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coelhofsp@uol.com.br (mailto:coelhofsp@uol.com.br)
RACISMO (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA-TOPICOS/RACISMO)
19.jan.2021 às 17h00
Lê-se muito pouco da sua obra para adultos. Lembro o conto “Negrinha”
(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/bruno-molinero/2019/11/quem-tem-medo-de-negrinha-de-monteiro-lobato.shtml),
No livro, o narrador da história começa falando mal dos Estados Unidos, mas
muda de opinião quando ouve de Jane, a bela filha de um cientista, o
seguinte argumento: “Que é a América, senão a feliz zona que desde o início
atraiu os elementos eugênicos das melhores raças europeias?”.
Ayrton, o narrador, observa que os Estados Unidos não tiveram tanta sorte
racial assim. “Entrou ainda, à força, arrancado da África, o negro.” Jane
concorda: “Entrou o negro e foi esse o único erro inicial cometido naquela
feliz composição”. Ayrton acha que o problema pode ser solucionado.
Ela contará a Ayrton o que vai acontecer nos Estados Unidos. Primeiro, a
população negra começará a crescer, enquanto os brancos praticam o
controle da natalidade. Mais que isso: graças ao ministério da eugenia,
decidiram matar os defeituosos de nascença e esterilizar os deficientes
mentais, os “tarados” etc.
Basta? Tem mais. Numa carta de 1928, Lobato diz que “um dia se fará justiça
ao Ku Klux (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/09/pinturas-dos-encapuzados-do-ku-klux-klan-detonam-
a-mais-nova-polemica-na-arte.shtml)Klan (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/09/pinturas-dos-encapuzados-
do-ku-klux-klan-detonam-a-mais-nova-polemica-na-arte.shtml);
tivéssemos aí uma defesa desta
ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste
da imprensa carioca —mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre
demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva”.
Não é o caso de censurar seus livros infantis. Mas também não há escândalo
em adaptá-los. Faz-se isso o tempo todo: “Moby Dick”
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/moby-dick-fala-sobre-o-odio-de-um-homem-a-sua-propria-
Mas não dá para ignorar, desculpar e fingir que não existe racismo em
Monteiro Lobato. Mais fácil perdoar o Trump.
Marcelo Coelho
Mestre em sociologia pela USP, é autor dos romances “Jantando com Melvin” e “Noturno”.
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ENDEREÇO DA PÁGINA
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelocoelho/2021/01/pode-ser-
chato-saber-disso-mas-monteiro-lobato-era-de-um-racismo-delirante.shtml