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Guia Teórico Prático II

Mudança de Base, Transformações Lineares, Núcleo e Imagem de


Transformações Lineares
19 de julho de 2021

1 . Resumo Teórico
• T : Rn → Rm denomina-se linear, se, e só se,

TL1 T (α · x) = α · T (x), para todos α ∈ R e x ∈ Rn .


TL2 T (x + y) = T (x) + T (y), para todos x, y ∈ Rn .
• As colunas de [T ]m×n , a matriz canônica de T , correspondem aos valores
que T assume sobre os vetores da base canônica de Rn . Por exemplo,
se T :R2 → R3  é definida por T (x, y) = (2x − y, x + y, −2x + 3y),
2 −1
[T ] =  1 1 , pois T (1, 0) = (2, 1, −2) e T (0, 1) = (−1, 1, 3).
−2 3
• Para todo vetor u ∈ Rn , vale a equação matricial

[T (u)]m×1 = [T ]m×n · [u]n×1

onde [T (u)] e [u] denotam os vetores T (u) ∈ Rm e u ∈ Rn na forma


de matrizes-coluna. Por exemplo, fazendo u = (x, y) no exemplo acima,
vemos que    
2x − y 2 −1  
x
 x+y = 1 1 ·
y
−2x + 3y −2 3

• Existe uma relação biunı́voca natural entre o espaço das transformações


lineares de Rn em Rm e Matm×n , o espaço vetorial das matrizes m × n.
Ou seja, a cada transformação linear T : Rn → Rm , associa-se uma ma-
triz [T ]m×n (sua matriz canônica) e, a cada matriz Am×n , associa-se a
transformação linear TA : Rn → Rm , definida por

[T (u)]m×1 = Am×n · [u]n×1

cuja matriz canônica [TA ] é precisamente a matriz A.


No exemplo em consideração, temos a associação
 
2 −1
T (x, y) = (2x − y, x + y, −2x + 3y) ←→  1 1 
−2 3

• Nuc(T ), o núcleo da transformação linear T : Rn → Rm , corresponde ao


subespaço vetorial de Rn dos vetores que anulam (zeram) a transformação
linear T em Rm . Mais precisamente,
def
Nuc(T ) = {u ∈ Rn : T (u) = 0Rm }

1
O núcleo de T corresponde precisamente ao espaço-solução do sistema
linear homogêneo associado à matriz canônica de T , que, no exemplo em
consideração, seria 
 2x − y = 0
x + y = 0
−2x + 3y = 0

• nul(T ), a nulidade da transformação linear T , corresponde à dimensão


do seu núcleo. A nulidade de uma matriz, por sua vez, corresponde à
nulidade da transformação linear associada a essa matriz.
• Im(T ), a imagem da transformação linear T : Rn → Rm , corresponde ao
subespaço gerado pelas colunas de [T ] (a sua matriz canônica) no espaço
Rm .
• pos(T ), o posto da transformação linear T : Rn → Rm , corresponde à
dimensão de sua imagem no espaço Rm . O posto de uma matriz, por sua
vez, corresponde ao posto da transformação linear associada a essa matriz,
ou seja, à dimensão do subespaço gerado pelas colunas dessa matriz.
• O Teorema da Dimensão (também conhecido como Teorema do Núcleo-
Imagem) estabelece que

nul(T ) + pos(T ) = n

para toda transformação linear T : Rn → Rm .


Em sua versão matricial, o Teorema da Dimensão estabelece que

nul(Am×n ) + pos(Am×n ) = n
para toda matriz Am×n .
Ou seja, a dimensão do espaço nulo de uma matriz (o conjunto solução
do sistema linear homogêneo associado a essa matriz) somada com a di-
mensão do espaço gerado pelas colunas dessa matriz é igual à quantidade
de colunas da matriz.
Sabemos que a dimensão do espaço nulo de uma matriz corresponde à
quantidade de variáveis livres do sistema linear homogêneo associado a ela
e (pode-se provar que) a dimensão do espaço coluna dessa matriz corres-
ponde à quantidade de variáveis pivotais do referido sistema. Observando
que o total de variáveis é n, segue esse resultado-chave da álgebra linear.

2
2 Exercı́cio Modelo (Resolvido)
Seja T : R4 → R4 a transformação linear definida por T ((2, 1, 1, 1)) = (7, 11, −5, 3),
T ((1, 2, 1, 1)) = (8, 10, −4, 6), T ((1, 1, 2, 1)) = (9, 12, −5, 6) e T ((1, 1, 1, 2)) =
(6, 12, −6, 0).

1. Obtenha [T ] ∈ Mat4x4 , a matriz canônica de T .


2. Obtenha a lei de T , ou seja calcule T ((x, y, w, z)) em R4 .
3. Encontre uma base para Im(T ), a imagem de T em R4 .

4. Determine pos(T ), o posto de T .


5. Utilize o Teorema da Dimensão para determinar nul(T ), a nulidade de T .
6. Encontre uma base para Nuc(T ), o núcleo de T em R4 .

Resolução:
1. Para construir [T ], a matriz canônica de T , devemos calcular T (ei ) para
i = 1, 2, 3, 4, onde e1 = (1, 0, 0, 0), e2 = (0, 1, 0, 0), e3 = (0, 0, 3, 0) e e4 =
(0, 0, 0, 1) são os quatro vetores da base canônica de R4 . Para tal, devemos
expressar esses quatro vetores como combinação linear dos vetores b1 =
(2, 1, 1, 1), b2 = (1, 2, 1, 1), b3 = (1, 1, 2, 1) e b4 = (1, 1, 1, 2), sobre os quais
a transformação linear é conhecida. Isso se consegue resolvendo quatro
sistemas lineares 4 por 4:

Cálculo de T(e1 )

e1 = (1, 0, 0, 0) = x · (2, 1, 1, 1) + y · (1, 2, 1, 1) + w · (1, 1, 2, 1) + z · (1, 1, 1, 2)




 2x + 1y + 1w + 1z = 1
1x + 2y + 1w + 1z = 0



 1x + 1y + 2w + 1z = 0
1x + 1y + 1w + 2z = 0

4 1 1 1
⇒ x= , y=− , w=− , z=−
5 5 5 5
4 1 1 1
⇒ e1 = b1 − b2 − b3 − b4
5 5 5 5
4 1 1 1
⇒ T (e1 ) = T ( b1 − b2 − b3 − b4 )
5 5 5 5
4 1 1 1
= T (b1 ) − T (b2 ) − T (b3 ) − T (b4 )
5 5 5 5
4 1 1 1
= (7, 11, 5, 3) − (8, 10, −4, 6) − (9, 12, −5, 6) − (6, 12, −6, 0)
5 5 5 5
= (1, 2, −1, 0)

3
Cálculo de T(e2 )

e2 = (0, 1, 0, 0) = x · (2, 1, 1, 1) + y · (1, 2, 1, 1) + w · (1, 1, 2, 1) + z · (1, 1, 1, 2)




 2x + 1y + 1w + 1z = 0
1x + 2y + 1w + 1z = 1



 1x + 1y + 2w + 1z = 0
1x + 1y + 1w + 2z = 0

1 4 1 1
⇒ x=− , y= , w=− , z=−
5 5 5 5
1 4 1 1
⇒ e2 = − b1 + b2 − b3 − b4
5 5 5 5
1 4 1 1
⇒ T (e2 ) = T (− b1 + b2 − b3 − b4 )
5 5 5 5
1 4 1 1
= − T (b1 ) + T (b2 ) − T (b3 ) − T (b4 )
5 5 5 5
1 4 1 1
= − (7, 11, 5, 3) + (8, 10, −4, 6) − (9, 12, −5, 6) − (6, 12, −6, 0)
5 5 5 5
= (2, 1, 0, 3)

Cálculo de T(e3 )

e3 = (0, 0, 1, 0) = x · (2, 1, 1, 1) + y · (1, 2, 1, 1) + w · (1, 1, 2, 1) + z · (1, 1, 1, 2)




 2x + 1y + 1w + 1z = 0
1x + 2y + 1w + 1z = 0



 1x + 1y + 2w + 1z = 1
1x + 1y + 1w + 2z = 0

1 1 4 1
⇒ x=− , y=− , w= , z=−
5 5 5 5
1 1 4 1
⇒ e3 = − b1 − b2 + b3 − b4
5 5 5 5
1 1 4 1
⇒ T (e3 ) = T (− b1 − b2 + b3 − b4 )
5 5 5 5
1 1 4 1
= − T (b1 ) − T (b2 ) + T (b3 ) − T (b4 )
5 5 5 5
1 1 4 1
= − (7, 11, 5, 3) − (8, 10, −4, 6) + (9, 12, −5, 6) − (6, 12, −6, 0)
5 5 5 5
= (3, 3, −1, 3)

4
Cálculo de T(e4 )
e4 = (0, 0, 0, 1) = x · (2, 1, 1, 1) + y · (1, 2, 1, 1) + w · (1, 1, 2, 1) + z · (1, 1, 1, 2)


 2x + 1y + 1w + 1z = 0
1x + 2y + 1w + 1z = 0



 1x + 1y + 2w + 1z = 0
1x + 1y + 1w + 2z = 1

1 1 1 4
⇒ x=− , y=− , w=− , z=
5 5 5 5
1 1 1 4
⇒ e4 = − b1 − b2 − b3 + b4
5 5 5 5
1 1 1 4
⇒ T (e4 ) = T (− b1 − b2 − b3 + b4 )
5 5 5 5
1 1 1 4
= − T (b1 ) − T (b2 ) − T (b3 ) + T (b4 )
5 5 5 5
1 1 1 4
= − (7, 11, 5, 3) − (8, 10, −4, 6) − (9, 12, −5, 6) + (6, 12, −6, 0)
5 5 5 5
= (0, 3, −2, −3)

Agora a matriz canônica [T ] é montada colocando-se as quádruplas T (e1 ),


T (e2 ), T (e3 ) e T (e4 ) em suas colunas:
 
1 2 3 0
 2 1 3 3 
[T ] = 
 −1 0 −1 −2 

0 3 3 −3

2.
 
x
 y 
[T (x, y, w, z)] = [T ] · 
 w 

z
   
1 2 3 0 x
 2 1 3 3   y 
=  · 
 −1 0 −1 −2   w 
0 3 3 −3 z
 
x + 2y + 3w
 2x + y + 3w + 3z 
= 
 −x − w − 2z


3y + 3w − 3z
⇒ T (x, y, w, z) = (x+2y+3w, 2x+y+3w+3z, -x-w-2z, 3y+3w-3z)

3. Sabemos que Im(T ), a imagem de T , corresponde ao subespaço gerado


pelas colunas de [T ], a sua matriz canônica. Portanto
Im(T ) = ger({(1, 2, −2, 0), (2, 1, 0, 3), (3, 3, −1, 3), (0, 3, −2, −3)})

5
Agora, seguimos o procedimento apresentado no Guia Teórico-Prático –
Subespaços, Geradores, Indepêndência Linear, Bases e Dimensão (de 18
de março de 2021) para obter a base procurada:

0R4 = x · (1, 2, −1, 0) + y · (2, 1, 0, 3) + w · (3, 3, −1, 3) + z · (0, 3, −2, −3)


= (0, 0, 0, 0)


 1x + 2y + 3w + 0z = 0
2x + 1y + 3w + 3z = 0



 −1x + 0y − 1w − 2z = 0
0x + 3y + 3w − 3z = 0

1x∗ +

2y + 3w + 0z = 0

+ 1y ∗ + 1w − 1z = 0

Como x e y são as variáveis pivotais, segue que as quádruplas (1, 2, −1, 0)


e (2, 1, 0, 3) constituirão a base para Im(T ) procurada. Ou seja B =
{(1, 2, −1, 0), (2, 1, 0, 3)} é base para Im(T ).
4. B tem dois vetores, portanto pos(T ) = 2.
5. Pelo Teorema da Dimensão

nul(T ) + pos(T ) = n = 4
⇒ nul(T ) = 4 − 2 = 2 .

6.

T (x, y, w, z) = 0R4 ⇔
(x+2y+3w, 2x+y+3w+3z, -x-w-2z, 3y+3w-3z) = (0, 0, 0, 0) ⇔


 1x + 2y + 3w + 0z = 0
2x + 1y + 3w + 3z = 0



 −1x + 0y − 1w − 2z = 0
0x + 3y + 3w − 3z = 0

1x∗ + 2y + 3w + 0z = 0


+ 1y ∗ + 1w − 1z = 0

y = z−w

x = −w − 2z
Nuc(T ) = {(−w − 2z, z − w, w, z) ∈ R4 : w, z ∈ R} ⇒
Nuc(T ) = {w(−1, −1, 1, 0) + z(−2, 1, 0, 1) : w, z ∈ R} ⇒
Nuc(T ) = ger({(−1, −1, 1, 0), (−2, 1, 0, 1)})

O conjunto {(−1, −1, 1, 0), (−2, 1, 0, 1)} é claramente l.i., logo constitui
uma base para o núcleo de T .

6
3 Exercı́cios Propostos
1. Seja T : R4 → R3 a transformação linear definida por T ((2, 1, 1, 1)) =
(7, 11, −5), T ((1, 2, 1, 1)) = (8, 10, −4), T ((1, 1, 2, 1)) = (9, 12, −5) e T ((1, 1, 1, 2)) =
(6, 12, −6).

(a) Obtenha [T ] ∈ Mat3x4 , a matriz canônica de T .


 
1 2 3 0
Resposta: [T ] =  2 1 3 3 
−1 0 −1 −2

(b) Obtenha a lei de T , ou seja calcule T ((x, y, w, z)) em R3 .


Resposta: T(x,y,w,z)=(x+2y+3w, 2x+y+3w+3z, -x-w-2z)

(c) Encontre uma base para Im(T ), a imagem de T em R3 .


Resposta: B = {(1, 2, −1), (2, 1, 0)} é base para Im(T ).

(d) Determine pos(T ), o posto de T .


Resposta: pos(T ) = 2.

(e) Utilize o Teorema da Dimensão para determinar nul(T ), a nulidade


de T .
Resposta: nul(T ) = 2
4
(f) Encontre uma base para Nuc(T ), o núcleo de T em R .
Resposta: {(−1, −1, 1, 0), (−2, 1, 0, 1)} é base para o núcleo de T .

2. Seja T : R3 → R3 a transformação linear definida por T ((2, 1, 1)) =


(4, 8, −4), T ((1, 2, 1)) = (5, 7, −1), T ((1, 1, 2)) = (3, 9, −7).
(a) Obtenha [T ] ∈ Mat3x3 , a matriz canônica de T .
 
1 2 0
Resposta: [T ] =  2 1 3 
−1 2 −4

(b) Obtenha a lei de T , ou seja calcule T ((x, y, z)) em R3 .


Resposta: T(x,y,z)=(x+2y, 2x+y+3z, -x+2y-4z)

(c) Encontre uma base para Im(T ), a imagem de T em R3 .


Resposta: B = {(1, 2, −1), (2, 1, 2)} é base para Im(T ).

(d) Determine pos(T ), o posto de T .


Resposta: pos(T ) = 2.

(e) Utilize o Teorema da Dimensão para determinar nul(T ), a nulidade


de T .
Resposta: nul(T ) = 1
4
(f) Encontre uma base para Nuc(T ), o núcleo de T em R .
Resposta: {(−2, 1, 1)} é base para o núcleo de T .

(g) T é injetora? Por quê?


Resposta: T não é injetora, pois Nuc(T ) 6= {0R3 = (0, 0, 0)}.

7
(h) Encontre dois vetores distintos u, v ∈ R3 , tais que T (u) = T (v) 6=
(0, 0, 0). Calcule T (u) e T (v).
Sugestão: Tome u 6∈ Nuc(T ), w 6= 0R3 ∈ Nuc(T ) e faça v = u + w.
Resposta: u = (1, 1, 1), w = (−2, 1, 1), v = (−1, 2, 2),
T (u) = (3, 6, −3) = T (v).
(i) T é sobrejetora? Por quê?
Resposta: T não é sobrejetorajetora, pois
2 = pos(T ) = dim(Im(T )) < 3 = dim(R3 ).
(j) Encontre um vetor t ∈ R3 que não pertença à imagem de T .
Sugestão: Encontre constantes a, b, c ∈ R que tornem o sistema linear
T (x, y, z) = (a, b, c) inconsistente e faça t = (a, b, c).
Resposta: t = (1, 1, 1), por exemplo.

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