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Farmácia

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clínica
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situações especiais
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Pacientes transplantados

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. José Henrique Gialongo Gonçales Bomfim

Revisão Textual:
Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti
Pacientes transplantados

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Atividades clínicas do profissional farmacêutico em
pacientes transplantados;
• Minimização de riscos associados à fármaco-terapia;
• Alta farmacêutica.

Fonte: iStock/Getty Images


Objetivos
• Demonstrar as ações específicas do profissional farmacêutico em unidade de tratamento
especializada, bem como os protocolos e as diretrizes em pacientes transplantados.

Caro aluno,

Nesta unidade, daremos enfoque às ações desempenhadas pelo profissional farmacêutico


na minimização de riscos associados à utilização de medicamentos por pacientes
transplantados.

Serão descritos protocolos e diretrizes de acompanhamento dos pacientes, bem como


as atitudes desenvolvidas em unidades especializadas, onde o profissional deve propor
melhorias e garantir a segurança do paciente, otimizando sua fármaco-terapia.

Será também abordado o conceito de alta farmacêutica.

Acesse o link Materiais didáticos para desenvolver as atividades propostas na unidade.

Ótimos estudos!
UNIDADE
Pacientes transplantados

Contextualização
As ações do profissional farmacêutico em unidade de alta complexidade, como as
de pacientes transplantados, têm o objetivo de minimizar o risco associado ao uso de
imunossupressores e demais medicamentos utilizados para evitar a rejeição de órgãos
e aumentar a sobrevida do paciente.

Todo o plano de ações que determina a fármaco-terapia nestas situações, está


embasado em diretrizes e protocolos específicos para cada tipo de procedimento. Cabe
ao profissional farmacêutico, juntamente com a equipe multidisciplinar, desenvolver
um planejamento, dentro do contexto da prevenção de eventos adversos, para garantir
a perfeita adesão à fármaco-terapia, com foco no seguimento fármaco-terapêutico e
identificação de possíveis problemas associados ao uso de medicamentos.

Sugerimos a leitura do texto “Atenção farmacêutica para pacientes transplantados em


um hospital universitário: intervenções farmacêuticas realizadas”, disponível no link:
https://goo.gl/mt8F50

Bons estudos!

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O SUS e os níveis de complexidade de
atenção à saúde

Figura 1
Fonte: http://www.blog.saude.gov.br

O Sistema Único de Saúde, SUS, foi criado pela Constituição Federal em 1988,
e definiu que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. A Lei Federal no.
8.080/1990, regulamenta o SUS e prevê, em seu Artigo 7º, como princípios do
sistema:

I. universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II. integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das


ações e dos serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso, em todos os níveis de complexidade do sistema;

De acordo com o material técnico de apoio intitulado “O SUS de A a Z”, de 2009,


os níveis de complexidade se definem da seguinte maneira:
·· atenção básica, que caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no
âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde,
a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a
manutenção da saúde;
·· média complexidade ambulatorial, que é composta por ações e serviços que
visam a atender os principais problemas e agravos de saúde da população,
cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a disponibilidade
de profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o
apoio diagnóstico e tratamento;
·· altacomplexidade, composta de um conjunto de procedimentos que, no
contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar
à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis
de atenção à saúde (atenção básica e de média complexidade).

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Pacientes transplantados

Figura 2
Fonte: Imagem Divulgação

O SUS de A a Z: Garantindo saúde nos municípios: https://goo.gl/s5Mnzg

Desta forma, os níveis de atenção à saúde se dividem em: primário, secundário e


terciário, de acordo com sua complexidade. Entretanto, há um consenso que, todos os
procedimentos relacionados a transplantes de órgãos e de tecidos se enquadram em
um nível de mais elevada complexidade, o quaternário.

Neste âmbito, todos os procedimentos que envolvem transplantes são coordenados


pelo Sistema Nacional de Transplantes, o SNT e gerenciados pelo Departamento de
Atenção Especializada (DAE).

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é a instância responsável pelo controle


e pelo monitoramento dos transplantes de órgãos, de tecidos e de partes do corpo
humano realizados no Brasil, que tem como competências:
· Elaborar e avaliar as políticas de média e alta complexidade, ambulatorial e
hospitalar do SUS.
· Regular e coordenar as atividades do Sistema Nacional de Transplantes de
Órgãos, Urgência e Emergência e Atenção Hospitalar.

Sistema Nacional de Transplantes: https://goo.gl/2AhWsx

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Segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), publicados pela
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no primeiro semestre de
2015, foram realizados mais de 20.000 transplantes de órgão e tecidos (Tabela 1).

Tabela 1: Dados sobre o total de transplantes realizados no Brasil no primeiro semestre de 2015

Órgãos
Órgãos Total Vivo Falecido PMP Nº Equipes
Coração 175 175 1,7 26
Fígado 835 72 763 8,2 56
Pâncreas 10 10 0,1 12
Pâncreas/Rim 45 45 0,4 12
Pulmão 41 3 38 0,4 5
Rim 2664 579 2085 26,3 118
Total 3770 654 3116

Tecidos
Tecidos Total PMP
Córnea 6585 65,0
Ossos 10144 100,1
Pele 13
Total 16742

Medula Óssea
Células Total Autólogo Alogênico PMP Nº Equipes
Medula Óssea 907 577 330 8,9 43

Fonte: Adaptação de ABTO - http://goo.gl/U2WjLK

De acordo com os dados demonstrados na Tabela 1, os transplantes de coração


e fígado aparecem como os mais prevalentes e, portanto, serão utilizadas suas
diretrizes como base para a descrição das intervenções realizadas pelos profissionais
farmacêuticos no que diz respeito à fármaco-terapia destes pacientes, uma vez que os
tratamentos podem ser específicos a cada modalidade de transplante.

Para maiores informações e lista de todos os procedimentos de alta complexidade


financiados pelo governo, leia “Para entender a gestão do SUS, volume 4 - Assistência
de Média e Alta Complexidade no SUS / Conselho Nacional de Secretários de Saúde”,
disponível em: https://goo.gl/GP5YjP

O transplante cardíaco é o tratamento de escolha para pacientes que apresentem


insuficiência cardíaca refratária, mesmo com a forte evidência de grande melhora
na expectativa de vida com o tratamento clínico. Diversos avanços nessa área foram
observados nos últimos anos, com o advento e a incorporação de novas técnicas
cirúrgicas, novos fármacos imunossupressores, métodos diagnósticos e abordagens
nos pós-operatórios precoce e tardio.

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Pacientes transplantados

No Brasil, o campo dos transplantes vem ocupando cada vez mais espaço no
cenário mundial, sendo o principal destaque na América Latina, e acima de tudo
como país referência para transplante cardíaco nos casos de doença de Chagas,
guiando condutas que são incorporadas no mundo todo.

Na II Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco, publicada pela Sociedade


Brasileira de Cardiologia, podemos encontrar uma completa gama de informações
técnicas, baseadas em evidências e com alto rigor científico, desde o diagnóstico
adequado, seleção dos candidatos ao transplante e tratamento farmacológico, tanto
aos candidatos como na manutenção do transplantado.

O fato de um paciente ser selecionado, inscrito e inserido na lista de transplante


cardíaco não significa que o transplante será realizado. O processo de seleção de
um candidato é dinâmico e requer contínua reavaliação. Fatores como a melhora no
quadro clínico, bem como aparecimento de co-morbidades importantes podem adiar
ou mesmo contraindicar todo o procedimento.

Dentro das Diretrizes são descritas diversas tabelas, indicando a fármaco-terapia


de escolha em casos como recomendações para tratamento farmacológico de
pacientes ambulatoriais com insuficiência cardíaca (IC) compensada, candidatos ao
transplante cardíaco, como o uso de diuréticos e/ou hemodiálise ou ultrafiltração na
IC, vasodilatadores, inotrópicos e inodilatadores.

Dentre as classes farmacológicas utilizadas em pacientes com IC compensada,


podemos destacar os inibidores da enzima de conversão da angiotensina, bloqueadores
dos receptores de angiotensina e beta antagonistas cardiosseletivos, como classes
farmacológicas em que o desfecho terapêutico é mais vantajoso.

Já como vasodilatadores de seleção, o nitroprussiato de sódio, a nitroglicerina


e a nesiritide possuem maior grau de evidência de utilização em pacientes com
situações de pressões de enchimento ventricular elevadas, aumentos significativos
na resistência vascular pulmonar (RVP) e na resistência vascular sistêmica (RVS);
além das situações de sobrecarga aguda de volume secundária a lesões valvares
regurgitantes (insuficiência mitral e aórtica).

A utilização de terapia inotrópica pode ser considerada para melhorar a perfusão


tecidual e a preservação da função de órgãos vitais em pacientes com baixo débito
cardíaco, com ou sem congestão. Os principais fármacos utilizados com esta finalidade
são divididos em três grupos principais: agonistas beta adrenérgicos (noradrenalina,
dopamina e dobutamina), inibidores da fosfodiesterase III (milrinona) e sensibilizadores
de cálcio (levosimendana). Vale lembrar que os diuréticos de alça e os tiazídicos
também apresentam propriedades importantes de indicação a estes pacientes.

Em todas estas situações, as ações multidisciplinares visam à qualidade do


tratamento na utilização adequada da gama de medicamentos de seleção.

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Para busca completa das informações sobre o acesso às tabelas de medicamentos
utilizados, bem como o grau de evidência de sua utilização, acesse a II Diretriz Brasileira
de Transplantes Cardíacos pelo link: https://goo.gl/09qPjw

Em relação ao transplante hepático, este é o único tratamento definitivo para


pacientes com hepatopatia, em que o tratamento farmacológico não é eficaz.
O transplante de fígado é indicado para os casos de insuficiência hepática aguda,
insuficiência hepática crônica, cirrose hepática, distúrbios metabólicos que possam ser
corrigidos com o transplante hepático e de carcinoma hepatocelular (Azzam, 2015).

Após todos os procedimentos que envolvem o transplante, será adotado um regime


terapêutico que inclui imunossupressão por toda a vida, inúmeras consultas médicas
e exames laboratoriais. O grande desafio da equipe de saúde está relacionado a não
adesão ao tratamento medicamentoso e aos procedimentos de manutenção e de
monitoramento do mesmo. Isto pode resultar em rejeição do órgão ou do tecido, que
é um fator complicador no cuidado pós-transplante.

O transplante, mesmo proporcionando uma melhor qualidade de vida, obriga o


paciente à adoção de um estilo de vida diferenciado em relação a dieta, higiene,
medicamentos e cuidados relativos à saúde em geral. Somente estas atitudes e
mudanças de hábito podem garantir o sucesso da intervenção.

Protocolos Farmaco-Terapêuticos

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

Grande parcela dos pacientes transplantados utiliza, além dos medicamentos


imunossupressores, também outros fármacos indicados para doenças crônicas, como
hipertensão, diabetes e dislipidemia.

É muito comum o uso de medicamentos para profilaxia a infecções oportunistas,


como antibióticos, antifúngicos e antivirais (profilaxia de infecção do sítio cirúrgico).
A essa utilização de múltiplos agentes terapêuticos, damos o nome de polifarmácia ou

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Pacientes transplantados

politerapia, que normalmente eleva o risco de ocorrência de reações adversas, erros


de medicamentos, interações medicamentosas e problemas relacionados à adesão
ao tratamento medicamentoso, ou seja, todos os eventos adversos associados a um
esquema complexo de prescrição medicamentosa.

Existem também fatores de toxicidade direta ligados ao uso dos imunossupressores.


Os episódios mais comuns se referem a nefrotoxicidade, hipertensão arterial, diabetes,
dislipidemia e osteoporose.

Cabe ao profissional farmacêutico, atuante nestas unidades de maior complexidade,


o domínio da farmacologia destes medicamentos, pois as associações entre os fármacos
são necessárias e o farmacêutico deve conhecer potenciais riscos inerentes ao uso
destes produtos.

Além disso, este conhecimento técnico direcionado deve ser utilizado para ajustes
de dosagens, de acordo com funções fisiológicas e patologias prevalentes nos pacientes
transplantados, evitar múltiplas interações medicamentosas, evitar erros posológicos e
identificar possíveis causas de ineficácia terapêutica.

Lembramos que, os medicamentos utilizados nestes procedimentos possuem


mecanismos de ação complexos e requerem amplo conhecimento para seu manejo.

Os imunossupressores são utilizados para que o organismo não rejeite o novo


órgão, diminuindo as ações diretas das células do sistema imune em “atacar” o
“agente desconhecido”. Os medicamentos imunossupressores inibem ou reduzem a
resposta do sistema imunitário aos aloantígenos do enxerto de órgão transplantado.
O sucesso dos transplantes só foi possível, no decorrer dos anos, graças à utilização
destes agentes e a evolução do conhecimento de suas ações na terapêutica.

Entretanto, enquanto a terapia de imunossupressão diminui os episódios de


rejeição nos pacientes transplantados de coração e fígado, também pode aumentar
as chances do surgimento de infecções e efeitos adversos específicos, devido ao uso
contínuo desses agentes. Por isso, o seguimento fármaco-terapêutico dos pacientes é
de extrema importância.

O constante desenvolvimento de novas estratégias e de novos agentes terapêuticos,


deverá proporcionar ainda melhores resultados aos pacientes. Segundo dados de
registros mais recentes, relacionados aos transplantes cardíacos, o esquema tríplice, que
inclui agentes corticosteroides, inibidores da calcineurina e antiproliferativos, continua
sendo a primeira linha de tratamento com forte evidência na grande maioria dos
serviços. Recentemente, estratégias que incluem os inibidores do sinal de proliferação
(ISP) têm sido propostas.

De acordo com os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas da ABTO, as


situações em que o uso dos imunossupressores é fundamental são as seguintes:
· no estabelecimento do estado de imunossupressão (peritransplante) este
pode ser obtido através de terapia de indução (com anticorpos policlonais ou
monoclonais) ou pelo uso dos imunossupressores convencionais;

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·· na manutenção do estado de imunossupressão;
·· no tratamento dos episódios de rejeição aguda;
·· na terapia de resgate de rejeições córtico-resistentes;
·· na terapia de rejeições refratárias;
·· natentativa de retardar o processo de nefropatia crônica do enxerto (“rejeição
crônica”).

Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Transplantes Renais - Medicamentos


imunossupressores: https://goo.gl/LzxdsX
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Imunossupressão no transplante renal:
https://goo.gl/wYh0VU

Como fármacos de primeira linha de tratamento para indução e manutenção,


bem como rejeição aguda, são utilizados hoje Ciclosporina, Azatioprina, Tacrolimus,
Micofenolato Mofetil, Sirolimus, Anticorpo Monocional Murino Anti-CD3 (OKT3),
Basiliximab, Globulina Antilinfocitária, Globulina Antitimocitária, Metilprednisolona e
Prednisona.

O fluxograma de inserção dos fármacos e de associações, bem como as ações


clínicas, podem ser encontrados em diversas diretrizes publicadas.

Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: Fluxograma de Tratamento de


Imunossupressores para o Transplante Renal - Indução e Manutenção:
https://goo.gl/jWJJLe

Por conta das diversas ações relacionadas à manutenção do quadro clínico dos
transplantados, a abordagem multidisciplinar é essencial para garantir um atendimento
que se enquadre à realidade de cada paciente.

Particularmente, através das funções clínicas desenvolvidas pelo farmacêutico no


contexto da Farmácia Clínica e da Atenção Farmacêutica, o profissional pode contribuir
ao intervir na redução de risco de morbidades causadas pela fármaco-terapia, evitando
o fracasso do tratamento e as complicações da terapia combinada.

A Tabela 2, extraída do texto “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas


Imunossupressão no Transplante Hepático em Adultos” (Conitec, 2016), mostra as
reações adversas associadas ao uso de imunossupressores e à intensidade do evento.

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Pacientes transplantados

Tabela 2 - Reações adversas mais comuns ao uso de imunossupressores

Imunossupressores Corticosteróides CsA TAC MMF/MS AZA EVR


Leucopenia + ++ +
Anemia + ++ +
Trombocitopenia + ++ +
Nefrotoxicidade ++ ++
Hipertensão +++ ++ +/++
Hipomagnesemia + +
Hiperpotassemia + +
Alteração gastrointestinal + + ++ +++/++ +
Alergia alimentar +
Úlcera digestiva +
Hepatotoxicidade + + +
Hiperlipemia ++/+++ ++ + +++
Hiperglicemia ++ + ++
Hiperplasia gengival ++
Hirsutismo + ++
Neurotoxicidade + + +
Retardo do crescimento +
Diabetes melito ++/+++ + ++
Má cicatrização + +
Osteoporose +++ ++ +
Catarata +
Alteração psiquiátrica +
Alopecia + +

CsA: ciclosporina, TAC: tacrolimo, MMF: micofenolato de mofetila, MS: micofenolato sódico,
AZA: azatioprina, EVR: everolimo, +: intensidade do efeito adverso.
Fonte: Adaptação de Conitec, 2016.

Percebemos que, as reações adversas associadas à utilização dos imunossupressores,


podem ser de grande intensidade, fazendo com que o farmacêutico tenha de participar
diretamente de todas as etapas do tratamento, buscando minimizar o risco inerente a
cada fármaco e orientando profissionais e pacientes sobre o manejo destas reações.

Muitas das reações descritas acima, acabam sendo tratadas com a inserção de mais
medicamentos, conforme já descrito anteriormente. Neste momento, o farmacêutico
deve tomar como prioridade ações para minimizar interações medicamentosas e
estabelecer protocolos de vigilância farmacológica, para notificar as autoridades
sanitárias sobre os eventos adversos, observados durante a fármaco-terapia.

Em 2015, Martins relata as principais intervenções farmacêuticas realizadas no


setor de transplantados em hospital universitário de Fortaleza. A autora descreve
como ações diretas do profissional: orientações sobre tratamento fármaco-terapêutico;
solicitação de suspensão de medicamento desnecessário; adequação do horário de
administração; acesso do paciente ao tratamento farmacológico; orientação sobre

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a maneira adequada de administração do medicamento prescrito; solicitação da
correção da dosagem do medicamento prescrito; solicitação da alteração da posologia
do medicamento prescrito e encaminhamento para a nutricionista.

A estas intervenções, a autora atribui uma escala de relevância clínica, sendo as


ações consideradas significantes, muito significantes e extremamente significantes.
Como conclusão do trabalho, foi possível verificar que o farmacêutico do serviço de
atenção farmacêutica para pacientes transplantados foi capaz de realizar intervenções
sobre a fármaco-terapia instituída, sendo estas, em sua maioria, “significantes” por
aumentarem a qualidade do atendimento realizado ao paciente, além de diminuírem os
riscos de ocorrência de resultados negativos relacionados à fármaco-terapia.

De acordo com as instruções normativas da Associação Americana de Transplantes


e a Rede de Pesquisas em Imunologia e transplantes da Associação Americana de
Farmácia Clínica (AST e ACCP, 2012), o farmacêutico especialista em transplantes de
órgãos sólidos deve desenvolver as seguintes atividades fundamentais:
·· Avaliação
prospectiva da farmacocinética, farmacodinâmica e terapêutica de
monitorização de toda a terapêutica medicamentosa e não medicamentosa
no setor de transplante;
·· Coordenação do desenvolvimento, da implementação, da aderência e das
medidas de resultados de políticas e de procedimentos departamentais e
protocolos de terapia medicamentosa;
·· Realização
da reconciliação medicamentosa, do gerenciamento da terapia
farmacológica e do aconselhamento de alta;
·· Fornecimento de educação e de treinamento aos membros da equipe de
transplante e aos residentes;
·· Facilitação
de estratégias de contenção de custos, otimização da fármaco-
terapia e da participação em programas de garantia de qualidade para
maximizar os resultados específicos do paciente e do centro;
·· Fornecimento de educação sobre medicação pré e pós-transplante;
·· Liderança e auxílio na pesquisa clínica e fármaco-econômica;
·· Identificação, gerenciamento e prevenção de eventos adversos relacionados
à medicação;
·· Acompanhamento de cada estágio da terapêutica medicamentosa para
melhorar todos os aspectos da eficácia do tratamento;
·· Documentação de instruções fornecidas e de recomendações fármaco-
terapêuticas no prontuário;
·· Provisão
de consultas a comitês institucionais (por exemplo, Comitê de
Farmácia e Terapêutica) sobre agentes imunossupressores e imunomoduladores
fármaco-terapêuticos;
·· Coordenação e dispensação de medicamentos no tratamento ambulatorial;
·· Promoção da fármaco-vigilância e notificação dos eventos adversos e queixas
técnicas às autoridades sanitárias.

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UNIDADE
Pacientes transplantados

Podemos identificar que, o aconselhamento de alta é descrito como procedimento


fundamental nas ações de intervenção realizadas pelo farmacêutico.

A alta hospitalar pode ser definida como a condição que permite a saída do paciente
da unidade hospitalar, sendo um procedimento que engloba todas as maneiras pelas
quais o paciente pode deixar o hospital.

Normalmente, este tipo de atitude não é comum, uma vez que a cultura do registro
e do aconselhamento de alta está inserida no âmbito de outras profissões de saúde.
Entretanto, é comum observar uma mudança de comportamento direcionada para
realização destas ações, de fundamental importância para a qualidade do serviço
executado ao paciente transplantado, inclusive no que tange aos protocolos de
segurança do paciente.

Em artigo de 2016, Lima e colaboradores descrevem a orientação farmacêutica na alta


hospitalar de pacientes transplantados como estratégia para a segurança do paciente.
Os dados coletados neste trabalho, referem-se às ações realizadas pelo farmacêutico
clínico na unidade de internação do Serviço de Transplante Renal e Hepático, Hospital
Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza, CE. Os autores puderam concluir que
as orientações promovidas pelo farmacêutico clínico junto à equipe multiprofissional
no momento da alta do paciente transplantado foram importantes, pois puderam
prevenir resultados negativos associados à fármaco-terapia, e garantiram a conciliação
medicamentosa e a segurança do paciente (Lima, 2016).

Percebemos, nesta unidade, o quão relevante é a atuação do farmacêutico clínico


especializado em transplantes, dentro do contexto das ações de prevenção de riscos
e de resultados negativos associados à fármaco-terapia, bem como a identificação
de eventos adversos, dispensação adequada dos medicamentos, seleção do arsenal
terapêutico, utilização de protocolos, aconselhamento de alta, ajustes posológicos e
resolução de problemas ligados ao uso de medicamentos.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Imunossupressão no Transplante Hepático em Adulto
Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção à Saúde - Consulta Pública Nº8, 12/12/2011.
https://goo.gl/rd3bQ5
O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios
Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. – 3. ed. –
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 480 p.: il. color. – (Série F. Comunicação
e Educação em Saúde)
https://goo.gl/Wqaoyh
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Imunossupressão no Transplante Renal
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS - CONITEC. Portaria SAS/
MS Nº 712, de 13 de agosto de 2014, republicada em 14 de agosto de 2014.
https://goo.gl/wYh0VU
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: v. 2 - Transplante Renal: Indicações e Contra-Indicações
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Especializada. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Projeto Diretrizes. Associação
Médica Brasileira. Sociedade Brasileira de Nefrologia e Sociedade Brasileira de Urologia.
https://goo.gl/bwB9F1

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UNIDADE
Pacientes transplantados

Referências
American College of Clinical Pharmacy, ACCP. Preliminary Request for the Board of
Pharmacy Specialties to Consider a New Specialty. 2012. Disponível em: https://
www.accp.com/docs/careers/BPS_SpecRequestIDACCP.pdf. Acesso em 20 de
fevereiro de 2017.

BACAL, F, SOUZA-NETO, J.D., FIORELLI, A.I., MEIJA, J., MARCONDES-BRAGA,


F.G., MANGINI, S., et al. II Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco. Arq Bras
Cardiol. 2009; 94 (1 supl.1): e16-e73

LIMA, L. F. et al. Orientação farmacêutica na alta hospitalar de pacientes


transplantados: estratégia para a segurança do paciente. Einstein. 2016;14(3):359-65

MARTINS, B. C. C. Acompanhamento fármaco-terapêutico de pacientes


transplantados renais: da descrição do processo aos desfechos clínicos. Dissertação de
mestrado – Fortaleza, 2015. 92f.: il.

Ministério da Saúde. Comissão Naciaonal de Incorporação de Tecnologias no SUS


- CONITEC. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Imunossupressão no
Transplante Hepático em Adultos. 2016. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/
Consultas/Relatorios/2016/Relatorio_PCDT_ImunossupressaoTransplanteHepatico_
CP_2016_v2.pdf. Acessado em 19 de fevereiro de 2017.

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