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CIMENTO PORTLAND

CONCEITO

O cimento Portland resulta da reação química, realizada em fornos


rotativos, à temperatura 1500 0C, entre os óxidos CaO (óxido de cálcio, cal),
SiO2 (óxido de silício, sílica), Fe2O3 (tri-óxido de di-ferro, hematita) e Al2O3
(óxido de alumínio, alumina), existentes nas matérias primas constituídas por
calcário e argila.
HISTÓRICO
Gregos e romanos usavam um tipo de cimento natural, como ligante
hidráulico; assim foram construídos o Partenon, na Grécia, os banhos públicos e
os aquedutos, em Roma. Exemplos de outros ligantes ou aglomerantes naturais:
cal, gesso, asfalto etc.
Cimento natural: feito com lavas vulcânicas, como do vulcão Vesúvio,
colhidas na cidade de Pozzuoli, na baía de Nápoles, na Itália; o material básico é
a pozolana que, misturado com cal, origina um ligante hidráulico.
A lava dos vulcões, em região calcária, realiza, naturalmente, as reações
químicas que hoje fazemos, artificialmente, nos fornos rotativos das indústrias
cimenteira.
Em 1756, o engenheiro inglês Smeaton publicou os dados de suas
observações e trabalhos, durante a época em que ele pesquisou os materiais para
a construção do farol de Eddystone, próximo ao porto de Plymouth, a sudoeste
da Inglaterra.
Em 1812, L.J.Vicat (químico francês) pesquisou as condições que davam
origem à hidraulicidade (endurecimento sob ação da água), dos materiais
estudados por Smeaton.
Em 1874, Joseph Aspdin patenteou o CIMENTO PORTLAND, assim
chamado porque o produto tinha a mesma cor de certo tipo de pedra, muito
usada em construção, extraída da Ilha de Portland.
Le Chatellier, Bogue (referência 1, página 36: Composição Porcentual do
Cimento -, método empírico) contribuíram para a melhoria do Cimento Portland.
FABRICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND

MATÉRIAS-PRIMAS:
Devem conter Ca (cálcio), Si (silício), Al (alumínio) e Fe (ferro) sob a
forma de óxidos: CaO (cal – representada pela letra C), SiO2 (sílica –
representada pela letra S), Fe2O3 (hematita – representada pela letra F) e Al2O3
(alumina – representada pela letra A).

FONTE DE SUPRIMENTO DAS MATÉRIAS-PRIMAS:


Calcário e argila; havendo deficiência de SiO 2, Fe2O3 e Al2O3, usam-se,
respectivamente, areia, minério de ferro e bauxita, para suprir essa falta; a
magnésia (MgO), os álcalis do cimento (Na – sódio e K – potássio) e titânio (Ti)
também ocorrem nas matérias primas da fabricação do cimento.

O FORNO ROTATIVO:
O forno rotativo é um equipamento de grande porte, de forma cilíndrica,
com movimento rotativo por produzido por acionadores, ligeiramente inclinado,
tendo na extremidade mais baixa a entrada dos gases quentes, gerados na
queima do combustível e, na extremidade mais alta, a entrada das matérias-
primas e saída dos gases de combustão, os quais passam por um sistema
recuperador de energia, passam, a seguir, por um sistema retentor de
particulados, para minimizar o impacto ambiental e, por meio de chaminé, são
finalmente descarregados na atmosfera. Deste modo, à medida que as matérias-
primas vão seguindo pelo interior do forno, são submetidas a um gradiente
crescente de temperaturas, com valor máximo de 1500 oC provocando as reações
químicas entre os componentes do calcário e da argila e dos produtos entre si,
bem como dos corretivos, se houver necessidade do uso deles.
A Figura 1 mostra uma vista de um forno rotativo para produção de
cimento Portland.

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Figura 1 – Vista parcial de um forno rotativo para produção de cimento
Portland.

A Figura 2 apresenta o detalhe de parte do sistema de combustão do mesmo tipo de


forno.

Figura 2 – Detalhe do sistema de combustão do forno rotativo.

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REAÇÕES QUÍMICAS NO FORNO ROTATIVO:

No forno rotativo, os óxidos, formadores das matérias-primas, reagem


quimicamente, produzindo os compostos formadores do cimento Portland. O
MgO, cujo ponto de fusão é de 2500 oC, não participa das reações químicas,
saindo do mesmo jeito como entrou no forno rotativo.

As reações químicas ocorrem na seqüência a seguir:


1) CaO: reage com o Fe2O3 e o Al2O3, até esgotar todo o Fe2O3 e
produzindo o composto 4CaO.Al2O3.FeeO3 - ferro aluminato tetra-
cálcico, representado por C4AF;
2) CaO reage com o Al2O3 restante, formando o composto 3CaO. Al2O3
– aluminato tri-cálcico, representado por C3A;
3) CaO reage com o SiO2, formando o 2CaO.SiO2 – silicato bi-cálcico,
representado por C2S;
4) CaO reage com o C2S, formando o 3CaO.SiO2 – silicato tri-cálcico;
5) CaO pode ocorrer livre no cimento Portland.
São esses os compostos que, no cimento, reagem com a H 2O, gerando os
produtos que caracterizam os múltiplos usos do cimento Portland.
A Tabela 1 apresenta as temperaturas em que ocorrem as reações de
formação dos constituintes fundamentais do clínquer.

Tabela 1: Faixa de temperatura em que ocorrem as reações no processo de


fabricação do cimento Portland

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PRODUTO DO FORNO ROTATIVO:

O clínquer é o produto do forno rotativo; é um material duro, que deve ser


resfriado (o calor é reaproveitado para aquecimento das matérias primas),moído
e aditivado com 2 a 3 % de gesso (CaSO 4.2H2O), para controlar o tempo de
pega, tornando-se no cimento Portland propriamente dito.
No processo por via úmida, a carga do forno rotativo é uma pasta com,,
aproximadamente, 40 % de água.
No processo por via seca, a carga do forno rotativo apresenta-se seca.
No nosso estudo, consideraremos somente o processo por via seca.

FLUXOGRAMA SIMPLIFICADO DO PROCESSO:

Calcáreo

Argila Dosagem Mistura


A

Corretivos

Cru Forno a 1500 0C Clínquer


A B

Adição de
B Resfriamento Moagem Estocagem
Gesso

A Figura 3 apresenta a correspondência entre o fluxograma acima e os


equipamentos em que ocorrem as respectivas operações.

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Figura 3 – Vista esquemática do sistema de um forno rotativo horizontal.

CÁLCULOS PARA A OBTENÇÃO DO CLÍQUER:

Para o cálculo da composição (Tabela 2) e quantidade de cru, emprega-se


uma modelagem de otimização que relaciona a composição das matérias-primas
(Tabela 3), o tipo de combustível e a composição do clínquer desejado (Tabela
4).

Tabela 2 – Composição média do cru para a produção de clínquer.


% em massa
Componente
CaCO3 78,11
SiO2 14,67
Al2O3 2,53
Fe2O3 2,72
MgCO3 1,01
SO3 0,49
K2O 0,16
Na2O 0,09
H2O 0,23

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Tabela 3: Composição da matéria-prima para fabricação de cimento Portland.

Tabela 4 – Composição do clínquer do Cimento Portland.


Componente % em massa Componente % em
massa
SiO2 19,7 – 24,25 SO3 0,20 – 2,07
Al2O3 3,76 - 6,78 K2O 0,31 – 1,76
TiO2 0,21 – 0,52 Na2O 0,03 – 0,33
P2O5 0,02 – 0,27 Na2O - 0,31 – 1,34
equivalente
Fe2O3 1,29 – 4,64 Perda ao Fogo 0,09 – 1,56
Mn2O3 0,03 – 0,68 CO2 0,03 – 0,83
CaO 63,76 – H2O 0,04 – 1,11
70,14
MgO 0,00 – 4,51 - -
Fase de Bogue no clínquer (%)
C3S 51,5 – 85,2 C4AF 4,0 – 16,2
C2S 0,2 – 27,1 CaO - livre 0,08 – 5,58
C3A 6,8 – 15,6 - -

Todavia, tendo a composição do cru, aplicando uma modelagem


simplificada baseada no Princípio da Conservação da Massa, pode-se relacionar
a quantidade de cru com a quantidade desejada de clínquer.

Exemplo:
Relacionar a produção de clínquer com a quantidade de cru, a partir da composição
porcentual em massa, dada pela Tabela 2, usando a modelagem indicada na Figura 4.

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Figura 4 – Modelagem para o balanço de massa dos sólidos no sistema do forno
rotativo.
A Tabela 4 identifica as correntes da Figura 4.

Tabela 4 – Identificação das correntes da Figura 4.


Símbolo Identificação
m(CRU) Matéria-prima alimentando o sistema
m(H2O) Massa de água, contida na matéria-prima, evaporada e que
sai do sistema.
m(CO2) Massa de gás carbônico, gerado pela decomposição dos
carbonatos de cálcio e magnésio existentes na matéria-
prima, eliminado do sistema.
m(CLQ) Massa de clínquer produzido pelo sistema

Balanço de massa no sistema da Figura 4:

m m m m
(CRU) (H O) (CO ) (CLQ)
2 2

m p .m
(H O) (H O) (CRU)
2 2

Geração de CO2 Tabelas 5 e 6.

Tabela 5 – Geração de CO2 pela decomposição do CaCO3.


Reagente Produtos
CaCO3 CaO CO2
100 kg 56 kg 44 kg
p(CaCO3).m(CRU) kg 0,56.p(CaCO3).m(CRU) kg 0,44.p(CaCO3).m(CRU) kg

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Tabela 6 – Geração de CO2 pela decomposição do MgCO3.
Reagente Produtos
MgCO3 MgO CO2
84 kg 40 kg 44 kg
p(MgCO3).m(CRU) kg 0,476. p(MgCO3).m(CRU) kg 0,524. p(MgCO3).m(CRU) kg

m

(CLQ)
m
(CRU) 1 p  0,44.p  0,523.p
(H2O) (CaCO3) (MgCO3)

Aplicando os valores da Tabela 2, para 1 (uma) tonelada de clínquer, obtém-se:


m(CRU) = 1,54 t(CRU)/t(CLQ).

CONSTITUINTES FUNDAMENTAIS DO CIMENTO PORTLAND:


A análise química do cimento Portland resulta na determinação das proporções dos
óxidos inicialmente citados: CaO (C), SiO2 (S), Fe2O3 (F) e Al2O3 (A).
As propriedades do cimento são, entretanto, relacionadas diretamente com as
proporções dos silicatos e aluminatos: C4AF, C3A, C2S e C3S.
A Tabela 7 dá algumas características dos compostos acima citados.
Tabela 7 – Propriedades dos silicatos e aluminatos do cimento

Propriedade C3S C2S C3A C4AF

Resistência boa boa fraca fraca

Reação com H2O média lenta rápida rápida

Calor liberado médio pequeno grande pequeno

A Tabela 7 mostra que:


a) os silicatos contribuem para a resistência mecânica do concreto; o C 3S é o maior
responsável pela resistência mecânica em todas as idades do concreto,
especialmente até o fim do primeiro ano de cura; o C2S adquire maior importância
no processo de endurecimento em idades mais avançadas, principalmente a partir
de um ano ou mais; ambos os silicatos reagem mais lentamente com a H 2O.
b) Os aluminatos são os responsáveis pelas primeiras reações químicas com a H 2O ; o
C3A reage rapidamente com a H2O e cristaliza-se em poucos minutos,
contribuindo com a resistência mecânica no primeiro dia; o C 4AF apresenta reação
mais lenta com a H2O e não contribui para a resistência mecânica.

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As reações com a H2O são exotérmicas (liberam calor), e a Tabela 8 mostra alguns dos
calores liberados.

Tabela 8 – Calor liberado na reação com a H2O

Composto Calor liberado [cal/g]

C3A 207

C3S 120

C2S 62

C4AF 100

CÁLCULO DO CALOR TOTAL DE HIDRATAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND:

É a quantidade de calor, em caloria por grama de cimento Portland anidro,


desenvolvida depois da completa hidratação do cimento.
A Equação de Starke é utilizada para calcular esse calor.
Calor de hidratação = 136 (C3S) + 62 (C2S) + 200 (C3A) + 30 (C4AF). ... (7)
Nessa equação, os valores entre parênteses representam as frações em massa, de cada
um dos constituintes do cimento.
Exemplo: Um cimento Portland apresenta a seguinte composição em massa, referente
aos seus constituintes fundamentais: C3S = 45 %; C2S = 15 %, C3A = 10 % e C4AF = 6 %.
Estimar, segundo Starke, o calor de hidratação total e o calor liberado na idade de 28 dias,
para o cimento em estudo. Dado a Tabela 9, para o calor liberado em função da idade de
hidratação.

Tabela 9 – Calor liberado em função do tempo de hidratação

Idade [dias] % de calor liberado

3 50

7 60

28 90

Aplicando a Eq.(7), obtém-se:


Calor de hidratação = 136 (0,45) + 62 (0,15) + 200 (0,10) + 30 (0,06)
Calor de hidratação = 92,3 cal/g cimento anidro (calor total)
O calor liberado à idade de 28 dias utiliza os dados da Tabela 4:
Calor de hidratação aos 28 dias – 0,90 x 92,3 = 83,1 cal/g de cimento anidro.

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Se fosse o caso,por exemplo, calor liberado à idade de 15 dias, deve-se interpolar na
Tabela 9.

REAÇÕES QUÍMICAS DOS CONSTITUINTES DO CIMENTO PORTLAND COM


A ÁGUA:

Observação:A substância Ca(OH)2, hidróxido de cálcio ou cal extinta, poderá ser


representada por CaO.H2O e, também, por CH, considerando-se que a H2O está sendo
representada por H o que facilita a grafia das Eq.(8) a (11)
2C3S + 6H  C3S2H3 + 3CH (8)
2C2S + 4H  C3S2H3 + CH (9)
C3A + 6H C3AH6 (10)
C4AF + 19H C4AFH19 .. ..(11)
O CH, desde o interior do material, é arrastado pela umidade, vem à superfície e reage
com o CO2 da atmosfera, formando o CaCO3, produzindo a chamada “eflorescência
branca”, conforme a equação (12).
Ca(OH)2 + CO2  CaCO3 + H2O (12)
O CH reage com o MgSO4 da água do mar, resultando o Mg(OH)2, que se deposita e o
CaSO4 (que acarreta expansão na massa do cimento) sofre hidratação e combina-se com o
C3A, dando o Sal de Candlot (C3A.3CaSO4.31H2O), agravando a fragmentação do
cimento; as Eq.(13) a (15), representam as reações químicas entre os materiais citados.
Ca(OH)2 + MgSO4  Mg(OH)2 + CaSO4 (13)
CaSO4.+ 2H2O  CaSO4.2H2O (14)
3(CaSO4.2H2O) + 25H2O + C3A  C3A.3CaSO4.31H2O) (15)

TIPOS DE CIMENTO PORTLAND:

Outros materiais podem, também, ser usados na fabricação do cimento Portland, sendo
adicionados ao clínquer.
Tais materiais podem ser:
a) a: escória de alto forno de indústrias siderúrgicas, (apresentando cálcio,
magnésio, silício, alumínio e oxigênio);
b) materiais pozolônicos (material formado por pozolona, que é um tipo de produto
de origem piroclástica que se encontra nas imediações de Pozzuoli, na Itália,
tendo composição silicosa ou sílico-aluminosa) e
c) fíleres (material proveniente da moagem fina de calcário) e outros.
Assim, há os diversos tipos de cimento Portland, com adições nas mais diversas
concentrações, conforme apresentado na Tabela: 10.

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Tabela 10 – Tipos de cimento Portland.

Clínqu
Tipos Adição Nomenclatur Escóri Pozolona Fíler
er +
a a
gesso

Comum sem CP I 100 - - -

Comum escória CP I S 95-99 1 - 5

composto fíler CP II F 90-94 - - 6-10

composto escória CP II E 56-94 6-34 - 0-10

composto pozolona CP II Z 76-94 - 6-14 0-10

Alto-forno escória CP III 25-65 35-70 - 0-5

pozolônico pozolona CP IV 55-85 - 15-45 0-5

alta
resistência com CP V ARI 95-100 - - 0-5
inicial

BIBLIOGRAFIA
1) Materiais de Construção
L.A. Falcão Bauer, 1o volume, capítulo 3, página 35;
2) El Cemento Portland y Otros Aglomerantes
F. Goná. Editores Técnicos Asociados S.A. Barcelona. España.
3) Manual do Concreto
Eng. Salvador Giamnusso
Biblioteca da UNISANTA – 624.183 – G362m.
4) Cimento Votoran
4.1) Fabricação e Utilização do Cimento Portland. Apostila, 17 folhas.
4.2) Cimento Votoran. CD da Votorantim/Cimentos, fornecido pelo Prof. Ramos, do
Curso de Engenharia Civil/UNISANTA.

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