A principal característica da civilidade é a capacidade de interagir com
estranhos sem utilizar essa estranheza contra eles e sem pressioná-los a abandoná- la ou a renunciar a alguns dos traços que os fazem estranhos. Se não se puder evitar o encontro com estranhos, pode-se pelo menos tentar evitar maior contato, porém, lugares “públicos, mas não civis” não impedem o encontro com estranhos; ao contrário, supõe-no. A cidade é “um assentamento humano em que estranhos têm chance de se encontrar”, ou seja, um lugar que garante a boa convivência entre estranhos. O encontro de estranhos, por sua vez, é um encontro sem passado – e potencialmente sem futuro – é um contato a partir do zero. A primeira categoria é representada pela praça La Défense, em Paris, em que o espaço é resguardado, fechado para passeios, nas costas de prédios imponentes e nada convidativo para que pedestres sentem em seus bancos. O espaço é público, mas não civil. Uma outra categoria de espaço público mas não civil serve aos indivíduos enquanto consumidores, são os shoppings, os cafés, as ruas de lojas de grife, os outlets, estes marcos do consumo que incentivam a ação, não a interação. As pessoas que se encontram nesses lugares não interagem entre si. “Não fale com estranhos” - outrora uma advertência de pais zelosos a seus pobres filhos – tornou-se o preceito estratégico da normalidade adulta. Esse preceito reafirma como regra de prudência a realidade de uma vida em que os estranhos são pessoas com quem nos recusamos a falar.