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Introdução
O nosso objectivo principal com estas notas é o da apresentação genérica dos conceitos
de desconto. O desconto é algo que se aprende melhor através de exemplos. Por isso,
muito do que se apresenta de seguida se baseia em exemplos. Além disso, outros
problemas são fornecidos para que os interessados os possam experimentar.
1. O que é uma taxa de desconto, uma taxa de juro, e taxa real de preferência
temporal?
2. Porque é que os economistas defendem a aplicação de técnicas de desconto?
3. Qual é a diferença entre taxa de desconto e taxa de juro?
4. Porque é que a escolha de diferentes taxas de desconto afecta o valor de fluxos
futuros de dinheiro?
5. Quais as preocupações que os ambientalistas têm relativamente ao desconto?
6. Que argumentos usam os economistas para que se continuem a usar taxas de
desconto?
Exemplo:
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Comparemos o valor de cada uma das alternativas, dentro de cinco anos:
Calculamos isto como 10.000 € × (1+0,3) 5 = 11.593 €. Adiante fornecer-se-ão mais informações
sobre os métodos de desconto, mas para já que fique a ideia de que esta fórmula calcula juros
compostos sobre investimentos feitos hoje.
C. Aplicando o dinheiro num Fundo de Investimento com uma taxa de retorno média anual de 10%,
dentro de cinco anos terá 16.105 €.
Calculamos isto da mesma forma que o fizemos para o depósito bancário, 10.000 € × (1+0,10) 5
= 16.105 €.
D. Gastando o dinheiro, terá 0 € no futuro, mas terá bens no valor de 10.000 € hoje.
Comecemos por comparar as três primeiras opções. Claramente, o futuro parece melhor colocando o
dinheiro no fundo de investimento, uma vez que dentro de cinco anos você terá muito mais dinheiro.
Obviamente, a decisão também depende da quantidade de risco envolvida em colocar o dinheiro no fundo
em vez de o colocar no colchão ou no banco. Desta forma deduzimos o primeiro ponto de grande
importância relativamente ao desconto: A TAXA DE JURO OU A TAXA DE RETORNO, DEPENDE
DO RISCO. Para a opção de colocar o dinheiro no colchão, o retorno anual é de 0%, mas o risco
envolvido é negligenciável (se para o efeito ignorarmos os roubos a residências). Também a opção de
depósito no banco é de baixo risco, mas os bancos sem dúvida que correm riscos maiores que o fundo de
um colchão; o retorno neste caso é de 3%. O fundo de investimento é o que acarreta maiores riscos,
contudo é o que melhores remunerações atribui... 10% anuais.
Pensemos agora na opção (D). E se você decidir gastar o dinheiro? Se gastar o dinheiro hoje, você abdica
de gastar 10.000 € no futuro se o esconder no colchão, ou 11.593 € no futuro se o depositar no banco, ou
16.105 € se o aplicar no Fundo de Investimento. Ao gastar o dinheiro hoje, você está de facto a dizer que
10.000 € de compras hoje valem mais para si que as potencialmente maiores compras que poderia fazer
dentro de cinco anos. Isto significa que atribui mais valor ao dinheiro hoje do que no futuro.
Suponha que investe 200 € por mês numa Conta Poupança Reforma, e que o seu plano é
reformar-se dentro de trinta anos. A tabela seguinte apresenta a relação entre os 200 €
mensais investidos hoje, as taxas de juro, e o valor dos 200 € dentro de 30 anos. Taxas
de juro mais elevadas conduzem a mais dinheiro no futuro.
Observe a tabela abaixo e considere o seguinte: se você se contenta com 5.992 € dentro
de 30 anos, mas não fica satisfeito com 2.013 €, é provável que esteja a utilizar um
desconto de 10%. O balanço específico que está a fazer com a taxa de desconto de 10%,
é que você é indiferente relativamente a 200 € de consumo agora ou 3.490 € de
consumo dentro de 30 anos.
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Valor dentro de 30
Taxa de Juro
anos
0,02 (2%) 362
0,04 (4%) 649
0,06 (6%) 1.149
0,08 (8%) 2.013
0,10 (10%) 3.490
0,12 (12%) 5.992
0,14 (14%) 10.190
0,16 (16%) 17.170
0,18 (18%) 28.674
0,20 (20%) 47.475
A Taxa de Juro Nominal (n) é a taxa de juro que pode ser cobrada por um empréstimo
bancário, ou a taxa de juro que se pode obter num depósito, num fundo de investimento,
ou em qualquer aplicação no mercado financeiro. Um modo simples de se pensar na
taxa de juro nominal é a de considerarmos que ela é igual à taxa de juro (r), mais a taxa
de inflação (i), mais o risco (k).
n=r+i+k
A taxa de juro real (r), é a nossa taxa de preferência temporal. Ele traduz a nossa
preferência por dinheiro hoje, versus dinheiro no futuro. Da equação anterior retiramos
que:
r=n-i-k
A razão para nos concentrarmos na taxa real de juro é porque estamos interessados no
balanço entre o presente e o futuro. Usar a taxa real de juro permite-nos observar como
o desconto afecta as decisões económicas relativamente ao ambiente, sem que nos
confundamos com os efeitos de factores de risco ou das taxas de inflação. Embora esses
factores de risco e as taxas de inflação sejam conceitos económicos importantes, não os
voltaremos a considerar neste documento.
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Para o efeito da nossa disciplina de Economia Ambiental, a taxa de desconto, a taxa de
juro, e a taxa real de preferência temporal são consideradas como idênticas.
Adiante voltaremos a discutir o papel do desconto nas questões ambientais, mas por
agora voltemo-nos para a mecânica do desconto.
A Mecânica do Desconto
VALOR ACTUAL E VALOR FUTURO
Exemplo:
Pense de novo no investimento de 10.000 €. Suponha que o investia no depósito bancário, e que o banco
vai capitalizando os juros devidos na mesma conta, anualmente. Isto significa que no final de cada ano, o
banco lhe dá os juros referentes a esse ano juntando-os ao montante inicial, de tal forma que o cálculo dos
juros para o ano seguinte se faz com base no montante inicial, mais os juros entretanto vencidos. O
montante inicial é composto pelos seus 10.000 € de investimento. Tente realizar estes cálculos ano a ano,
e veja como a taxa de juro afecta o rendimento obtido.
Final do Ano 1:
No final do primeiro ano, terá ganho 3% sobre o seu investimento de 10.000 €, ou seja, 300 €.
Isto calcula-se do seguinte modo:
10.000 € × 0,03 = 300 €
Final do Ano 2:
Final do Ano 3:
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O seu investimento total que passa para o ano seguinte é de:
10.000 € + 300 € + 309 € + 318 € = 10.927 €
Final do Ano 4:
Final do Ano 5:
Pode-se calcular o Valor Futuro de qualquer investimento desta forma. Mas em vez de o
fazermos ano a ano e à mão, há maneiras mais práticas de efectuar os cálculos
necessários. Por exemplo através da expressão seguinte. A relação entre o Valor Actual
e o Valor Futuro é de:
VF = VA × (1 + r) n
Exemplo:
Suponha agora que pretende capitalizar o mesmo investimento, mas agora mensalmente em vez de
anualmente. Como é que isto altera o problema?
Algo em que pensar: Percebe porque é que aumentando o número de períodos o Valor Futuro aumenta?
O que aconteceria se o número de períodos fosse o correspondente ao número de dias? Quanto é que isto
afectaria o Valor Futuro?
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VA = VF × (1 + r) -n = VF / (1 + r) n
Exemplo:
Suponha que alguém lhe diz que lhe vai oferecer 10.000 € dentro de quinze anos. Se a sua taxa de
desconto for de 5%, qual o valor actual dessa prenda?
Isto quer dizer que lhe são indiferentes 4.810 € hoje ou 10.000 € dentro de 15 anos. Uma das
preocupações que os ambientalistas têm relativamente ao desconto é que ele reduz os benefícios de
programas e políticas ambientais hoje. Note-se que os programas ambientais, normalmente, têm custos
agora, e rendem benefícios apenas no futuro. O desconto, claramente, reduz o valor desses benefícios
futuros.
Exemplo:
5% de taxa de desconto:
VA de 577 M€ em 2004 = 577 × (1 + 0,05) -43 = 577 × (0,1227) = 70,8 milhões de Euros.
Com esta taxa de desconto os custos são de 98 milhões e os benefícios de 70,8 milhões. Claramente, os
custos ultrapassam os benefícios, pelo que os governos da união não estariam dispostos a investir na
prevenção dos fogos.
3% de taxa de desconto:
Consideremos agora uma taxa de desconto mais baixa, para vermos o efeito que isto tem no valor actual
de benefícios futuros.
VA de 577 M€ em 2004 = 577 × (1 + 0,03) -43 = 577 × (0,2805) = 161,9 milhões de Euros.
Com uma taxa de 3%, os benefícios ultrapassam em muito os custos. Nestas circunstâncias já seria
provável que o programa fosse aprovado.
Neste exemplo, vemos que uma taxa de desconto mais elevada reduz drasticamente os benefícios
futuros, de tal forma que o mesmo projecto deixa de ser atractivo.
Algo em que pensar: Calcule o exemplo dos incêndios florestais, mas agora com uma taxa de desconto
de 0%. Qual é o Valor Actual do benefício esperado em 2047?
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ALTERNATIVAMENTE, UMA TAXA DE DESCONTO MAIS ELEVADA
"DESCONTA" OS VALORES FUTUROS E FÁ-LOS VALEREM MENOS
HOJE DO QUE FARIA UMA TAXA DE DESCONTO MAIS REDUZIDA.
FLUXOS DE VALORES
Exemplo:
Benefícios (no
Ano
princípio do ano)
2005 500.000 €
2006 600.000 €
2007 700.000 €
2008 800.000 €
2009 800.000 €
2010 400.000 €
Total 3.800.000 €
Porque razões diferirão os benefícios de ano para ano? Uma razão possível é a de que apenas alguns
agricultores adquiram as novas tecnologias e as ponham logo em prática, de tal forma que os benefícios
nos primeiros anos são mais reduzidos. Em segundo lugar, algumas tecnologias podem demorar algum
tempo até evidenciarem impactos positivos no ecossistema. Por exemplo técnicas de mobilização mínima
do solo podem levar um ano ou dois até que sejam bem evidentes os benefícios ao nível da erosão da
camada arável. Em terceiro lugar, os benefícios podem reduzir-se muito no futuro à medida que os
agricultores se vão convertendo a outras e mais modernas tecnologias, ou à medida que vão fazendo
ajustamentos nas suas práticas.
Como avaliamos um problema destes? A soma dos benefícios anuais é superior aos 3.000.000 € de
custos, pelo que à partida o programa parece bom. Contudo, um economista que o analise, imediatamente
observa que os benefícios são escalonados no tempo. Isto complica o problema consideravelmente, e
pode alterar o resultado.
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acima discutidas. É o mesmo princípio que está em causa, simplesmente temos de tomar
em consideração a existência de vários valores futuros, em vez de um só. A figura
seguinte o problema, com recurso a uma linha de tempo.
A Figura 1 representa uma linha de tempo para este problema. Os custos e os benefícios
entram nos anos apropriados, começando em 2004. Repare que os custos ocorrem no
início de 2004, enquanto que os benefícios se iniciam no começo de 2005, e no começo
de cada ano a partir de aí. Isto é importante, porque os benefícios do primeiro ano
devem ser actualizados (descontados) para o princípio de 2004, para que sejam
comparáveis com os custos. Uma vez que os benefícios ocorrem em anos diferentes,
temos que descontar (actualizar) cada benefício anual para o início de 2004, e somá-los.
Essa soma será o Valor Actual do Fluxo de Benefícios.
Se usarmos uma taxa de desconto de 5% para este problema, o Valor Actual do fluxo de
benefícios é de 3.208.564 €, sugerindo que os benefícios ultrapassam os custos.
Portanto, ainda que a nossa conclusão inicial esteja correcta, vemos que os benefícios
descontados (actualizados) são mais pequenos do que se não fossem actualizados.
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Algo em que pensar: Para melhor prática e estudo, deverá tentar este mesmo exemplo usando uma taxa
de 3% e uma taxa de 10%. No primeiro caso, o VLA do projecto é de 427.464 €, e no segundo é de -
254.729 €. Certifique-se de que chega a estes resultados antes de avançar. Compreendeu porque é que
ocorrem estas diferenças?
Neste momento, deverá estar a questionar-se: então porquê usar técnicas de desconto, se
isso é assim tão controverso? Os economistas continuam a defende-lo, mas outros
gostariam de o ver banido da análise. A questão, portanto, é a de se saber se programas
ambientais devem ou não ser sujeitos a desconto.
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produtivo que as actuais. Realizarmos projectos ambientais que têm uma taxa de retorno
mais baixa que a de desconto de mercado significa que estamos a desviar recursos de
projectos de capital com retornos mais elevados.
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