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UNIVERSIDADE DE SÃOPAULO

Escola de Engenharia de Lorena – EEL

Disciplina LOQ4087 – Termodinâmica Química Aplicada I


Professor: Pedro Felipe Arce Castillo
Mihana Enomoto

CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

Lorena
2023

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Introdução
Os ciclos de refrigeração termodinâmicos desempenham um papel
fundamental na nossa sociedade moderna, proporcionando conforto térmico
em ambientes, preservando alimentos e medicamentos, além de viabilizar
diversos processos industriais. Esses sistemas são projetados com base em
princípios da termodinâmica e engenharia, buscando transferir calor de um
ambiente mais frio para um ambiente mais quente, contrariando naturalmente o
fluxo térmico.
O ciclo de refrigeração tem uma entrada de calor, uma saída de calor e uma
entrada de trabalho, como mostra a figura a seguir:

Equipamentos que produzem refrigeração são chamados de refrigeradores e


operam segundo um ciclo frigorífico. Os componentes básicos de refrigeração
são: compressor, condensador, a válvula de expansão e o evaporador.
Existem diferentes tipos de ciclos de refrigeração, cada um com suas próprias
características e aplicações:
● Ciclo de Compressão de Vapor: É o tipo mais comum e
amplamente utilizado de ciclo de refrigeração.
● Ciclo de Absorção: Nesse tipo de ciclo, em vez de um
compressor, é utilizado um absorvedor e um gerador. O ciclo de
absorção utiliza um par de substâncias, geralmente um
refrigerante e um absorvente, para transferir calor.
● Ciclo de Absorção de Gás: Essa configuração de ciclo é
semelhante ao ciclo de absorção, mas usa um refrigerante na
forma de gás em vez de um líquido. O ciclo de absorção de gás é
especialmente útil quando é necessário atingir temperaturas
muito baixas.
● Ciclo de Expansão Direta: Esse ciclo é comumente utilizado em
sistemas de refrigeração de grandes instalações industriais.

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Esses são apenas alguns dos tipos de ciclos de refrigeração utilizados
atualmente. Cada tipo de ciclo possui vantagens e desvantagens específicas, e
a escolha do ciclo adequado depende das necessidades e requisitos
específicos de cada aplicação.

Ciclo de Carnot
O ciclo de Carnot é um ciclo particular de transformações termodinâmicas de
um gás ideal, proposto por Sadi Carnot em 1824 como um modelo para
máquinas térmicas reversíveis. Embora seja um modelo teórico, o ciclo de
Carnot é essencial para entender os limites de eficiência das máquinas
térmicas reais.
O ciclo de Carnot consiste em quatro etapas termodinâmicas: duas
transformações isotérmicas e duas transformações adiabáticas. Aqui está uma
descrição das etapas do ciclo de Carnot:
1. Expansão Isotérmica (Fonte Quente): O gás de trabalho, contido em
um sistema, é colocado em contato com uma fonte de calor quente a
uma temperatura constante (T1). Durante essa etapa, o gás absorve
calor da fonte quente e expande, realizando trabalho.
2. Expansão Adiabática: Nessa etapa, o gás continua a expandir, mas
agora sem trocar calor com o ambiente externo. Isso é chamado de
processo adiabático, onde não há transferência de calor para o sistema
nem para fora dele. Durante a expansão adiabática, a temperatura do
gás diminui.
3. Compressão Isotérmica (Fonte Fria): O gás de trabalho é colocado em
contato com uma fonte de calor fria a uma temperatura constante (T2),
que é menor do que a temperatura da fonte quente. Durante essa etapa,
o gás libera calor para a fonte fria e é comprimido, realizando trabalho.
4. Compressão Adiabática: Nessa etapa final, o gás continua a ser
comprimido, mas agora sem trocar calor com o ambiente externo. Assim
como na expansão adiabática, a compressão adiabática não envolve
transferência de calor. Durante a compressão adiabática, a temperatura
do gás aumenta.

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O ciclo de Carnot é reversível, o que significa que todas as etapas podem ser
invertidas, e o ciclo pode ser percorrido na direção oposta. Esse ciclo é
baseado em processos termodinâmicos ideais e não considera perdas de
energia ou atrito.
A eficiência do ciclo de Carnot é definida como a razão entre o trabalho
líquido realizado pelo sistema e o calor absorvido pela fonte quente. A
eficiência máxima de qualquer máquina térmica operando entre duas
temperaturas é dada pela fórmula:
Eficiência de Carnot = 1 – (T2 / T1)
Onde:
● T1 é a temperatura absoluta da fonte quente
● T2 é a temperatura absoluta da fonte fria.
Embora não seja possível construir uma máquina térmica que atinja a
eficiência ideal do ciclo de Carnot na prática, o ciclo de Carnot fornece um
padrão de referência para comparar o desempenho das máquinas térmicas
reais e incentiva o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes.

Ciclos de refrigeração por compressão de vapor


O ciclo de compressão de vapor é o mais difundido e aplicado em sistemas de
ar-condicionado e refrigeradores domésticos. Neste ciclo, um fluido refrigerante
é comprimido por um compressor, aumentando sua pressão e temperatura. Em
seguida, o fluido refrigerante passa por um condensador, onde ocorre a
transferência de calor para o ambiente externo, resultando na condensação do
refrigerante. O refrigerante líquido em alta pressão e temperatura passa por
uma válvula de expansão, onde sofre uma redução abrupta de pressão e,
consequentemente, de temperatura. Isso faz com que o refrigerante entre no
evaporador, onde absorve calor do ambiente a ser resfriado, resultando em sua
vaporização. Esse ciclo se repete continuamente para manter o ambiente
resfriado.

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Afastamento do ciclo real para o ciclo ideal em termodinâmica
O afastamento do ciclo real para o ciclo ideal é uma diferença que ocorre
entre o desempenho real de uma máquina térmica e o desempenho teórico
ideal previsto pelos modelos termodinâmicos. Essa diferença ocorre devido a
diversos fatores, como as perdas de energia, irreversibilidades e limitações
práticas.
Na termodinâmica, o ciclo ideal é frequentemente representado pelo ciclo de
Carnot, que é um modelo teórico de uma máquina térmica reversível. Esse
ciclo ideal estabelece um limite superior para a eficiência das máquinas
térmicas reais operando entre duas temperaturas. No entanto, na prática, as
máquinas térmicas reais não podem atingir a eficiência do ciclo de Carnot
devido a uma série de razões:
1. Irreversibilidades: Os processos reais envolvem irreversibilidades,
como atrito, transferência de calor não ideal e vazamentos. Essas
irreversibilidades resultam em perdas de energia durante o ciclo,
reduzindo a eficiência da máquina térmica.
2. Ineficiências termodinâmicas: As máquinas térmicas reais têm
ineficiências termodinâmicas, como a compressão não isentrópica e a
expansão não isentrópica dos fluidos de trabalho. Essas ineficiências
estão associadas a perdas de calor durante as etapas de compressão e
expansão, o que reduz a quantidade de trabalho útil produzido.
3. Perdas de calor: Durante o ciclo real, ocorrem perdas de calor para o
ambiente, que não são consideradas no ciclo ideal. Essas perdas de
calor são geralmente inevitáveis devido à transferência de calor para as
vizinhanças devido a diferenças de temperatura.
4. Limitações mecânicas e técnicas: As máquinas térmicas reais estão
sujeitas a limitações mecânicas e técnicas, como resistência de
materiais, eficiência dos componentes e limitações de projeto. Essas
limitações práticas afetam o desempenho e a eficiência das máquinas
térmicas.

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O afastamento do ciclo real para o ciclo ideal é uma questão importante na
engenharia de sistemas térmicos, pois os projetistas e engenheiros buscam
minimizar as perdas e as irreversibilidades para aumentar a eficiência das
máquinas térmicas reais. Isso envolve o uso de técnicas de otimização,
desenvolvimento de materiais avançados, aprimoramento dos componentes e
a implementação de estratégias para reduzir as perdas de calor.
Embora as máquinas térmicas reais nunca atinjam a eficiência do ciclo ideal,
o estudo do afastamento do ciclo real para o ciclo ideal é fundamental para
entender as limitações e o potencial de melhorias nos sistemas térmicos, bem
como para estabelecer referências de desempenho e metas de eficiência para
as tecnologias em desenvolvimento.

Fluidos de trabalho para sistemas de refrigeração


Existem diversos fluidos de trabalho utilizados em sistemas de refrigeração,
cada um com suas próprias características e aplicações. A escolha do fluido de
trabalho depende das necessidades específicas do sistema, como temperatura
de operação, eficiência energética, segurança e impacto ambiental. Alguns dos
fluidos de trabalho mais comuns para sistemas de refrigeração são:

1. CFCs (Clorofluorocarbonetos) e HCFCs (Hidroclorofluorocarbonetos):


Os CFCs, como o R-12 (diclorodifluorometano), e os HCFCs como o R-22
(clorodifluorometano). Eram amplamente utilizados no passado, mas seu
uso foi fortemente restrito devido ao seu alto potencial de destruição da
camada de ozônio. Muitos países estão migrando para alternativas mais
seguras e ambientalmente amigáveis.
2. HFCs (Hidrofluorocarbonetos): Os HFCs, como o R-134a
(tetrafluoroetano), são comumente usados atualmente em sistemas de
refrigeração e ar-condicionado. Eles não contêm cloro e, portanto, não têm
potencial de destruição da camada de ozônio. No entanto, eles têm alto
potencial de aquecimento global e estão sendo gradualmente substituídos
por alternativas mais sustentáveis.
3. HFOs (Hidrofluoroolefinas): Os HFOs, como o R-1234yf
(2,3,3,3-tetrafluoropropeno), são fluidos de refrigeração de nova geração
projetados para serem mais ecológicos e energeticamente eficientes. Eles
possuem baixo potencial de aquecimento global e são considerados
alternativas de baixo impacto ambiental para substituir os HFCs.
4. Amônia (NH3): A amônia é um fluido de refrigeração amplamente utilizado
em sistemas industriais de grande escala. É conhecida por sua alta
eficiência e baixo impacto ambiental, pois não tem efeito destrutivo na
camada de ozônio e possui um potencial de aquecimento global muito baixo.
No entanto, a amônia é tóxica e requer medidas de segurança adicionais em
seu manuseio.

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5. Dióxido de carbono (CO2): O dióxido de carbono é um fluido de
refrigeração natural que está ganhando popularidade devido às suas
propriedades ambientalmente amigáveis. Ele pode ser usado como fluido de
trabalho em sistemas de refrigeração de médio e baixo porte. O CO2 tem um
potencial de aquecimento global muito baixo e é considerado uma
alternativa sustentável aos HFCs.
Esses são apenas alguns exemplos de fluidos de trabalho utilizados em
sistemas de refrigeração. Cada fluido possui características específicas que
devem ser consideradas ao selecionar o mais adequado para uma aplicação
específica.

Aplicações na engenharia
Os ciclos de refrigeração têm uma ampla variedade de aplicações na
engenharia, como na refrigeração comercial e Industrial onde são usados para
manter alimentos, produtos químicos, medicamentos e outros produtos
perecíveis em temperaturas controladas; refrigeração Criogênica que é usada
para alcançar temperaturas extremamente baixas, próximas ou abaixo do zero
absoluto (-273,15°C). Essa tecnologia é aplicada em campos como pesquisa
científica, medicina, indústria aeroespacial e produção de materiais
supercondutores.
Além dessas aplicações, os ciclos de refrigeração são utilizados em muitas
outras áreas, como indústria química, processamento de gases, produção de
energia, medicina, laboratórios, entretenimento (por exemplo, pistas de
patinação no gelo) e até mesmo na agricultura (armazenamento de produtos
agrícolas). A refrigeração desempenha um papel fundamental em várias
indústrias, melhorando a qualidade e a segurança de produtos, processos e
ambientes.

Conclusão
A compreensão das características e desempenho dos ciclos de refrigeração
termodinâmicos é de suma importância para projetistas, engenheiros e
cientistas, pois possibilita o desenvolvimento de sistemas cada vez mais
eficientes e sustentáveis. Além disso, em um mundo em busca de soluções
energéticas mais limpas, a otimização desses ciclos pode contribuir para a
redução do consumo de energia e, consequentemente, da emissão de gases
de efeito estufa.
Esta abordagem explora os principais conceitos e características dos ciclos de
refrigeração termodinâmicos, destacando sua relevância e aplicações nas mais
diversas áreas da vida moderna. Compreender o funcionamento desses ciclos
é essencial para aproveitar ao máximo seus benefícios e enfrentar os desafios
relacionados à refrigeração de forma eficiente e sustentável.

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Referências
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5123295/mod_resource/content/2/12%
20-%20Ciclos%20de%20refrigerac%CC%A7a%CC%83o_2015.pdf
https://gestao.faccat.br/moodle/pluginfile.php/52597/mod_resource/content/0/ci
closrefria_Beyer.PDF
https://rrrefrigeracao.com.br/2018/09/05/o-ciclo-de-refrigeracao-entenda-mais-s
obre-esse-procedimento/

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