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É evidente que o homem, como um ser social e político, não vive sozinho. Ao estabelecer sua vida
em grupo, por necessidade de segurança e por estímulos de sobrevivência, busca garantir o bem-estar
individual e coletivo.
Como um ser social, o homem está sempre aprendendo a melhor maneira de conviver com seus
semelhantes e isso significa considerar seu próximo como ele é, com todas suas qualidades, defeitos e
outras características pessoais. No contato com os outros, o homem deve buscar sempre compartilhar
experiências, exercitar a confiança e a tolerância.
Como um ser político, o homem é, segundo as palavras de Aristóteles, “um animal político”, isto
é, destinado a viver na pólis (cidade), onde se realiza como cidadão. Por isso, os aspectos referentes à
vida em sociedade são considerados políticos. Nela, o homem e seus pares organizam-se em forma de
comunidades e desenvolvem a noção de governo, de poder, de liberdade e de igualdade.
Para o estabelecimento de uma vida coletiva harmoniosa, o homem passou a constituir normas,
padrões de condutas, regras e leis com a finalidade de regular a vida coletiva. Afinal, para que a harmo-
nia seja instaurada em uma dada comunidade, seus membros devem respeitar uns aos outros, guiados
por limites preestabelecidos que, como uma linha imaginária, têm a função de orientar os impulsos,
dominar os instintos e, assim, tornar harmoniosa a convivência coletiva.
Antiguidade
Nesta época, as pessoas viviam em um ambiente em que todos os fenômenos maléficos eram
vistos como resultantes das forças divinas. Para conter aquilo que acreditavam ser a “ira dos deuses”,
criaram várias proibições que, quando não obedecidas, resultavam em castigo. Das desobediências, sur-
giram os crimes e as penas. Muitas vezes os castigos eram cumpridos com oferendas aos deuses ou com
o sacrifício da própria vida. O castigo não era algo feito para ofender ou humilhar o castigado. Acima de
tudo, a prática do castigo tinha um caráter moralizador e corretivo.
Pode-se afirmar que os homens na Antiguidade limitavam-se a proteger a vida, a integridade
física, a honra e a propriedade. São algumas das leis escritas dessa época:
As penas adotadas pelo legislador Hammurabi eram severas, principalmente para os crimes de
lesão corporal e homicídios. Suas leis embasavam-se no princípio de Talião1, cuja premissa era a do
“olho por olho, dente por dente”. Esse código chegava ao extremo de determinar que, caso um homem
matasse o filho de outro, a pena seria paga com a vida do filho do homicida.
Segundo Costa (1992, p. 23), sobre esse código:
O autor de roubo por arrombamento deveria ser morto e enterrado em frente ao local do fato. (...) As penas eram cruéis:
jogar no fogo (roubo em um incêndio), cravar em uma estaca (homicídio praticado contra o cônjuge), mutilações cor-
porais, cortar a língua, cortar o seio, cortar a orelha, cortar as mãos, arrancar os olhos e tirar os dentes.
1 O termo Talião vem do Latim talis, que significa igual ou semelhante. A lei tem esse nome justamente porque determina que o criminoso
sofra tal qual fez sua vítima sofrer.
Alcorão (Corão)
Datado do início do século VII d. C., é o livro religioso e jurídico dos muçulmanos. Os seus segui-
dores acreditam que foi ditado por Alá (Deus) através do arcanjo Gabriel e, portanto, não foi redigido
por Maomé, que não sabia escrever. Por meio de recursos sociológicos e lógicos, muitas complemen-
tações foram feitas ao longo do tempo até os dias atuais, mas sem perder a força dos ditames de Alá
ao profeta Maomé.
Ainda em vigor em alguns Estados, como Arábia Saudita e Irã, o Alcorão estabelece severas pena-
lidades em relação ao jogo, bebida e roubo, além de considerar a mulher inferior ao homem.
Idade Média
A Idade Média caracterizou-se por ser uma época de batalhas sangrentas, intolerância religiosa,
perseguições e torturas. Além da frequência com que era aplicada a pena de morte, era executada com
requintes de crueldade (fogueira, afogamento, soterramento, enforcamento), como forma de intimida-
ção e atemorização e com o objetivo de dar exemplo. As sanções penais eram desiguais, dependendo
da condição social e política do réu, sendo comum o confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as pe-
nas infamantes. As leis medievais puniam o suicida com o confisco de bens quando consumado o crime,
que acabava punindo injustamente os filhos pelo “erro” do pai.
Nessa época, a Igreja Católica deixou uma considerável quantidade de informações sobre o que
era certo e justo na visão da Lei Divina. Também normatizou o comportamento, o socialmente aceitável,
como os bons costumes e os cultos religiosos ministrados em Latim, de forma a estabelecer o compor-
tamento padrão para essa época.
No cenário medieval, o que prevalecia era a lei fundada naquilo que se acreditava ser a vontade
de Deus. Outros exemplos do processo de desenvolvimento das leis nessa mesma época encontram-se
nos seguintes documentos:
::: a Carta Magna (1215-1225) – firmada pelo rei inglês João Sem-terra [sic], feita para proteger
os privilégios dos barões e os direitos dos homens livres. É considerado o documento básico
das liberdades inglesas.
::: as Leis de Leão de Castela (1256) – denominadas “as Sete Partidas”, que visavam proteger a
inviolabilidade da vida, da honra, do domicílio e da propriedade, assegurando aos acusados
um processo legal que evitasse a punição injusta. A primeira das sete regras dispunha: “os juí-
zes devem garantir a liberdade”.
::: a Carta das Liberdades (1253) – de Teobaldo II, de Navarra.
::: o Código de Magnus Erikson (Suécia, 1350) – segundo o qual o rei devia jurar lealdade e jus-
tiça ao povo, comprometendo-se a não privar nem o pobre nem o rico, de sua vida ou de sua
integridade corporal sem processo judicial em devida forma.
Idade Moderna
Vale lembrar que, na transição da Idade Média para a Idade Moderna (séculos XV e XVI), muitas
transformações sociais, científicas, econômicas e culturais aconteceram na Europa, como a expansão
do comércio marítimo, o descobrimento de novas terras pelos povos ibéricos, a formação da burguesia
mercantil, o advento da imprensa, as descobertas científicas, a Reforma da Igreja Católica e o movimen-
to Protestante. Tudo isso resultou em novas atitudes filosóficas e científicas que situaram o homem no
centro dos estudos e dos acontecimentos.
Na Inglaterra, foram produzidos documentos de grande expressão no século XVII , acerca da pro-
teção dos direitos individuais. Vejamos alguns deles:
::: Petition of Rights (1628) – requerimento que impunha condições como a de que nenhum ho-
mem livre pudesse ser detido ou aprisionado, nem despojado de seu feudo, suas liberdades e
franquias, nem posto fora da lei, nem exilado, nem molestado de qualquer outro modo, senão
em virtude de sentença legal de seus pares ou de disposição das leis do país, respeitando prin-
cípios legais (PINHEIRO, 2001). Esse documento redigido pelos parlamentares foi dirigido ao
monarca como forma de reconhecimento de diversos direitos e liberdades para os súditos;
::: Habeas Corpus Amendment Act (1679) – foi um documento que ficou conhecido pela sua
conquista com relação à liberdade individual, diante da prepotência dos detentores do poder
público da época;
::: Bill of Rights (1688) – declarou ilegais os atos da autoridade real inglesa que, sem permissão
do parlamento, suspendia as leis ou sua execução e mandava arrecadar dinheiro em nome
da Coroa inglesa, além da quantia permitida pelo Parlamento. Esse documento também pro-
clamou a liberdade de discussão e proibiu a imposição de penas cruéis e sem fundamento.
Ainda no século XVIII foram editados três documentos, igualmente expressivos no que diz respei-
to à preocupação com o indivíduo:
::: a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (1776) – considerada a primeira decla-
ração de direitos fundamentais, no sentido moderno: consagrava o princípio da isonomia2; da
imparcilidade do juiz, da liberdade de imprensa e de religião;
::: a Declaração da Independência dos Estados Unidos (Thomas Jefferson, 1776) – confirma os
direitos inalienáveis do ser humano e proclama que os poderes dos governantes derivam do
consentimento do povo governado;
::: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) – é uma das conquistas mais im-
portantes das liberdades individuais no Ocidente moderno. Surgiu no contexto da Revolução
Francesa e representa a síntese do pensamento político, moral e social do século XVIII até os
dias atuais. É o documento marcante do Estado liberal e proclama os seguintes princípios: iso-
nomia, liberdade, propriedade, legalidade, presunção de inocência, liberdade religiosa, livre
manifestação do pensamento (PINHEIRO, 2001).
Idade Contemporânea
Muitos historiadores afirmam que esta fase teve seu início a partir da Revolução Francesa (1789).
Com o evento das duas grandes guerras mundiais, o ceticismo imperou no mundo juntamente com a
crença de que a humanidade toda, até mesmo as nações consideradas mais avançadas para a época,
era capaz de cometer atrocidades dignas de bárbaros. A Primeira Grande Guerra3 resultou na criação da
Sociedade das Nações (1919) e a segunda, na criação da ONU4 (1945).
A partir desses eventos, a necessidade de normatizar e determinar sistematicamente o que eram
direitos humanos, em âmbito universal, tornou-se mais evidente. A exemplo desta preocupação surgiu
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Aprovado pela ONU, em meados do século XX,
esse documento visou estabelecer direitos para todos os seres humanos, independentemente de suas
características, tais como idade, cor, raça, religião, sexo etc. Traz em seu cerne os princípios iluministas
de liberdade, igualdade e fraternidade. Baseando-se nestes, essa declaração prevê, ainda, a garantia
contra qualquer tipo de escravidão humana, tortura, prisão, penas arbitrárias e discriminações (PINHEI-
RO, 2001). Possui 30 artigos no total.
A Constituição Federal do Brasil trata ainda dos direitos sociais, no que diz respeito à educação,
à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, à infância e
à assistência aos desamparados.
Estatuto do Idoso
Representado pela Lei 10.741/2003, veio para convocar toda a sociedade para zelar pelos idosos,
estabelecendo regras a fim de esclarecer como devem ser amparados.
Esse estatuto esclarece que o idoso goza dos mesmos direitos que o indivíduo comum e assegu-
ra-lhe, por lei, todas as oportunidades e facilidades com o fim de preservar-lhe a saúde físico-mental,
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, sempre em condição de dignidade e liberdade.
Esse código de normas veio esclarecer, no seu artigo 3.º, que é obrigação não só dos familiares
do idoso, como também da comunidade e do Poder Público, assegurar-lhe com absoluta prioridade a
efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao traba-
lho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, bem como
determinar que é dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
Antigamente, desrespeitar um indivíduo idoso significava uma atitude antiética. Atualmente,
aquele que assim proceder, tratando o indivíduo com mais de 60 anos com negligência, discrimina-
ção, violência, crueldade ou opressão será punido na forma da lei.
Essa lei veio responder a questões como a da responsabilidade dos pais ou pessoas físicas e jurí-
dicas que, por algum motivo, tornaram-se responsáveis pela manutenção do menor, aplicando medidas
que vão desde a advertência até a suspensão ou destituição do poder familiar.
Igualmente ao que está estipulado em favor do idoso, o artigo 4.º do Estatuto da Criança e do
Adolescente dispõe que, além do dever da família em assegurar com absoluta prioridade a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionali-
zação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, também
incumbe as mesmas obrigações à comunidade, à sociedade em geral e ao Poder Público.
E mais, o estatuto impõe que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qual-
quer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.
A grande preocupação do legislador é o bem comum individual e da coletividade, considerando
a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Num País como o
nosso, sem dúvida alguma, as crianças devem ter prioridade na prevenção e tratamento de saúde, uma
farta alimentação e educação, para que se possa mudar o cenário nacional. Infelizmente, a realidade
ainda está a demonstrar que as crianças brasileiras são alvos da exploração do trabalho sem remunera-
ção (pois o que ganham entregam aos pais ou a outro adulto) e da delinquência (são usadas de mulas
no tráfico de drogas), com grande representação no alto índice de criminalidade (são usadas por maio-
res de idade5 como álibi para a impunidade de seus atos).
Código do Consumidor
Este conjunto de normas surgiu em resposta ao anseio da sociedade brasileira, cansada de sofrer
abusos decorrentes da falta de ética de fornecedores de produtos e serviços, fatos estes que, em menor
índice de ocorrência, ainda estão presentes no cotidiano.
O Código do Consumidor, formalizado pela Lei 8.078/1990, estabelece normas de proteção e de-
fesa do consumidor e está em conformidade com os termos dos artigos 5.º, inciso XXXII, artigo 170,
inciso V, da Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias.
De acordo com esse código, considera-se consumidor “toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
5 “Adultos” não corresponde a um termo adequado para assuntos referentes à Constituição, que entende como “maior” o indivíduo com mais
de 18 anos.
Considera fornecedor “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços”.
Estabelece no seu artigo 4.º:
Art. 4.º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consu-
midores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo.
Nesse código, fica expressamente estabelecida a Política Nacional das Relações de Consumo, que
é composta por regras que visam proteger o consumidor brasileiro, principalmente no que se refere à
sua dignidade financeira, saúde e segurança (SIQUEIRA NETO, 2007).
A grande importância na leitura desse código é o respeito dos direitos básicos do consumidor,
reconhecidos, principalmente:
::: a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no forneci-
mento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
::: a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, assegura-
das a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
::: a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os
riscos que apresentem;
::: a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
::: a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
::: a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;
::: o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurí-
dica, administrativa e técnica aos necessitados;
::: a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for
ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Muito embora não estejamos ainda diante do melhor entrosamento entre consumidor e for-
necedor, com essas normas regulamentadoras temos um campo aberto para muitas negociações,
conciliações e adaptações que vão alinhavando a melhor conduta a ser praticada nas relações de
consumo. A exemplo disso, muitas empresas passaram a melhor redigir seus contratos, a esclarecer
melhor os manuais de instrução dos seus produtos e a qualificar melhor seus funcionários em bene-
fício da coletividade.