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Excertos de “A guerra dentro de nós”.

Vida e morte estão em guerra dentro de nós. Logo que nascemos, começamos a viver e também a
morrer.
Mesmo que não tenhamos a menor consciência disso, esta luta entre vida e morte se processa
dentro de nós inexoravelmente e sem piedade. Se por um acaso nos tornamos plenamente conscientes do
fato, não somente em nossa carne e em nossas emoções, mas sobretudo em nosso espírito, vemo-nos
envolvidos num terrível combate, numa agonia não de perguntas e respostas, mas de ser e de não-ser,
espírito e vazio. Nesta guerra, a mais terrível de todas, travada à beira do desespero infinito, chegamos a
entender que a vida é mais do que a recompensa para aquele que advinha corretamente uma “resposta”
secreta e espiritual, com a qual fica sorridentemente comprometido. É mais do que “encontrar paz de
espírito”, ou “resolver problemas espirituais”.
...
A plenitude da vida humana não pode ser medida por algo que só acontece ao corpo. A vida não
significa apenas vigor físico, saúde ou capacidade de se divertir. O que é a vida? É muito mais do que a
respiração das narinas, o sangue pulsando nas veias, uma resposta a estímulos físicos. É óbvio que todas
essas coisas são essenciais para uma vida plenamente humana, mas elas mesmas não constituem a vida
em toda sua plenitude. Uma pessoa pode ter tudo isso e, mesmo assim, ser um idiota. E alguém que
apenas respira, come, dorme e trabalha sem conscientização, sem objetivo e sem ideias próprias não é
realmente uma pessoa. A vida em seu sentido puramente físico é tão-somente a ausência da morte. Essas
pessoas não vivem, elas vegetam.
Para uma pessoa estar viva, deve praticar não só atos que são próprios da vida vegetativa e animal,
não deve apenas subsistir, crescer, ter sensações, mover-se, alimentar-se e descansar. Deve desempenhar
as atividades que são própria de seu tipo de vida especificamente humano. Deve, por assim dizer, pensar
inteligentemente. E, acima de tudo, deve orientar seus atos por decisões livres, realizadas à luz de seu
próprio pensamento. Mas essas decisões devem levar a um crescimento intelectual, moral e espiritual.
Devem leva-lo a ser mais consciente de suas capacidades de conhecimento e de ação livre. Deve expandir
e ampliar seu poder de amar os outros, de dedicar-se ao bem-estar deles: pois é nisso que a pessoa
encontra sua própria realização.
Numa palavra: para uma pessoa viver, deve tornar-se total, inteiramente viva. Deve ser total: em
seu corpo, em seus sentidos e sentimentos (grifo meu), em sua mente e em sua vontade.

(Merton, T. – O homem Novo – pags. 7-9)

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