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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

DEPTO. DE ENGENHARIA MECÂNICA


SISEA – LAB. DE SISTEMAS ENERGÉTICOS ALTERNATIVOS
www.usp.br/sisea

PME – 3361 Processos de Transferência de Calor


Prof. Dr. José R Simões Moreira

2o semestre/2016
versão 1.5
primeira versão: 2005
Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 2

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

Este trabalho perfaz as Notas de Aula da disciplina de PME


3361 - Processos de Transferência de Calor (antiga PME
2361) ministrada aos alunos do 3º ano do curso de
Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP.

O conteúdo aqui apresentado trata de um resumo dos


assuntos mais relevantes do livro texto “Fundamentos de
Transferência de Calor e Massa” de Incropera e Dewitt.
Também foram utilizados outros livros-texto sobre o
assunto para um ou outro tópico de interesse, como é o
caso do “Transferência de Calor” de Holman.

O objetivo deste material é servir como um roteiro de


estudo, já que tem um estilo quase topical e ilustrativo. De
forma nenhuma substitui um livro texto, o qual é mais
completo e deve ser consultado e estudado.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 3

Prof. José R. Simões Moreira

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2457667975987644

Breve Biografia

Graduado em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da USP (1983), Mestre em


Engenharia Mecânica pela mesma instituição (1989), Doutor em Engenharia Mecânica -
Rensselaer Polytechnic Institute (1994) e Pós-Doutorado em Engenharia Mecânica na
Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (1999). Atualmente é Professor Associado da
Escola Politécnica da USP, professor do programa de pós-graduação do Instituto de Energia e
Meio Ambiente (IEE-USP), professor de pós-graduação do programa de pós-graduação em
Engenharia Mecânica da EPUSP, pesquisador do CNPq, consultor ad hoc da CAPES, CNPq,
FAPESP, entre outros, Foi secretário de comitê técnico da ABCM, Avaliador in loco do
Ministério da Educação. Tem experiência na área de Engenharia Térmica, atuando
principalmente nos seguintes temas: mudança de fase líquido-vapor, uso e processamento de gás
natural, refrigeração por absorção, tubos de vórtices, sensores bifásicos, energia solar, ciclos
termoquímicos e sistemas alternativos de transformação da energia. Tem atuado como revisor
técnico de vários congressos, simpósios e revistas científicas nacionais e internacionais.
MInistra(ou) cursos de Termodinâmica, Transferência de Calor, Escoamento Compressível,
Transitórios em Sistemas Termofluidos e Sistemas de Cogeração, Refrigeração e Uso da
Energia e Máquinas e Processos de Conversão de Energia. Coordenou cursos de especialização
e extensão na área de Refrigeração e Ar Condicionado, Cogeração e Refrigeração com Uso de
Gás Natural, termelétricas, bem como vários cursos do PROMINP. Atualmente coordena um
curso de especialização intitulado Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência
Energética por meio do PECE da Poli desde 2011 em sua décima segunda edição. Tem sido
professor de cursos de extensão universitária para profissionais da área de termelétricas,
válvulas e tubulações industriais, ar condicionado, tecnologia metroferroviária e energia. Tem
participado de projetos de pesquisa de agências governamentais e empresas, destacando:
Fapesp, Finep, Cnpq, Eletropaulo, Ipiranga, Vale, Comgas, Petrobras, Ultragaz e Fapesp/BG-
Shell. Foi agraciado em 2006 com a medalha ´Amigo da Marinha`. Foi professor visitante na
UFPB em 2000 - João Pessoa e na UNI - Universitat Nacional de Ingenieria em 2002 (Lima -
Peru). Foi cientista visitante em Setembro/2007 na Ecole Polytechnique Federale de Lausanne
(Suiça) dentro do programa ERCOFTAC - ´European Research Community On Flow,
Turbulence And Combustion`. Participou do Projeto ARCUS na área de bifásico em
colaboração com a França. Foi professor visitante no INSA - Institut National des Sciences
Appliquées em Lyon (França) em junho e julho de 2009. Tem desenvolvido projetos de cunho
tecnológico com apoio da indústria (Comgas,Eletropaulo, Ipiranga, Petrobras e Vale). Possui
uma patente com aplicação na área automobilística. É autor de mais de 100 artigos técnico-
científicos, além de ser autor dos livros "Fundamentos e Aplicações da Psicrometria" (1999) e
“Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética (2016) e autor de um
capítulo do livro "Thermal Power Plant Performance Analysis" (2012). Já orientou mais de 20
mestres e doutores, além de cerca de 50 trabalhos de conclusão de curso de graduação e
diversas monografias de cursos de especialização e de extensão, bem como trabalhos de
iniciação científica, totalizando um número superior a 90 trabalhos. Possui mais de 100
publicações, incluindo periódicos tecnico-científicos nacionais e internacionais. Finalmente,
coordena o laboratório e grupo de pesquisa da EPUSP de nome SISEA - Lab. de Sistemas
Energéticos Alternativos.

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AULA 1 - APRESENTAÇÃO

1.1. INTRODUÇÃO

Na EPUSP, o curso de Processos de Transferência de Calor sucede o curso de


Termodinâmica clássica no 3º ano de Engenharia Mecânica. Assim, surge de imediato a
seguinte dúvida entre os alunos: Qual a diferença entre “Termo” e “Transcal”? ou “há
diferença entre elas”?
Para satisfazer à essa dúvida, vamos considerar dois exemplos ilustrativos das áreas de
aplicação de cada disciplina. Para isso, vamos recordar um pouco das premissas da
Termodinâmica.

A Termodinâmica lida com estados de equilíbrio térmico, mecânico e químico, e é


baseada em três leis fundamentais:

- Lei Zero (“equilíbrio de temperaturas” – permite a medida de


temperatura e o estabelecimento de uma escala de temperatura)
- Primeira Lei (“conservação de energia” – energia se conserva)
- Segunda Lei (“direção em que os processos ocorrem e limites de
conversão de uma forma de energia em outra”)

Dois exemplos que permitem distinguir as duas disciplinas:

(a) Equilíbrio térmico – frasco na geladeira

Considere um frasco fora da geladeira à temperatura ambiente. Depois, o mesmo é


colocado dentro da geladeira, como ilustrado. Claro que, inicialmente, TG  T f

frasco

t

T f  Tambiente T f  TG

inicial final

As seguintes análises são pertinentes, cada qual, no âmbito de cada disciplina:

Termodinâmica: QT  U  mcT - fornece o calor total necessário a ser transferido do


frasco para resfriá-lo baseado na sua massa, diferença de temperaturas e calor específico
médio – APENAS ISTO!

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Transferência de calor: responde outras questões importantes, tais como: quanto


tempo t  levará para que o equilíbrio térmico do frasco com seu novo ambiente
(gabinete da geladeira), ou seja, para que Tf = TG seja alcançado? É possível reduzir (ou
aumentar) esse tempo?

Assim, a Termodinâmica não informa nada a respeito do intervalo de tempo t para


que o estado de equilíbrio da temperatura do frasco ( T f ) com a da geladeira ( TG ) seja
atingido, embora nos informe quanto de calor seja necessário remover do frasco para
que esse novo equilíbrio térmico ocorra. Por outro lado a disciplina de Transferência
de Calor vai permitir estimar o tempo t , bem como definir quais parâmetros podemos
interferir para que esse tempo seja aumentado ou diminuído, segundo nosso interesse.

De uma forma geral, toda vez que houver gradientes ou diferenças finitas de
temperatura ocorrerá também uma transferência de calor. A transferência de calor pode
se dar no interior de um corpo ou sistema ou na interface da superfície deste corpo e um
meio fluido.

(b) Outro exemplo: operação de um ciclo de compressão a vapor

qc

condensador

compressor válvula

wc evaporador

qe
TERMIDINÂMICA: 1ª Lei: wc  qe  qc . Permite conhecer ou estabelecer o trabalho
e os fluxos de calor envolvidos, mas não permite dimensionar os equipamentos
(tamanho e diâmetro das serpentinas do condensador e do evaporador, por exemplo),
apenas lida com as formas de energia envolvidas e o desempenho do equipamento,
como o COP:
q
COP  e
wc

TRANSFERÊNCIA DE CALOR: permite dimensionar os equipamentos térmicos de


transferência de calor. Por exemplo, responde às seguintes perguntas:

- Qual o tamanho do evaporador / condensador?


- Qual o diâmetro e o comprimento dos tubos?
- Como atingir maior / menor troca de calor?
- Outras questões semelhantes.
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Problema-chave da transferência de calor: o conhecimento do fluxo de calor.

O conhecimento dos mecanismos de transferência de calor permite:

- Aumentar o fluxo de calor: projeto de condensadores, evaporadores, caldeiras, etc.;


- Diminuir o fluxo de calor: Evitar ou diminuir as perdas durante o “transporte” de frio
ou calor como, por exemplo, tubulações de vapor, tubulações de água “gelada” de
circuitos de refrigeração;
- Controle de temperatura: motores de combustão interna, pás de turbinas, aquecedores,
etc.

1.2 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

A transferência de calor ocorre de três formas, quais sejam: condução, convecção e


radiação térmica. Abaixo se descreve cada um dos mecanismos.

(a) Condução de calor

- Gases, líquidos – transferência de calor dominante ocorre da região de alta


temperatura para a de baixa temperatura pelo choque de partículas mais energéticas para
as menos energéticas.
- Sólidos – energia é transferência por vibração da rede (menos efetivo) e, também, por
elétrons livres (mais efetivo), no caso de materiais bons condutores elétricos.
Geralmente, bons condutores elétricos são bons condutores de calor e vice-versa. E
isolantes elétricos são também isolantes térmicos (em geral).

A condução, de calor é regida pela lei de Fourier (1822)

T1 . . T2
qx

sólido

dT
qx  A
dx

onde: A : área perpendicular ao fluxo de calor q x


T : temperatura

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A constante de proporcionalidade  é a condutividade ou condutibilidade térmica do


material, k, ou seja:
dT
qx  kA
dx

As unidades no SI das grandezas envolvidas são:


[ qx ] = W ,
[ A ] = m2 ,
[ T ] = K ou o C ,
[x] = m.
W W
assim, as unidades de k são: [ k ] = ou
m C
o
mK

A condutividade térmica k é uma propriedade de transporte do material. Geralmente, os


valores da condutividade de muitos materiais encontram-se na forma de tabela na seção
de apêndices dos livros-texto.

Necessidade do valor de (-) na expressão

Dada a seguinte distribuição de temperatura:

Para T2  T1
T

T2

T

x
T1

x1 x2 x

qx  0 (pois o fluxo de calor flui da região de maior para a de menor temperatura. Está,
portanto, fluindo em sentido contrário a orientação de x)

T  0 T
Além disso, do esquema;   0 , daí tem-se que o gradiente também será
x  0  x
positivo, isto é:

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dT
0 mas, como k  0 (sempre), e A  0 (sempre), concluí-se que,
dx
então, é preciso inserir o sinal negativo (-) na expressão da condução de calor (Lei de
Fourier) para manter a convenção de que qx  0
Se as temperaturas forem invertidas, isto é, T1  T2 , conforme próximo esquema, a
equação da condução também exige que o sinal de (-) seja usado (verifique!!)

De forma que a Lei da Condução de Calor é:

dT Lei de Fourier (1822)


q x  kA
dx

(b) Convecção de Calor

A convecção de calor é baseada na Lei de resfriamento de Newton (1701)

q  A(TS  T )

Onde a proporcionalidade  é dada pelo coeficiente de transferência de calor por


convecção, h, por vezes também chamado de coeficiente de película. De forma que:

q  hA(TS  T )

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onde:
A : Área de troca de calor;
TS : Temperatura da superfície;
T : Temperatura do fluido ao longe.

- O problema central da convecção é a determinação do valor de h que depende de


muitos fatores, entre eles: geometria de contato fluido-superfície (área da superfície, sua
rugosidade e sua geometria), propriedades termodinâmicas e de transportes do fluido,
temperaturas envolvidas, velocidades. Esses são alguns dos fatores que interferem no
seu valor.

(c) Radiação Térmica

A radiação térmica é a terceira forma de transferência de calor e é regida pela lei de


Stefan – Boltzmann. Sendo que Stefan a obteve de forma empírica (1879) – e
Boltzmann, de forma teórica (1884).
Corpo negro – irradiador perfeito de radiação térmica

q  AT 4 (para um corpo negro)

  constante de Stefan – Boltzmann (5,669x10-8 W/m2 K4)

Corpos reais (cinzentos) q   AT 4 , onde  é a emissividade da superfície que é


sempre menor que a unidade.

Mecanismo físico: Transporte de energia térmica na forma de ondas eletromagnéticas


ou fótons, dependendo do modelo físico adotado. Não necessita de
meio físico para se propagar. Graças a essa forma de transferência
de calor é que existe vida na Terra devido à energia na forma de
calor da irradiação solar que atinge nosso planeta.

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AULA 2 – CONDUÇÃO DE CALOR

CONDUÇÃO DE CALOR

Condutibilidade ou Condutividade Térmica, k

Da Lei de Fourier da condução de calor, tem-se que o fluxo de calor, q, é diretamente


proporcional ao gradiente de temperaturas, de acordo com a seguinte expressão:

T
qk , onde A é a área perpendicular à direção do fluxo de calor e k é a
x
condutividade térmica do material.

A
q

As unidades no SI da condutividade térmica, k, do material, são:

k   qT   k   W
 k   W
ou
W
m o C
A
o
C m.K
m2
x m

Sendo:
k: propriedade (de transporte) do material que pode ser facilmente determinada de forma
experimental. Valores tabelados de diversos materiais se encontram na seção de
apêndice do livro-texto.

Exemplo de experimento laboratorial para obtenção de k


i
Resistência
elétrica
A
isolante

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
Pontos de medição de
temperatura
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No experimento indicado, uma corrente elétrica é fornecida à resistência elétrica


enrolada em torno da haste do bastão. O calor gerado por efeito joule vai ser conduzido
dentro da haste para fora do bastão (lado direito). Mediante a instalação de sensores de
temperatura (termopares, por ex.), pode-se levantar o perfil da distribuição de
temperaturas como aquele indicado no gráfico acima. Estritamente falando, esse perfil
temperatura de é linear, como vai se ver adiante. Por outro lado, o fluxo de calor
fornecido é a própria potência elétrica dissipada, ou seja, q  R  I 2  U  I . Sendo a
seção transversal A conhecida, então, da lei de Fourier, determina-se a condutividade
q
térmica do material da haste, k. Neste caso, k  .
T
A
x

Um aspecto importante da condução de calor é que o mecanismo da condução de calor é


diferente dependendo do estado físico e da natureza do material. Abaixo, indicam-se os
mecanismos físicos de transporte de acordo com o estado físico.

Gases

O choque molecular permite a troca de energia cinética das moléculas mais


energéticas para as menos energéticas. A energia cinética está relacionada com a
temperatura absoluta do gás. Quanto maior a temperatura, maior o movimento
molecular, maior o número de choques e, portanto, mais rapidamente a energia térmica
flui. Pode-se mostrar que.

k T

Para alguns gases, a pressão moderada, k é só função de T. Assim, os dados


tabelados para uma dada temperatura e pressão podem ser usados para outra pressão,
desde que seja à mesma temperatura. Isso não é valido próximo do ponto critico.

Líquidos

Qualitativamente o mecanismo físico de transporte de calor por condução nos


líquidos é o mesmo que o dos gases. Entretanto, a situação é consideravelmente mais
complexa devido à menor mobilidade das moléculas.

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Sólidos

Duas maneiras básicas regem a transferência de calor por condução em sólidos:


vibração da rede cristalina e transporte por elétrons livres. O segundo modo é o mais
efetivo e é o preponderante em materiais metálicos. Isto explica porque, em geral, bons
condutores de eletricidade também são bons condutores de calor. A transferência de
calor em isolantes se dá, por meio da vibração da rede cristalina, que é menos eficiente.

O diagrama a seguir ilustra qualitativamente as ordens de grandeza da condutividade


térmica dos materiais. Nota-se que, em geral, a condutividade aumenta na sequência de
gases, líquidos e sólidos e que os metais puros são os de maior condutividade térmica.

EQUAÇÃO GERAL DA CONDUÇÃO DE CALOR EM COORDENADAS


CARTESIANAS

Balanço de energia em um
volume de controle elementar

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BALANÇO DE ENERGIA (1ª LEI)

Fluxo de Taxa de Taxa temporal Fluxo de


calor que calor de variação calor que
entra no + gerada = da energia + deixa o
V.C. no V.C. Interna no V.C. V.C.

(I) (II) (III) (IV)

Sejam os termos:

(I) Fluxo de calor que entra no V.C.

Direção x
T T
q x   k x dy  dz   -k x dA
x x
Direção y
T
q y   k y dx  dz 
y
T T
qykdDireção
xz z qzkdxy
y y
T
qz   k z dx  dy 
z

(II) Taxa de calor gerado

E G  q 'G''  dx  dy  dz

onde: q g''' = Taxa de calor gerado na unidade de volume. W  m 3

(III) Taxa temporal de variação da energia interna

U u T
E ar  m   dx dy dz  c
t t t

onde: c = calor específico; m = massa elementar do V.C. e  a densidade. kJ / kg o C

(IV) Fluxo de calor que deixa o V.C. – expansão em serie de Taylor:

q
Direção x: qxdxdx q x  dx  q x  q x dx  0(dx 2 )
x x

q y
Direção y: q y  dy  q y  dy    
y

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q z
Direção z: q z  dz  q z  dz    
z

Então, juntando os termos (I) + (II) = (III) + (IV), vem:

T q q y q
q x  q y  q z  qG''' dxdydz  cdxdydz  q x  x dx  q y  dy  q z  z dz
t x y z
+ ordem superior
simplificando os termos q x , q y e q z , vem:

T q x q y q
qG''' dxdydz  cdxdydz  dx  dy  z dz,
t x y z

e, substituindo a Lei de Fourier para os termos de fluxo de calor,

T   T    T    T 
qG''' dxdydz  cdxdydz  k x  dxdydz  k y  dxdydz  k z dxdydz
t x  x  y  y  z  z 

Eliminando o volume de controle elementar dxdydz, temos finalmente:

  T    T    T  T
 kx   k y   k z   qG'"  c
x  x  y  y  z  z  t

Essa é a equação geral da condução de calor. Não existe uma solução geral analítica
para a mesma, porque se trata de um problema que depende das condições inicial e de
contorno. Por isso, ela é geralmente resolvida para diversos casos que dependem da
geometria do problema, do tipo (regime permanente) que perfazem as condições de
contorno e inicial. Evidentemente, procura-se uma solução do tipo: T  T ( x, y, z, t ) . A
seguir são apresentados alguns casos básicos.

Casos:

A) Condutividade térmica uniforme (material isotrópico) e constante (independe


de T)

kx  k y  kz  k

 2T  2T  2T q'g'' 1 T
   
2
x

y 
z 2 2 k  t

2T

onde,

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k
=
c é conhecida como difusibilidade ou difusividade térmica, cuja unidade no SI é:
 W 
   k    m  K   W  m²  s  m²
 
 c  kg   J  J s s

 m 3  kg  K 
  

Essa equação ainda pode ser escrita em notação mais sintética da seguinte forma:

qG''' 1 T
 2T  
k  t

onde:
2 2 2
2    é o operador matemático chamado de Laplaciano no
x 2 y 2 z 2
sistema cartesiano de coordenadas.
Esta última forma de escrever a equação da condução de calor é preferível, pois,
embora ela tenha sido deduzida acima para o sistema cartesiano de coordenadas, a
formulação simbólica do laplaciano independe do sistema de coordenadas adotado.
Caso haja interesse em usar outros sistemas de coordenadas, basta substituir o
Laplaciano do sistema de interesse, como exemplificado abaixo,

1     1 2 2
- Cilíndrico: 2   r   
r r  r  r 2  2 z 2

1   2  1     1 2
- Esférico: 2   r    sen  
r 2 r  r  r 2 sen     r 2 sen 2  2

B) Sem geração de calor e k uniforme e constante, qG'''  0

1 T
 2T 
 t (Eq. de Fourier)

T
C) Regime permanente (ou estacionário) e k uniforme e constante, 0
t

qG'''
T 0
2
(Eq. de Poisson)
k

D) Regime permanente e k constante e uniforme

2T  0 (Eq. de Laplace)

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AULA 3 – CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL EM REGIME


PERMANENTE SEM GERAÇÃO – PLACA OU PAREDE PLANA
O caso mais simples que se pode imaginar de transferência de calor por condução é o
caso da parede ou placa plana, em regime permanente, sem geração interna de calor e
propriedades de transporte (condutividade térmica) constantes. Este é o caso ilustrado
na figura abaixo em que uma parede de espessura L, tendo a face esquerda mantida a
uma temperatura T1, enquanto que a face à direita é mantida à temperatura T2. Poderia se
imaginar que se trata, por exemplo, de uma parede que separa dois ambientes de
temperaturas distintas. Como se verá, a distribuição de temperaturas T(x) dentro da
parede é linear, como indicado na figura, com T1 > T2.

Para resolver esse caso, vamos partir da equação geral da condução de calor, deduzida
na aula anterior, isto é:
q ''' 1 T
 2T  G 
k  t

Introduzindo as simplificações do problema, vem:

i. Não há geração interna de calor:  qG  0


T
ii. Regime permanente:   0
t
2
iii. Unidimensional (1D):  
2
x2
1

d 2T
Assim, com essas condições, vem que  0 , e a solução procurada é do tipo T(x).
x 2

dT
Para resolver essa equação considere a seguinte mudança de variáveis:  
dx
d
Logo, substituindo na equação, vem que 0
dx

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Integrando por separação de variáveis vem:

 d  C , ou seja:   C
1 1

dT dT
Mas, como foi definido    C1
dx dx
Integrando a equação mais uma vez, vem:

T ( x)  C1 x  C 2 Que é a equação de uma reta, como já antecipado.

Para se obter as constantes C1 e C2, deve-se aplicar as condições de contorno que, nesse
exemplo, são dadas pelas temperaturas superficiais das duas faces. Em termos
matemáticos isso quer dizer que

(A) em x = 0  T  T1
(B) e em x = L  T  T2

De (A): C2  T1
T2  T1
e de (B): T2  C1 L  T1  C1 
L

Assim, x
T ( x)  (T2  T1)  T1
L

Para efeito de ilustração, suponha que T1  T2 , como mostrado na figura abaixo.

Cálculo do fluxo de calor transferido através da


parede
.
Para isso, deve-se usar a Lei de Fourier, dada por:
dT
q  k
dx
e, substituindo a distribuição de temperaturas,
vem:
d   T  T 
q  k T2  T1   T1   k 2 1 , ou,
x
dx  L  L
em termos de fluxo de calor por unidade de área,
q
temos: q ''   k 2 1
T  T  W m2  
 L

Esquecendo o sinal de (-), vem


T
q ''  k
L

____________________________
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 18

Conhecida a equação que rege do fluxo de calor através da parede, podemos:

Aumentar o fluxo de calor q”:


. Com o uso de material bom condutor de calor, isto é com k 
. Ou, pela diminuição da espessura da parede, isto é L 

Ou diminuir o fluxo de calor q”:


. Com o uso de material isolante térmico k 
. Ou, pelo aumento da espessura da parede, isto é L 

CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL EM REGIME PERMANENTE SEM


GERAÇÃO INTERNA DE CALOR – TUBO CILÍNDRICO.

Este é o caso equivalente, em coordenadas cilíndricas, ao da condução de calor


unidimensional, em regime permanente, sem geração de calor e condutividade térmica
constante estudado acima para uma parede ou placa plana. A diferença é que sua
aplicação é para tubos cilíndricos.

qG''' 1 T
A equação geral é da forma  2T  
k  t

Neste caso, a geometria do problema indica que se deve resolver o problema em


coordenadas cilíndricas. Para isso, basta usar o Laplaciano correspondente, isto é:

1   T  1  2T  2T qG''' 1 T
r    
r r  r  r 2  2 z 2 k  t

Introduzindo as simplificações:

i. Não há geração interna de calor:  qG  0


T
ii. Regime permanente:   0
t
iii. Unidimensional (1D): que é válido para um tubo muito longo, ou
 2T
seja, T não depende de z, logo 0
z 2
 2T
iv. Há uma simetria radial, T não depende de , isto é: 2  0


As simplificações (iii) e (iv) implicam que se trata de um problema unidimensional na


direção radial, r. A aplicação dessas condições resulta em:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 19

d  dT 
r   0 , onde a solução procurada é do tipo T  T (r )
dr  dr 

As condições de contorno para a ilustração indicada acima são:

A superfície interna é mantida a uma temperatura constante, isto é: r  ri  T  Ti


A superfície externa é também mantida a uma outra temperatura constante, isto é:
r  re  T  Te

Solução:

1a Integração – separe as variáreis e integra uma vez, para resultar em:

 dT  dT
 d  r dr dr   0dr  C 1  r
dr
 C1

Integrando pela 2a vez, após separação de variáveis, vem:

dr
 dT   C 1
r
 C2

T r   C1 ln(r )  C2

Portanto, a distribuição de temperaturas no caso do tubo cilíndrico é logarítmica e não


linear como no caso da parede plana.

Determinação de C1 e C2 por meio da aplicação das condições de contorno:

(A) r  ri  T  Ti  Ti  C1 ln(ri )  C2

(B) r  re  T  Te  Te  C1 ln( re )  C2

ri T T
Fazendo-se (A) – (B), temos que Ti  Te  C1 ln , ou C1  i e
re r
ln i
re

Finalmente, na eq. da distribuição de temperaturas:

Ti  Te
T r  
r
ln  Te
ri re
ln
re

Distribuição de temperatura, supondo Ti  Te .

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 20

T
Ti Lei logarítmica

Te
ri re
raio

dT
O fluxo de calor é obtido por meio da Lei de Fourier, isto é, qk
dr
Atenção a esse ponto, a área A é a área perpendicular ao fluxo de calor e não a área da
seção transversal. Portanto, trata-se da área da “casquinha” cilíndrica ilustrada abaixo.

A  2rL (casca cilíndrica), L é o comprimento do tubo

Substituindo a distribuição logarítmica de temperatura na equação de Fourier,


T (r )  C1 ln(r )  C2 , vem:

d
q  k 2rL [C1 ln( r )  C 2 ]
dr
ou, efetuando a derivação, temos:
1
q  2kLrC1
r
ou, ainda: q  2kLC1

q  2kL
Te  Ti 
Substituindo, C1 :  r  (W)
ln i 
 re 

O fluxo de calor total q é constante através das superfícies cilíndricas!


Entretanto, o fluxo de calor por unidade de área q '' depende da posição radial

q 2kL (Te  Ti )
q ''  
A 2rL  ri 
ln  
 re 

k (Te  Ti )
q '' 
r  ri 
W m2 
ln  
 re 

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AULA 4 – PAREDES PLANAS COMPOSTAS

Condução unidimensional, regime permanente, sem geração de calor – paredes


compostas.

Para resolver de forma rápida e simples este problema, note que o fluxo de calor q é o
mesmo que atravessa todas as paredes. Assim, para cada parede pode-se escrever as
seguintes equações:

(T1  T2 ) qL1
- parede 1: q  k1 A  T1  T2 
L1 k1 A

(T2  T3 ) qL2
- parede 2: q  k2 A  T2  T3 
L2 k2 A

(T3  T4 ) qL3
- parede 3: q  k3 A  T3  T4 
L3 k3 A

Assim, somando os termos _____________


L
de todas as paredes: T1  T4  q  i
ki A
ou, simplesmente,
T
q
R

Onde, T refere-se à diferença total de temperaturas da duas faces externas e R é a


L
resistência térmica da parede composta, dada por R   i
ki A

ANALOGIA ELÉTRICA

Nota-se que existe uma analogia elétrica perfeita entre fenômenos elétricos e térmicos
de condução de calor, fazendo a seguinte correspondência:
iq
U  T
RÔHMICO  RTÉRMICO

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q

Por meio de analogia elétrica, configurações mais complexas (em série e paralelo) de
paredes podem ser resolvidas.

Circuito elétrico equivalente

Fluxo de calor que é:


T
q  total
RT
RT  R1  R//  R5
com
1 1 1 1
  
R// R2 R3 R4

Resistência térmica de contato

Quando as superfícies de dois sólidos são colocadas em contato para formar uma parede
composta, a região interfacial entre eles pode ter uma resistência térmica de contato,
��," , devido ao fato de que não existe uma contato “perfeito” entre as duas superfícies,
como ilustrado abaixo, devido à rugosidade superficial. A transferência de calor se dará
por condução nos pontos de contato dos picos das rugosidades e pela condução através
do fluido que preenche o espaço entre as superfícies. Radiação térmica também pode
estar presente.

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A resistência térmica de contato é dada por

� − �
��," =
��"

Alguns valores de resistência térmica estão indicados na Tabela 3.2 do livro do


Incropera, reproduzida a seguir.

CONDUÇÃO EM PLACA PLANA COM GERAÇÃO INTERNA DE CALOR

Geração interna de calor pode resultar da conversão de uma forma de energia em calor.

Exemplos de formas de energia convertidas em calor:

1. Geração de calor devido à conversão de energia elétrica em calor (efeito Joule)

P  RI 2 (W)

Onde: P : potência elétrica transformada em fluxo de calor por efeito Joule (W)
R : resistência ôhmica (  )
I : corrente elétrica (A)

Ainda, U : diferença de potencial elétrico (V)


U2
P  UI ou P
R

''' P
Em termos volumétricos, qG ''' (W / m3 ) , qG  (W/m3), onde V : volume onde o
V
calor é gerado.

2. Geração de calor devido a uma reação química exotérmica (qG '''  0) como, por
exemplo, o calor liberado durante a cura de resinas e concreto. Já, no caso de uma
reação endotérmica, qG '''  0 .

3. Outras formas tais de geração de calor devido à absorção de radiação, nêutrons, etc...

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Parede (placa) plana com geração de calor uniforme (resistência elétrica plana).

b  L
i
T1

2b

2L
T2

Equação geral

qG
'''
1 T , T
 2T   sendo que  0 (regime permanente)
k  t t
'''
qG
 2T  0 T  T (x)
k

Condições de contorno:

(1) x  L T  T1

(2) xL T  T2

Solução
dT
Seja a seguinte mudança de variável (apenas por conveniência):   ,
dx
'''
Então d  qG

dx k

Integrando essa equação por partes, vem:


'''
q
mas como   dT , então dT
' ''
 qG
 d   k dx  C1 , dx dx
  G x  C1
k

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Integrando novamente:
'''
 qG x 2
T ( x)   C1 x  C2
2k

Obs.: Trata-se de uma distribuição parabólica de temperaturas.

 Como no caso da resistência elétrica qG ''' (geração de calor) é positivo e,


claro, k também é positiva, a constante que multiplica o termo x 2 é negativa
 parábola com a concavidade voltada para baixo. Por outro lado, se qG '''
for negativo, o que pode ocorrer com processos de curas de algumas resinas
(processos endotérmicos), então a concavidade será voltada para cima.

Determinação das constantes C1 e C2 :

Condições de contorno
'''
q G L2
(1) T1    C1 L  C 2 - temperatura da face esquerda conhecida
2k
'''
q L2
(2) T2   G  C1 L  C 2 - temperatura da face direita conhecida
2k

Somando (1)+(2), vem:


''' '''
 qG L2 T  T q L2 .
T1  T2   2C 2  C2  1 2  G
k 2 2k

T2  T1
Substituindo em (1) ou (2), tem-se C1 
2L

Então, a distribuição final de temperaturas é:

q G ''' ( L2  x 2 ) x T1  T2
T ( x)   (T2  T1 ) 
2k 2L 2

 CASOS:

(A) Suponha que as duas faces estejam à mesma


temperatura: T1  T2  TS . Daí, resulta que:

'''
qG ( L2  x 2 )
T ( x)   TS
2k

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É uma distribuição simétrica de temperaturas. A máxima temperatura, nesse caso,


ocorre no plano central, onde x  0 (note a simetria do problema). Se for o caso pouco
comum de uma reação endotérmica, ou qG ''' < 0, a concavidade seria voltada para abaixo
e, no plano central, haveria a mínima temperatura.

dT
Também poderia se chegar a essa expressão usando 0
dx
'''
qG L2
TMÁX  TC   TS
2k

O fluxo de calor (lei de Fourier)

dT
q  kA ou, o fluxo de calor por unidade de área,
dx
q dT
q ''   k , substituindo a distribuição de temperaturas, vem:
A dx

d  qG''' ( L  x ) 
2 2
q''  k   TS  ,
dx  2k 

'''
q ''  xqG
ou, simplesmente:

No plano central (x = 0) o fluxo de calor é nulo devido à simetria do problema e das


condições de contorno.

Dessa forma, o plano central age como o caso de uma parede adiabática, q ''  0

(B) Nesse caso, suponha que a temperatura de uma das faces seja maior: Por exemplo,
T1  T2 , como ilustrado abaixo a seguir.

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Plano em que ocorre a máxima temperatura, Tmáx ( xmáx )

Sabemos que o fluxo de calor é nulo em xmáx :

dT
k 0 ou
dx xmáx

d  qG x T1  T2 
'''

 ( L2  x 2 )  (T2  T1 )    0 , que resulta em:


dx  2k 2L 2 

' ''
qG (T  T1 )
 x máx  2 0
k 2L

Cuja solução é: (T2  T1 )k


x máx 
2 LqG'''

Substituindo-se o valor de xmáx na expressão da distribuição da temperatura, encontra-se


o valor da máxima temperatura Tmáx . Tente fazer isso!

PENSE: Suponha que você é um engenheiro-perito e é chamado para dar um parecer


sobre um incêndio com suspeita de ter origem no sobreaquecimento do sistema elétrico.
Como você poderia, a partir de uma análise na fiação elétrica, inferir se houve ou não
sobreaquecimento à luz do assunto tratado nesta aula?

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 28

AULA 5 - CONDUÇÃO DE CALOR EM CILINDROS COM


GERAÇÃO INTERNA DE CALOR e COEFICIENTE
GLOBAL DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR
Nesta aula, vai se estudar o caso da geração interna
de calor em cilindros maciços. Como exemplo de
aplicação tem-se o calor gerado por efeito joule
devido à passagem de corrente elétrica em fios
elétricos, como indicado na figura ao lado.

Partindo da equação geral da condução de calor:


q ''' 1 T
 2T  G 
k  t (Regime permanente)

Neste caso, é conveniente usar o Laplaciano em coordenadas cilíndricas, isto é:

1   T  1  2T  2T
 2T  r  
r r  r  r 2  2 z 2

Hipóteses adicionais
2
- simetria radial: 0 (não há influência da posição angular numa seção
 2
transversal, pois há simetria radial)
 2
- o tubo é muito longo:  0 (não há efeitos de borda na direção axial)
z 2

Logo, trata-se de uma distribuição de temperaturas unidimensional na direção radial, ou


seja, T  T (r )

Assim, introduzindo essas simplificações na equação geral da condução, vem:


'' '
1 d  dT  q G
r  0
r dr  dr  k

Ou, integrando por partes:

'''
 dT  qG
'''
dT q r2
 d  r dr     k rdr  C1 , ou, ainda: r
dr
 G
2k
 C1

Integrando novamente por separação de variáveis:


 q G ''' C1 
 dT    2k r  r dr  C 2
 

'''
qG r 2
T (r )   C1 ln r  C2
4k
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*condições de contorno para obtenção das constantes C1 e C2:

(1) T (r  r0 )  TS a temperatura da superfície TS é conhecida


dT
(2) 0 simetria radial na linha central
dr r 0

Isso implica dizer que o fluxo de calor é nulo na linha central e, como decorrência,
também pode-se afirmar que a máxima temperatura Tmáx ocorre nessa linha.

Da segunda condição de contorno, vem que:

 q ''' r C 
lim  G  1   0
 2k
r 0 r 

Do que resulta em C1  0 , para que a expressão permaneça sempre nula.


Da primeira condição de contorno.

'''
'''
q r2 q r2
TS   G  C2 ou, C2  TS  G 0
4k 4k

Finalmente, a equação da condução de calor fica:

'''

T
4k
r0  r 2   TS
qG 2

É uma distribuição parabólica de temperatura (2º. grau) !

qG '''r02
Sendo, Tmáx   TS
4k

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EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Considere um tubo cilíndrico longo revestido de isolamento térmico perfeito do lado
externo. Sua superfície interna é mantida a uma temperatura constante igual a Ti .

Considere, ainda, que ocorre geração de calor qG ''' uniforme.


a) calcule a distribuição de temperaturas;
b) determine o fluxo de calor total removido (internamente);
c) determine a temperatura da superfície externa.

Solução:

Hipóteses: as mesmas que as anteriores.


'''
Eq. 1 d  dT  qG
r  0
r dr  dr  k

Condições de contorno:

(1) T (r  ri )  Ti (temperatura interna constante)

dT
(2)  0 (fluxo de calor nulo na superfície)
dr re

A solução geral, como já visto, é:


'''
q r2
T (r )   G  C1 ln r  C 2
4k

Sendo, C1 e C2 saem das condições de contorno do problema específico:

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qG re  ri  
''' 2
q G re2 ''' 2
C1  ; C2  Ti     2 ln( ri )
2k 4k  re  

Assim,

q G re2
'''
 ri 2  r 2 r 
T (r )   2
 2 ln    Ti
4k  re  ri 

O fluxo de calor é:

dT
q  kA
dr

d
q  k (2 rL) T (r )
dr
Após substituir a distribuição de temperaturas e efetuar da derivada, vem:

q
L

  qG re2  ri 2
'''
 (W/m)

A temperatura máxima é:

Tmáx  Te

qG re2  ri 2  re2  re 
'''

Tmáx  Te    2 ln    Ti
4k  re2  ri 

OUTRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Num fio de aço inoxidável de 3,2mm de diâmetro e 30cm de comprimento é aplicada


uma tensão de 10V. O fio está mantido em um meio que está a 95o C e o coeficiente de
transferência de calor vale 10kW / m2 oC .
Calcule a temperatura no centro do fio. A resistividade do fio e de 70cm e sua
condutibilidade térmica vale 22,5W / m o C
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Solução:

Calor gerado por unidade de volume, isto é, a potência elétrica dissipada no volume.
U2 L
P  Ri 2  ; R
R A
  70  10   m
8

D2 (3,2  103 )2
L  0,3m , A   8,0425  10 6 m2
4 4
8
70  10  0,3
R  2,6111  10 2 
8,0425  10 6
100
P  3,830kW
2,6111  10 2
P 3,83  10 3 3,83  10 3
qG   
V A L 8,0425  10 6  0,3
W
qG  1,587  10 9 3
m
P
P  hA(TP  T )  TP  T 
hA
3,83  103
TP  95 
10  10   (3,2  103 )  0,3
3

TP  222o C
q   r 2
Tc  TP  G o
4k
1,587  109  (1,6  103 ) 2
Tc  222 
4  22,5

Tc  267o C

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RESISTÊNCIA TÉRMICA – Várias Situações

- paredes planas

T1  T2 L
q R
R kA

- circuito elétrico

- paredes compostas

- Circuito elétrico

Ainda,

onde
1 1 1 1
  
R// R2 R3 R4
REQ  R1  R//  R5
T1  T2
q
REQ

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- Tubo cilíndrico

ln  e 
r
T  Te
R  i 
r
q i ;
R 2kL

- Tubo cilíndrico composto

- Circuito elétrico

Req  Ri

r 
ln  i 1 
Req    i 
r
2k i L

Para dois tubos:

r  r 
ln  2  ln  3 
R1   1  R2   2 
r r
2k1L 2k2 L

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Por indução, como deve ser a resistência térmica devido à convecção de calor?

Lei de convecção (Newton)

Tp  T
q  hA(Tp  T ) e q
1
hA
1
onde, é a resistência térmica de convecção
hA

- Circuito elétrico

Para o caso em que houver convecção em ambas as paredes:

- Convecção em tubo cilíndrico

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Tabela-resumo de Resistências Térmicas

Fluxo de
Circuito Elétrico Transferência Resistências Térmicas
de calor
Parede plana

T1  T2 L
q R
R kA

Parede plana com


convecção R  R1  R2  R3
1 L 1
T1  T 2 R  
q h1 A kA h2 A
R

Paredes compostas

REQ  R1  R//  R5
T T
q 1 2 1 1 1 1
REQ   
R// R2 R3 R4

Tubo cilíndrico

ln  e 
r
T  Te
q i
R  i 
r
R
2kL

Tubo cilíndrico
composto
r 
T  Te ln  i 1 
q i
Req    i 
r
REQ
2k i L

Convecção em tubo
cilíndrico
ln  e 
Ti  Te r
q 1
Req   i  
r
REQ
2kL hA

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COEFICIENTE GLOBAL DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR U

O coeficiente global de transferência de calor é definido por:

q  UATtotal

Claramente, U está associado com a resistência térmica,

- parede plana

1 L 1
R  
h1 A kA h2 A

T
q  UAT
R

1 1
UA  ou U
R RA
Logo,
1
U
1 L 1
 
h1 k h2

- tubo cilíndrico

Há um problema associado com a área de referência. É preciso dizer se U se refere à


área interna do tubo, U i , ou à área externa, U e . No entanto, os dois valores são
intercambiáveis mediante a seguinte expressão:

U e Ae Ttotal  Ui Ai Ttotal

Logo, U e Ae  U i Ai
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 38

U referido à área externa:


1
Ue 
Ae ln  ri  1 re

2kL he
U referido à área interna:

1
Ui 
Ai ln re r
i
 
A
 i
2kL Ae he

RAIO CRÍTICO DE ISOLAMENTO TÉRMICO

As tubulações que transportam fluidos aquecidos (ou frios) devem ser isoladas do meio
ambiente a fim de restringir a perda (ou ganho) de calor do fluido, que implica em
custos e ineficiências. Aparentemente, alguém poderia supor que a instalação pura e
simples de camadas de isolantes térmicos seria suficiente. Entretanto, um estudo mais
pormenorizado mostrará a necessidade de se estabelecer um critério para realizar esta
operação.
Como visto, o fluxo de calor é

Ti  T
q
ln  ri 
re
1

2kL 2Lre h

2L(Ti  T )
ou, q
ln  
re
ri 1
k re h

Note que o raio externo que aparece no


denominador dessa expressão tem duas
contribuições: uma no termo de condução e a
outra no termo de convecção. De forma que, se
o raio externo do isolamento aumentar, ele
diminui uma das resistências térmicas (a de convecção), enquanto que a resistência
térmica de condução aumenta. Isto está ilustrado no gráfico acima e dá origem a um
ponto de maximização. Do cálculo, sabe-se que a máxima transferência de calor ocorre
quando a derivada é nula, isto é,

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 39

 
dq  2L(Ti  T )  1 1 
0  k .r  2 
dre  
 ln re r

1 
2
 e h.re 
 i

 k re h 

Assim,
1 1
 2  rcrit 
k
kre hre h

rcrit é o chamado raio crítico de isolamento.

k
Se o raio crítico de isolamento for originalmente menor que a transferência de calor
h
será aumentada pelo acréscimo de camadas de isolamento até a espessura dada pelo raio
crítico – conforme tendência do gráfico. Neste caso, ter-se-ia o efeito oposto ao
desejado de diminuir o fluxo de calor. Por outro lado, se originalmente a espessura de
isolamento for maior que a do raio crítico, adições sucessivas de camadas isolantes vão
de fato diminuir a perda de calor.
Para exemplificar, considere um valor do coeficiente de transferência de calor por
W
convecção de h = 7 (convecção natural). A tabela a seguir indica os raios críticos
m 2 oC
de isolamento para alguns isolantes térmicos.

material k W m o C  rcrit (mm)


Teflon 0,350 50,0
Papel 0,180 25,7
Couro 0,159 22,7
Borracha macia 0,130 18,6
Silicato de cálcio 0,055 7,9
Lã de vidro 0,038 5,4
Poliestireno expandido 0,027 3,9
Folhas de papel e alumínio de
0,000017 0,0024
vidro laminado

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AULA 6 - ALETAS OU SUPERFÍCIES ESTENDIDAS


Considere uma superfície aquecida (resfriada) que se deseja trocar calor com um fluido.

Da lei de resfriamento de Newton, vem que o fluxo de calor trocado é dado por
q  hATs  T  , onde h é o coeficiente de transferência de calor por convecção, A é a
área de troca de calor e Ts e T∞ são as temperaturas da superfície do fluido (ao longe).
Por uma simples análise, sabe-se que a transferência de calor pode ser melhorada, por
exemplo, aumentando-se a velocidade do fluido em relação à superfície. Com isso,
aumenta-se o valor do coeficiente de transferência de calor h e, por conseguinte, o
fluxo de calor trocado, como dado pela expressão de Newton. Porém, há um preço a
pagar e este preço é o fato que vai se exigir a utilização de equipamentos de maior porte
para movimentação do fluido, ou seja, maiores ventiladores (ar) ou bombas (líquidos).
Uma forma muito empregada de se aumentar a taxa de transferência de calor consiste
em aumentar a superfície de troca de calor com o emprego de aletas, como as ilustradas
abaixo.

Assim, o emprego das aletas permite uma melhora da transferência de calor pelo
aumento da área exposta ou de contato entre a superfície aquecida e o fluido.

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Alguns poucos exemplos de aplicação de aletas:

(1) camisa do cilindro de motores de combustão interna resfriados a ar, como os do


“velho” fusca e motores de motocicletas;
(2) carcaça de motores elétricos;
(3) condensadores e evaporadores, como os de aparelhos de ar condicionado;
(4) dissipadores de componentes eletrônicos e de cpus de computadores;
(5) orelhas de elefantes.

TIPOS DE ALETAS

A figura abaixo ilustra uma série de exemplos de aletas. Evidentemente, existem


centenas ou milhares de formas construtivas que estão, muitas das vezes, associadas ao
processo construtivo das mesmas (extrusão, soldagem, etc).

Figura 1– Diferentes tipos de superfícies aletadas, de acordo com Kreith e Bohn. (a)
aleta longitudinal de perfil retangular; (b) tubo cilíndrico com aletas de perfil
retangular; (c) aleta longitudinal de perfil trapezoidal; (d) aleta longitudinal de perfil
parabólico; (e) tubo cilíndrico equipado com aleta radial; (f) tubo cilíndrico equipado
com aleta radial com perfil cônico truncado; (g) pino cilíndrico; (h) pino cônico
truncado; (i) pino parabólico.

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EQUAÇÃO GERAL DA ALETA

Volume de controle
elementar, C

Hipóteses:

- regime permanente;
- temperatura uniforme na seção transversal;
- propriedades constantes.

Balanço de energia

 I   II   III 
     
 fluxo de calor que entra    fluxo de calor que que deixa    fluxo de calor que que sai 
 no V .C. p / condução   o V .C. p / condução   do V .C. p / convecção 
     

dT
(I) qx  kAx
dx
dq
(II) qx  dx  qx  x dx  o(dx 2 ) expansão em serie de Taylor
dx
(III) qc  hAL ( T  T )
qc  hPdx(T  T )

P : perímetro “molhado”, isto é, o perímetro da superfície externa (área lateral, AL) da


aleta que se encontra em contato com o fluido.

Substituindo-se as equações acima no balanço global de energia, vem:


dq
q x  q x  x dx  hPdx (T  T )  dx 
dx
dq x
 hP(T  T )  0
dx

Ou, substituindo a lei de Fourier da condução:

d  dT 
k A   hP(T  T )  0
dx  dx 

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Sendo   T  T  d  dT

d  d  hP
A   0 Esta é a equação geral da Aleta
dx  dx  k

   (x) que é a distribuição de temperaturas ao longo da aleta;


A  A(x) que depende da geometria da aleta (deve ser conhecida).

ALETA DE SEÇÃO TRANSVERSAL CONSTANTE: RETANGULAR

Do ponto de vista matemático, a equação de aleta mais simples de ser resolvida é a de


seção transversal constante como, por exemplo, uma aleta prismática de seção
transversal retangular ou circular. Assim, da equação geral com A = cte, vem:

d 2 hP
 m2  0 , m2 
d 2 kA

A solução é do tipo: ,
 ( x)  c1e mx  c2 e  mx

Essa solução provém do polinômio característico, o qual possui duas raízes reais e
distintas (m e –m) . Veja a seção “ lembrete de cálculo” abaixo.

Determinação das constantes c1 e c2 vêm das condições de contorno:

1a Condição de Contorno

T (0)  Tb
para x  0
 (0)  b  Tb  T

b  c1e0  c2e0

c1  c2  b

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LEMBRETE DE CÁLCULO

Solução geral de equação diferencial homogênea de 2a ordem e coeficientes constantes

d2y dy
2
 b  cy  0
dx dx

Assume-se que y  e nx

Substituindo essa solução, vem

m 2 e nx  bmenx  ce nx  e nx 
Daí, obtém-se o polinômio característico

n 2  bn  c  0

Caso 1: n1 e n2 reais e distintos

y  c1e n1x  c2 e n2 x

Caso 2: n1 e n2 reais iguais

y  c1e n1x  c2 xe n1x

Caso 3: conjugados complexos


n1  p  qi ; n2  p  qi

y  e px[c1 cos(qx)  c2 sen(qx)]

b 4c  b 2
Onde, p   ; q
2 2

A outra relação entre as condições de contorno depende do tipo de aleta, conforme


os casos (a), (b) e (c), abaixo estudados:

(a) aleta muito longa


Nesse caso, admite-se que a aleta é muito longa e sua
extremidade já atingiu a temperatura do fluido. Do ponto de
vista matemático uma aleta muito longa pode ser
simplificada como uma aleta de comprimento “infinito”,
isto é:
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x    T  T ou   0

Assim,


0  lim c1e mx  c2 e  mx
x
  c1  0  c2 b
De forma que, a distribuição de temperaturas nesse caso é:
 hP 
 ( x)   x
kA 
 ( x)   b e  mx
 e
b

Ou, substituindo a definição de  , vem:

 hP 
 x
 ( x ) T ( x )  T  kA 
 e  
b Tb  T

O fluxo de calor total transferido pela aleta

O fluxo de calor total transferido pela aleta pode


ser calculado por dois métodos:

(1) qaleta  qcond. basealeta (o fluxo de calor total


transferido é igual ao fluxo de calor por condução na base da aleta)


(2) qaleta   hP(T  T )dx (o fluxo de calor total transferido é a integral do
0
fluxo de calor convectivo ao longo de toda a superfície da aleta)

Usando o método (1), vem:

dT d
q aleta  kAb  kAb
dx x 0 dx x 0

Mas, Ab  A  cte

qaleta  kA
d
dx
 
bemx   kAb (m)emx x0

hP
qaleta  kAb
kA
qaleta  b hPkA ou qaleta  hPkA(Tb  T )

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Pelo outro método (2):


qaleta   hP dx ; P  cte
0

qaleta  hP  be mx dx
0


q aleta  hP b lim
  0
  e  mx
e  mx dx  hP b lim  
   m

 

hP b
m  

lim e  m  1 
m

hP b
 hPkA  b
 0

ou, qaleta  hPkA(Tb  T ) o mesmo resultado anterior!

(b) caso em que a extremidade da aleta é adiabática


(finito)
Nesse caso, admite-se que a transferência de calor na
extremidade da aleta é muito pequena. Portanto,
admite-se que é adiabático:

d
dT
dx
0 
dx
(extremidade adiabática), ou
d
dx
 
c1emx  c2emx  0
x L x L

bemL
De onde, se obtém, c2 
emL  e mL

Mas como c1  c2  b , então:  e mL 


c1  b  mL  mL 
e  e 

Logo, substituindo na equação, vem:


 e mL e mL
 mL e mx
 e  mx
b  e  e mL mL
e 
  e mL

c1 c2

Ou
 e m( L x )  e  m( L x ) / 2

b emL  emL / 2 ou
 ( x ) T ( x )  T coshm( L  x )
 
b T ( x )  Tb coshmL

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Lembrete de funções hiperbólicas:

FUNÇÃO DEFINIÇÃO DERIVADA


senhx e x  e x cosh x
2
cosh x e  e x
x senhx
2
tghx senhx sec h2 x
cosh x

O fluxo de calor total transferido pela aleta

O mesmo resultado do caso anterior


d d  cosh( L  x)m
qaleta   kA  kA  b  
dx x0 dx  cosh mL  x 0

 kA b senh(mL)
  (m)
cosh(mL)

 kAb m tgh(mL)
q  b hPkA tgh(mL)

(c) aleta finita com perda de calor por convecção na extremidade

Caso realista.
Condição de contorno na extremidade:

 dT
em xL   k  h(TL  T ) condução na extremidade = convecção
 dx x L

Distribuição de temperaturas

 
 ( x ) T ( x )  T coshm( L  x )  h mk senhm( L  x )
b

T ( x )  Tb

cosh mL  h  
mk
senh( mL )

Fluxo de calor

 mk conh( mL )
senh( mL )  h
cosh( mL )  h senh( mL )
q  hPkA( Tb  T )
mk

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Tabela Resumo. Distribuição de temperaturas e perda de calor em aletas de seção


transversal uniforme.

Condição de
Caso contorno na Distribuição de Temperatura Fluxo de Calor
extremidade
�=�
 hP 
 ( x) T ( x)  T  x
kA  qaleta  hPkA( Tb  T )
a Aleta muito  e 
longa b Tb  T
Extremidade  ( x) T ( x)  T coshm( L  x)
  q  ( Tb  T ) hPkA tgh( mL )
b adiabática b T ( x)  Tb coshmL

Convecção na h 
 ( x) T ( x)  T coshm( L  x)  mk senhm( L  x)  mk conh(mL)
senh(mL)  h
c extremidade b

T ( x)  Tb

cosh mL  h 
mk
senh(mL) q  hPkA(Tb  T )
cosh(mL)  h senh(mL)
(caso real) mk

ℎ�
�=√
��

Comprimento Corrigido de Aleta

Em muitas situações, costuma-se usar a solução do caso (b) – extremidade adiabática –


mesmo para os casos reais. Para isso, usa-se o artifício de “rebater” a metade da
espessura t para cada lado da aleta e definir o chamado comprimento corrigido de aleta,
LC. Com isso, usa-se o caso (b) de solução mais simples.

b
t

L t/2

Lc=L+t/2

Lc  L  t / 2

O erro introduzido por


essa aproximação será
L t/2
menor que 8% desde que
ht
Lc  0,5
k

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AULA 7 – EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE DE ALETAS


Eficiência de Aleta

A teoria desenvolvida na aula anterior é bastante útil para uma análise em detalhes para
o projeto de novas configurações e geometrias de aletas. Para alguns casos simples,
existem soluções analíticas, como foi o do caso estudado da aleta de seção transversal
constante. Seções geométricas irregulares ou que envolvem condições de contorno mais
complexas podem ser resolvidas mediante solução numérica da equação diferencial
geral da aleta. Porém, existe um método de seleção de tipos de aletas baseado no
chamado método da eficiência da aleta. Sendo que a eficiência de aleta,  A , é definida
por

fluxo de calor transmitid o p / aleta  caso real


A 
fluxo calor que seria transmitid o caso a aleta estivesse à temp.base  caso ideal

q
qb= cte
qb

Pode ser utilizado o comprimento corrigido, dado por: Lc = L+ t/2

Para o caso estudado na aula anterior da aleta retangular de extremidade adiabática, a


aplicação da definição de eficiência de aleta resulta em:

hPkA qbtgh (mLc ) tgh (mLc ) hP


A   , com m 
hPLcq b mLc kA

Por outro lado, o perímetro molhado é dado por

P  2(b  t )  2b (para t << b, aleta fina), sendo A  bt , de onde se obtém:


2h
mLc  Lc
kt

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Cálculo do Fluxo de Calor Através da Aleta

Da definição de eficiência de aleta, o fluxo de calor real transferido pela aleta, qA, pode
ser obtido por meio de qA   A qmax , onde o máximo fluxo de calor transferido, qmax, é
aquele que ocorreria se a aleta estivesse toda à temperatura da base, isto é:

qmax  hAaq b ,

onde, Aa é a área total exposta da aleta e qb  Tb  T

Assim, o fluxo de calor real transferido pela aleta é:

q A  a hAaqb

Note que a eficiência da aleta,  a , selecionada sai de uma tabela, gráfico ou equação.
Na sequência deste texto há uma série de gráficos para alguns tipos de aletas.

Deve-se usar aleta quando:

(1) h é baixo (geralmente em convecção natural em gases, como o ar atmosférico)

(2) Deve-se usar um material de condutividade térmica elevado, tais como cobre e
alumínio, por razões que veremos adiante.

O alumínio é superior devido ao seu baixo custo e baixa densidade.

Exemplo de Aplicação

Em um tubo de diâmetro externo de 2,5 cm são


instaladas aletas circulares de alumínio por um processo
de soldagem na superfície. A espessura das aletas é de
0,1 cm e o diâmetro externo das mesmas é de 5,5 cm,
como ilustrado. Se a temperatura do tubo for de 100 oC
e o coeficiente de transferência de calor for de 65
W/m2 K, calcule o fluxo de calor transferido pela aleta.

Solução

Trata-se de aleta circular de alumínio. O valor da condutividade térmica é de


aproximadamente 240 W/mK (obtido por consulta a uma tabela de propriedades
termofísicas dos sólidos). Vamos calcular os parâmetros do gráfico correspondente dado
na página 50 à frente.

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t  0,001 m
(5,5  2,5) t
L  0,01  0,015 m  Lc  L   0,0155 m
2 2

AP  Lc t  0,0155  0,001  1,55 10 5 m 2  L3c 2 h kAP 1 2  0,01551,5 65 240 1,55 10 5 
0,5
 0,255

Para o uso do gráfico, precisamos ainda da razão entre o raio externo corrido e o raio
interno da aleta.

r2c r2  t / 2 2,75  0,1 / 2


   2,24 Com esses dois parâmetros no gráfico, obtemos
r1 r1 1,25
 A  91% . Assim, o fluxo de calor trocado pela aleta é:
q A   a hAaq b  0,91 65  0,00394  75  17,5 W , Já que a área exposta da aleta,
vale, Aa  2   r22c  r12   0,00394 m .
2

Exemplo de Aplicação (cont...)

Admitindo que o passo das instalações da aleta é de 1 cm, qual deve ser o fluxo de calor
total transferido pelo tubo, se o mesmo for de 1 m de comprimento.

Solução

O tubo terá 100 aletas. O fluxo de calor trocado por aleta já é conhecido do cálculo
anterior. O fluxo de calor da porção de tubos sem aletas será:

q sa  hAsa (Ts  T ), onde Asa é a área do tubo em que não há aletas.

Asa  2  r1  ( LT  N a  t )  2 1,25100  100  0,1  706,8 cm 2  0,07068 m 2

Assim, q sa  65  0,07068(100  25)  344,6 W

O fluxo de calor trocado pelas 100 aletas será qca  100 17,5  1750 W

Finalmente, o fluxo total de calor trocado pelo tubo será

1750
qT  q sa  qca  344,6  1750  2094,5 W e %  100%  83,6%
2095

Como se vê, a instalação das aletas aumenta consideravelmente a transferência de calor.


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Fluxo de calor transmitido


pela aleta:

q   a hAaq b
Área total da aleta
Eficiencia da aleta
(f da figura)

qb  Tb  T
base

Aa é a área total exposta da


aleta

Para obter a eficiência da


aleta, use os dados
geométricos disponíveis e
os indicados nos gráficos.
Uma vez obtida a
eficiência da aleta, calcule
o fluxo real de calor
através da simples
expressão acima.

Comentários:

Aleta triangular (y ~ x)
requer menos material
(volume) para uma mesma
dissipação de calor do que
a aleta retangular. Contudo,
a aleta de perfil parabólico
é a que tem melhor índice
Ap – área de seção transversal de aleta de dissipação de calor por
unidade de volume (q/V),
mais é apenas um pouco
Tipo Aa área total exposta da aleta superior ao perfil triangular
Retangular 2bLc e seu uso é raramente
b – largura da justificado em função de
Triangular

2b L2  ( L / 2) 2 1/ 2 aleta maior custo de produção.
 1/ 2
Parabólica Lc = L-corrigido A aleta anular é usada em
2,05b L2  ( L / 2) 2 t = espessura
tubos.
Anular 
2b r2c 2  r12 
1/ 2

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Efetividade da Aleta

Como visto, a eficiência de aleta é somente um procedimento de seleção de tipos


de aletas, já que uma tabela, gráfico ou equação fornece as eficiências das aletas e os
cálculos se dão a partir destes valores. Mas, é preciso continuar com a análise para
determinar se, de fato, haverá incremento ou não da transferência de calor com a
instalação de aletas. Claro que está informação é crucial para que o engenheiro decida
pela instalação de aletas. Para que se possa seguramente tomar uma decisão sobre a
vantagem ou não da instalação de aletas, deve-se lançar mão do método da efetividade
de aleta, . Nesse método, compara-se o fluxo de calor devido através da aleta com o
fluxo de calor que o ocorreria caso ela não houvesse sido instalada. Lembrando que
caso a aleta não existisse, a transferência de calor em questão ocorreria através da área
da base da aleta, Ab. Assim, define-se a efetividade como sendo a razão entre o fluxo de
calor através da aleta pelo fluxo de calor através da base da aleta, ou seja:

qaleta q
  aleta
qs / aleta hAbq b

Ab, Tb

O fluxo de calor sem a aleta, q s/aleta, é o que ocorreria na base da aleta, conforme
ilustração acima. Como regra geral, justifica-se o caso de aletas para ε > 2.

Para aleta retangular da extremidade adiabática

hPkA q b tgh (mLc )



hAbq b

tgh (mLc )
Nesse caso: A = Ab e, portanto,  
hA / kP

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Exemplos de Aplicação

Exemplo de aplicação 1 – Uma aleta de aço inoxidável, seção circular de dimensões L


= 5 cm e r = 1 cm, é submetida à três condições de resfriamento, quais sejam:

A – Água em ebulição; h = 5000 W/m2K


B – Ar – convecção forçada; h = 100 W/m2K
C – Ar – Convecção natural; h = 10 W/m2K

Calcule a efetividade da aleta, para os seguintes dados:

- k aço inox = 19 W/m K (obtido de uma tabela de propriedades de transporte)


- Comprimento corrigido: Fórmula Lc  L  r / 2

L= 5cm

Solução:

tgh (mLc )
 , com
hA / kP

h2r 2h 2h
mLc  3,24 h 0,05  0,01 / 2 , ou
hP
m     3,24 h e
kA kr 2
kr 19.0,01

seja: mLc  0,178 h .

hA hr 2 hr h.0,01
No denominador tem-se:     0,0162 h .
kP k 2r 2k 2.19
Substituindo estes dois resultados na expressão da efetividade, vem:

tgh (0,178 h )

0,0162 h

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Agora, analisando os três casos (valores diferentes de h)

tgh (0,178 5000 ) 1


Caso A : h = 5000 W/m2 K    0,873
0,0162 5000 1,145

tgh (0,178 100 ) 0,945


Caso B : h = 100 W/m2 K    5,833
0,0162 100 0,162

tgh (0,178 10 ) 0,510


Caso C : h = 10 W/m2K    10,0
0,0162 10 0,051

Comentário

- Como visto, a colocação da aleta nem sempre melhora a transferência de calor. No


caso A, por exemplo, a instalação de aletas deteriora a transferência de calor, já que ε<1.
Um critério básico é que a razão hA/Pk deve ser muito menor que 1 para justificar o uso
de aletas.

hA
Caso (A)   1,31
kP
hA
Caso (B)   0,026
kP
hA
Caso (C)   0,00262
kP

- Informação importante: A aleta deve ser colocada do lado do tubo de menor


coeficiente de transferência de calor, que é também o de maior resistência térmica.

Exemplo de aplicação 2 – Considerando o problema anterior, suponha que a aleta seja


constituída de três materiais distintos e que o coeficiente de transferência de calor seja h
= 100 W/m2 oC. Calcule a efetividade para cada caso.
Das tabelas de propriedades de transporte dos materiais, obtém-se:

A – Cobre  k = 368 W/m K


B – Aço inox  k = 19 W/m K
C – Alumínio  k = 240 W/m K

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Solução:

141,4
m
2h

2.100 141,4
 e, portanto, mLc  0,05  0,01 / 2  7,76
kr k .0,01 k k k

hA hr 100.0,01 1
No denominador, agora temos:   
kP 2k 2k 2k

Substituindo ambos os resultados, obtém-se:

  2k  tgh(7,76 / k )

Caso (A): k = 368 W/m K (cobre) ε = 10,7

Caso (B): k = 19 W/m K (aço inox) ε = 5,8

Caso (C): k = 240 W/m K (alumínio) ε = 10,1

Comentário:

O material da aleta é bastante importante no que tange a efetividade de uma aleta. Deve-
se procurar usar material de elevada condutividade térmica (cobre ou alumínio).
Geralmente, o material empregado é o alumínio por apresentar várias vantagens, tais
como:

(1) É fácil de ser trabalhado e, portanto, pode ser extrudado;


(2) Tem custo relativamente baixo;
(3) Possui uma densidade baixa, o que implica em menor peso final do
equipamento;
(4) Tem excelente condutividade térmica.

Em algumas situações as aletas podem ser parte do projeto original do equipamento e


serem fundidas juntamente com a peça, como ocorre com as carcaças de motores
elétricos e os cilindros de motores resfriados a ar, por exemplo. Nesse caso, as aletas são
feitas do mesmo material da carcaça do motor.

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AULA 8 – CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME


TRANSITÓRIO – SISTEMA CONCENTRADO

Introdução

Quando um corpo ou sistema a uma dada temperatura é bruscamente submetido a novas


condições de temperatura como, por exemplo, pela sua exposição a um novo ambiente de
temperatura diferente, certo tempo será necessário até que seja restabelecido o equilíbrio
térmico. Exemplos práticos são aquecimento/resfriamento de processos industriais,
tratamento térmico, alimentos colocadas na geladeira, entre outros.
No esquema ilustrativo abaixo, suponha que um corpo esteja inicialmente a uma
temperatura uniforme T0. Subitamente, ele é exposto a um ambiente que está a uma
temperatura maior T∞2. Uma tentativa de ilustrar o processo de aquecimento do corpo está
indicada no gráfico temporal do esquema. A forma da curva de aquecimento esperada é, de
certa forma, até intuitiva para a maioria das pessoas, baseado na própria experiência
pessoal.

T 2

T1
T0
T0  T1 T(t)

Tempo t=0

T 2

T0

t
t

Uma análise mais detalhada e precisa do problema do aquecimento do exemplo


ilustrativo acima vai, entretanto, indicar que o aquecimento do corpo pode não ocorrer de
forma uniforme no seu interior. Na ilustração que segue, indica-se de forma ilustrativa a
temperatura na no centro Tc, e numa posição qualquer na superfície Ts. Note que as curvas
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de aquecimento não são iguais. Isto indica que a variação da temperatura no corpo não é
uniforme dentro do corpo, de uma forma geral. Esta análise que envolve o problema da
difusão interna do calor é um pouco trabalhosa do ponto de vista matemático, mas pode ser
resolvida para alguns casos de geometrias e condições de contorno simples. Casos mais
complexos podem ser resolvidos de forma numérica. Entretanto, o interesse da aula de hoje
é numa hipótese simplificadora que funciona para um grande número de casos práticos. A
ideia consiste em assumir que todo o corpo tenha uma única temperatura uniforme a cada
instante. Esta hipótese é chamada de sistema concentrado, objeto de análise na sequência.

T Sistema
T0 TT0 S Concentrado
T 2 Ts T 2

TC
TC

T0

Sistema Concentrado

A hipótese é que a cada instante t, o sistema tenha uma só temperatura uniforme T(t).
Isto ocorre em situações nas quais os sistemas (corpos) tenham sua resistência interna à
condução desprezível face à resistência externa à troca de calor externa que, geralmente se
dá por convecção. Para conduzir essa análise, lança-se mão do esquema abaixo de um
corpo a uma temperatura inicial T0 e que, subitamente, é exposto a um ambiente de
temperatura T∞, de forma a que ocorra transferência de calor convectiva.

T

q convecção

T0

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O balanço de energia fornece o seguinte esquema

Balança de energia

Taxa temporal de Fluxo de calor


variação de energia = Trocado por
interna do corpo convecção
(I) (II)

Termo (I):

dU du du dT
m    c
dt dt dt dt

m = massa do corpo;
U = energia interna do corpo;
u = energia interna específica do corpo;
ρ = densidade do corpo;
 = volume do corpo;
c = calor específico do corpo.

Termo (II):

qconv  hA(T  T )

h = coeficiente transferência de calor por convecção para o fluido circunvizinho;


A = área da superfície do corpo em contato com o fluido;
T = temperatura instantânea do corpo T = T (t);
T = temperatura ao longe do fluido.

Assim, pelo esquema do balanço de energia, vem:

dT
c  hA(T  T )
dt

Essa é uma equação diferencial de primeira ordem, cuja condição inicial é T(t=0) = T0.

Separando as variáveis para se realizar uma integração por partes, vem:

dT  hA
 dt
T  T c

Por simplicidade, seja   T  T  d  dT , então:

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d d
t
hA hA


c
dt , ou 


t 0
c
dt , do que resulta em:
0

  hA
ln     t.
 0  c
Finalmente,


hA hA
 t T  T  t
 e c ou  e c
0 T0  T

Analogia Elétrica

Essa equação resulta da solução de um sistema de primeira ordem. Soluções desse tipo
ocorrem em diversas sistemas físicos, inclusive na área de eletricidade. Existe uma analogia
perfeita entre o problema térmico apresentado e o caso da carga e descarga de um capacitor,
como ilustrado no esquema abaixo.
V

V0

V0 C R

Inicialmente o capacitor C é carregado até uma tenção elétrica V0 (chave ligada).


Depois, a chave é aberta e o capacitor começa a se descarregar através da resistência R.
A solução desse circuito RC paralelo é

t
V 
 e RC
V0

Note a Analogia

Elétrica Térmica
Tensão, V T  T
Capacitância, C c
Resistência, R 1/ hA

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Circuito térmico equivalente


V

V0 

T0 c 1 / hA

t
T
Constante de tempo do circuito elétrico, 

  RC

A constante de tempo é uma grandeza muita prática para indicar o quão rápidamente o
capacitor se carrega ou se descarrega. O valor de t   é o instante em que a tensão do do
capacitor atingiu o valor de e-1 ~ 0,368


V  1
 e   e 1   0,368
V0 e

Com isso, pode-se fazer uma análise muito interessante, como ilustrado no gráfico
abaixo que indica a descarga do capacitor para diferentes constantes de tempo. Quanto
maior for a constante de tempo, mais o capacitor demora para atingir o valor de 0,368V0.

V0 
IV
III
II
I
0,368V0

1  2  3 4 t

Por analogia, a constante de tempo térmica será:

c
hA t
T  T  t 
e c
 e t → t 
T0  T hA

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 62

Veja o gráfico ilustrativo abaixo para ver a influência da constante de tempo térmica.
T  T

T0  T

0,368(T0  T )
t t

Um exemplo interessante da aplicação dos conceitos de transitório térmico é o caso da


medida de temperaturas com sensores do tipo termopar e outros. Esses sensores consistem
de dois fios unidos pelas suas extremidades que formam uma junção. Essa junção é exposta
ao ambiente que se deseja medir a temperatura. Suponha, de forma ilustrativa, um ambiente
que idealmente sua temperatura tem o comportamento ilustrado pela linha cheia no
esquema abaixo, isto é, sua temperatura oscila entre T∞1 e T∞2, de período em período (onda
quadrada). Agora, deseja-se selecionar um sensor que acompanhe o mais próximo possível
o seu comportamento. Três sensores de constantes térmicas diferentes são mostrados. Note
que o sensor de maior constante térmica,  3 , praticamente não “sente” as variações de
temperatura, enquanto que o sensor de menor constante térmica acompanha melhor as
variações de temperatura. Esse exemplo poderia ser o caso de um motor de combustão
interna em que as temperaturas da câmara variam com a admissão e combustão dos gases.
Com esse simples exemplo, mostra-se a importância da constante térmica.

T  T
 2  1 1
T0  T1
 3  1

T0  T 2
t
tP 2tP 3tP

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 63

A equação que rege o regime transitório concentrado pode ainda ser reescrita para se obter
a seguinte forma
T  T
 e  Bi Fo
T0  T
hL
Onde, Bi é o número de Biot, definido por Bi  , e Fo é o número de Fourier, definido
k
t
por Fo  (trata-se de um “tempo” adimensional). Sendo,
L2
h = coeficiente transferência de calor por convecção;
 = difusividade térmica;
k = condutividade térmica;
L = comprimento característico do corpo;
O número de Biot é uma razão entre a resistência interna à condução de calor e a resistência
externa à convecção.
Pode-se adotar L como sendo a razão entre o volume do corpo pela sua área exposta à troca
de calor.
V  volume do corpo
L
A  área exposta
Para concluir esta aula, deve-se informar o limite da aplicabilidade da hipótese de sistema
concentrado. Mostra-se que a hipótese de sistema concentrado admite solução razoável
desde que:
Bi  0,1

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 1 (adaptado de Incropera, ex. 5.1)

Termopares são sensores muito precisos para medir temperatura. Basicamente, eles são
formados pela junção de dois fios de materiais distintos que são soldados em suas
extremidades, como ilustrado na figura abaixo. A junção soldada pode, em primeira análise,
ser aproximada por uma pequena esfera de diâmetro D. Considere um termopar usado para
medir uma corrente de gás quente, cujas propriedades de transporte são: k = 20 W/m K,
c = 400 J/kg K e  = 8500 kg/m3. Inicialmente, o termopar de D = 0,7 mm está a 25 oC e é
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 64

inserido na corrente de gás quente a 200 oC. Quanto tempo vai ser necessário deixar o
sensor em contato com o gás quente para que a temperatura de 199,9 oC seja indicada pelo
instrumento? O coeficiente de transferência de calor vale 400 W/m2K.

SOLUÇÃO
V D 0,7  10 3
Comprimento característico: L     1,167  10 4 m
A 6 6

hL 400  1,167  10 4
Número de Biot: Bi    2,333  10 3
k 20

1  T  T  1  199,9  200 
Da expressão da temperatura, vem Fo   ln  ln   3200,76
Bi  T0  T 
 2,333  10 3
 25  200 

k 20 t
Dado que     5,883  10 6 e Fo  , vem:
c 8500  400 L2

t
Fo  L2


3200,76  1,167  10 4 
2
 7,4 s
 5,883  10 6

Comentário: note que o número de Biot satisfaz a condição de sistema concentrado Bi  0,1 .
Um tempo de 7,4 s é necessário para obter uma leitura precisa de temperatura. O que
aconteceria com o tempo se o diâmetro do termopar fosse reduzido à metade?

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 2

Melancias são frutas muito suculentas e refrescantes no calor. Considere o caso de uma
melancia a 25 oC que é colocada na geladeira, cujo compartimento interno está a 5 oC. Você
acredita que o resfriamento da melancia vai ocorrer de forma uniforme, ou se, depois de
alguns minutos a fatia da mesma estará em temperaturas diferentes? Para efeito de
estimativas, considere que a melancia tenha 30 cm de diâmetro e suas propriedades de

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transporte sejam as da água. Considere, também, que o coeficiente de transferência de calor


interno do compartimento da geladeira valha h = 5 W/m2 oC.

Solução:

á��� = , �/�°
Cálculo do Nº de Biot

ℎ �
�= , sendo =

,
= = , �

D= 0,3 m
D = 0,3 m
0,0 ×
�= =
0,02

Conclusão, a melancia não vai resfriar de forma uniforme. Isto está de acordo com sua
experiência?

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AULA 9 – CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME


TRANSITÓRIO – SÓLIDO SEMI-INFINITO

Fluxo de Calor num Sólido Semi-Infinito


Na aula anterior foi estudado o caso da condução de calor transitória para sistemas
concentrados. Aquela formulação simplificada começa a falhar quando o corpo possui
dimensões maiores e propriedades de transporte tais que a resistência interna à
condução não pode ser desprezada face à resistência externa à convecção (Bi > 0,1).
Soluções analíticas existem para casos em que uma das dimensões é predominante e
muito grande que, em termos matemáticos, é dito infinito. Considere o esquema abaixo
de um sólido com uma superfície exposta à troca de calor (à esquerda) e sua dimensão
se estende à direita para o infinito (daí o nome de semi-infinito). A face exposta sofre
bruscas mudanças de condição de contorno, como se verá.

Condições de contorno

(A) Temperatura constante na face exposta:

T0 Ti
Solução: T(x, t)

Equação geral condução de calor

q' ' ' 1 T


 2T  
k  t

 2T 1 T
Por não haver geração interna de calor, vem que  , a qual é submetida as
x 2  t
seguintes condições:

- Condição inicial: T ( x,0)  Ti


- Condição de contorno: T (0, t )  T0

Sem apresentar detalhes da solução do problema, prova-se que a distribuição de


temperaturas é dada por:

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T  T0  x 
 erf  ,
Ti  T0  2 t 

Onde, erf é a chamada função erro de Gauss, cuja definição é dada por:

x
2 t
 x  2
e
 2
erf   d
 2 t   0

Vista em forma gráfica, esta função tem o seguinte comportamento.

Para valores numéricos de T = T (x,t), veja a Tabela B – 2 do livro do Incropera


e Witt. Note que o seu comportamento se parece com uma exponencial “disfarçada”.

Tabela B-2 do Incropera

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 68

Fluxo de calor numa posição x e tempo t

Para se obter o fluxo de calor instantâneo numa dada posição qualquer, basta aplicar a
lei de Fourier da condução. Isto é feito substituindo a distribuição de temperaturas
acima, na equação de Fourier, isto é:
 x
2 t

T   x    2 
e

q x  kA  kA T0  (Ti  T0 )erf ( )  kA(Ti  T0 )  d 
2

x x  2 t  x   0 
 
x2
 kA2(Ti  T0 )    x 
 e 4t
, do que, finalmente, resulta em:
 x  2 t 

x2
 kA(Ti  T0 ) 
qx  e 4t

t

(B) Fluxo de calor constante na face exposta:

Neste outro caso, estuda-se que a face exposta está submetida a um fluxo de calor
constante,

Ti qx
q0

 2T 1 T
Partindo da equação da condução de calor  , submetida às seguintes
x 2  t
condições:

- Condição inicial: T ( x,0)  Ti


T
- Condição de contorno:  kA  q0
x x 0

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 69

A solução é:

x2
t  4t
2 q0 e
 q x  x 
T  Ti   0 1  erf  
kA kA   2 t 
  

NOTA: Obtenha o fluxo de calor!!

(C) Convecção de calor na face exposta

Nesse terceiro caso, analisa-se o caso em que ocorre convecção de calor na face
exposta à esquerda.

T qx
Ti

x
Novamente, partindo da equação da condução de calor sem geração interna, vem:
 2T 1 T
 , a qual é submetida às seguintes condições:
x 2  t

- Condição inicial: T (x,o) = Ti


T
- Condição de contorno:  kA  hAT (0, t )  T  (condução interna =
x x 0
Convecção)

A solução é:

  hx h2t  
T  Ti  x    k  k 2     x h t  
 1  erf   e 1  erf   

T  Ti  2 t      2 t k 
 

NOTA: Obtenha o fluxo de calor! – use a Lei de Fourier!

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Outros casos de condução transitória de interesse

Placas, chapas, cilindros e esferas são geometrias muito comuns de peças


mecânicas. Quando o número de Biot é pequeno, basta que se use a abordagem de
sistema concentrado. Entretanto, quando isso não ocorre, há de se resolver a equação
geral da condução de calor. No entanto, para essas geometrias básicas, Heisler
desenvolveu soluções gráficas, como mostrado na tabela abaixo.

Tabela – convenção para uso dos diagramas de Heisler

Placas cuja espessura é Cilindros cujos diâmetros são Esferas


pequena em relação as outras pequenos quando comparados
dimensões com o comprimento

T
T T r
T0 Te Te
r0
Te r0

2L

  T ( x, t )  T ou   T (r, t )  T
 i  Ti  T
 0  T0  T
 e  Te  T
hL
Número de Biot: Bi 
k

L – dimensão características (dada no gráfico)

Número de Fourier, Fo (tempo adimensional), definido por

t kt
Fo  
L2
cL2

Calor total trocado pelo corpo Qi

Qi  c(Ti  T )  c i
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Gráficos de Heisler para uma placa de espessura 2L. Para outras geometrias (esfera e
cilindro): ver Apêndice D do Incropera e Witt
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 72

Exemplo:

Uma placa de espessura de 5 cm está inicialmente a uma temperatura uniforme de


425 ºC. Repentinamente, ambos os lados da placa são expostos à temperatura ambiente,
T = 65 ºC com hmédio = 500 W/m2 ºC. Determinar a temperatura do plano médio da placa
e a temperatura a 1,25 cm no interior da mesma, após 3 min.

Dados:

k = 43,2 W/mK
α = 1,19 x 10-5 m2/s h

5 cm

Solução:

2L = 5 cm = 0,05 m → L = 0,025 m

hL 500  0,025
Bi    0,289  0,1
k 43,2
Não se aplica a solução de sistema concentrado. Portanto, use a solução de Heisler. Para
isso, deve-se calcular os parâmetros para os gráficos da página anterior, que são:

1 1 t 1,19 10 5 180


  3,45 e F0  2   3,43
Bi 0,289 L 0,025 2
1 1
  3,45 0
Do diagrama de Heisler (página anterior), vem: Bi 0,165  0,45
i
F0  3,43

e 65  (425  65).0,45  227 . Assim,


T0  227 oC Na linha de centro após 3 mim

Do gráfico para uma posição qualquer x:

1 / Bi  3,45 
0,0125  0,95
x/L   0,5 0
0,05

T  T  (T0  T )  0,95  65  (281  65)  0,95


x
T  270,2o C p/  0,5 , t  3 min
L
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AULA 10 – CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME


PERMANENTE BIDIMENSIONAL

Condução Bidimensional

Até a presente aula, todos os casos estudados referiam-se à condução de calor


unidimensional em regime permanente, ou seja, não se considerava a distribuição
espacial da temperatura para além de uma dimensão. Também foram estudados os casos
transitórios em uma dimensão. Evidentemente, muitos problemas reais são bi ou
tridimensionais. Soluções analíticas existem para um número limitado de problemas de
condições de contorno e geometrias simples. Os casos mais realistas devem ser
resolvidos de forma numérica. Entretanto, neste curso introdutório é importante que o
estudante tenha uma visão das soluções analíticas existentes e, para isso, é resolvido um
problema clássico que é o método da separação das variáveis para uma placa retangular
bidimensional.

O Método da Separação de Variáveis

Seja uma placa retangular, submetida às condições de contorno ilustrados, isto é, todos
os lados estão à mesma temperatura T1, exceto o lado superior que está à T2.

y T2

T1
T1 T(x,y)

x
L
T1

Placa retangular com as condições de contorno indicadas, procura-se T (x,y)

Equação da condução de calor

q' ' ' 1 T


 2T  
k  t
Hipóteses:

(1) Regime permanente


(2) Sem geração interna de calor
(3) Bidimensional
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 74

 2T  2T
As hipóteses resultam em:  2T  0 ou  0
x 2 y 2

Condições de contorno – temperaturas dos quatro lados

(1) T(0,y) = T1
(2) T(L,y) = T1
(3) T(x,0) = T1
(4) T(x,b) = T2

É conveniente realizar uma mudança de variáveis

T  T1

T2  T1

Condições de contorno na nova variável θ são:

(1) θ(0,y) = 0
(2) θ(L,y) = 0
(3) θ(x,0) = 0
(4) θ(x,b) = 1

dT
A variação elementar de temp. é  d
T2  T1

 2  2
Então,   0 Esta é a equação da condução na nova variável θ.
x 2 y 2

A técnica de separação das variáveis supõe que a distribuição de temperaturas θ(x,y)


seja o produto de duas outras funções X e Y as quais, por sua vez, são funções
exclusivas apenas das variáveis do problema x e y, isto é:

 ( x, y)  X x   Y  y 

Assim, a derivada parcial em relação à x dessa nova função são:

 dX
Primeira derivada: Y
x dx

2
d2X
Segunda derivada:  Y
x 2 dx 2

Analogamente em relação à y:
 2 d 2Y
Segunda derivada:  X
y 2 dy 2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 75

Logo, substituindo essas derivadas segundas parciais na equação diferencial da


condução, vem:

d2X d 2Y
Y  X 0
dx 2 dy 2

ou, dividindo-se pelo produto XY, vem:


1 d 2Y 1 d2X
 
Y dy 2 X dx 2

É digno de nota que na equação acima o lado esquerdo é uma função exclusiva de y
e o lado direito, uma função exclusiva de x. No entanto, os dois lados da equação são
sempre iguais. Isto implica dizer que cada lado da equação não pode ser nem função de
x, nem de y, já que de outra forma não seria possível manter a igualdade sempre válida.
De forma que a igualdade deve ser uma constante que, por conveniência matemática, se
usa o símbolo 2 . Dessa forma, tem se:
1 d2X
  2 e
X dx 2

1 d 2Y
2
 2
Y dy

Note que a equação diferencial parcial original deu origem à duas outras equações
diferenciais comuns ou ordinárias. As soluções dessas duas novas equações são bem
conhecidas (lembre-se do polinômio característico) e são:

X x   C1 cos x  C2 senx , e

Y  y   C3 e y  C4 e y

De forma que, voltando à variável original,  ( x, y)  X x   Y  y  , a solução global é:

 x, y   C1 cos x  C2 senx.C3 e y  C4 e y 

A obtenção das constantes depende das condições de contorno impostas. Assim:

Da 1a Condição de contorno: θ(0,y) = 0

 
 0, y   C1 cos .0  C2 sen.0. C3e y  C4 e y  0

De onde se conclui que a única possibilidade é que C1  0


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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 76

Agora, da 3ª condição de contorno: θ(x,0) = 0

0  C2 senx
. C3  C4 

de onde se obtém que C3  C4  0  C3  C4

Da 2ª condição de contorno: θ(L,y) = 0


0  C2 senL. C4 (ey  e y ) 
mas, como simultaneamente as duas constantes não podem ser nulas, isto é:
C2 e C4  0 , logo, deduz-se que sen(L)  0

Os possíveis λ que satisfazem essa condição são: L  n


n
ou, seja   n = 1,2,3, .....
L

nota: λ = 0, resulta na solução trivial e não foi considerada. λ são os autovalores.

Portanto, a distribuição de temperaturas até o presente é:

 ny 
ny

 x  e L  e L 
 n x, y   2C2C4 sen n  
  L  2 
Cn
  
ny
senh( )
L

ou, seja  n x, y   Cn sen(n


x y
) senh(n )
L L

Para cada n = 1,2,3,... Existe uma solução particular θn. Daí também ter juntado as
constantes C2 e C4 num nova única constante Cn que dependem do valor de n.

Então a solução geral deve ser a combinação linear de todas as possíveis soluções.


 nx   ny 
 x, y    C n sen senh 
n 1  L   L 

Cn deve ser obtido da última condição de contorno: θ(x,b) = 1, isto é:


 nx   nb 
1   Cn sen senh 
n1  L   L 

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A última e mais difícil tarefa é de encontrar os coeficientes Cn da série acima para


obter a distribuição final de temperaturas. Essa tarefa é realizada usando a teoria das
funções ortogonais, revista abaixo.

REVISÃO DO CONCEITO DE FUNÇÕES ORTOGONAIS


Um conjunto infinito de funções g1(x), g2(x), é dito ortogonal no domínio a  x  b , se
b

g
a
m ( x) g n ( x)dx  0 p/ mn (dica: note que se parece com produto escalar de

vetores: o produto escalar de dois vetores ortogonais é nulo)


x x
Muitas funções exibem a propriedade de ortogonalidade, incluindo sen(n ) e cos(n ) em
L L
0 x L
Verifica-se também, que qualquer função f(x) pode ser expressa numa série infinita de funções
ortogonais, ou seja:

f ( x)   Am g m ( x)
m1

Para se obter os coeficientes Am; procede-se da seguinte forma:

(1) Multiplica-se por g n (x) , ambos os lados da igualdade:


g n ( x) f ( x)  g n ( x) Am g m ( x)
m1

(2) Integra-se no intervalo de interesse:

b 

g n ( x) f ( x)dx    g n ( x) Am g m ( x)dx
b

a a
 m1 
Usando a propriedade de ortogonalidade, ou seja:
b
 a
g m ( x) g n ( x)dx  0 se m  n

b b
 g m ( x) f ( x)dx   Am g m ( x)dx
2
Pode-se eliminar a somatória, então:
a a

Finalmente, as constantes da série Am podem ser obtidas:

Am 
a
g m ( x) f ( x)dx
b

2
g m ( x)dx
a

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Voltando ao problema, tem-se:


 nx   nb 
1   Cn sen senh  (A)
n1  L   L 

Comparando com o caso acima, vemos que f(x) = 1 e que

 nx 
g n ( x)  sen  ; n  1,2,....

 L
funcão ortogonal

Logo, expandindo a função f(x) = 1, vem

 A sen nLx   1


n 1
n

Assim, podem ser obtidos os coeficientes da série, como visto na revisão acima:

 nx 
L

sen
0
 L 
dx
2 (1) n 1  1
An  
2  nx   n
L
0 sen  L dx
Então,

2 ( 1) n 1  1

n 1
 n
 nx 
sen
 L 
 1 (B)

Comparando (A) com (B), vem:

 nx   nb   2 (1)  1  nx 


 n1

 C sen
n1
n
L 
senh 
 L  n1  n
sen 
 L 

Então, da igualdade das séries:

Cn 

2 (1) n 1  1  ; n  1,2,3,....
 nb 
nsenh 
 L 

De forma que a solução final do problema é:

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 ny 
senh 
2 
(1)  1  nx 
n 1
 L 
 ( x, y )   sen 
 n1 n  L  senh nb 
 
 L 

É interessante ver o gráfico desta função


y  1
b
  0.75
 0
 0 0.50
0.25
0.10

x
L
 0

Calcule o fluxo de calor. Nesse caso, você precisa calcular qx e qx. Note que o fluxo de
calor, nesse caso, será dado de forma vetorial, isto é:

 T   T    
q x  k i e q y  k j . Sendo que o fluxo total de calor será q  qx  qy e o
x y
módulo do fluxo de calor será q   qx 2  qy 2 em W/m2

Faça os Exercícios 4.2 e 4.3 do Incropera e Witt

Método Gráfico

O método gráfico é empregado para problemas bidimensionais envolvendo condições


de contorno adiabáticas ou isotérmicas. Exige paciência, sendo que o objetivo é
construir uma malha formada por isotérmicas e linhas de fluxo de calor constante.
Com a finalidade de ilustrar o método, considere uma seção quadrada, cuja superfície
interna é mantida a T1 e a externa T2.

T2

T1

(1) O primeiro passo é identificar todas as possíveis linhas de simetria do problema


tais linhas são determinadas pela geometria e condição simétricas.

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SIMETRIA
T2

T1

SIMETRIA

(2) As linhas de simetria são adiabáticas, ou seja, não há fluxo de calor na direção
perpendicular a elas. Portanto, podem ser tratados como linhas de fluxo de calor
constante.
PAREDES
T2
ADIBATICAS
T1

(3) Traças algumas linhas de temperatura constante. Lembre-se que elas são
perpendiculares às linhas de fluxo constante.

T2

T1

(4) As linhas de fluxo constante devem ser desenhadas criando quadrados


curvilíneos. Isto é feito fazendo como que as linhas de fluxo cruzem as linhas
de temperatura constantes em ângulo reto e impondo que todos os quadrados
tenham aproximadamente, o mesmo comprimento.

LINHAS DE
FLUXO CTE.
(ADIABÁTICO)

qX

DL

(OU QUADRADO
CURVILÍNEO)

(5) Quando houver um “canto” isotérmico”, a linha de fluxo cte. Deve bissectar o
ângulo formado pelas duas superfícies

T
 LINHA DE
 FLUXO CTE.

O fluxo de calor, por unidade de espessura de material, que atravessa o quadro


curvilíneo ilustrado é:

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 DT 

DL
qi  kDl   (1)
 Dl  qi

DL

O fluxo de calor acima é o mesmo que atravessa qualquer região que esteja limitada
pelas mesmas linhas de fluxo constantes desde T1 até T2. Então, pode-se escrever que.

T2
T T
DT  2 1 (2)
N T1

Onde N é o numero de incrementos de temperatura entre T1 e T2. (no exemplo N = 5).


Assim, de (1)

(T2  T1 )
qi  k (3)
N

O fluxo de calor total, q, é a soma de todos os M “Faixas” formadas por duas linhas
adjacentes de fluxo de calor (no exercício M = 5)

M
M
q   qi  k (T2  T1 )
i 1 N

Define-se a razão M/N como o fator de forma do sistema, assim:

q  5k (T2  T1 )

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 82

AULA 11 – SOLUÇÃO NUMÉRICA - DIFERENÇAS FINITAS

Como estudado na aula anterior, a solução da equação da condução de calor em


configurações bi e tridimensional é bastante complexa e, verdadeiramente, na maioria dos
casos práticos não existe nem solução analítica. Nesse caso, lança-se mão de métodos
numéricos de solução. Há uma grande variedade de métodos disponíveis na literatura, mas
vamos nos ater a apenas um dos métodos: o das diferenças finitas.
A idéia consiste em dividir a região que está sendo examinada em pontos discretos ou
pontos nodais, e aplicar um balanço de energia para cada ponto nodal, conforme ilustrado
no esquema abaixo. Assim, transforma-se o meio contínuo original em um meio discreto
formado por uma matriz de pontos com propriedades térmicas que “concentram” as
informações do meio contínuo original naqueles pontos. Considerando o esquema a seguir,
considere o ponto nodal (m,n) indicado, tendo como vizinhos os pontos nodais (m-1,n) à
esquerda, (m+1,n) à direita, (m,n-1) abaixo e (m,n+1) acima. A distância entre os pontos
nodais é x e y, nas duas direções principais.

m,n

m,n+1
x Pontos Nodais
y,n
y

x,m m,n m+1,n


m-1,n

m,n-1

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 2T  2T
A equação da condução de calor em RP, 2-D é dada por   0 . Ela pode assim
x 2 y 2
ser assim discretizada:

T (Tm,n  Tm1,n )
 (Primeira derivada na direção x – face esquerda)
x 1
m ,n x
2

T (Tm 1, n  Tm, n )



x m  1 , n x (Primeira derivada na direção x – face direita)
2
Assim,

T T

 2T x 1
m ,n x 1
m ,n
 2 2
(Segunda derivada na direção x – centro)
x 2 x

 2T Tm 1, n  Tm 1, n  2Tm, n



Ou, ainda, após substituição das primeiras derivadas: x 2 ( x ) 2
m, n

 2T Tm, n 1  Tm, n 1  2Tm, n



Analogamente, na direção y: y 2 m, n ( y ) 2

Assim, a equação original da condução de calor diferencial pode ser aproximada por uma
equação algébrica,

 2T  2T
  Tm1,n  Tm1,n  Tm,n1  Tm,n1  4Tm,n  0 , se Δx = Δy
x 2 y 2

A equação acima é a forma da equação do calor em diferenças finitas para o caso em RP, 2-
D. Note que a temperatura nodal Tm,n representa a média aritmética das quatro temperaturas
da sua redondeza.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 84

O que acontece nas regiões de contorno do problema?

Suponhamos que haja convecção, conforme ilustrado. Um nó (à direita) se situa sobre a


superfície ou no contorno do meio.

m,n+1

m,n
T
m-1,n
Convecção

m,n-1

Procede-se a um balanço de energia para o ponto (m,n) em questão

(Tm,n  Tm1,n ) x (Tm,n  Tm,n1 ) x (Tm,n  Tm,n1 )


 ky k k  hy(Tm,n  T )
x 2 y 2 y

se Δx = Δy

 x  x 1
Tm,n  h  2   h T  (2Tm1,n  Tm,n1  Tm,n1 )  0
 k  k 2

Para outras condições de contorno, equações semelhantes podem ser escritas.

Por exemplo, um canto superior à direita:

m-1,n m,n x = y

y
T

m,n-1
x

 x  x
2Tm,n  h  1  2h T  (Tm1,n  Tm,n1 )  0
 k  k

Ver tabela 4.2 (Incropera) ou Tabela 3.2 Holman para outras condições e geometrias.
Tabela 4.2 do Incropera.

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Uma vez que as equações de todos os pontos nodais forem estabelecidas, obtém-se um
sistema de N equações por N incógnitas do tipo:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 86

a11T1  a12T2  . . . a1N TN  c1


a 21T1  a2 2T2  . . . a 2 N TN  c 2
. . . .
. . . .
. . . .
a N 1T1  a N 2T2  . . . a NN TN  c N

Ou, em notação simplificada matricial, vem:

[ A].[T ]  [C ]

Estudar exemplo resolvido 4.3 (Incropera)

Uma técnica antiga de solução manual de sistemas lineares de equações é o chamado


método da relação. Nesta técnica, a equação nodal é, primeiramente, igualada a zero:

am1T1  am2T2  . . .  amnTn  cn  0

Em seguida é igualada a um resíduo e depois segue-se o seguinte procedimento de solução:

1 – Admite-se uma distribuição inicial de temperatura;


2 – O valor do resíduo em cada ponto nodal é calculado;
3 – “Relaxar” o maior resíduo encontrado para zero (ou próximo) mudando a temperatura
do ponto nodal correspondente;
4 – Recalcular os resíduos para esta nova temperatura;
5 – Continuar o processo 3 – 4 até que todos os resíduos sejam nulos ou próximos de zero.

Hoje em dia, há muitos programas de computador e até de calculadoras que resolvem um


sistema linear de equações por diversas técnicas. Basta selecionar um deles. Por exemplo, o
método de eliminação gaussiana.

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Exemplo Resolvido

Uma placa retangular é submetida às condições de contorno ilustradas na figura. Pede-se


calcular a distribuição de temperatura nos pontos nodais mostrados, dados que:

h = 200 W/m2 ºC
T = 20 ºC
k = 10 W/m ºC
 x =  y = 10 cm
T  20C
5 6 7 6 5

3 4 3
100°C

100°C
1 2 1

100°C

OBS: Observar a simetria do problema (nós com o mesmo número)

Solução:

Pontos nodais interiores (1-4) - vale a seguinte equação:

TM 1, N  TM 1, N  TM , N 1  TM , N 1  4TM , N  0


Portanto,

nó 1 :  4T1  T2  T3  2(100)  0
nó 2 : 2T1  4T2  T4  100  0
nó 3 : T1  4T3  T4  T6  100  0
nó 4 : T2  2T3  4T4  T7 0

Ponto nodal 5 (canto) – vale a seguinte equação

 x  x
Tm ,n  h  2  h T  (Tm 1,n  T fixo )  0
 k  k

 200  0,1  200  0,1


nó 5: T5   2  20  (T6  100)  0 , ou
 10  10

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 88

 4T5  T6  140  0

Pontos nodais com convecção (6 – 7) – vale a seguinte equação:

 x x
 2   h T  2Tm ,n1  Tm 1,n  Tm 1,n   0
 1
Tm ,n  h
 k  k 2

 200  0,1  200  0,1


20  2T3  T5  T7   0 , ou
1
nó 6: T6   2 
 10  10 2

 200  0,1  200  0,1


20  2T3  T5  T7   0 , ou ainda,
1
T6   2 
 10  10 2

1 1
T3  T5  4T6  T7  40  0
2 2

1
nó 7: 4T7  40  (2T4  2T6 )  0 , ou
2

T4  T6  4T7  40  0
Em forma de Matriz temos:
 4 1 1 0 0 0  T1    200 
0
    
 2 4 0 1 0 0  T2    100 
0
 1 0 4 1 0 1 0  T3    100 
    
 0 1 2 4 0 0 1  T4    0 
 0 0 0 0 4 1 0  T5    140 
 1 1    
 0 0 1 0 4  T6    40 
 2 2    
 0 1  4  T7    40 
 0 0 1 0

Solução do sistema pelo método de eliminação gaussiana

T1  90,4  C
T2  87,2  C
T3  74,3 C
T4  68,2  C
T5  44,7  C
T6  38,8  C
T7  36,7  C

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 89

AULA 12 – INTRODUÇÃO À TRANSFERÊNCIA DE


CALOR CONVECTIVA

Lei de Resfriamento de Newton

Já vimos que a transferência de calor por convecção é regida pela simples de lei de
resfriamento de Newton, dada por:

q  Ah(TS  T )
onde,

Ts, T∞ – temperaturas da superfície aquecida e do fluido ao longe;


A – área de troca de calor, isto é, a área de contato do fluido com a superfície;
h = coeficiente de transferência de calor por convecção.

Nota-se que a expressão para o cálculo da transferência de calor é consideravelmente


mais simples que a da condução. De forma que basta resolver uma equação algébrica
simples para que o fluxo de calor seja obtido desde que, claro, se conheça o valor de h,
enquanto que no segundo caso, exige-se a solução da equação diferencial da condução
de calor. Essa aparente simplicidade é, no entanto, enganosa, pois, em geral, h é função
de um grande número de variáveis, tais como as propriedades de transporte do fluido
(viscosidade, densidade, condutividade térmica), velocidade do fluido, geometria de
contato, entre outras. Assim, pode-se afirmar de uma forma ampla que o problema
fundamental da transferência de calor por convecção é a determinação do valor de h
para o problema em análise. Nessa e nas demais aulas, serão apresentados expressões e
métodos de obtenção dessa grandeza para diversas condições de interesse prático. Mas,
antes, vamos apresentar os números adimensionais que controlam a transferência de
calor convectiva.

Análise Dimensional

A análise dimensional é um método de reduzir o número de variáveis de um problema


para um conjunto menor de variáveis, as quais não possuem dimensão física, isto é,
tratam-se de números adimensionais. Alguns adimensionais que o aluno já deve estar

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 90

familiarizado são o número de Reynolds na Mecânica dos Fluidos, e os números de Biot


e de Fourier.
A maior limitação da análise dimensional é que ela não fornece qualquer informação
sobre a natureza do fenômeno. Todas as variações que influenciam devem ser
conhecidas de antemão. Por isso deve se ter uma compreensão física preliminar correta
do problema em análise.
O primeiro passo da aplicação do método consiste na determinação das dimensões
primárias. Todas as grandezas que influenciam no problema devem ser escritas em
função destas grandezas. Por exemplo, considere o sistema primário de grandezas
MLtT, sendo:
Comprimento L
Tempo t
Massa M
Temperatura T

Nesse sistema de grandezas primárias, por exemplo, a grandeza força tem as seguintes
dimensões:
Força ML/t2

O mesmo pode ser feito para outras grandezas de interesse:

Condutividade térmica ML/t3T


Calor ML2/t2
Velocidade L/t
Densidade M/L3
Velocidade M/Lt
Calor específico a pressão constante L2/t2T
Coeficiente De transmissão de calor M/t3T

Teorema dos Π ou de Buckingham

Esse teorema permite obter o número de adimensionais independentes de um problema.


É dado por:
M=N–P
Onde,
M – número de grupos adimensionais independentes;
N – número de variáveis físicas dos problemas;
P – número de dimensões primárias;

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 91

Sendo  um adimensional genérico, pode-se escrever, então:


F ( 1 ,  2 ,... m )  0

Para exemplificar, considere um fenômeno físico de 5 variáveis e três dimensões


primarias. Logo, M = 5-3 = 2, de onde se obtém:
F ( 1 ,  2 )  0 ou
pode-se escrever um adimensional como função do outro da seguinte forma.
 1  f ( 2 )
Essa relação funcional pode ser teórica ou experimental, obtida em laboratório, como
ilustrado no gráfico abaixo. Note que seria necessário se realizarem experimentos com
apenas uma variável (grupo adimensional 2) e observar o comportamento ou
dependência do adimensional 1. Com isso, reduz-se drasticamente o número de
experimentos. Caso contrário, seria necessário fazer experimentos envolvendo as 5
variáveis originais do problema.
f ( 2 ) curva exp erimental
1

2

Outro exemplo, seria o caso de um fenômeno descrito por 3 grupos adimensionais.


Nesse caso, tem-se:
F ( 1 ,  2 ,  3 )  0 , ou  1  f ( 2 ,  3 )
Pode-se, assim, planejar experimentos laboratoriais mantendo 3 constantes, e variar 2,
observando como 1 varia, como ilustrado no gráfico abaixo.

1 curvas de  3 cons tan tes

2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 92

Adimensionais da transferência de calor por convecção forçada

Considere o escoamento cruzado em um tubo aquecido, como ilustrado na figura


abaixo.

D
fluido

Tubo
aquecido
Sabe-se de antemão que as grandezas que interferem na transferência de calor são:

Variáveis Eq. Dimensional


D Diâmetro do Tubo L
k Condutividade térmica do fluido ML/t3T
V Velocidade do fluido L/t
ρ Densidade do fluido M/L3
μ Viscosidade do fluido M/Lt
CP Calor especifico a pressão constante L2/t2T
h Coef. de transferência de calor M/t3T

Portanto, há N = 7 grandezas e P = 4 dimensões primárias, do que resulta em:

M = 7 – 4 = 3 (3 grupos adimensionais)

Seja um grupo adimensional genérico do tipo:

  Da K bV c  d  ec p f h g

Substituindo as equações dimensionais de cada grandeza, vem:

f
 L2   M 
b c d e g
 ML   L   M   M 
 L  3     3  
a
 2   3 
 t T   t   L   Lt  t T  t T 

ou, após rearranjo, vem:

  M bd e  g La bc 3d e 2 f t 3bc e 2 f 3 g T b f  g 

Por se tratar de um adimensional, todos os expoentes devem ser nulos, isto é:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 93

b  d  e  g  0
a  b  c  3d  e  2 f  0


 3b  c  e  2 f  3g  0
 b  f  g  0

Há um sistema de 7 incógnitas e 4 equações. Portanto, o sistema está indefinido. O


método pressupõe que se assumam alguns valores para os expoentes. Aqui é um ponto
crítico do método, pois há de se fornecer valores com critérios. Por exemplo,

(A) – Como h é uma grandeza que nos interessa, vamos assumir o seguinte conjunto de
valores
g  1

c  d  0

Assim, pode-se resolver a equação do grupo adimensional, resultando em:

a=1
b = -1
e=f=0

Esse primeiro grupo adimensional recebe o nome de número de Nusselt, definido por:

Dh
1   Nu
k

(B) – Agora vamos eliminar h e assumir outros valores

g  0
 (para não aparecer h)
a  1
f 0

A solução do sistema fornece:

b=0
c=d=1
e = -1

De onde resulta o outro grupo adimensional relevante ao problema que é o número de


Reynolds, dado por:

VD
2   Re D

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 94

(C) - Finalmente, vamos assumir os seguintes valores

e = f =1
b = -1

Daí resulta, o terceiro e último número adimensional que recebe o nome de número de
Prandtl.
c 
 3  p  Pr
k
Então, há uma função do tipo

F ( 1 ,  2 ,  3 )  0 ou F ( Nu, Re D , Pr )  0 .

Isolando o número de Nusselt, vem:

Nu  f (Re D , Pr )

Assim, os dados experimentais podem ser correlacionados com as 3 variáveis (os


grupos adimensionais) ao invés de sete (as grandezas que interferem no fenômeno).
Vimos, então, que:
Nu  f (Re D , Pr )
Diversos experimentos realizados com ar, óleo e água mostraram que existe uma ótima
correlação envolvendo estes três adimensionais, conforme ilustrado no gráfico abaixo.
Note que, ar, água e óleo apresentam propriedades de transporte bastante distintas e, no
entanto, os coeficientes de transferência de calor nesses três fluidos podem ser
correlacionados por meio dos números adimensionais. Isto também indica que, uma vez
obtida a expressão que rege a transferência de calor, nos sentimos à vontade para usar
com outros fluidos, caso não existam dados experimentais de laboratório disponíveis.

Nu  0,82 Pr 0,3 Re 0,4


10

Nu
Pr 0,3
1 3<ReD<100

água
óleo
ar
0,01
1 10 100
Re

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 95

AULA 13 – CAMADA LIMITE LAMINAR SOBRE UMA


PLACA OU SUPERFICIE PLANA

Na aula passada vimos que a transferência de calor no escoamento externo sobre uma
superfície resulta na existência de 3 números adimensionais que controlam o fenômeno.
Essas grandezas são o número de Nusselt, Nu, o de Reynolds, Re, e o de Prandtl, Pr. De
forma que existe uma relação do tipo Nu = f(Re, Pr), que pode ser obtida de forma
experimental ou analítica em algumas poucas situações.
Na aula de hoje apresentar-se-á uma situação particular em que esta relação pode ser
obtida de forma analítica e exata para o caso do escoamento forçado sobre uma
superfície plana. Para isso, serão apresentadas as equações diferenciais que regem a
transferência de calor em regime laminar. Depois será indicada a solução dessas
equações. Para começar o estudo, considere o escoamento de um fluido sobre uma
superfície ou placa plana, conforme ilustrado a seguir. Admita que o fluido tenha um
perfil uniforme de velocidades (retangular) antes de atingir a placa. Quando o mesmo
atinge a borda de ataque, o atrito viscoso vai desacelerar as porções de fluido adjacentes
à placa, dando início a uma camada limite laminar, cuja espessura cresce à medida que
o fluido escoa ao longo da superfície. Note que esta camada limite laminar vai crescer
continuamente até que instabilidades vão induzir a uma transição de regime para dar
início ao regime turbulento, se a placa for comprida o suficiente. Admite-se que a
transição do regime de escoamento laminar para turbulento ocorra para a seguinte
u  x
condição Re xtransição   5  10 5 (às vezes também se usa 3 105), onde x é a

distância a partir do início da placa (borda de ataque).

u

x
laminar Transição Turbulento

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 96

No regime laminar, o fluido escoa como se fossem “lâminas” deslizantes, sendo que a
du
tensão de cisalhamento (originária do atrito entre essas camadas) é dada por   
dy
para um fluido newtoniano (como o ar, água e óleo). Essa condição e geometria de
escoamento permitem uma solução exata, como se verá a seguir.

Equações da continuidade e quantidade de movimento na camada limite laminar

Hipóteses principais:

- Fluido incompressível
- Regime permanente
- Pressão constante na direção perpendicular à placa
- Propriedades constantes
- Força de cisalhamento na direção y constante

Considere um elemento diferencial de fluido dentro da camada limite laminar (CLL),


como indicado.

y
dy
dx

Equação da continuidade ou da conservação de massa.

v
 (v  dy )dx
y

u
 (u  dx)dy
udy x
dy

vdx

dx

 sai  m
Como m  entra , então substituindo os termos, vem:
v u
udy  vdx   (v  dy)dx   (u  dx)dy . Simplificando, tem-se
y x

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 97

u v 
 0 ou DivV  0
x y
   
Onde o operador matemático Div é definido por, Div  i j .
x y

Equação da conservação da quantidade de movimento

Da 2ª lei de Newton, tem-se que

F ext  Variação do fluxo da quantidade de movimento

Note que essa lei é uma equação vetorial, isto é, o balanço deve ser feitos nas diversas
direções (x, y, z). No caso, nos interessa o balanço de forças e de quantidade de
movimento na direção paralela à placa, ou, seja a direção x.

Forças externas (pressão e atrito – gravidade desprezível)



(  dy )dx
y

p
(p  dx)dy
pdy x

dx

 p
F x  pdy  ( 
y
dy)dx  dx  ( p  dx)dy
x

 p
ou, simplificando, F x 
y
dxdy  dxdy
x

u
Mas, por ser um fluido newtoniano, tem-se    que, substituindo, em.
y

 2u p
F x 
y 2
dxdy  dxdy
x

Agora, vamos calcular o fluxo de quantidade de movimento (direção x)

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 98

v u
 (v  dy)(u  dy)dx
y y

u
u 2 dy  (u  dx) 2 dy
x

vudx

Juntando todos os termos, tem-se a seguinte expressão:

u v u
 (u  dx) 2 dy  u 2 dy   (v  dy )(u  dy )dx  uvdx 
x y y

u u u v
 u 2 dy  2 u dxdy   ( dx) 2 dy  u 2 dy  vudx  v dxdy  u dxdy 
x x y y
v u
 (dy ) 2 dx  uvdx 
y y

u u v
 2 u dxdy  v dxdy  u dxdy  termos de ordem superior
x y y

Ainda é possível simplificar esta equação para obter

u u
  (u
u u
 v )dxdy  u
u v
(  )
  (u  v )dxdy
x y x y
dxdy x x
 
 0 continuidade

Portanto, agora podemos juntar os termos de resultante das forças externas com a
variação do fluxo da quantidade de movimento, resultando na seguinte equação:

u u  2 u p
 (u v ) 2 
x y y x

Equação da conservação da energia, ou primeira lei da termodinâmica

- Condução na direção x desprezível


- Energia cinética desprezível face à entalpia

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 99

u h  (u ) T  T2
(u(v vdydy)()(hu udydy)dy (u  dy )dx  kdx(  dy )
yy yy )dx y y y 2

u h
 (u  dy)(h  dy)dy
u
 (u  x dx) 2 dy x
dy x
uhdy

dx
T
vhdx udx  kdx
y

Potência (térmica) líquida das forças viscosas

 (u )  (u )   u 
u  y dy  dx  udx  y dydx  y  uu y dydx
   

Conservação de energia:

 fluxo de energia que   fluxo de energia que 


   trabalho líquido   
 entra no volume de     deixa o volume de 
 controle diferencia l    realizado na 
controle diferencia l 
   unidade de tempo  
 na unidade de tempo   na unidade de tempo 
   

Agora, vamos tratar cada termo em particular

Fluxo de energia que entra

Entalpia + Condução de calor (note que a condução na direção x é desprezível –não é


verdade no caso de metais líquidos)

T
vhdx  uhdy  kdx
y

Trabalho na unidade de tempo (potência térmica gerada pelas forças viscosas)

  u 
 u dxdy
y  y 

Fluxo de energia que entra

v h u h T  2T
 (v  dy)(h  dy)dx   (u  dx)(h  dx)dy  kdx(  dy)
y y x x y y 2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor100

Desprezado os termos de ordem superior

  u  h u h v  2u
00  u dydx  u dxdy  h dxdy  v dxdy  h dxdy  k 2 dxdy
y  y  x x y y x
  u  h h u v  2u
 u   u  v  h(  )  k 2
y  y  x x x y x
 
0 continuidade

Com h  c p T e substituindo todos os termos na equação de balanço, resulta na forma


diferencial da equação da energia para a camada limite laminar, dada abaixo:

T T  2T   u 
c p u  c p v  k 2   u 
x y y y  y 

Em geral a potência térmica gerada pelas forças viscosas (último termo) é desprezível
face ao termo da condução de calor e de transporte convectivo de energia (entalpia).
Isso ocorre a baixas velocidades. Assim, a equação da energia pode ser simplificada
para:

T T  2T
u v  2
x y y

Retornando agora à equação da conservação da quantidade de movimento. Se o


escoamento se der à pressão constante, aquela equação pode ainda ser reescrita como:

u u  2u
u v  2
x y y


onde,   é a viscosidade cinemática


Comparando as duas equações acima, nota-se que quando    , ou seja, Pr  1

corresponde ao caso em que a distribuição da temperatura é idêntica a distribuição de
velocidades, o que ocorre com as maiorias dos gases, já que 0,65  Pr  1 .

Em resumo, as três equações diferenciais que regem a transferência de calor na camada


limite laminar são:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor101

u v
Conservação de massa  0
x y
u u  2u p
 (u v )   2 
x y y x
Conservação da quantidade de movimento
u u  2u
direção x u v  2 Pressão constante
x y y
T T  2T
Conservação de energia u v  2
x y y

Ver solução das camadas limites laminares hidrodinâmica e térmico no apêndice B do


Holman e item 7.2 do Incropera. Solução de Blasius.

Os principais resultados da solução dessas equações diferenciais são os seguintes:

5x
Espessura da camada limite hidrodinâmica (CLH):   ;
Re x

1/ 2
Coeficiente local de atrito local: c f , x  0,664 Re x ;

Coeficiente local de atrito médio desde a borda de ataque:


L
1
c f , L   C f , x dx  2 * C f xL  1,328 Re L ;
1 / 2

L0

Razão entre as espessuras das camadas limites hidrodinâmica (CLH) e térmica (CLT):

 Pr1/ 3 ;
t

Número de Nusselt local: Nu x  0,332 Re x Pr1 / 3 0,6  Pr  50


1/ 2

L
1
Número de Nusselt médio: Nu L   Nu x dx  2 * Nu x  L 0,664 Re L Pr1/ 3 .
1/ 2

L0

s
Definição do coeficiente de atrito: c f  ,  s tensão de cisalhamento na parede
u  2 / 2

Os gráficos abaixo indicam o comportamento das camadas limites. Note que o número
de Prandtl desempenha um papel importante no crescimento relativo das CLT e CLH.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor102

u , T

 T (Pr  1)
   T (Pr  1)
 T (Pr  1)

x
T u

C.L.T C.L.H

TS

1 1
Temos as seguintes relações: C f , x  , e hf ,x  .
x x

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor103

AULA 14 – CAMADA LIMITE LAMINAR – SOLUÇÃO


INTEGRAL OU APROXIMADA DE VON KARMAN

Na aula passada, vimos as equações diferenciais da camada limite laminar. Os


resultados da solução clássica de Blasius foram apresentados. A solução per si não foi
discutida, uma vez que o livro-texto apresenta em detalhes o procedimento de solução.
Nesta aula, vamos ver uma solução aproximada baseada no método integral, também
conhecida como solução de von Karman.
Neste caso, define-se um volume de controle diferencial apenas na direção x paralela ao
escoamento, cuja altura H se estenda para além da camada limite, isto é, H   ,
conforme ilustrado na figura abaixo.

A A

H y

1 2 x
dx

Leis de conservação na camada limite laminar do elemento diferencial acima:

Balanço de massa

H
Fluxo mássico na face 1 – A:  udy
0

d  
H H
Fluxo mássico na face 2 – A:  udy    udy dx
0
dx  0 
d  
H
Fluxo mássico na face A – A:   udy dx

dx  0 

Balanço de fluxo de quantidade de movimento na direção x

H
Fluxo de Q. M. na Face 1 – A:  u dy
2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor104

d 
H H
Fluxo de Q. M. na Face 2 – A:  u dy    u 2 dy dx
2

dx  0 
0 

d  
H
Fluxo de Q. M. na Face A – A: u   udy dx

dx  0 

Fluxo líquido de quantidade de movimento para fora do volume de controle

(face 2-A) – (face A – A) – (face 1 – A) =

d   d  
H H
Fluxo liquido de Q. M. =   u 2 dy dx  u    udy dx
dx  0 
 dx  0 

Lembrando da regra do produto de diferenciação, vem que:

d ( )  d ( )  d ( ) ou
d ( )  d ( )  d ( )

Fazendo   u
H
   udy , vem
0

d   d   H  du
H H
u   udy dx   u  udy dx    udy   dx
   
dx  0  dx  0  0  dx
d   du  
H H
   uudy dx 
 

 udy dx

dx  0  dx 0 

Agora, substituindo na expressão do fluxo líquido de Q. M, vem:

d   d   H 
H H
du
fluxo Q.M .    u 2 dy dx    u  udy dx     udy dx

dx  0     
 dx  0  dx 0 

Os dois primeiros termos da integral podem ser reunidos para obter a seguinte forma
mais compacta:

d   H 
H
du
fluxo Q.M .     (u  u  )udy dx     udy dx
 
dx  0  dx 0 

Agora, vamos obter a resultante das forças externas. No presente caso, só vamos
considerar as forças de pressão e de atrito.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor105

dP
- força resultante da pressão:  H dx
dx

u
- força de cisalhamento na parede: -dx  p  dx
y y 0

Finalmente, a equação integral da camada limite laminar hidrodinâmica pode agora ser
escrita (2ª lei de Newton):

u dP H  du H 
 dx H dx     (u  u  )udy dx     udy dx
 
y y 0
dx 0  dx 0 

Se a pressão for constante ao longo do escoamento, como ocorre com o escoamento


sobre uma superfície plana (no caso do escoamento dentro de um canal ou tubo, essa
dP
hipótese não é válida): 0
dx

A hipótese de P = cte. também implica em que a velocidade ao longe também seja


constante, já que, fora da camada limite, é valida a eq. de Bernoulli, ou
P u
  cte
 2

2u  du 
dP
De forma que, na forma diferencial: 
 0  du   0
 2
Assim, a equação da conservação da Q.M. se resume a:
H 
u d  
 
y y 0 dx  
  ( u  u )udy 

0 

Mas como H > δ a velocidade é constante u = u∞, então:


d   u
   (u   u )udy   
dx  0  y y 0

Esta é a forma final da equação da conservação da Q.M. válida para o escoamento


laminar sobre uma superfície ou placa plana. Até o presente momento, o
equacionamento é exato, pois nenhuma aproximação foi empregada. A questão é: se
conhecermos o perfil de velocidades u(y), então, a equação acima pode ser integrada.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor106

Daí, pode se obter, entre outras coisas, a lei de crescimento da camada limite laminar
hidrodinâmica, isto é, a espessura da camada limite laminar numa posição x a partir da
borda de ataque, (x).
A solução aproximada, objeto desta análise, começa quando se admite um perfil de
velocidades na direção perpendicular ao escoamento, isto é, u(y). Claro que a adoção
desse perfil deve seguir certos critérios. Pense: Se você tivesse que admitir tal perfil de
velocidades, provavelmente faria o mesmo que o apresentado aqui. Isto é, você imporia
um polinômio de grau tal que as condições de contorno do perfil de velocidades fossem
satisfeitas. Certo? Pois é exatamente isso é que é feito. Então, primeiro passemos a
analisar as condições de contorno do problema, que são:
u0 p/ y  0
u  u p/ y 
u
0 p/ y 
y
 2u
0 p/ y  0
y 2

As três primeiras condições de contorno são simples e de dedução direta. A primeira


informa que a velocidade na superfície da placa é nula (princípio de não-
escorregamento); a segundo diz que fora da CL a velocidade é a da corrente fluida e a
terceira diz que a transição entre a CL e a corrente livre é “suave”, daí a derivada ser
nula. A última c.c. é um pouco mais difícil de perceber. Há de se analisar a equação
diferencial da conservação da quantidade de movimento da camada limite laminar (aula
anterior que requer que essa condição seja nula sobre a superfície da placa). Como são
quatro as condições de contorno, uma distribuição que satisfaz estas condições de
contorno é um polinômio do 3º grau, dado por:

u( y)  C1  C2 y  C3 y 2  C4 y 3

Daí, aplicando as c.c. para se obterem as constantes C1 a C4, tem-se o perfil aproximado
de velocidades:
3
u( y) 3 y 1  y 
   
u 2  2 

Introduzindo-o na eq. da Q. M., vem:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor107

d   3 y 1  y   3 y 1  y   
 3 3
u
u  1        dy   
2
  
dx  0  2  2     2  2      y y 0

Do que resulta, após algum trabalho:

d  39  3 u
 u 2  
dx  280  2 

Integrado essa equação por partes, lembrando que para x = 0  δ = 0 (a CL começa


na borda de ataque):

78 u  x

840  0 
d  dx
0 
vx  ( x) 4,64
ou,  ( x)  4,64 , ou 
u x Re x

 ( x) 5
Lembrando da aula anterior que solução exata (Blasius) fornece: 
x Re x
Ver Holman Apêndice B ou Incropera

Considerando as aproximações realizadas, o resultado aproximado é bastante razoável.

Camada Limite Térmica Laminar

Uma vez resolvido o problema hidrodinâmico acima, agora se pode resolver o problema
térmico, tendo sempre como alvo a obtenção do coeficiente de transferência de calor, h.
Note que junto à superfície todo calor transferido da superfície para o fluido se dá por
condução de calor e depois este fluxo de calor vai para o fluido. De forma, que se
podem igualar os dois termos da seguinte maneira:
T
h(Tp  T )  k , ou
y y 0

T
k
y y 0
h
T p  T

Assim, para se obter o coeficiente de transferência de calor é preciso conhecer a


distribuição de temperaturas T(y). De forma semelhante ao que foi feito para o caso
hidrodinâmico, pode-se aplicar as seguintes c.c. para a distribuição de temperaturas:
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor108

Condições de contorno

T  Tp p/ y  0
T
0 p / y  t
y
T  T p / y  t
T2
0 p/ y 0
y 2

Método integral (aproximado)

y u
T t 
x x0
T p  cte

Considere a figura acima, em que o aquecimento da superfície começa a partir de um


ponto x0, a partir da borda de ataque. De forma análoga ao caso hidrodinâmico,
desenvolvendo um balanço de energia num V.C. de espessura maior que δ, vem:
(ver Holmam)

d     H  du  
2
T
H

  (T  T )udy       dy   
dx  0  c p  0  dy   y y 0

Admitindo uma distribuição polinomial de grau 3 para a distribuição de temperaturas e


aplicando as c.c., vai se obter a seguinte curva aproximada:
 ( y) T ( y)  T p 3 y 1  y 
3

    
 T  T p 2  t 2   t 

(o mesmo que o de velocidades, pois as c.c. são as mesmas)


Desprezando o termo de dissipação viscosa, obtém-se a seguinte relação entre as
espessuras de camadas limites:

3 / 4 1/ 3
t 1  x  
 Pr 1/ 3 1   0  
 1,026   x  

Se a placa for aquecida ou resfriada desde a borda, x0 = 0, temos

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor109

t 1
 Pr 1/ 3
 1,026

No desenvolvimento admitiu-se δt < δ o que é razoável para gases e líquidos


Pr t /
1 1
1 1
Finalmente, agora, podemos calcular o h, por substituição da distribuição de
velocidades, calculada junto à parede

T
k
y y 0  k (T p  T ) 3 3 k 3k 
hx       , ou
T p  T (T p  T ) t 2 2  t 2    t 
1 / 3
3k 1,026 Pr1 / 3   x0  3 / 4 
hx  1     , ou ainda
2    x  

1 / 3
 u 
1/ 2
  x0  3 / 4 
hx  0,332k Pr 1/ 3
  1    
 x    x  

hx x
Lembrando da definição do número de Nusselt, Nu x  , vem:
k
1 / 3
  x0 3 / 4 
Nu x  0,332 Pr 1    
1/ 3 1/ 2
Re x
  x  

As equações anteriores são para valores locais.

O coeficiente médio de transferência de calor será, se x0 = 0:

1/ 2 L
 u 
L
dx
 h dx   x
1/ 3
0,332 Pr
 
x 1/ 2
hL  0
 0
, ou
L L

1/ 2
u 
0,332 Pr    1/ 3
L1 / 2
hL    , ou finamente:
L/2

 1/ 3  u 
1/ 2

hL  2  0,332 Pr     2hx  L

  L  

Analogamente, para esse caso:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor110

hL
NuL   2 Nu x  L  0,664 ReL1 / 2 Pr1 / 3
k

Note que é a mesma expressão da solução exata!

Quando a diferença de temperatura do fluido e da placa for substancial, as


propriedades de transporte do fluido devem ser avaliadas á temperatura de película, Tf

Tp  T
Tf 
2

E se o fluxo de calor for uniforme ao longo da placa, tem-se:

hL
Nu L   0,453 ReL1 / 2 Pr1 / 3
k

Note que as dependências de Re e Pr são as mesmas, variando somente a constante de


multiplicação (0,453 no lugar de 0,664).

Ver exercícios resolvidos do Holmam 5.4 e 5.5

Exemplo resolvido (extraído do livro de Pitts e Sissom)

Num processo farmacêutico, óleo de rícino (mamona) a 40ºC escoa sobre uma placa
aquecida muito larga de 6 m de comprimento, com velocidade de 0,06 m/s. Para uma
temperatura de 90ºC. Determine:

(a) a espessura da camada limite hidrodinâmica  ao final da placa


(b) a espessura da camada limite térmica t no final da placa
(c) o coeficiente de transferência de calor local e médio ao final da placa
(d) o fluxo de calor total transferido da superfície aquecida.

São dados:
40  90
Propriedades calculadas a T f   65 0 C
2
 = 7,3810-8 ms/s
k f = 0,213 W/moC
 = 6,510-5 m2/s 
 = 9,57102 kg/m3 u
t
 = 6,2210-2 N.s/m2
J
T
C p = 3016
k g C
Tp  90C

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor111

Solução

Verificação se o escoamento é laminar ao final da placa

u L 0,06  6
Re L    5538  Re transição(5  10 5 ) É laminar!
 6,5  10 5

Método Exato Método Aproximado


a)  5  4,64
 ; x = L = 6m  ; x = L = 6m
x Re x x Re x
5 6 4,64  6
  0,40m   0,37m
5538 5538
b) t  6,5 10 5  t 1
 Pr 1 / 3  ( /  ) 1 / 3     8811 / 3  Pr 1 / 3
8   1,026
  7,38  10 
1 0,37
t 
0,4
 0,042m t   0,037m
8811/ 3 1,026 8811/ 3
c) 1/ 2
u 
1/ 2
1 / 3  u 
hx  0,332k Pr   hx  0,332k Pr   
1/ 3

 L   L 
 0,06 
1/ 2 Obs*: Tanto a solução exata como a
hx  0,332  0,213  (881) 1/ 3
 5
 aproximada leva a constante ao
 6,5  10  6  mesmo valor de 0,332
W W
 8,4 hx  8,4 2
m 2 C m C
W W
hL  2hx  L  2  8,4  16,8 hL  2hx  L  2  8,4  16,8 2
m 2 C m C
d) q  Ah (Ts  T ) q  Ah (Ts  T )
q 
 h L(Ts  T )  16,8  6  (90  40)
Lp q
  h L(Ts  T )  16,8  6  (90  40)
W Lp
 5040
m W
 5040
m

Analogia de Reynolds – Colburn ou Analogia entre Transf. de Calor e Atrito

Como visto nas aulas anteriores, a transferência de calor e de quantidade de movimento


(atrito superficial) são regidas por equações diferenciais análogas. Na verdade, esta
analogia entre os dois fenômenos é muito útil e será explorada nesta seção. Essa é a
chamada analogia de Reynolds-Colburn que, portanto, relaciona o atrito superficial com
a transferência de calor. Qual a sua utilidade? Bem, em geral dados de medição
laboratorial de atrito superficial podem ser empregados para estimativas do coeficiente
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor112

de transferência de calor. Isto é uma grande vantagem, pois, pelo menos no passado, os
dados de atrito eram bem mais abundantes que os de transferência de calor.
Por definição, o coeficiente de atrito é dado por:

p
Cf 
u  2
2

Mas, por outro lado, para um fluido newtoniano (todos os que vamos lidar neste curso),
a tensão de cisalhamento na parede é:

u
p  
y y 0

3
u 3 y 1 y
Usando o perfil de velocidades desenvolvido na aula 14, ou seja:     ,
u 2  2   
temos que a derivada junto à parede resulta em:
u 3 u

y y 0 2 

Por outro lado, usando o resultado da solução integral ou aproximada da espessura da


 4,64
camada limite, isto é,  que, mediante substituição na definição da tensão de
x Re x
cisalhamento na parede, resulta em:
3 u u Re x
p   0,323 
2  x

Substituindo este resultado na equação da definição do coeficiente de atrito, vem:

C fx u  Re x 0,323
 0,323 
2 u  x 2
Re x

Por outro lado, da aula anterior, chegou-se à seguinte expressão para o número de
Nusselt, Nu x  0,332 Pr1/ 3 Re x
1/ 2
que, mediante algum rearranjo pode ser escrito como:

Nu x 1 / 2 hx
 0,332 Pr 2 / 3 Re x , onde Stx  é o número de Stanton. Então,
Re x Pr c p u 
 
Stx

reescrevendo de forma compacta:


0,332
St x Pr 2 / 3 
Re x

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor113

Comparando as duas equações anteriores em destaque, notamos que eles são iguais a
menos de uma diferença de cerca de 3% no valor da constante, então, esquecendo desta
pequena diferença podemos igualar as duas expressões para obter:

c fx
St x Pr 2 / 3 
2

Esta é a chamada analogia de Reynolds-Colburn. Ela relaciona o coeficiente de atrito


com a transferência de calor em escoamento laminar sobre uma placa plana. Dessa
forma, a transferência de calor pode ser determinada a partir das medidas da força de
arrasto sobre a placa. Ela também pode ser aplicada para regime turbulento (que será
visto adiante) sobre uma placa plana e modificada para escoamento turbulento no
interior de tubos. Ela é válida tanto para valores locais, como para valores médios.
______________________________________________________________________
Exemplo resolvido – continuação do anterior

Calcule a força de arrasto sobre a placa do exemplo anterior.

Cf
Sabe-se que  S t Pr 2 / 3
2

hL 16,8
Por outro lado, S t    9,70  10 5
c p u  9,57  10  3016  0,06
2

Assim da analogia, podemos obter C f  2  9,7  10 5  8812 / 3  1,78  10 2 , de forma

que a tensão de cisalhamento na superfície é:

u  2 1,78  10 2  957  (0,06) 2 N


 p  Cf   3,07  10 2 2
2 2 m

Finalmente, a força de atrito por unidade de largura é:

F N
  p  L  3,07  10 2  6  0,184
Lp m
______________________________________________________________________

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AULA 15 –CAMADA LIMITE TURBULENTA E


TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM ESCOAMENTO
EXTERNO

Camada Limite Turbulenta


A transferência de calor convectiva na camada limite turbulenta é fenomenologicamente
diferente da que ocorre na camada limite laminar. Para entender o mecanismo da
transferência de calor na camada limite turbulenta, considere que a mesma possui três
subcamadas, como ilustrado no esquema abaixo:

turbulenta
y
Camada amortecedora
x Sub camada laminar

A CLT é subdividida em:


- Subcamada laminar – semelhante ao escoamento laminar – ação molecular
- Camada amortecedora – efeitos moleculares ainda são sentidas
- Turbulento – misturas macroscópicas de fluido

Para entender os mecanismos turbulentos, considere o exercício de observar o


comportamento da oscilação da velocidade local (isto é, em um ponto do escoamento),
o que é ilustrado no gráfico temporal abaixo.

Do gráfico ilustrado, depreende-se que a velocidade instantânea, u, flutua


consideravelmente em torno de um valor médio, u . Este fato da flutuação da
velocidade local em conjunção com a flutuação de outras grandezas, embora possa
parecer irrelevante, é o que introduz as maiores dificuldades no equacionamento e no
que se chama “problema da turbulência”. Para analisar o problema, costuma-se dividir a

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor115

velocidade instantânea em dois componentes: um valor médio e outro de flutuação,


como indicado:
velocidade na direção paralela: u  u  u'

velocidade na direção transversal: v  v  v'

O mesmo se faz com o termo de oscilação da pressão local:

pressão: P
  
P  P'

valor medio fluctuacào
ins tan táneo

Em todos os casos, uma barra sobre a grandeza indica um valor médio e uma apóstrofe,
valor de flutuação. Os termos de flutuação são responsáveis pelo surgimento de forças
aparentes que são chamadas de tensões aparentes de Reynolds, as quais devem ser
consideradas na análise.
Para se ter uma visão fenomenológica das tensões aparentes, considere a ilustração da
camada limite turbulenta abaixo. Diferentemente do caso laminar, em que o fluido se
“desliza” sobre a superfície, no caso turbulento há misturas macroscópicas de “porções”
de fluido. No exemplo ilustrado, uma “porção” de fluido (1) está se movimentando para
cima levando consigo sua velocidade (quantidade de movimento) e energia interna
(transferência de calor). Evidentemente, uma “porção” correspondente (2) desce para
ocupar o lugar da outra. Isso é o que dá origem às flutuações. Do ponto de vista de
modelagem matemática, essas “simples” movimentações do fluido dentro da camada
limite dão origem às maiores dificuldades de modelagem.

Uma análise mais detalhada do problema da transferência de calor turbulenta foge do


escopo deste curso. Assim, referira-se a uma literatura mais específica para uma análise
mais profunda. No entanto, abaixo se mostram os passos principais da modelagem.
O primeiro passo é escrever as equações diferenciais de conservação – aula 13. Em
seguida, substituem-se os valores instantâneos pelos termos correspondentes de média e
flutuação, isto é, u  u  u ' , v  v  v ' e P  P  P ' . Esse procedimento é chamado de

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor116

médias temporais de Reynolds. Começando pela equação da conservação da quantidade


de movimento, tem-se:

u u  2u 1 P
u v  
x y y 2  x

Agora, substituindo a decomposição das grandezas, u  u  u ' , v  v  v ' e P  P  P ' ,

2
u  u  u  u  v  v  u  u  
x y 2
u  u 
1 
 x

P  P 
y

u u u u u u u u


u u  u  u v v  v  v 
x x x x y y y y
 2u  2u  1 P 1 P
   
y 2 y 2  x  x

Neste ponto é conveniente realizar uma média temporal sobre um intervalo de tempo
T = t2 - t1 longo o suficiente para capturar as informações relevantes de flutuação do
escoamento. Para isso, define-se, a seguinte média temporal sobre uma grandeza
instantânea f (ou sua derivada espacial) qualquer:

1 t2
f 

T t1
f ( t ) dt

As seguintes propriedades se aplicam:

f1  f1
f1  f 2  f1  f 2 , Cf1  C f1 , f1  f1 ,  e f0
s s
sendo, C uma constante no intervalo de tempo e s é uma coordenada espacial (x, y ou z).
Assim, aplicando a média temporal sobre a equação anterior, vem:

u u u u u u u u


u u  u  u v v  v  v 
x x x x y y y y

 2u  2u  1 P 1 P
   
y 2 y 2  x  x

Usando as propriedades de média temporal, obtém-se a seguinte equação:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor117

u u u u u u u u


u u  u  u v v  v  v 
x x 0 x
 x y y 0 y y
0

 2u  2u 1 P 1 P
   
y 2
y 2  x  
x

0 0

Reescrevendo, vem:

u u  2u 1 P  u u 
u v  2    u  v 
x y y  x  x y 

Ainda, vamos tratar em separado as médias temporais que envolvem as flutuações


(termos entre parênteses). O seguinte artifício matemático pode ser escrito:

u uu u u uv v


u   u e v   u
x x x x x x
De forma que aqueles termos podem ser escritos como:

u u uu uv   u v 


u  v    u  
x x x x 
x x
0

O termo entre parênteses do lado direito é nulo pela lei da conservação de massa.
Substituindo a igualdade acima, obtém-se a forma da equação diferencial turbulenta da
conservação da quantidade de movimento:

u u  2u 1 P  uu uv 
u v  2    
x y y  x  x x 

Como indicado acima, no processo de obtenção desta equação, admitiu-se que a média
temporal das flutuações e suas derivadas são nulas. Com isso surgiram termos que
envolvem a média temporal da derivada do produto das flutuações, que são os termos
entre parênteses. Por fim, ainda existe uma última simplificação que envolve a camada
limite. Para o caso do escoamento bidimensional verifica-se que o gradiente do produto
das flutuações na direção principal x (primeiro termo dos parênteses) é desprezível em
relação ao segundo termo, de forma que a equação final da conservação da quantidade
de movimento turbulenta é:

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor118

u u  2u 1 P uv
u v  2  
x y y  x x

Aqui reside grande parte do problema da turbulência que é justamente se estabelecer


modelos para estimar o gradiente da média temporal do produto das flutuações das duas
componentes de velocidade. Este termo dá origem às chamadas tensões aparentes de
Reynolds que têm um tratamento à parte.
De forma análoga, pode-se estabelecer a equação da energia para a camada limite
turbulenta, o que resulta em:

 T T    T 
C p  u v  k
 y  y  C p v' T ' 

 x y   

Por semelhança ao caso laminar, definem-se:

u
Viscosidade turbilhonar:
M  vu
y e

T
Difusividade turbilhonar:
H  vT 
y

u
Assim, definem-se a tensão de cisalhamento total turbulenta por:
 t      M 
y ,

T
qt   C p    H 
e transferência de calor total turbulenta: y
Distante da parede, o domínio da viscosidade e da difusividade turbilhonares é superior

em relação às grandezas moleculares, isto é,  M   e  H   . De forma que se

pode definir um número de Prandtl turbulento, Prt   M /  H aproximadamente


unitário. Isso indica que os transportes de energia e de quantidade de movimento nessa
região ocorrem na mesma proporção e que os perfis de temperatura e de velocidade
médios sejam mais uniformes nesta região.
O estudo das grandezas turbilhonares dão origem aos perfis de velocidade e temperatura
universais. Importante frisar, que as muitas análises indicam que a analogia de
Reynolds-Colburn entre atrito superficial e transferência de calor pode ser estendida
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor119

para região turbulenta. É objeto dos estudos de turbulência adequadamente modelar os


efeitos das variações instantâneas das grandezas, o que foge do escopo destas notas de
aula.
É importante saber que existem dois regimes de transferência de calor: laminar e
turbulento. Também existe uma região de transição entre os dois regimes. Expressões
apropriadas para cada regime em separado e em combinação estão indicadas na tabela
7.9 do Incropera e Witt.

Resumo das expressões de transferência de calor para regime turbulento sobre


superfícies planas:

Local : Nu x  0,0296 Re 0x,8 Pr1 3 Re x  108 0,6  Pr  60


Médio : Nu L  0,037 Re 0L,8  871 Pr1 3  Re L  108

 0,37 Re x 0, 2 Re L  108
x
Nota: para outras expressões ver livro-texto – ou tabela ao final desta aula.

As propriedades de transporte são avaliadas à temperatura de mistura (média


entre superfície e ao longe). Reynolds crítico = 5 105

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Exemplo resolvido (Holman 5-7)
Ar a 20oC e 1 atm escoa sobre uma placa plana a 35 m/s. A placa tem 75 cm de
comprimento e é mantida a 60ºC. Calcule o fluxo de calor transferido da placa.
20  60
Propriedades avaliadas à T   40C
2
kJ kg W
c p  1,007   1,128 3 Pr  0,7 k  0,02723
kgC m mC
kg
  2,007 x10 5
ms
VL
Re L   1,475 x10 6

hL 0 ,8
Nu L   Pr1 / 3 (0,037 Re L  871)  2055
k
k
h Nu L  74,6W / m 2 C
L
q  hA(Ts  T )  74,6.0,75.1.(60  20)  2238 W
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor120

Escoamento Cruzado sobre Cilindros e Tubos


No caso do escoamento externo cruzado
sobre cilindros e tubos, a análise se torna
mais complexa. O número de Nusselt
local, dado em função do ângulo de
incidência , isto é, Nu(), é fortemente
influenciado não só pela formação das
camadas limites, como também pelo efeito
do descolamento da camada limite. A
figura ao lado indica o que acontece com o
número local de Nusselt. Para ReD  105, o
número de Nusselt decresce como
consequência do crescimento da camada
limite laminar (CLL) até cerca de 80o.
Após este ponto, o escoamento se descola
da superfície destruindo a CLL e gerando
um sistema de vórtices e mistura que
melhora a transferência de calor (aumento de Nu(). Para ReD > 105, ocorre a transição
de laminar para turbulento e, portanto, a formação da camada limite turbulenta (CLT).
Na fase de transição (80o a 100o) ocorre a melhora da transferência de calor. Uma vez
iniciada a CLT, novamente se verifica a diminuição do coeficiente local de transferência
de calor devido ao crescimento da CLT para, em torno de 140o, descolar o escoamento
da superfície que destrói a CLT para, então, gerar o sistema de vórtices e mistura que
volta a melhorar a transferência de calor. No caso turbulento há, portanto, dois mínimos.
Embora do ponto de vista de melhoria da transferência de calor possa ser importante
analisar os efeitos locais do número de Nusselt, do ponto de vista do engenheiro e de
outros usuários é mais proveitoso que se tenha uma expressão para a transferência de
calor média. Assim, uma expressão bastante antiga tem ainda sido usada, trata-se da
correlação empírica de Hilpert, dada por:
1
hD
Nu D   C Re mD Pr 3
k
onde, D é o diâmetro do tubo. As constantes C e m são dadas na tabela abaixo como
função do número de Reynolds.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor121

ReD C m
0,4 – 4 0,989 0,330
4 – 40 0,911 0,385
40 – 4.000 0,683 0,466
4.000 – 40000 0,193 0,618
40.000 – 400.000 0,027 0,805

No caso de escoamento cruzado de um gás sobre outras seções transversais, a mesma


expresssão de Hipert pode ser usada, tendo outras constantes C e m como indicado na
próxima tabela (Jakob, 1949).

Para o escoamento cruzado de outros fluidos sobre cilindros circulares, uma expressão
mais atual bastante usada é devida a Zhukauskas, dada por

1/ 4
 Pr  0,7  Pr  500
Nu D  C Re Pr 
m
D
n
 válida para  6 
,
 Prs  1  Re D  10 

onde as constantes C e m são obtidas da tabela abaixo. Todas às propriedades são


avaliadas à T∞, exceto Prs que é avaliado na temperatura de superfície (parede). Se
Pr  10, use n = 0,37 e, se Pr > 10, use n = 0,36.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor122

ReD C m
1 – 40 0,75 0,4
40 – 1.000 0,51 0,5
1.000 – 2105 0,26 0,6
2105 – 106 0,076 0,7

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Escoamento sobre Banco de Tubos

Escoamento cruzado sobre um banco de tubos é muito comum em trocadores de calor.


Um dos fluidos escoa perpendicularmente aos tubos, enquanto que o outro circula
internamente. No arranjo abaixo, apresentam-se dois arranjos típicos. O primeiro é
chamado de arranjo em linha e o outro de arranjo desalinhado ou em quicôncio.
Arranjos em linha ou quicôncio

Existem várias expressões práticas para a transferência de calor sobre banco de tubos.
Para o ar, pode se usar a expressão de Grimison, que também pode ser modificada para
outros fluidos, como discutido em Incropera (Seção 7.6). Mais recentemente,
Zhukauskas apresentou a seguinte expressão:
1/ 4
 Pr 
Nu D  C Re m
D , max Pr 0, 36
 
 Prs 
 N L  20 
 
válida para 0,7  Pr  500 
1000  Re 6
 D , max  2.10 

onde, NL é o número de fileiras de tubos e todas as propriedades, exceto Prs (que é


avaliada à temperatura da superfície dos tubos) são avaliadas à temperatura média entre
a entrada e a saída do fluido e as constantes C e m estão listadas na tabela abaixo.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor123

Configuração ReD,max C m
2
Alinhada 10-10 0,80 0,40
2
Em quicôncio 10-10 0,90 0,40
Alinhada 102-103 Aproximado como um único
2 3
Em quicôncio 10 -10 cilíndro (isolado)
Alinhada
103-2105 0,27 0,63
(ST/SL>0,7)a
Em quicôncio
103-2105 0,35(ST/SL)1/5 0,60
(ST/SL<2)
Em quicôncio
103-2105 0,40 0,60
(ST/SL>2)
5 6
Alinhada 2x10 -210 0,021 0,84
Em quicôncio 2x105-2106 0,022 0,84
a
Para ST/SL>0,7 a transferência de calor é ineficiente, e tubos alinhados não deveriam ser utilizados.

Se o número de fileiras de tubos for inferior a 20, isto é, NL < 20, então deve-se corrigir
a expressão acima, multiplicando o resultado obtido por uma constante C2, conforme
expressão abaixo e valores dados na segunda tabela abaixo.

Nu D  C2 Nu D
N L  20 N L  20

Tabela com o fator de correção C2 para NL<20 (ReD>103)


NL 1 2 3 4 5 7 10 13 16
Alinhada 0,70 0,80 0,86 0,90 0,92 0,95 0,97 0,98 0,99
Em quicôncio 0,64 0,76 0,84 0,89 0,92 0,95 0,97 0,98 0,99

O número de Reynolds ReD,max é calculado para a velocidade máxima do fluido que


percorre o banco de tubos. No arranjo em linha, a velocidade máxima ocorre em
ST
Vmax  V , onde as grandezas podem ser vistas na figura anterior. No arranjo em
ST  D
quicôncio ou desalinhado, a velocidade máxima pode ocorrer em duas regiões,
conforme ilustrado na figura anterior. Vmax ocorrerá na seção A2 se a seguinte condição
for satisfeita 2(S D  D)  (ST  D) que, após uma análise trigonométrica simples, se
12
 2  ST  2  ST  D
obtém a seguinte condição equivalente S D   S L      . Se isso
  2   2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor124

ST
acontecer, então: Vmax  V . Caso essa condição não seja satisfeita, então, a
2( S D  D)

ST
velocidade máxima ocorre em A1 e, portanto, usa-se novamente Vmax  V.
ST  D

Tabelas- resumo com as equações (Incropera & Witt)

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor125

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Exercício de Aplicação
Verifica-se um escoamento de ar a uma velocidade de 4 m/s e temperatura de 30°C.
Neste escoamento de ar é colocada uma fina placa plana, paralelamente ao mesmo, de
25 cm de comprimento e 1 m de largura. A temperatura da placa é de 60°C.
Posteriormente, a placa é enrolada (no sentido do comprimento) formando um cilindro
sobre o qual o escoamento de ar vai se dar de forma cruzada. Todas as demais
condições são mantidas. Pede-se:
(a) Em qual caso a troca de calor é maior.
(b) Qual o fluxo de calor trocado em ambos os casos.
(c) Analisar se sempre há maior troca de calor numa dada configuração do que na
outra, independentemente do comprimento e velocidade do ar. Justifique sua
resposta através de um memorial de cálculo.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor126

Solução
T  T p
Propriedades do ar à T   45C
2
ν = 1,68 x 10-5 m2/s
k = 2,69 x 10-2 W/mK
Pr = 0,706

Placa
u  4m / s

T p  60C

T  30C L=0,25m

u L 4  0,25
Re L    5,95 x10 4  Re crit  5 10 5
 1,68  10 5

1/ 2
Nu L  0,664 Re L Pr1 / 3  0,664  (5,95x10 4 )1 / 2  (0,706)1 / 3  144,2
Nu k 144,2  0,02697
Assim h L    15,56W / m 2 C
L 0,25

Cilindro
u , T
Ts  60C
D

πD = L  D = 0,25/π = 0,0796 m

4  0,0796
Assim, Re D  5
 1,895  10 4
1,68  10

Usando a expressão de Hilpert (a mais simples) (Eq. 7.55b)

Nu D  C Re mD Pr1 / 3 p/ReD=1,895104
C = 0,193
m = 0,618
Assim, Nu D  0,193  (1,895  10 )
4 0, 618
 (0,706)  75,63
1/ 3

Nu D k 75,63  0,02697
de forma que: h D    25,63W / m 2 K
D 0,0796
a) A transferência de calor é maior no caso do cilindro pois h D  h L e a área de troca de
calor é a mesma.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor127

b)
Placa Cilindro

Q placa  hA p (T p  T ) Qcil  hAc (T p  T )


15,56  0,25  30 25,63  0,25  30
Q placa  116,7W Qcil  192,2W

c) Porção laminar Re crit , L  5  10 5


Note que Re D  Re L /  Re D  1,59  105 sendo equivalente ao crítico.

0,664  k 1/ 2
hL  Re L Pr1 / 3 (A)
L

k 1/ 3 k Pr1 / 3
hD  Pr C Re D  
m
C Re mD (B)
D L
k Pr1 / 3 hL
Portanto de (A),  , que, pode ser subst. em (B), para obter
L 0,664 Re1L/ 2
C Re mD h L
hD   2,669C Re mD0,5 h L
0,664 Re D
1/ 2

hD
Ou  2,669C Re mD0,5 para o caso laminar na placa
hL

Porção laminar-turbulenta ReL> Recrit =5105

Nu L  (0,037  Re 0L,8  871) Pr1 / 3 (Eq. 7.41 p/camada limite mista)

hLL k Pr1 / 3 hL
De donde  (0,037  Re 0L,8  871) Pr1 / 3 e  (C)
k L 0,037 Re 0L,8  871

C Re mD h L
sub. em (B), vem h D 
0,037 Re 0L,8  871

hD C Re mD
Subs. ReL = πReD, vem: 
h L 0,037 Re L  871
0 ,8

Finalmente para o caso laminar e turbulento na placa

hD C Re mD

h L 0,037 Re L  871
0 ,8

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor128

Os diversos valores de C e m da expressão de Hilpert foram substituídos nas expressões


das razões entre os coeficientes de transferência de calor e aparecem na tabela abaixo e,
em forma gráfica. Evidentemente, a transferência de calor será sempre maior no caso do
cilindro (na faixa de validade das expressões)

ReD C m hD/hL regime


4 0,898 0,33 2,09 laminar
40 0,911 0,385 1,59 “
4000 0,683 0,466 1,38 “
40000 0,193 0,618 1,8 “
159000 0,027 0,805 2,78 “
200000 0,027 0,805 2,15 lam-turb
400000 0,027 0,805 1,43 “

3,00

hD 2,50

hL 2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
1 10 100 1000 10000 100000 1000000

ReD

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 129

AULA 16 – TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO INTERIOR


DE TUBOS E DUTOS - LAMINAR

Considerações hidrodinâmicas do Escoamento

Diferentemente do escoamento externo sobre corpos e superfícies, a camada limite


interior tem início e crescimento sobre a superfície interna do tubo ou duto que,
dependendo do comprimento do tubo, vai se coalescer na linha central, como ilustrado
abaixo. O comprimento até que isso ocorra é chamado de comprimento de entrada. A
partir desse ponto, diz-se que o escoamento é plenamente desenvolvido.

Desenvolvimento da camada limite laminar

xe – comprimento de entrada

x > xe – escoamento plenamente desenvolvido

O número de Reynolds agora deve ser baseado no diâmetro do tubo (ou duto), isto é:
u D
Re D  , sendo u – velocidade média

O caso laminar vai ocorrer para Re D  2300 e, nesse caso, o comprimento de entrada
x
se estende até e  0,05 Re D
D

Desenvolvimento da camada limite turbulenta


No caso turbulento, dá-se início ao desenvolvimento da camada limite laminar, porém,
essa camada limite sofre uma transição para camada limite turbulenta, como indicado na
figura abaixo.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 130

Nesse caso, xe  10D . O número de Reynolds vai indicar se o escoamento é turbulento,

quando seu valor será superior a 4000, isto é, Re D  4000 . Entre 2300 e 4000 ocorre
transição laminar-turbulento. Para efeitos práticos, porém, pode-se assumir escoamento
turbulento a partir de 2300.

TEMPERATURA MEDIA DE MISTURA

No caso do escoamento interno, existe um problema de referenciar a transferência de


calor. Para exemplificar essa dificuldade, considere os escoamentos externos e internos
ilustrados abaixo. No primeiro caso, o cálculo da transferência de calor se dá levando
em consideração a temperatura da superfície, Ts, e do fluido ao longe, T∞, que é
constante. Isso já não ocorre no caso do escoamento no interior de tubos e dutos. Não
existe uma temperatura ao longe constante, T∞, para efetuar o cálculo da troca térmica
pela lei de resfriamento de Newton. Deve-se, portanto, utilizar uma temperatura
representativa do fluido na seção de interesse, Tm. Não se pode ser a temperatura média
aritmética simples, pelos motivos expostos abaixo. Há de ser uma temperatura que
efetivamente represente a temperatura do fluido na seção. Esta é a chamada temperatura
média de mistura ou de copo.

T C.L.

externo
q  hA(Ts  T )
 interno
cte q  hA(Ts  Tm )

Ts Ts

Para se entender como obter a temperatura média de mistura, considere os seguintes


perfis de temperatura e velocidade em um fluido sendo aquecido:

Ts

Tc

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 131

Note que as maiores temperaturas ocorrem junto à parede, porém nessa região é
exatamente onde ocorrem as menores velocidades. Assim, a média aritmética simples
1
A
Tm  TdA não representa a temperatura efetiva da seção. Para obter a temperatura

efetiva da seção, considere o exercício mental em que uma porção da seção transversal
do tubo com fluido é colocada dentro de um copo. Há de se concordar que a
temperatura efetiva que representa a seção é aquela temperatura decorrente do equilíbrio
térmico daquela porção de fluido. Certo? Sim, isto está correto e daí o nome alternativo
de temperatura de copo (“cup” que significa literalmente “caneca” no vernáculo
original).

dx
Tequilibrio  Tm
(copo)

Para determinar essa temperatura, considere o fluxo entálpico, E h , na seção transversal


A
dado por: E h   hdm   uhdA .
0
Assim, pode-se definir a entalpia média, hm, na seção transversal por:
A
1
hm   uhdA  E h  m hm
m 0

A
1
C P m 0
Mas, sabendo que hm  c pTm , então: Tm  uC PTdA
A
1
Se CP= cte., vem que Tm   uTdA
m 0
A
Mas, por definição a vazão mássica na seção transversal é dada por m   udA
0

Assim, chega-se na expressão da definição da temperatura média de mistura ou


temperatura de copo, qual seja:
A

 uTdA
Tm  0
A

 udA
0

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 132

Para o caso do duto circular a área da seção transversal é dada por


A  r 2  dA  2rdr que, substituindo na expressão acima, resulta em:
r

 uTrdr
Tm  0
r
(Válida para tubo circular)
 urdr
0

 uTrdr
Além do mais, se ρ= cte, vem Tm  0
R
(válida para tubo circular)
 urdr
0

Transferência de Calor no Escoamento Laminar no Interior de Duto

Conhecida a expressão para o cálculo da temperatura média de mistura, pode-se


determinar a transferência de calor, caso sejam conhecidas as distribuições de
velocidade e de temperatura na seção transversal, isto é, u(r) e T(r). O caso laminar
fornece tais expressões, como veremos a seguir. Considere o perfil laminar de
velocidades ilustrado abaixo. No diagrama à direita, tem-se um balanço de forças para o
elemento de fluido.

 (2rdx)

r p (r 2 ) ( p  dp)r 2
r0a Elemento de fluido

q dx

du
Um balanço de forças, resulta em: r 2 dp   (2rdx) , ou rdp  2 dx , ou ainda:
dr
r dp
du   dr
2 dx
Integrando na direção radial. Note que a pressão estática é a mesma na seção
r 2 dp
transversal, isto é, p p(r), vem que u   C
4 dx
A constante C é determinada da condição de parede, isto é,

u=0 .r dp
2

r = r0 C 0
4 dx

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 133

1 dp 2
Assim, u (r )  (r0  r 2 )
4 dx

2
r0 dp
Velocidade no centro do tubo, u0: u 0  
4 dx
Finalmente, dividindo uma expressão pela outra, tem-se:
u (r ) r2
 1  2 O perfil de velocidades é parabólico (2º grau)!!
u0 r0

dq p
Admitindo-se fluxo de calor constante na parede do tubo: 0
dx

Um balanço de energia para o elemento de fluido anterior resulta em:

1   T  1 T
r 
r r  r   x

T
Como o fluxo de calor e constante ao longo do tubo, então:  cte
x

T
Por outro lado, por simetria no centro do tubo, sabe-se que  0 e, na parede do
r r 0

T
tubo k  q p  cte
r r  r0

Entrando com estas c.c na equação acima e integrando, resulta no seguinte perfil
laminar de temperaturas:

1 T u 0 r0  r  1 r  
2 2 4

T (r )  T0       
 x 4  r0  4  r0  
 

Finalmente, pode-se agora introduzir os perfis de velocidade, u(r) e temperatura, T(r),


r0 r0

na equação da definição da temperatura média de mistura Tm   uTrdr  urdr


0 0

2
7 u 0 r0 T
Após algum esforço, se obtém Tm  T0  (para fluxo de calor constante na
96  x
parede).

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 134

Para se poder calcular a transferência de calor, ainda é preciso obter a temperatura de


parede (r = r0). Isto é prontamente obtido da expressão de T(r), que resulta em:
1 3 2 T
T p  T0  u 0 r0 (fluxo de calor constante)
 16 x

Agora, finalmente, o coeficiente de transferência de calor laminar em tubo circular com


propriedades constantes, fluxo de calor constante na parece, e escoamento plenamente
desenvolvido pode ser calculado, a partir da sua própria definição:

T
k
T r r  r0
q  hA(T p  Tm )  kA , ou h 
r r  r0 T p  Tm 

Substituindo as expressões, vem:

  1 T u 0 r0  r 1  r   
2 2 4

k T0       
r   x 4  r0  4  r0   
    r  r0
h
 
 1 3 2 T 7 u 0 r0 T 
2
 T0  u 0 r0  T0  
  16
 
x 96   x

 TP Tm 

k
Após se efetuarem os cálculos, vai-se chegar a h  4,364 ou, Nu D  4,364 . Este é
D
um resultado notável, pois o número de Nusselt para escoamento laminar plenamente
desenvolvido, propriedades constantes, submetido a um fluxo de calor constante não
depende do número de Reynolds ou de qualquer outro parâmetro! Se os cálculos forem
efetuados para temperatura de parede constante, vai-se obter Nu D  3,66 .
Trabalhos teóricos também foram realizados para outras geometrias e seus valores são
apresentados na tabela abaixo. O fator de atrito também é apresentado.
Nos problemas práticos, as propriedades devem ser calculadas à média entre as
Tme  Tms
temperaturas médias de saída e entrada, isto é: Tm  quando as diferenças de
2
temperatura não são significativas. Em caso diferenças significativas, deve-se empregar
o conceito de diferença média logarítmica de temperatura, DMLT, visto adiante.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 135

No caso de seções transversais não circulares, define-se o chamado diâmetro hidráulico,


Dh, de acordo com:
4A
Dh  , onde A é a área da seção transversal do tubo e P é o chamado perímetro
P
molhado (o perímetro que abarca o fluido que está em contato com a parede da
tubulação).
Quando os tubos são curtos, deve-se considerar que o escoamento ainda não está
plenamente desenvolvido e deve-se usar a expressão corrigida. O gráfico abaixo ilustra
como o número de Nusselt varia, começando da entrada, até que o escoamento se torne
plenamente desenvolvido.
0,0668( D / L) Re D Pr
Relação para tubo curto: NuD  3,66 
1  0,04( D / L) Re D Pr
2/3

Nu

Plenamente desenvolvido

x
Veja livro para correlações que consideram o comprimento de entrada.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 136

DETERMINAÇÃO DE Tm AO LONGO DO COMPRIMENTO DO TUBO

Em muitas situações, estamos mais interessados em determinar como a temperatura


média de mistura varia ao longo do tubo. Isto é obtido, mediante um balanço de energia,
conforme ilustrado na figura abaixo. É válida para qualquer regime de escoamento, pois
decorre de uma análise da Primeira Lei da Termodinâmica. Note que, nesta seção, h
refere-se à entalpia específica e não ao coeficiente convectivo de calor.

q" dAp

m hx
m hx  dx

dx

dhx
Expansão em serie de Taylor da entalpia, vem hx  dx  hx  dx  ...
dx

 hx dx  m
Mas, pela 1ª lei, temos: m  hx  q" dAp , que substituindo a expansão, já

desprezando os termos de ordem superior, tem-se


 dh 
m  hx  x dx   m hx  q" dAp
 dx 
dhx
ou, simplesmente m dx  q" dAp , sendo Ap = área em contato com o fluido.
dx
Mas, por outro lado dA  Pdx ; onde P é o perímetro molhado.
dhx
De forma que m dx  q" Pdx
dx
dhx
Ou, ainda, m  q" P . Assumindo h  C pTm ,ou dh  CP dT p / CP  cte , tem-se
dx

dTm dT
q" P  C P u A  m C P m
dx dx

Dois casos podem ser analisados para ser determinar Tm que dependem da condição de
contorno impostas na parede do tubo.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 137

(I) Fluxo de calor constante na parede. q"  cte

q" P
Integrando a equação, vem Tm ( x)  x  cte
C P u A

q" P
Para x = 0, Tm = Te, de forma que Tm ( x)  x  Te
C P u A

(II) Temperatura de parede constante Tp = cte

Nesse caso, q"x  hx (Tp  Tm ) que, substituindo na expressão Tm, vem


dTm
hx P(T p  Tm )  m C P
dx
dTm h P hc P
Ou,  x dx , cuja integração resulta em ln(T p  Tm )  x  cte
T p  Tm m c p m C P

T p  Tm ( x)  h Px 
Para x = 0, Tm = Te, de forma que  exp  c 
T p  Te  m C P 

T Tp h T
Tm Tp

Te Te
h

x
Fluxo de calor constante na superfície Temperatura de parede constante

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor138

AULA 17 – TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO INTERIOR


DE DUTOS - TURBULENTO

Transferência de Calor no Escoamento Turbulento em Dutos – Analogia de


Reynolds-Colburn

No caso laminar, a transferência de calor da parede para o fluido (ou vice-versa) é dada
q dT q dT
por condução, segundo a lei de Fourier, isto é,  k , ou  
A dr Ac p dr

No caso de escoamento turbulento, define-se uma expressão análoga que tem a seguinte
forma

    H 
q dT
Ac p dr

em que, artificialmente, define-se H como difusividade térmica turbilhonar.

Analogamente à tensão de cisalhamento , tem-se:

du  du
    (   m )
dr  dr
em que, m é a viscosidade turbilhonar.

Hipótese: Admitindo que o calor e quantidade de movimento sejam transportados a


uma mesma taxa, ou seja, H = m e = α, então tem-se que Pr = 1. De forma que,
dividindo as equações anteriores, vem:

q dT q
 ou du  dT
Ac p du Ac p

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor139

Outra hipótese a ser adotada é que a razão entre o fluxo de calor por unidade de área e o
cisalhamento seja constante na seção transversal, o que permite escrever que o que
ocorre na parede, também ocorre dentro do escoamento, isto é:

q qp qp
 ou du  dT
CP A CP Ap p CP Ap p

As condições de contorno do problema são:


u=0 , T = Tp
u = um , T = Tm

um Tm
qp
De forma, que é possível integrar a equação:
ApCP p  du    dT
0 Tp

qp
que resulta em u m  T p  Tm
Ap C P p
mas, por outro lado, o fluxo de calor convectivo é dado por q p  hAp (Tp  Tm ) . Agora

igualando as duas expressões, tem-se:


hAp (T p  Tm ) hu m
u m  T p  Tm que resulta em  p (A)
Ap p c p cp

Por outro lado, o equilíbrio de forças no elemento de fluido ilustrado abaixo resulta em:
r
Pr0   p 2r0 L , ou  p  0 P
2

2L

 p 2r0 L

Pr0
2
( P  P)r0
2

p
L

Mas, da mecânica dos fluidos, sabe-se que a perda de pressão distribuída é dada por:

2
L um
P  f  ,
d0 2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor140

sendo, f = fator de atrito (sai do diagrama de Moody ou de uma expressão de ajuste –


Colebrook, Churchill, entre outras)
Assim, comparando as duas expressões, vem que

f
p  um 2 (B)
8

Finalmente, pode-se concluir a analogia igualando as equações (A) e (B). Assim:

hu m f
 u m
2

Cp 8
Agora é de interesse que se façam aparecer os adimensionais que controlam o
fenômeno. Para isso, algumas manipulações serão necessárias, começando por
rearranjar a equação acima, para obter:
h f
 
C p u m 8
Agora, conveniente, esta expressão é multiplicada e dividida por algumas grandezas,
conforme indicado abaixo:

 hD  k 1    f
   
 k  C p   um D  8

 hD  1  1  f
que, pode ainda ser manipulada para obter:  k   /   D u /    8
   m 

Finalmente, os grupos adimensionais são substituídos:


Nu D f f
 , ou St 
Pr ReD 8 8

Esta é a analogia de Reynolds para escoamento turbulento em tubos. Ela está de acordo
com dados experimentais para gases (Pr ~ 1). Com base em dados experimentais
Colburn recomenda que a relação acima seja multiplicada por Pr2/3 para Pr > 0,5 (até
100). Lembre-se que essa analogia já havia sido desenvolvida para escoamento laminar.
Nu D f f
13
 , ou St Pr 2 3 
Pr Re D 8 8

Na faixa de Reynolds entre 2 104, para tubos lisos, f pode ser aproximado pela seguinte
equação de ajuste
0, 2
f  0,184 Re D .
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor141

Então, obtém-se a famosa expressão de Dittus-Bolter (ligeiramente modificada)

0 ,8
Nu D  0,023 Re D Pr1 / 3

Na prática, sugere-se que o expoente do número de Prandtl seja do tipo

0 ,8
Nu D  0,023 Re D Pr n
sendo,
n = 0,3 se o fluido estiver sendo resfriado
n = 0,4 se o fluido estiver sendo aquecido

Para tubos rugosos, usar o diagrama de Moody, como mostrado abaixo, para obter f.

Ou uma expressão de correlação, como por exemplo as expressões de Churchill ou


Colebrook:
1 12
 8 
12
1 
Expressão de Churchill: f  8   
 Re D   A  B 1, 5

em que,
16

  1 
A  2,457 ln  
 7 Re D   0,27 D  
0,9

 
16
 37.530 
e B   
 Re D 
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor142

A expressão acima tem a vantagem de ajustar de forma suave a transição laminar-


turbulento

1  / D 2,51 
Expressão de Colebrook (clássica): 1/ 2
 2,0 log  
1/ 2 
f  3,7 Re D f 

Ver tabela de correlações para outras


configurações

Correlações válidas considerando a região de entrada para tubos lisos:

0,5 < Pr < 1,5


/

̅̅̅̅
��� = , 4 ��� /
− �� /
[ +( ) ]

0,5 < Pr < 1,5

/

̅̅̅̅� = ,
�� ��� 0,
− 8 �� /
[ +( ) ]

CORREÇÃO DEVIDO A PROPRIEDADES VARIAVEIS

(A) Laminar

As propriedades são calculadas à temperatura de mistura. Acontece que algumas


propriedades dependem fortemente da temperatura como, por exemplo, a viscosidade da
água:

(T = 25°C) ~ 8,90 x 10-4 kg/ms


(T = 30°C) ~ 7,98 x 10-4 kg/ms

Em 5ºC ocorre uma variação em torno de 10%.

Assim, segue-se que a seguinte expressão seja utilizada para levar este efeito em
consideração.

n
 
Nu cor  Nu m  m = viscosidade à temperatura da mistura.
 
 p p = viscosidade à temperatura da parede
Se o fluido for em gás n = 0 (sem correções) Para 0,5 < Tm / Tp < 2,0

(B) Turbulento

n
T 
Nu cor  Nu  m 
T 
 p

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor143

T – temperatura absoluta
n = 0 (resfriamento de gases)
n = 0,45 para fases sendo aquecidos (n = 0,15 p/ Co2)

se 0,5 < Tm / Tp < 2,0

0 ,11
 Pr 
Líquidos Nu cor  Nu m 
 Pr 
 p

Exemplos resolvidos

(1) Ar escoa pelo interior de um duto de 5cm de diâmetro. A velocidade do ar é 30m/s e


sua temperatura é 15ºC. O comprimento aquecido do tubo é 0,6m com temperatura de
parede, Tp = 38ºC. Suponha que o escoamento seja plenamente desenvolvido. Obtenha a
transferência de calor e a temperatura de saída do ar.

Te T p  38C Ts

0,6m

Te  Ts
Calcule as propriedades à temperatura média Tm 
2

0 ,8
Dittus Boelter: Nu D  0,023 Re D Pr 0, 4 (1)

Balanço de energia: hA(T p  Tm )  m


 C p (Ts  Te ) (2)

Note que há duas equações e duas incógnitas (Ts e h)

Esses tipos de problema devem normalmente serem resolvidos de forma iterativa,


conforme esquema abaixo. Primeiro admite-se uma temperatura de saída, calculam-se
todas as grandezas envolvidas e depois faz-se a verificação se corresponde ao resultado
da segunda equação. Caso contrário, admite-se uma nova temp. de saída.
Compara Ts igual
Admite Ts Calcula Tm Calcula h da eq. (1) fim
com eq. (2)

diferente
Nova Ts

Ts = 21ºC  Tm = 18ºC

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor144

Tabela A.5 (Holman) A.4 (Incropera) – Interpolação

ρ = 1,2191 kg/m3 γ = 14,58 x 10-6 m2/s Pr = 0,72


cp = 1,0056 kJ/kg°C k = 0,02554 W/m°C

VD 30 x0,05
Re D    1,029 x105 turbulento !!!!
 14,58 x10 6

0,8
Nu D  0,023 Re D Pr 0, 4  0,023(1,029 x10^5)0,8 (0,72)0, 4  206,34
Nu D k 206,34 * 0,02554 W
h   105,4 2
D 0,05 m C

De (2)

Ts  Te 
hA
Tp  Tm   15  105,4    0,05  03,6 38  18  17,7C
mcp 0,072  1,0056 x10

Não confere!! Portanto, nova iteração é necessária

Assumindo agora Ts = 18ºC

Logo, Tm = 16,5ºC, assim:

ρ = 1,2262 kg/m3  = 14,40 x 10-6 m2/s Pr = 0,711


cp = 1,0056 kJ/kg°C k = 0,02542 W/m°C

Re D  1,04 x105 m  0,072kg / s h  105,27W / m2 C


Ts  17,95C OK! Agora, confere

Realizando os próximos cálculos. Pela lei de resfriamento

q  hAs (Tp  Tm )  105,27    0,05  0,6  (38  16,5)  213,3W

Pela 1ª. Lei


qm  c p (Ts  Te )  0,072  1005,6  (18  15)  217,2 W

As diferenças se justificam em função das aproximações usadas e no cálculo das


propriedades.

(2) Água passa em tubo de 2cm de diâmetro dotado de uma velocidade média de 1 m/s.
A água entra no tubo a 20ºC e o deixa a 60ºC. A superfície interna do tubo é mantida a
90ºC. Determine o coeficiente médio de convecção de calor, sabendo que o tubo é
longo. Calcule, também, o fluxo de calor transferido por unidade de área de tubo.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor145

Solução

As propriedades termofísicas da água serão calculadas à média das temperaturas de


misturas da entrada e saída, isto é, a 40ºC.

ρ = 992,3 kg/m3 k = 0,6286 W/m°C cp = 4,174 kJ/kg°C


= 6,531 x 10-4 kg/ms Pr = 4,34

O número de Reynolds do escoamento é

VD
1  0,02  992,3
Re D    3,039  10 4
 6,531  10 4
O escoamento é turbulento e o número médio de Nusselt é obtido usando a equação de
Dittus-Bolter, vem.

Nu D  0,023 Re0D,8 Pr 0, 4

Assim, Nu D  0,0233,039  104  4,340, 4  159,5


0 ,8

As propriedades termofísicas da água são dependentes da temperatura, e uma correção


deveria ser realizada para o número de Nusselt obtido com a hipótese de propriedades
constantes. O número de Prandtl da água a 90oC vale 1,97.

0 ,11 0,11
 Pr   4,34 
Nu cor  Nu m   159,5   174,0
 PrP   1,97 
O coeficiente médio de transferência de calor é

Nu cor k 174,0  0,6286 W


h   5468,1 2
D 0,02 m C

q"  h(Tp  T )  5468,190  40  273,4kW / m2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor146

DIFERENÇA MÉDIA LOGARÍTMICA DE TEMPERATURA – DMLT

No exemplo anterior de parede de tubo constante, a temperatura de mistura do fluido


varia de forma exponencial entre a entrada e saída. Assim, os cálculos realizados acima
foram apenas aproximados, pois usamos uma temperatura média representativa do
fluido que foi simplesmente a média aritmética entre a temp. de mistura de entrada e a
de saída. No entanto, prova-se (ver próxima aula) que nestes casos deve-se usar a
diferença média logarítmica de temperatura, DMLT, definida por:

T
Tp
Ts  Te
DMLT 
ln Ts Te 
Te

sendo, Ts  Tp  Ts e Te  Tp  Te


x

Assim, a lei de resfriamento de Newton adequadamente aplicada é q  h  A  DMLT

30  70
Refazendo o exercício, vem: DMLT   47,2o C - compare com T  50o C
ln 30 70

Assim, q"  h( DMLT )  5468,1 47,2  258,1kW / m2

Como última informação, perceba que se as diferenças de temperatura entre a entrada e


saída não forem muito grandes, a DMLT vai tender a diferença entre a temperatura de
parede e a média entre as temperaturas de mistura de entrada e saída. A DMTL será
estudada detalhadamente na próxima aula.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor147

Outro exemplo de Aplicação

Um tubo de um aquecedor solar é exposto a uma radiação térmica uniforme e constante


de 1000 W/m por meio de um concentrador. O diâmetro do tubo é de 60mm.

1) se a água entra no tubo a m   0,01kg / s e Tm,1 = 20°C. Qual o


comprimento do tubo necessário para a temperatura de saída alcançar Tm,2
= 80°C?
2) Qual a temperatura superficial do tubo na saída?

Solução

Tm1  20C Ts

m  0,01kg / s Tm2  80C

1) 1º Lei Q  m
 C p T , com Q  q"DL e, portanto, q"DL  m
 C p T
m C p T 0,01  4181  60
De forma que: L  , ou L   13,31m
q"D 100  0,06
q "
2) q s "  h (Tp , 2  Tm, 2 ) ou Tp , 2  s  Tm, 2
h

Precisamos, agora, fazer uma estimativa de h

Regime de escoamento – cálculo do número de Reynolds:


u D 4m
D 4m

Re D  m  
 D  D
2

da tabela 80C  352  10 Ns / m , então


6 2

4  0,01
Re D   603  2300 - Laminar !!
  0,06  352  106

hD
Como se trata de fluxo de calor constante na parede, tem-se Nu D   4,364
k
4,364k
Assim, h  mas k80C  0,670W / mC
D
4,364 x0,67
Logo, h   48,73W / m 2 C
0,06

1000
Finalmente, Tp , 2   80  100,5C
48,73
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 148

AULA 18 – TROCADORES DE CALOR – MÉTODO DA


DIFERENÇA MÉDIA LOGARÍTMICA DE
TEMPERATURA – DMLT E MÉTODO F

O principal objetivo no projeto térmico de trocadores de calor é a determinação da área


superficial necessária para transferir o calor numa determinada configuração,
conhecidas as vazões e as temperaturas dos fluidos. Este trabalho é facilitado pelo uso
do coeficiente global de transmissão de calor, U.

q  U  A  T

Onde, T é uma diferença média efetiva da temperatura para todo o trocador de calor
que será discutida adiante; U já foi definido e representa as resistências térmicas. Para
as configurações usuais mais encontradas, temos:

Paredes plana:
1
�=
1⁄ℎ� + �⁄� + 1/ℎ
Parede cilíndrica:
1
� =
�� ⁄�� ℎ� +[�� �� ⁄�� / ]+1⁄ℎ�
, ( q  U o  Ao  T )

1
�� = , q  U i  Ai  T
1⁄ℎ� +[�� �� ⁄�� / ]+�� ⁄�� ℎ�

Os índices i e o representam as superfícies interna e externa, respectivamente.


A tabela a seguir fornece valores aproximados de U para alguns fluidos utilizados em
trocadores de calor. As faixas relativamente largas de U resultam da diversidade dos
materiais empregados e das condições do escoamento, bem como da configuração
geométrica do trocador de calor.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 149

Fluido (U – W/m²K)
Óleo para óleo 170-312
Orgânico para orgânico 57-340
Vapor para
Soluções aquosas 567-3400
Óleo combustível, pesado 57-170
Óleo combustível, leve 170-340
Gases 28-284
Água 993-3.400
Água para
Álcool 284-850
Salmoura 567-1.135
Ar comprimido 57-170
Álcool condensado 255-680
Amônia condensado 850-1.420
Freon 12 condensado 454-850
Óleo condensado 227-567
Gasolina 340-510
Óleo lubrificante 113-340

As figuras abaixo mostram alguns tipos de trocadores de calor.

Corrente paralela Contra-corrente

Corrente cruzada Corrente cruzada

Casco e tubo

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 150

Trocador de placas

O TROCADOR DE CALOR DE CORRENTES PARALELAS


Antes de serem efetuados os cálculos da transferência de calor, é necessário definir o
termo T . Seja, por exemplo, um trocador de calor de correntes paralelas, cujos perfis
de temperatura estão mostrados na seguinte figura.

Para a figura acima considerar que:


1. U é constante ao longo de todo o trocador.
2. O sistema é adiabático; ocorre troca de calor somente entre os dois fluidos.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 151

3. As temperaturas de ambos os fluidos são constantes numa dada seção transversal e


podem ser representadas pela temperatura de mistura.
4. Os calores específicos dos fluidos são constantes.
Com base nestas hipóteses, a troca de calor entre os fluidos quente (q) e frio (f) para
uma espessura infinitesimal dx é:
dq  U (Tq  T f )dA

onde dA é a área elementar de troca de calor. O fluxo de calor recebida pelo fluido frio é
igual à fornecida pelo fluido quente, isto é,

dq  m
 f c f dT f  m
 q cq dTq

onde m é o fluxo mássico e c é o calor específico. Da equação anterior resulta:

 1 1 
d (Tq  T f )      dq
 mq cq m f c f
 

Substituindo dq da equação de conservação, resulta:

d (Tq  T f )  1 1 
 U    dA
(Tq  T f )  mq cq m f c f
 

Cuja integração é igual a

T2  1 1 
ln  UA   
T1  mq cq m f c f
 

onde, T1  Tqe  Tfe e T2  Tqs  T fs , como indicado no gráfico de distribuição de

temperaturas anterior. Por meio de um balanço de energia em cada fluido,

q q
mq cq  mf c f 
(Tqe  Tqs ) (T fs  T fe )

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Substituindo-se estas expressões na equação anterior:

T2 (Tqe  Tqs )  (T fs  T fe )


ln  UA
T1 q
Ou:
T2  T1
q  UA
ln T2 T1 

Comparando-se este resultado com a primeira equação, nota-se que

T2  T1
T   DMLT
ln T2 T1 

Esta diferença média efetiva de temperatura é chamada de diferença média logarítmica


de temperatura (DMLT).

O TROCADOR DE CALOR EM CONTRA-CORRENTE

As distribuições de temperaturas nos fluidos quente e frio associadas a um trocador de


calor com escoamento em contracorrente estão mostradas na figura acima.
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 153

Note que a temperatura de saída de fluido frio (Tfs) pode ser maior que a temperatura de
saída de fluido quente (Tqs).
De forma similar ao do caso de correntes paralelas, pode-se demonstrar que a DMLT
para o caso contra-corrente que as taxas de transferência de calor por conservação de
energia infinitesimal e convectivo são respectivamente:

dq  mq cq dTq  m f c f dTf e dq  U (Tq  T f )dA

Subtraindo o segundo e terceiro termos da equação de conservação infinitesimal e


substituindo a segunda equação juntamente com a equação de conservação, tem-se

 1 1   Tq1  Tq 2 T f 1  T f 2 
d (Tq  T f )      dq  U (Tq  T f )dA   
 mq cq m f c f  q q 
 
ou
d (Tq  T f ) U
 (Tq1  T f 1 )  (Tq 2  T f 2 )  dA
(Tq  T f ) q

Substituindo a equação anterior em termos das seções 1 e 2 do gráfico acima:

d T( q  f ) U
 (T1  T2 )dA
T( q  f ) q

Integrando a equação acima, obtém-se:


 T  U
ln  2    (T1  T2 ) A
 T1  q

ou
T2  T1
q  U  A  DMLT onde DMLT 
ln T2 T1 

Sendo, T1  Tqe  Tfs e T2  Tqs  T fe

Para as mesmas temperaturas de entrada e saída, a DMLT em contra-corrente é maior


que para corrente paralela, dessa forma, admitindo o mesmo U, a área necessária para
uma determinada taxa de transferência de calor é menor para um trocador em
contracorrente.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 154

Exemplo resolvido (do Incropera):

Um trocador de calor bitubular (tubos concêntricos) com configuração em


contracorrente é utilizado para resfriar o óleo lubrificante do motor de uma grande
turbina a gás industrial. A vazão da água de resfriamento do tubo interno (Di = 25 mm) é
de 0,2 kg/s, enquanto a vazão do óleo através da região anular (De = 45 mm) é de
0,1 kg/s. O óleo e a água entram a temperaturas de 100 °C e 30 °C, respectivamente. O
coeficiente de transferência de calor por convecção na região anular (do óleo) é de
38,4 W/m²K. Qual deve ser o comprimento do trocador se a temperatura de saída do
óleo deve ser de 60°C?

Solução
Considerações:
 Perda de calor para a vizinhança desprezível.
 Mudanças nas energias cinética e potencial desprezíveis.
 Propriedades constantes.
 Resistência térmica na parede do tubo e efeitos da deposição desprezíveis.
 Condições de escoamento completamente desenvolvidas na água e no óleo (U
independente de x).

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 155

Propriedades do óleo de motor novo ( Tq = 80 °C)

cp = 2.131 J/kg-K; μ = 0,0325 N.s/m²; k = 0,138 W/m K.


Propriedades da água ( Tc  35 °C) , primeira aproximação!
cp = 4.178 J/kg K; μ = 0,000725 N.s/m²; k = 0,625 W/m K; Pr = 4,85.

q  mq c p,q (Tqe  Tqs )

q  0,1 2131 (100  60)  8.524W

A temperatura de saída da água é:


q
T fs   T fe
m f c p, f

8524
T fs   30  40, 2 °C
0, 2  4178

Por tanto a primeira aproximação de T f = 35 °C foi uma boa escolha.

A DMLT é igual a:
(Tqe  T fs )  (Tqs  T fe ) 59,8  30
DMLT    43,2C
 Tqe  T fs   5,98 
ln   ln  
 Tqs  T fe 
 30 

O coeficiente de transferência global é dado por:

1/U= 1/hi + 1/he

Para o escoamento da água através do tubo,


4mc 4  0, 2
Re D    14.050 (Turbulento)
 De    0, 025  0, 000725

NuD  0,023 Re 4D/ 5 Pr0, 4  0,023 140504 / 5  4,850, 4  90

Assim:
k 0,625
hi  Nu D  90  2.250W / m² K
Di 0,025

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Por tanto o coeficiente global de transferência de calor é:


1
U  37,8W / m² K
1/ 2.250  1/ 38,4

A área necessária para a troca de calor é de:


q
A
U  DMLT
E o comprimento será de:

q 8.524
L   66,5 m
  Di  U  DMLT   0,025  37,8  43,2

O MÉTODO F

Para trocadores de calor mais complexos, como os multitubulares, diversos passes na


carcaça ou correntes cruzadas, a determinação da diferença média efetiva de
temperatura é tão difícil que o procedimento usual é modificar a equação acima através
de um fator de correção F, resultando em:

q  U  A  F  DMLT

Onde DMLT é aquela para um trocador de calor de tubo duplo em contracorrente com
as mesmas temperaturas de entrada e saída da configuração mais complexa. As figuras a
seguir fornecem os fatores de correção para diversas configurações. Nestas figuras, a
notação (T, t) representa as temperaturas das duas correntes de fluido, pois não
importando se o fluido quente escoa nos tubos ou na carcaça.

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AULA 19 – TROCADORES DE CALOR – MÉTODO DA


EFETIVIDADE - NUT

O método estudado de cálculo térmico de trocadores de calor estudado na aula anterior,


DMLT, é útil quando as temperaturas de entrada e saída dos fluidos frio e quente são
conhecidas. Porém, se mais de uma das temperaturas de entrada ou saída do trocador de
calor for desconhecida, o método DMLT é trabalhoso, necessitando de um método
iterativo do tipo tentativa e erro. Nesta aula, vamos ver um segundo método que
dispensa o conhecimento de todas as temperaturas. Trata-se do método da efetividade
() e número de unidades de transferência (NUT). Para isso, considere a seguinte
definição de efetividade:
troca de calor real q
  real
máxima troca de calor possível qmáx

Sendo que a máxima troca de calor possível é aquela que resultaria se um dos fluidos
sofresse uma variação de temperatura igual à máxima diferença de temperatura possível,
isto é, a temperatura de entrada do fluido quente menos a temperatura de entrada do
fluido frio. Este método emprega a efetividade  para eliminar a temperatura de saída
desconhecida e fornece a solução para a efetividade em termos de outros parâmetros
conhecidos ( m , c, A e U).
Seja a capacidade definida como C  m
 c . Então, pela 1a Lei da Termodinâmica, tem-
se:

qreal  Cq (Tqe  Tqs )  C f (Tfs  Tfe )

O que indica que o fluxo de calor cedido pelo fluido quente é aquele recebido pelo
fluido frio. A máxima troca de calor ocorre quando o fluido de menor C sofrer a maior
variação de temperatura possível, isto é,

qmáx  Cmin (Tqe  Tfe )

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Esta troca de calor seria conseguida num trocador de calor de contracorrente de área
infinita. Combinando as equações acima, obtém-se:

qreal   Cmin (Tqe  Tfe )

Trocador de Calor de Correntes Paralelas


Considere o trocador de calor simples de correntes paralelas como aquele da figura
abaixo:

As seguintes hipóteses simplificadoras são válidas:


1. O coeficiente global de transf. de calor U é constante ao longo de todo o trocador.
2. O sistema é adiabático; ocorre transferência de calor somente entre os dois fluidos.
3. As temperaturas de ambos os fluidos são uniformes numa dada seção transversal e
podem ser representadas pela temperatura de mistura.
4. Os calores específicos dos fluidos são constantes.
Note que são as mesmas hipóteses adoptadas para o cálculo de DMLT.
Combinando as equações acima, são obtidas as duas expressões para a efetividade:

Cq (Tqe  Tqs ) C f (T fs  T fe )
 
Cmin (Tqe  T fe ) Cmin (Tqe  T fe )

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Como o valor mínimo de C pode ocorrer tanto para o fluido quente quanto para o fluido
frio, existem dois valores possíveis para a efetividade:

Tqe  Tqs
Cq  C f : q 
Tqe  T fe

T fs  T fe
Cq  C f : f 
Tqe  T fe

Os índices de  indicam qual fluido tem o valor mínimo de C. Para um TC muito


grande ( A   )

Retomando a equação da DMLT, esta pode ser escrita em função de C da seguinte


maneira:

T2  1 1 
ln  UA    , (eq. da DMLT)
T1 
 mq cq m f c f 

Tqs  T fs  1 1 
 UA  
 Cq C f 
ln
Tqe  T fe  

Ou

UA  Cq 
Tqs  T fs  1
Cq  C f


e 
Tqe  T fe

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Se considerado que o fluido quente tem o valor mínimo de C, a partir da equação da


efetividade, obtém-se:

Tqe  Tqs Tqe  T fe  T fe  T fs  T fs  Tqs Tqe  T fe Tqs  T fs T fs  T fe


q     
Tqe  Tes Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe

qreal
T T T  T fe Tqs  T fs Cf
 q  1  qs fs  fs  1 
Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe qreal
 q Cq
Rearranjando,

 Cq  T  T fs
 q 1    1  qs
 C f  Tqe  T fe

ou

UA  Cq 
 1 
Cq  C f 
1 e 
q 
1  Cq / C f

Se o fluido frio tem o valor mínimo de C:

UA  C f 

 1
C f  C q 
1 e 
f 
1  C f / Cq

Ou generalizando:
UA  Cmin 
  1 
Cmin  Cmáx 
1 e

1  C min / C máx

Denomina-se Número de Unidades de Transferência (NUT) ao agrupamento:


UA
NUT 
Cmin

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Então temos para um T.C de corrente paralela:


 C 
 NUT  1 min 
1 e  C máx 

1  Cmin / Cmáx

Note que, para um evaporador ou condensador, C = Cmin/Cmáx=0, porque um dos


fluidos permanece numa temperatura constante, tornando seu calor específico (aparente)
efetivo infinito.

Outras Configurações
Expressões para a efetividade de outras configurações estão na seguinte tabela, em que
C = Cmin/Cmáx. NUT (na tabela NUT está escrito como NTU – number of transfer units).

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 165

Exemplo

Uma fluxo de água de 0,75 kg/s entra num TC de tubo duplo, em contra-corrente, a
temperatura de 38 °C. A água é aquecida por um fluxo de óleo de 1,51 kg/s (cp=1,88
kJ/kgK) que entra no TC a 116 °C. Para uma área de 13 m² e U=340 W/m²K determinar
o fluxo de calor total transferido.

Solução:

Cágua = 0,75 x 4184 = 3138 W/oC = 3,138 kW/ oC


Cóleo = 1,51 x 1880 = 2838,8 W/oC = 2,8388 kW/ oC
Logo, Cmin = Cóleo
Então,
NUT = UA/Cmin = 340 x13/2838,8 = 1,557

C = Cmin/Cmax = 2838,8/3138 = 0,905

Da expressão ou do gráfico do TC em tubo duplo, em contra-corrente:

− � −� −�
−� ,557 ,9 5−
�= = = ,
− × � −� −� − , ×� ,557 ,9 5−

qreal  qmax  0,627  2,8388  ( 116  38 )  138,8 kW

As temperaturas de saída das correntes quente e fria são obtidas da equação de


conservação de energia:

qreal 138,8
Tqs  Tqe   116   67,1C
Cóleo 2,8388

qreal 138,8
T fs  T fe   38   82,2 C
Cágua 3,138

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 166

Correntes paralelas
Considere o mesmo TC, mas agora na configuração de correntes paralelas.

1  e  NUT 1C  1  e 1,55710 ,905


q    0,498
1  C  1  0,905

qreal  qmax  0,498  2,8388  ( 116  38 )  110,3 kW

qreal 110,3
Tqs  Tqe   116   77,0 C
Cóleo 2,8388

qreal 110,3
T fs  T fe   38   73,1C
Cágua 3,138

Exemplo – Continuação
Calcule o fluxo de calor do trocador de calor do exemplo anterior usando o método F-
DMLT da aula anterior. Admita as temperaturas de entrada do problema e as de saída
que foram obtidas para as configurações de contra-corrente e de correntes paralelas.
Comente.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 167

Solução

Contra-corrente Correntes paralelas


= ° = °

� = , ° � = , °
= ° = °

� = , ° � = , °
∆ = − � = − , = , ° ∆ = − = − = °
∆ = � − = , − = , ° ∆ = � − � = , − , = , °
, − , − ,
�� = = , ° � = = , °
,
� �
, ,
��� = ×�× �� �� = ×�× �

= × × , = × × ,
��� = , � �� = , �

Comentários
(1) Nas configurações contra-corrente e correntes paralelas os valores do fluxo de
calor são os mesmos, como era de se esperar. A diferença (110,3 e 109,2 kW) no
caso de corrente paralela se deve pelo número de casas decimais usadas.
(2) Evidentemente, esse era um resultado esperado, pois os dois métodos são
equivalentes e devem levar do mesmo resultado.
(3) Note que, em geral, a configuração de contra-corrente tem uma capacidade
maior para a mesma carga térmica de trabalho, mantidas as demais condições
operacionais.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor168

AULA 20 – CONVECÇÃO NATURAL OU LIVRE

Nos casos anteriormente estudados, os de convecção interna e externa, havia o


movimento forçado do fluido em relação à superfície de troca de calor. Esse movimento
forçado pode ser causado por um agente externo como uma bomba, um ventilador, ou
outra máquina de fluxo. A força da gravidade desempenhava pouco ou nenhum efeito
sobre a transferência de calor nesses casos. No entanto, quando o fluido se encontra em
repouso e em contato com uma superfície aquecida (ou resfriada) a transferência de
calor da superfície para o fluido deverá ocorrer de forma não forçada. Nesse caso o
número de Reynolds é nulo e as correlações desenvolvidas para a convecção forçada
não se aplicam. Assim, o movimento do fluido junto à superfície vai ocorrer como
resultado de outro fenômeno, originário da variação de densidade do fluido como
consequência de gradientes de temperatura. Para se entender melhor esse aspecto,
considere uma superfície vertical em contato com um fluido em repouso. A região em
contato com a superfície aquecida também vai se aquecer e, como consequência, haverá
uma diferença de empuxo gravitacional entre as porções aquecidas e as menos
aquecidas. Assim, as porções aquecidas sobem, enquanto que as menos aquecidas
tomam seu lugar dando origem às correntes de convecção. Camadas limites térmicas e
hidrodinâmicas também são estabelecidas, como ilustrado abaixo. No caso da CLH, as
condições de contorno do problema exigem que a velocidade seja nula junto à superfície
e também na extremidade da camada limite, como ilustrado.

CLT

Equações diferenciais CLH


uœ = 0

Quantidade de movimento
x
y

 u u  p  2u
  u  v     g   2
 x y  x y

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor169

p
Mas,     g , de forma que substituindo na equação da QM, vem
x

 u u   2u
  u  v   g (     )   2
 x y  y

Mas o coeficiente de expansão voluntária,  , pode ser escrito como:

1    1 
        , ou      (T  T ) (aproximação de
  T  p   T  T 
Boussinesq), logo,

u u  2u
u v  g (T  T )   2
x y y

1    RT   P  1
Note que para gás perfeito,  GP         [K ]
-1

  T  p P T  RT  p T

 T T   2T
A equação da Energia:  u v   2
 x y  y

Contrariamente à solução das camadas limites hidrodinâmicas e térmicas laminares da


convecção forçada, as equações da conservação da quantidade de movimento e da
energia não podem ser resolvidas separadamente, pois o termo de empuxo g T  T 
acopla estas duas equações. Não se pretende avançar na discussão da solução dessas
camadas limites e sugere-se a leitura da Seção 9.4 do livro do Incropera, como ponto de
partida para aquele aluno mais interessado. De forma que, a partir desse ponto, lança-se
mão de correlações empíricas, obtidas em experimentos de laboratório.

O primeiro passo para a análise empírica é a definição de um novo grupo adimensional


chamado número de Grashof, Gr, por

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor170

(T sT ) x 3
Grx  g
2

Este adimensional representa a razão entre as forças de empuxo e as forças viscosas na


convecção natural. Ele desempenha um papel semelhante ao do número de Reynolds na
convecção forçada, o qual representa a razão entre as forças de inércia e as forças
viscosas. Assim, a solução das equações da quantidade de movimento e da energia pode
ser escrita da seguinte forma geral:

Nu  f (Gr, Pr)

A solução aproximada para a placa vertical isotérmica em convecção natural laminar,


resulta em:
1/ 4
Nu x  0,508 Pr1 / 2 (0,952  Pr) 1 / 4 Grx

e o valor médio de Nusselt

L
1 4

1/ 4
Nu L  Nu x dx  0,677 Pr1/ 2 (0,952  Pr)1/ 4 Grx  Nu xL
L0 3

Assim, como ocorre com a convecção forçada, também existe a transição de camadas
limites de laminar para turbulenta na placa vertical, o valor normalmente aceito é
Grcrit Pr  109

Relações Empíricas

Diversas condições de transferência de calor por convecção natural podem ser


relacionadas da seguinte forma.

Nu  C (Gr  Pr)m  CRa m ,

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor171

sendo as propriedades calculadas a temperatura de película, Tf, que é a média entre a


temperatura da superfície e do fluido. O produto Gr.Pr é chamada de número de
g Ts  T L3
Rayleigh Ra  Gr. Pr 
v

a) Superfícies Isotérmicas - Convecção natural em cilindros e placas

Geometria Ra C m obs
D 35 Cilindros e placas verticais 104 – 109 0,59 ¼ Laminar

L GrL1 / 4 9
10 – 10 13
0,10 1/3 Turbulento
4 9
Cilindros horizontais 10 – 10 0,53 ¼ Laminar
109 – 1012 0,13 1/3 Turbulento

b) Fluxo de calor constante

gqB x 4
Grashof modificado: Gr* Gr*  Grx .Nu x 
k 2


Laminar, placa vertical: Nu x  0,60 Grx . Pr
*
1/ 5 *
10 5  Grx  1011


Turbulento, placa vertical: Nu x  0,17 Grx . Pr
*
 1/ 4 *
2.1013  Grx Pr  1016

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Sumário de correlações (Incropera)

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Exemplo sugerido

Com base em muitos dados experimentais indicados no gráfico abaixo (extraído de


Kreith & Bohn), estabeleça sua própria correlação experimental de NuD  f (Ra ) para
cilindros horizontais.

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Espaços Confinados

Um caso comum de convecção natural é o de duas paredes


verticais isotérmicas, conforme ilustrado ao lado, separadas
por uma distância . A figura seguinte mostra os perfis de T2 T1

velocidade e temperatura que podem ocorrer, de acordo com


MacGregor e Emery. Na figura, o número de Grashof é baseado
na distância  entre as placas:

(T1  T2 ) 3 T1  T2
Gr  g
2

Os regimes de escoamento estão indicados no gráfico acima. As correntes de convecção


diminuem com o número de Grashof e, para números de Grashof muito baixos, o calor é
transferido por condução de calor. Outros regimes de convecção também existem,
dependendo do número de Grashof, como ilustrado. O número de Nusselt é expresso em

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h
função da distância das placas, isto é: Nu  . Conforme indicado por Kreith,
k
algumas correlações empíricas podem ser empregadas:

Gr - número de Grashof baseado na distância  entre as placas.

No caso de espaço confinado horizontal há duas situações a serem consideradas. Não


haverá convecção se a temperatura da placa superior for maior que a da placa inferior e,
nesse caso, a transferência de calor se dará por meio de condução de calor simples. Já
no caso recíproco, isto é, temperatura da placa inferior maior que a da placa superior,
haverá convecção. Para um número de Grashof baseado na distância  entre as placas,
Gr, inferior a 1700 haverá a formação de células hexagonais de convecção conhecidas
como células de Bernard, como ilustrado abaixo. O padrão das células é destruído pela
turbulência para Gr  50000.

Segundo Holman, há certa discordância entre autores, mas a convecção em espaços


confinados pode ser expressa por meio de uma expressão geral do tipo:
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h
m
n L 
Nu   C Gr Pr   
k  
C, m e n são dadas na tabela a seguir. L é a dimensão característica da placa. Holman
adverte que deve-se usar essa expressão na ausência de uma expressão mais específica.

CONVECÇÃO MISTA

Até o presente os casos de convecção natural e forçada foram tratados separadamente.


Claro que a natureza não está preocupada com nossas classificações e os fenômenos vão
ocorrer mediante a presença das forças que o controlam (forças de empuxo, atrito e
inercial). De forma que existem determinadas situações em que os dois efeitos
convectivos são significativos, para as quais se dá o nome de convecção mista.
Considera-se que a convecção mista ocorra quando GrL / Re 2L  1 . As formas
combinadas dessas duas formas de convecção podem ser agrupadas em três categorias
gerais: (a) escoamento paralelo se dá quando os movimentos induzidos pelas duas
formas de convecção estão na mesma direção (exemplo de uma placa aquecida com
movimento forçado ascendente de ar); (b) escoamento oposto se dá quando os
movimentos induzidos pelas duas formas de convecção estão em direções opostas
(exemplo de uma placa aquecida com movimento forçado descendente de ar); (c)
escoamento transversal é exemplificado pelo movimento forçado cruzado sobre um
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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor177

cilindro aquecido, por exemplo. É padrão considerar que o número de Nusselt misto
seja resultante da combinação dos números de Nusselt da convecção forçada, Nu F, e
natural, NuN, segundo a seguinte expressão:

Nu n  Nu Fn  Nu Nn

Onde, o expoente n é adotado como 3, embora 3,5 e 4 também sejam adotados para
escoamentos transversais sobre placas horizontais e cilindros (e esferas),
respectivamente. O sinal de (+) se aplica para escoamentos paralelos e transversais,
enquanto que o sinal de (-), para escoamentos opostos.

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Exemplo

Em um determinado experimento de laboratório, uma pequena esfera de cobre de 1 cm


de diâmetro é mantida aquecida atingindo uma temperatura de superfície constante de
TS = 69 oC e é circundada por água a T∞ = 25 oC. Determine o fluxo de calor total em
watts transferido da pequena esfera para a água sob duas situações:

(a) a água está em repouso;


(b) a água se movimenta com uma velocidade ascendente de U∞ = 0,04 m/s;
(c) a partir de que velocidade da água a convecção natural poderia ser desprezada?

Obs.: para o item (b) considere a transferência de calor combinada de convecção natural (livre) e
forçada. Para isso, verifique se a condição em que os dois efeitos são significativos dado por GrD ≈ReD2 e
use a expressão Nu3 = NuF3 + NuN3, onde, NuN é o número de Nusselt calculado como se houvesse apenas
convecção natural e NuF se houvesse apenas convecção forçada. Todos os números de Nusselt são
baseados no diâmetro da esfera.

Solução
Ts  T 69  25
(a) Propriedades da água a T f    47 C
2 2
  0,0004366 / K   5,82 x107 m2 / s k  0,627W / mK

c p  4182 J / kg K Pr  3,84 ( 0,7)   1,515x107 m2 / s

g Ts  T D 3 9,81  0,0004366  (69  25)0,013


Ra    2,14 x106  1011
v 5,82 x10 7  1,51x107

0,589 Ra1/ 4 0,589  (2,14 x106 )1/ 4


Nu N  2  4/9
 2 4/9
 22
  0,469 9 /16    0,469 9 /16 
1     1    
  Pr     3,84  
k 0,627
hN  Nu N  22  1379W / m 2 K
D 0,01

As  D 2    0,012  0,000314 m 2

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor179

qN  hN As Ts  T   1379  0,000314  69  25  19,1W

(b)
g Ts  T D 3 9,81  0,0004366  (69  25)0,013
GrD    556398
v2 (5,82 x10 7 ) 2

U  D 0,04  0,01
Re D    687
v 5,82 x10 7

GrD 556398
  1,21  1
Re 2D 687 2

  557 x106 kg / ms s  400 106 kg / ms


0, 25 0 , 25
 

Nu F  2  0,4 Re  0,06 Re 0, 5 2/3
 Pr  
0, 4

 2  0,4  687 0,5
 0,06  687 0, 5
  557 
0, 4
3,84  
 s 
D D
 400 
Nu F  30,28

3 3 3
Nu  Nu F  Nu N  Nu  33,74

k 0,627
h  Nu  33,74  2115W / m 2 K
D 0,01

q  hAs Ts  T   2115  0,000314  69  25  29,2W

(c)
GrD GrD
 0,01
 1  portanto, assumindo
Re 2D Re 2D

U 1D GrD
Re D  
 0,01

 GrD 5,82  107 556398


U    0,434 m / s (ou maior)
D 0,01 0,01 0,01

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