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Resumo do episódio
Carlos e Craft encontram-se no peristilo do Hotel Central, antes do jantar, quando vêem
chegar Maria Eduarda. Subiram até um gabinete, onde Carlos foi apresentado a Dâmaso,
este conhecia aquela mulher, pertencia à família Castro Gomes. Dâmaso falava sobre a
sua preferência por Paris, “aquilo é que é terra”, ele até lá tinha um tio, o tio Guimarães,
quando apareceu “o nosso poeta”, Tomás de Alencar. Por intermédio de Ega foi
apresentado a Carlos.
Pouco tempo depois, a porta abriu-se e Cohen desculpando-se pelo atraso foi
apresentado, por Ega, a Carlos.
Deu-se início ao jantar, com ostras e vinho, falava-se do crime da Mouraria, que “parecia a
Carlos merecer um estudo, um romance”. Isto levou a que se falasse do Realismo. Alencar
suplicou que se não discutisse “literatura «latrinária»”, [...] que se não mencionasse o
«excremento»”.
“Pobre Alencar!” Homem que tivera em tempos uma vida carregada de adultérios, tornava-
se agora num defensor da Moral, no entanto a sociedade não o ouvia, via-se apenas
confrontado com ideias absurdas defendidas pelos Naturalistas/Realistas.
Carlos posiciona-se na conversa contra o realismo. Ega reage às críticas e defende
arduamente os princípios do Realismo. Cohen mantinha-se superior a esta conversa,
vendo isto, Ega muda de assunto. “Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O
empréstimo faz-se ou não se faz?” ao que Cohen respondeu ser imprescindível, pois o
empréstimo constituía uma fonte de receita, aliás a “única ocupação mesmo dos
ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo».
Do ponto de vista de Carlos, assim o “país ia alegremente e lindamente para a
bancarrota”. Cohen concordava, mas isso era inevitável. Por oposição, Ega defende que o
que convinha a Portugal era uma revolução, para eliminar “a monarquia que lhe representa
o «calote», e com ela o crasso pessoal do constitucionalismo.”
Ega imbatível, aposta numa invasão espanhola, deste modo recomeçava-se “uma história
nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudado,
pensado e fazendo civilizações como outrora...”. Os restantes já planeavam a resistência,
porém Alencar era um “patriota è antiga”, totalmente contra esta ideia.
Esquecida a bancarrota, a invasão e a pátria, o jantar estava prestes a terminar, quando
Alencar e Ega entraram em conflituo a propósito da poesia moderna de Simão Craveiro.
Mas Cohen chama a atenção de Ega e ambos fazem as pazes e brindam com um copo de
champanhe, esquecendo o que aconteceu.
Terminou assim, com bom censo, o episódio do Jantar no Hotel Central!
Caracterização das personagens
Carlos da Maia
Apresenta-se pela primeira vez à sociedade, no entanto, distancia-se da conversa, apenas
comentando alguns aspectos. Afirma-se também como defensor das ideias românticas,
criticando que “o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos”, e
talvez, também um pouco patriota quando defende que “ninguém há-de fugir, e há-de-se
morrer bem”.
Craft
Eça identifica nesta personagem o “homem ideal”. Neste episódio pouco se sabe sobre
ele, apenas que é inglês, e como tal, pressupõe-se que recebera uma educação à inglesa.
Não tem muita importância na acção, quase não participa nas conversas, reage de forma
“impassível”, contudo é a favor da resistência aos espanhóis, quando concorda em
organizar uma guerrilha com Ega.
Dâmaso Salcede
Interveniente que representa os defeitos da sociedade. “Um rapaz baixote, gordo, frisado
como um noivo da província, de camélia ao peito e gravata azul-celeste”.
Procura aparentar um “ar de bom senso e de finura”, é considerado provinciano, tacanho e
apenas com uma preocupação, que seja “chique a valer”. Dá asas à sua vaidade e
futilidade falando dos pormenores das suas viagens e exibindo uma predilecção pelo
estrangeiro, “...é direitinho para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro...”.
Acompanha todos os movimentos de Carlos dando-lhe grande importância, de modo a que
possa imita-lo e assim assumir perante a sociedade um estatuto social digno e respeitável.
Jacob Cohen
Representante das Finanças, “respeitado director do Banco Nacional, marido da divina
Raquel”, homem de estatura baixa, “apurado, de olhos bonitos, suíças tão pretas e
luzidias” e com “bonitos dentes”. Neste jantar conheceu Carlos e destacou a posição
superior que toma perante a sociedade.
João da Ega
Personagem que mais intervêm no episódio do Hotel Central, acérrimo defensor das ideias
Naturalistas /Realistas, provocava o seu opositor, Alencar. Exagerado nos argumentos que
fundamentam as suas opiniões e na defesa das suas ideias revolucionárias. Advoga que “
à bancarrota seguia-se uma revolução” e que desta forma, Portugal seria um grande
beneficiário.
As posições tomadas por Ega, face aos temas discutidos, espelham e assimilam-se à
Geração Revolucionária de Coimbra. Pois, tais atitudes traduzem uma vontade insaciável
de modificar Portugal e torná-lo num país melhor, próprias desta geração.
Tomás de Alencar
Um “indivíduo muito alto, todo abotoado numa sobrecasaca preta, com uma face
escaveirada, olhos encovados”, nariz curvado, bigodes compridos, “calvo na frente”,
“dentes estragados” e “testa lívida”.
“Camarada”, “inseparável” e “íntimo” de Pedro da Maia, apresentado no jantar do Hotel
Central, a Carlos da Maia, o poeta possuía um ar “antiquado”, “artificial” e “lúgubre”.
Considerado um “gentleman”, “ generoso” e um “patriota à antiga”.
Alencar tivera antes de seguir o caminho da literatura uma vida “de adultérios, lubricidades
e orgias” .
Personagem que representa o típico poeta português, autor de “Vozes de Aurora”, “Elvira”,
“Segredo do Comendador” e outros.
Símbolo do Ultra-Romantismo. Contudo vê-se confrontado com os princípios
Naturalistas/Realistas defendidos por Ega.
Temas tratados
A literatura e a crítica literária
Quanto à Literatura e à crítica literária, houve uma grande discussão entre João da Ega,
que defendia o Naturalismo/Realismo e Tomás de Alencar que defendia o Ultra-
Romantismo.
Estes dois movimentos literários divergem frequentemente ao longo do jantar.
Finanças
A bancarrota é um dos assuntos polémicos, que critica de forma irónica o país.
Identificámos como principais intervenientes e que geram uma maior desordem (neste
assunto), João da Ega e Cohen.
História política
A Bancarrota é outro tema tratado neste jantar que também gerou alguma polémica, tendo
sido apresentada como solução a Invasão Espanhola. Ora esta invasão Espanhola iria ter
consequências em Portugal, entre as quais: a renovação de Portugal a vários níveis,
afastamento da Monarquia e a Implantação Da Republica.
Segundo Ega, uma invasão seria a solução para a bancarrota e deste modo Portugal sairia
revolucionado.
Aspectos criticados
Naturalismo/Realismo
Tomás de Alencar fora o principal e mais contínuo crítico deste tema. Vejamos algumas
dessas críticas:
Finanças
Este assunto espelha a crise financeira que o país passava nesta época (séc.XII). Eça
descreve-o de forma irónica através de Cohen, o representante das Finanças ao afirmar
que os “empréstimos em Portugal constituíam uma das fontes de receita, tão regular, tão
indispensável, tão sábida como o imposto”, aliás era «cobrar o imposto» e «fazer o
empréstimo» a única ocupação dos ministérios.
Desta forma concordavam que assim o país iria “alegremente e lindamente para a
bancarrota”. No entanto, Ega não aceitara baixar os braços e logo dera a solução
revolucionária para o problema de finanças que o país atravessava – a invasão
espanhola!.
História Política
Dada a sugestão perfeita para a bancarrota, Ega delira com a ideia e pretende “varrer a
monarquia” e o “crasso pessoal do constitucionalismo”.
A invasão espanhola leva Ega a criticar a raça portuguesa, afirma que esta é a mais
cobarde e miserável da Europa, “Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.” Todos
iriam fugir quando se encontrassem perante um soldado espanhol. A sociedade tinha
receio de perder a independência, mas só uma sociedade tão estúpida como a do Primeiro
de Dezembro pensaria que a invasão traria esta consequência.
Ega é a principal personagem que satiriza a história política, e isso pode ser confirmado ao
longo das conversas em que Ega discute este tema .
Conclusão
O Hotel Central é o cenário fulcral para o enredo desta obra.
Este local, reveste-se de especial interesse por ser onde Carlos vê Maria Eduarda pela
primeira vez e por ser aí que se realiza o Jantar, preparado por Ega, em honra de Cohen,
marido da amante de Ega. O ambiente do jantar torna-se pesado devido às críticas feitas à
situação política e financeira da altura e pela disputa entre Ega e Alencar, o primeiro
defende os princípios doutrinais literários do Naturalismo e o segundo do Romantismo.
Com este episódio da crónica de costumes, “O Jantar no Hotel Central”, o autor demonstra
a incoerência cultural do povo português e a decadência do país, recorrendo, pela voz de
João da Ega (seu alter ego), à bancarrota e à invasão espanhola como determinantes da
agitação revolucionária pois só assim haveria um reconhecimento da situação em que se
encontrava a nação e se faria algo para deter o clima decadente que se vivia em Portugal,
que na opinião de Ega correspondia ao afastamento total da Monarquia e à instalação da
República.
A crítica feita por Carlos à população, reforça a incoerência desta como o principal factor
condicionante do estado da nação. O comentário:“Esse mundo de fadistas, de faias,
parecia a Carlos merecer um estudo, um romance...” é reforçado com o de Dâmaso,
relativo à invasão espanhola, “Se as coisas chegassem a esse ponto, se se pusessem
assim feias, eu cá, à cautela, ia-me raspando para Paris...”. O antedito denota a cobardia,
a falta de cultura e a falta de civismo que dominava a sociedade.
A falta de personalidade também é bastante retratada neste episódio:
Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende;
Ega muda de opinião quando Cohen quer;
Dâmaso, cuja divida é «Sou forte», aponta o caminho fácil da fuga.