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Introdução

à terapia
intensiva
SUMÁRIO
1. Introdução...........................................................................................................3

2. Estrutura da UTI...................................................................................................3

3. Admissão............................................................................................................7

4. Evolução médica e exame físico na UTI.............................................................12

5. Atenção psicossocial.........................................................................................17

6. Alta da UTI........................................................................................................17

Referências bibliográficas.................................................................................................20
1. INTRODUÇÃO
Os cuidados intensivos são únicos entre as especialidades da medicina. Enquanto
outras especialidades restringem o foco de interesse a um sistema de corpo único
ou a uma terapia específica, o cuidado crítico é direcionado a pacientes com um
amplo espectro de doenças. Estes têm os denominadores comuns de exacerbação
acentuada de uma doença existente, novos problemas agudos graves ou complica-
ções graves da doença ou tratamento.
A variedade de doenças observadas em uma população gravemente enferma exi-
ge conhecimento completo das manifestações e mecanismos da doença. Avaliar a
gravidade do problema do paciente exige uma abordagem simultaneamente global e
focada, depende do acúmulo de dados precisos e requer a integração desses dados.
Pacientes com doença com risco de vida na UTI comumente desenvolvem falên-
cia de outros órgãos devido ao comprometimento hemodinâmico, efeitos colaterais
da terapia e diminuição da reserva de função do órgão, especialmente aqueles que
são idosos ou cronicamente debilitados. Por exemplo, a ventilação mecânica com
pressão positiva está associada à diminuição da perfusão dos órgãos. Muitos me-
dicamentos valiosos são nefro ou hepatotóxicos, especialmente em face da insufi-
ciência renal ou hepática preexistente. Pacientes mais velhos são mais propensos à
toxicidade medicamentosa, e a polifarmácia apresenta maior probabilidade de intera-
ções medicamentosas adversas.
A UTI (Unidade de Terapia Intensiva) foi criada com o objetivo de separar e moni-
torizar com maior atenção os pacientes graves, tanto clínicos quanto cirúrgicos. Essa
unidade é controlada, ou seja, não permite livre acesso de qualquer profissional ou
visitante do hospital, o que evita contaminação do ambiente, por exemplo. Além dis-
so, é uma área do hospital que precisa estar bem localizada, próxima aos outros lo-
cais do hospital que podem ser necessários no tratamento do paciente grave, como
radiologia, ala de emergência, laboratório etc.

2. ESTRUTURA DA UTI
Hospitais secundários e hospitais terciários com capacidade para mais de 100 lei-
tos, assim como hospitais especializados que atendam pacientes graves ou de risco
e estabelecimentos de assistência à saúde (EAS) que atendam gravidez/parto de alto
risco são obrigados a possuir UTI, nesse último caso das EAS, estes devem dispor de
UTI adulto e neonatal.

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Se liga! A UTI deve estar estrategicamente localizada na instituição
de saúde de modo que as outras áreas (de apoio), comumente necessárias no
manejo do paciente grave sejam de fácil acesso e além disso é uma região do
hospital controlada, não sendo permitido que indivíduos sem autorização tran-
sitem por ela.

Na estrutura mais comum de UTI, o posto de enfermagem fica no centro e os lei-


tos ao redor, o que faz com os pacientes fiquem mais visíveis, permitindo cuidado
mais atento. Há ainda o modelo de quartos fechados, e esses dois modelos podem
coexistir.

Figura 1: Modelo de quartos abertos.


Fonte: Medical-R/Shutterstock.com

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Figura 2: Modelo de quartos fechados.
Fonte: Mongkolchon Akesin/Shutterstock.com

A UTI adulto admite pacientes graves com idade igual ou superior a 18 anos,
podendo ainda admitir pacientes de 15 a 17 anos conforme normas intrínsecas da
instituição assistente. A UTI pediátrica cuida de pacientes crianças com até 18 anos
de idade, sendo que a UTI neonatal costuma admitir recém-nascidos prematuros e
lactentes com risco de vida, que sofreram complicações no nascimento por exem-
plo. Os pais ou responsáveis de menores internados nas UTI pediátrica ou neonatal
possuem livre acesso para visitar e acompanhar seus filhos.

Figura 3. UTI neonatal.


Fonte: Travel Stock/Shutterstock.com

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Além disso, cada leito da UTI dispõe de equipamentos de monitorização exclusi-
vos dessa ala hospitalar, como ventiladores, monitores cardíacos e outros recursos
necessários no manejo do paciente grave, como vasopressores, agentes inotrópicos,
terapia de substituição renal, cristaloides e coloides para ressuscitação por fluido/
fluidoterapia intravenosa, sedativos e analgésicos, materiais para intubação e catete-
rização venosa central, entre outros recursos.
Vale pontuar que a UTI é administrada por uma equipe multidisciplinar especia-
lizada, formada por médico intensivista plantonista (vertical), que fica 6, 12 ou 24
horas, um médico intensivista não plantonista (horizontal, diarista), que em geral é
um médico mais experiente e mais familiarizado com a história do paciente e que
faz a ronda pelos leitos diariamente, e além desses médicos, a equipe dispõe de en-
fermeira intensivista, nutricionista, assistente social, psicólogo, farmacêutico clínico
e fisioterapeuta.
A estrutura da UTI deve seguir as normas do regulamento técnico para planeja-
mento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos
assistenciais de saúde, dispostas na RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) nº 50
da ANVISA.

UTI PEDIÁTRICA

MODELO QUARTOS
UTI NEONATAL
ABERTOS

ESTRUTURA DA
UTI
EQUIPE
MODELO QUARTOS
MULTIDISCIPLINAR
FECHADOS
ESPECIALIZADA

LOCALIZAÇÃO
ESTRATÉGICA

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3. ADMISSÃO

Se liga! Identificar e agir sobre novos problemas e complicações


na UTI exige revisão frequente e regular de todas as informações disponíveis,
incluindo mudanças nos sintomas, achados físicos e dados laboratoriais e in-
formações de monitores. Em algumas instalações, a identificação precoce e o
tratamento são fornecidos por equipes de resposta rápida. Uma vez notificado
que um paciente fora da UTI pode estar se deteriorando, a equipe é mobilizada
para fornecer um ambiente de mini-UTI em que cuidados intensivos possam ser
entregues mais cedo, mesmo antes de o paciente ser realmente transferido.

A unidade de terapia intensiva dispõe de recursos mais custosos aos hospitais e


sistema de saúde, e por isso devem ser admitidos nessa ala apenas pacientes que
realmente necessitam. Com isso, existem alguns critérios que auxiliam o médico
responsável a decidir se seu paciente precisa da UTI, são três tipos de modelos de
admissão: modelo de priorização de cuidados, modelo de parâmetros objetivos e
modelo de diagnósticos.
O modelo de priorização possui uma escala de 1 a 5, o qual gradua a necessidade
do paciente de ir para a UTI. A prioridade nível 1 engloba pacientes que precisam de
intervenções de suporte à vida (exclusiva da UTI), que possuem grande probabilida-
de de recuperação e não apresentam limitação terapêutica.
A prioridade nível 2 é dada para pacientes que precisam de monitorização intensiva
por apresentarem grande risco de necessidade de intervenção imediata, apesar de
não precisarem de intervenções exclusivas de UTI, e que também não possuem limi-
tação de suporte terapêutico. Um exemplo de paciente prioridade 1 seria um jovem,
vítima de trauma que apresenta TCE (trauma cranioencefálico), que foi intubado e pre-
cisa de ventilação mecânica, o que só pode ser feito em UTI, enquanto um paciente
nível 2 seria um adulto/idoso que sofreu um infarto, apresenta-se estável, sem neces-
sidade de suporte orgânico mas que tem alto risco de deterioração.
Os pacientes com prioridade nível 3 são aqueles que necessitam de intervenção de
suporte à vida, com baixa probabilidade de recuperação ou com limitação terapêutica.
A prioridade nível 4, por sua vez, é conferida aos pacientes que também precisam de
monitorização intensiva por apresentarem grandes chances de deterioração, ou seja,
necessitarem de intervenção imediata, mas possuem limitação terapêutica. E por fim,
a prioridade nível 5 é dada aos pacientes em fase terminal, com baixíssima probabili-
dade de recuperação, que normalmente não seriam pacientes de UTI (exceto aqueles

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que forem doadores de órgãos), porém em alguns casos eles são internados na UTI,
por exemplo quando há dificuldade nos cuidados paliativos.

Saiba mais! Limitações terapêuticas são as condições que tor-


nam o paciente “pouco receptivo” para receber os esforços terapêuticos, ou se-
ja, são limitações que indicam que as terapêuticas disponíveis provavelmente
não trarão benefício ao paciente ou que podem lhe trazer malefícios. Exemplo
disso são neoplasias metastáticas, doença de Alzheimer avançada, pacientes
idosos acamados, pacientes terminais ou comatosos e pacientes com dano
neurológico grave.

O modelo diagnóstico é pautado em determinados diagnósticos que são imedia-


tamente motivos para internação em UTI. Abaixo, uma tabela com alguns desses
diagnósticos divididos por sistemas.

CARDIOVASCULAR NEUROLÓGICO RESPIRATÓRIO

Infarto agudo do miocárdio


Choque cardiogênico
Arritmia complexa
Emergência hipertensiva
Insuficiência cardíaca com disfun- Acidente vascular cerebral
ção respiratória e/ou necessidade Rebaixamento agudo do nível de Insuficiência respiratória aguda
de suporte hemodinâmico consciência Embolia pulmonar
Angina instável Hemorragia subaracnoide Obstrução de vias aéreas
Pacientes que sofreram parada Meningite
cardiorrespiratória
Aneurisma aórtico
Bloqueio atrioventricular avançado
Alteração de coagulação

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ABDOME DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS OUTROS

Pacientes cirúrgicos que precisam


de suporte ventilatório e hemodi-
nâmico e monitorização
Sepse
Cetoacidose diabética
Choque séptico
Crise tireotóxica
Sangramento digestivo agudo Intoxicação com instabilidade
Estado hiperosmolar
Insuficiência hepática grave hemodinâmica/alteração do esta-
Crise adrenal
do mental/dificuldade de proteção
das vias aéreas/convulsões
Distúrbios hidroeletrolíticos graves
Todas as condições que requerem
cuidado contínuo da enfermagem

O modelo de parâmetros objetivos tem como base sinais vitais, valores laboratoriais,
critérios eletrocardiográficos, achados do exame físico e nos exames de imagem pa-
ra internar pacientes potencialmente graves na UTI. Os sinais vitais de alerta são:

• Pressão sistólica abaixo de 90 mmHg ou acima de 180 mmHg;


• Bradicardia ou taquicardia (<50/>100 bpm);
• Frequência respiratória inferior a 8 ipm ou superior a 20 ipm (bradi ou
taquipneia);
• Febre alta (>38ºC) ou hipotermia (>36ºC);
• Dor;
• Alteração aguda do nível de consciência;
• Enchimento capilar > 2 seg;
• Saturação de oxigênio abaixo de 90%;
• Ausência de diurese por mais de 6 horas (oligúria);
• Hipoxemia (PaO2 < 40 mmHg);
• Piora na impressão clínica.
Os parâmetros laboratoriais incluem:

• Sódio <120 ou >160 mEqL (hipo ou hipernatremia);


• Potássio < 2,5 ou > 6,0 mEqL (hipo ou hipercalemia);
• PaO2 < 40 mmHg;
• PaCO2 < 20 ou > 60mmHg;
• Troponina maior que o valor de referência;
• pH < 7,25 ou > 7,55;
• Glicemia < 40 ou > 400 mg/dl;

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• Cálcio iônico > 1,54;
• Hemoglobina (Hb) < 6,0 (Anemia grave);
• Leucometria < 500 ou > 400.000;
• Qualquer nível tóxico de drogas/medicação
Os critérios eletrocardiográficos que são indicação para internação em UTI são:

• Supradesnivelamento de ST;
• Sinais de isquemia aguda;
• Taquicardia ventricular;
• Fibrilação atrial;
• Fibrilação ventricular sustentada;
• Bloqueio de ramo.
O exame físico também pode conferir achados que tornam o paciente uma priori-
dade para monitorização na unidade de terapia intensiva, a saber:

• Alteração recente no diâmetro pupilar


• Queimadura em mais de 10% da massa corpórea;
• Anemia grave;
• Obstrução das vias aéreas;
• Coma;
• Convulsões;
• Cianose;
• Tamponamento cardíaco.

Hora da revisão! Os principais sinais de tamponamento cardí-


aco são fornecidos pela tríade de Beck composta por hipofonese das bulhas e
sons cardíacos, hipotensão arterial e estase de jugular. Além disso, pacientes
com tamponamento cardíaco também podem apresentar aumento das frequ-
ências respiratórias e cardíacas, dor torácica, queda do nível de consciência e
pulsação paradoxal (pulso diminui ou desaparece durante a inspiração).

Os achados dos exames de imagem como ultrassonografia e tomografia compu-


tadorizada que tornam o paciente grave e consequentemente requer sua internação
na UTI são:

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• Aneurisma ou dissecção de aorta;
• Líquido livre abdominal e/ou pélvico;
• Rotura de vísceras;
• Apendicite aguda complicada com abscesso e/ou rotura;
• Gravidez ectópica/ cistos rotos;
• Colangite;
• Úlcera complicada (endoscopia digestiva alta);
• Pneumotórax ou pneumoperitônio (Raio-X);
• Embolia pulmonar;
• Acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico;
• Hematoma intracraniano (intra ou extra-axial);
• Endocardite com sinal de disfunção;
• Complicação mecânica do IAM;
• Derrame pericárdico importante.
Esses modelos de admissão podem coexistir, a depender da administração do
hospital, não existindo um modelo preferencial, visto que cada paciente deve ser ava-
liado considerando suas prioridades e particularidades.

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ADMISSÃO
NA UTI

MODELO DE PARÂMETROS
MODELO DE PRIORIZAÇÃO MODELO DE DIAGNÓSTICOS
OBJETIVOS

DIAGNÓSTICOS
PRIORIDADE DE 1 A 5 SINAIS VITAIS
ESPECÍFICOS
DADOS LABORATORIAIS
CRITÉRIOS
NEUROLÓGICO ELETROCARDIOGRÁGFICOS
EXAME FÍSICO
RESPIRATÓRIO

CARDIOVASCULAR

ABDOME

DISTÚRBIOS
ENDÓCRINOS

DIVERSOS

4. EVOLUÇÃO MÉDICA E EXAME


FÍSICO NA UTI
A evolução médica na UTI difere da evolução na enfermaria comum especialmen-
te pelo fato de que, como os pacientes de UTI são graves, normalmente eles não são
capazes de fornecer a história clínica e outras informações que são requisitadas
durante o exame, fazendo com que seja necessário colher a história do prontuá-
rio, familiares/acompanhantes e dos profissionais que atenderam este paciente
previamente.
O exame físico na UTI é diferenciado porque é auxiliado pelas ferramentas de mo-
nitorização inerentes à UTI, mas vale ressaltar que essas ferramentas não excluem
de forma alguma o exame físico do paciente na UTI e devem ser consideradas parte
do paciente, estando presentes na descrição do exame físico. Outra especificidade

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da evolução e exame físico na UTI é que os pacientes mudam rapidamente, ou seja,
os profissionais precisam estar atentos aos detalhes.
Enquanto na enfermaria comum se utiliza o método SOAP para realizar a evolução
dos pacientes, o exame clínico na UTI é feito por sistemas, que é basicamente o mé-
todo SOAP, porém dividido por sistemas: geral (preferencialmente no início), neuroló-
gico, cardiovascular, gastrointestinal, urinário, hematológico e infeccioso.

Saiba mais! Método SOAP: S de subjetivo, identificando as quei-


xas, história e evolução nas últimas 24 horas, O de objetivo, referindo-se ao
exame físico, laboratoriais e de imagem; A de avaliação, onde se descreve a
impressão médica do estado do paciente, e P de planos e condutas, onde entra
a prescrição médica etc.

No exame físico geral devem ser descritos os eventos mais relevantes que acon-
teceram nas últimas 24 horas, juntamente com um resumo da história do paciente
e dos procedimentos mais importantes que passou durante a internação hospitalar
dentro da UTI.
No exame do sistema neurológico é avaliado o nível de consciência do paciente,
que muitas vezes está sedado/inconsciente, e para isso existem escalas de sedação
e analgesia, sendo a escala de RASS a mais utilizada. A Escala de RASS (Richmond
Agitation Sedation Scale) é uma escala com variação de +4 a -5, que classifica o nível
de sedação e analgesia do paciente a partir de alguns sinais descritos abaixo:

Escala de RASS
PONTUAÇÃO DESCRIÇÃO

+4 Combativo, violento, representa risco à equipe

+3 Conduta agressiva, retirada de tubos/cateteres

+2 Movimentos desproporcionais frequentes, briga com o ventilador

+1 Ansioso, apreensivo, não agressivo

0 Alerta, calmo

-1 Facilmente despertável, mantendo contato visual > 10 segundos

-2 Despertar precoce ao estímulo verbal, mantendo contato visual <10 segundos

-3 Movimentos e abertura ocular ao estímulo verbal, sem contato visual

-4 Sem resposta ao estímulo verbal, mas apresenta resposta ao estímulo físico

-5 Sem resposta ao estímulo verbal ou físico

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Também é avaliado no exame neurológico se o paciente tem dor, que precisa ser
classificada através de uma escala numérica (0 a 10) nos casos em que o paciente
está responsivo, e nos pacientes que estão sedados, inconscientes em ventilação
mecânica, por exemplo, deve-se utilizar outros métodos para classificar a dor, sendo
as escalas CPOT e BPS as mais utilizadas, que avaliam a inquietude do paciente, mo-
vimentos dos membros superiores, fáceis de dor (caretas) e a interação do paciente
com o ventilador mecânico. Pacientes com má interação com o ventilador mecânico
fazem caretas e movimentam-se; eles apresentam mais probabilidade de estarem
com dor.
O exame neurológico em UTI avalia ainda a presença de delirium, que está asso-
ciado com maior morbimortalidade, sendo a ferramenta mais utilizada para isso o
CAM ICU (Confusion Assessment Method for the ICU), o qual possui 4 critérios, os
quais devem ter pelo menos 3 preenchidos pelo paciente para que seja diagnostica-
do o delirium, sendo os critérios 1 e 2 obrigatórios:

Critérios para Delirium: CAM ICU


1. Alteração aguda ou flutuação no estado mental: 2. Desatenção: avaliado pelo mnemônico
avaliar se houve mudança no estado mental basal ou SAVEAHAART ou CASABLANCA, que deve ser falado
flutuação no estado mental nas últimas 24 horas. Se para o paciente o mesmo deve apertar a mão do mé-
não houver nenhum dos dois, descarta-se o delirium, dico quando falar a letra A. Se o paciente errar menos
se houver, avalia-se o critério 2. de 3 vezes, não há delirium.

4. Pensamento desorganizado: avalia o conteúdo do


3. Alteração no nível de consciência: avalia o RASS
pensamento fazendo 4 perguntas óbvias para o pa-
atual, caso o RASS seja diferente de 0, em conjunto
ciente (Ex: o céu é azul?) ou pedindo que este obedeça
com outros 2 critérios acima positivos, há presença de
comandos (Ex: levante dois dedos.). Se o paciente
delirium. Se o RASS for 0, deve-se avaliar o critério 4.
errar mais de 2 perguntas é indicativo de delirium.

Além desses critérios mencionados sobre o exame neurológico na UTI, os outros


pontos do exame neurológico habitual também devem ser avaliados, como pupilas,
força muscular, reflexos, sensibilidade, e análise de exames complementares do sis-
tema neurológico.
O exame cardiovascular se inicia com a análise dos sinais vitais (pulsos, frequên-
cias cardíaca e respiratória, pressão arterial e temperatura), após o que são avalia-
dos os parâmetros de perfusão tecidual (lactato, SVO2, tempo de enchimento capilar,
mottling score). Nessa parte do exame também devem ser descritas as drogas vaso-
ativas que estão sendo usadas, além dos dados de monitorização de débito cardíaco
e fluidorresponsividade, exames complementares e todos os outros dados do exame
cardiovascular habitual.
No exame do sistema respiratório, a primeira coisa que se deve descrever é se o
paciente está em ventilação mecânica ou espontânea. No paciente em ventilação
espontânea, deve-se descrever o padrão respiratório, a frequência respiratória, a
utilização ou não de suporte de oxigênio (Venturi, cânulas, máscara não reinalante

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etc.), se há uso ou não da musculatura acessória (sinais de desconforto respiratório),
secreção (descrever padrão) e os dados dos exames de imagem ou laboratoriais que
possam ter sido realizados. Já nos casos de pacientes em ventilação mecânica, de-
ve-se descrever o modo ventilatório, o grau de suporte ventilatório (Delta), o volume
corrente, a pressão de platô e pico, PEEP e assincronia (boa ou má interação do pa-
ciente com a ventilação mecânica).
No exame do sistema urinário deve-se descrever a diurese, o balanço hídrico, as
escórias nitrogenadas (descrever padrão), distúrbios ácido-base, uso ou não de diu-
rético, se há necessidade de terapia de substituição renal (descrevendo o método).
Sobre o sistema gastrointestinal, é descrito a dieta (jejum, dieta oral/enteral/
parenteral e meta calórica), evacuações (descrever padrão) e uso ou não de medi-
camentos laxantes, utilização ou não de drenos/sondas e presença ou não de osto-
mias e/ou feridas cirúrgicas. Nessa parte do exame também é importante sinalizar
se o paciente está fazendo profilaxia de lesão aguda na mucosa gástrica (LAMG) e
controle glicêmico, além, é claro, de descrever o exame físico habitual do abdome e
os exames relevantes do aparelho gastrointestinal.
Sobre o sistema hematológico, deve-se descrever hemoglobina e hematócrito,
coagulograma, plaquetas, se recebeu transfusões, se há sangramentos e se está
fazendo profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV). Por fim, sobre os parâmetros
infecciosos, é analisado a curva térmica, descrevendo se houve febre, além dos pa-
râmetros de infecção (leucograma, PCR etc. e a variação desses exames), e uso ou
não de antibióticos (identificar o dia de início do antibiótico e as culturas realizadas).
A ordem dos sistemas não precisa necessariamente ser descrita como acima,
porém é importante que o profissional desenvolva sua sequência de avaliação, bus-
cando não esquecer de analisar nenhum ponto. O exame físico do paciente na UTI
termina com a impressão geral do paciente, por exemplo: “Paciente evoluiu com me-
lhora clínica e laboratorial após procedimento de lavagem gástrica realizada no dia
anterior” e por fim, são descritos os planos terapêuticos e as condutas terapêuticas
tomadas em relação aos dados apresentados na evolução.

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HISTÓRIA E EVENTOS
GERAL
RELEVANTES DAS ÚLTIMAS 24H

SINAIS VITAIS, PARÂMETROS DE


PERFUSÃO TECIDUAL, DROGAS
CARDIOVASCULAR
VASOATIVAS, MONITORIZAÇÃO DO DÉBITO
CARDÍACO E FLUIDORRESPONSIVIDADE

CURVA TÉRMICA
INFECÇÃO PARÂMETROS INFECCIOSOS
ANTIBIÓTICOS

DIURESE
BALANÇO HÍDRICO
URINÁRIO
DISTÚRBIOS ÁCIDO-BASE
EXAME TERAPIA DE SUBSTITUIÇÃO RENAL
FÍSICO
NA UTI
HB E HEMATÓCRITO, COAGULOGRAMA,
HEMATOLÓGICO PLAQUETAS, TRANSFUSÕES,
SANGRAMENTOS, PROFILAXIA DE TEV

VENTILAÇÃO MECÂNICA
RESPIRATÓRIO X
VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA

DIETA, EVACUAÇÕES,
DRENOS/SONDAS/OSTOMIAS/FERIDAS
ABDOME
CIRÚRGICAS, PROFILAXIA DE LAMG,
CONTROLE GLICÊMICO

• NÍVEL DE CONSCIÊNCIA (ESCALA RASS)


NEUROLÓGICO • DOR
• DELIRIUM (CAM ICU)

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5. ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
As necessidades psicossociais do paciente devem ser uma consideração impor-
tante na UTI. As consequências psicológicas da doença crítica e seu tratamento têm
um impacto profundo no resultado do paciente. Os principais fatores incluem a falta
de controle do paciente no ambiente local, grave interrupção do ciclo de vigília, in-
capacidade de se comunicar facilmente e rapidamente com prestadores de cuida-
dos intensivos, dor e outros tipos de desconforto.
Incapacidade de se comunicar com membros da família, bem como a preocu-
pação com a situação do emprego, atividades da vida diária, finanças e outros as-
suntos aumentam ainda mais os custos emocionais de estar gravemente doente. O
intensivista e os outros membros da equipe devem prestar muita atenção a essas
questões e devem considerar problemas psicológicos no diagnóstico diferencial de
um estado mental alterado de qualquer paciente. Sedação e analgesia adequadas
são obrigatórias para preservar o equilíbrio do conforto com a avaliação do paciente
e as necessidades de interação.

6. ALTA DA UTI
A alta da UTI depende de uma série de critérios que consideram a resolução das
causas que levaram à internação na unidade de terapia intensiva, com estabilização
e/ou reversão das possíveis disfunções orgânicas agudas. Em outras palavras, o
paciente sai da UTI quando seu quadro se torna menos grave e pode ser tratado e
acompanhado na enfermaria comum, devido à menor necessidade de monitorização
e probabilidade diminuída de necessidade de intervenção imediata, ou seja, o pacien-
te não deve estar utilizando nenhum recurso exclusivo de UTI.
A estabilidade clínica e laboratorial que permite a alta da UTI deve se manter por mais
de 24 horas e deve haver concordância e comunicação entre a equipe assistente e o mé-
dico que irá continuar o acompanhamento desse paciente na unidade de internação.
Os critérios de admissão e alta de pacientes na UTI devem ser registrados, as-
sinados pelo responsável técnico e divulgados para toda a instituição, seguindo
as legislações e normas institucionais vigentes. Ao receber alta, o paciente deve
possuir um documento padronizado especificando as razões de admissão, os diag-
nósticos realizados, os problemas em curso e os problemas que ainda precisam ser

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resolvidos, e nesse documento também devem constar uma explicação de como as
drogas prescritas ao paciente devem ser administradas após a alta da UTI, quando
o tratamento do paciente passa a ser feito na enfermaria comum. Esse documento
deve fazer parte da rotina de registro do paciente e estar disponível para todas as
equipes clínicas que irão tratar do paciente pós-alta da UTI.

DOCUMENTAÇÃO

ESTABILIDADE
REVERSÃO DO
ALTA DA UTI CLÍNICA E LABORATORIAL
QUADRO DE INTERNAÇÃO
POR MAIS DE 24H

ESTABILIZAÇÃO
E/OU REVERSÃO DAS
DISFUNÇÕES ORGÂNICAS

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Introdução a
Terapia
intensiva

Estrutura Admissão Alta

Resolução
Modelo de do quadro ou
Localização Monitorização Equipe
quartos abertos Classificações Modelos reversão das
estratégica contínua multidisciplinar
e fechados disfunções
orgânicas
Adulto, Priorização
Pediátrica, dos cuidados Estabilidade
Neonatal ou UTI’s clínica/
Especializadas laboratorial
Parâmetros
objetivos por mais
de 24h

Diagnósticos Concordância
da equipe

Documentação

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLDMAN L. et al. Cecil Medicina. 25. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
Manual de medicina intensiva: AMIB. São Paulo: Atheneu, 2016. Vários editores.
ISBN 978-85-388-0532-81.
Oliveira AR de et al. (eds.). Manual da residência de medicina intensiva. 5. ed. rev. e
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Bongard FS, Sue DY, Vintch JRE. Current Diagnosis and Treatment Cri­tical Care. Third
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Madureira CR, Veiga K, Sant’anna AFM. Gerenciamento de tecnologia em terapia
intensiva. Rev. latinoam. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p. 68-75, dezembro
2000.

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