Você está na página 1de 2

CAPÍTULO VI

Introdução

No âmbito do projeto de leitura, hoje vou apresentar o capítulo VI, da obra Os Maias,
um capítulo bastante rico, quer ao nível do desenvolvimento da narrativa, trazendo-
nos um acontecimento crucial, quer ao nível da crítica social, sendo o seu episódio
principal o jantar no Hotel Central.
No capítulo V, já instalados no Ramalhete, Afonso e Carlos organizam um serão e
convidam alguns amigos, notando-se a ausência de Ega. Esta ausência é
comentada pelos amigos, ficando o leitor a saber que se deve ao romance com
Raquel Cohen, caso de adultério.

Desenvolvimento:

Este capítulo inicia-se com a visita de Carlos, em surpresa, à Vila Balzac, chalet
decorado de forma original e exótica à medida do seu proprietário, Ega, que se
instalara recentemente. Carlos confessa ao amigo o seu desinteresse súbito pela
condessa de Gouvarinho, após a grande atração inicialmente sentida. Esta atitude
de Carlos era frequente para com as mulheres e os dois amigos conversavam sobre
o assunto, afirmando Ega que Carlos havia de “acabar numa tragédia infernal”.
Quando saem para jantar, cruzam-se com Craft, amigo de Ega, combinando
os três um jantar no dia seguinte, no Hotel Central, também com Alencar, Dâmaso e
Cohen, diretor do Banco Nacional.
No decorrer do jantar discutem-se diversos aspectos da sociedade
portuguesa: o estado deplorável das finanças públicas, o eterno endividamento do
país e a consequente necessidade de reformas extremas e radicais, de que Ega é o
defensor mais crítico.
Interrogado por Ega sobre um próximo empréstimo, Cohen afirma que este será feito
e que os empréstimos em Portugal constituíam uma das suas fontes de receita, “tão
sabida como o imposto”. Carlos intervém dizendo que o país está prestes a entrar
em "bancarrota", algo com que Cohen concorda com passividade.
O jantar é, contudo, dominado pela contenda literária entre Ega e Alencar.
Ega, defensor do Naturalismo que considerava como uma ciência, envolve-se em
disputa verbal e física com Alencar, o protótipo do poeta ultrarromântico.
A discussão rapidamente cai nos ataques pessoais, sublinhando-se assim, a pouca
credibilidade e seriedade da crítica literária em Portugal.

No final do capítulo, Carlos, já em sua casa, sonha com a mulher


deslumbrante, uma deusa, com quem se tinha cruzado no Hotel Central - “uma
senhora alta, loura, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o
esplendor da sua carnação ebúrnea”, sendo mais tarde dado a entender ao leitor
que esta mulher se tratava de Maria Eduarda.

Assim, através dos assuntos abordados durante o jantar, Eça de Queirós critica a
sociedade da sua época, enfatizando a crise financeira portuguesa que predominava
no final do século XIX e a falta de seriedade da aristocracia e alta classe no debate
literário.
Gostaria ainda de ler um excerto que demonstra uma outra crítica, feita pelo autor,
através do personagem de Ega. (Página 151 e 152)
Através deste pequeno excerto é demonstrada a crítica dirigida à falta de patriotismo
dos portugueses e a sua cobardia ao enfrentar os soldados espanhóis.
Neste capítulo estão ainda presentes diversos recursos expressivos, tais como:
Empréstimo- “(...)de amargo spleen “; “ o coupé parou”; ao primeiro rendez
vous(..)”
Utilização do Gerúndio- (...) a família Balzac que essa fantasia andara meditando e
dispondo..)”
Uso do diminutivo- (....) tinha uma cadelinha escocesa”
Ironia- está presente durante o jantar
Dupla adjetivação- “(...)”uma senhora alta, loira, com um véu muito apertado e
muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação ebúrnea”.

Conclusão
Em suma, considero que este capítulo é de grande importância para o desenrolar da
história, pois é nele que é proporcionado o primeiro encontro de Maria Eduarda e
Carlos, para além de que é no jantar do Hotel Central que Carlos tem a sua primeira
reunião social.

Você também pode gostar