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AS COLUNAS DOS VIGILANTES

Um dos erros procedimentais mais frequentemente corrigidos em loja é a falha


dos Vigilantes em levantar ou baixar suas colunas. Basta um distraído Segundo
Vigilante esquecer de abaixar sua coluna quando a loja é chamada do descanso
para o trabalho, e muitos gestos frenéticos nas linhas laterais o lembrarão de seu
descuido.

Quase todo Irmão que tem acento em loja conhece a posição adequada das
colunas dos Vigilantes durante o trabalho ou no período do descanso, e se
apressará a assinalar ao Vigilante se o emblema de seu ofício estiver posicionado
de maneira errada. "Levantada no Oeste durante o trabalho, abaixada no Oeste
no descanso. Abaixada no Sul durante o trabalho, levantada no Sul, durante o
descanso". Todo irmão conhece essa simples regra de posicionar as colunas dos
Vigilantes.

Normalmente acredita-se, como afirmado na Enciclopédia de Mackey, que


a coluna do Primeiro Vigilante representa o pilar Jachin, enquanto a coluna do
Segundo Vigilante representa o pilar Boaz, aqueles que formavam os
impressionantes adornos no Pórtico de entrada do Templo do Rei Salomão. Seus
nomes significam Estabelecimento e Força.

Se pedida uma explicação simbólica sobre estas partes da mobília, o


maçom mediano responderá que a coluna do Segundo Vigilante representa o
pilar da beleza, a do Primeiro Vigilante, o pilar da força. Mas o que aconteceu
com a coluna do Venerável Mestre? Ele representa o pilar da sabedoria, “porque
é necessário que haja sabedoria para planejar, força para sustentar e beleza para
decorar todos os grandes e importantes empreendimentos”.
Alguns Irmãos explicarão ainda que as colunas dos Vigilantes são
representações em miniatura dos pilares geralmente posicionados no Oeste, onde
um dia ambos Vigilantes se sentaram, estando um à sombra de Boaz, e o outro à
sombra de Jachin. Tal disposição das posições dos Vigilantes ainda pode ser
encontrada em algumas Lojas europeias, cujos rituais vieram de fontes
continentais.

Não há uma explicação simples sobre a origem das colunas dos Vigilantes,
nem a respeito do que representam. Como muito no ritual maçônico, elas são o
resultado de algumas interessantes mudanças; contudo, todos os irmãos bem
informados concordarão que hoje elas são emblemáticas dos cargos dos dois
Vigilantes, e representam sua autoridade, do Primeiro durante o trabalho, e do
Segundo enquanto a loja está em descanso.

De fato, o levantar e abaixar das colunas dos Vigilantes fizeram sua


primeira aparição no ritual maçônico por volta do ano de 1760, bem no período
conhecido como Maçonaria especulativa. “The Three Distinct Knocks”, uma
exposição bem conhecida do ritual maçônico, publicada em Londres naquele
ano, contém a primeira descrição do uso das colunas pelos Vigilantes. Uma
descrição quase idêntica do levantar e abaixar das colunas pelos Vigilantes
aparece em outra exposição, Jachin e Boaz, publicada em 1762.

Infelizmente, relativamente pouca coisa foi escrita sobre as colunas dos


Vigilantes e seus usos, incluindo a indicação de quando elas foram atribuídas a
esses oficiais, ou como e quando o levantar e abaixar desses pilares em miniatura
se tornaram parte do adequado procedimento nas lojas maçônicas. É apenas a
partir de exposições, como as mencionadas acima, que se pode atribuir uma data
aproximada ao início dessa prática.

Curiosamente William Preston, em várias edições de suas “Ilustrações da


Maçonaria” (1792 - 1804), na seção em que trata da Instalação, atribui as colunas
aos diáconos. Sabendo-se que as colunas pertenciam aos Vigilantes pelo menos
trinta anos antes, e ainda mais considerando-se que muitas das lojas simbólicas
da Inglaterra não nomeavam diáconos, Preston deve ter cometido um erro
grosseiro ou estava introduzindo uma inovação, que com o passar do tempo
mostrou ter falhado. Preston também ensinou que a coluna do Primeiro Diácono
deveria ser levantada durante o trabalho, e o Segundo Diácono no descanso.

Para aqueles que gostam de tradições maçônicas puras e historicamente


lógicas, pode ser desconcertante saber que, em algumas lojas, os Vigilantes não
tinham colunas em seus pedestais. Eles tinham bastões, cuja função moderna é
servir de cassetetes para policiais. Uma loja irlandesa no século XVIII tinha uma
norma que dizia: “haverá silêncio na primeira batida de malhete do Mestre e
também no primeiro golpe de cada “Trenchen” pelo Primeiro e Segundo
Vigilantes”. O Rev. George Oliver (1782-1867), um prolífico escritor sobre a
Maçonaria, cita um inventário de uma loja em Chester, Inglaterra, em 1761, que
inclui “dois cassetetes (truncheons ) para os Vigilantes”. Ainda há lojas hoje em
dia que denominam os emblemas de autoridade dos Vigilantes como cassetetes
e não colunas.

Não há dúvida de que as colunas dos Vigilantes estão associadas ao


interesse da Maçonaria na arte da construção, da arquitetura e suas habilidades
aliadas e ciências. Os maçons operativos dedicaram muito tempo e reflexão no
projetar, construir e ornamentar colunas e pilares. As ordens da arquitetura eram
importantes corpos de conhecimentos com os quais estavam continuamente
interessados.

Os medievais construtores de catedral, contudo, atribuíam maior


significado aos antigos pilares erguidos pelos filhos de Lamech1 do que aos que
estavam no pórtico de entrada do Templo do Rei Salomão. Nessas antigas
colunas foram gravadas tudo o que se conhecia das ciências para preservá-los da
destruição pelo fogo ou da inundação. Como tal, simbolizaram a importância
esotérica do conhecimento da arte do construtor a ser guardada e preservada por
fiéis artesãos.

1 N.T.: A descoberta de todas as ciências é atribuída, pela Maçonaria, aos três filhos de
Lamech. Eles também estão ligados à ereção de dois pilares, um em tijolo, o outro em pedra, no
qual eles descreveram suas descobertas antes que o mundo fosse destruído. Esta é a base da lenda
maçônica dos dois pilares. O historiador judeu Josefo mencionou pela primeira vez essa história,
mas segundo ele, a construção foi atribuída aos filhos de Seth. O Manuscrito Cooke, de 1490, nos
dá algumas explicações em relação à origem dessa lenda. De acordo com esta antiga Constituição,
a lenda maçônica é baseada na história universal, Polychronicon, escrito em latim por Ranulph
Higden, um monge beneditino, na última metade do século XIV, cerca de dez anos antes do
Manuscrito Cooke. O tradutor cometeu um erro e atribuiu a construção dos dois pilares aos filhos
de Lamech em vez dos filhos de Seth, e a lenda maçônica foi baseada na tradução e não na obra
original. Nesta forma, tornou-se parte da lenda maçônica. No entanto, esta história dos dois
pilares não teve influência no ritual moderno da Maçonaria e nunca é mencionada em nenhuma
das cerimônias da Antiga Maçonaria.

https://nullens.org/an-outsiders-view-of-freemasonry/part-c-legends-and-theories-of-the-
craft/c-2-5-the-legend-of-lamechs-sons-and-the-pillars/#.WUPjtOvyuUk
Em muitos dos primeiros documentos do Craft, os chamados "Old Charges"
ou "constituições manuscritas", alguns dos quais antecedem ao período da
Francomaçonaria especulativa em pelo menos 300 anos, esses primitivos pilares
dos filhos de Lamech fazem parte da “história” da maçonaria operativa. O
Templo de Salomão é discretamente mencionado, mas os dois pilares da entrada
do Pórtico desse templo não aparecem em absoluto.

Não foi até aproximadamente 1700 que os Pilares do Rei Solomão


começaram a aparecer na escrita maçônica e rituais documentados. O Dumfries,
No. 4 MS, geralmente datado de 1700 a 1725, menciona esses pilares e dá-lhes um
forte simbolismo cristão. Ele também responde a duas questões sobre os pilares
da seguinte forma: “Quantos pilares hão em vossa Loja? Três. O que são eles?
Esquadro, Compasso e Bíblia".

Devido ao segredo mantido pelos maçons a respeito de questões


ritualísticas, é das exposições publicadas no século XVIII que dependemos para
conhecer o papel desempenhado pelos pilares no desenvolvimento dos rituais e
cerimônias do simbolismo.

“O Grande Mistério dos Maçons Descobertos”, de 1724, menciona os


pilares do Templo de Salomão, mas dá-lhes esse significado: eles representam a
"Força e Estabilidade da Igreja em todas as idades".

Em “A Maçonaria Dissecada” de Samuel Prichard, de 1730, a primeira


exposição que revela um terceiro grau no ritual maçônico, refere-se a “Três
Pilares” que “apoiam a Loja ... Sabedoria, Força e Beleza”. Esta parece ser a
primeira menção dessas três virtudes simbolizadas por pilares, que, claro, não
tinham referência aos “Antigos Deveres” nem aos que estão no Pórtico do
Templo de Salomão. Eles eram puramente simbólicos, e ainda não haviam se
tornado parte da mobília da loja.

Naqueles primeiros dias da Maçonaria especulativa, os deveres dos


Vigilantes eram provavelmente diferentes dos que eles têm agora. Alguns
escritores acreditam que eles tinham deveres semelhantes aos dos diáconos de
hoje em dia. Eles não tinham pedestais ou pilares, porque estes últimos
geralmente eram desenhados no soalho, ou "tapete de chão", para serem citados
durante a instrução ritualística, e certamente não eram parte do equipamento dos
Vigilantes.

A outra interpretação das colunas dos Vigilantes como representações de


Jachin e Boaz, os dois pilares do Templo de Salomão, também foi introduzida no
ritual maçônico no período inicial da Maçonaria especulativa. Novamente, é na
exposição dos mais antigos rituais que esta revelação pôde ser rastreada.

Em A Mason's Examination, de 1723, aparece esta pergunta de exame:


“Onde foi mantida a primeiro Loja? No pórtico de Salomão; os dois Pilares se
chamavam Jachin e Boaz”. Nada, no entanto, estabelece uma conexão entre os
pilares e os Vigilantes. O Grande Mistério, etc. mencionado acima, também
nomeia os dois pilares como Jachin e Boaz. Uma série de outras publicações nos
anos de 1720 e 1730 também as identificam por esses nomes.

Como as representações em miniatura de Jachin e Boaz chegaram aos


pedestais dos Primeiro e Segundo Vigilantes ainda são uma questão de
especulação; obviamente, é uma parte do desenvolvimento variegado do ritual
maçônico no século XVIII. Como símbolos dos pilares no Pórtico do Templo do
Rei Salomão, ou como representações das três principais ordens de arquitetura
que simbolizam os três principais oficiais de uma loja, serão encontrados nos
primeiros catecismos e preleções da Maçonaria especulativa.

Sem dúvida, como sugerido por referências e ilustrações contemporâneas,


os pilares logo se tornaram peças de mobiliário, artisticamente projetados, para
ficar no interior do templo como objetos para estudo e reflexão. Provavelmente
não houve uniformidade de prática neste desenvolvimento. Algumas lojas
tinham grandes colunas, algumas pequenas, algumas as desenhavam no tapete
do chão. Algumas nem tinham os pilares.

Entre a criação de tais pilares e de sua associação com os três principais


oficiais da loja, indubitavelmente vieram as colunas dos Vigilantes. Elas são
relíquias daquelas peças mais antigas do mobiliário da loja. Das tradições das
lojas operativas havia permanecido a concepção de se ter o Primeiro Vigilante
como o oficial encarregado dos trabalhadores; sua coluna naturalmente
representava sua autoridade e superintendência. Para dar ao Segundo Vigilante
uma autoridade similar, uma imaginativa ritualista especulativa provavelmente
teve a ideia de colocá-lo no comando da loja durante o descanso. Essa ideia tinha
sido anunciada nas Constituições de Anderson de 1723, com o Regulamento
XXIII colocando os Grandes Vigilantes no comando da Festa anual.
Em 1760, como sugerido pela publicação de Three Distinct Knocks, os
Vigilantes de uma loja adquiriram colunas em miniatura que representavam os
pilares, Jachin e Boaz, que levavam em procissões, e levantavam ou abaixavam
em seus pedestais para indicar se a loja estava em trabalho ou em descanso. Esse
procedimento foi aparentemente confirmado pela Loja de Promulgação, que
abriu o caminho para a união em 1813 das Grandes Lojas dos "Modernas" e
"Antigos" na Inglaterra.

Assim, o levantar e o abaixar das colunas dos Vigilantes foram


sancionadas pelo costume e pela aprovação da Grande Loja. Não é um ato
simbólico complicado ou misterioso; é um meio simples de indicar
silenciosamente ao Irmão que esteja entrando, o estado em que a loja se encontra.

Uma vez que a coluna do Segundo Vigilante esteja erguida durante o


descanso, a lógica sugere que seja disposta de forma semelhante quando a loja
estiver fechada, ou seja, não esteja em período de trabalho. Geralmente, contudo,
as colunas dos Vigilantes são deixadas da maneira como são colocadas no
momento do fechamento da loja, exceto nas Jurisdições cujo ritual oficial
decretou um posicionamento próprio para as colunas dos Vigilantes no
fechamento da loja.

Para outra reflexão sobre a origem da coluna do Segundo Vigilante, nossos


leitores são dirigidos ao interessante artigo "The Better to Observe the Time",
publicado em fevereiro de 1959 no boletim “Short Talk Bulletin”.


À medida que continuamos nos aprimorando na Maçonaria, estamos realmente
melhorando a nossa vida. Sabemos da história que, sem ideais para nos guiar, o jardim
da vida de um homem não se tornará um lugar de beleza.

Stanley F. Maxwell

Fonte:

Lodge Stirling Royal Arch nº. 76. Monthly Newsletter. Volume 7, Issue 5, September 2011, nº.55

Também publicado em http://www.themasonictrowel.com/masonic_talk/stb/stbs/73-08.htm

Livre tradução: Elder Madruga

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