oito  modos  e  em  alguns  cânticos 
importados  pelo Ocidente em momentos diversos entre o século VI e o século IX. As bases do sistema 
ocidental  de  modos  parecem  ter  sido  importadas  do  Oriente,  embora  a  elaboração  teórica  do  sistema 
de  oito  modos  do  Ocidente  tenha  sido  fortemente  influenciada pela teoria musical grega, tal como foi 
transmitida por Boécio. 
É  importante  ressaltar  que  inicialmente  as  igrejas  locais  tinham  determinada  independência. 
Elas  possuíam,  sim,  práticas  comuns,  mas  é  provável  que  cada  região  do  Ocidente  tenha  recebido  a 
herança  oriental  de  forma  ligeiramente  diferente;  contudo,  com  o  passar  do  tempo,  a  maioria  das 
versões  locais  (a  ambrosiana  é  uma  das  excepções)  desapareceram  ou  foram  absorvidas  pela  prática 
uniforme  vinda  de  Roma.  Em  suma,  praticamente  todo  o  corpo  do  cantochão,  tal  como  hoje  o 
conhecemos,  provém  de  fontes  francas,  que,  provavelmente,  se  basearam  em  versões  romanas,  com 
acrescentos e correções feitos por escribas e músicos locais.  

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Em  313  o  imperador  Constantino  concedeu  aos  cristãos  os  mesmos  direitos  e  a  mesma 
proteção  que  aos  praticantes  das  outras  religiões  do  império;  o  que  permitiu  o  crescimento  da  igreja 
sem  esconderijos.  Com  um  número  crescente  de  convertidos  e  riquezas  cada  vez  maiores,  a  Igreja 
começou  a  construir  grandes basílicas, e os serviços precisaram tomar um caráter mais formal. Assim, 
muitos  papas  se  empenharam  na revisão da liturgia e da música. No século V já existia em Roma uma 
schola  cantorum ,  para  a  formação  de  rapazes  e  homens  para  músicos  de  igreja.  No  século  VI existia 
um  coro,  e  atribui­se  a  Gregório  I  (Gregório  Magno),  papa  de  590  a  604,  um  esforço  de 
regulamentação  e  uniformização  dos  cânticos  litúrgicos.  As  realizações  de  Gregório  foram  tão 
admiradas  que  em  meados  do  século  IX  começaram  a  espalhar­se  rumores  de  que  ele  teria,  sob 
inspiração  divina,  escrito  todas  as  melodias  usadas  pela  Igreja.  No  entanto,  apesar  de  importante, ele 
contribuiu  bem  menos  do que diziam, uma vez que uma obra tão grande não poderia ter sido realizada 
em apenas quatorze anos. 
É  importante  ressaltar  a  convicção  dos  Padres  da  Igreja  de  que  o  valor  da  música  residia  no 
seu  poder  de  elevar  a  alma  às  coisas  divinas.  Eles  sabiam  que  o  som  era,  sim,  agradável,  mas 
defendiam  que  as  belezas  aparentes  do  mundo  que  apenas  inspiram  o  deleite  egoísta,  ou  o  desejo  de 
posse,  devem  ser  rejeitadas.  E  por  não  acreditarem  que  música  sem  letra  pudesse  ter  essa  aura  do 
divino,  excluíram,  a  princípio,  a  música  instrumental  do  culto  público,  embora  fosse  permitido  aos 
fiéis  usar  uma  lira  para  acompanharem  o  canto  dos  hinos  e  dos  salmos  em  suas  casas  e  em  reuniões 
informais. 
Boécio  foi  a  autoridade  mais  respeitada  e  mais  influente  na  Idade  Média  no  domínio  da 
música.  O  seu  tratado  era  um  compêndio  de  música  servia  inclusive  de  preparação  para  o  estudo da 
filosofia.  Pouca  coisa  neste  tratado,  no  entanto,  era  fruto  do  próprio  Boécio,  pois  tratava­se  de  uma 
compilação  das  fontes  gregas  de  que  dispunha.  Porém,  os  leitores  medievais  compreenderam  que  a 
autoridade  da  teoria  musical  e  da  matemática  gregas  estava  naquilo  que  Boécio  dizia  sobre  estes 
temas.  A  mensagem  que  a  maioria  dos  leitores  apreendiam  era  que  a  música  era  uma  ciência  do 
número  e  que  os  quocientes  numéricos  determinavam  os  intervalos  admitidos  na  melodia,  as 
consonâncias,  a  composição  das  escalas  e  a  afinação  dos  instrumentos  e  das  vozes.  Na  parte  mais 
original  do  livro,  os  capítulos  de  abertura,  Boécio  divide  a  música  em  três  géneros: música mundana 
(“música  cósmica”),  as  relações  numéricas  fixas  que  temos  no  movimento  dos  planetas,  na  sucessão 
das  estações  e  nos  elementos,  ou  seja,  a  harmonia no macrocosmos; música humana, a que determina 
a  união  do  corpo e da alma e das respectivas partes, o microcosmos; e música instrumental, ou música 
audível produzida por instrumentos, incluindo a voz humana. 
Ao  colocar  a  música  instrumental  em  terceiro  lugar  (sendo  vista,  assim,  como  a  categoria 
menos  importante),  Boécio  mostrava  bem  que,  assim  como  seus  mentores,  concebia  a  música  mais 
como  um  objeto  de  conhecimento  do  que  como  uma  arte  criadora  ou  uma  forma  de  expressão  de 

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sentimentos.  Segundo  ele,  a  música  é  a  disciplina  que  se  ocupa  a  examinar  minuciosamente  a 
diversidade  dos  sons  agudos  e  graves  por  meio  da  razão  e  dos  sentidos.  Sendo  assim,  o  verdadeiro 
músico  não  é  o  cantor  ou  aquele  que faz canções por instinto sem conhecer o sentido daquilo que faz, 
mas  o  fdósofo,  o  crítico, aquele “que apresenta a faculdade de formular juízos, segundo a especulação 
ou  razão  apropriadas  à  música,  acerca  dos  modos  e  ritmos,  do gênero das canções, das consonâncias, 
de todas as coisas respeitantes ao assunto .  

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