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O Jantar no Hotel Central

Durante o jantar, as conversas vão focar diversos aspectos da sociedade portuguesa:


atávico estado deplorável das finanças públicas, o eterno endividamento do país e a
consequente necessidade de reformas extremas e radicais, de que Ega é o defensor mais
convicto: “- Portugal não necessita reformas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão
espanhola (…) Sovados, humilhados, arrasados, escalavrados, tínhamos de fazer um
esforço desesperado para viver. (…) Sem monarquia, sem essa caterva de políticos, sem
esse toturio da inscrição, porque tudo desaparecia, estávamos novos em folha, limpos,
escarulados, como se nunca tivéssemos servido. E recomeçava-se uma história nova, um
outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando,
fazendo civilização, como outrora… Meninos, nada regenera uma nação como uma
medonha tareia… Oh! Deus de Ourique, manda-nos o Castelhano!” – Cap. VI.

O jantar é dominado pela contenda literário entre Ega e Alencar. Ega, defensor acérrimo
do naturalismo que o considerava como uma ciência (“A forma pura da arte naturalista
devia ser a monografia, o estudo seco de um tipo, de um vicio, de uma paixão, tal qual
como se se tratasse de um caso patológico sem pitoresco e sem estilo…”- Cap. VI)
Envolve-se em disputa verbal e física com Alencar, o protótipo de poeta ultra
romântico.

Alencar cuja aspecto físico era o de um romântico (“…muito alto, todo abotoado numa
sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encuvados, e sob o nariz aquilino,
longos, espeços, românticos bigodes grisalhos: já todo calvo na frente, os anéis fofos de
uma granja muito seca caiam-lhe inspiradamente sobre a gola: e em toda a sua pessoa
havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lugrube.”-Cap.VI) ataca ferozmente a
ideia nova, dirigindo o seu ódio contara o craveiro, o defensor da nova estética literária
e que se satirizara Alencar num já conhecido epigrama. A discussão literária
rapidamente cai nos ataques pessoais (“…desse craveirote da ideia nova, esse caloteiro,
que se não lembra que a porca da irmã e uma meretriz de doze vinténs em Marco de
Canaveses!”- Cap.VI), sublinhando-se, assim, a pouca credibilidade e seriedade da
critica literária em Portugal.

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