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Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção de sentidos.

São Paulo: Contexto,


1997. p. 124.
Resenhado por Geiza da Silva Gimenes

É do lugar das teorias sócio-interacionais que Koch tratará as questões gerais


sobre a produção de sentido tanto no texto escrito quanto no texto falado, primeiramente, a
fim de, num segundo momento, deter-se na construção de sentido apenas neste último.
Nesse contexto, o texto será resultado de uma atividade cooperativa/interacional
entre sujeitos sociais, de modo a atingir determinados fins.
Assim, ao abordar os procedimentos gerais de construção de sentido, mobiliza
teorias cognitivas que consideram a linguagem como uma atividade humana voltada para
questões sociais, em que se articulam os aspectos da motivação, da finalidade e da realização.
Em seguida, no quadro da Lingüística Textual, a autora apresenta modelos
textuais de diversos estudiosos, entre eles Icenberg (1976), Van Dijk (anos 80), Schmidt
(1971), Beaugrande & Dressler (1981), Mostch & Pasch (1987), postulando que a atividade
de produção textual implica um sujeito (psico-físico-social) que em cooperação com outro(s)
sujeito(s) constróem o objeto-texto, o qual poderá ou não ser concebido como coeso e
coerente pelo sujeito-cooperador, dentro do contexto de interlocução e, portanto, sofrerá ou
não transformação por parte deste sujeito.
Ainda, no arcabouço da Lingüística Textual, observa que a concepção de texto
são as mais diversas, o que nos leva a considerar a posição da própria autora, a qual,
coadunando com Schmidt, define-o como uma manifestação verbal em que os sujeitos
participantes articulam elementos de ordem lingüística, através de estratégias cognitivas e
interacionais, de modo a atuar conforme as práticas socioculturais vigentes.
Sobre a organização da informação textual, a pesquisadora diz que esta distribui-
se em dois blocos: o dado e o novo. O primeiro contido no horizonte de consciência dos
interlocutores; o segundo, resultado do processamento sobre a informação dada para que o
texto progrida.
Assim, de acordo com Koch (p.25), um texto só existe quando os sujeitos que o
articulam imprimem sentido a ele. Afinal, o sentido não está no texto, mas se constrói a partir
dele, no curso de uma interação, em que se mobilizam sistemas de conhecimento lingüístico,
enciclopédico e interacional, por meio de estratégias cognitivas, textuais e sociointeracionais.
Deste modo, enquanto as estratégias de ordem cognitiva têm a função de permitir
ou facilitar o processamento textual, tanto no nível da produção quanto da compreensão, as
interacionais propiciam o contato, bem como mobilizam situações de polidez, de modo a
garantir a boa interação verbal. Já as estratégias textuais caracterizam-se pelas escolhas
textuais dos interlocutores, as quais produzem determinados efeitos de sentido. Entretanto,
isso só ocorre quando se articulam estratégias de organização informacional, a partir de
elementos dados e elementos novos, bem como através de estratégias de articulação tema-
rema; além disso, são usadas, também, estratégias de formulação (inserção e reformulação);
de referenciação e de balanceamento do explícito/implícito, de modo que estas últimas,
segundo Koch, são o grande segredo do locutor competente.
A construção de sentido no texto é resultado, também, de processos de coesão e
coerência, pelos quais perpassam relações semânticas e se cruzam elementos de ordem
cognitiva, situacional, sociocultural, bem como interacional.
Um dos pontos-chave do texto de Koch corresponde à distinção entre
intertextualidade e polifonia, momento em que a pesquisadora relata que os dois conceitos
não se coincidem totalmente, visto que "na intertextualidade, a alteridade é necessariamente
atestada pela presença de um intertexto", ao passo na polifonia, basta que a autoridade seja
encenada, ou seja, as vozes podem ser tanto reais quanto fictícias. (p. 57)
Segundo Koch (p.57), "o conceito de polifonia recobre o de intertextualidade, isto
é, todo caso de intertextualidade é um caso de polifonia, não sendo, porém, verdadeira a
recíproca: há casos de polifonia que não podem ser vistos como manifestações de
intertextualidade", como, por exemplo, a pressuposição, na qual ocorre a voz de mais de um
enunciador no mesmo enunciado.
Na segunda parte de seu estudo, como mencionado no início deste texto, a autora
mostrará a aplicação das estratégias de processamento para a construção de sentido no texto
falado, entre elas a inserção, a formulação, a hesitação, a repetição, a articulação tema- rema,
além de advertir que determinadas situações de digressões podem contribuir para a coerência
do texto falado.
É importante lembrar que tanto nas teorias sócio-interacionais quanto na
Lingüística Textual, apontadas por Ingedore, os sujeitos são conscientes e controladores do
processo comunicativo, ao contrário, por exemplo, da análise de discurso, de linha francesa,
na qual o sujeito "se constitui pelo esquecimento daquilo que o determina”.

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