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Comentários 

sobre o texto The artist's reality. Philosophies of art. Escrito 
por Mark Rothko

O texto se aplica perfeitamente aos dias atuais e poderia, com excessão 
de  alguns  detalhes  mínimos,  ter  sido  escrito  em  2020.  A  visão  que  se 
tem de uma pessoa que é artista permanece através dos tempos:

A  ideia  do  artista  palerma  para  coisas  práticas,  infantil  e  irresponsável 


ingênuo,  que  vive  por  conta  de  preocupação  com  fantasias  etéreo.  E 
ainda é como se existissem inúmeras leis de compensação que afastam o 
ser artista das responsabilidades da vida real ‐ como se o fato de alguém 
se dedicar à arte ou ter talentos artísticos necessariamente trata‐se de o 
predispor  a  deficiências,  a  falta  de  virtudes  que  o  fariam se adaptar ao 
dito  mundo  real,  virtudes  que  não  poderiam  faltar  em  outros  homens, 
como capacidade intelectual de raciocínio e a conduta racional.

Por  outro  lado,  toda  gente  (não  importa  a  qual  área  de  estudos  ou 
trabalho  se  dedique)  sabe  exatamente  o  que  é  uma  boa  obra  e  como 
deve ser feita para encher barriga e salvar a alma do artista. 

O  texto  aponta  que  o  papel  de  tonto  e  louco  serviu  bem  em  tempos 
antigos, em tempos que a sociedade exigia que concepções de moral e 
verdade  fossem  representadas  por  artistas.  A  ideia  era  de  que  quem 
produz  arte,  ao  menos,  teria  que  simular  submissão  para  que  fosse 
permitida a prática de sua arte. E, se por um lado, a moralidade é como 
ponto  de  orientação  que  muda  de  lugar  para  lugar  e  de  minuto  a 
minuto, nenhuma palavra tem significado definitivo no que diz respeito à 
arte.  A  arte  é  ilimitada,  não  se  pode  imaginar  qual  será  o  futuro  dela  ‐
talvez  por  isso  os  filmes  futuristas  que  anunciam  futuros  tecnológicos, 
financeiros  e  sociais,  nunca  se  arriscam  a  dizer  qual  seria  a  arte  do 
futuro.  Sendo  assim,  moral  e  termos  que  enquadram  a  arte  não 
deveriam ser base para que se considerem preferências por certos tipos 

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de  arte  na  área  de  ensino,  que  na  maior  parte  das  vezes,  quando  no 
âmbito escolar, se restringe a artes visuais, música e, no máximo a artes 
cênicas.

Hoje em dia cada uma dessas premissas e a visão da sociedade sobre o 
artista  permanece.  Se  cada  ítem  desses  não  acontece,  o  artista  vai 
necessariamente  passar  fome.  E  mesmo  que  a  arte  seja  produzida 
conforme  a  visão  comum,  conforme  as  concepções  de  moral  da 
sociedade,  isso  não  quer  dizer  que  a  sociedade  não  considere  que  ele 
mereça ‐ e que provavelmente passará fome.Desde que decidi me tornar 
artista, o que mais ouço das pessoas ao declarar que me dedico á arte é 
que  "ao  menos  você  faz  o  que  gosta",  como  se  me  dedicar  á  arte 
necessariamente  fosse  não  ser  bem  sucedida  nos  moldes  da  sociedade 
(ou talvez me dedicar a arte necessariamente me levará á fome).

Segundo o autor do texto, a arte implica num sacrifício consciente e em 
muitas  épocas  a  arte  já  foi  sacrificada,  perseguida  e  proibida.  Homem 
tentou  alcançar  a  imortalidade  destruindo  e  construindo  obras  de  arte 
ao  longo  dos  séculos.  Definitivamente  a  arte  transtorna,  remove  e 
potencializa  as  emoções.  Talvez  a  história  da  arte  esteja  intimamente 
relacionada  á  história  das  emoções  humanas e  a  humanidade  parece 
despreparada  para  lidar  com  suas  emoções  (talvez  por  isso  não  exista 
uma história mundial das emoções).

Adorei  a  parte  do  texto  que  diz  que  para  imortalidade  artística  é 
necessário  produzir,  assim  como  para  imortalidade  biológica  é 
necessário  procriar.  Para  o  autor,  são  processos  inevitáveis.  Gostava 
muito de não precisar passar fome para produzir.

Isso me faz pensar que, na realidade, a maior parte (ou todos) os seres 
humanos nascem artistas. Mas são convencidos a não se dedicar á arte, 

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o  que  acaba  gerando  muitos  adultos  insatisfeitos  com  a  vida  que  tem 
(sem arte). Imagino que muitos casos de doenças mentais e alcoolismo 
não  existiriam  se  a  sociedade,  de  maneira  geral,  se  dedicasse  a 
atividades criativas e emocionantes. 

É senso comum que as pessoas muitas necessidades e que coisa séria é 
trabalhar e se dedicar a ter cada uma delas. A realidade seria viver para 
comprar e acumular. E que o artista, de alguma maneira, escapa foge a 
essa realidade.

Nações  e  pessoas  tem  feito  esforços  constantes  atras  dessa  realidade: 


passar  a  vida  adquirindo  ou  produzindo  enfeites  pertencentes  às 
necessidades físicas que são o centro da existência. Comprar mais, para 
um maior conforto, comprar uma casa maior para caber todo o acúmulo 
dessas coisas compradas. Ainda assim, é comum que justamente quem 
tem  as  necessidades  mais  saciadas  é  quem  normalmente  têm  mais 
problemas de saúde mental. É nas mais altas classes da sociedade, é nos 
países  onde  social  e  economicamente  as  pessoas  se  sentem  mais 
seguras, que se tem registro do maior número de suicídios. Os dados são 
consistentes e os números parecem apontar uma relação no sentido de 
que algo vital falta ás pessoas que tem tudo o que o dito "mundo real" 
pode  oferecer:  poder  de  compra,  saúde,  segurança,  estabilidade 
financeira, etc

Me  pergunto  o  que  será,  de  maneira  geral,  que  falta  a  essas  pessoas? 
Fico feliz de, mesmo achando a vida muito dura ás vezes e mesmo não 
possuindo  uma  casa  própria,  nenhuma  estabilidade  ou  segurança 
financeira,  tenho  sempre  enorme  força  e  vontade  de  lutar.  Viver  no 
mundo  dos  sonhos,  buscar  belezas  e  o  perseguir  o  mundo  onírico  da 
arte ‐ e a possibilidade de ser e fazer mais na arte ‐ parecem saciar várias 
das minhas fomes.

Ainda  segundo  Mark  Rothko,  a  arte  para  a  sociedade,  deve  abordar 


conteúdos específicos se não, é escapismo ou decadente. Considero que 

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pode  ser  positivo  escapar  de  uma  dita  realidade  que  faz  com  que 
milhares de pessoas se matem por ano ‐ isso sim é decadência enquanto 
sociedade.  E  também  a  desigualdade  social,  a  fome,  os  feminicídios  e 
outros  tipos  de  violência  em  relação  a  parcelas  específicas  dos  seres 
humanos.

Para  o  autor  quando  um  artista  produz  obras  ainda  que  só  para  si,  se 
beneficia a toda a sociedade . É imprevisível o quão longe pode chegar o 
efeito de um único impulso. Pode atingir a toda a sociedade. Essa ideia 
reforça  meu pensar de que todos deveriam ser incentivados a produzir 
algum tipo de arte. 

Pode  parecer  sonhar  alto  demais,  mas  almejo  que  minha  arte  possa 
atingir um dia um número enorme de pessoas. Mas meu sonho máximo 
é que, através da mensagem que eu passe, eu possa ser a parte que falta 
na asa de alguém. Como alguns artistas e sua arte se tornaram parte da 
minha asa. Vôo longe, acreditando tudo ser possível. E no aspecto desse 
sonho maior, não importa muito que um grande número de pessoas seja 
atingida e possa conheçer minha arte. O que importa mais é que ela seja 
apreciada pelas pessoas certas.

Hoana Bonito (Hoana Costa Gonçalves) Estudante de Mestrado nº47410 
da Universidade de Évora em 10 de Novembro de 2020

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