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Análise do Jantar no Hotel Central, capítulo VI – “Os Maias”

Espaço e tempo:
A maior parte da ação deste Jantar passa-se no Hotel Central. Este Hotel é apenas frequentado
pela alta sociedade lisboeta, mostrando que as personagens incluídas neste episodio pertencem à
elite portuguesa.
Em relação à decoração da sala, podemos encontrar no livro que estava decorada com “muita
flor, dois ananases para enfeitar a mesa”.
A ação passa-se num “dia de inverno”, numa segunda-feira, ao final da tarde (“a tarde morria”).
No final da discussão entre Ega e Alencar “eram onze horas”.
Carlos despede-se de Alencar em frente ao Ramalhete (“estava batendo uma hora”).

Resumo da ação:
Carlos e Craft encontram-se na entrada do Hotel Central, antes do jantar, quando vêem chegar
Maria Eduarda.
Sobem até um gabinete, onde Carlos foi apresentado a Dâmaso, e este conhecia aquela mulher,
Maria Eduarda, pertencia à família Castro Gomes. Dâmaso fala sobre a sua preferência por
Paris, afirmando que “aquilo é que é terra”, e que ele até lá tinha um tio, o tio Guimarães. Por
intermédio de Ega, Tomas de Alencar foi apresentado a Carlos.
Pouco tempo depois, a porta abriu-se e Cohen desculpa-se pelo atraso e é apresentado, por Ega,
a Carlos.
Deu-se início ao jantar, com ostras e vinho, enquanto se falava do crime da Mouraria, que
“parecia a Carlos merecer um estudo, um romance”. Isto levou a que se falasse do Realismo.
Alencar suplicou que se não discutisse “literatura «latrinária»”, [...] que se não mencionasse o
«excremento»”, no entanto a sociedade não o ouvia, via-se apenas confrontado com ideias
absurdas defendidas pelos Naturalistas/Realistas.
Carlos posiciona-se na conversa contra o realismo. Ega reage às críticas e defende os princípios
do Realismo. Cohen mantinha-se superior a esta conversa, e vendo isto, Ega muda de assunto.
“Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?” ao que
Cohen respondeu ser necessário, pois o empréstimo constituía uma fonte de receita, aliás a
“única ocupação mesmo dos ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo».
Do ponto de vista de Carlos, assim o “país ia alegremente e lindamente para a bancarrota”.
Cohen concordava, mas isso era inevitável. Por oposição, Ega defende que o que convinha a
Portugal era uma revolução, para eliminar “a monarquia”.
Ega aposta numa invasão espanhola, e que assim, deste modo recomeçava-se “uma história
nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudado, pensado e
fazendo civilizações como outrora...”. Os restantes já planeavam a resistência, porém Alencar
era um “patriota è antiga”, totalmente contra esta ideia.
Esquecida a bancarrota, a invasão e a pátria, o jantar estava prestes a terminar, quando Alencar e
Ega entraram em conflituo a propósito da poesia moderna de Simão Craveiro. Mas Cohen
chama a atenção de Ega e ambos fazem as pazes e brindam com um copo de champanhe,
esquecendo o que aconteceu.
Terminou assim, com bom senso, o episódio do Jantar no Hotel Central.

Temas discutidos no Jantar:


O primeiro tema discutido no Jantar foi a literatura e a crítica literária.
Quanto à Literatura e à crítica literária, houve uma grande discussão entre João da Ega, que
defendia o Naturalismo/Realismo e Tomás de Alencar que defendia o Ultrarromantismo.
Estes dois movimentos literários divergem frequentemente ao longo do jantar.
Seguidamente, é discutido o estado financeiro português. A bancarrota é um dos assuntos
polémicos, que critica de forma irónica o país. Identificámos como principais intervenientes e
que geram uma maior desordem (neste assunto), João da Ega e Cohen.
Finalmente, o último tema discutido é a história política, nomeadamente a bancarrota. A
Bancarrota é o tema tratado neste jantar que gerou alguma polémica, tendo sido apresentada
como solução a Invasão Espanhola, por Ega. Ora esta invasão espanhola iria ter consequências
em Portugal, entre as quais: a renovação de Portugal a vários níveis, afastamento da Monarquia
e a Implantação Da Republica.
Segundo Ega, uma invasão seria a solução para a bancarrota e deste modo Portugal sairia
revolucionado.

Personagens:
João da Ega é a personagem que mais intervêm no episódio do Hotel Central, defensor das
ideias Naturalistas /Realistas, que provocava o seu opositor, Alencar.
É bastante exagerado nos argumentos que fundamentam as suas opiniões e na defesa das suas
ideias revolucionárias. Defende que “à bancarrota seguia-se uma revolução” e que desta forma,
Portugal seria um grande beneficiário.
Por sua vez, Carlos da Maia apresenta-se pela primeira vez à sociedade, no entanto, distancia-se
da conversa, apenas comentando alguns aspetos. Afirma-se também como defensor das ideias
românticas, criticando que “o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares
científicos”, e é também um pouco patriota quando defende que “ninguém há-de fugir, e há-de-
se morrer bem”.
Já Craft, é identificado como o “homem ideal”. Neste episódio pouco se sabe sobre ele, apenas
que é inglês, e como tal, pressupõe-se que recebera uma educação à inglesa. Não tem muita
importância na acão, quase não participa nas conversas, reage de forma “impassível”, contudo é
a favor da resistência aos espanhóis, quando concorda em organizar uma revolução com Ega.
Tomás de Alencar é descrito como um “indivíduo muito alto, todo abotoado numa sobrecasaca
preta, com uma face escaveirada, olhos encovados”, nariz curvado, bigodes compridos, “calvo
na frente”, “dentes estragados” e “testa lívida”.
É apresentado no jantar do Hotel Central, a Carlos da Maia. Possuía um ar “antiquado”,
“artificial” e “lúgubre”. Considerado um “gentleman”, “generoso” e um “patriota à antiga”.
Esta personagem representa o típico poeta português, autor de “Vozes de Aurora”, “Elvira”,
“Segredo do Comendador” e outros.
É também o símbolo do Ultra-Romantismo. Contudo vê-se confrontado com os princípios
Naturalistas/Realistas defendidos por Ega.
Dâmaso Salcede é um Interveniente que representa os defeitos da sociedade. “Um rapaz
baixote, gordo, frisado como um noivo da província, de camélia ao peito e gravata azul-celeste”.
Procura aparentar um “ar de bom senso e de finura”, mas é considerado provinciano, e apenas
com uma preocupação, que seja “chique a valer”. Dá asas à sua vaidade e futilidade falando dos
pormenores das suas viagens e exibindo uma predileção pelo estrangeiro, “...é direitinho para
Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro...”. Acompanha todos os movimentos de
Carlos dando-lhe grande importância, de modo que possa imitá-lo e assim assumir perante a
sociedade um estatuto social digno e respeitável.
Finalmente, Jacob Cohen é representante das Finanças, “respeitado director do Banco Nacional,
marido da divina Raquel”, homem de estatura baixa, “apurado, de olhos bonitos, suíças tão
pretas e luzidias” e com “bonitos dentes”. Neste jantar conhece Carlos e destaca a posição
superior que toma perante a sociedade.

Críticas apontadas pelo autor:


Neste episódio, Eça de Queirós critica vários aspetos da sociedade portuguesa.
O Naturalismo/Realismo é o primeiro tema que o autor critica. Tomás de Alencar foi o principal
e mais contínuo crítico deste tema. Algumas dessas críticas que podemos destacar são:
- designa o realismo/naturalismo por: “literatura «latrinária»”; “excremento”; “pústula, pus”;
- culpabiliza o naturalismo de publicar “rudes análises” que se apoderam “da Igreja, da
Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas dissecando-as brutalmente e mostrando-lhes a
lesão”, e deste modo destrói a velhice de românticos com ele;
- acusa o naturalismo de ser uma ameaça ao pudor social ;
- crítica os verso de Craveiro e acusa-o de plágio, pois “numa simples estrofe dois erros de
gramática, um verso errado, e uma imagem roubada de Baudelaire!”.
Por sua vez, Carlos da Maia considera que “o mais intolerável no realismo era os seus grandes
ares científicos” e Ega apesar de defender o realismo concorda com esta crítica;
Pelo contrário, Craft desaprova completamente o realismo.

A segunda crítica apontada é as finanças de Portugal. Este assunto espelha a crise financeira que
o país passava nesta época (séc.XII).
Eça descreve-o de forma irónica através de Cohen, o representante das Finanças ao afirmar que
os “empréstimos em Portugal constituíam uma das fontes de receita, tão regular, tão
indispensável, tão sabida como o imposto”, aliás era «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo»
a única ocupação dos ministérios.
Desta forma concordavam que assim o país iria “alegremente e lindamente para a bancarrota”.
No entanto, Ega não aceita baixar os braços e dá a solução revolucionária para o problema de
finanças que o país atravessava – a invasão espanhola.

Finalmente, a terceira e última crítica apontada é em relação à história política.


Dada a sugestão perfeita para a bancarrota, Ega delira com a ideia e pretende “varrer a
monarquia”.
A invasão espanhola leva Ega a criticar a raça portuguesa, afirmando que esta é a mais cobarde
e miserável da Europa, “Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.” Todos iriam fugir
quando se encontrassem perante um soldado espanhol.
Ega é a principal personagem que satiriza a história política, e isso pode ser confirmado ao
longo das conversas em que Ega discute este tema.

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