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A Dispensação Do Mistério - Volume 1

por T. Austin-Sparks

VOLUME 1: TODAS AS COISAS EM CRISTO

Originalmente publicado na Revista Uma Testemunha e Um Testemunho, 1964. Vols. 40-2 ao 42-2.
Posteriormente publicado como livro pelos editores de Uma Testemunha e um Testemunho em 1940 e com
uma segunda edição em 1966. Esta versão é da Igreja Emanuel, Tulsa, OK.

Prefácio para a segunda edição

O conteúdo deste livro corresponde à transcrição de mensagens dadas numa conferência. A forma falada
foi mantida. É importante que o leitor lembre-se disto e mantenha uma atitude de alguém que está
ouvindo ou assistindo uma pregação, não relevando o estilo literário. Esta é a característica do volume 1
(capítulos 1 ao 15). Os assuntos são abordados de forma panorâmica, nenhum deles é tratado de forma
exaustiva. O volume 2 está sendo revisado para reimpressão. O volume 2 detalha alguns assuntos que são
apresentados no volume 1. A reedição destes volumes (que por algum tempo estavam fora de catálogo)
deve-se aos diversos pedidos feitos para isto.

As mensagens estão em harmonia, ainda que limitada, com a expressão do coração do apóstolo Paulo, que
me inspirou o título: "... o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem...
para que apresentemos todo homem perfeito (completo, inteiro) em Cristo. Para isso eu trabalho... "(Cl
1:28,29). Que este ministério seja próspero até o fim. T. Austin-Sparks, Forest Hill, London. 1964.

Capítulo 1 – O Propósito das Eras

―... Ninguém conhece o Filho, senão o Pai...‖ (Mt 11:27).

―... aprouve a Deus… revelar Seu Filho em mim...‖ (Gl 1:15,16).

―... Considero todas as coisas como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor...‖
(Fl 3:8).

―... para que eu possa conhecê-lo...‖ (Fl 3:10).

―Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de
tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão
nos céus como as que estão na terra...‖ (Ef 1:9,10).

Esta pequena frase do versículo dez é a expressão que norteará a nossa meditação: TODAS AS COISAS EM
CRISTO.
Estas escrituras falam por si mesmas. Quando ouvirmos a voz interior do Espírito nestes fragmentos da
Palavra divina, certamente sentiremos uma sensação de tremendo significado, de valor e de conteúdo.
Sentir-nos-emos como pessoas que chegam às portas de um novo reino cheio de maravilhas desconhecidas,
não examinadas e inexploradas.

Necessidade de Revelação

Encontramo-nos às portas de uma esfera que será o alvo de nossas meditações. Se nos aproximarmos dela
presumindo que já conhecemos ou possuímos o suficiente, com um senso de contentamento, de satisfação
pessoal ou com qualquer outro sentimento que não seja aquele de que precisamos conhecer mais, então o
seguinte versículo fará com que reconsideremos: ―... ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai...‖. Talvez
presumimos que já sabemos tudo a respeito do Senhor Jesus; que temos condições de conhecê-Lo por nós
mesmos; que estudar, ouvir pregações e utilizar de vários outros expedientes disponíveis poderia levar-nos
a um pleno conhecimento Dele, mas, já de início, somos alertados: ―...ninguém conhece o Filho, a não ser o
Pai....‖. Tudo o que o Filho é está oculto no Pai; somente o Pai conhece o Filho.

Quando admitimos este fato e reconhecemos as suas implicações, veremos que estamos diante de um
terreno fechado ao qual não podemos adentrar, pois não temos recursos em nós mesmos. Não há nada em
nós, em termos de capacidade, que nos permita penetrar nos segredos do território de Cristo. Então, após a
importante descoberta do fato da absoluta incapacidade humana intrínseca de conhecer a Cristo; o
próximo fato que nos conforta é: ―... aprouve a Deus... revelar Seu Filho em mim…‖. Embora Deus Pai
tenha toda a realidade do Filho oculta em Si mesmo, em Seu próprio domínio, e apenas Ele tenha o pleno
conhecimento do Filho, está em Seu coração o bom prazer em revelá-Lo. E, uma vez que somos
completamente dependentes desta revelação divina, e que toda capacidade e habilidade humana são
ineficazes neste sentido; uma vez que tal revelação somente pode ser alcançada quando Deus a revela em
nosso interior; queremos deixar bem claro que dependemos da Sua graça, e que rejeitamos toda confiança
em nós mesmos, em obras, que renunciamos toda autossuficiência, autoconfiança, bem como toda
confiança em nossa carne ou em qualquer orgulho de ―nosso‖ progresso ou de métodos que empregamos.

Leia estas duas passagens à luz do que Paulo era quando conhecido como Saulo de Tarso, antes que o
Senhor o encontrasse, e depois como Paulo, o apóstolo, e você ganhará algo mais da sua força. Saulo de
Tarso considerava-se mestre em Israel, alguém muito bem instruído nas Escrituras, com muita
autoconfiança e autossuficiência em seu zelo e compreensão dos oráculos de Deus. Apesar de todas estas
credenciais, ele reconheceu de que nada daquilo se aproveitava no reino de Cristo. Ele mesmo percebeu
que era completamente cego, ignorante, inútil, excluído e carente da graça de Deus até mesmo para o
primeiro vislumbre de luz. Por isso se humilhou e reconheceu dizendo: ―... aprouve a Deus… revelar o Seu
Filho em mim‖. Isto é graça.

Este é o nosso ponto de partida. Para esta presente meditação, estaremos considerando a inexplorada
plenitude daquilo que o próprio Deus colocou dentro do Seu Filho, o Senhor Jesus, em realidade e em
propósito, como sendo o objeto de Sua graça para nós. Sua graça levou-O a revelar-nos todo este
conhecimento e plenitude que antes estava oculta Nele, que Ele próprio possui da plenitude de Seu Filho, o
Senhor Jesus. TODAS AS COISAS EM CRISTO.

A Revelação de Paulo de Cristo

Não desejamos fazer comparações entre os apóstolos, e Deus nos livre de que venhamos atribuir um valor
menor, a qualquer um deles, daquele que o próprio Senhor atribuiu; contudo, penso estar correto ao
afirmar que, mais do que qualquer outro apóstolo, Paulo foi o melhor intérprete de Cristo; e se o tomarmos
como nosso guia, como alguém que nos leva aos segredos de Cristo de modo mais pleno, constataremos
como ele realmente encarna aquilo que prega. É o próprio homem, e não apenas aquilo o que diz, que nos
leva a Cristo num sentido mais pleno e mais profundo.

Algo que chama a atenção de meu coração é a revelação sempre crescente de Cristo que Paulo tinha. Não
há qualquer dúvida de que esta revelação foi sempre crescente, tanto que quando Paulo chegou ao final da
sua vida terrena, que fora plena, rica e profunda, a visão que tinha de Cristo era tal que ainda o fazia
clamar: ―... para que eu possa conhecê-lo....‖. Sim, é verdade que no início de sua carreira aprouve a Deus
revelar o Seu Filho nele, mas, ao final, reconhece que não conhecia o suficiente de Cristo! Ele descobriu que
o seu Cristo estava muito além do seu pensamento e de suas convicções; assim ele partiu para a eternidade
com um grito em seus lábios: ―... para que eu possa conhecê-lo....‖.

Creio (não baseado em sentimentos) que esta será a nossa eterna bem-aventurança, a nossa atividade na
eternidade: descobrir, conhecer Cristo. Paulo, como dissemos, teve um grande conhecimento de Cristo. Na
melhor das hipóteses, nós reconhecemos a nossa pequenez toda vez que nos aproximamos de Cristo.
Quantas vezes já lemos a carta aos Efésios! Não estou exagerando quando digo que se a tivéssemos lido por
anos, por dezenas, centenas ou até milhares de vezes, cada sentença poderia deter-nos novamente sempre
que a ela retornássemos. Paulo sabia o que estava falando. Sua compreensão era ampla, mas, mesmo
assim, ainda reconhecia: ―para que eu possa conhecê-lo‖. Não acho que conheceremos de imediato Cristo
em plenitude assim que passarmos para a Sua presença. Creio que precisaremos prosseguir, orientados
pela seguinte expressão: ―as eras vindouras‖, descobrindo e explorando a Cristo. Esta revelação sempre
crescente de Cristo era o que mantinha a vida de Paulo, que sustentava vivo e ativo o seu ministério. Com
ele jamais houve qualquer estagnação. Ele jamais chegou a algum ponto ou a algum lugar onde expressasse
qualquer sinal de que já conhecesse tudo. O que ele parece sempre dizer é: ―ainda não conheço tudo, mas
vejo em parte, com os olhos espirituais vejo um Cristo tão grande, tão vasto que me mantém nesta busca,
sempre avançando para ganhá-lo mais e mais. Prossigo avante; esquecendo-me de tudo o que ficou para
trás, considero tudo como refugo por causa da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, pois desejo
conhecê-lo‖. Neste conhecimento crescente de Cristo, Paulo afastou-se bastante daquela sua posição inicial
de mestre dos judeus, ou do próprio judeu que foi: zeloso e irrepreensível.

Paulo começou com uma concepção judaica a respeito do Messias. É quase impossível apontar a concepção
judaica oficial a respeito do Messias, devido às várias escolas de interpretação dentro do próprio judaísmo.
Temos algumas indicações das expectativas daquilo que o Messias deveria ser ou fazer, mas não há um
parecer definitivo sobre a concepção exata que eles tinham acerca do Messias; porém, sem dúvida, era uma
concepção muito limitada. Havia uma grande incerteza que, de certa forma, traía o pensamento judaico em
sua longa espera pelo Messias. O Messias deles representava algo terreno e temporal; com um reino
terreno, um poder temporal e com todas as vantagens terrenas e temporais que gozariam nesta terra na era
messiânica. Provavelmente esta era a concepção que Paulo tinha do Messias. É bem verdade que a
concepção judaica não restringia a benção messiânica apenas a Israel. Eles admitiam que a vinda do
Messias, através dos judeus, resultaria em bênçãos para todas as nações; contudo, tal concepção ainda
continuava sendo terrena, temporal e limitada a este mundo. Ao lermos os evangelhos, especialmente o de
Mateus, vemos que os crentes judeus se esforçaram em mostrar que Cristo havia realizado três coisas.

Primeiro, Jesus corrigiu a concepção judaica que tinham a respeito do Messias.

Segundo, Jesus cumpriu as maiores esperanças que eles tinham acerca do Messias.

Terceiro, Jesus transcendeu em muito tudo aquilo que eles tinham imaginado.

Os evangelhos não foram escritos somente para convencer os incrédulos. Também foram escritos para os
crentes, a fim de ajudá-los através das suas narrativas. O evangelho de Mateus, que fora escrito num tempo
de transição, tinha a finalidade de interpretar e confirmar a fé em Cristo, mostrando quem realmente Ele
era, qual era a missão pela qual Ele havia sido enviado; desta forma corrigiu e ajustou a concepção judaica
sobre o Messias. A concepção deles era inadequada, distorcida, limitada e, algumas vezes, totalmente
equivocada. Assim, estes escritos tiveram a finalidade de corrigi-los, de mostrar-lhes que Cristo tinha
cumprido as melhores, as mais elevadas e as mais verdadeiras esperanças e expectativas messiânicas, e que
havia transcendido infinitamente a todas elas. Precisamos de Paulo para interpretar Mateus, Marcos,
Lucas e João; e ele faz isto. Ele anuncia Cristo como alguém em quem cada esperança é concretizada e em
quem tudo é possível. Os judeus estavam esperando um reino, uma libertação e uma bem-aventurança
terrena. Porém Cristo realizou algo infinitamente maior do que isto. Jesus Cristo realizou, para eles, uma
redenção cósmica; não apenas uma libertação do poder de Roma, ou de qualquer outro poder temporal,
mas uma libertação de todo o poder do maligno: ―O qual nos libertou do poder das trevas, e nos
transportou para o reino do Filho de Seu amor‖ (Cl 1:13). Aqui temos a libertação dos verdadeiros inimigos.

Mateus enfatizou a realidade do reino, mas a ideia que os judeus tinham deste reino era muito limitada,
terrena e estreita. Paulo, com uma nova ênfase, pelo Espírito, traz à tona a natureza e a imensidão do reino
do Filho de Deus. Uma revelação desta magnitude serviu de corretivo para eles. Paulo mostrou um
cumprimento num sentido mais profundo do que eles tinham esperado; bem como transcendeu a
esperança e expectativa que tinham. Paulo interpretou Cristo para eles em significado e valor mais plenos.
Ele mesmo havia começado no nível deles. A concepção que eles tinham de Cristo tinha sido a dele próprio.
Mas, após ter agradado a Deus revelar seu Filho nele, iniciou-se um aumento contínuo de seu
conhecimento de Cristo, através de uma revelação sempre crescente daquilo que Ele era.
Naturalmente, como Saulo de Tarso, jamais acreditou que Jesus de Nazaré fosse o Messias. Isto nos leva a
retroceder um pouco mais na concepção de Paulo. Ele acreditava que Jesus era um impostor, por isso ele
procurava eliminar tudo o que estava associado a Ele.

Paulo, então, teve que aprender pelo menos duas coisas. Teve que aprender que Jesus de Nazaré era o
Messias, bem como que Ele transcendia em muito a todas as concepções judaicas a respeito do Messias, a
todas as suas próprias ideias e expectativas associadas ao Messias. Paulo aprendeu que Jesus era o Messias
e que, como Messias, Ele era muito maior e mais maravilhoso do que as suas ideias, concepções e
expectativas. Paulo foi levado a esta revelação pela graça de Deus.

Como Paulo ilustra o progresso da revelação

Nas cartas de Paulo notamos seu progresso na compreensão e no conhecimento de Cristo, e é claro que
este progresso, expansão e desenvolvimento em seu conhecimento de Cristo foram ajustados
gradativamente. Não me compreenda mal. Paulo não repudiou ou contradisse suas impressões iniciais de
quem Cristo era, apenas tais compreensões foram ajustadas. À medida que seu conhecimento de Cristo
aumentava, aprofundava e se expandia, Paulo percebia que precisava se ajustar.

Este é um ponto em que muitos têm tropeçado, mas é uma lição que devemos aprender. Muitas pessoas
estranham a ideia de que alguém como Paulo — ou qualquer outro homem da Bíblia que fosse divinamente
inspirado, que estivesse totalmente sob o poder do Espírito Santo - ainda precisasse ajustar-se a uma nova
revelação. Tais pessoas parecem pensar que se alguém receber uma revelação mais ampla, então deve
negar, totalmente, sua posição original. Mas não significa nada disto.

Tomemos a seguinte ilustração. As primeiras cartas de Paulo foram escritas aos Tessalonicenses. Nelas
vemos que Paulo esperava a volta do Senhor para o seu próprio tempo. Observe suas palavras: ―... nós, os
que estivermos vivos para a vinda do Senhor...‖. Em sua carta aos Filipenses, Paulo já havia mudado de
posição; e em suas cartas a Timóteo, já nem tinha mais tal expectativa: ―... já estou sendo oferecido, e o
tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, acabei a carreira....‖. Paulo havia antecipado
o veredicto de Nero. Ele sabia, agora, que não seria por meio do arrebatamento que iria para a glória.
Estamos afirmando que estes textos se contradizem? De modo nenhum! Em sua caminhada com o Senhor,
Paulo chegou a uma revelação mais plena a respeito da vinda do Senhor, bem como de seu relacionamento
pessoal com Ele; mas isto não removeu, colocou de lado ou mudou qualquer doutrina que havia sido
transmitida inicialmente em suas cartas aos Tessalonicenses. Tudo o que fora escrito lá era totalmente
inspirado, dado pelo Espírito Santo, mas ainda era passível de ser desenvolvido no coração do próprio
apóstolo e, quando ele entendeu melhor o significado dos acontecimentos iniciais de sua jornada, então
descobriu que, em questões práticas, precisava ajustar-se. Nenhuma nova revelação, nem avanço em
compreensão, levou-o a negar qualquer ensino que tinha sido dado a ele por revelação em tempos
anteriores. Devemos reconhecer que estas diferenças não são contraditórias, mas são consequências de
uma revelação progressiva, complementar, mais ampla; uma compreensão mais clara que advém à medida
que caminhamos com o Senhor. Temos então estas evidências de que à medida que Paulo progredia na
compreensão e entendimento da grandeza de Cristo, foi levado a sofrer ajustes.

O Eterno Propósito de Deus em Seu Filho

As grandes descobertas de Paulo, concernentes ao Senhor Jesus, foram a revelação da filiação de Jesus (ele
descobriu que Jesus de Nazaré era o Filho de Deus, como mostram suas palavras em Gl 1:15-16), bem como
a compreensão de que Cristo foi exaltado à destra do Pai nos ―tempos eternos‖. Isto foi um acontecimento
muito importante para aprender algo que o Senhor quer nos ensinar. Cristo foi removido do tempo. O
tempo de Cristo, isto é, a sua entrada no tempo aqui neste mundo, constituiu-se em algo como um
parêntesis; não é a condição principal. Seria a condição principal se olhássemos para Ele à luz da queda do
homem e da necessidade de redenção, mas não é, originalmente, sua condição principal do ponto de vista
de Deus. Quero que você entenda isto, pois este é o ponto de entrada da maior de todas as revelações que
nos foram dadas a respeito do Senhor Jesus. Paulo deparou-se, em sua experiência no caminho de
Damasco, com o Cristo exaltado fora do tempo, colocado na eternidade; depois relacionou este fato ao
propósito eterno que, originalmente, não incluía a queda, nem a redenção. A redenção constitui-se num
desvio da linha do propósito de Deus através das eras. O plano original de Deus pode ser comparado a uma
linha reta sem desvios ou curvas, mas que, em certo ponto, devido a certos acontecimentos que não
estavam na vontade original de Deus, sofreu um desvio e que, após a redenção, voltou à linha original para
prosseguir novamente adiante. As duas extremidades desta linha estão no mesmo nível, na eternidade.
Você pode imaginar uma ponte sobre o desvio, com Cristo preenchendo-a, de modo que aquilo que
pertencia à eternidade não foi interrompido Nele; Nele tudo continua. A vinda de Cristo ao mundo e toda a
obra da cruz é fruto da necessidade causada pela queda; contudo em Cristo, de eternidade a eternidade, o
propósito não foi quebrado, não foi interrompido, permanece em linha reta. Não há interrupção em Cristo.
A redenção visa redirecionar ao propósito. Esta é uma palavra-chave usada por Paulo: ―Conforme o eterno
propósito que Ele propôs em Cristo Jesus nosso Senhor...‖ (Ef 3:11); ―... chamados conforme o Seu
propósito‖ (Rm 8:28). São as intenções eternas de Cristo, e este propósito, e estes conselhos divinos
estavam dirigidos ao universo e ao homem. ―Atravessemos esta ponte‖ para entendermos o curso que a
carta aos Efésios toma. A carta começa com a eternidade. Ela fala de muitas coisas que já existiam antes
que o mundo fosse criado, e volta a este ponto. Só no meio a carta fala de redenção, não voltando mais a
falar deste assunto até que tenha a eternidade passada em vista. A redenção vem para preencher uma
lacuna e, então, prosseguimos no plano da eternidade.

Deixemos de lado, por um instante, esta lacuna. É verdade que ela é importante, e que voltaremos a ela já
que tudo depende da redenção para nossa retomada ao propósito eterno; contudo deixe-a por um
momento e volte sua atenção para a outra direção. Todo o plano de Deus, sem a redenção, já estava
arquitetado nos conselhos eternos acerca de Seu Filho, Jesus Cristo e, neste plano, as eras foram criadas:
―... a plenitude dos tempos...‖; é assim que está na versão que estou usando.

Esta palavra ―tempos‖ ou ―eras‖ tem sido interpretada como sendo as dispensações que conhecemos na
Bíblia: a dispensação de Abraão, a dispensação da Lei, a dispensação da Graça. Eu me pergunto se isto está
correto. Grave a seguinte expressão: ―... por meio de quem fez as eras‖ (Hb. 1:2; R.V.M.). Pensemos
novamente. Será que estamos corretos em afirmar que isto se aplica ao que chamamos de dispensações tais
como mostradas na Bíblia? Sem querer ser dogmático, tenho uma pergunta. Podemos dizer que nos
conselhos eternos de Deus, em relação ao Seu eterno propósito concernente ao Filho, foi planejada uma
dispensação da Lei? Foi projetado um tempo como a era do Velho Testamento, com aqueles períodos de
Adão a Abraão, de Abraão a Moisés, de Moisés a Davi, de Davi ao Messias? Seriam estas as eras referidas?
Será que Deus criou tais períodos em relação ao propósito eterno? Lembre-se de que toda a obra criadora
se deu em, através e para o Seu Filho (Rm 11: 36), conforme o propósito eterno.

Ainda há eras e mais eras que virão. Existem aspectos da eternidade que não se enquadram no critério
―tempo‖ como compreendemos, mas que significam pontos de aparecimento, de desenvolvimento, de
progresso, de aumento e de alargamento. Ainda que tivéssemos nascidos no dia de Pentecostes, e
permanecido vivos até o retorno do nosso Senhor (esta é uma das dispensações conforme a ordem
cronológica deste mundo), mesmo assim não descobriríamos tudo o que Cristo significa. Descobriríamos
alguns aspectos e alcançado certo ponto no conhecimento de Cristo, mas ainda precisaríamos de uma outra
era, em condições diferentes, para descobrir novos aspectos que jamais seriam possíveis nesta vida; e
quando tivéssemos atingido este ápice, surgiriam outras novas possibilidades além dele. Não haverá
estagnação na eternidade: ―... o aumento de seu governo... não haverá fim...‖ (Is. 9:7).

Agora, ignore o triste quadro da história deste mundo, desde a queda até a restauração de todas as coisas, e
você vislumbrará as eras nas quais toda a plenitude de Deus em Cristo será revelada e aprendida
progressivamente, através de sucessivas eras, com mudanças e ampliações de condições, estruturas e
habilidades. Este é o significado do crescimento espiritual. Até mesmo na nossa própria curta vida cristã
neste mundo, se for uma vida genuína, se se mover sob o poder do Espírito Santo, também ocorre a uma
série de eras, mas em menor escala. Começamos como bebês espirituais, e aprendemos tudo o que é
necessário para esta fase. Então, chegamos a um ponto onde temos a nossa capacidade aumentada, onde
nossos sentidos espirituais são exercitados. E isto, novamente, resulta numa maior compreensão de Cristo
e, um pouco mais tarde, à medida que avançamos, nossas habilidades continuam crescendo sob o poder do
Espírito Santo. À medida que nossa visão é ampliada, percebemos que o terreno que estamos explorando é
bem maior do que imaginávamos. Como bebês, achávamos que tínhamos alcançado tudo! Naturalmente,
este é um dos sinais da infância e da juventude. Um dos fatores que caracteriza nossa maturidade é que
passamos a reconhecer a existência do vasto terreno à nossa frente, que nos convida ao avanço e nos
impede que acomodemos.

Assim, deixando todo o estado decadente desta criação, você contempla a criação das eras em Cristo, por
Cristo e através de Cristo, conforme o eterno propósito de Deus de convergir todas as coisas nele; não
apenas ―todas as coisas‖ desta nossa pequena vida, deste nosso pequeno dia, desta nossa salvação
individual, mas ―todas as coisas‖ deste vasto universo como uma revelação de Cristo, com tudo sendo
revelado e trazido à compreensão espiritual do homem, e o homem sendo conduzido a esta
experiência. Que Cristo!
Foi isto que Paulo viu; e isto pode muito bem ser resumido em suas próprias palavras: ―... a excelência do
conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor‖ (Cl 3:8). Temos aqui Paulo, já velho, ainda dizendo: ―para que
eu possa conhecê-lo‖. Cristo está acima do tempo, e o tempo, no que se refere a Cristo, somente foi incluído
à eternidade por causa da necessidade da redenção.

Em sua revelação sempre crescente de Cristo, Paulo também recebeu um maior entendimento que os
demais cristãos. O fato de ser um cristão passou a ter um significado tremendo para ele. Ser salvo do
pecado, da morte, do inferno e ser levado para o céu, eram apenas partes de um plano ainda maior. Paulo
entendeu que ser cristão significa ser reintroduzido ao propósito eterno, universal, vasto e infinito: ―Assim
como nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos... com o fim de sermos para o
louvor de sua glória‖ nas eras vindouras (Ef 1:4,12). Todos os cristãos também são levados para fora do
tempo, assim como Cristo, e ganham um significado completamente além do que têm aqui.

Houve um terceiro aspecto. Paulo compreendeu corretamente o alcance e o lugar da redenção. A redenção
passou a ser vista em seu pleno alcance e como algo maior, no sentido de não ser restrita ao tempo. Ela é
chamada de ―eterna redenção‖. A redenção é uma obra maior do que salvar homens e mulheres do pecado
e de seu estado decaído. A redenção redireciona todas as coisas para os estágios finais deste universo,
tocando todos os seus poderes; ela une a eternidade passada com a futura; ela reconcilia todas as forças
deste universo para a restauração do homem. Paulo mostrou o significado preciso, o valor e o alcance da
redenção e, também, colocou-a em seu devido lugar, e isto é muito importante.

Estas verdades são grandiosas. Todas precisam ser dissecadas e o Senhor pode nos capacitar a fazer isto,
mas, se você ainda não compreendeu o que foi dito até aqui, pelo menos apreciará o seguinte: Cristo é
infinitamente maior do que imaginamos. Esta é a revelação mais impactante que chega até nós através de
Paulo. Ele começou com um Messias judeu relativamente pequeno, e terminou com um Cristo que estava
muito além de tudo aquilo que jamais tinha cogitado ou conhecido; isto explica o clamor do final de sua
jornada: ―para que eu possa conhecê-lo...‖, e isto exigirá toda a eternidade. Que Cristo! É Cristo quem nos
removerá daqui, que nos libertará; mas deixe-me dizer o seguinte: isto não acontecerá por meio de uma
aparição dEle, impondo Suas mãos sobre nós e nos levantando, mas através da Sua revelação em nossos
corações. Como foi que Paulo conseguiu deixar suas limitadas convicções judaicas a respeito do Messias?
Simplesmente por meio da revelação de Cristo nele e, à medida que esta revelação crescia, mais liberto se
tornava. Houve algumas coisas que ele não abandonou por um bom período de tempo. Ele apegou-se a
Jerusalém quase que até o final da sua vida. Paulo ainda nutria um forte afeto por seus irmãos segundo a
carne, e fez muitas tentativas, no plano material, para libertá-los. Mas, finalmente entendeu o significado
do Cristo Celeste. Quando lemos suas cartas aos Efésios e aos Colossenses, vemos que o judaísmo, o Israel
segundo a carne, cessou de ter qualquer primazia para ele. Era a revelação de Cristo que o estava
emancipando, libertando-o o tempo todo. É desta maneira que Cristo é o nosso libertador e emancipador.
É apenas o Senhor Jesus quem precisamos conhecer. Tudo vai se tornando pequeno à medida que
conhecemos a Cristo. Tudo que pertence ao tempo e ao espaço desvanecerá quando virmos a Cristo e, em
nosso íntimo, haverá algo que nos sustentará através das dificuldades e nos dias maus. Veremos a grandeza
de Cristo e a grandeza da nossa salvação nele ―... conforme o seu propósito eterno…‖.
Capítulo 2 – A Manifestação da Glória de Deus

Leitura: Hebreus 1.

Discorremos, primeiramente, a respeito da revelação sempre crescente de Cristo que marcou a vida do
apóstolo Paulo. Vimos como Paulo, na condição de judeu, apresentava a sua própria compreensão terrena
e limitada sobre o Messias, que era tão comum à sua raça, com todas aquelas convicções dos privilégios e
implicações de um reino messiânico temporal; e como, para ele, tal concepção foi ampliada devido à
revelação que teve do Senhor Jesus na estrada de Damasco.

Esta ―crise‖ marcou o início de um conhecimento sempre crescente de Cristo. Paulo aprendeu que Jesus de
Nazaré não era somente o Messias tão esperado, mas que também era o Filho de Deus que, desde os
tempos eternos, já estava no seio do Pai. A partir de então, Cristo passou a ser para ele não mais uma figura
inserida no tempo. Mostramos como foi que, mediante revelação progressiva, este fato está relacionado
com o que Paulo frequentemente chamava de propósito: o propósito de Deus ou o divino conselho ―... o
qual opera todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade…‖. Isto se refere ao ―antes dos tempos
eternos‖ e, neste propósito, nestes conselhos divinos eternos, muitos aspectos são encontrados, e Paulo faz
referência a eles. Vimos que esses conselhos divinos, este propósito eterno, dizem respeito ao universo e,
em especial, ao homem; e que ambos, tanto o universo como o homem, estão reunidos em Seu Filho:
―conforme o propósito que Ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir nele todas as coisas, tanto
as que estão nos céus como as que estão na terra, na dispensação da plenitude dos tempos‖. Isto nos leva a
considerar um ponto que talvez exija uma nova afirmação ou, pelo menos, uma confirmação daquilo que
apresentamos até agora.

O Propósito das Eras

Esses conselhos eternos (o propósito eterno de Deus) podem ser representados como uma a linha reta
através das eras e, como afirmamos anteriormente, com a redenção sendo dispensável. A redenção
corresponde a outra linha, uma linha emergencial, um desvio. Estávamos dizendo que esta plenitude dos
tempos, das eras ou das estações, relaciona-se à intenção eterna de Deus de revelar a Sua plenitude, bem
como de inserir os homens nesta plenitude. Existem estágios de crescimento, progresso e desenvolvimento
concernentes ao conhecimento do Filho e, como dissemos, isto poderia ser representados como uma linha
reta através das eras. As outras eras das quais lemos, as eras deste mundo, cada qual com seus aspectos
peculiares, na verdade é outra linha, que introduz outra expressão de propósito. Foram trazidas
figurativamente ou imaginariamente da seguinte maneira: a trindade, em conselho, propôs um plano para
todas as eras futuras, de eternidade a eternidade e, neste plano, tudo era claro e reto. Haveria uma
revelação progressiva de Deus em Seu Filho e o universo seria levado progressivamente a esta plenitude.
Mas, então, chegou-se um ponto onde, devido à Sua presciência, Deus disse (imaginariamente falando):
―Sabemos o que acontecerá. O homem que criamos fracassará, cairá. E isto significará um longo período de
desordem, de rompimento, de caos e precisamos cuidar disso‖. Então foi introduzido o plano da redenção,
e o Cordeiro ofereceu-se à morte antes da fundação do mundo. Esta é outra linha do propósito. Assim, as
eras deste presente mundo tiveram que ser introduzidas: a era antes da queda, de Adão caído até Moisés;
uma era governada por determinados critérios; depois, a era da Lei até Cristo; então, a era ou dispensação
da Igreja. Tudo isto não era a intenção original. É preciso esclarecer bem este ponto, pois, de outra
maneira, Deus seria o responsável pelo pecado, e você poderia concluir: ―Bem, se Deus planejou tudo,
então a queda estava incluída; logo Deus é responsável pela queda!‖. Porém, isto não é verdade. Nenhum
de nós pode acusar Deus de ter planejado a queda a fim de tornar necessária a redenção. A redenção
corresponde a outra linha do propósito, que foi prevista segundo a presciência de Deus. A linha original do
propósito não incluía a redenção e, como dissemos, partindo-se do nível correto, alcança-se um ponto
onde, por causa do fracasso, do pecado, encontra-se uma depressão na linha e, nesta depressão, nesta
brecha, toda a história da redenção é desenvolvida. Cristo é a ponte que restaura ao propósito original e à
Sua realização, da eternidade passada à eternidade vindoura. Vindo à semelhança de carne pecadora, mas
sem pecado, o Redentor colocou-se na brecha e executou o propósito das eras em Si mesmo. As atuais
dispensações são acessórias em sua natureza, e só surgiram para sanar uma emergência. Deus jamais quis
que fosse desta maneira. Fiquemos bem certos disto.

O fato que está claro para nós, e que possui um valor tremendo, é que Deus desejou que houvesse eras,
tempos, períodos nos quais pudesse haver uma revelação, uma manifestação e uma compreensão
progressiva de Si mesmo. Talvez isto possa soar como algo especulativo, contudo perguntemos: ―o que teria
acontecido se a queda não tivesse ocorrido? Se o homem tivesse sobrevivido ao teste no jardim e não
tivesse caído? O que teria acontecido?‖. Acredito que o homem teria crescido, crescido e crescido em sua
compreensão e conhecimento de Deus; crescido em sua expressão pessoal de Deus. Deus teria, assim,
assegurado uma expressão progressiva de Si mesmo e, sabendo um pouco quem Deus é, não haveria limite
para esta expressão! O processo poderia ter continuado através de infinitas eras, acompanhado de
alterações neste universo para que houvesse as condições necessárias para que a plenitude de Deus
pudesse se manifestar cada vez maior.

Não estamos falando de um homem individual, mas de um homem coletivo. Esta é a vontade de Deus e
sempre será. Devemos atravessar a lacuna, que foi preenchida pelo programa da redenção, e perseverar
até o ponto onde a redenção esteja completa. Voltar ao nível inicial do propósito, triunfante sobre o
inimigo, então ascender outros níveis. Assim, o que teremos? Teremos uma expressão progressiva e
sempre crescente da plenitude de Deus exibida através de eras, em esferas cada vez maiores de revelação.
Não é possível compreender toda a plenitude de Deus. Levará a eternidade para expressá-la.

Toda a plenitude de Deus está em Cristo e, a nossa ênfase é: quão grande é tal plenitude! Que Cristo temos!
Levará a eternidade para conhecê-lo. Este fato é tremendo! Lembremos das palavras do próprio Senhor
Jesus: ―...ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai…‖. Conhecer, aqui, não significa ―estar informado‖,
como se somente o Pai estivesse informado sobre o Filho. Mas significa no que Cristo representa neste
universo, tudo o que Ele é em Sua posição. O Senhor está nos chamando para que compreendamos isto. O
Senhor deseja conduzir-nos a uma nova compreensão e entendimento acerca de Seu Filho, e esta
compreensão é o nosso caminho para mais além, para cima, para a plenitude. Como dissemos, isto está
relacionado ao propósito, aos conselhos divinos acerca do universo e, em especial, ao homem.
A Personificação do Pensamento Divino em Um Ser

Deus foca Sua atenção num ser criado chamado homem; já que o homem é uma expressão do pensamento
divino, é a imagem e a semelhança de algo concebido na mente de Deus. Estes são os conselhos eternos
provenientes do propósito eterno, o conselho de sua vontade. Vamos, agora, detalhar mais este ponto.

Deus tem pensamentos. Nós pensamos também. Nossos pensamentos derivam de nossos valores, de nossa
natureza e da nossa constituição. Se alguém pensa de uma certa maneira é porque ele é daquele jeito;
outro, é de outra maneira, porque ele é de outro jeito. Nossos pensamentos são expressões da nossa
própria natureza, constituição e disposição. ―Pois assim como alguém pensa em seu coração, assim ele
é....‖ (Pv. 22:7). O pensamento expressa a essência daquele que pensa. E Deus tem pensamentos. Os
pensamentos de Deus expressam Sua essência. Os pensamentos de Deus são projeções de Sua mente que
revelam como Ele se parece, o que Ele pensa e o que Ele é em si mesmo. Tais pensamentos foram focados
em um ser criado chamado homem, com o objetivo de que o homem pudesse ser uma expressão, uma
personificação viva dos pensamentos de Deus.

Deus tem desejos. Com relação ao homem, é igualmente verdade que: ―assim como alguém deseja em seu
coração, assim ele é‖. Nossos desejos são expressões de nossas inclinações, preferências e daquilo que
entendemos ser o melhor. Nossos desejos expressam a nós mesmos. Os desejos de Deus expressam Sua
própria natureza, Seu próprio ser e Sua própria semelhança. Estes desejos foram concentrados no homem
para que ele pudesse ser uma personificação viva do coração de Deus, do desejo de Deus; tendo os mesmos
desejos de Deus, tendo os mesmos pensamentos de Deus. Deus e o homem, unidos em mente e coração.

Deus tem vontade. Nossas vontades sempre nos traem. Nossa vontade é a manifestação, a revelação
daquilo que apreciamos, daquilo que intencionamos. Isto também é verdade em relação a Deus. Deus tem
vontade, e Sua vontade expressa Sua natureza; manifesta Sua essência, Sua disposição e Seus
propósitos. A vontade de Deus também foi focada no homem para que ele pudesse personificá-la e
expressá-la de uma forma viva e pessoal; vivendo nela e por ela, com todo o seu ser engajado na seguinte
disposição: ―que se cumpra a Tua vontade, ó Deus!‖. O homem que deveria ser, em sua condição moral e
espiritual, a própria imagem e semelhança de Deus; obediente à vontade de Deus. O homem não foi criado
como um ser divino, mas para conter a natureza moral e espiritual de Deus reproduzida na sua mente,
coração e vontade e, assim, expressar Deus na criação. É nisto que consistiu o pensamento original de
Deus, e este é o Seu grande propósito. Deus quis que Sua vontade fecundasse, multiplicasse e enchesse a
terra; que crescesse e expandisse; que dominasse, com força moral e espiritual, todos os reinos e enchesse
todo o universo. As forças morais transcendem os indivíduos aos quais foram confiadas e centradas.

A Mentira de Satanás e Suas Consequências

Agora compreendemos porque Satanás buscou derrubar o homem; porque agiu do jeito que agiu. Foi como
tivesse dito ao homem: ―rejeite a mente, a vontade e o desejo de Deus! Ao invés disto, aceite a minha
vontade!‖. E quais foram as consequências? A extensão daquela rebelião cósmica para o universo, a partir
do homem! Estas forças morais, que são contrárias daquelas pretendidas por Deus, tornaram-se forças
cósmicas. São forças que têm extrapolado, em muito, indivíduos, famílias e alcançado toda a raça e todos
os reinos do cosmos. Existe, então, esta outra vontade, rebelde à vontade de Deus, que está contaminando
a própria atmosfera. Existem, assim, outros desejos, sentimentos, pensamentos, contrários aos de Deus.

Se o homem tivesse permanecido fiel aos pensamentos, sentimentos e vontade de Deus; se tivesse sido fiel
a ele mesmo, como era para ser fiel a Deus; então este mundo, e todo o cosmos, seria hoje uma expressão
do pensamento, do desejo e da vontade de Deus. Que mundo seria! Que universo seria! Mas o que temos
agora? Algo que nenhum esforço humano pode endireitar. Devido à sua traição a Deus e à sua
cumplicidade com o inimigo de Deus, o homem liberou algo no universo que passou a se desenvolver até
atingir o ponto em que toda a criação se torne uma expressão do inimigo de Deus. Isto resultará em sua
própria perdição. Que diferença! Hoje isto está sendo operado! Tente, por exemplo, conter uma
guerra. Quão inútil! A guerra é fruto daquilo que foi liberado ao universo: ―apenas há um que o detém
agora, até que seja tirado do caminho‖ (2 Ts 2:7). Quando aquilo que o detém for completamente
removido, você verá toda a criação como uma massa levedada, fervendo em anarquia e autodestruição.
Esta nunca fora a intenção inicial de Deus.

Você entende o pensamento, a intenção e o propósito de Deus para o homem? O propósito de Deus era
expressar-se a Si mesmo em todo o universo. Porém, o que está acontecendo neste mundo é justamente o
oposto, e será assim até o fim. A situação atual não é fruto do pensamento, do desejo e da vontade de Deus;
o que vemos é uma anarquia. É oposição a Deus, ao Seu propósito; é contra a Sua criação. Graças a Deus
por estarmos fora desta criação, por estarmos em Cristo, e Cristo é aquela ponte sobre a lacuna da
queda. Ele nos leva de volta ao propósito original. Em Cristo os pensamentos, os desejos e a vontade de
Deus são perfeitamente expressos e, por estarmos nele, somos uma nova criação em Cristo Jesus. Agora,
qual deve ser a nossa ocupação? Aprender, por meio do Espírito Santo, a viver segundo os pensamentos,
sentimentos e vontades de Deus, a viver no caminho de Deus.

A conformação essencial, moral e espiritual a Cristo

O desejo de Deus é expressar Sua essência num corpo coletivo. Não digo com Sua divindade intrínseca,
mas com Sua essência moral; assim este homem coletivo deve pensar os pensamentos de Deus, sentir os
sentimentos de Deus e desejar a vontade de Deus. Deus deseja uma raça corporativa que expressa a Si
mesmo. Vemos isto em Cristo. Entendemos o significado de Cristo quando vemos tudo isto operando. É
isto que Cristo significa. Esta é a interpretação de Cristo. Quão grande Ele é!

Paulo vê Cristo completamente exaltado, além do tempo; ele vê Cristo sob a perspectiva do propósito de
Deus; como Sua expressão, imagem, esplendor e como a própria essência de Deus. Sim, a divindade de
Cristo incluía a essência moral de Deus. Cristo é a expressão exata do ser de Deus; é Sua própria imagem,
com toda Sua excelência moral.

A visão de Cristo é muito grandiosa, bem como a visão de que fomos escolhidos nele para sermos como Ele
é: ―... conformados à imagem de Seu Filho‖ (Rm 8:29). A primeira expressão do pensamento, da mente, do
coração e da vontade de Deus, foi o Filho; e o Filho não foi criado, mas sim gerado. Tudo o demais é que foi
criado no Filho. O homem foi criado para ser conforme a imagem do Filho, mas o Filho não foi criado. Ele
era o Unigênito do Pai; único, sozinho, exclusivo e conclusivo.

Essas não são meras palavras. Na criação, segundo Deus, não existirá absolutamente nada a não ser aquilo
que é de Cristo. É importante saber isto. Graças a Deus, não seremos da mesma maneira como somos hoje.
Não será Cristo e nós, mas tudo será Cristo em nós. Isto é, Cristo será tão corporativamente expresso que,
excetuando-se na questão da divindade intrínseca, a essência moral e espiritual de Cristo governará
completamente cada espaço do universo. Teremos Cristo neste sentido; um grande Cristo universal,
coletivo e corporativo! Sim, haverá incontáveis multidões, contudo, tão conformadas à imagem de Cristo
que, tanto olhando para qualquer um, em particular, ou para todos, a conformidade espiritual a Cristo será
vista. Não estamos afirmando que Cristo perderá a sua individualidade, que será absorvido por alguma
entidade a ponto de perder todas as Suas distintivos pessoais; não, estamos dizendo que, quando
estivermos conformados à Sua imagem, seremos como uma grande pessoa, o Corpo de Cristo aperfeiçoado,
uma expressão corporativa e coletiva daquilo que Cristo é.

Paulo referiu-se a isto quando, com fé madura e com uma carreira marcada por vitória e crescimento,
disse: ―... a partir de agora, a ninguém mais conhecemos segundo a carne‖ (2 Co. 5:15). Isto significa uma
enorme vitória. Em nossos relacionamentos com nosso irmãos, Paulo quis dizer que, apesar de toda
inconsistência, fracasso, condição natural, devemos focar toda a nossa atenção no Cristo que está dentro
deles e, por pertencerem a Cristo, e por Cristo estar neles, esta habitação de Cristo neles torna-se a base de
todos os nossos relacionamentos. Assim, devemos desviar completamente os nossos olhos de nossos
irmãos naquilo que são em sua condição natural; temos que conhecê-los segundo Cristo, e não segundo a
carne. Isto não será difícil nas eras vindouras, pois ali não haverá mais nada de nossa carne, haverá apenas
aquilo o que é de Cristo em nós. Veremos Cristo uns nos outros; estaremos plenamente conformados à Sua
imagem. Que o Senhor apresse este dia!

Que Cristo! Veja o lugar Dele no propósito de Deus. Veja o Cristo universal e eterno incluindo em Si
mesmo, como o Filho, tudo aquilo que estiver conformado à Sua imagem. Tudo aquilo que não é adequado
a Deus e que não vem dEle, será excluído. Cristo é inclusivo desde a criação, já que todas as coisas foram
criadas nele, por Ele e para Ele. Todas as coisas retornarão a Ele, porém moralmente purificadas e
adequadas segundo Seus padrões. É por isso que Jesus recusou as ofertas do diabo. O inimigo ofertou: ―te
darei todos os reinos do mundo se prostrado me adorares‖ (Mt. 4:9). Jesus desprezou a oferta. O caminho
seria custoso – e Ele sabia disso – mas não seria seduzido por aquela proposta. Na verdade Ele diz: ―Eu
terei todas estas coisas, mas somente depois de ter resolvido todos os problemas e restaurado todos os
corações feridos‖. A consequência desta obra será: toda a criação incluída de volta em Cristo. Que Cristo!

Uma das grandes marcas presentes na nova criação em Cristo é a vida imortal. Na atual criação quem reina
é a morte e a depravação. Na nova criação temos a vida imortal! Não há morte na nova criação.

Todas as eras estão incluídas em Cristo. Sim, ainda há eras que virão, como está escrito: ―... nas eras por
vir...‖. Estas eras estão sendo incluídas em Cristo. Isto significa que Cristo imprimirá Seu caráter nelas.
Tais eras tomarão a natureza e o caráter de Cristo e, na condição de eras, seu progresso, aumento,
expansão e extensão é uma questão de contínuo avanço e ampliação em Cristo. As eras são feitas para Ele,
e as eras vindouras são para a manifestação de Cristo em nós. Toda plenitude da divindade está em Cristo.
Estas declarações são encontradas na Palavra.

O Dom da Vida Eterna

Na criação do homem, desde o princípio, uma grande realidade deixou de ser desenvolvida. Talvez tenha
sido a realidade mais importante, mas foi interrompida devido à tentação e à queda. Qual foi esta realidade
que tanto dependia de como o homem se sairia no teste? Era a vida eterna; a vida verdadeira; aquilo que
Deus realmente considera como vida. O desenvolvimento desta vida foi interrompido devido à queda, e isto
introduziu mais outro grande fator da Palavra de Deus, ou seja, a revelação de Deus. Aqui temos uma
grande questão que permeia toda a história desde Adão: em quem poderia habitar tal vida eterna?
Sabemos que a vida eterna não é apenas uma questão de duração de existência. É um tipo de vida; é a
própria vida de Deus, vida divina, a vida das eras. Em quem esta vida poderia habitar? Esta é uma a grande
questão. A resposta a esta pergunta é Cristo: ―... nele estava a vida...‖. Ele é a vida. Porém, não devemos vê-
lo apenas como um ser singular, individual, isolado, mas também como uma pessoa corporativa; toda a
criação em Cristo.

Até aqui, tudo, no que se refere ao tempo presente, consiste numa grande interrogação. Neste plano de
redenção, que surgiu como uma segunda linha no arranjo divino, toda a questão da nossa resposta ao
chamado de Deus, da nossa aceitação a Cristo, da nossa união a Ele, tudo isto está na balança. Uma grande
questão paira sobre esta dispensação: Quem irá aceitá-lo? A muitos Ele tem dito: ―não quereis vir a Mim‖
... (Jo 5:40). A questão é colocada depois que a vida foi ganha; você começou no ponto exato onde Adão
fracassou, e já foi tirado do buraco, da curva; você foi levado a Cristo, foi inserido na linha reta do
propósito eterno que, em sua concretização, resultará num universo cheio de Cristo: ―Até a dispensação da
plenitude dos tempos, a fim de convergir todas as coisas em Cristo...‖.

Você deve estar se perguntando: o que significa tudo isto? Se isto ainda não está claro para você, podemos
resumi-lo nas seguintes palavras: o propósito de Deus é manifestar a grandeza de Cristo, isto é tudo. Agora,
precisamos que aconteça conosco, com a graça de Deus, o mesmo que aconteceu a Paulo, o qual alcançou
esta revelação sempre crescente e inesgotável de Cristo. Recordemos de suas próprias palavras: ―… aprouve
a Deus revelar Seu Filho em mim...‖. Talvez você já tenha algum conhecimento de tudo isto; isto pode ter-
lhe soado mais ou menos maravilhoso; você pode conhecer a verdade de maneira intelectual; mas existe
toda uma diferença entre esta forma acadêmica com aquela maneira como Paulo conhecia a verdade. A
maneira de Paulo conhecer a verdade traz libertação.

Você já viu uma mosca dentro de uma garrafa? Ela gira e roda, batendo-se de um lado para o outro,
subindo e descendo, e você sofre vendo o esforço da mosca. Você a vê subir um pouco, e a sua esperança
cresce junto com ela, mas, então, ela desce, procurando a saída até debater-se. Então, sobe, sobe e sobe,
alcançando o topo, sai e voa para longe! Esta é a diferença.
Você e eu, com todo o nosso conhecimento intelectual e mental acerca do reino espiritual, descobrimos que
se trata de algo sem esperança se estivermos vivendo aqui em baixo, nesta criação, como moscas dentro de
uma garrafa. Hoje seria fácil desesperar, cair, devido ao estado em que as coisas se encontram. Saia pelo
mundo afora e veja se você encontra alguma perspectiva para a igreja, para o evangelho, para o Senhor.
Olhe para a própria situação da igreja. Aplique a carta aos Efésios para o plano terreno deste mundo! Você
desistirá e dirá: são verdades maravilhosas, mas é algo impraticável. Tente aplicar os princípios divinos
aqui neste mundo e você entrará em desespero. Observe Paulo, quando olhava para as igrejas que ele
próprio tinha gerado e as via caindo aos pedaços, com os homens pelos os quais ele tinha sofrido, voltando-
se contra ele. Paulo teria se desesperado em seu coração se mantivesse uma mentalidade terrena.
Quais eram as possibilidades em tais circunstâncias? Mas ele posicionou-se nos lugares celestiais em Cristo
Jesus e viu tudo do ponto de vista espiritual, eterno. Leia a carta aos Efésios novamente e observe como ela
se inicia: ―Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com toda sorte de
bênçãos espirituais em Cristo; bem como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para que
pudéssemos ser santos e irrepreensíveis diante dele em amor; tendo nos predestinado para sermos filhos
maduros em Jesus Cristo, conforme o bom desígnio de Sua vontade, para o louvor da glória de Sua graça,
que Ele livremente derramou sobre nós no Seu Amado: em quem temos a redenção através de Seu sangue,
o perdão de nossos pecados, segundo as riquezas de Sua graça...‖ (Ef. 1:3–7).

Estas são as palavras de um homem com sua vida caindo aos pedaços e com todos os seus velhos amigos
pelos quais ele tinha sacrificado a si próprio voltando-se contra ele. Mesmo assim, o que Paulo via? Via a
eternidade, a universalidade de Cristo, via todas as coisas em Cristo. Paulo não está mais vivendo neste
mundo, mas sim em Cristo. Esta é a única saída. Este é o caminho da vida, da esperança, da garantia em
dias como os nossos, quando as circunstâncias tornam-se cada vez piores. Cristo é a saída: ―... nos lugares
celestiais em Cristo...‖; ―... nos escolheu antes da fundação do mundo…‖. Mais uma vez exclamamos: Que
Cristo! Permaneçamos no Senhor Jesus, pois tudo o que precisamos está nele.

Capítulo 3 – Um Homem Segundo o Coração de Deus

Leitura: Sal 89:19,20; At 13:22; Hb 1:9; 1 Sm 13:14.

A Bíblia está repleta de homens. Está repleta de muitas outras coisas: doutrinas, princípios, histórias e
genealogias; porém, mais do que qualquer outra coisa, está repleta de homens. Este é o método de Deus,
Seu método escolhido, Seu principal caminho de se fazer conhecido. Os homens que se relacionavam com
Deus, com os quais Deus se associava, revelam particularidades. Nenhum homem é perfeito em todos os
aspectos, mas em cada homem há uma ou mais características que se destacam e o distingue dos demais,
que permanecem sendo as características notórias da sua vida. Tais características distintivas representam,
em certa medida, o pensamento de Deus; são características que o próprio Deus empenha-se em
desenvolver. Por isso, Deus colocou as Suas mãos sobre determinados homens, para que, ao longo de suas
histórias, pudessem expressar de certos traços particulares.
Assim, falamos da fé de Abraão ou da mansidão de Moisés. Cada homem possui alguma característica que
foi trabalhada, desenvolvida a ponto de, ao pensarmos nele, sua característica salta à nossa sua mente.
Nossa atenção é atraída, não para todos os aspectos de sua vida, mas para aquilo que é a sua
marca particular. Assim, por meio de um apóstolo, somos despertados a nos lembrar da fé de Abraão,
enquanto por outro apóstolo somos impelidos a nos lembrar da paciência de Jó. Estas características são
traços de Deus e, quando todas elas são reunidas e combinadas, representam Cristo. É como se Deus
tivesse colocado um Homem ao longo das gerações e, numa multidão de homens sob Sua mão, tivesse
mostrado algum aspecto, alguma característica, alguma faceta daquele único Homem, de modo que este
Homem seja capaz de dizer: ―Vós examinais as escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
que de Mim testificam...‖ (Jo 5:39). Há um Homem ao longo de toda a Bíblia, e todos os que estiveram
debaixo das mãos de Deus foram usados com o propósito de mostrar algo deste Homem, o qual, em
plenitude, é expresso no Filho, o Senhor Jesus. Baseado no que foi exposto, podemos apreciar melhor os
textos lidos na introdução, os quais, em primeira instância, referem-se a Davi, mas que claramente
apontam para alguém maior do que ele. Leia novamente o Salmo oitenta e nove e você não poderá deixar
de perceber que as duas coisas se fundem uma na outra: ―Coloquei o socorro sobre alguém que é poderoso;
exaltei a um eleito do povo‖(v.19). Você deve olhar para alguém maior do que Davi, a fim de compreender o
texto. Nas palavras: ―coloquei o socorro sobre um que é poderoso...‖, temos um dos grandes fundamentos
da nossa redenção. Alguém maior do que Davi está aqui. Davi, naquelas características principais de sua
vida, foi apenas uma expressão do pensamento de Deus a respeito de Cristo. Você não pode aplicar esta
afirmação em relação à vida de Davi como um todo. Você não pode tomar a afirmação ―encontrei um
homem segundo o meu coração…‖ e aplicá-lo em toda a vida de Davi, dizendo que, quando ele cometeu
este ou aquele pecado, que aquilo foi algo segundo o coração de Deus. Precisamos ver exatamente quais
eram as características de Davi que permitiu a Deus dizer que ele era um homem segundo o Seu próprio
coração. Apenas aquilo que expressa Cristo, que aponta para Cristo, é que é levado em conta. Somente
aquilo que é segundo Cristo pode ser chamado de segundo o coração de Deus.

O Propósito Divino desde a Eternidade

―O Senhor buscou para Si um homem segundo o Seu próprio coração...‖ (1 Sm 12:14). Baseando-nos em
nossas meditações anteriores, versículos como este nos introduzem a um grande cenário. Um cenário que
fala da criação do homem, do Senhor criando um homem-raça, um homem corporativo em quem os Seus
próprios pensamentos e características poderiam ser reproduzidos de forma moral. O Senhor sempre
buscou tal homem. Foi o desejo de tal homem que motivou-O à criação. Foi a busca deste homem que
levou-O a encarnação, que levou-O a idealizar a igreja, que é o ―novo homem‖. Deus está o tempo todo em
busca de tal homem, a fim de preencher o universo; não com homens individuais, mas com um homem
coletivo reunido em seu Filho. Paulo fala deste homem como sendo ―… a igreja, a qual é o Seu corpo, a
plenitude daquele...‖. Esta é a plenitude, a medida da estatura do homem em Cristo. É da igreja que se está
falando, não de um indivíduo. Deus sempre buscou um homem com o qual pudesse preencher o universo.
A Semelhança é Moral e Espiritual

Deus tem pensamentos, sentimentos e vontades, que expressam a própria essência do Seu ser moral e,
quando Deus expressou-se a neste sentido, formou um ser constituído conforme a Sua própria natureza
moral; o homem tornou-se uma materialização e personificação da própria natureza moral de Deus; não
com a divindade de Deus, mas com Sua natureza moral. Quando se diz que algo ou alguém é segundo o seu
próprio coração, quer-se dizer que aquilo é exatamente como é desejado, e que trás completa satisfação. É
este o significado de ser um homem segundo o coração de Deus.

Devotado à Vontade de Deus

Há um terceiro aspecto que, em certo grau, traz mais clareza, que nos conduz à raiz da questão. O que é um
homem segundo o coração de Deus? O que Deus tem procurado neste tipo de homem? O versículo em Atos
nos diz: ―... o qual fará toda a minha vontade‖ (At 13:22). Se você consultar o original, verá que a palavra
―vontade‖ está no plural: ―... todas as minhas vontades‖, ou seja, obedece a tudo o que Deus deseja, tudo o
que Deus quer; submetendo-se à vontade de Deus em todas as suas formas, exigências e objetivos. O
homem que cumprir todas as vontades de Deus será um homem segundo o Seu coração. É este tipo de
homem que Deus tem procurado. Estas palavras aplicam-se, primeiramente, a Davi. Há vários episódios
na vida de Davi, como um homem segundo o coração de Deus, que cumpre estes requisitos.

Primeiro, Davi é colocado em contraste com Saul. Após Deus depor Saul, colocando-o de lado, levantou
Davi. Estes dois homens permaneceram, por um tempo, em oposição um ao outro e jamais poderão ocupar
o trono simultaneamente. Se for para Davi reinar, Saul deve ser deposto. Se Saul ainda continua no trono,
Davi não pode reinar. Este confronto de fato ocorreu na história, mas aprendamos que há o confronto
entre estes dois princípios básicos. Diante de Deus há dois estados morais, duas condições espirituais, dois
tipos de corações e tais não podem ocupar o trono ao mesmo tempo. Se é para um ser o principal, ou estar
em lugar de ascendência, de honra, nomeado por Deus, o outro precisa ser completamente removido. É
notável que, mesmo após Davi ter sido ungido rei, houve um lapso considerável de tempo antes que
chegasse a ocupar o trono, durante este tempo Saul continuou lá. Davi teve que se manter afastado até que
aquele regime completasse o seu curso, até que se expirasse, terminasse e, então, fosse colocado de lado.

Seria um longo e benéfico estudo examinar a vida interior de Saul, que é revelada pelo seu comportamento
exterior. Saul era governado por seus próprios critérios a respeito das coisas de Deus. Quando Deus
mandou Saul matar Amaleque – homens, mulheres, animais e crianças a fim de destruir sua raiz e sua
descendência – estava, na verdade, testando a fé de Saul para que este se submetesse ao julgamento,
sabedoria e honra de Deus. Se Deus nos manda fazer algo que aparentemente nega Sua própria natureza
bondosa e misericordiosa, mas começamos dar as nossas desculpas à questão e sermos desobedientes,
estaremos estabelecendo o nosso próprio julgamento em detrimento do de Deus. É como se disséssemos:
―o Senhor certamente não sabe o que está fazendo! Certamente o Senhor não percebe que a Sua reputação
será maculada se tal coisa for feita; não vê que as pessoas falarão mal da Sua moralidade!‖. É algo muito
perigoso estabelecer nosso próprio julgamento moral para desobedecer a uma ordem expressa do Senhor.
Não cabia a Saul questionar, mas obedecer. Recordemos da palavra de Samuel a Saul: ―Eis que o obedecer
é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros‖ (1 Sm 15:22). O homem
segundo o coração de Deus é aquele que faz toda a Sua vontade, e não fica dizendo: ―Senhor, isto irá levá-lo
à reprovação! Isto irá levá-lo à desonra! Isto causará sérias dificuldades para Ti!‖. Ao contrário, ele
responde imediatamente: ―Senhor, Tu disseste; eu entrego a responsabilidade e as consequências contigo,
e simplesmente obedeço‖. O Senhor Jesus sempre agiu desta maneira. E Ele foi mal compreendido
exatamente por causa disto, mas Ele sempre obedeceu.

Saul foi influenciado, em toda sua conduta, por seus próprios sentimentos, gostos, desgostos e por suas
preferências. Ele culpou o povo, mas, na verdade, foi ele mesmo quem teve culpa. Os sentimentos de Saul
conduziram os seus julgamentos. Na verdade ele disse: ―É uma grande pena destruir tudo isto! Aqui está
algo que parece tão bom que, de acordo com os meus padrões de julgamento, é útil, mas o Senhor manda
destruir! Que pena! Por que não oferecer isto a Ele mesmo em sacrifício?‖. Sabemos que isto é verdade em
relação ao homem natural, que existem estes dois aspectos, o bom e o mau. Quantas vezes, nós mesmos
nos comportamos da seguinte maneira: ―vamos entregar o melhor para Deus. Somos muito propensos ao
lado pecaminoso, mas vamos dar o que há de melhor em nós para o Senhor!‖. Porém todas as nossas
justiças são para Ele como trapos de imundícia. A nova criatura de Deus não é uma colcha de retalhos da
velha; é uma obra inteiramente nova, e tudo o que é velho tem que desaparecer. Foi aí que Saul fracassou.
Ele raciocinou que o melhor deveria ser dado a Deus, quando Deus havia dito: ―destrua tudo‖.

O homem segundo o coração de Deus não comete falhas como esta. A pergunta que ele faz a si mesmo é: ―O
que o Senhor disse?‖. Não há espaço para qualquer outro questionamento, tal como: ―O que eu sinto a
respeito disto? Como isto se parece para mim?‖. O homem segundo o coração de Deus não diz: ―É um
grande desperdício do meu ponto de vista‖. Não! Antes diz: ―O Senhor disse, e isto basta‖. Deus tem
buscado para Si um homem que fará todas as suas vontades.

Assim, poderíamos examinar o contraste entre Saul e Davi ao longo de muitas comparações. Voltaremos a
este exame oportunamente. Tudo, até aqui, se resume nesta questão: ―um homem submeterá todos os seus
próprios julgamentos, sentimentos, padrões e todo o seu ser à vontade de Deus? Ou terá reservas por causa
da maneira como enxerga as demandas e as questões de Deus?‖.

Uma Rejeição Total à Carne

Há um outro aspecto pelo qual Davi destacou-se como um homem segundo o coração de Deus. É neste que
estamos especialmente interessados e com a qual iremos concluir esta meditação. Ele se manifestou na sua
primeira ação pública no vale de Elá. Estamos nos referindo à sua disputa contra Golias. Esta sua primeira
ação pública foi representativa e inclusiva, assim como a conquista de Jericó foi para Israel. A conquista de
Jericó, como sabemos, representava a conquista de toda a terra. Havia sete nações que deviam ser
depostas. Os hebreus marcharam ao redor de Jericó sete vezes. Jericó, como um princípio espiritual e
moral, representava toda esta terra. Deus queria que o princípio de conquista sobre Jericó, também fosse
aplicado em relação às demais conquistas, que todas as conquistas baseassem apenas na fé pura; vitória
através da fé, possessão através da fé.

A batalha entre Davi e Golias foi assim. Ela resumiu tudo o que a vida de Davi expressaria. Foi uma
introdução abrangente, que revelava o coração de Davi. Ele era um homem segundo o coração de Deus. A
base da aprovação de Deus em Sua escolha de homens é mostrada a nós em Suas palavras ditas a Samuel,
em relação aos filhos de Jessé: ―Não olhe para a aparência ou para a altura... o Senhor olha o coração‖ (1
Sm 16:7). No caso de Davi, o coração que Deus tinha visto é mostrado na disputa com Golias; foi este
coração que fez de Davi um homem segundo o coração de Deus pelo resto de sua vida. O que é
Golias? Quem ele foi? Ele foi uma figura gigantesca atrás de quem os filisteus se escondiam. É alguém
abrangente e inclusivo, que representava toda a força dos filisteus; tanto que, quando eles viram que o seu
campeão estava morto, fugiram. A nação toda estava ligada e representada por apenas um homem. Na
tipologia, o que são os filisteus? Eles representam aquilo que está muito próximo ao que é de Deus, sempre
muito próximo, mas sempre se opondo às coisas de Deus; que deseja controlá-las, espreitá-las, inquiri-las,
descobrir Seus segredos. Lembre-se da atitude deles em relação à Arca da Aliança, quando esta passou
para as mãos deles. Eles passaram a examinar, perscrutar os segredos de Deus, mas sempre de forma
natural. Os filisteus eram chamados de ―incircuncisos‖. Foi isto que Davi disse sobre Golias: ―este filisteu
incircunciso‖. Sabemos, a partir da interpretação de Paulo que, em tipo, isto é uma referência a vida
natural, este tipo de vida que sempre está buscando controlar as coisas de Deus separada da obra da cruz;
que não reconhece a cruz; que coloca a cruz de lado, e supõe que pode prosseguir nas coisas de Deus sem a
cruz; que ignora o fato de que não há caminho nas coisas do Espírito de Deus a não ser pela cruz, como
algo experiencial, como um poder que quebra a vida natural, abrindo caminho para o Espírito. Não há
qualquer possibilidade de conhecermos os segredos de Deus a não ser pelo Espírito Santo, e o Espírito
Santo ―ainda não tinha sido dado‖ (expressão encontrada em João 7:39) até que a obra do Calvário fosse
realizada. Isto precisa ser aplicado pessoalmente, e não meramente permanecer como uma informação
doutrinária. Os filisteus incircuncisos representam uma vida natural que está muito próxima das coisas de
Deus, que está sempre interferindo nelas, tocando-as, olhando-as, querendo controlá-las; uma ameaça
para aquilo que é espiritual. Golias personifica tudo isto. Todos os filisteus estão resumidos nele. Então
Davi o encontra, e a lição, numa interpretação espiritual, é a seguinte: o coração de Davi não se abalará. Ele
estabelece para si mesmo que todas as coisas devem vir de Deus, e não do homem. Não pode haver
qualquer lugar para as estratégias humanas nas coisas de Deus; esta força natural precisa ser destruída. Os
filisteus tornaram-se inimigos de Davi por toda a sua vida, e Davi, o inimigo deles.

Você consegue ver o homem segundo o coração de Deus? Quem é ele? O que é ele? Ele é um homem que,
apesar de toda oposição, ainda assim se posiciona contra tudo aquilo que interfere nas coisas de Deus,
contra tudo aquilo que é ―incircunciso‖. Tudo aquilo que contradiz a cruz do Senhor Jesus, que impõe o seu
próprio caminho para o reino de Deus excluindo a cruz, é representado pelos filisteus. Quem é este filisteu
incircunciso? O coração de Davi levantou-se com grande indignação, contra tudo aquilo que estava
representado em Golias.
Isto, de fato, é um grande problema. Não apenas no um mundo pecaminoso. Existe algo no mundo que,
naturalmente, opõe-se a Deus, que se coloca abertamente contra Ele. Este estado pecaminoso é
reconhecido claramente por muitas pessoas. Mas não é este o ponto aqui. O que temos aqui é algo
diferente; algo que é encontrado dentre o povo do Senhor, só que de forma mascarada e que devem ser
seriamente avaliadas. É algo que aconteceu, por exemplo, na assembleia dos santos em Corinto e que
exigiu uma tremenda carta de repreensão do apóstolo contra a sabedoria natural, a sabedoria deste mundo
que chegou a ser adotada como ―mentalidade cristã‖, enfraquecendo a eficácia do evangelho. Este espírito,
que não está sujeito à cruz, introduz-se e associa-se às coisas de Deus, enfraquecendo seu impacto. Este
perigo não é tão evidente e óbvio quanto é o pecado descarado que é tão bem aceito segundo os padrões
humanos. O povo do Senhor sempre enfrentou este perigo que se apresentou de várias formas. Esdras teve
que o enfrentar. Alguns homens vieram e ofereceram-lhe ―ajuda‖ para edificar a Casa de Deus; mas como a
igreja tem sucumbido diante deste engodo! Se alguém oferece ajuda para a obra do Senhor, a resposta
imediata é: ―Oh, bem, é ajuda, e é isto que precisamos; aceitaremos qualquer tipo de ajuda que nos
oferecerem!‖. Não há discernimento, não há dependência do Senhor. Neemias teve que enfrentar isto. Há
certo tipo de ―ajuda‖ que é melhor não aceitarmos. A igreja é muito melhor sem ―associação filisteia‖. Este
é o tipo de coisa que tem atacado a igreja ao longo de toda história. João, o último apóstolo sobrevivente,
em sua velhice, escreve: ―... mas Diótrefes, que procura ter a primazia, não nos recebe...‖ (3 Jo 9). Veja o
quão sério é isto! João era o homem do testemunho de Jesus: ―Eu, João, … estava na ilha chamada Patmos,
por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus‖ (Ap 1:9). A grande palavra nos escritos de João é
―vida‖: ―Nele estava a vida...‖ (Jo 1:4); ―... e esta vida está em Seu Filho‖ (1 Jo 5:11). Diótrefes não podia
suportar isto. Se Cristo entra, Diótrefes, que deseja a preeminência, precisa sair; se alguém que ama ter a
primazia entra em cena, então, Cristo tem que ficar do lado de fora.

O homem segundo o coração de Deus é aquele que não tem qualquer compromisso com a mente natural;
não apenas com o pecado, em sua forma mais humanamente aceitável, mas também rejeitará tudo aquilo
que pertence à vida natural, que tenta apossar-se da obra e dos interesses de Deus, que tenta influenciá-los
e controlá-los. Homens que se intrometem no lugar de Deus têm aleijado e paralisado a edificação da igreja
através dos séculos.

Você entendeu o que Davi representa. Ele decapitará o gigante. Não pode haver qualquer associação com
filisteus; eles devem cair em nome do Senhor.

O Preço da Lealdade

Por fim, observe o que Davi teve que sofrer devido sua devoção. Este homem, que tinha clareza a respeito
de tudo o que devia fazer, que tinha os pensamentos, sentimentos e a vontade de Deus em seu coração;
que, sozinho, entre todo o povo de Israel naqueles dias de escuridão, fraqueza e declínio espiritual, ficou do
lado de Deus, vendo as coisas de um modo verdadeiro; sim, este mesmo homem teve que sofrer por causa
de tudo isto. Quando entrou em cena, com sua percepção e visão daquilo que estava em jogo, em sua
indignação, ira e zelo pelo Senhor, aceitou o desafio e, ainda por cima, teve de suportar seus irmãos se
voltaram contra ele. Como o fizeram? Da maneira mais cruel, pois interpretaram toda a situação de forma
errada, e isto é capaz de tirar o entusiasmo de qualquer verdadeiro servo de Deus. Seus irmãos acusaram-
no de motivações egoístas. Disseram: ―Davi, você está tentando abrir um espaço para você mesmo; está
tentando obter reconhecimento; está tentando chamar atenção para si! Você está motivado apenas por
interesses e ambições pessoais‖. Isto foi um golpe cruel. Qualquer homem que se oferecesse para combater
contra qualquer coisa que usurpasse o lugar de Deus; que permanecesse ao lado de Deus, sofria ataque. A
Neemias foi dito: ―você está tentando fazer um nome para si mesmo; está tentando arranjar profetas que o
coloquem nas alturas, que proclamem por todo o país que há um grande homem chamado Neemias em
Jerusalém‖. Coisas semelhantes também foram ditas de Paulo. Ser mal compreendido é parte do preço
pago em querer ser fiel a Deus. Contudo, o coração de Davi estava liberto destes entraves, bem como de
qualquer outra oposição. Ele estava firme no Senhor, o Senhor da glória, o Senhor da satisfação, porém,
mesmo assim, os homens insistem: ―é tudo é para você mesmo, para o seu próprio nome, para a sua
própria reputação, para seu próprio reconhecimento‖. Isto machuca mais o coração de um homem do que
a oposição aberta de um inimigo declarado. Melhor seria se os inimigos apenas se mostrassem e lutassem
de forma justa, em campo aberto! Mas Davi não sucumbiu; o gigante sim! Que o Senhor possa nos dar um
coração semelhante ao de Davi, pois este é um coração como o do próprio Deus.

Vemos em Davi um reflexo do Senhor Jesus, que sofreu pelo zelo da Casa de Deus, que pagou o preço por
causa de seu zelo, e que foi, em certo sentido mais do que outros, um Homem segundo o coração de Deus.

Capítulo 4 – Revestindo-se do Novo Homem.

Leitura: Rm. 5:12,15–19; Ef. 4:13,20–24; Cl. 3:9–11.

Neste textos, a Palavra de Deus exorta-nos para despirmos do velho homem ou, mais literalmente, que
devemos colocá-lo de lado. A mesma palavra grega é encontrada em hebreus doze, versículo um:
―portanto... deixando de lado todo o peso e o pecado que tão de perto nos rodeia...‖. Devemos deixar de
lado, ou nos despir, do velho homem. Frequentemente entendemos estas palavras numa perspectiva
meramente pessoal. Falamos de ―nosso velho homem‖, querendo com isto referir-nos a natureza pecadora
com a qual nascemos. Este aspecto, naturalmente, é verdadeiro, mas não engloba todo o significado da
afirmação diante de nós. O que temos aqui é algo muito mais amplo.

O significado do termo ―Velho Homem‖

Romanos cinco explica o que significa ―velho homem‖. O velho homem é uma ordem racial, representada
pela cabeça da raça humana, Adão. É uma ordem. Este Adão corporativo, coletivo, que está separado de
Deus, é um tipo de ordem que Deus não aprova, que foi excluída da aceitação e da aprovação de Deus, e
que permanece rebelde ao Seu propósito. Esta é a ordem na qual nascemos, à qual pertence tudo aquilo
que somos por natureza; ela é mencionada como sendo uma entidade corporativa, coletiva. É importante
lembrar que, não apenas o Corpo de Cristo é um, mas também o Corpo de Adão; isto é, que todos nós
formamos, em Adão, um ente corporativo. É um homem, uma espécie de homem, um tipo de homem
expresso em todo o mundo; e nos é dito que fomos despidos dele, deste velho homem; nós o colocamos de
lado, o abandonamos. Nós o largamos na sepultura da mesma forma como deixamos um cadáver lá. O
corpo de alguém que parte desta vida é abandonado na sepultura. Não é mais o lugar onde a pessoa habita.
Ele deixou de lado aquele corpo, e nós seguimos o mesmo exemplo quando deixamos o corpo do velho
homem de lado. Agora, como cristãos, temos nos despido e colocado de lado a espécie, a ordem ou o
sistema adâmico; este homem grande e coletivo que compõe a velha ordem.

O Novo Homem

A partir da nossa conversão, em Cristo revestimo-nos do novo homem. Isto também é normalmente
entendido como sendo uma questão meramente pessoal, individual. Ou seja, o novo homem, em nossa
concepção, é um novo tipo de vida que passamos a viver individualmente. Isto é verdade, mas é muito mais
que isto. Na carta aos Efésios, o apóstolo fala do novo homem que é a igreja, ―o Cristo‖ coletivo, como está
literalmente expresso em primeira coríntios, capítulo doze, versículo doze. O Cristo é um único ente, com a
cabeça e o corpo unidos; todos os membros formando um só corpo, um novo homem. É um homem
coletivo, corporativo, um homem pertencente a uma nova ordem, não mais segundo Adão, mas segundo
Cristo: ―onde... Cristo é tudo em todos‖ (Cl. 3:11). Antes, Adão era tudo em todos, mas agora, nesta nova
criação, é Cristo quem é tudo em todos. O apóstolo expressa bem isto quando escreve: ―Mas vós não
aprendestes assim a Cristo; se é que O tendes ouvido e nele fostes instruídos, como está a verdade em
Jesus‖ (Ef 4:20, 21). Jesus Cristo é a verdade divina encarnada, é a cabeça da nova criação. Nossa condição
de estarmos nele é descrita como um despir-se do velho homem, da velha criação, e sermos revestidos do
novo homem, do próprio Cristo.

(a) A Principal Característica

Esta realidade implica muitas coisas. Se você olhar para o contexto desta passagem, perceberá algumas
delas. Ela inclui a natureza de Cristo. É por isto que, após falar do revestir-se do novo homem, o apóstolo
segue quase que imediatamente com palavras como: ―Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
e andai em amor, como também Cristo...‖ (Ef 5:1,2). O novo homem corporativo é a personificação do
amor de Deus. Esta é a principal característica. Este amor deve ser expresso individualmente, para que
aquilo que é realidade sobre todo o corpo seja confirmado à medida em que é expresso por cada membro
individual. Lembremos que, toda vez que falamos da igreja, ou do corpo de Cristo, ou fazemos uso deste
título alternativo: o ―novo homem‖, estamos falando daquilo que é a personificação do amor de Deus; e
quando falamos que estamos nos revestindo, ou que já nos revestimos do novo homem, queremos dizer
que temos nos revestido do amor de Cristo.

(b) Uma Consciência Corporativa

Então, este novo homem, corporativo, coletivo, entendido desta maneira, representa uma vida de
comunhão. Isto exige uma consciência corporativa, que é algo muito importante. No propósito do Senhor,
tudo depende desta vida corporativa. O próprio Senhor não pode alcançar plenamente os Seus objetivos
por meio de indivíduos isolados; nem você e nem eu jamais poderemos atingir este propósito final apenas
como indivíduos. Embora seja verdade que Adão, o velho homem, é uma unidade corporativa, sua
consciência não é corporativa; ela é uma consciência independente e fragmentada onde impera o egoísmo.
Precisamos ter uma consciência corporativa a fim de alcançarmos o propósito de Deus. Há muitos filhos
queridos do Senhor que permanecem muito tempo num estado de imaturidade espiritual. Eles não
avançam muito além da infância espiritual. Você pode conhecê-los há anos, porém permanecem
estagnados naquela mesma posição de criancinhas, tal como estavam da primeira vez que os conheceu.
Alguém pode dizer: ―É muito bom e apropriado ser uma criança do Senhor!‖. Bem, tenhamos sempre um
espírito de criança; procuremos sempre ser puros e simples diante do Senhor, porém, lembremo-nos de
que há uma diferença entre infantilidade e infância. Há toda uma diferença entre manter a simplicidade, a
pureza, a sinceridade e a docilidade de uma criança, mas, em contrapartida, permanecer com uma
compreensão não-desenvolvida, com dificuldades em captar e assimilar o alimento destinado aos de idade
mais avançada. O problema com tais pessoas, ou a causa de sua falta de maturidade, é que elas apenas
seguem os seus próprios ―doces‖ caminhos, isto é, são como borboletas voando de um lado para o outro,
mas sem vida corporativa, sem vida relacional. A borboleta é muito bonita quando voa, mas há muita
diferença entre ela e a abelha. A abelha também pode voar de um lado para o outro, mas ela faz isto porque
é movida por um bom propósito. A vida da abelha é corporativa; a da borboleta, não; é uma vida
individual.

A falta de maturidade e o atraso no crescimento espiritual normalmente se devem a uma deficiência no


exercício da vida corporativa; que é a própria essência da vida do povo de Deus. Este é o caminho do
crescimento. Esta é a lei do novo homem. Nós impedimos o nosso crescimento espiritual quando
desprezamos a necessidade de estarmos ligados ao povo de Deus de uma forma definitiva. Este é o pano de
fundo em Efésios. Todo o quarto capítulo é dedicado a esta questão vital. O novo homem está colocado lá
como sendo a igreja, o Corpo de Cristo, e este novo homem precisa crescer até chegar à estatura da
plenitude de Cristo. É o homem corporativo que cresce até esta estatura; isto não ocorre com cristãos
isolados. É somente em comunhão, em dependência de Deus e uns dos outros, que nos movemos para a
plenitude de Cristo.

Cuidado, então, para não perder esta lei de crescimento espiritual tão importante. É isto o que significa
vestir-se do novo homem. É essencial, então, nos questionar: ―Temos realmente nos revestido do novo
homem? Temos realmente nos revestido desta consciência de corpo, da necessidade de relacionamentos,
de comunhão, que é inerente ao novo homem?‖. Muitas vezes não é possível desfrutarmos de uma
comunhão imediata, local ou geográfica com a maioria de nossos irmãos no Senhor, mas esta não é a
questão aqui; estamos falando de consciência de coletividade e interdependência.

(c) A Disposição

A opção pelo crescimento exige disposição. Exige rejeição de tudo o que é individual e pessoal, juntamente
com o cultivo de uma consciência de comunhão na qual tudo é para o corpo, no corpo e pelo corpo. É por
meio desta comunhão de espírito que o Senhor alcança o Seu propósito e nós chegamos ao Seu propósito.
É muito triste constatar os fracassos de muitos. Há pessoas sobre as quais não podemos negar a devoção
que têm pelo Senhor. Mas o que dói em nós é perceber que elas não têm crescido nem sequer um
centímetro desde a primeira vez que as conhecemos anos atrás. Nem ao menos há qualquer sinal de
capacidades espirituais mais desenvolvidas. Elas são exatamente as mesmas de sempre. Tais pessoas
raramente são encontradas fazendo grandes esforços em favor de uma maior comunhão com o povo de
Deus. Elas vagam de uma coisa para outra, dizendo: ―eu não vou me comprometer com qualquer tipo de
comunhão com o povo de Deus! Vou me manter livre! Vou seguir adiante, mantendo contato com tudo o
que há por aí!‖. Isto pode ser muito bom, sob certo aspecto; e você não deve interpretar mal tal atitude,
pois devemos ter alguma abertura em relação a tudo aquilo que possa estar vindo do Senhor. Mas há algo
mais que é necessário ser construído, que é uma comunhão concreta com o povo de Deus. Isto é necessário
ao Senhor para que Ele possa revelar-se de uma forma mais plena. E como precisamos que Ele se revele!
Para haver revelação, o Senhor precisa ter Seu corpo espiritualmente ajustado e funcionando. É
tremendamente importante estar informado disto. É no corpo que o ministério do Senhor opera mais
eficazmente. Efésios quatro é um grande capítulo sobre este ministério. Perde-se todo o isolamento e
individualismo no ministério quando o corpo se expressa adequadamente; quando todos estão
funcionando e ocupando um lugar de valor espiritual na obra do Senhor; não de acordo com nossas
próprias conveniências ou estratégias humanas que costumam ser usadas em relação a tal obra, mas onde
cada membro exerce algo de valor espiritual, onde cada um é um ministro diante do Senhor de alguma
forma. Quer você reconheça, ou não, isto continua sendo um fato e, infelizmente, há muita perda por não
se perceber a importância da obediência de cada um, e como isto afeta a questão toda.

Uma das consequências da vida de corpo é o ataque do maligno. As pessoas que estão espiritualmente
unidas a Cristo, passam a conhecer algum aspecto da raiva e da pressão do diabo. Você não precisa ficar
provocando o diabo. Neste conflito, não apenas os irmãos que estão em maior evidência no ministério são
alvos do inimigo, mas também aqueles que não estão diretamente associados ao ministério são atingidos.
Em nossas concepções, frequentemente restringimos o ministério a uma ―esfera religiosa‖. Aqueles que
desempenham tarefas domésticas podem, eventualmente, pensar que seus afazeres se restringem à esfera
secular, que não fazem parte do ministério, contudo o fato é que o conflito também estará lá. O conflito
alcança a sua consciência pessoal, sua família, seus negócios, independentemente de você estar muito ou
pouco envolvido. Você torna-se um alvo simplesmente porque está inserido espiritualmente ao
testemunho, porque ingressou de forma espiritual no Corpo de Cristo, passando a discernir o corpo de
Cristo. Não importa se você compreende esta verdade numa maior ou menor medida, uma vez que você se
vestiu do novo homem, passará a sofrer por ser parte integrante dele.

Esta batalha espiritual não é apenas um fato que talvez reconheçamos de forma dolorosa, mas também é
um privilégio. Paulo disse: ―cumpro no meu corpo o resto das aflições de Cristo, em favor do Seu corpo,
que é a igreja‖ (Cl 1:24). Lá em seu lar, em seu negócio, naquilo que você chama de secular, também
encontrará o conflito. É por causa do corpo. É em seu dia-a-dia, longe dos demais, é que você sofre o
impacto. Esta é a prova de que cada parte do corpo é participante do ministério. Ao nos vestirmos do novo
homem, todo corpo é servido espiritualmente pelo funcionamento de cada parte.
Embora a batalha exija um preço a ser pago ou sofrimento, também implica sermos abençoados! Além
disso, nenhum membro do corpo é abençoado isoladamente sem que todos os demais também o sejam! Se
um membro sofre, todos os demais também sofrem; se um membro se alegra, todos os demais também se
alegram, pois, de alguma maneira, também são beneficiados.

Deus Procura um Homem

Isto está intimamente relacionado ao que o Senhor deseja revelar-nos neste tempo. Nós ainda estamos
falando disto em termos muito genéricos, mas a intenção da mente do Senhor deve estar muito clara para
nós. É um homem que Deus procura. Este homem é representado pelo Seu Filho, e a igreja é a expressão
do Seu Corpo. Este novo homem é a manifestação universal daquilo que Cristo é – um só Senhor, uma só
vida, um só amor. É importante, para que você não cometa um erro de interpretação, reconhecer que há
uma diferença entre a palavra usada em Efésios e aquela que está em Colossenses. Em Efésios lemos sobre
o revestir-se do novo homem, em Colossenses lemos sobre o vestir o novo homem. Em Efésios a palavra
kainos significa algo que não havia antes, algo completamente novo. A igreja não existia antes; este homem
corporativo na forma de ―o Cristo‖ passou a existir a partir do Pentecostes. Em Colossenses, a outra palavra
usada simplesmente significa ‗fresco‘, não é algo necessariamente ou completamente novo. Você entenderá
o significado da palavra se olhar para o contexto. Há um frescor, um renovar de mente, de espírito que é a
marca dos que estão em Cristo. Nesta exposição, estou enfatizando a primeira, kainos, o novo homem, o
homem que não existia. Há um velho homem que existia, e que deve ser abandonado, ser deixado de lado.
Aqui temos um outro homem, que não existia, mas que deve ser estabelecido.

O novo homem é segundo Deus. Isto nos leva de volta à meditação anterior: Deus, num Homem, pensando
os seus pensamentos, sentindo os seus sentimentos e desejando suas vontades; expressando a Sua própria
natureza, e tudo focado num ser criado chamado ―homem‖: ―... que foi criado segundo Deus...‖ (Ef. 4:24).
Esta é uma expressão maravilhosa. Aqui temos o novo homem que é segundo Deus, criado em justiça e
santidade. O Senhor está nos ensinando, mais claramente, o significado de aprender Cristo.

Capítulo 5 – A Excelência de Sua Grandeza

Leitura: 1 Rs 4:1,7,20–34, 10:1–9; Mt 12:42.

Algumas das passagens que têm sido o pano de fundo de meditações referem-se especificamente à
excelência e à sobre-excelente grandeza do Senhor Jesus. Uma passagem com tremendas implicações é
aquela que saiu dos seus próprios lábios: ―... ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai...‖. Isto significa, em
outras palavras, que somente o Pai sabe quem o Filho é; somente o Pai conhece tudo o que o Filho
significa. Somado a isto, temos a profunda declaração do apóstolo Paulo: ―... aprouve a Deus revelar Seu
Filho em mim...‖. Isto se refere ao início de sua vida em Cristo Jesus, mas esta revelação também é
progressiva e inexaurível a ponto de, mesmo após todos os seus anos de aprendizado, mesmo após todas as
suas descobertas de Cristo, ao final de sua vida ainda clamava do fundo de seu coração: ―... considero todas
as coisas como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor, por quem sofri a perda
de todas as coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo‖...‖ (Fl. 3:8). Isto indica
claramente que, mesmo no final de sua carreira, o apóstolo reconhecia que ainda havia mais conhecimento
de Cristo disponível a ele; conhecimento que estava muito além de tudo aquilo que já tinha alcançado, e tal
conhecimento era mais precioso e mais importante que todas as outras coisas.

Nossa dificuldade sempre será a de compreender, captar, absorver esta excelente grandeza, esta plenitude
transcendente para dentro do compasso da nossa vida e da nossa experiência diária. Porém, é necessário
que isto ocorra, para que a nossa aproximação a esta plenitude aconteça de tal maneira que nos traga um
ganho imediato; pois, toda esta vasta gama de poder e plenitude, embora esteja tão distante da nossa
compreensão, contudo, está disponível para o nosso bem, para nosso benefício presente. Muitas vezes
cantamos em um dos nossos hinos: ―Fale de sua excelente grandeza‖; ―eis que um maior que Salomão está
aqui‖. Existem algumas características na grandeza de Salomão que prenunciam a grandeza do Senhor
Jesus, uma grandeza que, como dissemos, é para o nosso benefício presente.

(1) Domínio Supremo

A respeito de Salomão, é dito que era rei sobre todo Israel e que tinha domínio sobre toda região além-rio;
porém, alguém que é maior que Salomão está aqui. A primeira característica, então, é o seu domínio,
senhorio supremo, reinado e soberania. Isto tem tremendas implicações. Este reino estendeu-se em duas
regiões: Salomão era rei sobre todo Israel, mas o seu domínio alcançava toda a região além-rio.

Estas afirmações sugerem que o Senhor Jesus não é rei apenas sobre aqueles que O reconhecem como
Senhor, mas que, apesar do que possa parecer, Ele é Rei num sentido muito mais amplo. Nós estamos
usando bastante a carta aos Efésios em nossa consideração e, nesta carta, a soberania universal do Senhor
Jesus é apresentada a nós não apenas em sua relação com a igreja. Jesus é a Cabeça da igreja, que é o Seu
Corpo; Jesus é Senhor na igreja, porém, muito mais que isto, Ele está acima de todo governo, autoridade,
principado e poder! Ele é agora o Senhor universal! A nossa realidade não parece confirmar isto; tudo
parece contradizer este fato; porém, precisamos compreender que a realeza, o senhorio, o domínio
universal do Senhor Jesus no tempo presente não significa, necessariamente, que todos estejam
desfrutando dele; nem que seja um reino reconhecido por todos deste universo. Mas, mesmo que este seja
o caso, isto não altera o fato de que Cristo está reinando. Há outras evidências que confirmam isto.

O nosso problema é que temos visão muito limitada. Somos filhos de um lapso de tempo, e valorizamos
tanto este lapso de tempo que a nossa visão das coisas acaba se estreitando bastante. Se tivéssemos uma
visão mais ampla, a ponto de enxergarmos os fatos a partir do ponto de vista de Deus, quão diferente seria
a reação de nossos corações. É muito lamentável a negação generalizada da realeza, do senhorio e da
soberania do Senhor Jesus Cristo que se vê por aí. Este período da história que vivemos é chamado de: o
dia de sua rejeição, e há um verso de um hino que começa assim: Nosso Senhor é agora rejeitado, E pelo
mundo deserdado.
Contudo, ignorar o Senhor Jesus não é algo tão fácil assim. Os homens podem rejeitá-lo; as nações podem
repudiá-lo, colocá-lo de lado, negar-lhe Seu lugar de honra, ignorar Seus direitos, desprezar Suas
reivindicações e senhorio, mas tais rebeldias não os livram Dele. Deus estabeleceu o Seu Rei em Seu trono.
Acerca do Filho está escrito: ―Teu trono, ó Deus, subsiste para sempre...‖ (Hb. 1:8). Nada pode abalá-lo. A
rebeldia dos homens e do mundo não interfere neste fato, não remove o Senhor Jesus de Seu governo.
Alguém pode refutar: ―É você quem está afirmando isto, mas como pode prová-lo?‖. Bem, existem
evidências. Temos evidências de que Jesus é o Senhor, de que Ele está sustentando todas as coisas com a
sua mão soberana e que nada pode tomar o seu lugar.

O Testemunho da História

Olhe, por exemplo, para a história e constate as várias tentativas humanas em superar o Senhor Jesus em
soberania; muitos tentaram fazer aquilo que somente Ele fez. Muitos tentaram impor algum sistema a fim
de realizar aquilo que apenas o Filho fez, e veja quão aquém tais esforços se findaram. Qualquer tentativa
em implantar um sistema que apenas o Senhor Jesus pode estabelecer está fadada ao fracasso. Você pode
ver isto repetidamente através da história. Vários líderes tentaram estabelecer seus impérios mundiais.
Planos que eram ideais, concepções magníficas para o mundo têm sido tentados, mas têm fracassado.
Reinos e impérios, déspotas, ditadores, monarcas, promoveram-se a alturas tremendas; alguns deles até
tiveram grande influência, mas seus impérios quebraram e passaram, seus reinos terminaram em ruínas.
Temos todas estas tentativas humanas aparecendo e sumindo durante a história e, ao compará-las ao
reinado do Senhor Jesus, vemos que Seu reino permanece inabalável, seus súditos permanecem-lhe fieis ao
longo de toda história.

Leia o livro de Daniel novamente, e verá o cronograma da história. Lá temos a revelação profética dos
impérios do mundo: o babilônico, o medo-persa, o grego e, então, o grande Império Romano; todos eles
surgiram, atingiram um certo ápice, mas, depois desapareceram. A lição do livro de Daniel é a seguinte:
existe uma Pessoa que foi ungida por Deus como Senhor universal, e ninguém pode tomar o Seu lugar.
Alguns podem empenhar um grande esforço para consegui-lo, mas jamais poderão conquistar este lugar e,
por isso fatalmente desaparecerão. Podemos testemunhar grandes poderes surgirem, dominando grandes
territórios e muita gente, mas tudo isto passará. O domínio é mantido nas mãos do Senhor Jesus. Todo
esforço humano está fadado, desde o seu nascimento, a ir até certo ponto e, então, desaparecer. Somente o
Senhor Jesus tem domínio universal. Somente Ele pode trazer paz universal. Somente Ele pode trazer
prosperidade a todas as nações. Isto está reservado somente a Ele em Seu reinado. Até lá, haverá oscilações
e variações nas riquezas do mundo, e tudo isto vai passar.

Esta transitoriedade, colapso, confusão e impasse ocorrem porque o curso dos eventos mundiais está nas
mãos do Senhor, e Ele está atraindo tudo para Si mesmo. Ele é o Rei! Ele é o Senhor! É algo tremendo
reconhecer que o próprio curso das nações, a própria história deste mundo está mantida nas mãos do
Senhor Jesus para o seu próprio fim destinado. Deus estabeleceu para sempre o Seu Filho como o único a
ser o pleno, completo e último Senhor deste universo, Rei dos reis e Senhor dos senhores, com um reino e
uma influência beneficente sobre toda a terra. A paz e a prosperidade estão sujeitas ao Senhor Jesus, e
somente Ele controla o destino das nações. Os homens podem tentar exercer este controle, podem
percorrer um longo caminho, podem tentar usurpar o lugar que pertence somente a Jesus, mas o fracasso é
certo. Aquele que há de vir, virá, e o Seu reino não terá fim. Seu reino começou no céu; o Senhor já está
empossado e o mantém em Suas mãos. É desta maneira que devemos ler a história. É assim que devemos
ler os jornais diários. É desta maneira que seremos salvos da opressão maligna que nos ronda e do
desespero que surge em nossos corações quando observamos o estado em que se encontram as coisas neste
mundo. Tudo está sendo conduzido por Cristo para um determinado fim. O fato é que nada pode tomar o
lugar do Senhor Jesus.

Você pode aplicar isto de várias formas, e em diferentes direções. Isto explica a história da igreja
institucionalizada, a história da cristandade. Por que é que aquilo que professa ser de Cristo, mas que na
verdade não o é, quebra e fracassa continuamente ao longo da história? Simplesmente porque se trata de
algo que está tentando assumir o lugar do próprio Cristo que professam, mas que não O obedece. Por isto o
fracasso é o que está determinado, desde o princípio, a esta imitação. Tudo o que não é de Cristo
fracassará; e realmente fracassou na história. Ainda que algo possa começar com Cristo e evidenciar uma
medida de Cristo, porém, em seguida, desvia-se Dele, tornando-se algo humano, decreta seu próprio fim.

Esta é a explicação para o fim dos avivamentos que Deus levantou para o Seu Filho. Estes movimentos
foram puros e verdadeiros em seu início, mas que, devido às bênçãos decorridas, os homens acabaram
assumindo o controle. Sempre que isto aconteceu, seu fim, com seu poder de impacto espiritual, foi
decretado. Por que é assim? Porque se avançou além de Cristo ou desviou-se de Cristo , e nada pode tomar
o lugar Dele. Oh, quão importante é permanecer completamente em Cristo, em conformidade com Ele, sob
o governo do Espírito Santo. Ele trabalha, em Sua soberania, contra o sucesso, a prosperidade e contra o
final triunfante de tudo o que não pertence a Ele mesmo e, se quisermos estar do lado do Senhor soberano,
então devemos ser completamente submissos ao Senhor Jesus; do contrário, esta soberania operará contra
nós. A confusão, o problema e o desespero do mundo é uma clara evidência de que Jesus é o Senhor. O
mundo que tenta prosseguir sem Ele, por isso não consegue avançar. Não! Pois Ele ordena que isto nunca
prospere. Ele diz: ―Eu sou essencial! Sou indispensável! Se você quiser obter as coisas de outra maneira,
descobrirá que sem mim nada será possível‖. Poderíamos gastar todo o nosso tempo considerando o reino
e o domínio de Salomão. Ele era rei sobre todo Israel, e dominava sobre toda a terra do além-rio. Vamos,
agora, considerar outra característica na qual Salomão prenuncia a excelência do Senhor Jesus.

(2) A Fartura da Mesa de Salomão

―E a provisão de Salomão para um dia era de trinta medidas de flor de farinha, três medidas de
farinha, dez bois cevados e vinte bois do pasto, cem carneiros, além veados, cabras montesas e aves
cevadas‖. Este é um grande dia de festa para Salomão! A que isto se refere senão à fartura de Salomão?
Esta, de maneira alguma, é uma descrição de escassez. Contudo, há um que é maior que Salomão.

Quando, pelo Espírito Santo, alcançamos este conhecimento do Senhor Jesus, não há porque morrermos
espiritualmente de fome. Oh, que tragédia crentes morrerem de fome tendo um Rei como o Senhor Jesus!
É uma tragédia este sofrimento indizível dos filhos de Deus, que espiritualmente estão morrendo de fome!
O fato é que há uma plenitude para o povo do Senhor, uma plenitude que excede em muito a de Salomão.

Leia, novamente, o evangelho de João com isto em mente, e verá como esta verdade é confirmada na vida
terrena do Senhor Jesus. Olhe o capítulo seis, o grande milagre da alimentação da multidão, que conduz-
nos ao fato espiritual: Jesus é o pão. Certa vez, os discípulos fracassaram na fé e foram advertidos por
Jesus: ―Vós ainda não entendeis, nem vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil, e quantos cestos
recolhestes? Nem dos sete pães para os quatro mil, e quantos cestos sobraram?‖ (Mt 16:9,10). Jesus ficou
surpreso com a incapacidade deles de entender que nele não havia apenas suficiência, mas abundância. Há
algo errado conosco se não vivenciarmos isto. A plenitude de Cristo é para a nossa satisfação espiritual. Há
abundância de suprimento.

Novamente, considere a perversa tragédia da fome. O que é que está mantendo o povo de Deus fora desta
plenitude? Em grande parte é o preconceito, que é o truque que o diabo usa quando coloca a barreira do
preconceito entre a necessidade e o suprimento. Oh, esta é a maldade do diabo ao agir por meio destes
artifícios, cegando o povo de Deus para que morra de fome. Há pão em Cristo. Ele é uma fonte inesgotável
para a vida espiritual. Devemos chegar a mesma posição de Paulo, quando clama: ―...para que eu possa
conhecê-lo....‖; isto é, para uma consciência de que há um conhecimento que está além de tudo aquilo que
já temos recebido, onde tudo é considerado como nada, comparado a este conhecimento. Estas não são
meras palavras, é uma verdade. Há pão no Senhor Jesus; há pão em sua casa. É aí que Ele é superior a
Salomão. Há pão para um exército, para uma companhia que merece ser alimentada muito mais do que
qualquer um dos domésticos da casa de Salomão. Os domésticos de Salomão assentavam-se à mesa, e
comiam até se fartaram, mas o nosso apetite por Ele não tem fim. Nós temos uma capacidade espiritual de
crescer e crescer até atingirmos a plenitude de Cristo. A fartura de Salomão, então, é uma outra
característica através da qual ele prenuncia a excelente grandeza do Senhor Jesus.

(3) A Glória de Salomão

A Glória de Salomão é bem conhecida. Até mesmo o Senhor Jesus referiu-se a ela quando disse: ―Olhai os
lírios do campo, como crescem; não trabalham, nem fiam, contudo, eu vos digo que nem mesmo Salomão
em sua glória (e eles conheciam bem a glória de Salomão) vestia-se como eles‖ (Mt. 6:28,29). Mas quem
era Salomão, em sua glória, comparado ao Senhor Jesus? Qual é a glória do Senhor Jesus? Lembre-se que
o Senhor Jesus é a revelação da plenitude de Deus, a glória de Deus revela-se na face de Cristo (2 Co 4:6).

Isto pode parecer algo não muito prático, mas enfatizamos que a glória de Salomão estava intimamente
associada à sua sabedoria; sua sabedoria expressava a natureza da sua glória. Havia algo além da
glória. Esta glória não era um mero enfeite, mas era o fruto da grande sabedoria que Deus havia lhe dado.
Foi a sabedoria de Salomão que lhe proporcionou glória e fama. O que pode dizer acerca de sua sabedoria?
Ele escreveu três mil provérbios; escreveu muitas canções; discorreu sobre árvores, animais, pássaros,
répteis e peixes. Como falou destas coisas? Ele percebeu que tudo na criação transmitia um significado. Se
falasse de árvores, em seguida daria um segredo, um significado a elas, desde o cedro do Líbano ao hissopo
que brota da parede. As árvores, na Palavra de Deus, têm um significado. Sabemos do significado que o
hissopo trás quando o encontramos pela primeira vez em Êxodo e Levítico. Sabemos o que os cedros do
Líbano representam e que todas as demais árvores também trazem um significado. Salomão deu o
significado secreto, a interpretação divina. Também discorreu sobre animais, e sabemos que a Bíblia fala
de muitos animais, e que todos têm um significado. Ele também falou das aves, dos répteis e dos peixes.
Ele revelou os segredos da criação e discernia em cada ser criado um profundo significado. Ser capaz de
fazer tudo isto prova de que não se trata de sabedoria comum.

Em que o Senhor Jesus é superior? A sabedoria de Salomão era apenas poética naqueles campos do
conhecimento. Já o Senhor Jesus possui uma sabedoria prática; no sentido de que, tudo é dirigido por Ele
em relação ao seu propósito, de modo a servir seu propósito. Oh, que possamos ver e crer nisto em todos os
momentos em nossa experiência! Tantas coisas acontecem em nossas vidas. Que diversidade! Que
variedade! Quão misteriosas algumas delas parecem ser! É interessante constatar que o próprio povo do
Senhor tenha tantas experiências incomuns, tanto em quantidade como em qualidade, mais do que
quaisquer outras pessoas. Parece que quase tudo que se pode acontecer com uma pessoa, realmente
acontece com um cristão. Você até se pergunta se algo a mais é possível; se algo a mais pode acontecer;
será que já não esgotamos todo o estoque de experiências possíveis? É assim que nos questionamos. Não
existe absolutamente nada na vida de um filho de Deus que não esteja controlado e governado por um
significado mais profundo, que serve ao propósito do Senhor. Recordamos a declaração de Paulo:
―Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o Seu propósito‖ (Rm. 8:28). Uma tradução mais acurada é: ―Deus opera em todas as
coisas para o bem. Deus dá a tudo um significado para aqueles que O amam e que são chamados conforme
o Seu propósito‖. A sabedoria de Deus toma vantagem de todas as coisas, dando a elas um valor.
Provavelmente, somente na eternidade saberemos o valor de todas as coisas que acontecem nas nossas
vidas, mas, até lá, precisamos crer que, à medida que as nossas vidas estejam completamente debaixo do
governo de Deus, não existe nada sem significado, nada que não tenha valor. Sua sabedoria governa tudo.

Somente quando aceitamos os fatos, e crermos nos arranjos divinos, é que encontraremos descanso para os
nossos corações, passamos a ver-nos num caminho de ganho, e não de perda. Quando nos revoltamos
contra as coisas, então estamos perdendo algo que foi projetado para nós mesmos. Mas, quando nos
alinhamos ao Senhor, em relação às coisas que nos acontecem, primeiro, descansamos em nossos corações
e, então, a disciplina produz algo de valor. É ganho, não perda; é algo bom, não mau. Isto é sabedoria. Isto
é melhor do muitos poemas; é algo prático. Alguém maior que Salomão está aqui! Esta é a glória do Senhor
Jesus. Como Sua sabedoria opera para a Sua glória? Imagine que estamos passamos por uma experiência
dolorosa e misteriosa; não vemos nada de bom nela; somente conseguimos enxergar as perdas. Então
voltamos o nosso olhar para o Senhor, e cremos que, embora não consigamos ver, nem entender, Ele sabe
todas as coisas; então nos rendemos a Ele. Assim, passamos pela prova, e os nossos olhos são iluminados
acerca do seu propósito, então O adoramos. Oh, jamais poderíamos enxergar naturalmente que tal
tribulação poderia produzir isto! Jamais imaginaríamos que isto pudesse trazer qualquer ganho. Aquilo
que parecia ser a nossa ruína é justamente o que nos trouxe para a plenitude do Senhor. Esta é a Sua glória.
Lembre-se de que a sabedoria do Senhor é governada por Seu amor. Esta é uma grande questão em relação
a Salomão. O coração de Salomão estava por trás de Sua sabedoria. Não era um cérebro, mas um coração
sábio e inteligente. Olhe para Salomão. Duas mulheres lhe trazem um bebê. Salomão fica assistindo. E por
que fica assistindo? Por causa de algo que conhece por experiência própria. Leia a história do nascimento
de Salomão. Leia aquela pequena seção a respeito do amor especial que sua mãe tinha por ele. Salomão era
o queridinho do coração de sua mãe, e ele sabia como ela o amava. Ele sabia o que era o amor de uma mãe
por seu bebê, por isso prestava atenção naquelas duas mulheres. Ele fixa seu olhar na direção delas, então
ordena para alguém ao seu lado: ―Tome uma espada e divida a criança ao meio‖. Isto não soa nada bem
para o coração de uma mãe verdadeira; mas ele fica observando. Então, ele vê o coração da mãe saltar e
gritar: ―Não! Prefiro que a outra mulher fique com a criança viva ao invés de vê-la morta‖. Assim Salomão
soube quem era a mãe da criança. Esta é a sabedoria de Salomão que foi acionada por meio do seu amor.

Esta é uma característica muito marcante do Senhor Jesus. Ás vezes parece que Jesus nos trata de forma
muito dolorida; Ele ordena que alguém ―tome uma espada‖, mas saiba que Ele sempre é movido por seu
amor. Pode ser estranho e misterioso, mas Seu amor está presente; há um grande coração por trás de tudo.

Quando, pela ordem de Salomão, a arca foi trazida para o interior do santuário e colocada em seu devido
lugar – o que fala do Senhor vindo para o Seu descanso e satisfação – lemos que este ato do descanso do
Senhor foi atestado pelo céu e que Salomão virou-se para o povo e o abençoou (1 Re 8:5-14). Em realidade,
Deus encontrou Seu descanso em Seu Filho, em total satisfação e, então, o Filho, em cuja face está a glória
de Deus, volta-se para nós em benção: ―... a glória de Deus na face de Jesus Cristo‖ (2 Co 4:6). Veja como
alguém maior que Salomão está aqui. Que o Senhor nos conceda uma compreensão renovada de Seu Filho.

Capítulo 6 – O Homem Celestial – A Inclusividade e Exclusividade de Jesus Cristo

Temos considerado uma frase da carta aos Efésios: ―TODAS AS COISAS EM CRISTO‖; ―fazer convergir em
Cristo todas as coisas, na plenitude dos tempos‖ (Ef. 1:10). Esta é a grande visão panorâmica com a qual
estamos ocupados, e iremos, agora, dividi-la em suas partes.

De início, é extremamente importante reconhecermos que, para Deus, há um fator básico que governa
todas as coisas que é a inclusividade e exclusividade de Seu Filho, Jesus Cristo.

Tudo o que é necessário para a realização do propósito e intenção divina está EM e COM Cristo, não apenas
como depósito, mas tudo é Cristo. Tudo deve estar incluso nele. Esta é a inclusividade de Cristo.

Por outro lado, tudo aquilo que não seja de Cristo, não será aceito ou aprovado por Deus no acerto
final. Esta é a exclusividade de Cristo. Contudo, em Sua paciência, longanimidade, graça e misericórdia,
Deus parece tolerar muitas coisas, até mesmo em nós, povo Seu; no entanto, é de suprema importância
entendermos de uma vez por todas que Ele não valida ações que não se originam nEle. Ele pode até se
mostrar tolerante ou paciente, mas não aceitará, de forma alguma, qualquer oferta independente de Cristo.
Ele considera como obras mortas para si, e desaprova todo esforço realizado que é meramente humano.
Assim, esta é a questão final: nenhum detalhe daquilo que não é de Cristo será aceito. Cristo exclui tudo o
que não é dele. É assim que Deus trata o assunto.

A Igreja Deve ser Aquilo que Cristo foi e é Como Homem Celestial

Em vista do que acabamos de falar, é de extrema importância que entendamos que a igreja foi concebida
para ser aquilo que Cristo foi, e é, como Homem Celestial. Somente aquilo que é de Cristo, o Homem
Celestial, tem validade eterna. Portanto, quanto mais houver de Cristo, mais eficácia haverá do ponto de
vista de Deus. Isto significa que aquilo que era e é verdadeiro sobre Jesus, como Homem Celestial, quanto
ao Seu Ser, quanto às leis da Sua vida, quanto ao Seu ministério e missão, deve ser verdadeiro em relação à
igreja. (Quando falamos da igreja, falamos de todos os membros que compõe o corpo de Cristo).

Perceba que estamos falando de Cristo na qualidade de Homem Celestial, e não em Sua igualdade com o
Pai na trindade. Não estamos dizendo que a igreja deve ser Deus encarnado, no mesmo sentido que Cristo,
o Filho, foi, é e será; ou que a igreja deva ocupar o seu lugar na divindade. Estamos falando do Homem
Celestial. Cristo foi, e é, um Homem Celestial. A igreja, nele, também é o homem celestial, o ―novo
homem‖. Não devemos pensar nisto como sendo judeu ou grego, circuncisão ou incircuncisão, escravo ou
livre, uma combinação de elementos terrenos ou das várias nuances da vida humana. Estas e outras
distinções terrenas desaparecem de vista e são colocadas de lado, e um ―novo homem‖ é trazido, onde
―Cristo é tudo em todos‖ (Cl. 3:11).

Cristo não foi terreno em Sua natureza essencial. Ele relacionou-se com Israel, e com os homens aqui; Ele
tem uma relação judicial com esta terra, mas, em Sua natureza essencial, Ele jamais foi terreno. Ele é o
Senhor que veio do céu. Ele enfatizou este fato, anunciando-o claramente: ―... Eu sou de cima...‖ (Jo 8:23).

Assim como Cristo, que em sua essência não era terreno, também é com a igreja. A igreja nunca foi uma
realidade terrena no pensamento de Deus. É onde a lacuna é preenchida. Paulo leva-nos para o princípio,
mostrando que a igreja está nos lugares celestiais antes mesmo que a queda ocorresse. Em Cristo, nós
atravessamos a lacuna, aquela ruptura que fora criada devido a queda. Antes que o mundo existisse, Cristo
já existia com o Pai, literal e pessoalmente. A igreja já existia na presciência de Deus antes que o mundo
fosse criado; não literalmente como Cristo, o Filho, existia. Não se trata de reencarnação, mas, na
presciência de Deus, a igreja era tão real antes do tempo como é agora, e como sempre será. Sempre que
Paulo fala da igreja, fala como se ela estivesse completa. Ele nunca fala como se algo estivesse faltando. É
verdade que muito trabalho precisa ser feito para que membros sejam acrescentados a ela, para que
alcance sua completude numérica, sua perfeição espiritual e moral, mas, embora Paulo tenha discorrido
sobre crescimento e aumento espiritual, ainda se refere à igreja como se já estivesse completa. Ele a vê a
partir do ponto de vista divino, eterno, celestial; segundo a presciência de Deus. Nesta presciência, ou
preordenação conforme a presciência, a igreja já existia completa com o Pai e com o Filho antes dos tempos
eternos. Então surgiu o intervalo do tempo, a lacuna, o desvio da queda; mas, em Cristo, a lacuna é
preenchida, e a igreja é vista como sempre estivesse nos lugares celestiais, acima de tudo.
A igreja nasce nesta dispensação, mas é imediatamente transladada para o céu. Imediatamente nos vemos
em Cristo e assentados com Ele nos lugares celestiais: ―Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos
vivificou juntamente com Cristo, e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares
celestiais, em Cristo Jesus‖ (Ef 2: 5-6). Não diz que seremos colocados lá em algum tempo futuro. Antes
mesmo que tivéssemos crido, já havíamos nos tornado um povo celestial, do ponto de vista de Deus. Fomos
tirados do reino de trevas e transportados para o reino do Filho do Seu amor. Assim que fomos a Cristo,
imediatamente assumimos nossa natureza celestial. Fomos elevados exatamente para o nível do propósito
original, e conectados ao plano original de Deus em Cristo. Passamos a fazer parte do homem celestial
corporativo, do mesmo modo que Jesus é o Homem Celestial.

Somos chamados a reconhecer a nossa união com o eterno e com o celestial, e a considerar todas as coisas
a partir daí. Não haveria esta terrível anomalia chamada: ―cristãos mundanos‖, se tais mantivessem sua
posição em Cristo nos lugares celestiais. Olhe para todo o estrago, que precisa ser corrigido, devido aos
escândalos que dão ao invés de manter um testemunho puro para o povo do Senhor. Cristãos mundanos!
Que contradição ao pensamento divino! Quão inaceitável é isto! Vamos repetir: somos chamados a
reconhecer a nossa união com o eterno e com o celestial, e a considerar todas as coisas a partir daí. Não é
que devemos lutar, trabalhar e se esforçar para nos tornarmos o povo celestial; não é que ficamos
desejando este estado, esperando que algum dia isto venha a se concretizar. O fato é que nós já somos um
povo celestial, e que devemos considerar tudo a partir desta posição.

Cada convertido, cada filho querido de Deus, precisa lembrar-se de que, através de sua união com Cristo,
tornou-se completamente parte celestial de Cristo, ligado a tudo o que é celestial e eterno. Tudo aqui nesta
terra precisa ser vivenciado como que vindo do outro reino, do céu. Isto precisa ser mantido à vista. Os
cristãos seriam muito diferentes se mantivessem este ponto de vista como prioridade. Este é o ponto de
vista de Deus, da mente de Deus.

Esta atitude – de encarar tudo a partir de nossa posição em Cristo nos lugares celestiais – conduz-nos de
novo ao relacionamento eterno e celestial que nos estava proposto. Nossa conversão marca a retomada em
Cristo de algo que foi quebrado, interrompido e que jamais deveria ter sofrido tal interrupção.

Nada que não Seja de Cristo será Admitido por Deus no Produto Final

Antes de continuarmos a desenvolver este ponto, vamos gastar mais alguns instantes e olhar um pouco
mais para uma importante implicação daquilo que acabamos de apresentar. Nada que não seja de Cristo
será aceito por Deus na edição final. Por ser este o critério, Deus introduz e aplica suas disciplinas e sua
educação. Toda disciplina que advém devido ao nosso fracasso possui um objetivo. Segundo Deus, o
fracasso humano é necessário. Nosso crescimento alcança certo ponto e, então, é incapaz de ultrapassá-lo;
por algum tempo há um progresso com certa medida de benção e, até que então, a situação muda, o tipo de
benção que se via é retida, e uma nova situação se impõe, impulsionando-nos a uma nova posição no
Senhor. O Senhor não abençoa aquilo que não é de Cristo, mas, em Sua graça e misericórdia, Ele nos
abençoa a fim de nos conduzir mais profundamente em Cristo. Quando chegamos a certa posição onde
adquirimos algum conhecimento do Senhor, então Deus suspende aquela benção externa, e passamos a
atravessar um novo período de prova, de consciência de fracasso, de derrota, de prisão, de desamparo, até
chegarmos a condição de admitirmos: ―O que preciso é de uma nova posição no Senhor, de uma nova
experiência com Ele, de um novo conhecimento dele. Tudo o que aconteceu foi muito maravilhoso, mas de
nada serve agora; o que preciso é de uma nova posição no Senhor‖.

Será desta maneira até o fim. A experiência em Cristo não se restringe aos estágios iniciais de nossa vida
cristã, mas prossegue durante toda peregrinação. Quantos de nós temos clamado: ―Senhor, precisamos de
uma nova posição!‖. Por que deve ser assim? Pois o seguinte princípio deve ser aplicado: Deus não aceita
nada que não seja de Cristo. Somente aquilo que é de Cristo é eficaz. Toda impureza e mistura deve
desaparecer de nossas vidas, a fim de dar lugar somente a Cristo. Este é o objetivo de nossos fracassos.

O mesmo se aplica em relação à obra e aos grandes movimentos cristãos. A história de um movimento é
semelhante a do indivíduo. Até mesmo aquilo que foi abençoado por Deus alcança um ponto onde, como
movimento, como instrumento coletivo, se reconhece que os velhos tempos passaram, e que, diante
daquilo que se tem, uma nova posição é necessária. Infelizmente muitos vivem do passado, estagnam-se
numa reputação construída, numa história vivenciada, sem perceber que as coisas mudaram e que Deus
requer algo mais. Se eles apenas reconhecessem isto, quão glorioso seria o futuro, em termos de eficácia,
muito mais produtivo do que fora o passado. Quando avançamos para um novo estágio, entendemos
melhor a experiência passada. Embora as pessoas envolvidas tenham uma melhor compreensão, o fato
que permanece é: Deus sempre aplica seu princípio, isto é, que no fim, quando tudo já ter sido dito e feito,
quando todas estas eras tiverem completado o seu curso, nada haverá que não seja Cristo. Ele está
procurando levar a igreja para este objetivo: ser a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1:23).
Não haverá a plenitude de Cristo enquanto houver qualquer outra coisa no lugar.

Quão ampla é a aplicação desta verdade! Quantos detalhes ela toca, e quão envergonhados ficamos! Se
realmente olharmos para ela, se realmente atingir os nossos corações, seremos muito humilhados.
Interiormente nos sentiremos totalmente indignados com nós mesmos à luz do alvo divino.
Envergonhamo-nos de nossas pretensões, da nossa própria força, da nossa própria atividade nos assuntos
de Deus, de tudo aquilo que tem originado em nós mesmos. Nosso esforço só é válido se expressar uma
medida de Cristo. Nós, povo fraco nesta terra, levantamo-nos e pensamos que somos alguma coisa! Que
povo miserável temos sido quando somos vistos a partir dos lugares celestiais! O Senhor olha para nós aqui
em baixo e nos vê tentando fazer nomes para nós mesmos nas coisas dele; dominando outras pessoas;
tentando exercer nossa influência sobre elas; manipulando, pondo nossas mãos sobre as coisas de Deus.
Estas são expressões do nosso orgulho, presunção e do nosso ego. As consequências disto são lamentáveis.
O Senhor olha para tudo isto e diz: ―Não, isto não pertence a Cristo, portanto, no julgamento final,
desaparecerá!‖. É por isso que Ele precisa quebrar-nos, esvaziar-nos e levar-nos ao chão, ao lugar onde
choramos movidos por uma profunda consciência de coração partido: ―Senhor, se Tu não fizeres isto, então
será impossível para mim! A menos que Tu fales Tua palavra, as minhas próprias palavras serão
inúteis!‖. É por isto que Ele trabalha desta maneira. O Senhor, em Sua soberania, arranja e ordena muitas
circunstâncias que nos mantém humildes e dependentes dEle.
O Senhor mantém-nos humildes através das pessoas difíceis que Ele coloca à nossa volta, as quais Ele não
remove, por mais que clamemos a Ele para que assim o faça; embora, de fato, elas estejam completamente
erradas e representem uma aparente ameaça aos interesses do Senhor. Elas servem para nos manter
humildes e dependentes do Senhor. O Senhor faz este tipo de coisa, tudo conforme o princípio anunciado:
tudo em nós deve ser de Cristo. Somente Cristo enche o universo para Deus. Somente Cristo O satisfaz. Se
Deus vê algo que não é de Cristo, aquilo não pode ter lugar. Somente Seu Filho pode preencher todas as
coisas, isto exclui tudo mais. Oh, quão humildemente precisamos buscar o Senhor para que não haja nada
de nós mesmos pressionando as pessoas: nem a nossa maneira de ser, nem os nossos maneirismos, nem a
nossa presença, nem a nossa conduta, nem o nosso espírito, nem mesmo a nossa voz. O Espírito, muitas
vezes, irá avaliar-nos, a fim de fazer-nos caminhar sensíveis a Ele. Nenhum de nós atingiu níveis
suficientemente altos neste trabalhar de Deus, por isso todos devemos reconhecer nosso fracasso. O
Espírito está tratando conosco desta maneira. Se até mesmo em nossa maneira de vestir, ou em qualquer
outra área, estivermos nos portando como criancinhas no Senhor, o Espírito Santo procurará levar-nos a
um lugar de sensibilidade, onde possa dizer: ―Isto está colocando você em evidência! Isto vem de você
mesmo! Cubra-se, esconda-se! Isto está ofuscando a pessoa de Cristo!‖.

Deus decretou, de eternidade a eternidade, que este universo seja preenchido com Cristo, o Homem
Celestial; com o homem celestial corporativo, sendo Ele a Cabeça. Deus está mortificando o judeu e o grego
que há em nós, e nos constituindo segundo Cristo, segundo a imagem de Seu Filho. Bendito seja Deus!
Quando chegarmos ao ponto onde os últimos detalhes e resquícios daquilo que não é de Cristo forem
retirados de nós, então Ele se manifestará em nós; Ele voltará para ser glorificado nos seus santos. É Cristo
quem deve ser glorificado, não nós. Que o Senhor apresse este dia! Que possamos cooperar com Ele!

Capítulo 7 – O Homem como Instrumento do Propósito Eterno

O Homem celestial, em seu aspecto pessoal, é apresentado a nós pelo apóstolo João da forma mais
completa que qualquer outro escritor do Novo Testamento. Paulo expõe o Homem celestial em seu aspecto
corporativo ou coletivo. Isto não significa que Paulo não falou sobre o Homem celestial pessoal, pois ele o
fez especialmente em sua carta aos Colossenses; contudo Paulo avança do Homem celestial pessoal para o
Homem celestial corporativo, que é a igreja, o Corpo de Cristo.

Cristo, o Filho, verdadeiramente e literalmente estava com o Pai desde a eternidade; a igreja também
estava lá com o Pai e com o Filho, não de forma efetiva e literal, mas em presciência e em predestinação. A
revelação máxima da igreja, que chegou até nós por intermédio do apóstolo Paulo, mostra que ela já estava
completa aos olhos de Deus, embora saibamos que, aos olhos humanos, ela não estava completa na ocasião
em que Paulo escreveu. Ela não estava completa em termos numérico, moral e espiritual (embora Paulo
refira-se a ela como se fosse uma realidade completa e perfeita). Isto se deu porque ele a expôs sob a
perspectiva divina; e Deus vê a igreja a partir do ponto de vista eterno, isto é, fora do tempo.
A Restauração do Relacionamento Celestial

Reconhecendo que Cristo e a igreja já estavam com o Pai desde a eternidade, a seguir vemos que, devido à
queda da humanidade, que fora resolvida na linha redentora do propósito, Cristo entra no tempo,
assumindo a obra da redenção, a redenção ―deste presente século mau‖. A Versão Autorizada traduz como
―mundo‖, e aqui, o sentido não é que fomos redimidos de um lugar, mas de uma era, de um ―século‖, e
sabemos o significado da palavra ―era‖. Ela abrange todas as seções do tempo ou dispensações. O presente
século mau vai de Adão até os novos céus e a nova terra. Haverá uma gloriosa era vindoura. Ser redimida
deste presente século mau significa que a igreja, que pertence à eternidade e não a esta era, foi resgatada
do presente século mau. Isto mostra como Cristo, pela redenção, conduziu a igreja de volta à linha reta do
propósito eterno, que está fora do tempo. A igreja foi levada para os eternos conselhos e propósitos de
Deus concernentes ao Seu Filho. Pela redenção que há em Cristo, a qual inclui a libertação do presente
século mau, a igreja é levada para outra era, para a era eterna. Assim, a encarnação de Cristo está
relacionada à redenção da propriedade de Deus, à redenção da igreja.

No evangelho de João, no que diz respeito à entrada de Cristo no tempo, descobrimos em seu escrito três
itens a respeito de Cristo.

(1) João apresenta Cristo na eternidade. ―No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus‖ (Jo 1:1). Aqui temos Cristo antes do tempo.

(2) Ele mostra a inserção de Cristo no tempo. ―E o Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós...‖ (Jo 1:14).

(3) Cristo é revelado como estando, simultaneamente, no céu e na terra.

Este terceiro item, registrado no evangelho de João e que é declarado pelo próprio Senhor, constitui-se
numa combinação dos dois primeiros. O Filho, que esteve aqui em carne, também estava ao mesmo tempo
no céu. Há uma união das duas esferas. Embora Ele esteja aqui, ainda continua no céu; embora esteja no
tempo, ainda permanece na eternidade. ―Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, o Filho do
Homem, que está no céu‖ (Jo 3:13). Este é o Homem Celestial que nos é apresentado por João; Cristo na
terra e, ao mesmo tempo, no céu.

Agora, em Cristo, isto também é verdade em relação à igreja e em cada membro dela. Em Cristo nós
estamos aqui e, ao mesmo tempo, estamos no céu (Ef 2:6). Estamos no tempo, mas também estamos na
eternidade. Então surge a pergunta: ―Como isto é possível?‖. É uma declaração que precisa ser explicada.

Isto nos leva ao ponto onde a relação eterna e celestial foi retomada. Esta relação foi quebrada,
interrompida. Em Cristo, como Homem representativo, a relação é reatada. Com Ele, esta relação jamais
foi interrompida. A interrupção tem a ver com a falha do homem, mas, através da união com Cristo, esta
relação — numa forma mais plena — é recuperada ou restaurada para o homem. Qual é o momento onde
esta retomada acontece? Somos reintroduzidos a esta realidade quando nascemos de novo ou nascemos do
alto. A lei e a coluna de sustentação desta realidade é a vida eterna.
Israel e as Promessas

Dois conceitos estavam bem estabelecidos na mentalidade judaica. Eles eram: (1) o reino do céu; (2) a vida
eterna. Nicodemos perguntou o que deveria fazer para entrar no reino do céu. Outra autoridade,
provavelmente da mesma escola que Nicodemos e, talvez, do mesmo nível que ele, perguntou: ―Mestre, que
devo fazer para herdar a vida eterna?‖ (Lc 10:25). Estes conceitos eram claramente aceitos pelos judeus
como promessas. O Senhor Jesus reconheceu e referiu-se a esta expectativa quando disse: ―Examinais as
escrituras porque pensais ter nelas a vida eterna...‖ (Jo 5:39). Havia uma busca pela vida eterna, uma
expectativa, uma esperança, uma convicção de que a vida eterna era uma promessa oferecida. Estes dois
conceitos permaneciam juntos na mente deles. Cristo associa esta esperança a Si mesmo e diz, a respeito
do testemunho das Escrituras: ―... elas testificam de mim‖. Aos que podem receber isto, Jesus indica a Si
próprio como sendo o caminho ou a escada que leva ao céu; Ele é o único meio de se chegar lá (ver Jo 1:51).

No versículo quarenta e sete, lemos: ―Jesus viu Natanael e disse-lhe: eis aí um verdadeiro israelita, em
quem não há dolo!‖. Aqui está um verdadeiro israelita. O que você diria a um verdadeiro israelita que está
esperando o reino do céu e a vida eterna? O que diria a um homem verdadeiro e honesto? O Senhor viu-o
debaixo da figueira, meditando sobre o reino do céu e a vida eterna. Aquilo que o Senhor falou-lhe revela-
nos o que estava passando no coração de Natanael. Ele era um daqueles que aguardavam as bênçãos
prometidas a Israel.

Vamos inserir aqui o salmo 133. ―Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
... porque ali o Senhor ordena a benção e vida para sempre‖. Como é que a benção vem? De onde vem esta
esperança, esta expectativa de benção? Nossa pergunta leva-nos à promessa feita a Abraão: ―... em ti serão
abençoadas todas as famílias da terra‖ (Gn 12:3). Estes israelitas estavam esperando pelas bênçãos de
Abraão. Mas vejam o que foi dito mais tarde: ―... em Isaque será chamada a tua semente‖ (Gn 21:12). O que
Isaque representava? Vida a partir da morte, vida eterna. A benção de Abraão é a vida eterna. Agora,
observe as palavras do salmo citado: ―... ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre‖. Assim,
confirma-se que eles buscavam a benção, que tinha os dois aspectos: o reino do céu e a vida eterna.

Em Natanael vemos um verdadeiro israelita, em quem não há dolo, um homem puro numa busca legítima.
O Senhor diz a um homem como este: ―Você verá o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do Homem‖. Você está procurando pelo reino do céu? Então ―você verá o céu aberto…‖. Você
quer alcançar o reino? Então você precisará de uma escada, de um caminho, de um meio, de um veículo:
―Você verá os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem‖.

Natanael sabia exatamente a que o Senhor estava se referindo. Um verdadeiro israelita, em quem não havia
nada de ―Jacó‖ nele, era Natanael! Lembremo-nos, por um momento, do incidente a que o Senhor referiu-
se. ―Jacó… chegou a certo lugar... pegou uma pedra e colocou-a sob sua cabeça, e deitou ali para dormir. E
teve um sonho: eis que uma escada foi colocada sobre a terra, cujo topo alcançada o céu; e os anjos de Deus
desciam e subiam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse:... Eu sou contigo, e te guardarei
por onde quer que fores... E Jacó despertou do seu sono, e disse... Que terrível é este lugar! Este lugar não é
outro senão a casa de Deus, e esta é a porta do céu‖ (Gn 28:10–17). Betel, a Casa de Deus: o portão do céu.
O Senhor Jesus apropria-se disto e diz: ―Eu sou a Casa de Deus, a porta do céu. Você verá o céu aberto
através de Mim‖. Você quer saber como chegar ao céu? Duas coisas precisam ser consideradas: uma é a
necessidade da união com Cristo, a outra está ligada a esta união, que é a vida eterna.

O Homem, por Natureza, é um Fora da Lei

Reflitamos, um pouco mais, na afirmação: ―Vereis o céu aberto…‖. Tal declaração implica que os céus
estavam fechados. Isto revela o fato de que, para o homem, a vida eterna estava retida por um céu fechado.
Mesmo para Natanael, Nicodemos ou para qualquer outro verdadeiro israelita, esta é a dura realidade. O
anseio deles é por um céu aberto. Eles esperavam pelo reino do céu, mas este estava fechado.

Sabemos muito bem que o céu é um reino fechado para qualquer pessoa. Mas, um reino fechado não é o
desejo de Deus para nós. Nós pertencemos ao céu. Cristo pertence ao céu. A igreja pertence ao
céu. Ironicamente, o lugar que pertencemos está fechado para nós! O lugar que estamos inseridos, segundo
os eternos conselhos e propósitos de Deus, é um lugar fechado para nós. Esta separação manifestou-se
mais terrivelmente naqueles momentos da cruz, quando o Senhor Jesus, ocupando o lugar do homem em
seu pecado, gritou: ―Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?‖. O Céu está fechado para mim; o
lugar que pertenço, o meu céu, a minha casa, está fechada para mim! Sou um banido do céu!

Este é o estado do homem natural: separado do céu, do lugar para o qual foi criado, do lugar que lhe
pertence no propósito de Deus. O Senhor disse a Natanael: ―Verás o céu aberto‖. Há um profundo
significado nesta frase que tantas vezes falamos de forma leviana. ―Um céu aberto‖. O que é desfrutar de
um céu aberto? É estar na própria casa, em comunhão com o Senhor; é ter uma vida celestial; ter todos os
recursos celestiais à nossa disposição; desfrutando as bênçãos celestiais e vivenciando aquilo para o qual
Deus nos criou, que Ele desejou que fosse nosso desde a eternidade: um céu aberto. Só assim a busca do
coração humano é satisfeita e a promessa de Deus é realizada. O princípio do céu aberto, ou da vida
celestial, é o que chamamos de vida eterna em Cristo. Cristo é o Homem celestial que entrou no tempo.

Cristo e a Igreja

Já dissemos que a igreja deve ser aquilo que o Homem Celestial era e é, quanto ao seu Ser, quanto às leis
da Sua vida, quanto ao Seu ministério. Tudo o que é verdade sobre Ele, na condição de Homem Celestial,
também tem que ser verdade na igreja. Da mesma forma que o Senhor Jesus, como o Homem Celestial, foi
introduzido no tempo em seu nascimento, também ocorre com a igreja, o Homem Celestial Corporativo,
que teve um nascimento no tempo, no Pentecostes, com o mesmo princípio que Cristo nasceu.

Abordaremos o nascimento do Senhor Jesus tendo em vista o nascimento da igreja. Lembremos que o
Senhor Jesus é Deus encarnado, Emanuel, Deus conosco, Deus manifestado na carne; mas isto não é
verdade em relação a nós, como membros da igreja. Falaremos da formação do corpo do Homem Celestial,
não do Filho de Deus, não de Deus. Em comparação, aquilo que ocorreu com Jesus, como Homem
Celestial, também tem que ocorrer, etapa por etapa, com toda a igreja. Vamos olhar para o nascimento do
Senhor Jesus e destacar três características.

(1) A Palavra é Apresentada

Voltemos a Lucas, pois ele detalha o que João escreveu. João condensa tudo numa afirmação: ―E o Verbo
se fez carne e habitou entre nós...‖. Mas foi Lucas quem nos forneceu uma descrição mais detalhada sobre o
Verbo tornando-se carne, sobre o nascimento de Cristo. Não leremos a história toda, mas observemos,
como o anjo apareceu a Maria e trouxe-lhe uma palavra. Ele fez o pronunciamento e, então, esperou. Em
sua perplexidade, Maria fez uma pergunta; o anjo respondeu-a e voltou a esperar. Então veio a resposta:
―eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra‖ (Lc 1:38). Antes de tudo, a palavra
é apresentada; este é o primeiro passo em Seu nascimento: o anúncio, a proclamação da palavra. Então, o
anjo esperou. O que Maria fará com esta palavra? Como reagirá? A palavra apresenta um desafio; e
sempre um desafio tem um custo. Esta palavra ecoará para fora do mundo; e é para a libertação do
mundo. Maria avalia o custo enquanto o anjo espera. Uma batalha é travada no coração dela, uma
tempestade em sua mente se levanta por um instante e, então, está decidido! Em total consciência e
obediência, ela responde: ―... cumpra-se em mim segundo a tua palavra‖.

Você entende o que significa ser gerado pela Palavra de Deus? O primeiro passo neste novo nascimento,
nesta vida celestial, é a nossa atitude em relação à Palavra de Deus que nos é apresentada, e isto governará
cada passo nosso nesta vida celestial. Esta é a natureza do primeiro passo, bem como de cada passo
seguinte. Durante todo o caminho, o Senhor nos apresentará Sua Palavra e, com ela, um desafio, um custo,
um preço a ser pago. E este será o cerne do conflito: estamos dispostos a andar por este caminho? Estamos
dispostos a acolher a Palavra? Estamos preparados para as consequências daquilo que a Palavra implica,
daquilo que ela envolve? O nosso conhecimento e progresso na vida celestial dependem das respostas que
damos a estas perguntas. Do início ao fim, este é o método de Deus.

É por isso que o Senhor nunca explicava tudo de imediato a pessoas não salvas. A explicação era dada
posteriormente aos discípulos, e nunca aos incrédulos. Aos incrédulos eram feitas declarações claras e
concisas; a eles eram apresentados fatos, afirmações ousadas e propositais, como se dissesse: ―A vontade
de Deus, a Palavra de Deus é esta, e você deve crê-la; a explicação virá mais tarde. Então, para que o céu se
abra ou permaneça fechado, dependerá da sua resposta à Palavra de Deus. Você nascerá da Palavra se
responder afirmativamente; é desta forma que se é gerado pela Palavra da verdade‖. Assim, o primeiro
passo é a resposta à Palavra anunciada e, a partir daí, após algum conflito e dificuldade interior, deve-se
acolhê-la, recebê-la e render-se a ela: ―... cumpra-se em mim segundo a tua palavra.‖

(2) A Palavra germinando

Qual é o próximo passo? O Espírito faz a Palavra germinar. O Espírito gera vida no interior por meio da
Palavra. Este é o segundo aspecto a ser observado no caso de Maria: o Espírito gerando ou infundindo vida.
Enquanto não houver uma resposta, um exercício da fé, a Palavra não se tornará algo vivo dentro de nós. É
por isto que um incrédulo não tem condições de conhecer o significado da Palavra de Deus. O significado
de qualquer Palavra de Deus depende do trabalho interior do Espírito Santo, a fim de torná-la viva, a fim
de fazê-la germinar. É a resposta obediente à Palavra que abre o caminho para o Espírito.

(3) A Palavra (Cristo) Formada no Interior Inicialmente e Progressivamente

Este é o terceiro passo. Sua apresentação é muito simples, e este é o caminho para o céu, para a vida eterna.
Observe que isto é algo separado de Maria, de sua raça e de sua natureza. Pelo Espírito Santo houve uma
completa distinção entre tudo aquilo que Maria era por natureza daquele Ente Santo gerado nela. É muito
importante reconhecermos que é exatamente desta maneira que nascemos de novo. Quando Cristo nasceu
de Maria, ou quando seu corpo humano foi gerado em Maria, aconteceu nela um milagre que estava
completamente além de sua natureza. Maria tinha uma linhagem bastante longa, e nesta linhagem havia
toda sorte de pessoas, incluindo prostitutas. Mas, quando o Espírito entrou e formou Cristo nela, Ele
cortou e colocou tudo aquilo de lado. Aquele sangue não entrou em Cristo. Lembre-se disto! Ele não
herdou nada daquilo, não importa o que fosse, se alto ou baixo, bom ou mau. O Espírito Santo cortou fora,
de tal forma que Cristo era algo diferente, distinto de tudo aquilo: ―... o Ente Santo....‖. Jamais poderemos
dizer que Ele herdou o sangue de Raabe ou de Rute, a moabita. É algo distinto.

Cristo em nós é algo distinto de nós mesmos. É isto que nos torna celestiais. Carne e sangue não podem
herdar o reino do céu (I Co 15:50). Este é o nosso fluxo natural, nossa história natural, todo o curso da
nossa relação adâmica, isto não pode herdar o reino do céu. É somente aquilo que é de Cristo que herdará o
reino do céu. É Cristo em nós que é a esperança da glória, e a única esperança de glória (Cl 1:27). O que
ocorreu com Maria é algo distinto de sua raça e natureza; de sua carga genética e genealógica, e o mesmo
acontece conosco. O que é gerado por Deus é do Espírito Santo. Precisamos sempre distinguir entre aquilo
que é de Cristo e o que é de nós mesmos, e não misturar as duas fontes. Deus aceita, aprova apenas aquilo
que vem de Cristo. Tudo tem que ser medido segundo Cristo, tem que passar pela peneira de Cristo, e sua
peneira é bastante seletiva; tudo precisa passar pela prova da morte, e a morte é um teste tremendo. Existe
alguma coisa que a morte pode reter? Se há, ela irá fazê-lo. Tudo o que está sujeito à morte, que pertence à
velha criação, sucumbirá neste teste. Cristo não está sujeito à morte; Ele não pode ser detido por ela, pois
não há nada nele que a morte possa reter. Esta é a nossa esperança da glória: Cristo em nós. O
Espírito Santo efetua a separação entre Maria e Cristo, entre nós e Cristo; e esta divisão fundamental,
realizada pelo Espírito, deve ser mantida constantemente em nossa mente, pois somente quando a fazemos
é que Deus pode alcançar o seu propósito. Deus pode alcançar o seu propósito muito mais rapidamente
onde esta separação é mantida, do que onde ela é desprezada. Por isso é tão importante que os cristãos
sejam ensinados a respeito daquilo que é essencial ao propósito do Senhor.

Cristo foi diferente dos demais homens neste aspecto. Desde a infância Ele tinha outra consciência, como
observamos em Seu comportamento aos doze anos (Lc 2: 41-52). Seus pais terrenos perderam-no em meio
a caravana e, voltando a Jerusalém, encontraram-lhe no templo e chamaram-lhe a atenção: ―Filho, por
que agistes assim para conosco? Eis que o teu pai e eu ansiosos te procurávamos‖. Ele respondeu: ―... não
sabíeis que eu deveria estar na casa do meu Pai?‖ (Lc 2:48-49). Temos aqui a revelação de Sua consciência
celestial. ―Teu pai e eu...‖; e em contraposição: ―... Casa do meu Pai...‖. Ele não estava se referindo à casa de
José. Aqui vemos a substituição de um Pai por outro, por alguém que está acima do outro. Nele há uma
consciência celestial, uma consciência eterna, um sinal de que Ele é ―outro‖, gerado pelo Espírito Santo.

Quando fomos gerados pelo Espírito Santo, fomos restaurados à nossa eterna relação com Deus no Filho;
uma nova consciência surge dentro de nós; uma consciência que não existia antes. Este ―novo homem‖,
que foi gerado, possui uma nova consciência quanto aos assuntos celestiais.

Tudo isto está resumido na expressão: ―vida eterna‖. A vida eterna não implica meramente numa questão
de duração; significa uma qualidade, um tipo de vida. Esta vida eterna, vida do alto, vida divina em Cristo,
carrega consigo tudo aquilo que se refere ao Homem Celestial.

Considere novamente a pessoa de Jesus como o Homem Celestial. ―Nele estava a vida…‖; ―Assim como o
Pai possui vida em Si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo...‖ (Jo 5:26). No Evangelho
de João, o Senhor Jesus fala muito a respeito de Si mesmo como sendo o Homem Celestial, como aquele
que possui a vida celestial, e tal vida celestial era a fonte da natureza e da consciência celestial; foi através
desta vida celestial que Ele se portou da maneira como lemos nos evangelhos. Ele estava vivo para Deus
através daquela vida que possuía. Isto é constatado por sua capacidade de conhecer a Deus, seus
movimentos, suas direções, seus gestos e suas restrições. Tudo isto estava contido naquela vida. Este é o
princípio de sua vida a partir do seu nascimento. É o princípio do nosso nascimento, bem como é o
princípio de nossas vidas como o Homem celestial corporativo.

O Dom do Espírito Santo

Esta vida é nos transmitida por meio do Espírito Santo. Ela sempre está relacionada a uma Pessoa; não é
um mero elemento abstrato. Ela é inseparável da Pessoa, que é o Espírito Santo; e o Espírito Santo é o
Espírito de Cristo. No livro de Atos, há muitas revelações sobre o dom do Espírito Santo. Se examinarmos
cuidadosamente, concluímos que a vinda do Espírito Santo estava intimamente relacionada à união
espiritual com Cristo. O Pentecostes marcou o fim de um relacionamento físico com o Senhor Jesus; bem
como marcou o fim daquele período de Suas aparições pós-ressurreição. É o início de um relacionamento
interior e espiritual com Cristo. Podemos observar o mesmo aspecto em Cesareia; quando eles creram e o
Espírito Santo lhes foi dado. Em Samaria, novamente, quando as mãos dos apóstolos foram impostas sobre
os que creram, o Espírito Santo desceu. E um dos eventos mais interessantes no livro de Atos é aquele
incidente em Éfeso. Quando Paulo chegou a Éfeso, encontrou certos discípulos, e percebeu algo estranho
na condição deles, que alguma coisa estava faltando. Paulo perguntou-lhes: ―Recebestes o Espírito Santo
quando crestes?‖ (At 19:2). Esta é a tradução correta, e não ―desde que crestes‖, como na Versão
Autorizada. Isto esclarece o que significa receber o Espírito. As duas coisas caminham juntas. Paulo não
conseguiu compreender bem a situação. Era algo anormal. Ali estavam pessoas que professavam crer em
Cristo, mas que, aquilo que deveria acompanhar a fé, não estava lá! Paulo viu-se confrontado com uma
numa situação inédita e, quando lhes perguntou se haviam recebido o Espírito Santo ao crerem, ouviu a
surpreendente resposta: ―Nem sequer ouvimos falar que haja Espírito Santo...‖. Então, Paulo pergunta
novamente: ―Em que fostes batizados então?‖; ao que responderam: ―No batismo de João‖. Ah! Agora teve
a pista. ―João ministrou o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que deveriam crer naquele que
viria após ele, isto é, em Jesus‖. Eles haviam sido batizados no batismo de João, para um objetivo futuro:
Cristo; eles não foram batizados em Cristo, mas batizados em direção, em preparação a Cristo. São dois
tipos de batismos completamente diferentes. Paulo ordenou-lhes que fossem batizados em nome do
Senhor Jesus, impôs as mãos sobre eles, e então o Espírito Santo veio sobre eles. Estas duas coisas
caminham juntas. A união com Cristo é uma realidade que vem juntamente com o recebimento do Espírito.
O Senhor não quer que isto aconteça mais tarde na vida espiritual; isto deve marcar o início.

No livro de Atos há muitos eventos que comprovam esta ligação entre crer e receber o Espírito; como
exemplo, veja a série de sinais miraculosos registrados. Aqueles sinais foram a maneira escolhida e usada
pelo Senhor para mostrar que a união com Cristo envolve o recebimento do Espírito. Como sabemos? Bem,
Ele comprovou isto, a esta geração, ao deixar o assunto tão em evidência como o fez. Ele deixou tudo muito
bem estabelecido, de modo que todos percebessem. Se você se ocupar com os sinais (línguas, milagres etc),
mas negligenciar sua intenção, o propósito que está por trás dos sinais, não entenderá que estas marcas
externas, estas demonstrações de poder, apenas foram planejadas como acompanhamentos que apontam
para a verdade fundamental: a união com Cristo fora estabelecida. O dom do Espírito Santo foi o selo e a
prova dessa união. Sobre que base? Sobre a fé. Ao se crer em Cristo, ao ser batizado em Cristo, a vida
eterna é recebida no Espírito Santo. Esta vida apresenta capacidades celestiais; dentro dela estão os
poderes da era vindoura; e, quando a era vindoura for estabelecida e os seus poderes forem completamente
liberados, seremos dotados de poderes que transcendem em muito nossas capacidades atuais. A era
vindoura é demonstrada através de sinais. Pode ser que tais poderes se manifestem na cura de um doente
ainda hoje, mas não vamos nos agarrar a eles, nem fazer uma doutrina de sinais, não vamos reuni-los e
sistematizá-los fazendo deles o objeto da nossa busca. Lembremo-nos de que eles apontam para algo
maior, e você pode ter este ―algo maior‖ independentemente dos sinais. Quando alguém é batizado em
Cristo, recebe o Espírito da vida de Cristo e, com esta vida, é conduzido imediatamente a um
relacionamento celestial com o Homem Celestial; pois se tornou parte do Homem corporativo (a igreja).

É o que Cristo é em nós, pelo Espírito Santo, que determina tudo. Determina tudo aquilo que realmente
tem valor, estabelece somente aquilo que Deus aprova, soluciona a todas as nossas perguntas e problemas.
Gostaria que tivéssemos este entendimento, esta convicção, este conhecimento o mais cedo possível. Se
tivéssemos este ensino desde o início de nossa jornada cristã, de quanta coisa poderíamos ter sido livrados!

O Ministério, o serviço no reino, é a expressão da vida, e não o vestimento de um uniforme, ou a aquisição


de um título. Eu mesmo entendia que estar no ministério significava envolver-se em algum tipo de obra, de
negócio e, assim, seria um ministro! É assim que se entra num negócio. Muitos e muitos estão se
esforçando e labutando no ministério, quebrando seus corações, mas temendo deixá-lo, pois receiam estar
desprezando um chamado divino. Muitos não conseguem deixá-lo porque se tornou um meio de ganhar a
vida; tais estão partindo seus corações. É tudo falso. Ministério não é um sistema como este. Ministério é a
expressão da vida, é o resultado da habitação de Cristo. Desastre está diante do homem ou da mulher que
ministra em outra base que não seja esta. Quando o Senhor tem um caminho em nós, e realmente
confiamos nele e assumimos a nossa posição, Ele nos mostrará em que ministério devemos estar
envolvidos; e então não precisaremos ficar dando voltas a fim de procurar um ministério. A verdadeira
obra alicerça-se nestes princípios, onde temos nossa libertação desta presente era má, de suas concepções a
respeito do ministério, e onde avançamos para o ministério celestial.

O Senhor Jesus é o nosso padrão. Nele vemos o exercício do ministério espontâneo e tranquilo daquele
que é Homem Celestial. Como almejo isto! Não significa que nos tornaremos negligentes, mas que seremos
libertos de muita tensão desnecessária. Esta é a forma que deveria ser. Que o Senhor nos conduza a isto; o
Homem Celestial com a vida celestial, com todos os seus recursos celestiais.

Capítulo 8 – O Homem Celestial como Fonte e Esfera da Unidade Corporativa

Leitura: Ef 4:1–16,30–32; Sl 133.

Temos aqui um salmo que, por um lado, fala da entrada imperfeita e parcial no espírito da benção e, por
outro, constitui-se num tipo e numa profecia de uma benção plena, de um gozo que viriam, como
consequência desta benção. Como tipo e profecia da plena benção vindoura, o salmo indica a base da
benção e os seus maravilhosos benefícios. Na parte final do salmo lemos sobre esta base: ―... ali o Senhor
ordena a benção e a vida para sempre‖. Onde a benção foi concedida? Na unidade entre os irmãos: ―Quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união‖. Esta bênção baseia-se em dois fatores. O primeiro é
exposto no salmo anterior (Sl 132). Estes salmos pertencem aos chamados ―cântico dos degraus‖. Estes
salmos expressam o gozo parcial da benção verdadeira que viria. O contexto é do povo de Israel em
caravanas, em procissões, vindo de lugares distantes, mas à medida que peregrinam rumo a Sião, vão se
encontrando pelo caminho. Eles têm seus olhos e corações, cheios de expectativa e esperança, voltados
para Sião. Sião é a cidade das solenidades deste povo; é a alegria de toda a terra; Sião é o centro unificador
da vida deles; Sião era o seu destino, bem como o lugar onde residia seus corações: ―... em cujos corações
estão os altos caminhos de Sião‖ (Sl. 84:5).

O Centro Unificador

Sião é o grande centro unificador. Pessoas de todas as tribos peregrinavam até lá em procissão. Muitas se
juntavam à caravana em vários pontos ao longo do caminho, à medida que avançavam. Os peregrinos
descobriam que, apesar de não se conhecerem, embora tenham entrado em contato uns com os outros pela
primeira vez em suas vidas, embora os seus caminhos fossem tão distantes na vida diária e seus estilos de
vida e trabalho fossem tão distintos, Sião fazia deles uma unidade. Imediatamente os pensamentos sobre
Sião tomavam os seus corações; imediatamente eles pensavam em Sião e se moviam em sua direção. Todas
as diferenças, separações e divisões eram removidas, e eles se tornavam um único homem. Sião os unia.

Agora veremos o que nos é ensinado no salmo 132. ―Certamente não entrarei na tenda de minha casa, nem
subirei à minha cama, não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, enquanto não
achar lugar para o Senhor, uma morada para o poderoso Deus de Jacó. Eis que ouvimos falar dela em
Efrata, e a achamos no campo do bosque. Entraremos nos teus tabernáculos; prostrar-nos-emos ante o
escabelo de teus pés. Levanta-te, Senhor, ao teu repouso, tu e a arca da tua força. Este é o meu repouso
para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão
os seus necessitados‖ (Sl 132:3–8,14,15).

O primeiro fator da base da benção é a satisfação de Deus; é Deus encontrando Sua satisfação: ―Levanta-te,
ó Deus, para o teu lugar de repouso...‖. Aqui temos o Senhor vindo descansar em Sua casa. Isto não é para
ser interpretado de forma literal. Significa o Senhor tendo um lugar de perfeita satisfação, tendo tudo
conforme a Sua própria vontade, conforme o Seu próprio coração; significa o Senhor encontrando aquilo
que sempre esteve procurando: ―Este é o lugar do meu repouso para sempre...‖. O Senhor só é satisfeito
quando o desejo do Seu próprio coração é atendido e, a partir daí será possível dizer a Ele: ―Levanta-te, ó
Senhor, para o teu lugar de repouso...‖.

A preocupação de Davi era, primeiramente, que o Senhor ficasse satisfeito. Neste salmo, vemos Davi
renunciando tudo aquilo que é particularmente seu. No coração de Davi é o Senhor que tem a prioridade.

Cristo — Deus de Todos e Nosso

Transportemos isto para a linguagem do Novo Testamento, para a interpretação final, pois é lá que
encontramos o seu significado espiritual. Estamos meditando na expressão: ―TODAS AS COISAS EM
CRISTO‖ e, entre estas coisas, e não menos importante, está a satisfação de Deus, a vinda dele ao Seu
descanso em Seu tabernáculo. Isto estava representado quando o Espírito, descendo em forma de pomba,
pousou sobre o Senhor Jesus. A pomba retornando ao seu descanso na arca [de Noé] tipificava o Espírito
vindo ao Seu descanso em Cristo, a satisfação de Deus: ―este é o meu Filho amado, em quem tenho toda
minha satisfação‖ (Mt 3:17). É como se Deus, o Pai, estivesse dizendo: ―Encontrei o lugar do meu descanso;
estou perfeitamente satisfeito; aqui satisfaço todo o meu desejo‖. Então o Espírito, em forma de pomba, o
símbolo da paz e do descanso, pousou sobre Ele. O Senhor Jesus atende a todos os desejos do coração de
Deus e, nEle, Deus entra em Seu descanso.

Quando colocamos de lado todos os nossos interesses pessoais, e focamos e concentramos toda a nossa
atenção no Senhor Jesus, de modo que Ele tenha a primazia, que tenha tudo, desta forma providenciamos
um lugar de descanso para Ele em nossas vidas, e assim pavimentamos o caminho para a benção. ―Lá o
Senhor ordena a benção....‖. Lá onde? Primeiramente, onde Ele encontrar o Seu lugar de descanso, de Sua
satisfação, de Sua alegria. O Senhor não nos abençoa em nosso próprio homem natural. Deus não abençoa
nossa carne. A benção de Deus vem sobre o Seu Filho em nós: ―... a unção que recebestes dele permanece
em vós...‖ (1 Jo 2:27). Lembre-se de que a benção do Senhor, a unção, o óleo precioso, vem sobre a Cabeça.
Ela escorre até nós somente a partir da Cabeça e por meio dela. Somente quando Cristo, por meio de Seu
Espírito, vem descansar em nós, é que a benção repousará. A benção repousa sobre Ele em nós, e é desta
forma que permanece em nós. Graças a Deus que ela habita em nós. Esta habitação é um dos maiores
privilégios da nossa vida em união com o Senhor. Nós, em nós mesmos, não permanecemos nem por cinco
minutos! Somos tão volúveis quanto o clima. Pela manhã podemos estar de um jeito, e pela tarde, de outro,
e à noite, de outro completamente diferente. Podemos ser pessoas diferentes durante o espaço de uma
semana. Em determinado momento nos sentimos esplêndidos, ―espirituais‖, a ponto de pensar que jamais
cairemos novamente; mas não demora muito e já estamos lá em baixo. Variamos desta maneira;
familiarizamo-nos com cada mudança possível à existência humana. Se vivermos nesta vida egoísta, de
mudanças constantes de humor; oh, que vida miserável será! ―Mas a unção que recebestes permanece em
vós‖ (I Jo 2:27). Por que é assim? É Porque a unção permanece nele, e não em nós, e Ele é ―o mesmo
ontem, hoje e sempre‖ (Hb 13:8). Não há mudança da parte do Senhor Jesus em nós. Nele não há variação
nem sombra de mudança. Oh, as mudanças ocorrem em nossas vidas porque a vida humana é mutável em
si mesma; mas Ele é sempre o mesmo em nós. Nosso humor pode variar mil vezes, mas Ele nunca muda,
Ele é sempre o mesmo. A Unção permanece nele em nós. Oh, vivamos em Cristo, vivamos na Unção,
vivamos neste fato inabalável de Deus em Cristo, o imutável. Ele não nos ama pela manhã e se volta contra
nós à tarde. Embora possamos achar que isto ocorra, o fato é que este não é o caso. ―Eu te amei com amor
eterno‖ (Jr 31:3). O nosso humor nos levaria a concluir que o Senhor nos ama hoje, mas que amanhã se
voltará contra nós; que hoje o Senhor está conosco, mas que amanhã nos deixará. Esta é a nossa
enfermidade. Isto é de nós mesmos e não do Senhor. O Senhor não é desta maneira. O Senhor não é como
nós, muitas vezes reféns de nosso humor, sentimentos, sensações ou da falta delas. O Senhor é sempre o
mesmo Deus fiel, imutável, e é assim que a unção permanece. Ela não vem e vai. Ela não levanta e cai. Ela
não entra e sai, não sobe e desce, um dia está de um jeito, e outro dia, de outro; ela permanece.

O gozo disto só é possível quando Cristo for o centro, o tudo de nossas vidas. Deus descansa em Seu Filho,
e só nEle encontra satisfação. Você deve ir a Ele, a fim de encontrar o descanso de Deus; e lá encontrará a
benção. Deus ordena a benção no lugar do seu repouso, isto é, no Senhor Jesus. Cristo em nós é descrito da
seguinte forma: ―… Tu e a arca da tua força‖. Isto é Cristo em vós, a esperança da glória.

Cristo como o Descanso de Deus no Coração

Assim, o primeiro aspecto da base da benção é este: o descanso de Deus em Seu Filho, Jesus Cristo, em
nossas próprias vidas. Ele mesmo expressou isto numa linguagem mais ou menos simbólica ou parabólica:
―Vinde a Mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu
jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas
almas‖ (Mt. 11:28-29). Sabemos o que isto quer dizer no espírito. No início da vida cristã, pensávamos que
estas palavras eram dirigidas a trabalhadores cansados por suas labutas diárias, mas, ao crescermos um
pouco, passamos a compreender que esta labuta e esta sobrecarga tem a ver principalmente com nossas
variações de humor. Nós vivemos labutando contra a correnteza, contra a maré, contra a tensão da nossa
própria instabilidade, da nossa própria incerteza, das nossas frequentes dúvidas e questionamentos, dos
nossos sentimentos; esta é uma árdua labuta que enfrentamos enquanto vivermos nesta terra! O Senhor
Jesus diz: ―...Eu te darei descanso‖. Como Ele fará isto? Ele entrará e fará morada em você e será o motivo
da mais profunda satisfação; desta forma nossas questões cessam. Você está se estressando e lutando,
questionando se o Senhor está satisfeito consigo? Seria melhor parar com isto, porque Ele jamais estará
satisfeito com você. Se está procurando e desejando pelo dia em que o Senhor ficará completamente
satisfeito com você, então está procurando por um dia impossível. Se está desejando que algum dia Deus
ficará muito satisfeito com você, e então você será muito feliz, devo informar-lhe: este dia nunca chegará.
O que precisamos compreender – que é a verdade que estou aqui enfatizando, contudo que ainda não é
suficientemente aceita por muitos corações – é que Deus jamais ficará satisfeito conosco em nós mesmos,
mas Ele está perfeitamente satisfeito com o Seu Filho, a quem nos deu para morar em nossos corações, e
que é o motivo da Sua satisfação, e que somos aceitos neste Amado. Então, a benção vem e opera.

Vivendo Juntos em Unidade

Agora chegamos ao segundo aspecto da base da benção. ―Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam
em união!‖ (Sl 133:1). Vimos isto na ilustração já apresentada, isto é, Sião unindo todos os corações,
tornando todos um, removendo tudo aquilo que é pessoal, tudo aquilo que é divisivo. Quando nosso
coração está centrado no Senhor Jesus, temos o maior e o mais eficaz poder contra a divisão, contra a
separação, contra tudo o que nos mantém distantes. Quando o Senhor Jesus é o nosso objetivo central e
supremo, quando nossos corações se voltam em direção a Ele, então alcançamos a unidade. Você não pode
ter interesses pessoais e, ao mesmo tempo, cuidar dos interesses do Senhor. Davi deixa isto muito claro: ―o
tabernáculo da minha casa‖. Se nos concentrarmos em ―nossa casa‖, então não estabeleceremos uma casa
para o Senhor; e se assim fizermos, não promoveremos um lugar de descanso para Ele. Se estivermos
buscando satisfazer nossos desejos, dando sono aos nossos olhos e repouso às nossas pálpebras, então os
interesses do Senhor ficarão em segundo lugar. Mas quando negamos a nós mesmos, com tudo aquilo que
é pessoal, e priorizamos o Senhor, com todos os demais irmãos também fazendo o mesmo, encontraremos
um centro unificador em Cristo. É isto o que significa viver em união.

Efésios quatro é a grande explicação do Novo Testamento do salmo 133: ―... procurando guardar a unidade
do Espírito no vínculo da paz... há um só corpo e um só Espírito... um só Senhor, uma só fé, um só batismo,
um só Deus, e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos‖ (versos 3-6). Unidade em Cristo é
o que está retratado. Como é alcançada esta perfeita unidade? Deixando de lado tudo o que é pessoal,
focando somente o Senhor, e aplicando toda diligência para manter esta unidade; renunciando todos os
interesses pessoais, e estabelecendo Cristo e Seus interesses como prioridade: ―... até que todos cheguemos
à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, à estatura de varão perfeito...‖ (verso 13). Viver
em unidade é o resultado obtido quando Cristo é o objetivo único e central de todos os nossos interesses.
Isto não é algo visionário, imaginativo, meramente idealístico; é algo muito prático e real. Descobriremos
que há elementos de divisão operando, coisas que se infiltram dentre nós a fim de nos separar. O inimigo
está sempre buscando fazer isto; levantando coisas para dividir o povo de Deus ou erguendo incontáveis
barreiras; por exemplo: uma sensação de tensão e de distanciamento, de discórdia e de desconfiança pode
surgir entre irmãos. Outras vezes são coisas mais abstratas; que não conseguimos tocá-las e explicá-las a
ponto de dizer o que realmente são; é apenas um senso de que algo está errado. Às vezes é mais sutil, um
mal entendido numa determinada questão, uma má interpretação de algo que foi dito ou feito, algo
irrelevante, mas que será superdimensionado pelo inimigo.

Como este tipo de coisa deve ser tratado, a fim de se manter a unidade do Espírito? Devemos rejeitar da
seguinte forma: ―Este não é o interesse do Senhor; isto não trará ganho para Ele; isto não Lhe trará glória e
satisfação, somente acarreta prejuízos ao Senhor‖. O que sentimos frente à questão levantada não é a
consideração vital. Podemos até ser a parte prejudicada, mas será que ficaremos nos sentindo injustiçados
ou magoados? Será que nos apegaremos à nossa pretensa dignidade? Será que nos fecharemos em nós
mesmos a ponto de abandonar a comunhão e seguir nossos próprios caminhos só porque fomos
prejudicados? É desta maneira que a natureza humana age, contudo devemos tomar a seguinte atitude: ―É
o Senhor quem vai perder; é o nome, o testemunho do Senhor que vai sofrer dano; o interesse do Senhor
está envolvido nisto; então devo superá-lo e tirar o máximo proveito da situação; preciso ignorar e não
permitir que isto o que está acontecendo afete a minha atitude, conduta e os meus sentimentos em relação
a este ou àquele irmão!‖. Devemos rejeitar todo sentimento, até mesmo nossos direitos, em favor da causa
do Senhor; devemos combater contra toda investida do inimigo que faz de tudo para destruir o testemunho
do Senhor. É isto que significa esforçar-se para manter a unidade. Devemos lutar contra toda divisão, e a
favor da unidade, assim o Senhor ordenará a benção. Este é o caminho da vida eterna. O outro caminho é,
evidentemente, o caminho da morte, e é neste caminho que o inimigo tenta nos empurrar. Se não
tratarmos as nossas desavenças, tudo permanecerá morto, seco e enferrujado. A vida vem pela unidade, e a
unidade somente poderá ser adequadamente encontrada quando Cristo estiver em Seu lugar de honra.
Somente por Ele devemos abrir mão de tudo o que é de nosso interesse pessoal. Não devemos fazer isto por
mais ninguém. Nunca devemos fazer isto em favor de pessoas em evidência. Fazemos tudo por causa do
Senhor. Assim o inimigo é derrotado. Aí o Senhor ordena a benção.

Resumindo, este é o duplo aspecto da base da benção. Primeiro, a satisfação e do repouso de Deus
precisam ser também o nosso: no Filho; e, em segundo, devemos viver em união.

Tome a grande ilustração do segundo capítulo do livro de Atos. Ali está a maior exibição da operação desta
verdade que o mundo testemunhou. ―E Pedro, pondo-se em pé com os onze...‖ (At 2:14). Aí estão os irmãos
em unidade! O Senhor também entrou em Seu descanso. Pela cruz o Pai encontrou a Sua satisfação no
Filho; na ascensão, o Senhor entrou no Seu tabernáculo celestial. Tudo é descanso agora no céu: Deus está
satisfeito, a obra de reconciliação foi realizada no sangue da cruz, foi feita a paz, e Deus entrou em Seu
descanso na perfeita obra da redenção. Agora os olhos de todos os apóstolos estão fixados no Senhor Jesus
e, quando se colocaram de pé, é Ele quem é plenamente visto. Pedro deixou todas aquelas coisas pessoais
para trás. Eles deixaram todas as coisas pessoais, e o único objetivo deles é Cristo. Agora, ao se colocarem
em pé, o testemunho deles é todo para Cristo; eles são um, estão unidos nEle; então o Senhor ordena a
benção e vida para sempre. Tal benção é como o precioso óleo que desce da cabeça para a gola das vestes.

A figura é perfeita. Temos a Cabeça, o Senhor Jesus, e o Pai ordena a benção derramando do Seu Espírito
eterno sobre Ele. Temos todos os membros sujeitos a ela, centrados nela, mantidos juntos nela, e a benção
escorre para a gola das suas vestes; isto é ―... como o orvalho de Hermon que desce sobre os montes de
Sião...‖. Este é o efeito da benção, este é o efeito da vida eterna. O que é o orvalho do Hermon? Se você
vivesse naquele país, saberia o valor do orvalho do Hermon. Tem-se uma terra seca e cansada, tudo se
tornando estéril ou morrendo, então, o orvalho do Hermon desce e a tudo revive, a tudo renova, tudo é
restaurado e ganha vida novamente. É o fruto benéfico da benção: vida, frescor, esperança, renovação,
frutificação. Lá o Senhor ordenava a benção.
Você entende o caminho da vida, da frutificação, do reviver, do frescor, da benção? Para isto, dois aspectos
são essenciais. O primeiro é a nossa introdução ao lugar do descanso de Deus em Seu Filho. O segundo é o
nosso abandono de tudo aquilo que é nosso em favor dos interesses do Filho, tendo o nosso tudo nele.
Assim somos levados juntos por este amor mútuo ao Senhor. Oh, que tenhamos mais desta
expressão. Penso que é por isto que o Senhor está trazendo esta questão diante de nós; não para que a
mensagem seja meramente como uma bendita expectativa, como uma palavra que soe bem e que nos dê
certo ânimo enquanto está sendo proclamada, mas que seja um forte chamado do Senhor a nós. Queremos
tal benção? Queremos a vida eterna, a vida mais que abundante? Queremos frescor, frutificação,
revigoramento e ânimo? Queremos que as outras pessoas sejam abençoadas através de nós? Olhe para o
Pentecostes. O Pentecostes é a realização do salmo 133; pois lá os irmãos viviam em união, centrados no
Senhor, e o Senhor ordenava a benção.

Não há nada de muito profundo nisto, contudo é muito importante. É a maneira de colocar o Senhor Jesus
em evidência, de mostrá-lo como o centro, como supremo. Mas, oh, isto é um chamado sério e solene do
Senhor que é dirigido aos nossos corações. O caminho da frutificação, da benção, da renovação, da alegria é
este sob a benção de Deus, porque encontramos o nosso descanso onde Ele encontrou o dele, no Senhor
Jesus; porque o objetivo dos nossos corações, pelo qual temos abandonado todos os interesses menores,
todos os interesses pessoais, é o mesmo de Deus, e também do Seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo. Lá o
Senhor ordena a benção, e vida para sempre.

Que Ele possa realizar isto em nós. Que possa ser dito dos nossos dias como nunca fora dito antes: ―... entre
eles o Senhor ordena a benção e a vida para sempre‖, devido a estas duas grandes realidades governantes:
o descanso de Deus e a nossa unidade, ambas centradas no Senhor Jesus.

Capítulo 9 – O Homem Celestial e a Vida Eterna

É Cristo, como o Homem Celestial, que será nosso foco nesta meditação. Já vimos que a essência deste
Homem Celestial é a vida eterna. ―Nele estava a vida…‖ (Jo 1:4); ―... como o Pai tem vida em si mesmo,
assim também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo...‖ (Jo 5:26). É vida eterna, vida divina, vida de
Deus, um tipo especial de vida que não se restringe ao sentido de longevidade, mas como uma qualidade de
vida. A essência do Homem Celestial é a vida eterna. O Senhor Jesus, como o Filho de Deus, sempre esteve
designado como o Doador da vida. Desde a eternidade esta vida tem estado nele para a criação.

Vida Eterna sob o ponto de vista da Eternidade

As palavras registradas no evangelho de João, ditas pelo Senhor Jesus, que o Pai concedeu-lhe ter a vida
em Si mesmo, e que pode dar esta vida a quem quiser, levam-nos de volta para antes dos ―tempos eternos‖.
No tempo, após a queda, o assunto da vida eterna está muito ligado à redenção, mas não é aí que esta
questão da vida, sob a perspectiva do propósito de Deus, se inicia. É revelado a nós que desde o princípio,
antes da queda e, portanto, antes que houvesse qualquer necessidade de redenção, a vida eterna já estava
nos planos de Deus e, quando a queda ocorreu, Ele bloqueou o caminho da árvore da vida, dando o
seguinte motivo: ―... para que o homem não estenda sua mão e coma da árvore da vida, e viva para
sempre...‖ (Gn 3:22). Esta foi a decisão divina. É verdade que a vida eterna já estava no plano inicial, mas
ela estava designada a um certo tipo de homem, contudo o Adão que passou a existir, separado de Deus,
não mais se qualificava diante de Deus como aquela criatura na qual a vida eterna poderia residir e, assim,
ela ficou retida. Continuou contida no Filho; pois a árvore da vida não é outra coisa senão uma figura de
Cristo. Quando chegamos ao final da Escritura, em Apocalipse, a árvore da vida é vista novamente. Cristo é
a árvore da vida. Cristo é o reservatório desta vida e para que a recebêssemos, Ele veio na condição de o
último Adão, como o segundo Homem em quem aquela vida poderia ser oferecida.

Através da nossa união com Ele, pela redenção, Sua vida é comunicada a nós; não como algo separado dele,
mas nele que habita em nós. A vida nunca está separada de Cristo. O apóstolo declara que a vida está no
Filho e ela foi dada a nós. Nós temos a vida eterna, pois temos o Filho. É no Cristo que reside dentro de
nós, na Pessoa do Seu Espírito, que a vida está; então ela não pode ser adquirida de forma separada dele.

Dissemos que o Senhor Jesus, como o Filho de Deus, sempre esteve designado como Doador da vida. Ele é
reconhecido assim na condição de Redentor. Devido à condição caída do homem, somente Ele pode ser
conhecido como Doador da vida à medida que é conhecido como Redentor. Contudo, Ele seria reconhecido
como Doador da vida independentemente da queda e da redenção. Assim, temos a seguinte composição no
presente tempo: a redenção e a vida; a redenção para a vida.

Redenção Relacionada ao Propósito Eterno

Falaremos, novamente, daquela linha mestra do propósito eterno à qual o Senhor desejava nos conduzir.
Pelo fato deste propósito ser tão grande, e que nos introduz a uma realidade maior que os assuntos do
presente tempo, isto é, a nossa salvação ou redenção e com tudo o que está associada a ela; porque esta
linha mestra nos tira desta condição limitada e nos coloca num terreno mais amplo, é de se esperar que
tenhamos muitas dificuldades, já que não somos capazes de compreender o propósito de forma imediata.
Este é meu discernimento, por isso é necessário um retorno a esta ênfase principal.

Olhe novamente e atentamente para a palavra redenção. A palavra tem um sentido. Redenção significa
trazer algo de volta. Mas trazer de volta o que? E para onde? Bem, existe algo que foi perdido; que perdeu
sua relação e posição original e que precisa ser trazido de volta, recuperado, restaurado e redimido. Então,
deve ter havido um lugar, uma posição em que isto ocorreu, e este é o nosso ponto principal.

Antes que houvesse a queda do homem, e mesmo antes que houvesse a criação, houve um conselho de
Deus que resultou num propósito e a linha reta deste propósito através das eras foi projetada para que
houvesse uma manifestação universal de Deus no homem, através do Seu Filho. Assim, através do Filho,
Deus criou todas as coisas. Tudo o que foi criado no céu, na terra e no universo foi por meio do Filho para
ser uma expressão dEle mesmo, ou seja, Deus desejou ser expresso e manifesto na pessoa do Filho. Em
relação a isto é que fomos ―... predestinados... para a filiação...‖ (Ef 1:5).
Se você ler cuidadosamente a Palavra, observará Adão na condição de criança ao invés de filho adulto.
Adão era um filho em estágio probatório, em teste; e, por ter fracassado, não alcançou a maturidade.
Alguns de nós estamos acostumados com o ensino do Novo Testamento sobre a diferença entre uma
criança e um filho adulto. Adão estava na infância do propósito de Deus, da intenção de Deus. Adão foi
testado porque precisava crescer, desenvolver, tornar-se maduro, expandir, alcançar a plena estatura; e
esse não foi o único teste, não foi o teste final para a maturidade; foi o primeiro. Todo o plano de
crescimento, de desenvolvimento rumo à plena maturidade, ao homem corporativo, não foi baseado na
redenção. A base é o propósito eterno, os conselhos eternos. A linha reta do propósito teria prosseguido
independentemente de qualquer plano de redenção e seria realizada. Se Adão não tivesse caído, o
propósito eterno ainda teria sido realizado, porque tudo está eternamente investido no Filho. Deus decidiu
incluir o homem, por isso, Adão foi introduzido. Mas Adão fracassou e, com ele, toda a raça. Então, o plano
redentor entrou em cena; foi um plano majestoso nos conselhos de Deus, porém, só foi introduzido e
projetado devido a algo que ―saiu errado‖. Não podemos dizer que a queda foi preordenada, mas que
ocasionou a elaboração de um plano perfeito e maravilhoso. Enquanto Deus o elaborava, em Seus
conselhos eternos, Ele estava projetando todo esse esquema de criação, de intenção e de propósito. Pôde
ter ocorrido o seguinte conselho na Trindade: ―Nós sabemos, por sermos o que somos, conhecedores de
tudo, como as coisas sairão. Sabemos que nossa intenção inicial não será imediatamente realizada, que
haverá uma dobra, uma interrupção em nossa linha mestra. Então introduziremos o plano acessório da
redenção, corrigindo o desvio, e traremos, novamente, as coisas para o nosso nível. Vamos resolver o
problema do desvio e, ao fazê-lo, não perderemos, ganharemos. Essa obra do adversário, toda esta
tragédia, todo este sofrimento não nos tirará do nosso plano original, não o reduzirá nem um pouco, nem
significará que apenas que voltaremos ao nosso nível original desejado. Sim, voltaremos a ele, mas com
glórias adicionadas! E estas serão conhecidas como as glórias da nossa graça‖. Deus sempre reage à obra
do diabo desta maneira: obtendo, por meio do sofrimento, algo a mais para Si do que teria obtido antes. O
sofrimento não é a vontade de Deus, bem como não é o pecado, porém, através do sofrimento de Si mesmo
e do Seu próprio povo, Ele sempre garante algo mais do que aquilo que teria obtido sem eles. Deus é
sempre ―mais do que vencedor‖. Isto significa que Ele obtém glórias adicionais como resultado da
interferência do inimigo. Isto acontece nos detalhes da nossa experiência individual, mas, numa esfera
maior, esta interferência maligna tornou-se o motivo de todo o plano redentor.

Sabemos da grandeza da obra da redenção, mas esta não será nosso foco. O Senhor depositou-me este
encargo sobre Seu propósito eterno para o homem em meu coração para este momento. Contudo, não
pretendo, nem por um momento, tirar as glórias da redenção ou colocá-la num lugar menos importante do
que deve ocupar. Não estamos ignorando ou desprezando a redenção. De forma alguma atribuo pouco
valor a redenção. Deus nos livre disto! Como podemos conhecer a Deus sem a redenção? Ao mesmo tempo,
o que temos em vista é o Filho de Deus. O Filho de Deus, que é o Homem Celestial, como representante do
pleno pensamento de Deus para o homem e para o universo. A obra da redenção, embora tenha sido
dolorosa, é apenas um aspecto da obra do Filho, uma expressão que, de tão gloriosa, sempre será motivo de
gratidão do redimido através das eras. A redenção remete-nos a uma tragédia; fala do coração partido de
Deus, do Seu sofrimento. Esta não é a nossa principal consideração no momento, pois desejamos focar
Cristo como o Homem Celestial.

O Tesouro Perdido

Hoje conhecemos o Homem Celestial como doador da vida, em termos de redenção, como o Redentor: ―...
o Filho do Homem veio buscar o que se havia perdido‖ (Lc 19:10). O que entendemos desta passagem?
Pensamos nos indivíduos que estão distantes ou desviados do Senhor; em pessoas que, de alguma forma,
estão perdidas. Têm-se até quadros que retratam ovelhas perdidas. Bem, isto é verdade, mas precisamos ir
mais longe para interpretar esta passagem. Deus perdeu alguma coisa, e o Filho do Homem veio recuperar
o que foi perdido. O que Deus perdeu? Lembre-se: ―O reino do céu é como um tesouro achado no campo,
que um homem encontrou e escondeu; e cheio de alegria vendeu tudo o que possuía, e comprou aquele
campo‖ (Mt 13:44). O que é o tesouro? O que é o campo? O campo é o mundo, o tesouro é a igreja. O
Senhor Jesus pagou o preço para ter direitos totais sobre toda a criação a fim de resgatar a igreja que
estava no mundo. Cristo adquiriu-a através da redenção, pagando o preço. Ele, agora, tem plenos direitos
que asseguram este tesouro, a igreja. A igreja é o tesouro que estava perdido. O que é a igreja? A igreja é o
novo homem, a plenitude da medida da estatura de Cristo. É o homem celestial corporativo, a expressão de
Cristo em forma corporativa, é a Sua herança nos santos. Este é o tesouro precioso.

A igreja não é a única coisa, mas é a central. O Senhor Jesus adquiriu os direitos universais, e haverá outros
itens que serão adicionados à igreja. Haverá, por exemplo, nações caminhando à luz dela. A redenção vai
além da igreja, porém, a igreja é o assunto central. O Senhor encontrou-a; este tesouro perdido inspirou
todo o Seu curso, fazendo-O pagar o preço. Este é um fato tremendo. A igreja é tão preciosa para Ele que
fez com que pagasse o preço por todo o universo a fim de tê-la para Si. Este é o ponto focal. A igreja é a
chave da redenção. Ela está sendo transformada à perfeita imagem de Cristo. Tudo mais é
secundário. Haverá um reflexo de Cristo através da igreja; a luz de Cristo irradiará sobre tudo; tudo mais
será redefinido a partir daquilo que Ele é na igreja, e esta será central: ―... as nações caminharão à sua
luz...‖ (Ap 21:24). É um grande privilégio viver nesta dispensação em que o Senhor, pela cruz, adquiriu os
direitos de posse do universo e de toda a criação, está focado em seu tesouro, para tomá-lo da criação.

―O reino do céu - que é melhor traduzido na forma plural: o reino dos céus - é como um tesouro escondido
no campo; o qual um homem achou e escondeu...‖. O Senhor está fazendo uma obra secreta em relação à
igreja. É sempre perigoso expor o que concebemos a respeito da igreja a um lugar visível, fazendo dela algo
público. A igreja verdadeira é uma companhia secreta, escondida, e uma obra também secreta está sendo
operada nela. Esta é a sua segurança. Quando pessoas aventuram-se em grandes movimentos públicos,
exibindo e fazendo publicidade, estão, na verdade, expondo a obra de Deus, e assim a expõe a muitos
perigos. Nossa segurança consiste em nos manter onde Deus nos colocou, num lugar escondido nEle. É por
isso que ―O reino do céu (céus) é como...‖. Qual é o significado desta frase? Significa que todo o plano
celestial está focado na igreja. Ela é o centro do plano celestial. Tudo o que este ―céus‖ significa, no sentido
espiritual, está ingressado na igreja, o tesouro do campo. A igreja é o homem celestial em Cristo.
Contemple a pessoa do Senhor Jesus, como o Homem Celestial. Todo o universo está interessado nele. O
céu manifestou-se em seu nascimento; as hostes de seres celestiais irromperam em louvor a Ele. O inferno
também se manifestou através de Herodes, ao tentar matá-lo e assim frustrar todas as consequências de
seu nascimento. Descobrimos que, através da vida terrena do Senhor, todo o universo focou sua atenção
nele, bem como reagiu em relação a Ele, a ponto de, em Sua morte, o sol escondeu sua face, a terra tremeu
e encheu-se de trevas. Todo o universo está ligado a Ele.

O reino dos céus e todo o sistema celestial estão interessados neste tesouro do campo, por causa de seu
significado eterno e de seu propósito. Isto é algo tremendo. Agora podemos apreciar melhor o valor e o
significado da redenção. Quando miramos o foco central do plano de Deus, não negligenciamos a redenção,
mas acrescentamos algo maravilhoso a ela. Estamos dando à redenção um significado muito maior do que
o de apenas salvar indivíduos para que alcancem o céu. É verdade que a salvação de indivíduos é algo
grandioso, mas quando enxergamos a redenção que está em Cristo Jesus à luz do eterno propósito de Deus,
quão mais sublime ela se torna! Se você realmente quiser apreciar e avaliar corretamente a redenção, terá
que vê-la do lugar onde Paulo a colocou, e ver que é algo cósmico. A redenção, compreendida à luz do
eterno propósito de Deus, é algo muito maior do que a salvação de indivíduos. Todos os poderes e
inteligências do universo estão ligados e interessados na redenção. Cremos que para melhor apreciar e
desfrutar das coisas de Deus é necessário entender o pano de fundo, as motivações e as implicações eternas
e universais, mas não tomá-las como algo em si mesmas. É desta maneira que Paulo via a redenção.

A Vida Eterna, o Princípio Vital da Redenção

A redenção não é algo meramente objetivo, algo que somente é feito para nós. A redenção não é
simplesmente um plano realizado, mas envolve um princípio vital que é implantado no cristão, que é a vida
eterna, a vida das eras. A redenção e seu princípio vital nos remetem a Cristo como o Doador da vida, antes
dos tempos eternos. É desta forma que ganhamos a vida imortal. A redenção em si e seu princípio da vida
eterna, quando aplicado a nós, introduz-nos ao lugar onde Deus pode fazer o que fora impossível de ser
feito com o primeiro Adão; coloca-nos numa posição onde Ele pode dar-nos vida eterna. Quando entramos
na redenção, todas as eras deste mundo, que estão inseridas no tempo, são desconsideradas, e
imediatamente nos encontramos como seres eternos, ligados de volta ao Deus que está fora do tempo. O
princípio vital da redenção é a vida eterna que é implantada no redimido.

O Progresso da Redenção no Cristão pelo Princípio da Vida

Outra consequência que se deriva da redenção que há em Cristo Jesus é que seu princípio vital faz com que
sua obra seja progressiva em nós. A nossa redenção é perfeita em Cristo. Temos uma plena redenção em
Cristo. Jesus glorificado prova que a redenção está completa e que foi aceita pelo Pai. Quando o princípio
da redenção, que é a vida eterna, é introduzido em nós pela fé, passa a desenvolver-se, a progredir em nós
como algo vivo. A redenção progride em nós através da vida. Esta vida é progressiva. Somente podemos
chegar ao conhecimento e ao gozo da plena redenção à medida que a vida aumenta em nós. É o
crescimento da vida em nós que nos levará à plenitude da redenção. Isto se aplica para o espírito, alma e
corpo. Entramos, progressivamente, na plenitude da redenção que está no corpo físico e celestial de Cristo.
Seu corpo físico e celestial atual é uma representação, um modelo da redenção da nossa humanidade
completa. Seremos transformados semelhantes ao Seu corpo glorioso. Como isto é realizado? Através da
contínua obra da vida da redenção progressiva em nós.

A Dupla Lei da Vida

Como esta redenção opera em nós? Ela opera de duas maneiras. Por um lado, remove nossa própria vida
natural como a base do nosso relacionamento com Deus. Isto é algo grandioso, uma obra muito
importante. Muitas pessoas, em sua infância e imaturidade espiritual, estão fazendo de suas vidas naturais,
de suas energias, de suas empolgações, de suas estratégias, seus recursos para se relacionarem com o
Senhor na vida e no serviço. Isto é um sinal de imaturidade. Sabemos muito bem que um cristão jovem está
sempre cheio de entusiasmo e de ideias, supondo que isto é a real força da sua união com Deus, e que isto
apresenta algum valor para Deus. Quando, repentinamente, os ventos de dezembro começam a soprar, e a
flor é levada, eles pensam que o inverno chegou ao invés do verão. Pensam que perderam tudo. Então
perguntam: ―O que aconteceu comigo?‖. Os versos do seguinte hino talvez sejam ouvidos de seus lábios:

“Onde está a felicidade que conheci

Quando, pela primeira vez, o Senhor vi?”

Contudo, sabemos que não haverá fruto enquanto a flor não cair. São os ventos do verão, e não do inverno,
que sopram sobre as flores, levando-as longe. Naturalmente, gostamos de observar uma flor em seu vigor,
mas deveríamos estranhar se víssemos a mesma flor durante todo o verão. Iríamos observar: ―Alguma
coisa está errada aqui, é tempo da flor cair‖. Olhamos mais de perto e vemos algo aparecendo, cheio de
promessa e de muito mais valor. Aquela flor indicou sinal de vida, mas ela não simboliza toda a vida em si.
O sinal deste começo de vida pertence ao início da primavera, mostrando que o inverno, a morte passou e
que a ressurreição está operando. É um sinal, mas não é o ciclo completo. É assim que se passa com a
infância espiritual. Entusiasmos iniciais não devem basear nossa real união com Deus, são apenas sinais de
que algo aconteceu em nós. Esta empolgação é uma reação nossa, vem de nós mesmos, não de Deus. De
Deus vem algo diferente. Deus opera a morte da flor para, em seguida, operar a vida de modo que algo
mais pleno e consistente se manifeste.

Em todo o nosso caminho durante esta vida devemos diferenciar aquilo que é de nós mesmos em relação a
Deus, daquilo que o próprio Deus é em nós. Há muita coisa que é de nós mesmos em relação a Deus, e
imagino que sempre haverá, em certa medida, até o fim. Ainda há algo de nossas mentes interferindo nas
coisas de Deus. Até nos enganamos imaginando que tais pensamentos vêm de Deus, mas o fato é que ainda
há muita coisa que pertence à nossa própria mente humana, à nossa própria constituição mental em
relação às coisas de Deus. A mente de Deus é completamente diferente dos nossos padrões, por isso temos
que ser receptivos às novas concepções que vêm do Senhor. O mesmo se aplica à nossa vontade e coração.
Temos falado a respeito do corpo. Esta lei da vida opera no sentido de remover nossos conceitos naturais a
respeito das coisas do Senhor. Devemos, com todo nosso ser, oferecer-nos ao Senhor em relação às coisas
Dele; desta forma o Senhor nos vivificará para as realidades celestiais. Isto confirmará que nós não
possuímos vida em nós mesmos, que somos inadequados em nossas limitações. Tem sido sempre assim, do
ponto de vista de Deus, mas pensávamos que poderíamos ser muito frutíferos, pois ainda não estávamos
convencidos da nossa incapacidade natural. Agora chegamos a uma posição onde, em maior ou menor
grau, percebemos que, nas coisas de Deus, somos incapazes, mesmo fisicamente.

Se, por um lado, a vida eterna opera morte, removendo-nos da nossa vida natural como base de nossa
relação com Deus; por outro, opera vida como resultado do trabalhar divino. É a obra do Senhor que é
maravilhosa aos nossos olhos. O Senhor nos visita em nossa fraqueza e efetua uma obra que vai muito além
daquilo que faríamos, mesmo dando o nosso melhor. Ele nos revela que, em nós mesmos não somos nada,
mesmo quando damos o nosso melhor. A vida faz isso. A vida remove um sistema de valores e de recursos
humanos e impõe outro, abrindo espaço para que Ele avance.

O Senhor disse: ―Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância‖ (Jo 10:10). Pensávamos que
isto significasse apenas abundância de exuberância. Nós sempre estamos pedindo vida mais abundante,
para que possamos nos sentir maravilhosamente eufóricos e cheios de energia. Contudo o Senhor é muito
prático. A vida mais abundante significa que sempre sentiremos necessidade de mais vida, para que
sejamos levados um pouco mais adiante; à medida que avançamos, precisaremos de vida mais abundante,
pois somente esta vida poderá levar-nos à plenitude. É vontade do Senhor que haja plena provisão de vida
até o fim, porque o propósito também é muito abundante. A vida é compatível com o propósito.

Tudo isto, e muito mais, está ligado ao fato de que o princípio operante da redenção é a vida eterna, e que,
embora esta redenção esteja perfeita em Cristo, ela é progressiva em nós. Além disso, para se chegar à
plenitude da redenção do espírito, da alma e do corpo, a vida eterna deve crescer em nós. Esta vida está nos
redimindo o tempo todo. Está nos redimindo do presente século mau, de tudo aquilo que veio com Adão. A
plena redenção será revelada quando Cristo se manifestar, e nós com Ele; quando O virmos, seremos
semelhantes a Ele. Haverá a manifestação desta vida que já está em nós. Oh, que poder tem tal vida para
nos transformar! Quando olhamos para o Senhor Jesus no monte da transfiguração, temos um vislumbre
da vida que o Pai nos deu. Esta vida resplandece em plenitude, revelando-nos que tipo de Homem que Ele
é em sua vida divina triunfante. Ele é um Homem cheio de glória e de perfeição. À medida que olhamos
para Ele, somos transformados à sua imagem. A palavra conclusiva para nós é: Ele nos chamou para a vida
eterna. Devemos diariamente apropriarmos dela em nosso espírito, alma e corpo.

Capítulo 10 – O Homem Celestial e a Palavra de Deus

Leitura: Mt 4:4; Jo 6:63,68, 8:47, 14:10; 1 Pd 1:23,25; Hb 4:12,13; 1 Jo 4:17.


Os primeiros quatro textos baseiam-se no fato do Senhor Jesus ser o Homem Celestial. Na tentação no
deserto, citado em Mateus, vemos que após a abertura dos céus e do testemunho do Pai de que Jesus era o
Filho amado, o inimigo desafiou a Cristo, como Homem Celestial e todas as suas implicações. ―Se tu és o
Filho…‖; as tentações atacaram o fato da procedência celestial do Senhor Jesus. Nas passagens do
evangelho de João, o mesmo aspecto é constatado. João foca a procedência celestial do Senhor Jesus,
desde a introdução do seu evangelho até a conclusão. O desafio do Senhor Jesus carrega este mesmo
significado: ―Creia que estou no Pai...‖. A Palavra de Deus apresenta o Homem Celestial neste aspecto.

Na nossa meditação anterior falamos do princípio vital da redenção que é a vida eterna, e que esta vida faz
com que a obra da redenção, que já é perfeita em Cristo, progressiva em nós. A redenção é introduzida em
nós ao recebermos a vida eterna e, à medida que ela opera, trabalha e aumenta, adentramos cada vez mais
nos benefícios da redenção. Os reais valores da redenção tornam-se nossos, de forma experimental, pela
operação da vida do Redentor em nós; é o próprio Redentor que trabalha em nós pela Sua própria vida.

Cristo, o Princípio da Criação de Deus

Em João vinte, no verso vinte e dois, temos um incidente registrado, que nos deixa um pouco intrigados:
―... Jesus soprou sobre seus discípulos e disse-lhes: recebam o Espírito Santo...‖. Entendo que a explicação
deste ato e palavras é que aquilo que Ele fez e disse foi um modelo, um padrão daquilo que Ele opera como
o último Adão. João vinte coloca-nos no terreno da ressurreição junto com o Senhor Jesus. Lembremo-nos
do que está escrito: ―O primeiro Adão se tornou alma vivente. O último Adão, espírito vivificante‖ (1 Co
15:45). Isto está relacionado, na realidade espiritual, à Sua ressurreição. Antes da cruz, Ele não era, no
sentido pleno, nem o espírito vivificante, nem o último Adão. Tudo isto estava potencialmente nele, mas
somente se tornou uma realidade após a ressurreição. Na ressurreição Jesus tornou-se o último Adão e o
espírito vivificante. Assim, após a ressurreição, Ele executou este ato representativo, padrão e proferiu tais
palavras na condição de último Adão, cumprindo assim, no sentido espiritual, as palavras de Apocalipse
três, verso catorze: ―... Jesus é o princípio da criação de Deus‖. No sentido literal, esta é a sua descrição
como criador do universo. Ele foi o princípio da criação de Deus. Isto não significa que Ele foi o primeiro
ser criado por Deus; significa que Ele, literalmente, começou a criação de Deus, bem como a deste mundo.

Na nova criação, Ele assume a mesma condição, mas agora no sentido espiritual, como ―o princípio da
criação de Deus‖. No princípio da criação material, houve um sopro de Deus no homem, o fôlego da vida.
Agora, como último Adão, como espírito vivificante, Jesus sopra sobre seus discípulos. É um ato simbólico.
É o último Adão agindo de forma padronizada, mas agora em relação aos primeiros membros da nova
criação, o princípio da nova criação de Deus. Ele está, de forma simbólica, infundindo vida eterna na nova
criação. É apenas um ato simbólico, porque o Espírito ainda não havia sido dado. A expressão plena disto
veio mais tarde, no Pentecostes.

A Relação entre o Homem Celestial e Palavra de Deus

A vida está no Homem Celestial, no sentido pleno. Agora veremos a relação entre este princípio de vida no
Homem Celestial e Palavra de Deus. A Palavra de Deus está intimamente relacionada à vida, e a vida está
intimamente ligada à Palavra de Deus, e ambas, a vida e a Palavra, estão no Homem Celestial. A vida e a
Palavra não são elementos distintos dele, mas Ele próprio se expressa como palavra viva. Jesus é a Palavra
bem como é a vida; a vida e a Palavra são expressões do Seu próprio Ser. A Palavra é tanto uma fala como
uma Pessoa. Se você já estudou os termos gregos para palavra: ―Logos‖ e ―Rema‖, então sabe quão difícil é
distinguirmos uma da outra. Elas se intercambiam e frequentemente se interagem como se fossem uma
uma só. A Palavra (Logos) são as palavras (Rema) proferidas pela pessoa. Há uma diferença, mesmo assim,
ambas estão ligadas à Pessoa. Veremos o que isto significa à medida que prosseguirmos.

(a) Gerado pela Palavra

Primeiramente, o Senhor Jesus, como o Homem Celestial, foi gerado pela Palavra. O anjo visitou Maria e
anunciou-lhe a Palavra de Deus. Ele esperou a resposta de Maria enquanto ela passava por aquela luta e
batalha internas, devido aos problemas e dificuldades que adviriam, bem como todo custo envolvido. Até
que respondeu: ―Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a Tua Palavra‖. Então o Cristo
Vivo foi implantado, ―o Verbo se fez carne‖, a realidade espiritual se materializou.

(b) Provado pela Palavra

Na tentação no deserto, vemos claramente que o Senhor Jesus era governado pela Palavra de Deus. Cada
tentação era enfrentada com a Palavra de Deus: ―Está escrito...‖, Ele dizia. A Vida depende da Palavra de
Deus: ―Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus‖ (Mt 4:4). A
vida e a Palavra são expressões do Homem Celestial. Pensando de outra forma, concluímos que o homem
terreno morre porque rejeita a Palavra de Deus; pois a vida depende da Palavra de Deus e da nossa atitude
em relação a ela. Em sua tentação, o último Adão firmou-se na mesma base e, à medida que enfrentou as
três tentações com a Palavra de Deus, demonstrou como Sua vida estava ligada à Palavra de Deus. Era a
Palavra de Deus que estava governando toda sua experiência e resultado. O Homem Celestial foi atacado
com o propósito de ser desviado de Sua origem celestial, para que, de alguma forma, recusasse, violasse ou
ignorasse a Palavra de Deus. Contudo, Ele manteve Sua posição de Homem Celestial em toda sua
peregrinação, sempre se firmando na Palavra de Deus.

(c) Governado pela Palavra

O Senhor Jesus foi gerado e provado pela Palavra, bem como foi governado durante toda a Sua vida terrena
pela Palavra de Deus. Toda a Lei e os Profetas se cumprem nEle. Ele disse aos líderes judeus: ―Examinais
as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que de Mim testificam‖ (Jo 5:39). Ele estava
dizendo algo como: ―Em vossa busca pela vida eterna nas Escrituras, é a Pessoa que nela está que devíeis
conhecer; é nesta Pessoa, apontada pelas Escrituras, que a vida eterna é encontrada‖. É isto o que significa
a expressão: ―… são elas que dão testemunho de Mim‖. Jesus ressurreto explicou para os dois discípulos no
caminho de Emaús tudo quanto havia nas Escrituras a Seu respeito, ―começando por Moisés e passando
por todos os profetas, explicou-lhes o que constava a seu respeito em todas as Escrituras‖ (Lc 24:27).
Enfatizamos que todas as Escrituras se aplicam a Ele. Ele encarnou e cumpriu todas elas. Quantas vezes
Ele disse, enquanto esteve aqui na terra, depois de certos acontecimentos ou experiências, a seguinte
afirmação: ―... para que se cumprissem as escrituras...‖. Se você nunca reparou as ocasiões nas quais isto
ocorreu, você deveria fazê-lo. Vale a pena reuni-las.

A Relação entre o Espírito Santo com a Palavra de Deus e com o Homem Celestial

O Senhor Jesus, em toda a Sua vida terrena, era governado pela Palavra de Deus. Ele andava no Espírito
para que a Palavra de Deus pudesse ser cumprida. O que isto significa? Você acha, por exemplo, que todas
as declarações do Velho Testamento estavam armazenadas na mente do Senhor Jesus como se fossem um
manual de instruções de tal forma que sempre quando Ele ia fazer algo, Ele recorria ao Seu manual e se
perguntava: ―e agora, faço isto ou aquilo? O que a Escritura diz que devo fazer?‖. Embora cada parte da
Escritura estivesse controlando Sua vida, há um sentido no qual Ele era responsável por tudo. Toda a
Escritura se aplicava a Ele, mas Ele não a carregava em Sua cabeça, ou num livro, recorrendo a ela em
relação à Sua conduta, aos Seus pronunciamentos, aos Seus atos e às Suas experiências para saber o que
Lhe era permitido ou não, o que poderia ou não fazer. Embora a Palavra de Deus habitasse ricamente nele
e a conhecesse intimamente — isto se evidencia claramente à medida que lemos Suas declarações —
contudo, não era desta maneira que a Palavra de Deus O governava. Ele não precisava, em cada ocasião e
ato, trazer as Escrituras à mente a fim de agir corretamente. Não, antes Ele se movia no Espírito e, desta
forma, a Palavra de Deus era cumprida. Quando necessário, o Espírito da vida trazia a Palavra de Deus à
Sua mente, e Ele a citava. E como Ele a usava! Porém, independentemente de qualquer citação da Escritura
e de qualquer passagem memorizada que se aplicava a uma situação vivenciada, o Espírito se movia com
vida em relação à Palavra de Deus. O mesmo Espírito que inspirou toda a Escritura O movia. Jesus era
governado pela Palavra de Deus, de modo que, mesmo em sua fraqueza, quando esteve indefeso na cruz,
foi dito daquela situação: ―para que se cumprissem as Escrituras‖. Quando Ele estava na cruz e os soldados
vieram para quebrar as pernas dos crucificados, ao virem Jesus já morto, não lhe quebraram as pernas
―para que se cumprissem as Escrituras... Nenhum dos seus ossos será quebrado‖ (Jo 19:36). Este Homem,
em cada detalhe de Sua vida, era governado pela Palavra de Deus, e isto só fora possível devido à presença
do Espírito nele, devido à direção do Espírito que assumia toda responsabilidade.

Desejo reforçar a seguinte lei: Se estivermos andando no Espírito e nos movendo segundo a vida do
Homem Celestial, a nossa vida será governada pela Palavra de Deus. Algumas vezes nem saberemos qual
Escritura aplicar a uma dada circunstância, mas podemos ter certeza de que ela será cumprida. É como se
alguém estivesse falando de nosso interior: ―Isto não está certo, você deve corrigir aquilo que disse; há um
defeito aqui que deve ser reparado...‖. Quantas vezes isto acontece conosco! Mas só depois nos damos
conta. Se estivermos andando no Espírito de vida, Ele não deixará passar nada que contrarie a Palavra de
Deus. Certamente isto deve ser um grande conforto para nós, bem como uma grande ajuda.
A Palavra de Deus Nunca Deve ser Ignorada

Vamos tratar de um perigo, de uma possível má compreensão daquilo que estou dizendo. À luz do que foi
dito até aqui, devo enfatizar que não é possível andar no Espírito e ignorar a Palavra de Deus. Não
podemos dizer coisas do tipo: ―Bem, andar no Espírito é tudo o que preciso para estar de acordo com a
Palavra de Deus; então, não preciso preocupar-me com a Palavra‖. Infelizmente, há muitas pessoas que
vivem naquilo que chamam de seu ―espírito‖. Elas ―obtêm tal espírito da parte do Senhor‖. Elas recebem
algo ―do espírito‖ e agem baseadas naquilo e, só mais tarde, descobrem que estavam violando a Palavra de
Deus. Quantas vezes nos deparamos com isto. Há pessoas que presumem que estão sendo movidas pelo
―espírito‖, mas a Palavra de Deus é violada frente aquilo que fazem. O Senhor nunca contradiz sua Palavra.

Esta questão exige cuidado. ―Que a Palavra de Cristo habite ricamente em vós em toda sabedoria...‖ (Cl
3:16); esta é a base para o Espírito Santo. Se você estiver envolvido em algo e não tenha uma Palavra
específica que lhe oriente no assunto em questão, o Espírito Santo conformará você àquilo que Ele sabe ser
a Palavra, a vontade de Deus, e lhe sustentará. Como isto é verdade! Alguns de nós descobrimos que a
nossa memória natural tem falhado bastante. Muitas vezes uma citação equivocada da Escritura não
resolve em tudo uma questão, mas o fato é que há uma Inteligência governante que nos faz conhecer a
Palavra de Deus, embora não sejamos, no dado momento, capazes de citar uma passagem específica em
seu fraseado exato, ou de chamá-lo à memória. Já que pertencemos ao Homem Celestial, somos
governados por esta Inteligência. ―Como Ele é, assim somos nós neste mundo‖ (1 Jo 4:17). Aqui está o
Homem Celestial governado pela Palavra de Deus em toda Sua existência.

O que é verdade sobre a Cabeça, também deve ser sobre os membros. Já que estamos ligados ao Homem
Celestial Corporativo, temos a mesma vida e caminhamos pela Palavra de Deus. Seremos governados por
ela através do Espírito de vida que nela está, e este Espírito de vida é onisciente. Gostaria que todo o povo
do Senhor vivesse desta maneira. Isto nos livraria de todos os tipos de atitudes mortíferas como ficar
caçando heresias, sempre suspeitando de algo, fazendo o papel de cães-de-guarda de doutrinas, lançando
praga de morte sobre tudo aquilo que não se encaixa em nosso ponto de vista. Se vivêssemos no Espírito,
saberíamos em nossos corações se uma coisa está certa ou não, sem ficar projetando nossas mentes
analíticas sobre tudo; o Espírito daria um testemunho direto em nossos corações. Isto seria vida e salvação.
Quem não vive desta forma tem uma existência miserável.

Agora você vê o Homem Celestial, a vida eterna e a Palavra regendo tudo. Quanta diferença há entre ser
governado pela letra e ser governado pelo Espírito. Podemos memorizar toda Bíblia; entender cada detalhe
de uma carta e constantemente exclamar: ―À lei e ao testemunho!‖. Podemos, assim, tornar-nos muito
legalistas, examinando a letra o tempo todo. O Senhor Jesus não agia desta maneira, tampouco o apóstolo
Paulo. Eles eram zelosos pelas Escrituras, pela Palavra de Deus; eram totalmente governados por ela, mas
o que lhes interessava era a Palavra viva. O nosso Senhor Jesus disse: ―... as palavras que vos tenho falado
são espírito e vida... a carne para nada aproveita‖ (Jo 6:63). Nós podemos matar com a letra. Podemos
matar com a Palavra, como palavra. Certamente, não queremos tratar as Escrituras apenas como palavras,
como letras mortas; mas queremos ser levados a um lugar onde desfrutamos o Espírito comunicando vida
pela Palavra. Quanta diferença há entre estas duas condições! Um leva à morte, à paralisia, à mornidão e à
ruína; o outro leva a uma condenação e julgamento que aniquila tudo o que é mal. No terreno do Espírito,
o resultado final nãos são ruínas onde nada é aproveitado, mas, quando se trata de apenas exposição da
letra, o resultado final pode ser morte.

Há dois aspectos da Palavra para o crescimento em Cristo. Primeiro, a Palavra é uma expressão inspirada
pelo Espírito. É isto o que a Palavra de Deus deve ser, e não apenas algo que foi escrito. Segundo, o Espírito
de vida deve ser mantido associado à Palavra. Aqui temos uma grande questão que, talvez, seja arriscada
de se expor ao público nestes dias e, para respondê-la, é necessário uma boa explicação. A questão é a
seguinte: Até que ponto a Palavra escrita, tal como se apresenta, é a Palavra de Deus? Este livro pode ser
lido e uma mesma passagem pode apresentar interpretações distintas. A mesma passagem da Escritura
pode servir de base para uma dúzia de doutrinas diferentes, mutuamente excludentes e contraditórias.
Qual dessas doze ou cinquenta é a Palavra de Deus? Você pode pegar um texto da Escritura e dizer: ―esta é
a Palavra de Deus!‖; mas como provar isto? Pessoas diferentes tomam a mesma Palavra de Deus e
elaboram significados e implicações totalmente distintos, passando a agir de maneira diferente,
justificando, assim, determinado comportamento. Então temos a mesma Palavra produzindo terríveis
conflitos e oposições entre diferentes grupos de pessoas. Até que ponto uma palavra apresentada é, de fato,
a Palavra de Deus? Meu parecer é o seguinte: creio que algo a mais é necessário para tornar a Palavra de
Deus verdade em plenitude, e este algo é o Espírito de vida que está nela. Este Espírito de vida (estou me
referindo ao Espírito Santo, e não a uma abstração estúpida) é quem deve interpretar e aplicar a Palavra, a
fim de torná-la Palavra de Deus. Não creio que você conseguirá qualquer resultado proveitoso apenas
citando a Escritura como Escritura. O Espírito Santo tem que entrar na Palavra, expressar a Si mesmo nela
e vivificá-la, para que haja um resultado que edifique, que é a geração de vida. O Homem Celestial vivo não
é feito apenas de palavras, ainda que sejam palavras da Escritura. É isto o que muitas pessoas têm tentado
fazer. Elas têm edificado a igreja por meio das palavras da Escritura, têm tentado constituí-la por meio do
que está escrito, mas sem a dependência do Espírito e, por isso, vemos centenas de diferentes ―igrejas‖,
como expressões sem vida, contudo, ironicamente, todas reivindicando que se baseiam no que chamam de
Palavra de Deus. É um Homem Celestial vivo que Deus tem em vista e, para formá-lo, o Espírito precisa
operar através da Palavra. ―As palavras que vos tenho dito são espírito e vida‖, disse o Senhor a Seus
discípulos. ―Senhor, para quem iremos nós? Só Tu tens as palavras de vida eterna‖. Pedro, o porta voz
destas últimas palavras, deu-nos uma pista muito importante: deve haver vida! Os escribas e fariseus
tinham as Escrituras. Eles alegavam que tudo o que criam e faziam estava na Palavra de Deus, contudo eles
não recorreram ao Filho para terem vida. A vida eterna está no Filho. Para que as Escrituras sejam eficazes,
deve haver um relacionamento vivo com o Senhor Jesus.

A Soberania de Deus na Palavra Criativa

A princípio, a Palavra de Deus opera soberanamente na vida dos perdidos. Devemos tomar a Palavra de
Deus da forma como está escrita, pregá-la com fidelidade e deixar a questão do convencimento com o
Espírito. Pregue a Palavra a cinquenta, a cem ou a mil pessoas e verá que para novecentos e noventa e nove
daquelas mil, a palavra será algo morto, sem sentido, não conseguem enxergar nada. Porém, uma dentre as
mil é soberanamente tocada; para esta, a palavra foi mais do que apenas um discurso, mais do que letras, a
palavra foi espírito e vida para si. Isto não é um acidente, não é um acaso, mas uma consequência de um
ato soberano de Deus. O Espírito de Deus vivificou a Palavra para aquela pessoa. Em certo sentido, esta é a
loucura da pregação: você deve pregar sem esperar que todos serão tocados pela Palavra de Deus. Você tem
que se lançar às águas e crer que Deus, em algum momento, vivificará a Palavra em alguma vida, embora a
maioria dos ouvintes possa não ser tocada. Este é o elemento extra, o Espírito de vida na Palavra de Deus
operando soberanamente em relação ao perdido.

A Palavra criadora, no Homem Celestial, constitui-se num ato e não apenas uma declaração de Deus. No
Homem Celestial a Palavra de Deus nunca é apenas uma declaração, mas também é um ato. Às vezes
falamos muitas coisas e, ao concluir, olhamos ao redor à procura de um resultado, pensando da seguinte
maneira: ―Cadê a colheita?‖. Você não precisa procurar por resultado da Palavra de Deus no Homem
Celestial, ele naturalmente estará lá. Você pode não enxergá-lo, mas ele está lá. A Palavra, em relação ao
Espírito de vida em Cristo, é um ato; algo realizado. Deus fala, algo acontece. Quando a Palavra vem pelo
Espírito de vida, aqueles que são por Ele vivificados nunca mais serão os mesmos, embora pareça que nada
tenha acontecido: ―... a palavra que vos tenho falado, esta mesma irá julgá-los no último dia‖ (Jo 12:48).
Algo foi falado; a Palavra foi proferida, lançada e jamais poderá ser desdita. Cedo ou tarde os ouvintes
serão confrontados, e tudo se reportará àquela hora quando o Espírito falou através da Palavra. Isto é algo
tremendo. Este é o resultado de oferecer a Palavra do Espírito, porque ela é um ato. Ela é criadora. Ela é
real, não algo abstrato. Oh, precisamos reconhecer que a Palavra no Espírito Santo é algo realizado, não
apenas algo falado. A Palavra de Deus é sempre um ato: ―... os mundos foram criados pela palavra de
Deus...‖ (Hb 11:3). A Palavra do Senhor é uma benção. Não se trata apenas de dizer ‗Deus te abençoe‘. A
Palavra é uma benção em si mesma; ela traz a benção. Ela é um ato.

O Princípio de Vida Estabelecido para quem já é Salvo

Para quem já é salvo, há outro aspecto. O primeiro, como vimos a pouco, é o criador, soberano. Agora, no
caso do salvo, a operação do Espírito em relação à Palavra de Deus não é mais apenas uma questão de
soberania, unilateral. Em se tratando de pessoas regeneradas, a Palavra não é dada visando trazer criação,
já que isto foi realizado. Fomos salvos quando a Palavra do Senhor, pela ação do Espírito em nossos
corações, nos gerou; assim nos tornado Seus filhos. Este foi um ato soberano, mas, a partir daí, o ato
soberano unilateral cessa e o crescimento se dá por meio do mesmo Espírito de vida na Palavra, porém,
com nossa cooperação pela vida que já recebemos. A vida numa pessoa, ou num grupo, é a base do
crescimento vindo pela Palavra de Deus, a qual possui vida em si mesma. Considere a seguinte ilustração
baseada em nosso alimento natural. Não importa o quanto você alimente uma pessoa morta, tudo será em
vão, não haverá qualquer crescimento. É inútil alimentar um cadáver. Deve haver vida no homem para
poder absorver a vida que está no alimento, para dele se beneficiar e com ele cooperar a fim de que haja
crescimento. O ato soberano de Deus na regeneração é algo que independe de nós; é a graça de Deus
manifesta aos pecadores que nada podem oferecer em troca. Mas, uma vez que a vida está em nós, o nosso
crescimento baseia-se nesta nova vida, em cooperação com a vida que está na Palavra de Deus. Quando se
prega para bebês espirituais, e o faz no poder do Espírito Santo, não se obtém muito resultado devido à
medida limitada de vida dentro deles. Contudo, haverá um retorno tremendo à palavra pregada quando os
ouvintes estão vivos e despertos para o Senhor, quando há maior maturidade. O crescimento vem desta
maneira, a vida em nós respondendo à vida na Palavra, formando o Homem Celestial.

O Espírito que acompanha a Palavra transmite vida onde havia morte, e faz isto de modo soberano; porém,
para quem já é regenerado, o Espírito que acompanha a Palavra exige uma resposta. A mesma vida da
Palavra deve governar-nos do mesmo modo como operou nosso novo nascimento. O Senhor foi gerado
pelo Espírito Santo através da Palavra. E alcançou pleno crescimento, pois foi governado pelo mesmo
Espírito que operou por meio da Palavra em Seu nascimento. Este princípio da vida é muito importante.
Esta novidade é que deve ser considerada. Não compreenda mal; não estamos falando da Palavra no
sentido comum. Queremos dizer que no nascimento pelo Espírito de vida passa a existir algo que não
existia antes; algo original, completamente novo. Foi desta forma que nos tornamos uma nova criação em
Cristo Jesus. Chamamos isto de ―novo nascimento‖. Não é uma renovação, mas algo que passou a existir.

Em relação à Palavra, tem que ser desta maneira. A Palavra deve vir com toda a força sobre algo que não
existe. Deve haver este senso de originalidade ou frescor divino que traz espanto e admiração. Você pode
testá-lo. Quando o Espírito Santo está conduzindo a leitura da Palavra, embora você tenha lido mil vezes a
passagem, e ter aprendido algo dela, você reconhece: ―Eu nunca vi isto antes! Ela está viva e contém um
significado e um valor diferente de tudo que havia antes!‖. Há muita diferença entre aprender pela unção
do Espírito a que aprender pela consulta de livros cristãos ou teológicos. O Senhor deseja ter os Seus
ministros manuseando a Sua Palavra com vida. O Homem Celestial, governado pela vida celestial na
Palavra, desfruta deste privilégio de ver tudo constantemente novo, fresco, original e atual.

Quão necessário é que isto seja experimentado. Houve ocasiões em que presumíamos que sabíamos tudo
sobre determinado assunto na Bíblia; falamos sobre ele de forma tremenda, e ele permaneceu nosso tema
por um longo período. Então, o tempo passou e nós o deixamos de lado, porém, o Espírito do Senhor leva-
nos novamente a ele como se nunca o tivéssemos visto antes. Descobrimos que podemos voltar aos antigos
temas de forma renovada, viva e com mais profundidade. Nossos ouvintes podem não entender o que está
acontecendo conosco. Podem ouvir os mesmos velhos temas novamente, mas reconhecerão: ―Há algo novo,
mais profundo, e está claro que o Espírito Santo não esgotou o tema; Ele ainda tem algo mais a nos dizer a
respeito‖. Temos que ser sensíveis e obedientes à direção do Espírito. Muitas vezes somos tentados a reagir
da seguinte forma: ―Eu tenho falado acerca disto tantas vezes que as pessoas devem estar cansadas!‖.
Contudo, o Espírito Santo está dizendo: ―fala novamente; não leve em conta o que as pessoas pensam; se
elas ouviram isto mil vezes, fale a milésima primeira!‖. Quando você dá ouvido ao Espírito, algo novo
acontece, o qual não havia acontecido antes, mesmo com todos os argumentos anteriormente feitos sobre o
tema. Então, cuidado com a atitude de arquivar os ensinos da Palavra de Deus, presumindo que já tenha
esgotado tudo. Se você está lidando com os temas da Bíblia desta forma, pode, por fim, restringir tudo na
sua ―caixinha‖. Se você estiver andando no Espírito, jamais parte alguma da Palavra de Deus lhe será fora
de uso. A nova vida veio até nós para nos constituir parte do Homem Celestial, que é governado pela
Palavra em toda sua peregrinação, promovendo um aumento e crescimento constantes.
Lembre-se que tudo é uma questão de vida. Lembre-se de que a doutrina vem da vida, e não a vida da
doutrina. É a igreja que vem da vida, e não o contrário. A vida não é um acessório da doutrina, nem da
igreja, mas é a essência do Homem Celestial. Assim a doutrina e a igreja são expressões da vida. Na Palavra
a doutrina surgiu da vida. A igreja já existia antes que a doutrina sobre ela fosse elaborada. A doutrina da
igreja é um acessório do Homem Celestial. A igreja surgiu a partir de um relacionamento vivo, e não de um
ensino sobre sua existência, e então procurou-se colocá-lo em prática. A vida vem antes de tudo e, onde a
vida é encontrada, todo o resto é consequência. É inútil ensinar a doutrina da igreja, ou qualquer outra,
para as pessoas que estão espiritualmente mortas. O Senhor sabe o que está fazendo. Você pode ir a
qualquer parte do mundo, mesmo a cristãos, com toda a sua doutrina e revelação, mas não haverá garantia
de que os ouvintes receberão a Palavra assim que você a anunciar. Você deve ir aonde o Espírito deseja
levá-lo, pois Ele sabe exatamente onde há vida suficiente, a qual preparou de antemão para que haja
resposta ao que você compartilhará. Como gostaríamos de sair pelo mundo afora e falar para todo o povo
de Deus daquilo que Ele tem mostrado a nós, e dar-lhes uma revelação do Corpo de Cristo! Poderíamos ir,
organizar grandes cruzadas e reunir as pessoas, mas seria apenas para vê-las olhar fixamente para nós e
dizer: ―Que doutrina estranha!‖. Então, não desperdicemos forças fazendo aquilo que Deus não mandou. O
progresso fundamenta-se na vida. Primeiro vem a vida, depois se ensina a doutrina. Você não obtém a
igreja simplesmente tentando ensiná-la! Tem que haver vida, e através da sua operação, a igreja é formada;
a vida torna-se a realização da igreja. O inverso disto apenas nos leva à Babilônia.

O que é Babilônia? Babilônia representa a ausência da autoridade de Deus como algo vivo. Foi no reinado
de Jeoaquim, o rei que cortou a Palavra de Deus com um canivete, que Judá começou a ser levado cativo
para Babilônia. Quando ele repudiou a autoridade viva da Palavra de Deus, todos os vasos de ouro e de
prata foram levados para Babilônia. Isto é uma parábola. Significa que o povo do Senhor entra na
escravidão, no cativeiro, na morte e a ministração ao Senhor já não mais acontece na vida, pois todos os
vasos valiosos (que falam das pessoas vivas, úteis para Deus) foram levados. Até aquele momento, os
judeus estavam tendo os seus sacrifícios e seguiam a ordem levítica. Mas, a partir daí, passa-se a ter só a
aparência, um sistema morto, é isto que significa estar em Babilônia. É a Palavra viva do Senhor que nos
mantêm livres, limpos, fortes e fora da Babilônia.

Capítulo 11 – O Homem Celestial e a Palavra de Deus (continuação)

Leitura: Jo 1:14, 14:10; Cl 3:16,17; Ap 19:13.

Nas meditações anteriores, vimos a relação entre o Espírito Santo com a Palavra de Deus e com o Homem
Celestial e, antes de prosseguirmos, vamos revisar esta relação naqueles quatro aspectos.

A Relação entre O Espírito com a Palavra de Deus e com o Homem Celestial

(a) No Nascimento. O Espírito Santo está relacionado com a Palavra de Deus no nascimento do Homem
Celestial. A Palavra foi apresentada a Maria, propondo um desafio a ela. No terreno humano, Maria ficou
perplexa diante à forma pela qual a palavra seria realizada; como seria cumprida; como este maravilhoso
anúncio se realizaria. Este foi um grande teste para Maria. O anjo respondeu sua pergunta e resolveu sua
perplexidade ao explicar-lhe: ―... o Espírito Santo virá sobre ti...‖ (Lc 1:35). Assim, vemos que o Espírito
Santo estava relacionado com a Palavra de Deus no nascimento do Senhor.

O Espírito Santo só concretizou a Palavra em Maria quando ela deu o seu sim. Isto é uma lei
perpétua. Assim que Maria voluntariamente recebeu a Palavra, o Espírito Santo encarregou-se de realizar
todo o significado, implicação, conteúdo e propósito da Palavra anunciada.

(b) Na tentação. Da mesma forma, o Espírito estava associado à Palavra em relação à tentação. Depois que
o Espírito veio sobre o Senhor Jesus, como Homem Celestial, em seu batismo no Jordão, Ele foi conduzido
pelo Espírito ao deserto a fim de ser tentado pelo diabo. O Senhor foi conduzido, governado, agia e se
movia pelo Espírito. A Palavra de Deus foi, pelo Espírito, o instrumento para a derrota do inimigo, bem
como para o avanço do Homem Celestial. Após o diabo ter deixado o Senhor, está escrito que ―... Jesus
voltou no poder do Espírito...‖ (Lc 4:14). Observe que houve um acréscimo; temos aqui um sinal de ganho,
de acréscimo de medida do Espírito devido à vitória na tentação. O Espírito estava associado à Palavra na
tentação, concedendo vitória e crescimento.

(c) No Ministério. O mesmo observou-se no ministério do Senhor Jesus: ―... As palavras que vos digo, não
as digo por mim mesmo; mas o Pai que permanece em mim é quem faz as Sua obras‖ (Jo 14:10). As
palavras são o tema da habitação atuante através do Espírito.

Estamos nos referindo agora de Cristo como Homem Celestial, e não em Sua divindade, como Deus, como
o Filho eterno. Em Seu ministério, pela unção e habitação do Espírito do Pai, há movimentos interiores que
se expressavam nas palavras que pronunciava. Suas palavras nunca eram proferidas em independência do
Pai, dissociadas de seu relacionamento com o Espírito; elas são fruto dos movimentos e inspiração do
Espírito do Pai que nele habitava. É o Espírito quem inspirava as palavras pronunciadas nos discursos do
Filho. É por isso que elas são sempre práticas, vivas e eficazes.

(d) Na Vida. O que foi verdade em Suas palavras, também foi em toda Sua vida. Sua vida foi marcada por
um contínuo e espontâneo cumprimento das Escrituras, não devido a uma constante referência ou
consulta a elas, mas através da habitação do Espírito, pois Ele é o doador e inspirador delas. São palavras
eternas, e o Espírito em Cristo movia-se de tal modo que as Escrituras eram cumpridas o tempo todo. Foi
dito em muitas ocasiões: ―... para que se cumprissem as escrituras...‖. Jesus era inspirado e movido pelo
Espírito em toda Sua vida e em todos os acontecimentos para o cumprimento Palavra. O Homem Celestial
é governado pela Palavra de Deus através do Espírito Eterno. Isto é verdade sobre Ele, como pessoa.

Isto também é verdade corporativamente. O Homem Celestial Corporativo é fruto do mesmo processo. A
igreja, Seu Corpo, é trazida à existência pela Palavra, que é primeiramente apresentada e, depois de crida, o
Espírito Santo infunde vida. O resultado é a igreja, o Corpo de Cristo, o Homem Celestial Corporativo.
É desta maneira que a igreja vem à existência e, chamar qualquer ajuntamento de igreja, mas que não
proceda da operação do Espírito Santo através da Palavra, é dar importância a algo que não é aprovado no
coração de Deus. Despreze a Palavra de Deus e você não terá a igreja. O que teremos é algo completamente
falso. Despreze o Espírito Santo, em relação à Palavra de Deus, e será impossível edificar qualquer coisa
que Deus aprove.

Normalmente, a igreja é entendida de uma forma muito leviana, mas, para nós, ela é uma realidade muito
importante. O nosso novo nascimento, a nossa inserção como membro de Cristo, aconteceu no mesmo
princípio que operou a encarnação do Senhor, com a cooperação da Palavra e do Espírito.

Uma Confirmação do Propósito Divino — O Princípio da Encarnação

Deus requer um tipo de Homem para a expressão de Seus pensamentos. Deus jamais desejou proferir
apenas palavras ou ensinos; ser conhecido ou revelar-se a Si mesmo por meio de meras expressões verbais.
Deus jamais pretendeu ser conhecido apenas através de declarações, de palavras, de expressões verbais.
Por isso é muito perigoso ficar ocupado com ensino apenas como ensino, ficar só absorvendo ensinos e
coisas faladas presumindo que só porque ouvimos uma pregação já dominamos o assunto. Nós não o
dominamos! Muitas pessoas retêm todas as coisas que lhe são ditas, mas não possuem a realidade. Esta
condição é possível, e podemos encontrar-nos nela, em que se fica aprendendo, mas nunca se chega ao
conhecimento da verdade (2 Tm 3:7). Esta é uma condição muito perigosa. Sim, por vinte, trinta, quarenta,
cinquenta anos podemos ter ouvido todo tipo de doutrina, podemos conhecer muitas coisas, contudo
nunca chegamos ao conhecimento da verdade. Isto pode ser estranho, contudo possível, a ponto de até a
Palavra de Deus nos prevenir. Qual é o problema? Onde está a falha? É o que veremos agora.

Deus nunca pretendeu fazer-se conhecido, expressar-se a Si mesmo, apenas por meio de palavras, de
declarações, de meros pronunciamentos, de meros ensinos sobre Si. Para expressar Seus pensamentos,
Deus exige um tipo de Homem. Então a Palavra torna-se carne; para que o homem que Deus deseja seja a
expressão de Sua Palavra de uma forma viva; isto é, a vida deve estar relacionada à verdade, e a verdade
deve estar relacionada à vida.

Existe o terrível perigo de compartilharmos algo sem que antes a Palavra de Deus tenha trabalhado em
nosso interior. Há um fascínio pelas grandes verdades de Deus e, ligado a isto, há um perigo,
especialmente se você estiver envolvido naquilo que as pessoas chamam de ―ministério‖. Há o perigo de se
tomar estas verdades, doutrinas, temas, assuntos, ensinos da Palavra de Deus e ficar discorrendo sobre elas
o tempo todo. Você ouve algo novo, uma ideia nova, lê um livro, vai a uma conferência cristã e então sai por
aí repassando adiante algo que nem é vivo em você. Agindo assim, você estará apenas coletando material
para o seu ministério e expondo-se a um grande perigo. Isto pode colocar-lhe, bem como seus ouvintes,
numa falsa posição. Isto pode desequilibrar-lhe. Você constrói um ensino sobre algo que não é vivo, que
não edifica. Trata-se apenas de ensinar às pessoas, por isso, cedo ou tarde, a coisa toda desmoronará, o
edifício ruirá, e você perguntará: ―onde errei?‖. Apenas aquilo que procede da vida que é válido. Antes de se
colocar um fundamento, precisa haver uma escavação, um trabalho interior, para que o ensino seja
apresentado. É por isto que a doutrina só aparecia depois da obra da graça no coração das pessoas no Novo
Testamento. Primeiramente, a Palavra da graça era anunciada e, só depois, o Senhor explicava por
doutrinas aquilo que havia realizado. Assim também ocorre conosco. O Senhor apresenta-nos algo que não
compreendemos de início, mas que passamos a experimentar de forma profunda, às vezes escura e terrível,
e depois Ele explica tudo para nós em Sua Palavra. Desta forma somos levados ao pleno conhecimento
daquilo que estávamos passando. Ele desejou que fosse desta maneira.

O recebimento da Palavra de Deus por parte dos profetas do Velho Testamento é descrito pelo verbo
hebraico hayah, que significa ―aconteceu.‖ Assim, a interpretação literal do hebraico é: ―A palavra do
Senhor aconteceu assim e assado‖. Em nossa versão ela é traduzida pela palavra ―veio‖: ―Veio a Palavra do
Senhor assim e assado‖. Trata-se de um evento, de um fato, e não apenas uma expressão verbal. É assim
que deve acontecer conosco. É por isto que o Senhor disse: ―As palavras que vos digo são espírito e vida‖
(Jo 6:63). Suas palavras concretizam-se em fatos, que nem sempre nos conscientizamos, mas algo é
realizado e, algum dia, teremos a explicação. Deus fala e algo acontece, de uma forma ou de outra. Assim, a
Palavra de Deus não é meramente uma fala, um discurso, mas é um evento.

Quando a Palavra de Deus é incorporada num homem, passa a ter plenitude. Isto é evidente no próprio
caso do Senhor Jesus. A plenitude das palavras das Escrituras foi alcançada quando foram incorporadas
pessoalmente nele. Por isso que foi dito: ―E a Palavra se fez carne e tabernaculou entre nós... cheio de graça
e de verdade‖ (Jo 1:14).

A Palavra de Deus e uma Assembleia Viva

Sob o ponto de vista corporativo, há algo que devemos reconhecer, que talvez cause dificuldades, mas que
não deixa de ser verdadeiro e deve ser levado em conta e lembrado, é que a Palavra do Senhor proclamada
numa assembleia viva tem um valor e um poder especial. Se você não foi ensinado a este respeito, ou
desconfia de sua validade, ao menos o reconhecerá por experiência própria, como um fato. Quão poderosa
e eficaz é a Palavra do Senhor quando é proclamada numa assembleia que se encontra viva para Ele.
Porém, quão infrutífera é a pregação da Palavra numa assembleia morta e seca. Mesmo sendo a Palavra do
Senhor e mesmo que o pregador esteja cheio do Espírito Santo, contudo, quão pouco proveito haverá. Por
outro lado, diante de uma assembleia realmente viva para o Senhor, onde há um corpo que pulsa com vida,
que valor, poder e fruto a Palavra produz! Isto foi verdade no caso do Senhor Jesus. Nele temos uma
Pessoa viva, cheio da Palavra de Deus, então a Palavra se expressa com espírito e vida. A Palavra tinha um
valor, uma força especial nele, porque nele havia vida.

Este é um princípio verdadeiro em relação ao Homem Celestial, corporativamente estabelecido. Ele é um


corpo vivo, habitado pela vida e pela Palavra do Senhor, que flui livremente e é glorificada. Os incrédulos e
os cristãos carnais não desfrutam deste privilégio. A Palavra do Senhor é mais eficaz, poderosa, frutífera
quando pregada num grupo de pessoas vivas para Ele a que num meio de sequidão ou mornidão espiritual.
O que estou dizendo é confirmado por irmãos que ministram no poder e direção do Espírito. Se a Palavra é
ministrada numa determinada assembleia que é imatura, que ainda não aprendeu a linguagem do Espírito
e que estagnou nos assuntos rudimentares, os ouvintes olharão para você quase boquiabertos, achando que
você está falando uma língua estranha! Porém, quando a Palavra é lançada para pessoas que estão vivas
para ela, então é acolhida com poder, e aquelas pessoas, embora talvez não entendam todos os termos
usados, tornam-se vivas para aquilo que a Palavra está agindo. Alguns pregadores têm o hábito de
percorrer seus olhares pela congregação até encontrarem um espírito cooperador para que a Palavra seja
liberada. Desde que haja algum núcleo vivo no meio de um campo de morte, a Palavra de Deus terá um
impacto especial em virtude desta unidade ativada pelo Espírito Santo. Quão importante é estarmos vivos
no Senhor para o ministério.

No quarto capítulo de Efésios, lemos acerca do Homem Celestial concedendo dons como: apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres para o aperfeiçoamento dos santos e para a obra do ministério.
Os santos devem ministrar. Neste capítulo temos o como os santos ministram. Nem todos os santos sobem
à plataforma e entregam a mensagem, mas todos ministram maravilhosamente quando cooperam com o
ministério. O ministério do apóstolo, do profeta, do evangelista, do pastor e do mestre é realizado através
de um corpo vivo. É uma perda, para aqueles que ministram, quando não têm uma companhia que coopere
espiritualmente com ele para a realização de seu ministério. Se só com um membro o Senhor já tem um
caminho para revelar algo de Si mesmo para outros, quanto mais o Senhor revelaria de Si mesmo se tivesse
uma companhia viva.

O Senhor parecia estar limitado enquanto esteve aqui, pois nem sempre pôde dizer ou fazer o que desejava:
―Ainda tenho muitas coisas para vos falar, mas vós ainda não podeis suportar‖ (Jo 16:12). ―E Ele não fez
muitos milagres ali por causa da incredulidade deles‖ (Mt 13:58). Porém, se houver uma companhia viva,
não haverá tais restrições. Pois o Senhor poderá revelar-se e expressar-se de modo mais pleno. O Senhor
precisa de um Homem Coletivo, um Homem Celestial, pois a revelação de Si mesmo, a expressão de Seus
pensamentos e o valor pleno da Palavra só podem ser expressos se estiverem incorporadas num corpo.

Cristo e a Palavra de Deus São Um

A Palavra é Cristo pelo ministério do Espírito Santo. A Palavra não é uma declaração de doutrinas, é a
expressão de uma Pessoa. O que queremos dizer é que a nossa atitude diante da Palavra deve ser a mesma
que devemos ter diante de Cristo. Temos que acolher a Palavra do Senhor da mesma forma como
acolhemos o próprio Senhor. A Palavra do Senhor não é algo dele que é apresentado a nós apenas em
palavras, mas é o próprio Senhor vindo a nós. Não podemos rejeitar uma parte de Sua Palavra e, ainda
assim, continuarmos com Ele. Não podemos separar o Senhor e Sua Palavra. Algumas pessoas tomam
partes do conselho do Senhor e rejeitam outras. A Palavra é uma só. A Palavra é o Senhor. Rejeitar
qualquer parte da Palavra significa recusar, limitar o próprio Senhor; é como se disséssemos: ―Senhor, eu
não te quero! Senhor, não o terei!‖. Não se trata de não querermos a Palavra, mas de não querermos o
próprio Senhor, pois os dois são um: ―Seu nome é a Palavra de Deus‖ (Ap 19:13); ―A Palavra se fez carne...‖
(Jo 1:14). Você não pode dividir o Senhor e a Palavra, pois é o mesmo ser. Ele é a Palavra de Deus. Deus
não vem a nós através de declarações; Ele vem a nós através de uma Pessoa, e o desafio é o de tomar uma
atitude, não em relação a ensinos recebidos, mas em relação ao próprio Senhor.
A Necessidade de Exercitar o Coração

A seguinte questão surge em nossos corações: ―como é que isto se torna nossa vida? Como é que isto se
torna parte de nós? Como é que nos tornamos uma expressão viva disto?‖. Lembremos a nós mesmos, e
aqueles por quem temos responsabilidade no ministério, que é possível estarmos sempre aprendendo, mas
nunca chegarmos ao conhecimento da verdade (2 Tm 3:7). Podemos ler livros, participar de conferências,
de reuniões e assimilarmos mentalmente tudo o que é falado, e sairmos dali com tudo aquilo em nossas
cabeças, ou em nossos cadernos de anotações e, então, voltarmos para mais uma reunião a fim de obter
mais informação, e mais outra conferência, ler mais um outro livro e assim por diante. Olhamos para os
anos de conferências que se passaram e começamos a avaliar e a perguntar a nós mesmos: ―Qual foi o
resultado de tudo isto? Eu me lembro de tal e tal ocasião, de tal e tal assunto que foi falado e de outras
coisas em outras ocasiões; estas coisas foram temas de várias conferências; mas agora, em que tudo isto
resultou?‖. Esta é uma queixa legítima. Será que, de fato, conhecemos tudo o que nos foi ensinado? Ao
ouvirmos novamente sobre um certo tema, reagimos assim: ―Bem, já ouvi isto antes, já conheço isto‖. É
exatamente isto o que quero dizer quando afirmo que se aprende constantemente, mas nunca se conhece,
de fato, o que está sendo ensinado. O que faremos? Como aplicar tudo isto para que seja mais do que
palavras, pensamentos, ideias, ensinos, apenas verdades como verdades, de modo a incorporar-se,
expressar-se verdadeiramente em nós? Isto é possível e deve acontecer. Exatamente o mesmo princípio
que operou na encarnação do Verbo, deve operar em nós. A Palavra que nos é apresentada exige que
exercitemos o coração, deve ser misturada com fé. É isto o que aconteceu com Maria. Ela imediatamente
exercitou o seu coração a respeito do que fora dito a ela. Em seguida creu. Você colhe segundo a medida
que envolve seu coração ao ouvir a Palavra. Diante da Palavra, avalie-a assim: ―Qual seu significado? Quais
suas exigências? Qual o custo? Qual finalidade? É esta a vontade de Deus para mim?‖. Necessitamos
assumir a Palavra de Deus de forma direta e deliberada; precisamos encará-la, contemplá-la e exercitar o
nosso coração diante dela. Este é o primeiro passo em relação à encarnação da Palavra.

Tendo olhado para a Palavra e exercitado o coração, devemos dar um passo voluntário de fé em relação a
ela. Isto é imperativo. Você jamais chegará a lugar algum a menos que faça isso. Uma vez que a Palavra foi
acolhida, ponderada, avaliada à luz da vontade de Deus e chegado a uma conclusão, você deve tomar a
seguinte atitude diante do Senhor: ―Eis aqui o servo do Senhor; cumpra-se em mim conforme a Tua
Palavra. Eu não sei como isto procederá; parece algo impossível, é muito elevado para mim, contudo que
ela se cumpra em mim‖. Isto é fé. Maria não deu um passo atrás e disse: ―Bem, é uma revelação
maravilhosa, mas é demais para mim; não creio que isto possa acontecer; realmente não posso aceitá-la‖. A
Palavra foi maravilhosa e de cumprimento impossível, exceto para Deus, por isso Maria disse: ―Cumpra-
se!‖. Isto é fé. Não é conforme aquilo que penso, sinto ou me parece ser possível, mas ―conforme a Tua
Palavra‖. É conforme a Palavra e para Deus não é impossível! ―Se Tu falaste, Tu não falas impossibilidades,
Tu não me desafias com impossibilidades! Então se cumpra em mim a Tua Palavra‖. O que se exige de nós
é uma entrega em fé, um ato deliberado de fé em relação à Palavra. Quantos de nós temos exercitado a fé
em relação ao que temos ouvido? Quantos de nós temos exercitado o coração e respondido em fé: ―Senhor,
esta é uma promessa tremenda e, para mim, pelos meus próprios recursos, é totalmente impossível; mas é
a Tua Palavra, então que se cumpra em mim. Apoio-me nela, recebo-a, e Tu a fazes prosperar. Senhor
Deus, confesso que creio‖. Há muitas consequências envolvidas numa resposta como esta. Sem isto nós
não cresceremos. Sem isto estaremos sempre aprendendo, porém nunca chegando ao conhecimento da
verdade. Sem esta resposta, muitas verdades tornam-se doutrinas estéreis e não vivas e eficazes.

Embora tenhamos fracassado bastante no passado, nossa história, daqui em diante, pode ser diferente.
Quando o Senhor nos falar, devemos fazer de sua Palavra nossa prioridade. Você não imagina como o
coração de um pregador da Palavra é partido ao notar que, logo após do término da mensagem e da
reunião, as pessoas já estão conversando sobre as trivialidades de seus assuntos domésticos e de seus
negócios; sobre coisas que podem muito bem ser deixadas para depois. É como se não houvesse qualquer
condição séria ou crítica a ser confrontada, é como se tudo estivesse bem, por isso se seguem as conversas
sobre coisas ordinárias, coisas do dia a dia. Enfatizo que se deve responder à Palavra do Senhor com
seriedade e prontidão se se deseja que a Palavra torne-se uma expressão viva de Deus; e Deus não se
satisfará com nada menos do que isto. Deus jamais se satisfará com meras declarações, mas somente com
um homem que seja uma expressão viva de Suas palavras.

A Relação entre a Palavra e a Cruz

A Palavra de Deus sempre estará associada à cruz. O apóstolo Paulo escreveu: ―A palavra da cruz é o poder
de Deus‖ (1 Co 1:18). Ela é o poder e a sabedoria de Deus. Sabemos que a palavra usada é o ―Logos‖ da cruz.
O Logos é a combinação entre um pensamento e uma expressão personificados. É a Palavra em Pessoa
relacionada à cruz. É por isso que ela é colocada desta maneira, pelo Espírito de conhecimento e de
entendimento, no livro de Apocalipse: ―Ele está vestido com um manto tingido de sangue, e o Seu nome é a
Palavra de Deus‖ (Ap 19:13). Aqui temos o manto salpicado de sangue e o Seu nome: ―a Palavra de Deus‖.
Na carta aos Hebreus, lemos: ―Moisés tomou o sangue de novilhos e de bodes, com água, lã vermelha e
hissopo, e aspergiu o próprio livro e a todo o povo‖ (Hb 9:19). Temos aí a Palavra e o sangue. É a cruz que
dá poder à Palavra.

A cruz do Senhor Jesus é algo tremendamente eficaz. A cruz do Senhor Jesus, em seu poder espiritual,
destruirá qualquer empecilho que esteja no caminho de Deus. Ela eliminará qualquer vestígio da velha
criação. Ela aniquilará o poder do inimigo e de suas obras. A cruz é algo tremendo, ela derruba, destrói e
vence. A cruz, somada à ressurreição, tem poderes ilimitados: ―... a excelente grandeza de Seu poder que
opera em nós, os que cremos, conforme a força de Seu poder que operou em Cristo, levantando-O dentre os
mortos...‖ (Ef 1:19, 20). A cruz possui esses dois lados, o que derruba e o que levanta, e é no poder da cruz
do Senhor Jesus que a Palavra de Deus encontra sua eficácia. Cristo é a Palavra da cruz, e o Seu vestido
salpicado de sangue é o vestido daquele que é ―a Palavra de Deus‖ e, como ―Palavra de Deus‖, Ele obtém o
Seu poder por meio da cruz. Cristo crucificado é o poder de Deus. Quando a cruz tem o seu lugar em nossas
vidas, a Palavra de Deus é tremendamente poderosa. Um pregador não crucificado é ineficiente e
infrutífero. A ministração da Palavra de Deus vinda de qualquer pessoa que não seja um ministro ou um
vaso crucificado é impotente, infrutífero e estéril. Encontre uma pessoa crucificada pregando a Palavra e
perceberá sua eficácia, frutificação e poder.
Tome Jeremias como uma boa ilustração do Velho Testamento. Se havia alguém crucificado em espírito,
este era Jeremias. Ele traz as marcas de um homem crucificado desde o início. Se você quer saber o que é
um homem crucificado, leia o primeiro capítulo de Jeremias e o reconhecerá imediatamente. Leia Jeremias
e você verá um homem que levou a cruz por toda vida. Lemos no capítulo um:

―Veio a mim a Palavra do Senhor, dizendo: Antes que fosse formado no ventre te conheci, e antes que
saísse da madre te santifiquei; às nações de dei por profeta‖ (versos 4 e 5).

Qualquer homem natural, não crucificado, num impulso diria: ―Eu sou alguém! Que poder está sendo
confiado a mim! Que ministério eu tenho! Que chamado!‖.

Mas Jeremias respondeu: ―Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque ainda sou um menino‖ (verso 6).

Esta é a reação de uma pessoa crucificada ante um grande chamamento proposto pelo Senhor. Veja o que
um homem crucificado pode ser quando o Senhor o tem em Suas mãos:

―O Senhor estendeu a Sua mão e tocou-me na boca, dizendo: Eis que ponho as minhas palavras na tua
boca; ponho-te neste dia sobre as nações e reinos, para arrancares e derrubares, destruíres e arruinares;
mas também para edificares e plantares‖ (versos 9 e 10).

Há cruz na palavra do homem crucificado: ―... Minhas palavras em tua boca...‖ destruindo, derrubando e
arrancando. Este é o poder da cruz. O Senhor opera isto em nós. A cruz opera destruição em nossa carne.
Ela nos aniquila. Mas há o outro lado da cruz que edifica, que planta. Este é o trabalho da cruz em
ressurreição. É desta maneira que temos a Palavra na boca de uma pessoa crucificada. É a Palavra da cruz
em eficácia. É Cristo crucificado trazendo à vista o Homem Celestial através da personificação da Palavra
de Deus. A Palavra da Cruz elimina aquele outro homem que tanto se projeta, o qual será sintetizado no
anticristo, o super-homem, que se assentará no próprio templo de Deus, fazendo-se passar por Deus. Ele é
o grande homem desta velha e amaldiçoada criação, que se exalta em orgulho e se considera Deus. A cruz o
expulsa e eleva o Homem de Deus, que é maior que o homem do pecado. Em contraposição ao anticristo
está Cristo, e não há comparação. A cruz expõe este Homem, fazendo com que o outro desapareça. Tudo
aquilo em nós que pertence ao velho homem é reduzido a nada pela cruz, que abre espaço para a revelação
do Homem Celestial, tanto o pessoal quanto o corporativo, e nos dá um ministério que é resultado da obra
de Sua Palavra em nós. É um ministério de fatos, não um ministério de meras doutrinas. É por isto que
temos enfatizado as palavras de João:―...as palavras que vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai
que habita em mim é quem faz as Suas obras‖ (Jo 14:10). O Pai que habitava nele é quem estava
realizando as Suas obras. As palavras que Jesus falava não partiam de Si mesmo; elas procediam da obra
do Pai. O ministério do Senhor não se resume ao anúncio de verdades, ensinos, afirmações ou ideias; é fato
que havia palavras, mas palavras produzidas pelo trabalho do Espírito Santo que nele habitava. Que o
Senhor nos conduza mais e mais para dentro desta realidade.
Capítulo 12 - Tomando o Terreno do Homem Celestial

Leitura: Cl 2:16–23; 3:1–11; Ef 4:13–15.

Enfatizarei uma aplicação das verdades que acabamos de expor. Está relacionada com nossa apropriação
do Homem Celestial. Quer entenda este homem de forma pessoal ou corporativa, você será confrontado em
decidir sua posição em relação a ele; isto é, se você quer ou não se colocar no terreno do Homem Celestial.
Deus não lida com os homens em nenhuma outra base. Deus não tem nada a dizer-lhes, nada a tratar-lhes
em qualquer outro terreno que não seja o do Homem Celestial. A decisão é sua. Se quiser ter comunhão
com Deus, se quiser ter alguma intimidade, então deverá ir para o terreno dele, que é o terreno do Homem
Celestial. Você deve deixar seu próprio terreno natural, todas suas convicções a respeito dele, e migrar para
o terreno do Homem Celestial. Você tem que deixar o ambiente do homem natural, da raça adâmica caída,
e migrar para o ambiente do último Adão, para o terreno celestial ou espiritual.

Se você relesse o evangelho de João, ou as epístolas de Paulo, sob este prisma do Homem Celestial,
constataria este tema por toda leitura, além de te abrir novos campos maravilhosos da Palavra.

Cristo é o Único Terreno onde Deus Trata com o Homem

O Pai estabeleceu o Filho como o único terreno onde Ele trata com os homens, e Ele não lidará com o
homem em nenhuma outra base: ―... Deus, o Pai, o aprovou, pondo nele o seu selo‖ (Jo 6:27). Jesus de
Nazaré foi ungido por Deus. Agora Ele é o terreno de Deus: ―Este é o Meu Filho amado, em quem
Me comprazo‖ (Mt 3:17); ―Este é o Meu Filho ... escutai-O‖ (Mt 17:5). Deus estabeleceu o Seu Filho, então
se você quiser ter qualquer relacionamento com Deus, se você quiser que Ele tenha algum compromisso
contigo, deverá migrar para o terreno do Seu Filho, para o terreno do Homem Celestial. Deus se encontra
conosco no Filho. Deus realiza Sua obra neste terreno. Deus realiza a Sua obra somente aí. Todo o interesse
e atividade de Deus conosco baseia-se em Cristo. Cristo é o Primeiro e o Último. O Pai estabeleceu-O,
selou-O, ungiu-O, e somente nele encontraremos o céu aberto.

No episódio de Jacó e seu sonho, lemos: ―Jacó chegou a um lugar onde passou toda a noite... E sonhou com
uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. O
Senhor estava em cima dela e disse...‖ (Gn 28:11–13). O Senhor retomou esta passagem a Natanael e disse:
―... verá o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem‖ (Jo 1:51). O Senhor
comunga com o homem por meio desta escada e somente por meio dela que é o Filho do Homem. Deus nos
fala nestes últimos tempos ―por meio do Seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas‖ (Hb 1:
2). Penso que está claro que este é o lugar onde devemos começar, o Pai quis assim. Ele estabeleceu o
Homem Celestial, o Seu Filho, como o único terreno onde se encontra com o homem.

O Significado da Designação do Filho

Ao usar o termo ―Homem Celestial‖, além de estarmos nos referindo a uma Pessoa Divina, o Filho de Deus,
estamos também apresentando uma grande ordem de Homem, um tipo de Homem que é constituído por
todos os aspectos, recursos e faculdades celestiais. Tudo neste Homem é celestial e tem valor prático. Tudo
nele é significativo e valioso. Tudo nele pode ser aplicado a nós, isto é, tudo o que está em Cristo é útil, tem
utilidade celestial para nós, tem valor celestial e aplicações práticas. Este é o porquê de falarmos dele como
sendo o Homem Celestial, o homem que Deus almeja. Deus trata somente com esta espécie, e é por isso
que devemos deixar o nosso terreno próprio e migrar para o terreno de Cristo, já que Deus decidiu lidar
somente com este tipo de Homem. Esta transferência de terreno pode ser resumida na frase que nos é tão
familiar: ―Crê no Senhor Jesus Cristo...‖ (literalmente: coloque sua fé no Senhor Jesus Cristo). Não é
simplesmente tomar uma atitude em relação a Ele dizendo: ―Naturalmente que creio, creio que Ele é
perfeitamente confiável‖. Não! É o comprometimento de si próprio, uma entrega total, um passo definitivo
na direção do terreno dele, uma mudança absoluta, isto é o que significa assumir o terreno do Homem
Celestial. Enquanto isto não for feito, não haverá qualquer esperança. Nesta mudança devemos deixar
nosso próprio terreno, e isto não é tão simples como parece. É um aprendizado que dura a vida toda. Há
um ato inicial, onde cremos no Senhor Jesus Cristo, damos o primeiro passo de fé na direção dele, nos
comprometemos e confiamos nele, porém, pelo o resto de nossas vidas estaremos aprendendo o que
significa deixar o nosso próprio terreno e tomar o dele. Ao fazermos isso chegaremos à plenitude da
estatura de Cristo. Esta plenitude é alcançada à medida que deixamos nosso próprio terreno e assumimos o
terreno do Homem Celestial. Temos muitas oportunidades diárias para fazer isso. É um curso que dura a
vida toda que se iniciou com um simples primeiro passo de abertura de coração e exercício de fé.

Ilustrações desta verdade

(a) no Caso de Nicodemos

Tomemos alguns exemplos. Nicodemos procura o Senhor Jesus interessado nas questões celestiais, no
Reino de Deus. Ele sente que Jesus pode ensinar-lhe algo, ou dar-lhe alguma informação. ―Rabi, sabemos
que és Mestre vindo de Deus...‖ (Jo 3:2). Em outras palavras: ―Tu podes ensinar-me algo!‖. Porém o
Senhor não lhe dá qualquer informação. Jesus não responde as perguntas de Nicodemos; não revela os
segredos divinos. Jesus não responde à sua inquietação, mas diz: ―Nicodemos, ainda que seja um dos
principais dos judeus, deve deixar este terreno e vir para o outro; você precisa nascer de novo‖.

À medida que acompanhamos esta conversa, percebemos claramente que Jesus está o convidando: ―Você
precisa vir para o Meu terreno. Para entender dos assuntos celestiais, você precisa estar onde estou. Sei que
você deseja conhecer o que conheço, mas não entenderá nada a menos que nasça de novo. Assim você
poderá receber do meu conhecimento celestial, desde que ocupe o meu terreno celestial. Você somente
poderá ocupar este terreno celestial se nascer do alto, assim como eu. Somente homens celestiais podem
ter conhecimento celestial. Você precisa deixar o seu próprio terreno‖. ―O quê, deixar o meu terreno? O que
há de errado com ele? Eu sou um bom e íntegro israelita, um fiel mestre da Lei!‖. ―Sim, contudo você
precisa deixar o seu terreno; não estou me referindo a um homem e sua posição perante à Lei; estou
tratando com você, Nicodemos, mestre em Israel; você precisa deixar o seu terreno e vir para o meu‖.

(b) No Desejo dos Gregos


No capítulo doze de João, lemos: ―Havia alguns gregos que tinham subido a Jerusalém para adorar no dia
da festa; estes dirigiram-se a Filipe e rogaram-lhe: queremos ver Jesus‖ (Jo 12:21). Então os discípulos
vieram e contaram ao Senhor sobre os gregos que queriam vê-lo. O Senhor respondeu algo assim: ―Muito
bem, irei e me mostrarei a eles‖? Não! ―Jesus respondeu-lhes: A hora chegou, o Filho do Homem será
glorificado. Em verdade, em verdade vos digo que se o grão de trigo cair ao solo e não morrer, fica só; mas
se morrer, dá muito fruto‖ (versos 23 e 24). Para ver Jesus é preciso ir para o terreno dele. Que terreno? O
terreno celestial, o terreno da ressurreição. Não é o terreno desta criação; é necessário morrer para entrar
no terreno do Senhor. Não é o terreno desta vida terrena; você deve morrer para esta vida. Aqueles gregos
jamais poderiam ―vê-lo‖ enquanto sua mentalidade estivesse restrita à sua filosofia; enquanto estivessem
apenas desejando ouvi-lo falar de coisas maravilhosas; enquanto estivessem procurando-o como um
milagreiro; enquanto o encarassem simplesmente como uma das atrações da festa judaica, como alguém
que tivesse uma nova filosofia. Eles precisavam deixar completamente este terreno, estas concepções, e
este abandono ocorre por meio da morte; deste modo eles realmente veriam Jesus, mas numa realidade
corporativa: ―... se morrer, dá muito fruto‖. Um grão de trigo transformado em espiga e, depois, numa
colheita. Quando nos tornamos parte do Homem Celestial, por meio da morte e da ressurreição, passamos
a ter a possibilidade de conhecer a Jesus. Você deve deixar o terreno natural se quiser vê-lo. Ele jamais será
compreendido se for contemplado ou estudado apenas como uma figura histórica. Ele é visto através da
morte e ressurreição que se dá juntamente com Ele, no terreno do Homem Celestial.

Isto foi necessário até mesmo com Seus próprios discípulos. Jesus esteve com eles por três anos e meio,
contudo eles não O conheciam, nem O ―viam‖. A partir do Pentecostes, eles passaram a vê-lo e conhecê-lo.
Esta nova forma de conhecimento transcendia em muito aqueles dias da Sua carne (2 Co 5:16).

(c) Em Pedro e os Gentios

Outro exemplo encontramos nos primeiros capítulos de Atos, numa daquelas histórias que ocorreu nos
primeiros estágios da igreja. Pedro estava jejuando e orando; entrou em êxtase e viu o céu aberto e um
lençol descendo. No lençol estavam todos os tipos de animais quadrúpedes e criaturas rastejantes; uma voz
lhe disse: ―Levanta, mata e come‖ (At 10:13). Pedro respondeu: ―Não, Senhor; pois jamais comi qualquer
coisa imunda‖ (verso 14). Num lugar distante dali havia um homem devoto, que possuía pouca luz, que
buscava de todo o coração conhecer mais perfeitamente o Senhor; que estava faminto pelo Senhor, mas
que não sabia o caminho. Em sua busca pelo Senhor, Cornélio foi visitado por um anjo que lhe disse que
procurasse em determinado lugar, em tal e tal endereço, um homem chamado Pedro, e o chamasse. Ele
viria e lhe anunciaria o que precisava saber. Enquanto isso, o Senhor já estava tratando com Pedro em
relação a Cornélio, que não era judeu, que não era de Israel, que estava fora da aliança. Para Pedro,
Cornélio seria como um daqueles répteis, daquelas criaturas rastejantes, um alimento imundo só porque
não pertencia a Israel. Pedro, por isso, responde: ―Não, Senhor...‖. Pedro devia deixar seu terreno velho e
judaico e ir para o terreno do Homem Celestial. Qual é o terreno do Homem Celestial? É aquele onde não
há judeu, nem grego, onde todas as distinções são desfeitas. ―Você não deve fazer tais distinções,
Pedro! Você não deve ficar resistente a isto, dizendo: eu sou judeu e ele, gentil; então nós não devemos nos
relacionar!‖. Relacionamento é a marca do Homem Celestial, e nele todas as diferenças desaparecem.
―Pedro, você deve deixar este seu terreno histórico, tradicional e ir para o âmbito do Homem Celestial‖.

O Senhor deixou muito claro para Pedro o que ele devia fazer, e as consequências seriam muito graves se
ele desobedecesse. Pedro obedeceu e deixou o seu próprio terreno; foi para Cesareia onde se deparou com
uma das maiores surpresas da sua vida, uma vez que descobriu que o Senhor estava lá! Depois ele relatou
aos outros apóstolos que, embora tivesse ido com todo temor e apreensão, encontrou o Senhor lá. Sim, o
Senhor estava no terreno em que Ele próprio havia provido, o terreno do Homem Celestial. Sempre o
encontraremos lá. ―Deixe o seu próprio terreno, e vem para o Meu, e Eu o encontrarei, e lhe revelarei algo
que o surpreenderá‖. E assim Pedro reconheceu: ―quem sou para resistir a Deus? O Senhor derramou Seu
Espírito sobre os gentios, e eu saí do meu terreno e fui para o dele, o terreno do Homem Celestial‖.

(d) Em Paulo e Israel

O que foi verdade para Pedro, também foi para Paulo. Imagino que Paulo precisou de muito tempo para
abandonar completamente seu próprio terreno. Ele agarrou-se a Israel tanto quanto pode. Ao sair para os
gentios, até que se distanciou bastante deste terreno, mas, em certa medida, continuou apegado a Israel.
Lembre-se daquele voto e como sua subida a Jerusalém trouxeram-lhe tantas complicações. Tudo isto foi
fruto de seu apego a Israel, do fato de estimar seus irmãos segundo a carne mais do que os demais. Ele não
renunciou estes afetos tão facilmente. Mas, depois que abandonou completamente este terreno, teve
condições de escrever sua carta aos Efésios. Esta carta é uma expressão gloriosa do terreno celestial
alcançado em plenitude. Efésios trata de nossa posição em Cristo nos lugares celestiais. Fala da estatura da
plenitude de Cristo. Fala do Homem Celestial em plena maturidade. Temos aqui Paulo livre do seu próprio
terreno, do terreno da tradição, do natural, da esperança natural e, agora, no terreno do Homem Celestial,
ele tem uma plenitude a transmitir. Ele diz em palavras tão sublimes que revelam a posição que alcançou:
―E vos revistais do novo homem, que é criado em verdadeira justiça e retidão segundo Deus‖ (Ef 4:24).
Neste terreno celestial não pode haver judeu, nem grego. Tanto o terreno judaico quanto o grego devem ser
abandonados já que, no terreno do Homem Celestial, não deve haver circuncisão, nem incircuncisão. Você
deve deixar estes dois terrenos. No terreno do Homem Celestial não deve haver bárbaro, nem cita, nem
escravo, nem livre, mas Cristo é tudo em todos. Este é o terreno do Homem Celestial.

Todo o Terreno Natural Deve ser Abandonado

Nesta dispensação, Deus não está tratando com os judeus como judeus, nem com gentios como gentios,
embora muitos estejam cometendo o erro de pensar assim. Deus diz ao judeu: ―Você deve deixar sua
condição de judeu e apresentar-se a Mim não como judeu, mas como ser humano e, enquanto você resistir,
não terei nada a dizer para você. Você não terá qualquer luz enquanto persistir em sua rebeldia e em seu
próprio terreno‖. O mesmo deve ser dito a qualquer outra pessoa. Temos que deixar o nosso próprio
terreno, as nossas próprias convicções humanas em todos os sentidos. Da mesma forma que isto se aplica
em relação a nacionalidades, também se aplica a todos os demais sentidos. Você pode dizer ao Senhor: ―eu
sou isto ou aquilo‖; ou: ―eu não sou isto, nem aquilo‖. A questão não é o que você é, mas o que o Filho é; é
isto que conta. Venha para o terreno do Senhor. Ele não o reconhecerá baseado em quem você é, seja bom
ou mau; Ele só o reconhecerá no terreno do Homem Celestial. Ainda que você confesse: ―Sou tão fraco!‖. O
Senhor não o reconhecerá nesta base; Ele somente reconhece quem está no terreno de Seu Filho. É isto o
que o Espírito Santo quer dizer com aquelas palavras que foram escritas por Paulo: ―... fortalecei-vos na
graça que está em Cristo Jesus‖ (2 Tm 2:1). Deus nos ouve exclamar: ―Senhor, sou tão fraco!‖. Mas Ele não
presta a menor atenção ao que queremos dizer com tal confissão, a qual lhe sugere: ―Senhor, desça para o
terreno da minha fraqueza e me tome!‖. Ele responde: ―Você deve abandonar este seu terreno e vir para o
terreno do Meu Filho, então encontrará força‖. ―Senhor, sou tão tolo!‖. O Senhor responde: ―você
continuará tolo enquanto não vier para o terreno do Meu Filho, O qual foi feito sabedoria para você‖.

Isto é aplicado ao longo de toda nossa jornada. Se continuarmos no nosso próprio terreno, esperando que o
Senhor nos tire dele, ficaremos surpresos em constatar que Ele não o fará, nem nos colocará numa posição
melhor se mantivermos esta passividade; Ele jamais fará isso em nosso lugar. Permaneceremos em nosso
próprio terreno para sempre se esta for a nossa atitude. A palavra do Senhor a nós é: ―Abandonem o seu
próprio terreno e venham para o Meu. Eu providenciei um Homem Celestial que é pleno de tudo aquilo
que necessitam; nele há riquezas insondáveis, então venham para este terreno. Não importa o que você é
ou não‖. No terreno do Senhor tudo é ajustado e perfeito.

O Testemunho dos Testemunhos para a Verdade

(a) Batismo

Falaremos dos testemunhos do batismo e da imposição de mãos, como mencionado em Hebreus seis. Estes
dois testemunhos caminham juntos. O batismo significa, por um lado, deixar o terreno de sua própria
natureza, morrer para o seu próprio terreno e ser sepultado. No que concerne ao seu próprio terreno
natural, é decretado: ―Morrestes...‖ (Cl 2:20). Você foi liberto do seu próprio terreno natural. Por outro
lado, em seu batismo, você também ressuscitou com Cristo e veio para o terreno dele, do Homem Celestial.
―Tendo sido sepultados com Ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus,
que O ressuscitou dentre os mortos‖ (Cl 2:12). E o apóstolo prossegue chamando a atenção para o
reconhecimento disto: ―Se morrestes com Cristos para os rudimentos do mundo, por que vos sujeitais a
ordenanças como se ainda estivésseis vivendo no mundo...‖. Morrestes! Você agora está em outro terreno,
no terreno do Homem Celestial. Na ressurreição, você ressuscitou juntamente com Cristo; pensai,
portanto, nas coisas de cima (Cl 3:1).

Para que não sejamos desequilibrados, quero esclarecer afirmações como: ―já que você morreu, não
precisará mais estar debaixo da escravidão do sábado‖. Isto é verdadeiro, mas apenas como algo legal,
como um requerimento da lei, como um sistema legal imposto a você. Você morreu para isto e não mais
está preso a ele. Mas, observe, nós não cremos que um homem ressurreto, um homem espiritual, violará o
princípio do sábado. Não cremos que um homem realmente espiritual fará isto. Há este dia da nossa
semana que é uma porção especial reservada ao Senhor, e que deve ser separada para Ele de todas as
outras em questão de tempo; que tributa a Ele o Seu lugar, por isso reservarmos um espaço livre para as
coisas do Senhor em nossa semana. Este é o princípio espiritual que está por trás da ordenança do sábado.
Eu não posso aceitar, por um momento sequer, que um homem governado pelo Espírito Santo tratará
todos os dias da mesma forma, que transformará o sábado num dia de prazeres e ganhos pessoais. O
Espírito Santo certamente examinaria este homem espiritual nesta questão, ao mesmo tempo que o
manteria livre do sábado como uma ordenança legal, para que este dia seja reservado para Deus e não
como parte de um sistema religioso.

Discorri sobre o sábado, como um parêntesis, para me precaver de más conclusões como: ―Oh, agora posso
fazer o que bem entender porque não estou debaixo da lei‖. Oh não! De modo algum! Nós temos agora o
Espírito Santo em nossa vida ressurreta e, no terreno do Homem Celestial, seremos guardados pelo Senhor
nestas questões.

Concluímos que o batismo estabelece, por um lado, o abandono do nosso próprio terreno natural, através
da morte e, por outro, a nossa migração para o terreno do Homem Celestial em ressurreição.

(b) A Imposição de Mãos

Chegamos à imposição de mãos. Ela é mencionada imediatamente após o batismo em Hebreus seis. Mas
qual é o seu significado? Ela testemunha a nossa inclusão no Homem Celestial Corporativo, num único
Corpo. Um testemunho é trazido por duas, três ou mais pessoas neste ato de identificação que revela que
não somos independentes, mas que somos um corpo coletivo, corporativo, somos o Homem Celestial
Corporativo. O terreno do próprio Senhor foi este da unidade do Corpo, do Homem Celestial Corporativo.
Não há qualquer dúvida de que quando estamos inseridos nesta vida de unidade de Espírito, que é a vida
do Homem Celestial, provamos uma maior plenitude de Cristo. Há sempre algo a mais de Cristo em dois
do que em um. Há sempre algo a mais do Senhor na comunhão do que no isolamento. O Senhor destaca
claramente isto, em Hebreus, quando exorta: ―Não deixeis de reunir como é costume de alguns, mas
exortai-vos uns aos outros; ainda mais ao verem que aquele dia se aproxima‖ (Hb 10:25). Por que está
escrito: ―ainda mais ao verem que aquele dia se aproxima?‖. Porque aquele é o dia da plenitude, o dia da
consumação. O nosso caminhar juntos, com o ―ainda mais‖ em vista, possibilita ao Senhor acrescentar
ainda mais graça até a plenitude final. Precisamos disto tanto mais quanto nos aproximamos do fim, e do
início daquele ―dia‖. O território do Homem Celestial, pessoal e corporativo, é o território que
definitivamente precisamos tomar.

Em Cristo, que é o Homem Celestial, tudo vive. O princípio governante é a vida eterna. Tudo nele tem
vida. Afirmamos que nele a Palavra de Deus é viva. No terreno do Homem Celestial, a Palavra torna-se
vida. Vá para este terreno e provará que tudo realmente está vivo. Deixe o seu próprio terreno e vá para o
terreno do Senhor e você encontrará vida. Ponha isto à prova se quiser. Se você se apegar ao seu próprio
terreno, você morrerá ou permanecerá morto. Você pode dizer: ―Mas, Senhor, sou tão fraco!‖; permaneça
neste terreno e veja se você não morre de vez... ―Senhor, sou tão tolo!‖; permaneça aí e veja se gozará da
vida. O campo do ―o que sou‖ é terreno de morte. Mesmo que se trate do ―eu‖ que presume ser alguma
coisa, isto é, cheio de autossatisfação, autossuficiência, contudo, a realidade é morte. O terreno do ―o que
sou‖ é terreno de morte. Não é o terreno do Homem Celestial. Vá para o terreno do Homem Celestial e
encontre vida. Deixe o seu próprio terreno e aceite o do Senhor, e o resultado será vida.

Se você permanecer aborrecido, ofendido, irritado, guardando ressentimento, morrerá. Não espere que o
Senhor venha até você e lhe suplique: ―Oh, não fique tão aborrecido, não dê muita atenção a isto!‖, o
Senhor não fará nada disso. Ele não nos mima desta maneira. Ele diz a nós: ―Você tem que deixar este
terreno e vir para o Meu! Você morrerá se permanecer no seu!‖. A gente pensa que se conhece, até que
temos outro ataque de raiva e vemos que devemos voltar para o terreno do Senhor para que sejamos
renovados. As realidades celestiais são práticas, e não fábulas. Em qualquer outro terreno, que não o do
Senhor, a morte impera. Se nos separarmos, se deixarmos esta comunhão, esta associação que é o nosso
relacionamento espiritual dentro da vontade de Deus, começaremos a nos perder e a nos tornar como
Tomé. Ficaremos do lado de fora, e nossas vidas se tornarão pequenas, mirradas e miseráveis. O Senhor
não correrá atrás de um Tomé. O Senhor não seguiu Tomé. Quando os outros discípulos chegaram juntos e
Tomé não estava com eles, porque estava escandalizado, o Senhor não foi procurá-lo, a fim de lhe dizer:
―Venha, Tomé!‖. O Senhor encontrou os demais discípulos quando estavam todos juntos, porém, enquanto
Tomé esteve afastado, não viu o Senhor, não entrou na vida, bem como não percebeu quão tolo era. Então
Tomé prostrou-se e disse: ―Senhor meu e Deus meu‖. Esta é a sua confissão por ter sido um tolo.

Se nós nos separarmos e procurarmos qualquer outra causa, morreremos. O Senhor não sairá atrás de
nós. Ele estará dizendo-nos o tempo todo: ―Deixe este terreno de morte e volte para onde posso encontrar-
me contigo‖. Este é o terreno do Homem Celestial. Que o Senhor nos ensine o quão importante isto é.

Capítulo 13 – A Expressão Corporativa do Homem Celestial

Leitura: Ef 3:17–21, 4:1–10.

Nos textos lidos, o Senhor Jesus é apresentado como o Homem Celestial. No capítulo quatro, lemos: ―Ele...
subiu acima de todos os céus...‖; o restante do capítulo discorre sobre o Homem Celestial aqui na terra.

No evangelho de João vimos o Homem Celestial em pessoa, nesta terra e, ao mesmo tempo, no céu. Nós O
encontramos novamente em Efésios, mas desta vez num sentido mais amplo; pois aqui nós mesmos
estamos inseridos nesta expressão corporativa do Homem Celestial, como a Igreja.

Cristo e a Igreja são um, não meramente devido ao seu relacionamento, mas por causa de sua própria vida.
Eles são um em seus recursos, mente, coração, consciência, natureza, leis de vida, propósito, métodos e
tempos. Tudo neles está unido como o Homem Celestial. Não é apenas a unidade que nasce de um
entendimento ou de um acordo, mas é uma unidade orgânica que é fruto de serem a mesma substância, de
apresentarem a mesma essência.
Estamos falando de Cristo como o Homem Celestial, e não como Deus. Nesta expressão corporativa, não
cabe ao Corpo agir no lugar da Cabeça, ou a igreja agir no lugar do Senhor. Não há independência nem
separação de responsabilidades. É o próprio Senhor continuando a Sua própria vida e trabalho através de
Seu Corpo, contudo, em plenitude, há um só Homem. O Senhor não renunciou Sua identidade, não se
transformou numa outra pessoa, mas, a partir de Sua humanidade celestial, Ele comunga Sua própria
substância, constituição e vida a fim de constituir um Corpo unido a Ele, que seja expressão dele mesmo.
Este é o Corpo de Cristo apresentado aqui. Este é o Homem Celestial expresso corporativamente.

O Senhor nunca intencionou que seu Corpo, a igreja, fosse algo em si mesma, separada dele ou uma
associação meramente humana, mas, desde a eternidade, a igreja esteve predestinada a ser ―a plenitude
daquele que a tudo preenche‖. Por isso ela não pode existir separada dele ou estar dissociada do propósito
de Deus nele. Estas afirmações são simples, profundas e muito significativas. Elas esclarecem e
determinam o que a igreja é. Tudo o que leva o nome de ―igreja‖ (na acepção neotestamentária do termo),
mas que não seja uma extensão do Filho neste universo, não tem valor no pensamento de Deus.

Uma Vida Em Cristo

O primeiro aspecto da unidade entre Cristo e a Igreja é que a cabeça e todos os membros tem, pelo Espírito
Santo, a mesma vida. ―Há... um Espírito‖; ―Esforçando-vos diligentemente para guardar a unidade do
Espírito...‖. Há uma única vida pelo Espírito Santo. Somente assim Cristo alcança a Sua plenitude em Seu
Corpo, e a igreja cumpre o propósito divino que motivou sua existência.

Já vimos como o Homem Celestial manifestou-se pessoalmente, e como em cada detalhe Ele foi governado
pelo Espírito. O cumprimento de toda a revelação de Deus a seu respeito foi realizado porque viveu sob tal
governo. Todas as Escrituras apontavam para Ele, e aguardavam o seu cumprimento nele. Ele cumpriu
tudo, até os mínimos detalhes. Teria sido uma missão impossível e esmagadora se a tivesse aceitado
superficialmente. Seria necessário um esforço mental tremendo para que, em cada instante de Sua vida,
lembrasse que era responsável em cumprir tudo o que estava escrito nas Escrituras. Seria uma carga muito
pesada, impossível de suportar. Ele seria a pessoa mais introspectiva que pisou nesta terra. A cada
momento perguntaria: ―Estou fazendo a coisa certa? Estou fazendo de maneira correta? Estou fazendo o
que deveria fazer segundo as Escrituras?‖. Porém, em sua vida, governada pela unção e sob o controle do
Espírito Santo, toda a revelação foi cumprida espontaneamente, por meio de uma consciência interior que
tinha através do Espírito Santo daquilo que era, e do que não era, a mente de Deus para cada situação.

O que foi verdade sobre Ele pessoalmente, deve ser verdade corporativamente. Deus projetou em seu
conselho eterno, concernente a Jesus Cristo, uma revelação de grande significado, um grande sistema
espiritual, centrado nele e que deve ser expresso corporativamente como foi pessoalmente. Mas como é
possível cumprir esta expressão em nós? Somente com a operação da mesma vida que está em todos pelo
Espírito Santo. É isto que dá força à exortação encontrada na mesma carta: ―... enchei-vos com o Espírito‖
(Ef 5:18). Isto dá significado real e valioso a todo o ensino concernente ao Espírito Santo como: receber o
Espírito, andar no Espírito e ser conduzido pelo Espírito. Somente assim a intensão do coração de Deus, a
respeito de Seu Filho, poderá ter realização plena no Seu Corpo. Quão necessário é para todos nós
vivermos no Espírito. Não é suficiente apenas alguns viverem no Espírito; é imperativo que todos vivam
assim; e que ninguém ande na carne.

Uma Vida Inter-relacionada e Interdependente

O segundo aspecto, que exige bastante comprometimento, é a necessidade do reconhecimento e de uma


diligência em manter a vida inter-relacionada e interdependente que há entre todos os membros do corpo.
É algo que deve ser considerado, reconhecido e, então, ser praticado e mantido com diligência. Todos os
membros de Cristo estão interligados; há uma inter-relação e interdependência. Nós não somos partes
separadas, isoladas ou meros indivíduos; estamos todos relacionados; e não apenas isto, todos
dependemos uns dos outros. Em relação ao propósito de Deus, não podemos fazer nada sem o outro. Em
qualquer outra esfera, até que podemos fazer algo sem o nosso irmão. Se estivéssemos vivendo no plano
natural, até diríamos a algumas pessoas que podemos viver sem elas ou fazer algo sem elas, porém, à luz do
propósito de Deus, vivemos de forma interdependente; descobrimos que precisamos uns dos outros, que
somos dependentes uns dos outros para que haja a plenitude de Deus. Sobre este fato, entendemos o valor
da expressão: ―para que possais compreender com todos os santos...‖ (Ef 3:18). Nós não compreenderemos
todo o conselho de Deus se estivermos isolados. Nenhum de nós sozinhos jamais compreenderá todo
desígnio de Deus. Precisamos da ajuda de todos os santos para compreendermos os caminhos de Deus
juntamente com eles.

Esta não é apenas uma afirmação de um fato, é também uma verdade que nos prova. Nós dizemos: ―Bem,
temos visto o Corpo de Cristo, temos visto a igreja‖. A prova de que realmente enxergamos a importância
da igreja manifesta-se se passamos a viver em interdependência. Se algum de nós tiver a atitude de
desprezar outro membro de Cristo, ou tiver espírito divisivo, dá provas que nunca enxergou a realidade do
Corpo de Cristo. Talvez tenha visto alguma coisa, tido algum vislumbre, mas não o Corpo de Cristo; ainda
não viu que este Corpo é a plenitude de Cristo. Todos os santos precisam desta plenitude. O Senhor Jesus,
em Sua própria maneira, de forma parabólica, apontou estes princípios e leis o tempo todo: ―Vede, não
desprezeis nenhum destes pequeninos...‖ (Mt 18:10); ―Quando não o fizestes a um destes
pequeninos...‖ (Mt 25:45). A igreja não é apenas uma comunidade ou fraternidade; estamos frente a frente
a uma lei que exige a unidade de todos os santos para que cheguemos à plenitude de Cristo, para que
possamos expressá-la. Se temos visto a igreja de Cristo, também devemos ver a interdependência de todos
os membros, e devemos viver na base da unidade do Corpo.

O apóstolo exorta-nos à diligência em relação a isto. Precisamos reconhecer que o Corpo é um e, então,
empregarmos toda diligência para guardar a unidade do Espírito. Imagino que o apóstolo, ao escrever sua
carta, estava bem consciente de quanta diligência era necessária aos cristãos. Ele sabia quão facilmente os
cristãos abrem mão uns dos outros, tomam atitudes independentes, ou nem mesmo solicitam a ajuda dos
próprios irmãos; quão facilmente se isolam, tomam atitudes e decisões descuidadas e tampouco se
empenham em guardar a unidade.
A manutenção da unidade é necessária. É nos exigido um forte compromisso para isto. Não significa
apenas desejarmos, querermos, considerarmos como bom ou necessário, mas implica num real
comprometimento. Exige que apliquemos diligência para guardar a unidade do Espírito.

É isto o que significa: ―vos renoveis no espírito do vosso entendimento‖, que se dá quando nos vestimos do
―novo homem‖, do Homem Celestial. Assim, no contexto, imediatamente segue a exortação prática:
―Portanto, deixando de lado toda a falsidade, falai a verdade uns aos outros, pois somos membros uns dos
outros‖. O renovar do espírito da nossa mente desenvolve-se à medida que falamos a verdade uns aos
outros, à medida em que deixamos toda falsidade. Por que falar uma mentira? Nós não faríamos isto
deliberadamente. Qual seria o ganho em se falar algo que não é verdadeiro? Qual seria o sentido de minha
mão esquerda lançar uma injúria contra a minha mão direita, sabendo que no final ambos irão
sofrer? Similarmente ―somos membros uns dos outros‖. Na outra mente, na mente do velho homem, há
um vácuo a respeito desta vida corporativa, desta interdependência e deste inter-relacionamento que
reconhece que todos são necessários e indispensáveis. Você pode colocar as pessoas para fora deste
terreno; pode livrar-se delas, pode alcançar o seu objetivo, pode obter alguma vantagem em apenas ignorar
a verdade. Contudo aqui estamos tratando com uma entidade que não deve viver em conflito, que não pode
ser constituída de coisas diferentes, mas existe como uma única realidade. Precisamos ser renovados no
espírito da nossa mente, vestindo-nos deste Homem Celestial Corporativo.

Estes versículos novamente são dignos da nossa atenção à luz do que estamos falando: ―Se é que o tendes
ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus; que, quanto ao trato passado, vos despojeis
do velho homem que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa
mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por
isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos
outros‖ (Ef 4:21-25). Esta é a mente renovada do ―novo homem‖, que é renovado no espírito do princípio,
da lei, da realidade do inter-relacionamento e da interdependência.

Eu preciso de você; você é indispensável para mim. Eu jamais poderei realizar o meu destino, o propósito
da minha existência, separado de você. Diante disto, por que mentir? O nosso destino, o propósito da nossa
existência e a realização de nossos objetivos depende um dos outros; e se, mesmo assim, tivermos um
relacionamento falso ou mentiroso, que contradição! Veja a força destas palavras: ―Somos membros uns
dos outros‖, portanto, ter uma só mente e falar a verdade uns aos outros é a marca do ―novo homem‖, do
Homem Celestial, que possui uma só mente. Mentiras são próprias daqueles que são inimigos.

Dons em Cristo

O terceiro aspecto para a realização e expressão progressiva deste Homem Celestial, na eternidade e no
tempo, refere-se à concessão de dons pelo Cabeça: ―Ao subir às alturas, levou cativo o cativeiro e deu dons
aos homens. Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus para preencher todas as
coisas‖ (Ef 4:8,10). O Homem Celestial em pessoa, como a cabeça, concede dons ao seu corpo para que
haja uma realização e expressão progressiva de Si mesmo na qualidade de Homem Celestial corporativo.
Olhemos mais de perto os versos nove e dez. Eles revelam que Cristo desceu antes de subir. Seu início não
foi aqui. Antes que ascendesse, Ele desceu. Com Sua encarnação, o Homem Celestial desceu e esteve aqui
entre os homens; mas sua origem é o céu. Após descer, Ele subiu, a fim de preencher todas as coisas. Todo
o universo deve ser preenchido com o Homem Celestial corporativo.

Com este pano de fundo, podemos apreciar melhor o significado dos dons. O preenchimento de todas as
coisas pelo Homem Celestial está relacionado com o aumento do corpo. Este capítulo é parte de um todo.
Cristo não está aqui separado do Seu Corpo. Tanto o Homem Celestial em pessoa quanto o Homem
Celestial Corporativo são anunciados juntos como realidade de um mesmo propósito. No início da carta, o
apóstolo mostrou como antes dos tempos eternos, Deus planejou que este Homem Celestial viria do céu até
aqui e, mesmo estando aqui, ainda continuaria no céu (Jo 3:13). Agora Ele, pessoalmente, será a plenitude
universal, e esta plenitude será alcançada através da igreja: ―... a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, por
todas as gerações, para todo o sempre‖ (Ef 3:21). Para este preenchimento universal, haverá o aumento do
Corpo: ―... no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor‖ (Ef 2:21). Na carta
aos Colossenses há um texto paralelo: ―... todo o corpo, suprido e organizado pelas juntas e ligamentos, vai
se desenvolvendo segundo o crescimento concedido por Deus‖ (Cl 2:19).

Ele preencherá todas as coisas por meio do Seu Corpo, que é a Sua plenitude. Por isso o Corpo deve
crescer, aumentar, desenvolver em estatura, até que chegue à plena medida de Cristo. É visando este
crescimento que os dons celestiais são dados pelo Homem Celestial a este Corpo celestial.

Esses dons são, na realidade, uma medida de Cristo: ―Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a
medida do dom de Cristo‖ (Ef 4:7). Os dons são uma medida de Cristo e, portanto, são todos destinados a
produzir a plenitude de Cristo, a levar-nos a esta plenitude. Em sua natureza, os dons comunicam uma
medida da vida de Cristo ao Seu corpo. Eles servem para constituir a medida plena. Tendo compreendido
isto, podemos olhar para os dons mencionados.

Autoridade em Cristo

―Ele deu uns para apóstolos...‖ (não está dito ―para ser‖ apóstolos). Precisamos conhecer o que o apóstolo
representa como medida de Cristo. Qual é o seu lugar para promover a plenitude de Cristo por meio do
Corpo, da igreja, o Homem Celestial Corporativo? É importante observar que o apóstolo é o primeiro
citado devido ao seu valor. O que são apóstolos? Há uma palavra que expressa seu significado que é
―autoridade‖. A autoridade vem primeiro.

Sabemos que, etimologicamente, a palavra apóstolo significa ―enviado‖. Note sua ocorrência na Palavra de
Deus. Tome esta palavra e veja o contexto em que é usada. Olhe, por exemplo, a parábola do proprietário
que plantou uma vinha (Mt 21:33-41). Ele enviou seus servos aos lavradores a fim de receber os frutos. Eles
foram em sua autoridade, em seu nome, mas os maus lavradores espancaram-nos, desprezaram
completamente a autoridade do proprietário. Como você sabe, a aplicação a Israel é clara. A lição da
parábola é que eles estavam recusando reconhecer a autoridade de Deus em Cristo. Quando o próprio dono
da vinha vier para tratar da situação, ele destruirá os lavradores. Baseado em que fará isso? Será porque
não obteve sua parte nos frutos? Não! Ele os destruirá porque eles recusaram-se reconhecer a autoridade
investida no filho: ―...ele enviou-lhes o seu filho...‖ (Mt 21:37). Onde quer que encontre a palavra ―enviado‖
do Senhor, você notará Sua autoridade. Isto é um apóstolo.

Ao se considerar cuidadosamente a questão do apostolado, conclui-se que um apóstolo está revestido de


autoridade. Um apóstolo era um servo do Senhor especialmente constituído para esta função. Havia uma
condição específica para que alguém fosse constituído apóstolo (no que concerne aos doze); um apóstolo
devia ter visto o Senhor ressurreto. Ninguém poderia ser apóstolo se o Senhor não tivesse aparecido a ele,
pois tal seria uma testemunha ocular do Senhor ressurreto. Este conhecimento em primeira mão investia
um apóstolo de autoridade. O Senhor ressurreto deveria ter aparecido pessoalmente a ele.

Na carta aos Hebreus, lemos que o Senhor Jesus é descrito como Apóstolo e Sumo Sacerdote (Hb 3:1). A
própria frase nos remete, de imediato, aos escritos de Moisés, e percebemos a correlação estabelecida por
Deus entre Moisés e Arão. Moisés, como apóstolo, e Arão, como sumo sacerdote, representam dois
aspectos do Senhor Jesus. Moisés representa autoridade. Desde o início, quando Deus começou usá-lo, até
o fim, Moisés representou a autoridade de Deus. A vara de Moisés tornou-se a vara de Deus e, por meio
dela, a autoridade de Deus foi mostrada. A autoridade de Deus estava tão investida em Moisés que Deus
chegou a dizer-lhe: ―...tu serás para ele – Arão – como Deus‖ (Êx 4:16).

Mais tarde, observamos como tudo isto funcionava. Quando alguns tentaram destituir Moisés, ou assumir
a posição dele, veja como a autoridade era reivindicada. Moisés nunca precisou defender sua
posição. Quando a disputa se levantava em relação a sua posição, como era o mais manso entre os homens,
Moisés apenas dizia ao Senhor: ―Senhor, estou aqui devido a Tua própria autoridade ou não? Tenho me
agarrado a esta posição? Tenho buscado autoridade própria ou é o Senhor quem me tem colocado aqui
com autoridade? Deixo este assunto contigo para que fique conhecido se a minha posição vem de mim
mesmo ou se és Tu quem me nomeaste‖. Então o Senhor convocou o povo à porta do tabernáculo e tomou
a causa de Moisés, e você sabe o que aconteceu. Isto se deu devido ao que ele representava como apóstolo.

―Toda autoridade é me dada no céu e na terra. Portanto, ide…‖ (Mt 28:18). Assim, um apóstolo é alguém
que possui autoridade divina para o estabelecimento e o avanço do testemunho divino. Vemos isto em
Moisés. O Senhor apareceu a Moisés e falava-lhe face a face. Nenhum outro desfrutou tal privilégio.
Embora os hebreus tivessem subido a montanha, não foram ao mesmo lugar que Moisés. Era com Moisés
que o Senhor falava como um homem fala a seu amigo, face a face. Moisés liderava Israel na seguinte base:
―... o Senhor falava a Moisés...‖ (Nm 12:7). Ao final da edificação do tabernáculo, há todo um capítulo no
qual sete ou oito vezes aparece a seguinte frase: ―... o Senhor ordenou a Moisés‖. Isto fala da autoridade
absoluta que tinha vindo através de Moisés, o apóstolo de Deus. Com tal autoridade, Moisés estabeleceu e
manteve o testemunho; a autoridade que recebeu era para este propósito.

Veja, agora, o apóstolo Paulo, que talvez se destacou até mais que os doze. Perceba que sua comissão e
autoridade eram, acima de tudo, para estabelecer e manter o testemunho em todos os lugares. Ele fala aos
coríntios que se os visitasse na base da autoridade que possuía, isto não seria bom para alguns deles,
porque ele estava investido com a autoridade de Deus para manter puro o testemunho.

No apostolado vemos o fator da autoridade celestial de Cristo no Homem Celestial Corporativo. Este dom é
exercido por indivíduos. O ponto principal é que a autoridade é uma característica do Homem Celestial, e
que está ativa na igreja. Estamos face a face com o fato de que Cristo, em Sua autoridade celestial, está na
igreja para o estabelecimento e a manutenção de Seu testemunho. Onde estiver o testemunho do Senhor,
pelo Espírito Santo, então estará a autoridade do Senhor e as pessoas devem reconhecê-la.

Temos que ponderar todas estas coisas em nossos corações, aplicá-las em nossas próprias vidas e
compartilhá-las com nossos irmãos. Como servo do Senhor, talvez você não entenda exatamente como se
processa a execução da autoridade de Cristo em Seu Corpo. Uma vez que você é inserido, pelo Espírito
Santo, nesta expressão corporativa de Cristo, torna-se responsável pelo testemunho do Senhor onde estiver
e, se violar este testemunho, certamente sofrerá as consequências. Não é possível estar ligado ao
testemunho e isento das implicações. Se você violar o testemunho da unidade do Corpo de Cristo, uma vez
que entrou em real contato com ele, você morrerá. Pode até ser morte física. Você pode ter um final
trágico. Sem dúvida alguma você passará por sofrimentos e castigos; já que não está inserido numa mera
associação humana; você encontra-se num terreno onde o cumprimento do propósito eterno está em jogo.
O Espírito Santo está profundamente comprometido com esta realização, por isso promove o apostolado,
fazendo com que a autoridade de Cristo esteja presente e atuante. Desta forma entendemos aquelas
palavras na primeira carta aos coríntios: ―Por esta causa há muitos fracos e doentes entre vós, e alguns que
já dormiram‖; ―não discernindo o Corpo do Senhor‖ (1 Co 11:29-30). Você está num terreno onde os
assuntos não são tomados como mera doutrina, como uma organização, como algo humano com o qual
você pode fazer o que quiser. Você está numa esfera onde a autoridade de Cristo é uma realidade operante.
É uma atitude terrível entrar na Casa de Deus sem estar disposto em conformar-se adequadamente.

Este é um lado terrível. Mas há outro lado que dá descanso e segurança ao coração para aqueles que
carregam as responsabilidades adicionais na casa de Deus; onde é possível dizer: ―Bem, nós não
precisamos suportar toda a responsabilidade que está devidamente nas mãos do Espírito Santo, na
autoridade de Cristo, para confrontar tudo aquilo que é contrário à verdade, e à lei da casa de Deus‖. Não
precisamos ficar ansiosos, neste sentido, por ser esta a nossa responsabilidade. O Senhor celeste colocou
uma operação de Sua autoridade na igreja. Pode haver oposição a esta autoridade confinado no vaso. O
inferno se opôs, como em Filipos, em Éfeso, ou em muitos outros lugares, e de fato resistirá e se oporá
fortemente. Mas qual é o ponto? A autoridade de Cristo sempre triunfa.

O estabelecimento do testemunho por todo o Império Romano através do apóstolo Paulo é uma
maravilhosa manifestação do supremo senhorio de Jesus Cristo sobre todos os poderes. Não se tratou
apenas de superar a filosofia humana, de vencer os preconceitos e as dificuldades que havia entre os
homens; tratou-se da conquista sobre as terríveis forças do inferno. Forças cósmicas são abatidas e
derrotadas quando o testemunho é estabelecido através de um apóstolo. Isto é uma consequência da
autoridade celestial de Cristo no Corpo, pelo Espírito.
A Mente de Deus em Cristo

Agora, o que são os profetas na assembleia? Na palavra, o profeta é o instrumento que expressa a mente do
Senhor e que geralmente contradiz a mentalidade humana. Bem oportuna é o verso que já observamos: ―...
sejais renovados no espírito de vossa mente...‖ (Ef 4:23). No Homem Celestial Corporativo, no Corpo, a
mente do Senhor deve predominar, operar e ser suprema. A mente do Senhor é a única mente neste novo
homem, neste Homem Celestial. Você deve ser renovado no espírito da sua mente se quiser conformar-se à
mente do Senhor. A mente do Senhor é comunicada através de um instrumento chamado profeta. Ele é o
intérprete da mente do Senhor. Ele traz para o Corpo o conhecimento da mente do Senhor. Isto exige a
renúncia ou abandono da mente humana.

Os profetas do Velho Testamento confirmam o que acabamos de dizer. Ao estudá-los, descobrirá que eles
comparecem diante do povo e se posicionam em favor dos direitos de Deus em Sua Casa. Estes direitos
estavam sendo ignorados pelo povo. A mente do homem estava substituindo a de Deus, e isto tem como
fim o mal, o juízo, de modo que, não demorava muito para que o Senhor instigasse os inimigos de Israel.

Tome Elias como exemplo. Elias se destaca entre os profetas principalmente por posicionar-se em favor
dos direitos de Deus. No monte Carmelo deu-se aquele grande conflito entre os direitos de Baal e os
direitos de Deus em relação a Israel. Elias é um instrumento para o estabelecimento dos direitos de Deus
de forma absoluta, para a destruição total daquela outra mente representada nos profetas de Baal. Aqueles
direitos são expressos segundo a mente de Deus para o Seu povo e, assim, todos os profetas resgatam a
mente de Deus, interpretam-na, mantêm-na perante o Seu povo e batalha em favor dela, para que Deus
tenha o Seu lugar, para que tenha tudo em submissão à Sua mente.

A profecia é uma operação do Homem Celestial em Seu Corpo, a fim de manter tudo em conformidade à
mente de Deus. Não estou referindo-me a pessoas que, costumeiramente, chamamos de profetas. Não me
refiro ao título, mas à função. O funcionamento vital é o que tenho em mente. Um cristão estará cumprindo
o ministério de profeta desde que seja ungido e capacitado pelo Espírito Santo para preservar os
pensamentos de Deus no meio do Seu povo, a fim de fazê-lo com que conheça a Sua mente, de tal modo
que Deus tenha o Seu lugar de honra e Seus direitos respeitados; bem como manter todas as demais
mentes submissas.. Nós estamos tão acostumados a começar pela outra extremidade, com a linha técnica,
doutrinária das coisas, como aquela de nomear profetas. Olhemos para a função, não para o homem, e
vejamos que é Cristo o Profeta, e que nesta qualidade Ele ministra através de algumas pessoas as quais Ele
inspira para expressar a mente divina, bem como a Si mesmo. É perfeitamente possível combinar essas
funções em um só indivíduo.

O Coração de Deus em Cristo

E o que são os evangelistas? Numa palavra, o evangelista é aquele que torna Deus conhecido através do
evangelho, que proclama o coração de Deus com graça. A função do evangelista é obter material, que são
vidas humanas, para a edificação do Homem Celestial Corporativo. Assim, começamos com a autoridade
de Cristo, vendo Cristo no lugar de suprema autoridade e acima de todos os céus. Então, temos a mente de
Deus em Cristo. E aqui temos o coração de Deus em Cristo. O evangelho da graça destina-se a ―ajuntar
material‖ ou ganhar vidas para o aumento do Homem Celestial.

Recursos de Deus em Cristo

Por fim chegamos aos pastores e mestres. Eles são colocados juntos. O material está sendo reunido, o
Homem Celestial corporativo está sendo edificado e chegando à Sua plenitude eterna. Embora os
evangelistas estejam reunindo o material e o Homem Celestial esteja progressivamente sendo edificado, a
próxima necessidade é por pastores e mestres, e o alvo aqui é o ajustamento e a adequação do Homem
Celestial. O ajustamento é trazido por meio do ensino, da instrução. O propósito da instrução é o de
ajustar-nos, posicionar-nos para o nosso funcionamento correto, e levar-nos a uma compreensão mais
profunda de Cristo, a uma maior intimidade com Ele e com os nossos irmãos nele. A instrução tem a ver
com questões tais como os recursos do cristão em Cristo, e tudo o que está disponível no Homem
Celestial. Esta é a obra do mestre. O pastor é aquele cuja função é a de ajustar, cuidar, apascentar e
nutrir. O que temos aqui é a edificação pelo correto ajustamento à verdade revelada.

O apóstolo, o profeta, o evangelista, o pastor e o mestre são dados para que o Homem Celestial
Corporativo, em pleno desempenho destas funções, promova a mútua edificação, que visa o
aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação de Si mesmo. O resultado do
exercício destes dons deve ser a edificação e o ministério mútuos. Ao usufruirmos dos benefícios desta
ministração em Cristo, temos que fazer tais benefícios tornarem-se uma ministração mútua, de modo que o
Corpo seja edificado, expanda-se com o aumento de Deus, com cada parte trabalhando na medida certa.

Se isto soa técnico demais para você, rogo que abandone suas doutrinas, bem como qualquer sistema,
tradição que julgue ser verdadeiro e passe a olhar somente para o Senhor. Foque no Senhor e veja que a
coluna dorsal que governa o agir de Deus é a manifestação de Cristo em plenitude de vida e expressão cada
vez maiores neste universo através da igreja, que é o Seu Corpo.

Capítulo 14 - Judas – A Habitação de Satanás versus O Homem Celestial – A Habitação de


Deus

Leitura: Jo 13:21–33; Ef 3:17–19; Cl 1:25–27.

Veremos o contraste entre o Senhor Jesus com primeiro Adão, bem como tudo o que se seguiu devido sua
queda, como a condição humana foi afetada e como a desobediência de Adão maculou este universo e a
criação. Este ato de desobediência abriu a porta para as forças do mal que já estavam à espreita,
aguardando por um acesso. O próprio Adão foi a porta. Ele abriu a porta em sua desobediência e as forças
do mal invadiram a criação de Deus e se posicionaram com grande força a fim de produzir um grande
estrago e oposição a Deus. Tudo isto ocorreu de forma poderosa e terrível. Diante dos poderes das trevas, e
de todo estado destrutivo por eles implantado, e de todas as consequências decorrentes, o Senhor Jesus foi,
e é, a solução de Deus. Havia um segredo sobre Jesus que somente inteligências espirituais poderiam
discernir, e o segredo era que Deus estava nele. Ele era um Homem, porém, muito mais do que isto, era
Deus. Nestas meditações, o nosso foco concentra-se naquilo que o Senhor Jesus é como Filho do Homem,
como Homem-Deus, o Homem Celestial, em quem Deus estava e está. Este segredo, este mistério oculto
desde todas as eras, oculto dos homens, é o maior fator que deve ser reconhecido.

O principal objetivo do inimigo em relação ao Senhor Jesus era romper o relacionamento divino que Ele
mantinha com o Pai. Ele procurou fincar uma cunha, para que, de alguma forma, o Senhor Jesus saísse
daquele terreno da íntima e profunda comunhão que tinha com o Pai. O significado das tentações no
deserto é que se constituíram numa tentativa de implantar esta cunha, a fim de fazer o Senhor Jesus tomar
decisões independentes do Pai, movendo-se para Seu próprio terreno humano. O inimigo sabia muito bem
que se tão somente conseguisse fazer com que Jesus agisse desta maneira, ele conseguiria com o último
Adão aquilo que conseguiu com o primeiro. Ele teria confirmado seu domínio e obtido, novamente, o
senhorio. O segredo da vitória de Jesus foi que Ele não negociou sua dependência do Pai. Ele preservou sua
atitude de ser governado pelo Pai, que habitava dentro dele. A vida do Homem Celestial, do Filho do
Homem, é uma prova cabal das próprias palavras que Ele mesmo pronunciou: ―Não credes que eu estou no
Pai e que o Pai está em Mim?‖ (Jo 14:10,11). Foi nesta base que Jesus viveu Sua vida e enfrentou o inimigo
e, por ter permanecido nela, o inimigo foi incapaz de destruí-lo.

Satanás empreendeu muitas tentativas a fim de destruir o Senhor Jesus, até mesmo usando diretamente
homens, mas era impossível vencê-lo enquanto Ele permanecesse no Pai, e Ele permaneceu até o fim.
Jesus triunfou devido a este relacionamento interior com o Pai; no qual Ele vivia voluntariamente,
consciente e persistentemente. O Pai estava nele, e Ele e o Pai eram um. Ele habitava no Pai, e o Pai, nele.

O Filho de Deus encarnado foi o grande e maravilhoso segredo que os homens não podiam compreender.
Ele mesmo disse: ―... ninguém conhece o Filho, exceto o Pai...‖ (Lc 10:22). João, ao escrever sua epístola
muitos anos depois, disse: ―... o mundo não nos conhece, porque não conheceu a Ele‖ (1 Jo 3:1). O mundo
não O conheceu. Em Sua própria oração, registrada por João, temos as seguintes palavras: ―Pai justo,
embora o mundo não Te conheça, Eu Te conheço...‖ (Jo 17:25). A glorificação dele ocorreria na base deste
relacionamento secreto. A glorificação do Senhor Jesus estava ligada a este segredo.

Desejamos entender o significado da glorificação do Filho, da glorificação do Homem Celestial.


Retomaremos, inicialmente, a questão do Homem Celestial como pessoa e, então, constatar como a mesma
realidade aplica-se ao Homem Celestial Corporativo.

―Tendo Jesus saído, disse: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é
glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar‖. (Jo 13:31,32). Não
devemos preocupar-nos em entender tudo deste texto. Ele soa truncado e difícil. Tomemos apenas a
declaração central: ―Agora o Filho do Homem é glorificado, e Deus é glorificado nele‖. É na palavra ―agora‖
que tudo se apoia. O Senhor Jesus conferiu um profundo significado a esta pequena palavra. A que ela está
se referindo? ―Quando Judas saiu, Jesus disse: Agora o Filho do Homem é glorificado‖.
O Homem natural Rejeitado

Confesso que Judas foi um problema para mim por muitos anos, mas agora o compreendo melhor e a
passagem abaixo nos dará uma pista. O problema surge quando o Senhor Jesus declara que Ele conhecia
aqueles a quem havia escolhido: ―Não escolhi a vós, os doze? Todavia um de vós é o diabo‖ (Jo 6:70). Ele
escolheu Judas e o trouxe para junto de si; concedeu-lhe as mesmas vantagens e privilégios que os demais;
todos os doze desfrutavam dos mesmos benefícios. Não há qualquer sinal de parcialidade. Jesus tratou
Judas exatamente como os demais, sem o excluir de qualquer projeto que envolvia os demais. Judas
testemunhou muitas coisas que Jesus fez. Jesus sabia muito bem que tipo de pessoa Judas era. Todo este
pano de fundo está por trás da declaração: ―Agora o Filho do Homem é glorificado‖.

Farei o melhor que posso. Gostaria de ter linguagem e sabedoria para expressá-lo de modo que o seu
coração fosse capturado como foi o meu; pois estou interiormente exultante com aquilo aprenderemos.
Primeiramente, vemos que todos os homens se beneficiam da bondade de Deus: ―... Porque o Pai faz com
que o seu sol se levante sobre maus e bons, e que a chuva caia sobre justos e injustos‖ (Mt 5:45). Deus é
imparcial, Ele não faz acepção de pessoas. Ele permite que todos os homens desfrutem dos Seus benefícios.
Ele manifesta sua grande bondade aos homens incrédulos, rebeldes e ímpios. Ele não discrimina ninguém.
Todos os homens tem a oportunidade de conhecer a Sua bondade. O homem é representado aqui em Judas
que, de modo figurativo, está diante do Senhor, usufruindo dos mesmos benefícios que o Senhor oferece
àqueles que são seus. As portas estão abertas para Judas, ele pode entrar quando quiser. O Senhor não
demonstra qualquer parcialidade. Qualquer homem pode provar e viver sob a beneficente, misericordiosa e
graciosa vontade, propósito, pensamento e desejo de Deus.

O homem tem sido provado sob diversas condições desde o princípio. Primeiramente, ele foi testado em
seu estado de inocência. E qual foi o resultado? Fracassou. Então, em seu estado caído, foi provado sem a
lei. E como se saiu? Fracassou de novo. Então foi provado debaixo da lei, e fracassou como antes. O homem
fracassou sob todas as condições. Ele tem sido provado por Deus em cada estado e condição, e tem
fracassado completamente vez após vez. O fim sempre tem sido uma tragédia. Não importa que atitude
Deus tome em relação ao homem, em si mesmo ele é um fracasso e sempre obterá um final trágico.

Olhe para Israel. Qual é a atitude do Senhor em relação a esta nação? Quão maravilhosa é a maneira com
que o Senhor lidou com Israel. Veja a paciência e a bondade de Deus para com Israel, a base sobre a qual
Israel foi colocada diante dele. É como se Deus dissesse: ―Você tem apenas que mostrar fidelidade a Mim
para receber imediatamente a benção‖. Alguns de nós gostaríamos de poder obter a benção tão
instantaneamente quanto Israel, quando Israel era fiel ao Senhor. Eles foram sujeitos a cuidados especiais,
porém fracassaram. A condição e tratamento que receberam estão figurativamente colocados na figueira
infrutífera que, apesar de anos de cuidado, não frutificava. A justiça exigia que ela fosse cortada sem
demora, porém, ainda mais uma outra oportunidade lhe foi dada: ―Permita que cavemos ao redor dela e
coloquemos adubo ainda este ano‖ (Lc 13:6-9). Deus estendeu sua bondade por mais um tempo, no
entanto, houve mais um grande fracasso. Assim é o homem; mesmo quando provado sob todas as
condições, colocado em contato com a vontade beneficente de Deus, ainda assim é um fracasso.
Judas expressa o homem em sua condição natural, a quem está disponível tudo aquilo que Deus possui. Ao
homem está disponível toda a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, contudo, em si mesmo, é o mais
terrível fracasso, pois quando atinge o seu máximo, trai o seu Senhor. Não há esperança para o homem
natural. O homem, em si mesmo, embora sujeito às misericórdias de Deus dispensadas a ele, tem este final
terrível. Diz o salmista: ―Até meu amigo íntimo, em quem tanto confiava, que comia do meu pão; levantou
contra mim seu calcanhar‖(Sl 41:9). Assim faz o homem em meio a tanta riqueza da graça de Deus.

Então aqui está Judas, representando todo aquele que foi posto em contato com a bondade do Senhor, que
tem acesso a todas as bênçãos, do mesmo jeito que estão acessíveis a todo restante do povo do Senhor,
contudo sempre reagindo em ingratidão. Este é o quadro do homem em si mesmo. Não é isto verdade? O
pleno desenvolvimento do velho Adão, do primeiro Adão, em quem Deus não habita, é aqui mostrado a
nós. Exatamente no ponto onde este homem está, cercado por todas as vantagens, por todas as facilidades,
por todas as bênçãos, por todas as oportunidades, por tudo aquilo que podia ter lhe pertencido, exatamente
neste ponto, este homem sai e trai o seu Senhor: ―...e era noite‖ (Jo 13:30). Há um significado muito
profundo nesta expressão.

A Eleição do Homem Celestial de Deus

Imediatamente após Judas ter saído, o Senhor Jesus diz: ―Agora o Filho do Homem é glorificado‖. O que
isto significa? Esta é a resposta de Deus a tudo aquilo. Deus possui outro Homem que será glorificado, que
terá um destino completamente diferente daquela tragédia, daquela calamidade escura. Deus preparou Seu
próprio Homem para assumir o lugar daquele outro, tão logo alcance seu terrível fim. Você compreende o
que é revelado com o fim de Judas? Quando ele sai, Deus exalta o Seu Homem que será glorificado.

Agora você consegue entender por que o Senhor Jesus escolheu Judas? Você entende por que só quando
Judas saiu é que o Senhor pôde dizer: ―Agora o Filho do Homem é glorificado?‖. Temos um que representa
o homem adâmico e vemos qual é o seu fim a despeito de toda graça e misericórdia que Deus lhe oferece.
Enquanto viver nesta condição, é isto o que alcançará. Apenas quando esta natureza, este homem, esta raça
vem à tona em sua plena terribilidade, em sua plena manifestação, erguendo o seu calcanhar e traindo o
Deus que o criou; é apenas quando este homem atinge o seu clímax e vai para as trevas, para a noite eterna,
que Deus começa o Seu novo dia, exaltando o Seu novo Homem para assumir o lugar que lhe é devido.

Qual é o segredo? Que tipo de homem será glorificado? Vimos o homem que não pode ser glorificado, que
vai para as trevas. Que tipo de homem será glorificado? Qual é o princípio e o segredo de Sua
glorificação? É aquele que é habitado por Deus. Qual é o significado da glorificação do Senhor Jesus? É a
manifestação do Pai nele; é a manifestação daquele segredo que O torna diferente do outro tipo
representado por Judas. A esperança e a certeza da glória no caso de Jesus era o Pai habitando nele. ―Agora
é o Filho do Homem glorificado, e Deus é glorificado nele‖. Esta é uma declaração ampla a respeito da
glorificação do Filho do Homem. É significativo que esta declaração é encontrada no evangelho de João,
onde o Senhor Jesus é preeminentemente revelado como o Filho de Deus.
A Glorificação do Homem Celestial Corporativo

Hoje podemos desfrutar dos benefícios e do poder que o Homem Celestial pessoal transfere ao Homem
Celestial corporativo. O apóstolo diz: ―para que Cristo habite em seus corações pela fé...‖ (Ef 3:17); ―...Cristo
em vós, a esperança da glória...‖ (Cl 1:27). Lemos em Efésios que somos ―... habitação de Deus no Espírito‖
(Ef 2:22). Quais são as consequências disto? Este novo corpo celestial, criado e vivendo a realidade da vida
eterna, é tão indestrutível quanto o próprio Cristo e está tão certo da vitória quanto Cristo estava. Baseado
no fato de que Cristo habita em seu coração pela fé, este Corpo pode entrar em luta contra os principados e
potestades, contra os dominadores das trevas, das hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais e
sair vitorioso desde campo de batalha.

Qual é o segredo e a natureza da glorificação da igreja, do Corpo de Cristo, do Homem Corporativo? É a


manifestação, é a revelação da vida de Cristo que nela habita. Durante o curso desta dispensação, o
mistério está na igreja, nos membros de Cristo, mas ―... o mundo não nos conheceu, porque não conheceu a
Ele‖ (1 Jo 3:1). Quando somos observados exteriormente, somos muito parecidos com as demais pessoas
do mundo. Contudo, o mistério está em nosso interior, e este mistério significa que se você tocar
determinada pessoa, ou determinada igreja, você toca no próprio Deus. ―Saulo, Saulo, por que Me
persegues?‖ (At 9:4), disse o Senhor quando Saulo estava tocando os membros de Seu corpo. Cristo está
em Seus membros. Se você tocar em algum destes membros, terá que acertar as contas com Ele. Os
membros do Corpo de Cristo são indestrutíveis; não podem ser destruídos. Não estamos falando da
destruição do corpo físico. A igreja é uma entidade indestrutível. Mesmo quando Satanás fizer o seu
melhor, a igreja ainda permanecerá triunfante, permanecerá inabalável; até que ele, e tudo o que lhe
pertence, seja sido banido do universo.

Ao final desta dispensação, o mistério que esteve oculto será plenamente revelado de Cristo na Sua igreja,
quando ela se manifestar com Ele em glória, será glorificada baseada naquele mesmo princípio com o qual
Cristo foi glorificado.

A Base Essencial da Vida Cristã Diária

À luz destes fatos, temos aqui uma grande lição a ser aprendida. Temos que viver o tempo todo nesta base
na qual fomos estabelecidos e, se procedermos assim, o inimigo não terá espaço algum em nós. Nosso
problema é que não vivemos nesta base. Vivemos, frequentemente, baseados em nós mesmos. Vivemos
baseados em nossos próprios sentimentos, em nossas próprias condições, segundo nossos padrões, em
tudo o que somos em nós mesmos e, por agirmos assim, nos transformamos em joguetes nas mãos do
diabo. Quando nos baseamos em nosso próprio estado de humor, o inimigo passa a ter uma grande
abertura para agir em nós. Quando nos baseamos em nossos próprios sentimentos ou pensamentos, a
quanta destruição nos sujeitamos! Se nos basearmos e vivermos segundo nossos próprios gostos, daremos
ao inimigo uma oportunidade para fazer de nós o que quiser. Sempre que os cristãos voltam-se para si
mesmos, para o terreno daquilo que são em si, mesmo que seja por um instante, começam a perder o seu
equilíbrio, a sua firmeza, a sua serenidade, o seu descanso, a sua paz, a sua alegria e são lançados à mercê
das astúcias do diabo. Eles podem até mesmo chegar ao ponto de se questionarem se de fato são pessoas
salvas. As áreas de nossas vidas que ainda não foram santificadas, e que não devem permanecer assim,
tornam-se portas para o inimigo, e será totalmente inútil qualquer tentativa nossa em mantê-lo afastado.

Temos, por exemplo, a vida física. Dentro do compasso desta vida natural, física, da velha criação, tudo é
possível. Escuridão mental é possível. Nosso sistema nervoso pode estar tão perturbado que podemos até
sentir que o inferno se levanta em nosso próprio ser. Se insistirmos em viver no terreno da velha criação, o
diabo será devastador; tudo pode acontecer ao nosso humor, sentimentos, pensamentos, ou surgirá um
estado de morte e apatia. Se nos firmarmos em nossa condição natural, abriremos uma brecha que dará ao
inimigo espaço para se instalar imediatamente. Não há esperança alguma de glória no terreno natural.

Como o inimigo pode ser derrotado, anulado e destituído do seu poder? Baseado no mesmo princípio que
se deu na vida do Senhor Jesus, através do nosso viver no Pai. Devemos permanecer habitando em
Cristo. Devemos nos voltar continuamente ao Senhor e orar-lhe: ―Senhor, em mim Tu és uma Pessoa
diferente daquela que sou; Tu não és o que sou; Tu és diferente do meu humor, do meu sentimento ou da
minha ausência dele. Tu és diferente de todos os meus pensamentos, diferente de mim! Eu estou morto em
meus sentimentos, mas Tu és diferente de tudo isso; Tu estás vivo! Sinto-me no escuro, mas Tu és a luz, e
Tu estás em mim! Isto aqui sou eu, e não o Senhor!‖. Se tão somente aprendermos continuamente a viver
em Cristo, naquilo que Ele é, no fato de que Ele é diferente de nós– não olhando para a nossa experiência,
mas nos firmando no fato de que Ele vive em nós – se continuamente aprendermos a viver desta maneira,
por esta grande realidade divina, então o inimigo não terá nada em nós. Isto exigirá algum tempo, bem
como se dá de forma progressiva. O Senhor Jesus pôde dizer: ―... o príncipe deste mundo se aproxima; e ele
nada tem em Mim...‖ (Jo 14:30). O que o adversário estava procurando em Jesus? Ele estava procurando
encontrar o Senhor Jesus vivendo em Si mesmo, consultando os Seus próprios sentimentos, apoiando-se
em Seu próprio conhecimento, seguindo os Seus próprios julgamentos ou Sua própria vontade. Se o diabo
pudesse apanhar Jesus vivendo desta maneira, ele teria conseguido algo nele e teria desequilibrado Sua
vida. O Senhor Jesus disse: ―... Eu vivo por causa do Pai...‖ (Jo 6:57); isto é, ―Eu vivo pelo Pai, não por
aquilo que sou‖. Jesus, embora fosse perfeito e sem pecado, vivia na dependência do Pai o tempo todo. Ele
mesmo testemunhou: ―O filho nada pode fazer de Si mesmo...‖ (Jo 5:19); ―...as palavras que vos digo, não
as digo de Mim mesmo; mas o Pai que está em Mim é que faz as Suas obras‖ (Jo 14:10). Ele vivia o tempo
todo no Pai, O qual vivia nele e, por causa desta união, o inimigo não tinha qualquer brecha.

Esta é a lição máxima de vida para nós. Para qualquer glória interior agora, ou para qualquer esperança de
glória no grande dia da manifestação, a única base de expectação deve ser Cristo em nós; porque a glória
simplesmente é a manifestação do Cristo que está dentro de nós, da mesma forma que a glorificação dele
foi a manifestação do Pai que nele estava.

A Igreja, o Mistério da Habitação Divina

Em relação à expressão corporativa deste Homem Celestial, na carta aos Efésios o apóstolo nos fala que
algo está em andamento no mundo espiritual: ―... Para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora
conhecida por meio da igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais...‖ (Ef 3:10). Eu me
pergunto o que isto significa? Não sei plenamente, mas penso que entendo algo do significado. Creio que
inteligências espirituais estão nos assistindo a fim de tentar obter alguma vantagem. Elas estão nos
assistindo com toda perspicácia, inteligência, sabedoria e engenhosidade diabólica; com toda inteligência
sobre-humana para ver como podem levar vantagem, dar algum golpe; se conseguem, de alguma forma,
obter qualquer ganho sobre esta criação misteriosa, que é a igreja. Para os principados e potestades, a
multiforme sabedoria de Deus está sendo conhecida por meio da igreja. Como isto está acontecendo? Uma
frase de um versículo da primeira carta a Timóteo pode ajudar-nos a responder: ―grande é o mistério da
piedade; aquele que foi manifesto na carne, justificado no espírito, visto dos anjos, pregado entre as
nações, crido no mundo, recebido no alto em glória‖ (1 Tm 3:16). Uma parte do mistério descrito aqui é a
declaração um tanto obscura de que Ele ―foi visto dos anjos‖. Não me satisfaço com o pensamento de que
isto se refere aos anjos celestiais que viram Jesus em carne, examinaram-no tanto em Sua vida quanto após
a Sua ressurreição. Tenho a impressão em meu coração que tais anjos, tais inteligências espirituais, que
estiveram assistindo, procurando minuciosamente alguma oportunidade contra a vida de Jesus, buscando
levar qualquer vantagem, entenderam, finalmente, quem Ele era; enxergaram o pleno significado de Sua
pessoa, e o porquê de não terem sido bem sucedidos em alcançar seus intentos. Foram obrigados a
reconhecer a sua impotência em relação a Jesus. Essas inteligências espirituais sabem isto agora porque o
segredo lhes foi revelado. Não posso provar o que acabei de discorrer, estou recorrendo a outras porções
das Escrituras e admitindo que é o Espírito quem tem descortinado este fato e trazido ao nosso
conhecimento. Este Homem é diferente do primeiro Adão! Essas inteligências tiveram sua chance com o
primeiro Adão e aproveitaram-na. Assim introduziram na velha criação a sua sabedoria diabólica, a qual o
apóstolo se refere: ―Esta sabedoria é... diabólica ou demoníaca‖ (Tg 3:15).

Estas inteligências ansiavam por uma oportunidade de impor sua sabedoria neste outro Adão, o último
Adão, mas não conseguiram. Foram esmagadas e derrotadas em cada ponto e, agora, sabem o segredo, pois
conseguem ver quem era Aquele sobre quem não podiam levar vantagem. Por que foi assim? Porque o Pai
estava em Cristo. Esta verdade foi referida por Paulo quando disse que Cristo crucificado é loucura para
mundo, mas é a sabedoria de Deus. Sua sabedoria transcende em muito a sabedoria deste mundo que é
demoníaca em sua essência. Deus ainda está mostrando a Sua multiforme sabedoria aos principados e
potestades através da igreja, que é o Corpo de Cristo, o Homem Celestial Corporativo. Como isto está sendo
alcançado? Através deste mistério interior, que derrota cada plano e esquema do inimigo por meio da
grande realidade da habitação do Senhor, cuja sabedoria é muito maior do que a deles.

Oh, que possamos viver baseados nesta realidade grandiosa e vital, neste grande mistério da própria
essência da igreja conforme a mente de Deus; neste mistério fundamental de Cristo em nós. Procuremos
viver não baseados no que somos, mas no que Cristo é. Se você assumir esta posição, estará firmado numa
posição de sabedoria que supera toda a astúcia do diabo, e que vence todo o seu poder.

Ponha isto em prática; estamos sujeitos à provações o tempo todo. Se estiver prestes a se sentir derrotado,
sem esperança, cheio de mal em você mesmo, como se tudo o que você tivesse crido não servisse para mais
nada, e tudo parece acabado a ponto de você pensar que tudo está perdido; se isto ocorrer, então admita
que tudo isso é devido à sua pobre e arruinada criação, mas que Cristo em você é algo diferente de tudo o
que está acontecendo; firme-se nele pela fé, então o poder do diabo será destruído, a sabedoria dele é
vencida e, por fim, haverá glória. Esta é a lição que temos que aprender. Cristo em você e na igreja como a
habitação de Deus por meio do Espírito é a garantia da glória, da vitória, do poder e da sabedoria. Bendito
seja Deus, há épocas em que estas convicções se estendem até nossos sentimentos e nos alegramos com a
percepção de que Cristo está em nós, porém, nem sempre é assim. Um ataque de indigestão pode ter um
efeito estranho em nossa vida espiritual, inquietando nossa consciência. A coisa mais insignificante pode
vir e mudar a situação toda se abrirmos brechas para ela. Quantas coisas o inimigo coloca a fim de nos
enredar com elas! Ele vive colocando armadilhas em toda a parte, tramando situações ao nosso redor,
sempre pronto a nos desequilibrar com alguma coisa. Tudo é muito bem arranjado, vindo principalmente
na hora em que menos queremos ser perturbados. Após um período tão maravilhoso de comunhão com o
Senhor e com os irmãos, em que estamos nos sentindo ―nas nuvens‖, voltamos para nossas casas e,
provavelmente, quando você estiver nos degraus da porta, haverá algo esperando por você!

Como venceremos o diabo; como derrotá-lo? Não devemos entrar no jogo dele, nos envolvendo com a
situação. Resista, e não se envolva nelas; não seja arrastado para o campo da velha criação, a ponto de ficar
envolvido nele, mas permaneça no terreno em que o adversário é obrigado a enfrentar a perfeição de
Cristo, esta é a maneira segura de derrotarmos o inimigo, embora tenhamos que suportar a situação difícil,
suportar a dor, sofrê-la por um período de tempo considerável. Nosso consolo é que Cristo é maior do que
tudo, Cristo em nós é invencível, e devemos recorrer à fé interior, devemos buscar ajuda no Cristo que está
dentro de nós, rejeitando a situação. Temos algo a aprender de Davi neste campo. Lembre-se de certa
ocasião em que ele falava toda sorte de palavras deprimentes, sem esperança, porque a situação parecia
completamente irreversível; então, ele recordou a si mesmo, confessando: ―Esta é a minha enfermidade;
mas me lembrarei dos anos da destra do Altíssimo‖ (Sl 77:10). Hoje vejo tudo de forma distorcida! Esta é a
minha maneira de ver! Esta é a maneira como as coisas me afetam! Este sou eu; não o Senhor! Coloquemos
as coisas nos seus devidos lugares dando a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Estou certo de que aqui está a chave de tudo; a chave de tudo é Cristo em você, Cristo em mim, Cristo em
Seu Corpo, e isto vivido pela fé. Esta é a sabedoria do alto para derrotar o inimigo. Ele será derrotado se
vivermos em Cristo e nos recusarmos a viver em nosso próprio terreno. Que o Senhor nos esclareça.

Capítulo 15 – O Homem a Quem Ele Designou

Leitura: Rm 8:29; Gl 4:19; Ef 2:15,16; 1 Co 1:24–30, 12:13; Gl 3:27,28; At 17:31.

―Pois Deus estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que
designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos‖ (At 17:31).

A expressão ―o homem a quem Ele designou‖ leva-nos de volta ao ponto onde começamos a nossa
contemplação dos assuntos abordados, para os conselhos de Deus na eternidade passada. Este Homem foi
designado lá. A história deste mundo será reunida, resumida neste Homem; seu destino está determinado
neste Homem. Façamos algumas afirmações abrangentes e concretas em relação a este fato.

Primeiro, o motivo de Deus para a existência deste universo é este Homem. Se quisermos saber o
significado do universo, devemos olhar para um Homem e, ao olharmos este Homem designado por Deus,
com os olhos do nosso coração iluminados, com espírito de sabedoria e de revelação, O veremos como a
motivação de Deus para a criação deste universo.

Segundo, a solução de Deus para tudo o que resultou da queda de Adão é este Homem. Isto é abrangente
e está muito além da nossa avaliação. Não importa em que ponto ou fase da queda de Adão nos refiramos,
descobriremos que Deus sempre dá a solução através deste Homem designado. Você pode tomar qualquer
aspecto da queda, examiná-la em diferentes ângulos, em suas dificuldades, complexidades, tragédia e
perguntar: ―Como lidar com tudo isso? Como remediá-lo?‖. A resposta de Deus é um Homem, o Homem a
quem Ele designou.

Tome o caso da torre de Babel como ilustração. Babel desencadeou grandes problemas: a dispersão do
povo, a confusão de línguas, o aparecimento de nações e dialetos, bem como toda fraqueza que daí resulta.
Este problema tão abrangente foi solucionado por um ato soberano de Deus que preveniu as trágicas
consequências que se seguiriam por um mundo independente de Deus. Babel, em si mesma, representa um
grande problema; estabelece uma confusão destrutiva que é contrária à vontade de Deus. Babilônia é a
consequência da queda; é a consequência deste curso decadente. Isto precisa ser tratado. O desastre deve
ser reparado. Para que Deus alcance o Seu propósito, Babel deve ser removida. Qual é a resposta à Babel?
É um Homem. Toda esta situação, confusão, tragédia e mal serão removidos por um Homem. Neste
Homem há uma unidade de tudo aquilo que estava dividido e disperso. Neste Homem há um lugar de
reconciliação. Em Cristo, temos a garantia de tudo isto. Existe um entendimento espiritual, não importa se
falamos idiomas diferentes, que nos faz compreender pelo Espírito Santo a mesma realidade e falar a
mesma língua interior. Há uma unidade e uma garantia de entendimento em Cristo.

Terceiro, a proclamação de Deus aos homens, no que diz respeito a sua salvação, satisfação e plenitude, é
um Homem. Analisaremos este ponto depois.

Quarto, o objetivo de Deus, em todos os Seus movimentos, é um Homem. O objetivo de todas as ações
estranhas e misteriosas do Senhor e de todos os Seus tratamentos dolorosos para consigo mesmo é um
Homem. Deus governa visando este Homem em tudo o que trata conosco. Todas as ações de Deus estão
relacionadas a este Homem. Ele mantém os Seus olhos, o tempo todo, neste Homem, e age em nós visando
este Homem.

Nenhuma de nossas experiências, sob a mão de Deus, é acidental. As situações não surgem em nossas vidas
como obra do acaso ou por qualquer outro motivo. Se algo mau está acontecendo conosco, não é que Deus
esteja nos castigando por mero luxo. Os castigos de Deus não são acidentais, isolados, separados, mas têm
um alvo, tem um objetivo em vista, que é um Homem.
Os tratos de Deus, não apenas consigo mesmo, mas com o mundo onde opera diversos tipos de tratamento,
estão relacionados a este Homem. Se reconhecermos as implicações deste fato e aplicá-lo, trazê-lo para
nossa experiência, seremos consideravelmente ajudados em nossa vida diária.

Nestas afirmações apresentamos, de forma abrangente, o objeto de Deus, a grande realidade governante.
Tudo é explicado por meio de um Homem, e este Homem dá sentido à história e define o destino do
universo. Isto poderia ter sido colocado de outras formas, poderia ter sido citado mais da Palavra de Deus
para provar que a coisa realmente é assim; então vamos avançar para detalhar este assunto.

Deus Não Ofereceu ou Produziu Uma Religião

Deus não ofereceu ou produziu uma religião, isto é, um sistema de doutrinas e práticas. Este ponto não é
compreendido por muitas pessoas e, como consequência, temos tantos desvios que são expressos em livros
que comparam o que é chamado de ―cristianismo‖ com as demais religiões. A questão toda é reduzida aos
critérios de religiões comparadas, a fim de se saber qual é a melhor delas. Alguns têm até se empenhado
em mostrar que o Judaísmo foi a melhor das as religiões antigas, mas que foi superado pelo Cristianismo,
por isso esta é a religião ideal para o mundo. Isto tudo revela que a essência foi perdida. Não devemos nos
prender neste tipo de discussão, temos que permanecer firmados na verdade de Deus, e conscientizar-nos
dos desvios humanos. Deus não ofereceu nem produziu uma religião; Deus apresenta um Homem.

Deus não Ofereceu um Conjunto de Temas

Deus não ofereceu a nós - em primeira instância - um conjunto de verdades, temas e assuntos, embora a
Bíblia apresente essas coisas. Deus não oferece isto a nós, mas um Homem. Nós não fomos chamados para
pregar a doutrina da salvação a quem quer que seja; fomos chamados para pregar Cristo, e a salvação que
está nele vem como consequência: ―aprouve a Deus revelar Seu Filho em mim, para que eu pudesse pregá-
lo entre os gentios‖ (Gl 1:15,16). Qualquer verdade, doutrina, tema, assunto, que não seja uma revelação de
Cristo, que não seja uma ministração dele, que não exalte a Cristo e não torne Cristo maior e mais
admirado, desviou-se do seu propósito, encontra-se divorciado e separado do propósito de Deus; não tem
permanecido em Deus de forma alguma. Deus não nos propôs, em primeira instância, um conjunto de
verdades, temas, assuntos, embora possam ser encontrados em Sua Palavra, tais como a expiação, a
redenção e muitos outros; Deus nos oferece um Homem. Tudo o que vem de Deus, de eternidade a
eternidade, está inseparavelmente ligado a um Homem.

Talvez você esteja se perguntando qual é o valor prático de todas estas coisas. O valor prático é o seguinte:
você nunca alcançará o significado e o valor dos temas bíblicos, mesmo que os estude durante toda a sua
vida, se forem tomados como temas em si mesmos. O que dá real sentido a qualquer verdade é o Cristo
vivo. A santificação é Cristo, assim como a justificação é Cristo. Não são temas tomados e ensinados, não
são verdades reduzidas em si mesmas; Cristo foi feito para nós santificação e redenção.

Agora uma ou duas declarações precisam ser feitas. Embora seja verdade que Deus não ofereceu, em
primeira instância, verdades a nós, mas sim um Homem; embora seja verdade que Deus não desenvolveu
uma religião, mas um Homem; embora não fomos chamados para pregar a salvação, mas o Salvador;
devemos esclarecer que não é com os benefícios advindos deste Homem que devemos nos envolver, mas
sim com Ele mesmo. Estou alertando sobre o perigo de dissociar o ensino da Pessoa. Não devemos tomar a
redenção, salvação, santificação, mediação, como temas isolados da Pessoa que os efetua. Os temas não
devem ser o nosso foco, mas o próprio Homem em Si. Nós não somos salvos porque aprendemos sobre a
salvação; somos salvos pela nossa união vital com Ele como uma Pessoa.

Não é por nossa compreensão objetiva deste Homem que recebemos todo o seu significado. Há grande
significado e valor em Cristo, visto objetivamente, isto é, Ele reúne em Si mesmo tudo o que precisamos e,
por estarmos nele, podemos adentrar à plenitude de todas as coisas. Nossa entrada no propósito divino não
se dá somente objetivamente, mas subjetivamente, ao termos um relacionamento vivo com Ele. O pleno
gozo em Cristo não vem pela doutrina da salvação, mas pela presença do Salvador nós. Há ensinos
maravilhosos sobre a salvação em Cristo, mas é muito mais enriquecedor quando a realidade destes
ensinos é absorvida em nós. Os valores práticos de Cristo são conhecidos apenas subjetivamente; tais são
expressões daquilo que Cristo é em Si mesmo, e não são presentes que Ele dá dissociados de Si. É muito
importante para aqueles que têm responsabilidades nos conselhos de Deus reconhecer estas diferenças.

A União Vital Com Cristo é a Base do Sucesso de Deus

A base do sucesso de Deus é a união vital com Cristo, que também pode ser chamado de identificação com
Cristo. Deus depende inteiramente, para o Seu sucesso, da medida de Cristo em nosso interior e, por isso, a
única realidade que Ele procura, e a única contra a qual o diabo se opõe fazendo de tudo para substitui-la,
imitá-la e falsificá-la é o estabelecimento de Cristo dentro dos homens. Oh, quão longe uma série de
projetos pode avançar e, contudo, fracassar por falta desta realidade! Veja a importância de se distinguir a
doutrina, mesmo a doutrina da salvação, do Homem, da Pessoa. Podemos pregar a doutrina aos homens e
obter sua aprovação, seu consentimento mental; podemos ter alunos e classes de instrução doutrinal aos
convertidos; e ao testemunharem algo como: ―agora entendo a doutrina; agora tudo está claro para mim!‖,
achamos que estão prontos para serem introduzidos na igreja. A questão não é tão simples assim, é mais do
que isso. Ninguém entrará no Reino de Deus apenas compreendendo mentalmente a doutrina cristã. Você
pode saber toda doutrina, e mesmo assim desviar-se em pouco tempo, encontrando-se numa terrível
condição entre os chamados convertidos. Pode descobrir, ao longo da caminhada, que os tais nem sequer
foram realmente salvos, embora tenham sido batizados, terem compreendido tudo o que você lhes ensinou
a respeito da doutrina cristã. Assim, por um lado, pessoas absolutamente honestas podem cometer um
grave erro e, por outro, o diabo está agindo, ofertando uma porção de ensinos e atividades em lugar do
novo nascimento. O inimigo até que permitirá algum avanço, desde que não se vá muito longe. Se você
mantiver sua união com Cristo, estará alicerçado para tudo o que será construído. Você estará alicerçado
para a doutrina de forma viva, com completa segurança uma vez que Cristo habita em você. O objetivo de
Deus é alcançado sobre este ponto inicial, tudo o demais é consequência. É isto que quero dizer com a
diferença entre a doutrina e a Pessoa, entre o benefício e a pessoa. A base do sucesso de Deus é Cristo em
você, é a união com Cristo, a identificação íntima com Cristo. Isto está colocado na Palavra de Deus como
sendo o princípio sobre o qual Deus trabalha nesta dispensação, do início ao fim.
A Perfeição da Provisão Divina

(a) Em Relação ao Problema da Vida Humana

Tomemos algumas das passagens que citamos no início da nossa meditação e vejamos como elas
confirmam o princípio apresentado, que é a base sobre a qual Deus trabalha em nossa dispensação.

―Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois
um em Cristo Jesus‖ (Gl 3:28).

Esta é a maneira na qual Deus resolve o problema da vida humana. Quando nos deparamos com a
condição humana, uma das marcas mais evidentes são os problemas de relacionamento, as desavenças. Até
mesmo pessoas bem intencionadas reunidas em conferências internacionais, cedo ou tarde desembocam
neste problema. Tem-se uma mesa redonda com diferentes representantes de nações, ou com diferentes
representantes no campo social: o trabalhador, o aristocrata, o investidor, o patrão e o empregado; todos
procurando chegar a algum acordo. Podemos ter representantes masculinos e femininos. Trabalha-se
arduamente: uma proposta é feita, porém alguém não a aceita, pois não é adequada ao seu padrão de vida.
O empregado não consegue enxergar o ponto de vista do patrão e vice-versa; ou são os homens tendo
dificuldades para entender o ponto de vista das mulheres... Quantas mesas redondas têm sido convocadas,
e quantas delas têm sido bem sucedidas? Como é impressionante a insistência dos homens com suas
conferências! Desde que os homens existem, também existem suas conferências, e qual é a
conclusão? Distanciam-se uns dos outros tão logo surge um impasse. Então virá outro impasse, mas
continuarão tentando resolver o problema da vida humana naquele nível de debate, de conferência.

Deus conhece muito bem esta situação. Ele está muito mais ciente das dificuldades e dos problemas do que
qualquer outra pessoa. Do Seu ponto de vista, há fatores e aspectos muito mais sérios numa questão que
nem passou pela mente dos envolvidos. Mas há uma solução, uma solução infalível, uma solução que
resolve tudo se for recebida. Qual é a solução de Deus para o problema da vida humana? É um Homem.

(b) Em Relação ao Problema da Raça

No texto lemos: ―nem judeu, nem grego‖. Aqui temos um problema de ordem nacional. Se você está
familiarizado com o pano de fundo de Gálatas, sabe que foi um problema de nacionalidade que deu origem
a esta carta. Cristãos judeus estavam assumindo uma posição mais elevada que os demais. Eles diziam:
―Nós somos judeus e vocês são gregos; nós estamos num campo e vocês noutro! Nós temos privilégios e
vantagens, mas vocês não; nós estamos numa posição mais favorecida que a de vocês; somos melhores!‖.
Os judeus consideravam gregos e gentios como ‗cães‘. Como lidar com este problema racial? Jamais será
resolvido numa conferência de mesa redonda. Este é o problema que está pressionando bastante o mundo
hoje, entre as raças ―superiores‖ e ―inferiores‖, entre os que têm certos privilégios e os que não os têm.

A solução de Deus para o conflito de raças é um Homem. Em Cristo não há judeu nem grego. Nós que
entramos na esfera do Homem Celestial, que deixamos a esfera terrena e as questões de nacionalidade, e
entramos para o terreno de Cristo, encontramos a bendita comunhão. Oh, que perfeita comunhão! Que
proveitosa comunhão! Que perspectivas surgem à vista; quão produtivo é tudo isto! Assim, longe de ser um
caminho de perda, é um bendito caminho de ganho. Que tragédia ocorre quando muitos dentre o próprio
povo de Deus não abandonam o terreno racial. Quantos preconceitos e prejuízos vêm pelo orgulho. Como
estas coisas limitam, enferrujam, impedem a plenitude de Cristo e atrasam o cumprimento do propósito de
Deus. Saia deste terreno e venha para o terreno do Homem Celestial, onde não há nem judeu, nem grego e,
então, o problema da nacionalidade, que é uma parte do problema humano, será resolvido.

(c) Em Relação ao Problema Social

Mais adiante é dito: ―não há servo, nem livre‖. O problema social também é tratado; a relação conflitante
entre patrão e empregado. Como este problema pode ser resolvido? Será resolvido apenas num Homem.
Enquanto o judeu pensa que tem vantagem sobre o grego; o senhor pensa ter vantagem sobre o servo e,
como geralmente é próprio do mundo ocidental, temos o homem pensando ter vantagem sobre a mulher.
Como são resolvidos estes problemas? A salvação de Deus é um Homem. Naturalmente, estas distinções
continuam aqui na terra — e Deus nos livre de tentarmos resolver tal coisa — porém, no terreno do ―novo
homem‖, nós nos tornamos um. Em Cristo nos encontramos num terreno completamente diferente. Em
Cristo não pode haver nem judeu, nem grego, nem homem, nem mulher, nem escravo, nem livre, nem
superior, nem inferior, ou seja, as vantagens e desvantagens desaparecem.

(d) Em Relação ao Problema Religioso

O apóstolo também faz referência ao campo religioso: ―onde não pode haver nem grego nem judeu, nem
circuncisão nem incircuncisão, bárbaro e cita...‖ (Cl 3:11). Paulo está reforçando o problema entre o judeu e
o grego não apenas no sentido de diferença de nacionalidade, mas também o problema religioso. Quão
séria era esta questão. Em Cristo não há vantagens religiosas sobre os outros; ninguém está em posição de
desvantagem em relação aos demais. Então o apóstolo fala de bárbaro e cita. É mais uma referência à
questão racial. Essas coisas representam diferentes níveis de civilização e cultura, e Paulo está removendo
o problema ao dizer que em Cristo tais distinções não têm lugar.

(e) Em Relação ao Problema do Destino Humano

Outro aspecto é levantado na seguinte passagem: ―Mas aos que são chamados, tanto judeus como gregos,
lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus... Mas vós sois dele em Cristo Jesus, o qual para
nós foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção....‖ (1 Co 1: 24-30).

Aqui temos o problema do destino humano que se encontra resumido em duas palavras que são
frequentemente repetidas: sabedoria e poder. O problema em Corinto foi a influência da filosofia grega que
adentrou com suas sugestões sutis e perniciosas. O objetivo era alcançar a perfeição humana e, para isto,
havia a proposta da filosofia: elevada sabedoria e grandioso poder. Sabedoria e poder são os dois elementos
que constituem o homem perfeito. A filosofia grega sugeria a concepção de que o homem precisa fazer o
seu destino; havia a ideia de que o homem possui um grande destino. O homem possui, de fato, um grande
significado; ao homem está ligado um grandioso projeto. Para muitos pagãos, a concepção era aquela da
divinização da humanidade, do homem evoluir gradativamente até se divinizar. O fim seria a adoração do
próprio homem. À medida que seus heróis se aproximavam deste ideal, passavam a ser adorados. Havia
todo um movimento em direção à divinização da humanidade. Neste sentido, as características marcantes
deste homem perfeito seriam a sabedoria e o poder. Eles sempre buscavam uma sabedoria superior que
pudesse conduzi-los para um lugar de poder superior e, assim, concretizar o grande destino do homem: sua
divinização. O problema do destino humano era tratado à luz dos itens sabedoria e poder.

Esta sedução perdura até hoje. Não é isto que se vê nos ditadores, nos homens que desejam governar o
mundo? A sabedoria e o poder humanos podem alcançar certo ponto e ―se encarnar‖ num ditador. Ele
passa a ser considerado a corporificação da mais elevada sabedoria e do poder mais grandioso. Este é o
homem. Assim será o homem do maligno no nível humano.

A questão do destino humano é muito pertinente. É uma questão real, importante e legítima tanto para os
cristãos quanto para os ímpios. Originalmente, o homem não foi destinado para ser mundano. O homem
foi destinado para um fim glorioso. Deus criou o homem com um objetivo muito maior do que qualquer
soberano deste mundo poderia conceber. A questão do destino humano é legítima e necessária e, talvez, a
maior de todas. A questão que se segue é: ―Como este objetivo, este destino glorioso pode ser
alcançado?‖. Com a Sabedoria, certamente. Este ―novo homem‖ deve mostrar a multiforme sabedoria de
Deus a todas as inteligências sobrenaturais; deve encarnar a sabedoria divina em todos os seus
aspectos. Com o Poder, a mesma coisa. Não há dúvida de que este ―novo homem‖ será o instrumento do
exercício do poder infinito de Deus; de que ele será uma exibição do excelso poder de Deus. O destino
humano e como alcançar o estado de homem perfeito eram assuntos corriqueiros entre os gregos. A
resposta de Deus para eles, em Sua Palavra, é o Homem a quem designou. A resposta é Cristo em nós, o
poder e a sabedoria de Deus. Cristo em nós, no poder da morte e da ressurreição, solucionará o problema
do destino humano.

Este mundo tem tentado resolver o problema do destino e do aperfeiçoamento humano através de
inúmeros sistemas filosóficos. Se estudar qualquer um deles, descobrirá que realmente tentam resolver o
problema do destino humano, do significado da existência humana, do universo, e como o homem e o
universo podem alcançar um destino favorável. O mundo está cheio de sistemas filosóficos que estão
buscando responder estas questões. No entanto, o Senhor responde-as de uma forma simples e direta: com
um Homem, e este Homem, no poder da morte e da ressurreição, habitando em nós. Como podemos
concretizar o propósito de Deus? A resposta é: ―... Cristo em vós, a esperança da glória‖ (Cl 1:27). Mas é
Cristo em vós como sabedoria e poder de Deus. Esta sabedoria é muito simples. O que significa Cristo em
nós no contexto do grande propósito de Deus? É o que é garantido pelo Espírito, pelo que o apóstolo
escreveu: ―... predestinados para sermos conformados a imagem de Seu Filho...‖ (Rm 8:29); e ainda: ―...até
que Cristo seja formado em vós...‖ (Gl 4:19). Quando isto for realizado, o universo será preenchido por um
grande Homem Corporativo à imagem do próprio Deus, e o propósito será alcançado. Este Homem é
Cristo, em Sua plenitude, em Seu Corpo.
Como, então, o problema do destino humano pode ser resolvido? Bem, Platão sugerirá em sua obra: a
República. ―Oh, as leis, os regulamentos! Oh, as observâncias! Veja tudo o que você tem que relevar, fazer
ou não fazer, planejar e executar. E, deste modo, temos um tremendo sistema para elevar o homem a um
padrão‖. Porém, a resposta do Senhor é muito mais simples do que isso. Deixe Cristo habitar em você e Ele
trabalhará em você formando o caráter dele. Dê a Ele uma oportunidade em seu interior, e você será
conformado à Sua imagem; Cristo será plenamente formado em você. E, quando isto for uma realidade no
Corpo todo, então teremos um Homem novo e universal. Não é isto sabedoria? Oh, pobres filósofos! Como
eles têm esgotado seus cérebros, e muitos deles acabaram ficando loucos nesta tentativa de solucionar o
problema do destino humano. A sabedoria do Senhor é muito simples. Cristo em vós, sabedoria de Deus. É
desta forma que todo o problema é resolvido. Você não precisa pensar em tudo, planejar tudo, montar um
sistema colossal de regras, regulamentos e observâncias; você precisa apenas deixar que o Senhor tenha o
Seu caminho dentro de você, e o final estará garantido. O problema do universo é resolvido sem qualquer
exaustão mental. É uma questão de vida. A loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria os homens; a
sabedoria de Deus é muito simples. Os homens estão esgotando a si mesmos, desperdiçando muito tempo
e qual é o resultado? Olhe para isto hoje. Que triste quadro do chamado ―progresso‖ da humanidade! Mas
Deus está trabalhando o Seu propósito e, no mundo invisível, há um Homem crescendo, a fim de preencher
o universo. O modo de Deus é muito simples e eficiente. Se você quiser resolver a questão da sabedoria e
do poder, este é o caminho. A sabedoria está relacionada ao ―como‖; o poder está relacionado à
―capacidade‖. Depois de se conhecer o como, haverá a manifestação da capacidade. Cristo em você é tanto
o ―como‖ como a ―capacidade‖.

Tudo isto e muito mais faz-nos retornar ao ponto central: TODAS AS COISAS EM CRISTO. A Palavra de
Deus está repleta deste assunto e jamais conseguiremos esgotar tudo. A resposta de Deus a tudo, a
explicação de Deus para tudo, os modos de Deus de realizar tudo é um Homem, ―o Homem Jesus Cristo‖.
Quando este mundo tiver completado o seu próprio curso mal, então esta terra será julgada por um
Homem. Os homens serão julgados pelo tipo de relacionamento interior que possuem com Ele. A questão
no julgamento não será baseada no quanto de bem ou de mal, de certo ou de errado, de mais ou de menos
que há em nós; a questão recairá no seguinte ponto: você está em Cristo? Se não, mais ou menos não fará
diferença alguma. O propósito de Deus, o desejo de Deus é que todas as coisas estejam em Seu Filho. Você
está nele? Por que não? A base do julgamento é muito simples. Tudo está reunido num Homem e o que há
neste Homem de Deus para nós. Esta é a base do julgamento. Tudo retorna à verdade mais simples,
contudo abrangente e abençoada: somente Cristo é quem satisfaz a Deus, que cumpre o Seu propósito e
que satisfaz todas as nossas necessidades. Tudo está resumido num Homem, ―o Homem Cristo Jesus‖.

Que o Senhor continue abrindo nossos olhos para contemplarmos o glorioso Homem Celestial, que é
também o Servo Divino.

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