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CAPÍTULO

15
Coccídios
Rita de Cássia Alves Alcantara de Menezes

ciclo biológico o processo de merogonia (etapa


FILO APICOMPLEXA, LEVINE, 1970
proliferativa ou fase assexuada da reprodução).

• Características:
- Os protozoários do Filo Apicomplexa são
Subordem Eimeriorina, Léger. 1911
parasitos intracelulares obrigatórios e se ca­ Durante a etapa de diferenciação (fase sexuada da

racterizam por possuir na extremidade afilada reprodução) o macrogameta (<;') e o microgameta . ' .. ,

do "zoíto" o complexo apical. Este complexo (d) desenvolvem-se independentemente. Após a


:.;.
é composto por um conjunto de estruturas singamia. há a formação de zígoto imóvel. ,-

visíveis apenas em microscopia eletrônica e • Características morfológicas:


que são responsáveis pela penetração na - Zigoto ou oocisto imaturo: estrutura globosa
célula do hospedeiro. Sua presença caracte­ que apresenta lima parede de Inembrana
riza então as formas infectantcs dos proto­ simples ou dupla e contém esporonte (ma­
zoários, que nos coccídios são: esporozoíto. terial central não díferenciado). Úníca fase
merozoíto. taquizoíto e bradizoíto. diploíde do ciclo dos coccídíos.
- Outra característica dos apícomplexa é a Oocisto esporulado: estrutura ovoíde. eliptí­
ausência de cílios. ca ou sub esférica. translúcida. com tamanho
varíado e parede composta por membrana
dupla ou simples. Contém esporocístos e es­
Classe Coccidea ou porozoítos ("zoítus" originados do oocisto e
Sporozoasida, Leuckart, 1879 já na condição haploide) em número variável
conforme o gênero. Pode estar presente cor­
Locomoção por meío de flexão e há presença de fla­ po resídual do oocísto e/ou do esporocis!o.
gelo apenas em microgametas (d) de alguns grupos.
- Esporozoíto. merozoíto. taquizoíto e bradi­
A reprodução compreende duas etapas: proliferatíva
zoíto: todos têm formato semelhante ao de
(assexuada) e de diferenciação (sexuada).
meia-lua ou de banana e são as formas
Oocistos contêm esporozoítos infectantes que infeclantes.
resultam da esporogonia (ou processo de esporu­
- Meronte ou esquizonte: estruturas intracelu­
lação). Podem ser homoxeno ou heteroxeno.
lares arredondadas e !,'J'andes. que apresentam
merozoítos (organismos em forma de foice)

Ordem Eucoccidiorida, no seu interior. Embora em número limitado


e definído. pode haver algumas merogonias
Léger e Duboscq, 1910 (gerações de merontes).
Compreende coccídios que parasitam vertebrados - Merozoítos de primeira geração: são os "zoítos"
e/ou invertebrados e que apresentam durante seu (forma ativa dos protozoürios) oriundos dos
142 - Coccídios

merontes de primeira geração. São capazes originando duas células filhas no interior de
de infectar novas células do hospedeiro por­ unla célula rnàe.
que possuem o complexo apical. Como pode - Diferenciação (ou gametogonia ou sexuada):
haver várias merogonias. os merozoítos, con­ ocorre no interior da célula do hospedeiro. A
forme sua origem. podem ser de primeira, etapa de gametogonia tem início quando um
segunda - e assim sucessivamente - gerações. merozoito penetra a célula do hospedeiro
- Macrogameta: estrutura arredondada que para se diferenciar em macrogameta ou mi­
apresenta granulação periférica e um núcleo crogametócito. O primeiro é o gameta femi­
central. Tais grânulos são chamados de grâ­ nino, imõyel, presente de modo isolado na
nulos formadores de parede. exatamente célula parasitada. Já o microgamelócito. em
porque. após singamia. originam a parede outra célula epilelial. irá sofrer urna série de
do zigoto (oocisto). divisões, formando muitos microgametas
fv1icrogametócito: estrutura contendo um (número definido para cada espécie de coc­

resíduo central e muitos elementos pequenos cídio) dotados de lIagelos. portanto móveis.
e biOagelados que são os microgamelas. - Quando os microgamelas (d) estão formados,
Embora de tamanho variável conforme a há o rompimenlo da célula hospedeira e a li­

espécie, apresenta em média 25 a 70m x 18 beração dos mesmos na luz intestinal. Ao


encontrar o macrogamcta (9), ocorre a singa­
a 30m.
mia, com formação de um zigoto diploide
• Fases do ciclo biológico: nas espécies de cocci­
(oocisto nãoesporulado), ljue é eliminado para
dios existe uma alta especificidade. que é obser­
o ambiente junto com as fezes do hospedeiro.
vada tanto quanto ao hospedeiro como em
As infecções por coccidios são consideradas
relação ao órgão e local de infecção.
autolimitantes. j::í que as rncrogonias ocorrem
- Proliferativa (ou assexuada): ocorre no interior
em número limitado e que ao final desta
da célula do hospedeiro e é caracterizada
etapa os merozoitos seguem para diferen­
por sucessivas merogonias. Após a infecção
ciação, singamia e finalmenle liheração dos
via oral, por meio da ingestão dos oocistos
oocistos para o amhiente junto com as fezes
esporulados (ou de cistos tissulares no caso
do hospedeiro.
de ciclos heteroxenos), os esporozoitos, uma
- Esporogonia (esporos = oocislo); ocorre no
vez livres na luz intestinal, penetram nas cé­
ambiente e depende de condições favoráveis
lulas epiteliais, arredondam-se, passando à
de oxigenação. temperatura de (27 a 29°C) e
condição de trofozoito. e então tem inicio
umidade (70 a 80%). O tempo de esporulação
uma série de divisões nucleares antes da
é variável. em geral de dois a três dias, de
divisão do citoplasma; assim é originado o
acordo com a espécie. no entanto. há aquelas
meronte de primeira geração. Dos merontes
como Eimeria lel/ekarti (de equinos) cuja
são liberados os nlcrozoÍtos de primeira ge­
esporulação leva de 15 a 41 dias. Consiste na
ração que irão penetrar eln novas células
fonnaçáo de esporocisto contendo esporozoitos
hospedeiras e repelir o processo. formando
em número definido e caracteristico para
os merontes de segunda geração. Alguns mc­
cada gênero. No gênero Eillleria. os oocistos
rozoítos de segunda geração invadem outras esporulados são tetraspóricos e dizoicos
células íntegras do epitélio e dão início it fase (quatro esporocistos contendo dois esporo­
de diferenciação (sexuada ou gametogõnica); zoitos cada um); já em Isospora. os oocistos
no entanto, a maioria destes rncrozoítos fonna são dispóricos (com dois esporocislos) e os
merontesde terceira geração. Esse processo de esporocistos são telra7.oicos (quatro esporozoi­
merogonia pode se repetir por um nlJmero tos cada), assim como nos gêneros pertencen­
limitado de vezes e definido por espécie, tes à família Sarcocystidae. Lembrando qoe
quando enlão a totalidade dos merozoilos nesta etapa os oocistos se tornam infectantes
após infectar novas células hospedeiras inicia por meio complexo apical dos esporozoitos.
a etapa de formação de gamelas. Em alguns - Os OOCiSIOS. principalmente os esporulados,
gêneros de cDecidias ocorre a endodiogenia, são rTIuito resistentes e pcrmaneCClTI viáveis
que tamhém é Ulna etapa proliferativa Oll as­ no ambiente por longo período, sendo tam­
sexuada, caracterizada pela divisão nuclear bém a forma de dispersão do coccídio.
(occidios - 143

Família Eimeriidae, Minchim, 1903 da bile, ocorre a liberação dos esporozoítos no


intestino delgado. Esses esporozoitos penetram
São descritas mais de 1.000 espécies nesta familia,
nas células da mucosa intestinal, arredondam­
que infeclam vertebrados e invertebrados. Os gêne­
-se e originam os trofozoitos, que passam a
ros de maior importância em 1edicina Veterinária
merontcs. iniciando assim a reprodução as­
são Eimerin e lsospora. As espécies têm um local
sexuada denominada de merogonia (ou esqui­
especifico de invasão, que em geral são as células
zogonia). Alguns merozoitos da segunda
epiteliais de origem endodérmica.
geração penetram em novas células e dão

• Características: início à terceira geração de merontes, outros

- Coccidio com ciclo biológico direto. Os gê­ penetram em células integras do epitélio e dão

neros são diferenciados pelo número de inicio à gametogonia (fase sexuada do ciclo).

csporocistos nos oocistos e o número de cs­ - Os Inicrogmnetas rompeul a célula e vão até

porozoítos no interior dos esporocistos c, o macrogameta para a fenilização (singamia),

conforme a espécie. os oocistos podem apre­ da qual resulta o zigoto que desenvolve uma

sentar Oll não estruturas C0l110 calota polar, parede dupla em torno de si, dando origem

micrópila e corpo residual. A parede pode ao oocisto.


ser lisa, com rugosidades ou protrusões. - Os uucistos rompem a célula e passam à luz
- Mcrogonia c gametogonia nas células do intestinal, indo para o exterior cum as fezes
bospedeiro; já a esporogonia (ou esporula­ na forn1a não infectante, pois não estão
ção) geralmente é exógena (fora do corpo esporulados. No ambiente, dependendo das
do bospedeiro). Microgamelas (d') com dois condições, esporulam em um a cinco dias
ou três flagelos. e se tornanl infectantes.
- Na Figura 15.1 está ilustrado o ciclo básico
Gênero Eimeria, Schneider, 1875 das espécies do gênero EÍmerÍa.
(Pronúncia: Eimêria) • Tipos de ciclo biológico: como exemplos, estão
::: ..
" ,

• Características morfológicas: oocistos do gê­ aprcsentadosdois tipos de ciclo do gênero i:'illleritr. ."
nero i:'illleria, quando chegam ao ambiente - Eillleria lellella: espécie mais patogênica do
junto com as fezes (não esporulados), possuem gênero, infecta os cecos das aves (GallllsgaIIl1s) ,
o esporonte, cuja localização é central. Após principalmente frangos de corte. Nesse ciclo
esporulação, apresentam quatro esporocistos,
cada um com dois esporozoitos.
• Ilospedeiros: mamiferos, aves, répteis, anfibios
c peixes.
• Ciclo biológico:
- A maioria é parasito das células dos intesti­
nos (delgado e grosso), embora outros órgãos.
como figado (l;'. sliedae em coelhos), útero
(I:'. I/eilzi em impala) e rins (E. lrul/cata em
gansos), possam ser infectados.
- Os oocistos não esporulados são eliminados
com as fezes do hospedeiro. No meio am­
biente ocorre a esporulação dos oocistos,
em condições adequadas de oxigenação,
temperatura e umidade. O tempo de espo­
fulação varia de acordo com a espécie e as
condições ambientais.
- O ciclo das espécies do gênero Eillleria é Figura 15.1 - Esquema representando o ciclo monoxeno
das espécies do gênero Eimeria. As etapas proliferativa
monoxcno, então o hospedeiro se infecla ao
e de diferenciação (merogonia e gametogonia, respecti­
ingerir o oocisto esporulado, que na moela
vamente) ocorrem no epitélio intestinal do hospedeiro,
ou estômago é destruido e são liberados os enquanto a esporogonia é exógena. A infecção é oral
esporocistos. Depois, pela ação da tripsina e por meio da ingestão dos oocistos esporulados.
144 - Coccidios

ocorrem três merogonias. em que a partir A patogenia depende da espécie de Eimeria,


da segunda geração os merozoÍtos seguem do número de oocistos ingeridos, da idade do
dois caminhos, parte deles inicia a fase de hospedeiro, da presença e gravidade de ou­
diferenciação. com formação de gametas (de tras doenças, da eficácia do cuccidiostático
maneira independente formam os macroga­ e do estado nutricional do animal.
metas e os microgametócitos) e os demais - 1\0 desenvolvimento das fases do ciclo bio­
seguem sem diferenciação e formarão os lógico, esses coccidios destroem as células
merontes de terceira geração, que por sua intestinais. causando diarreia sanguinolenta.
vez irão todos se diferenciar, dando assim o e assim acarretalll diminuiçào da resistência
caráter autolimitante da infecção. orgânica, baixa conversão alimentar, perda
- Eimeria bovis: espécie considerada como de peso e predispõem os animais à infecção
uma das mais patogênicas do gênero que bacteriana secundária. Nos hospedeiros.
infecta bovinos e está bastante difundida esses protozoários causam doenças típicas
pelo mundo. Em seu ciclo ocorrem duas de filhotes com diarreia. perda de peso e, em
merogonias. A primeira na parte posterior casos graves. óbito.
do intestino delgado. originando o macrome­ - A importância econômica reside na morta­
rollle (em torno de 300m) que gera em lidade determinada pela coccidiose, que em
média 120.000 merozoítos de primeira ge­ aves pode chegar a 100%. e principalmente
raçào. Estes, em Slla totalidade, seguem para pela morbidade. Os animais assintomáticos
a segunda rncrogonia que ocorre no intes. mantêm a contaminação ambiental por meio
tino grosso (ceco e cólon). Os merozoitos de da eliminação de oocistos em suas fezes e
segunda geração irão então se diferenciar aqueles que sobrevivem à parasitose muitas
em macrogametas e microgamctócitos, para vezes se tornam antieconômicos devido à
então, finalmente. após singamia, haver a síndrome de má absorção.
formação dos oocistos. - Espécies do gênero Eimeria não infectam
• Importância ctn Medicina Veterinária c Saúde humanos.
Pública: • Diagnóstico:
Espécies do gênero Eimeria infectaol lima - É baseado nos sintomas. devendo também
ampla variedade de hospedeiros. apresen­ ser considerados a idade dos animais acome­
tando grande importância Cln animais de tidos. as condições ambientais e o manejo.
produção. Em geral. a infecção é multiespe­ ;\0 exame parasitológico de fezes, por meio
cífica, sendo os animais jovens mais sensíveis. de método de flutuação, é feita a identifica­
ção dos oocistos (Fig. 15.2) e sua quantificação
por grama de fezes, permitindo verificar a
intensidade da infecção e. sobretudo. estimar
a contaminação ambiental. A fim de esporu­
lar os oocistos para sua identificação especí­
fica. estes deVeJll ser mantidos em soluçào
de dicromato de potássio a 2,5% em tempe­
ratura ambiente por um período variável, que
em média é de cinco dias. Quando esporulado.
o oocisto de Eimerin apresenta quatro cspo­
rocistos cOln dois esporozoítos no seu interior.
- Para o diagnóstico das espécies que infectam
.,

.-
galinhas, é realizada a necropsia identifican­
do as lesões e a localização dos merontes e
gamontes, que são específicas para as espé­
Figura 15.2 - Oocistos de Eimeria sp. em solução
cies que parasitam essas aves.
satorada de açúcar (40x). Oocisto não esporulado (1).
oocisto esporulado (2), em qoe é possivel visualizar os • Controle da eitncriose:
quatro esporocistos. Observa-se a parede de dupla Lembrar que a higiene é básica na preven­
membrana do oocisto, cuja superficie é lisa. ção de quaisquer infecções. A prática de
(oecidios - 145

born manejo zoa técnico, que inclui boa seguem dois caminhos. Penetram novas
alimentação e o respeito à lotação animal, células intestinais iniciando outra fase asse­
é fundamental. xuada que formará uma segunda geração de
- As instalações devem ser bem-ventiladas merozoitos, ou iniciam a etapa de diferen­
para diminuir a umidade local c quando ciação (fase sexuadaJ, em que os merozoítos
houver o uso de cama, esta deve ser manti­ dtio origem a macro e microgametócitos.
da sempre seca. É importante também pra­ - Os microgametas que estão nos microgame­
ticar a separação dos animais por faixa tócitos saem da célula parasitada e fecundam
etária c estádio de produção, visto que os os macrogametas. formando os zigotos ou
adultos são a principal fonte de infecção para oocistos imaturos. Estes sacrn para o exterior
os jovens. junto com as fezes para no ambiente passarem
- Os comedouros c bebedouros devem ser pelo processo de esporulação (esporogonial.
limpos diariamente e colocados de maneira Na esporogonia, sob condições adequadas de
a evitar que os animais defequenl no seu temperatura, oxigenação e umídade, o oocis­

interior. A adição de coccidiostáticos na to sofre divisão, formando dois esporocistos,

ração ou na água é indicada para suínos, contendo quatro esporozoítos cada um.
aves e coelhos. - A maioria das espécies de Isosporn que infecta

- Em cuniculturas é recomendado que os pássaros tem ciclo biológico clássico, com os

pisos das gaiolas, coelheiras ou cercados estádios endógenos no epitélio intestinal. No

sejam vazados para evitar o acümulo de entanto, há aquelas como I. serilli, parasito

fezes e urina. de canários, que realizam cinco merogonias


em fagócitos mononucleares em diferentes
Gênero Isospora, Schneider, 1881 vísceras (especialmente fígado, baço e pul­ . ' ..

: ','
mões), e duas gerações assexuadas finais e
(Pronúncia: Isóspora)
gametogonia no epitélio intestinal. possuindo
• Características morfológicas: oocistos. quando I
assim um período patente longo ern torno de
esponJlados, possuem dois esporocistos conten­
sete meses.
do quatro esporozoítos cada. Na extremidade
As espécies de Isospuraque infectam passeri­ " •• 1

mais afilada dos esporocistos está presente o formes apresentarn a eliminação de oocistos
corpo de Stieda (visivei à microscopia óptica),
de forma cíclica. sendo as maiores quantidades
por onde são liberados os esporozoítos. obtidas na parte da tarde.
• Hospedeiros: aves e mamíferos eram conside­ • Importãncia em Medicina Veterinária e Saúde
rados hospedeiros de Isospora, mas desde 2005 Pública;
aquelas espécies que infectam mamíferos focaru - Apresentam patogenicidadevariável e podem
,

consideradas por Barta et aI. corno do gênero causar diarreia em filhotes e diminuição no
Cystoisospora. Assim, as espécies de Isospora desenvolvimento, porérTI a infecção é auto­
têm aves, principalmente passeriformes, como limitante.
hospedeiros. - Em alguns casos, como enl canários infecta­
Ciclo biológico: dos por I. serini, ohserva-se depressão, perda
- A infecção ocorre através de alinlentos ou água de peso, penas pálidas c em queda e dificul­
contaminados com oocistos esporulados. No dade respiratória, podendo advir a morte.
tubo digestivo do animal, os esporozoítos saem Espécies do gênero Isospora não infectam
do oocisto e penetram nas células epiteliais hurnanos.
do intestino, onde se arredondam, passando • Diagnóstico:
a ser chamados de trofozoÍlos. - A suspeita de isosporose é baseada nos sin­
- Começa então a etapa proliferativa (fase as­ tornas e sinais clínicos, embora existam ani­
sexuada). Sucessivas meioses vão formando mais com infecção assintomática.
vários nüc!eos para fornuu os merontes (ou - Os oocistos podenl ser visualizados por meio
esquizontes) que contêm os merozoítos. As de exame parasito lógico de fezes. empre­
células invadidas não suportam a pressão e gando método de flutuação, e após esporu­
se rompem, liberando os merozoítos, que lados (como já comentado para o gênero
146 - (occidios

• Características morfológicas:
- Oocistos têm formato sub esférico c são mui­
to pequenos (Fig. 15.4). medindo em torno
de 5!1m. Quando esporulados, contêm quatro
esporozoítos, sem apresentar esporocistos.
- Os microgametas são desprovidos de flagelos .
• Ciclo:
- Este coccídio é considerado um parasito in­
tracelular. mas extracitoplasmático. pois se
adere às mícrovilosidades das células gas­
trointestinais e do epitélio respiratório.
- A ínfecção é oral-fecal por meio da íngestão
Figura 15.3 - Oocisto esporulado de fsospora sp. em dos oocístos esporulados e possivelmente
solução saturada de açúcar (40x). Observam-se os dois
por inalação.
esporocistos e esporozoitos (setas), a parede de dupla
- Ocorre a merogonia na superfície das célu­
membrana e de superficie lisa e o formato subesférico
do oocisto. las intestinais com duas gerações de meron.
tes (que contêm de quatro a oito merozoítos)
e a gaoletogonia com formação de macro e
Eill/eria) é possível identificar a espécie. microgametócitos. Os microgametas fecun­
desde que se conheça com certeza o hospe­ daol os macrogametas originando oocistos
deiro. Na Figura 15.3 é possível visualizar coru quatro esporozoítos que são eliminados
oocisto esporulado de Isospom sp. para o ambiente já infectantes, uma vez que
- Pode-se também fazer o diagnóstico por meio a esporogonia é endógena.
de nccropsia e então visualizar as lesões e - Há formação de dois tipos de oocistos, con­
com exame histopatológico identificar fases forme a parede seja espessa ou delgada.
do ciclo como merontes e ganlontcs. Aqueles de parede delgada podem se romper
• Controle: baseado em higiene. boa alimentação ainda na luz do intestino promovendo assim
e adequada lotação animal por área. Também é a autoinfecção.
recomendado o lISO de co ccidi ostáticos adicio­ - O período pré-patente é rápido e a quantidade
nados à água. de oocistos excretados nas fezes é pequena.

Famílía Cryptosporídíidae, Léger, 1911


Gênero Cryptosporidium, Tyzzer, 1907 • <

(Pronúncia: Cripitosporídium)
• Espécies: existem algumas espécies válidas com
vários genótípos. tendo como hospedeiros ma­
míferos. aves. peixes e répteis. Para a identifi­ •
cação de uma espécie. isolado ou genótipo é
necessária a caracterização morfológica, bioló­
gica e genética.
CryplOsporidillll/ parvIIIIl: mamíferos com
vários genótipos.
- C. Illllris: mamíferos com vários genótipos.
- C. meleagridis: aves. x
x
C. baileyi: aves.
"
,

- C. feUs: gatos.
- C. Cfln is: cães.
- C. llaSOrllm: peixes.
Figura 15.4 - Oocistos esporulados de Cryptosporidium
- C. serpelltis: répteis.
sp. (setas) em solução saturada de açúcar (100x) .
• Hospedeiros: a infecção por Cryptosporidillll/ Observam-se seu tamanho pequeno e a superficie lisa
ocorre em mamíferos, aves, peixes c répteis. da parede.
(occidios - 147

- Na I'igura 15.5 está esquematizado o ciclo bá­


sico das espécies do gênero Cryptosporidillll/.
• Diagnóstico:
- Healizado por meio de exames parasitológi­
cos de fezes, com o emprego de método de
flutuação, em que são visualizatios ao Ini­
croscópico óptico. preferencialmente com
contraste de fase, os oocistos característicos
do gênero. Suas estruturas são de difícil vi­
sualização, exigindo conhecimento e expe­
riência para sua identificação. Fluidos corno
suco gástrico, aspirado pulmonar, ou escar­
ro podem ser examinados quando há pre­
sença de infecção extraintestinal.
- Em esfregaços é possivelutilizar técnicas de
Figura 15.5 - Esquema representando o ciclo monoxe­
colorações como as de Ziehl-Neelsen, aura­
no das espécies do género Cryptosporidium. Todas as
mina e safranina-azul de metileno.
etapas do ciclo (merogonia, gametogonia e esporogonia)
- São utilizadas também técnicas moleculares são endógenas e ocorrem no epitélio intestinal (ou res­
como reação em cadeia de polimerase (PCH, piratório, dependendo da espécie) do hospedeiro. A
po/ymerasedwil' reaerioll) e sorológicas como infecção ocorre por meio da ingestão dos oocistos infec­
tantes (esporulados), embora seja possivel a autoinfecção.
reação de imunofluorescência, teste com an­
ticorpos policlonais fluorescentes e teste imu­
noenzimático (ELISA). . ....

Importãncia em Medicina Veterinária e Saúde mesmo após serem submetidos a processo de


Pública: depuração por mais de 72h. Assim, o esgoto
- Esse cDecidia é causador prilnário de diarreia de origens urbana c agropecuária despejado
,

em mamíferos, distúrbios respiratôrios em aves próximo a estuários constitui urll alto risco de .. r:

e gastrile em répteis e possivelmente em pei­ contaminação por essa espécie, que permane­
xes. É considerada uma infecção parasitária ce viável por longos períodos na água do mar.
oportunista, acometendo principalmente - Ainda não existe terapia eficaz disponivel,
individuos jovens ou imunocomprometidos. sendo realizado o tratamento sintomático e
- Na década de 1970, foram registmdos os pri­ a associação de drogas antibióticas e cocci­
mciros casos de hUlnanos parasitados. e diostáticas.
Cryptosporidilllll foi considerado causador • Controle:
da morte de pacientes infectados com o vinIS - A prevenção e o controle são dificeis frente
da imunodeficiência humana (HIV, 1/lIIIlall às características das espécies desse gênero.
illllllllllodeficiellCY vims). 'esses pacientes como o pequeno tamanho dos oocislOs. os
ocorre a cronicidade devido à autoinfecção. quais já estão esporulados por ocasião de
Em indivíduos imunocompetentes a infecção sua eliminação, a resistência dos oocistos
é autolimitante. aos desinfetantes, o pequeno número de
- Oocistos de Cryptosporidilllll são veiculados oocistos requerido para infecção e outras.
pela água e a principal forma de infecção é - Cuidados com a higiene devem ser redobra­
a fecal-oral. podendo ocorrer de pessoa para dos, sobretudo com a qualidade da água, que
pessoa, de animal para pessoa e de pessoa para consumo humano deve ser tratada,
para animal. Os oocistos são resistentes a filtrada e principalmente fervida. Bebedouros
desinfetantes comumente utilizados no trata­ e comedouros devem ser adequados, em
mento da água de abastecimento e de recre­ altura que impeça que os animais nele defe­
ação e passaram a ser um grande problema quenl ou que sejanl contaminados pela cama.
de saúde pública. Práticas de higiene nos estábulos. incluindo
- OociSIOS de C. parvlIIll foram detectados por remover e incinerar as camas. isolar e tratar
Freire-Santos et ai. em moluscos filtradores, os animais parasitados e evitar coabitação
148 - (oecidios

entre espécies animais, são boas medidas • Ciclo biológico:


para o controle. O destino adequado dado - Tomando como exemplo S. cruz/. o hospedei­
às fezes (uso de esterqueira. fossas, esgoto ro intermediário (bovino) infecta-se ao ingerir
sanitário, etc.l. principalmente de humanos, o oocisto esporulado ou mesmo o esporocis­
também é importante a fim de evitar a con­ to. No intestino, há liberação dos esporozoítos,
taminação ambiental. que penetram nas células endoteliais das ar­
- Insetos também podem veicular oocistos em térias de médio calibre de vários órgãos,
suas patas, portanto, nas residências como principalmente dos rins, passando a se chamar
em restaurantes e criações de animais deve-se trofozoítos. e aí iniciam a primeira geração
sempre ter o cuidado de cobrir os alimentos. merogônica. Os merozoítos originam a segun­
- Difundir a educação sanitária entre os pro­ da geração de merontes nas células endoteliais
fissionais ligados à educação infantil, à re­ de capilares de todo o corpo. Nessa etapa. é
creação e à agropecuária. observada a fase aguda da doença.
- Os merozoítos de segunda geração invadem
Família Sarcocystidae, Poche. 1913 células mononucleadas circulantes e multi­
Na sua biologia estão presentes as fases clássicas plicam-se por endodiogenia (divisão em
do ciclo dos coccídios: esporogoniu. merogonia ou duas células-filhas) e então penetram na
endogenia e gametogonia. Compreende ciclos he­ musculatura cardíaca e estriada e no tecido
teroxenos obrigatório ou facultativo. A esporogonia nervoso. Iniciam então a formação de cistos,
pode ser endógena ou exógena e os oocistos espo­ que na fase inicial contêm metrócitos. Esses
rulados são dispóricos com esporocistos tetrazoicos. organislllos são arredondados e caracterizam
os cistos imaturos. Os metrócitos, por meio
Subfamília Sarcocystinae, Poche, 1913
de endodiogenia, originam os bradizoítos,
Gênero Sarcocystis, Lankester, 1882 que possuem complexo apical, originando
(Pronúncia: Sarcocistis) assiIll. entre dois e três meses. os cistos
O gênero Sareoeyst;s é heteroxeno obrigatório e no maduros que são capazes de infectar o hos­
seu ciclo. então. são necessários dois hospedeiros pedeiro definitivo (cão).
(predador e presa). - O hospedeiro definitivo se infecta ao ingerir
carne crua procedente de animais infectados
• Espécies: existem muitas espécies no gênero ten­ contendo cistos maduros. Na lãmina própria
do como hospedeiros mamíferos. aves e répteis. do intestino delgado ocorre a gametogonia
- Sareoeystis crllzi: cães e bovinos. e a singamia. O processo de esporogonia é
- S. lIirsllta: gatos e bovinos. endógeno e pode haver o rompimento da
- S. IlOmillis: primatas (inclusive humanos) e delgada parede do oocisto. de modo que
bovinos. ambos. oocisto esporulado e esporocisto.
- S. miesclIeriana: cães e suínos. vão para o ambiente com as fezes.
- S. bertmm;: cães e equinos. - É importante lemhrar que no gênero Sar­
• Hospedeiros: eocyst;s a especificidade é alta em relação ao
- Definitivos: os carnívoros são os hospedeiros hospedeiro intermediário e menos restrita
finais ou definitivos (predadores). no que diz respeito ao hospedeiro definitivo.
- Intermediários: herbívoros e onívoros são 1\0 exemplo de S. cruzi, apenas bovinos for­
os hospedeiros intermediários (presas). mam cistos. ao passo que vários canídeos
• Características morfológicas: eliminam oocistos.
Os oocistos esporulados contêm dois espo­ • Importãncia em Medicina Veterinária e Saúde
rocistos com quatro esporozoílOS. Pública:
Nos tecidos do hospedeiro intermediário há - No hospedeiro intermediário, a infecção pode
formação de cistos polizoicos e septados. De ser clinicamente branda ou causar febre in­
acordo com a espécie de Snrcocystis, esses termitente, dispneia. perda de peso e redução
cistos tissulares. cujas paredes variam em apa­ na produção de leite. Hemorragía. necrose e
rência e estnltura, podeIll medir de milímetros edema estão associados à maturação da se­
a alguns centímetros de comprimento. gunda geração de merontes.
••

Coccidios - 149

- Nos hospedeiros definitivos, inclusive hu­


manos, é relatada a presença de anorexia,
desconforto abdominal, náusea e diarreia,
sintomas que cessam em poucos dias, UlTIa
vez que a infecção é autolimitante.
• Diagnóstico:
- Presença de oocistos esporulados ou espo­
rocistos nas fezes dos hospedeiros definitivos
(Fig. 15.6). Mas dependendo do hospedeiro,
cão ou gato, deve-se ter muito cuidado para
não confundi-los com os de outras espécies
dos gêneros Neospora, Hammol/dia, Toxo­
plasma e Besl/oitia.
- Em cortes histológicos podem ser visualiza­
dos os cistos seplados (Fig. 15.7) imaturos ou
Figura 15.7 - Cisto de Sarcocystis sp. em músculo de
não. Com base nas características dos cistos, bovino corado pela hematoxilina-eosina (100x). Obser­
tecido onde está localizado e conhecimento va-se a divisão interna do cisto contendo inúmeros
da espécie do hospedeiro intermediário, é organismos no seu interior.
possível associá-los aos possíveis hospedeiros
definitivos e assim ter um índicativo para
cérebro, na medula espinhal e em parte du
identificar a espécie. Provas biológicas por
sistema nervoso central. Essa espécie de coc­
meio da infecção do possível hospedeiro
cidio tem seu ciclo pouco conhecido, inclusive
definitivo com cistos e consequenle elimina­ . ' ..
qual o hospedeiro intermediário. Sahe-se ..

ção de oociSIOS esporulados ou esporocistos


que gambás são os hospedeiros definitivos
nas fezes permitem a identificação exata da
e que cavalos são hospedeiros aberrantes.
espécie de Sarcocystis em questão.
• Controle: não dar carne crua aos animais. tam­
Médicos veterinários deverTI ficar atentos aos ...

pouco pennitir que tenhmn acesso a carcaças.


casos de mieloencefalite equina por proto­
Os humanos também não devem ingerir carne
zoários, determinados por merontes (e não
crua ou mal-passada. Educação sanitária e des­
sarcocislOS) de S. I/el/rol/a localizados no
tino adequado das fezes também são medidas
importantes para o controle desse coccídio.

Subfamílía Toxoplasmatinae, Biocca, 1956


Gênero Toxoplasma. Nicolle e Manceaux, 1908
(Pronúncia: Toxoplásma)
• Espécie:
- Toxoplasma gOl/dii: é heteroxena facultativa
e seu ciclo pode então ser direto, ou seja,
lOdo completo no hospedeiro definitivo, ou
pode haver hospedeiros intermediários com
formação de cistos polizoicos. Essa espécie
apresenta baixa especificidade quanto aos
hospedeiros intermediários.
• Hospedeiros:
- Definitivos: felideos, principalmente o gato.
Figura 15.6 - Oocistos esporulados de Sarcocystis - Intermediários: mamíferos e aves.
cruzi em solução saturada de açúcar (40x). Observam-se
• Características: oocistos, quando esporulados,
oocistos de parede extremamente delgada contendo
são dispóricos e os csporocistos são tetrazoicos
os dois esporocistos. No interior do esporocisto é pos­
sível observar o corpo residual (seta grossa) e esporozoitos e medem aproximadamente lOm, com for­
(setas finas). mato subesférico. Quando a infecção é aguda,
150 - (occidios

ocorre divisão acelerada pelos taquizoitos, que ou clones (taquizoÍlos) ou os cistos (bradi­
são encontrados livres ou em pseudocistos zoítos). No epitélio intestinal ocorre a ga­
(clnnes). Estes apresentam estrutura alongada metogonia e o oocisto não esporulado vai
de parede definida. À medida que a infecção ao ambiente com as fezes. Em condições
vai se tornando crõnica, são formados os cistos, adequadas de temperatura. umidade e oxi­
que se caracterizam por ter parede bem-defi­ genação ocorre a esporulação, tornando o
nida, estrutura arredondada ou alongada, oocisto infectante.
medindo entre 10 e 100m, onde se encontram - Os felideos podem se infectar por meio de
os bradizoítos (cuja divisão é lenta). oocistos, sem a necessidade de hospedeiro
o Ciclo biolõgico: intermediário, daí serem também chamados
- Os hospedeiros intermediários se infectam de hospedeiros completos pela ocorréncia
ao ingerir o alimento ou a água contaminados das fases enteroepitelial e extraintestina1.
com oocistos esporulados. No trato digestivo Quando a infecção do felideo se dá por meio
há liberação de esporozoitos que pelas vias da ingestão de presas infectadas ou de carne
linfática e sanguínea chegam ao fígado, cé­ contendo cistos ou pseudo cistos, o ciclo
rebro e outros õrgãos (fase extraintestinal), assume um caráter heteroxeno facultativo.
passando a se chamar trofozoítos. Nesses em que ocorrerá apenas a gametogonia no

õrgãos ocorre a fase assexuada da reprodução epitélio intestinal do hospedeiro final.


(endodiogenia). Essa fase é tão rápida que os - Pode haver transmissão transplacentária e
trofozoítos são chamados de taquizoítos, ca­ os hospedeiros intermediários tamhém po­
racterizando a fase aguda da doença. Em dem se infectar através da ingestão de carne

consequência da resposta imune do hospe­ mal-cozida ou tecidos de presas contendo

deiro, os taquizoítos diminuem então sua cistos ou pseudocistos do parasito.


velocidade de reprodução, passando a se - Na Figura 15.8 pode-se observar o ciclo es­

chamar bradizoitos e formam uma parede quemático de T. gOl/dii.


cística como proteção dos anticorpos. o Importãncia em Medicina Veterinária e Saúde
- O hospedeiro definitivo se infecta ao ingerir Pública:
tecidos de animais contendo os pseudocistos A maioria das infecções é assintomática e
ocorrem relativamente poucos casos clínicos.
No hospedeiro intermediário podem ser
observados na fase aguda da infecção febre,
anorexia, prostração, adenopatias, fortes
dores musculares, secreção ocular bilateral,
distúrbios pulmonares e abortamento em
humanos e ovinos. Em humanos, as infecções
congênitas podem determinar a hidrocefalia
ou microcefalia fetal e complicações visuais.
- É importante salientar que:
• Só há risco para as gestantes se a primeira
.. Oocistas infecção por T. gOl/dU ocorrer durante a
Q2) esporulam e
" contaminam gestação.
... ' o ambiente
• Cães, pássaros e outros animais de estima­

ção, tampouco pombos, não transmitem
Figura 15.8 - Esquema representando o ciclo hetero­ a infecção, uma vez que são hospedeiros
xeno facultativo de Toxoplasma gondii. A etapa de intermediários e assim não eliminam 00.
diferenciação (merogonia) ocorre no epitélio intestinal
cistos pelas fezes. Para que isso ocorresse,
do gato, ao passo que a esporogonia é exógena. A in­
seria necessário ingerir a carne ou as vís­
fecção ocorre pela ingestão de vegetais ou carnes
contendo respectivamente oocistos infectantes (espo­ ceras desses animais.
rulados) ou cistos e pseudocistos. É possivel também • Gatos sadios, alimentados com ração co­
a infecção transplacentária. mercial, também não ofereccrn cisco para
Coecidios - 151

os humanos e demais hospedeiros inter­ • Hospedeiros:


mediários. Para que isso ocorra, necessi­ - Definitivos: gatos.
tam estar infectados e durante a fase - Intermediários: bovinos. roedores (camun-
aguda. quando eliminam oocistos com as dongos e ratazanas) e animais silvestres.
fezes. Mas como também os gatos desen­ • Características morfológicas:
volvem imunidade contra T. gondii. não - Oocistos são subesféricos e muito parecidos
eliminam oocistos por mais que duas com os de T. gOlldii e Hallllllol/dia. Quando
semanas em toda sua vida. esporulados. lambém apresentam dois es­
• A maior fonte de infecção para humanos porocistos contendo quatro esporozoítos e
são carnes contendo cistos ou pseudocis­ medem aproximadamente 15m.
tos e ingeridas cruas ou mal-cozidas. Os cistos polizoicos são encontrados em fi­
• Diagnóstico: broblastos e se caracterizam por serem es­
- Presença de oocistos nas fezes do hospedei­ féricos e possuírem parede muito espessa.
ro definitivo. mas deve-se ter muito cuidado • Ciclo biológico:
para não confundi-los com os de outras es­ - O ciclo biológico das espécies do gênero
pécies dos gêneros Hamlllol/dia e Besl/oiria. Besnoitia não é totalmente conhecido.
- Na necropsia. as principais lesões visualiza­ No caso de B. besl/oiri. os bovinos (hospedei­
das são inflamação. necrose. pneumonite e ros intermediários) se infectam somente pela
encefalomielite fetal. ingestão de oocistos esporulados e a fase
- Em cortes histológicos ou em impressões de assexuada da reprodução do coccidio ocorre
tecidos corados pelo Giemsa podem servisua­ na derme e no tecido subcutâneo. O hospedei­
lizados os pseudocistos (ou clones) e os cistos. ro definitivo (predador) se infecla exclusiva­
- Testes sorológicos (teste da aglutinação mo­ mente pela ingestão dos cistos e. após gameto­
dificado. imunofluorescência indireta. he­ gania. são eliminados para o ambiente oocistos
maglutinação indireta e outros) permitem .;..
não esporulados junto com as fezes.
diagnosticar a infecção. bem como saber se • Importância em Medicina Veterinária e Saúde
está na fase aguda ou crõnica. Pública: a ocorrência de B. besl/oiri está des­
• Controle: deve ser feita a limpeza diária de gatis
crita na África, onde tem importância na cria­
e a remoção adequada e diária das fezes. pois
ção de bovinos. sobretudo pela desvalorização
os oocistos necessitam de pelo menos 24h para
do couro em consequência das lesões cutâneas
esporular e se tornarem infectantes. Alguns
produzidas pelos cistos do parasito. Os bovinos
cuidados devem ser rigorosamente cumpridos
infectados apresentam queda de pelos. espes­
para evitar a infecção, como lavar as rnãos antes
samento da pele. edema cutâneo e necrose dos
das refeições. usar luvas para a prática de jardi­
tecidos parasitados.
nagem e ao limpar as caixas higiênicas dos gatos.
• Diagnóstico: em cortes histológicos é possível
não dar carne crua aos felinos, cOlnbater insetos
identificar os cislos de B. beslloiri. que se ca­
(moscas. baratas e formigas) que podem veicu­
racterizam por englobar a célula infectada. e
lar oocistos em suas patas e. finalmente. manter
os bradizoítos localizados em vacúolos parasi­
a ração dos animais em potes bem-fechados.
tMoros. Os cistos são esféricos e podem atingir
Gênero Besnoitia. Henry, 1913 600m de diâmetro e têm parede espessa
(Pronúncia: Besnóitia) (aproximadamente lOm).

O gênero Besl/oiria é heteroxeno obrigatório e no • Controle: impedir que gatos consumam carne

seu ciclo então são necessários dois hospedeiros crua ou mal-cozida e que saiam para caçar. É
(predador e presa). recOInendávcl alinlcntá-Ios apenas com ração.

Gênero Neospora, Oubey. Carpenter, 5peer, Topper


• Espécies:
- Besl/oiria besl/oiri: galo e bovino. e Uggla, 1988
- li. darlil/gi: gato (possivelmente) e lagartos (Pronúncia: Neóspora)
e gambás. • Espécie:

- B. wallacei: gato e roedores. - Neospora cflnill111n - cão.


152 - (oecidios

• Hospedeiros: G-especificos (lgG-especificos) após ingestão


- Definitivo: cão. de ovos inoculados.
Intermediários: bovinos, caprinos, ovinos, - São eliminados poucos oocistos de N. callillum
equinos. caninos. cervídeos e outros animais junto com as fezes dos cães e no ambiente a
silvestres. esporogonia ocorre em aproximadamente
• Características morfológicas: 24h.
- Oocistos são suhesféricos e quando esponl­ • Importância em Medicina Veterinária e Saúde
lados apresentam dois esporocistos contendo Púhlica:
quatro esporozoitos e medem aproximada­ - A infecção por N. callillum em bovinos
mente 12m. Os taquizoiloS podem ser ovoi­ apresenta altas prevalências no mundo e
des ou em forma de "meia-lua" e ficam en­ tem grande importãncia na reprodução des­
volvidos por um vacúo!o parasitóforo. Podem ses animais. Em fêmeas adultas, o aborto
ser encontrados em muitos tipos celulares. pode ocorrer entre três e nove meses de ges­
- Os cistos podem medir até 1071.lITI, são en­ tação e é o único sinal observado da infecção.
contrados no tecido nervoso e têm parede Também pode haver mumificaçiio ou autó­
bem-definida e espessa (em torno de 4!lm), lise fetal, natimortos, bezerros que nascem
embora já tenham sido observadas espes­ doentes apresentando sinais neurológicos
suras inferiores a l!lm. No interior dos cistos como paralisias. incoordenação motora.
estão contidos os bradizoítos, que são alon­ baixo peso, exoftalmia ou olhos de aparên­
gados e apresentam núcleo subterminal. cia assimétrica. Há bezerros que nascem
• Ciclo biológico: assintomáticos, mas infectados de modo
- Em muitos aspectos, o ciclo de N. callillum crônico e a vaca pode abortar várias vezes
se assemelha ao de T. gOlldii. em consequência da neosporosc.
- Os hospedeiros intermediários infectam-se - Outras espécies como ovinos, caprinos, ca­

pela ingestão de água ou alimentos (o que valos e mesmo cães podem apresentar abor­
inclui as gramíneas) contaminados por 00­ to e Inorte de suas crias devido à infecção
cistos esporulados. Embora pouco se saiba por N. Canill1l11l.
sobre seu desenvolvimento e distribuição, - Essa parasitose tem grande significado eco­
os taquizoítos e cistos intracelulares são nômico para a bovinocultura mundial. tra­
encontrados nos tecidos dos hospedeiros, duzido por prejuizos diretos (feIOS perdidos)
principalmente no cérehro. Nessa fase asse­ e indiretos (assistência veterinária, custo do
xuada da reprodução do coccidio pode diagnóstico, perda na produção de leite, etc.).
ocorrer a transmissão transplacentária. - Já em cães jovens. a nlaioria dos casos de
- O cão se infecta ao ingerir os tecidos dos neosporose é consequência da infecção con­
animais (hospedeiros intermediários) con­ gênita. São observados distúrbios neuronlUS­
tendo cistos de N. callinllm, embora a infec­ culares, paralisia dos memhros posteriores e
ção também possa ocorrer por meio da encefalo miei ite.
ingestão de oocistos esporulados. Assim, o - Não há relatos de infecção em humanos.
cão pode ser considerado o hospedeiro Outra espécie, N. hughesiMarsh, Barr, Packham
completo dessa espécie de coccidio; no en­ e Conrad, 1998, com diferenças moleculares,
tanto, o ciclo enteroepitelial (que inclui a antigênicas e ultraestruturais em relação a
gametogonia) até a formação de oocistos N. callil/um, foi descrita em equino. No en­
ainda é desconhecido. tanto, não está claro se essa espéeie é válida
- Foi demonstrado em infecção experimental ou se é apenas lima variante de N. caninllm
por Furuta et aI. que galinhas podem atuar que também ocorre em cavalos, pois seus
como hospedeiros intermediários, urna vez ooeistos e hospedeiro definitivo ainda não
que vários tecidos das aves estavam parasi­ foram identificados.
tados e ovos embrionados poderiam ser uti­ • Diagnóstico:
lizados como modelo para estudar a biologia - Testes sorológicos como imunoflllorescência
de N. c(lIlinllln, pois cães eliminaram oocistos indireta, aglutinação diretaeo teste imunoen.
e produziram anticorpos imunoglohulina zimático (ELISA) são indicados para detectar
(oecidios - 153

a presença de anticorpos anti-No ctlllillU11l, • Hospedeiros:


viabilizando, inclusive, identificar infecções - Definitivos: gatos e cães.
recentes ou crônicas. Esses testes são indica­ - lnternlediários: caprinos, ovinos e roedores
dos para estudos de prevalência da infecção. (de modo experimental).
- No caso de fetos abortados, exames histo­ • Características morfológicas:
patológicos, sobretudo de cêrebro, fígado e Oocistos são subesféricos e muito parecidos
coração, além de soro sanguíneo para rea­ com os de Beslloilia. T. gOlldiie N. callilllllll.
lização de testes sorológicos, são recomen­ Quando esporulados, também apresentam
dados para um diagnóstico em caso de dois esporocistos contendo quatro esporo­
suspeita de neosporose. sendo a imuno­ zoítos e medem aproxímadamente l2llm.
histoquímica dos tecídos fetais o teste mais - Os cistos polizoicos são encontrados na
eficiente e preferencial. musculatura esquelética. No interior dos
O isolamento e a cultura do agente também cistos estão contídos delgados bradizoítos.
confirmam a presença de N. ClIllilllllll no pro­ • Ciclo biológico:
cesso patológico, assim cu mo técnicas mole­ O ciclo biológico de Hallllllolldia é seme­
culares são aliadas na detecção da infecção. lhante ao de T. gOlldii, mas não apresenta
No exame parasitológico de fezes dos cães estádios extraintestinais nos hospedeiros
infeclados é possível verificar a presença de definitívos e é heteroxeno obrigatório.
pequena quantídade de oocistos de N. ClI­ - Os hospedeiros intermediários se infectam
Ilinllm. no entanto, é preciso atenção para somente pela ingestão de oocistos esporulados
não confundi-los com os do gênero Halll­ e a fase assexuada da reprodução do coccidio
mOlldia e para isso é possível a realização ocorre nos músculos onde são formados os
de provas biológicas como inoculação em cistos. O hospedeiro definitivo (predador)
camundongos e gerbos. infecta-se exclusivamente pela ingestão dos
• Controle:
cistos presentes na musculatura dos hospe­
Considerando que o cão é o bospedeíro de­ deiros inlermedíários (presas) e. após game­
finitivo de N. callill li tll, deve ser evitada a
togonia. são eliminados para o ambiente
presença destes animais em estábulos e em
muitos oocistos junto com as fezes. A esporo­
centros de manejo dos bovinos. As fontes de
gania é cxógena.
água e os comedouros devem ser protegidos
• Importância em Medicina Veterinária e Saúde
da defecação dos cães e isto inclui silos que
Pública:
devem ser cobertos com lonas plásticas logo
- A ínfecção pelas espécies de f{allllllolldia é
após sua abertura.
considerada sem importância clinica. por
- Fetos abortados e restos placentários deverão
não serem consideradas patogênicas.
obrigatoriamente ser enterrados, para pre­
- Não há relatos de infecção em bumanos.
venir o conSllmo pelos cães, assim como
• Diagnóstico:
evitar alimentar esses anirnais com carne
- No exame parasitológico de fezes dos animais
crua ou mal-cozida.
infectados é possível verificar a presença de
- Educação da população no sentido da posse
grande quantidade de oocistos de }/allllllolldia,
responsável. incluíndo o controle da natali­
mas é preciso atenção para não confundi-los
dade por meio da castração de cães nas fa­
com os de N. callillllm em fezes de cães
zendas e vizinhanças.
ou com os de T. gOlldii quando o material
Gênero Hammondia, Frenkel e Dubey, 1975 fecal for oriundo de gato.
(Pronúncia: Amôndia) - Em cortes histológicos é possível identificar

O gênero Hallllllolldia é heteroxeno e no seu ciclo os cistos de Hallllllolldia que, embora não

são necessários dois hospedeiros (predador e presa). sejam septados, se assemelham aos de Sar­
coc)'stis, inclusive por sua localização na
• Espécies: musculatura. Também é possível a realização
- Hallllllolldia //{/1ll1ll0Ildi: gato. de provas bíológicas e o emprego da PCR para
- H. heydomi: cão. o diagnóstico da infecção por I/allllllolldia.
154 - (oecidios

• Controle: considerando que cães e gatos são • Características morfológicas: oocistos de for­
os hospedeiros definitivos das espécies do mato subesférico ou elíptico, apresentando,
gênero Hammolldia e que a infecção desses quando esporulados, dois esporocistos conten­
animais só é possível pela ingestão dos cistos, do quatro esporozoitos (Fig. 15.9). Ausência do
deve-se evitar alimentá. los com carne crua ou corpo de Stieda na extremidade afilada dos es­
mal-cozida, impedir que saiam para caçar, porocistos. Os cistos apresentam estrutura ar- .:S
como também prevenir o consumo de carca­ redondadacom parede bem-definida contendo 
ças, que devem ser enterradas. apenas um organismo com formato semelhante
.

:.
.-

ao de banana, chamado hipnozoito, cujo com- 


Subfamília Cystoisosporinae, Smith, 1981 x
primento mede em torno de 17m. 
Gênero Cystoisospora, Frenkel, 1977
• Ciclo biológico: <
(Pronúncia: Cistoisóspora)
- Apresenta as três fases típicas do ciclo dos
O gênero Cystoisospora foi criado por Frenkel em 1977 coccidios. Os oocistos, após esporulação no
para agrupar as espécies do gênero Isospora que in­ ambiente, infectam os hospedeiros, defini­
fectam carnívoros. Tem como características básicas
tivo ou intermediário, por via oral. Quando
a ausência no esporocisto do corpo de Stieda, ciclo
os esporozoítos chegam ao intestino do hos­
heteroxeno facultativo e a formação de cistos tissu­
pedeiro intermediário, atravessam a parede
lares monozoicos em hospedeiros intermediários.
e por meio da circulação sanguínea oulínfá­
Em 2005, Barta et aI. propuseram que todas as
tica atingem diferentes tecidos, principal­
espécies que infectam mamíferos fossem, de modo
mente Iinfollodos mesentéricos e fígado. Há
mais correto, agrupadas nesse gênero. A argumenta­
formação de um vacúolo parasitóforo e é
ção foi baseada no ciclo heteroxeno facultativo dessas
formado então o cisto monozoico contendo
espécies e na ultraestrutura dos esporocistos que
o esporozoíto que aumenta bastante seu
possuem fraturas ao invés de corpo de Stieda para a
tamanho, o citoplasma se torna granulado e
saída dos esporozoítos.
passa então a ser chamado de hipnozoíto.
- Os cistos são capazes de infectar apenas os
• Espécies:
hospedeiros definitivos e isso ocorre por
- Cystoisospora callis e C. o/lioellSis: cães.
meio da ingestão de tecidos infectados. No
- C. [eUs e C. rivolta: gatos.
- C. suis: suínos. intestino do hospedeiro final há merogonia

- C. belli: humanos. seguida de gametogonia e formação de 00­

• Hospedeiros: cistos que são excretados junto com as fezes.

Definitivos: cães, gatos, suinos e humanos, - O hospedeiro final também pode se infectar
conforme a espécie em questão. pela ingestão de oocistos esporulados e ocor­
- Intermediários: diversos mamíferos. dentre rer então o ciclo enteroepitelial com três
eles, camundongos, cães, gatos, coelhos e merogonias, gametogonia e formação e eli­
suínos. minação de oocistos.
- Acredita-se que por meio da circulação lin­
fática "zoitos" possam infectar felinos du­
rante a amamen taçào.

• lmportãncia em Medicina Veterinária e Saúde


Pública:
- Apesar de serem pouco patogênicas, causam
diarreia em filhotes e diminuição no desen­
volvimento, mas a infecção é autolimitante.
- Na suinocultura, têm importante significado
econômico, pois produzem enterite catarral
e mortalidade de leitôes lactentes nas duas
Figura 15.9 - Oocisto esporulado de Cystoisospora SI'.
em solução saturada de açúcar (40x). Observam-se os primeiras semanas de vida, ainda que não
dois esporocistos superpostos com corpo residual pre­ haja eliminação de oocistos nas fezes dos
sente (seta grossa) e os esporozoítos (setas finas). animais acometidos.
Coecidios - 155

- Em humanos imunocompetentes obser­


vam-se diarreia, vômito, desconforto abdo­
.I
minal, desidratação, perda de peso e cefaleia, '!
,

mas a infecção é autolilnitante. Em pacien­
. ,

, \s
tes imunocomprornctidos, os sintomas são
,

os mesmos, porém mais intensos e podem ,

ser formados cistos monozoicos de C. belli


em tecidos extraintestinais (Frenkel eC a/.).
- Por meio de infecçôes experimentais em roe­
dores, coelhos e suinos, já foi demonstrado
o efeito patogênico dos cistos nos hospedei­
ros intermediários. Foram observados edema
dos órgãos afetados e baixo rendimento de
carcaça, o que pode ser traduzido em perdas
econômicas quando consideradas as condi­
çôes naturais das criaçôes comerciais.
• Diagnóstico: Figura 15.10 - Fezes diarreieas de eão parasitado por
- Em animais jovens há suspeita da infecção Cystoisospora sp.

devido à ocorrência de fezes diarreicas (Fig.


15.10).
e o microgamonte estão associados e em uma mes­
- Com o emprego de método de flutuação em
ma célula hospedeira. Os microgamontes produzem
exames parasito lógicos de fezes, é possivel
de um a quatro microgametas.
identificar a espécie Cyscoisospora, com base
: "." ,"
nas características morfológicas dos oocistos Família Hepatozoidae, Wenyon, 1926
e no conhecimento da espécie do hospedeiro. ,;;:.
Gênero Hepatozoon, Miller, 1908 L
- Quanto aos cistos tissulares, é necessária a
realização de necropsia e estudo histopato­ (Pronúncia: Epatozúm)
lógico para visualização e identificação dos • Espécies: mais de 300 espécies foram relatadas
cistos e demais estádios do ciclo do coccidio. infectando animais.
• Controle: - Hepacozooll callis e H. americallllm (nos
- Medidas básicas de higiene, alimentação de Estados Unidos): cães.
boa qualidade e em quantidade suficiente - H. procyollis: quati (Nasua Ilaslla).
e, sobretudo, respeito à lotação adequada • Hospedeiros:

nas cfiações são práticas recomendadas no - Definitivos: invertebrados hematófagos como


controle da cistoisosporose. carrapatos, ácaros e insetos. Na infecção de
- Considerando o ciclo heteroxeno facultativo, cães estão envolvidos os carrapatos R/lipice­
deve-se evitar a presença de cães e gatos nas p/w/IIS sallgr1illellS (ninfas e adultos) e algumas
criaçôes comerciais de suínos e coelbos, espécies de Amb/yomma (A. maculnwm, A.
como também evitar que aqueles animais ova/e, A. (/ureolntum e ninfas de A. cajellllense).
comam carne crua ou saiam para caçar, a Intermediários: anfíbios, répteis, aves e ma­
fim de não ingerir cistos eventualmente miferos; nesta classe, a infecção é comum em
presentes nos tecidos de suas presas. roedores e carnívoros. Dentre os animais do­
- Para humanos, é recomendado não ingerir mésticos. os cães são comumente infectados.
carne crua ou mal-cozida, beber água tra­ - A maioria das espécies de Hepacozooll apre­
tada e filtrada e fazer uso de vasos sanitários senta baixa especificidade, tanto pelo hos­
cujo destino das fezes seja fossa ou esgoto pedeiro intermediário como pelo definitivo.
sanitário. • Localização: em geral, os gamontes parasitam
eritrócitos. mas em mamíferos e aves é comum
Subordem Adeleorina. Léger, 1911 as espécies de Hepatozooll serem encontras em
Presença de sizigia durante o desenvolvimento dos leucôcitos. O desenvolvimento merogônico de
gametas. Nesse processo (sizigia), o macrogameta H. americanurn ocorre nos músculos cardíaco
156 - (occidios

e esquelético; já os gamontes de H. canis e H. na parede intestinal e através da corrente


(/mericatlllm são encontrados nos neutrófilos sanguínea passam ao haço, linfonodos,
e monócitos dos cães. Nos hospedeiros inver­ pulmões, músculos (f/. americwllIm), fígado
tehrados, os oocistos estão localizados na he­ e medula, onde fazem a merogonia. Nesses
mocele envolvidos pela hemolinfa. órgãos ocorrem várias gerações de merontes.
• Características morfológicas: Em seguida, os merozoítos penetram nos


Existem os macro e os micromerontes. cuja leucócitos circulantes e passam a gamontes; r-


x
diferença não está no tamanho. mas sim no nesta etapa, o ciclo fica paralisado até que 'f


número de merozoítos produzídos. Os ma­ o coccidío atínja o trato digestivo do hospe- 


cromerontes originam poucos Inerozoítos, deíro invertebrado. x
x

ao passo que os micromerontes muitos me­ Quando a infecção é causada por f/. ameri- 
rozoítos e estão localizados no baço, medu­ Call1l111, são formados nlerontes com apa­
la óssea, fígado e, no caso de H. americallllln, rência sugestiva de cebola e consequente
nos músculos. Os gamontes estão localizados formação de cistos musculares, levando a
no interior dos neutrófilos e monócitos e uma patogenia mais grave.
são estruturas alongadas de formato retan­ - O carrapato infecta-se ao ingerir sangue
gular e bordas arredondadas, contendo contendo os gamontes e estes, livres, asso­
núcleo central e compacto. cíam-se em sizígia. Após fecundação, os
- Os oocislOs são grandes (em torno de 1 ()Om) oocinetos (zigotos móveis) resultantes atra­
e contêm entre 30 e 50 esporocistos com 16 vessam a parede intestinal e permanecem
csporozoítos e um resíduo cada um. na hemocele do carrapato. Aí aumentam
• Ciclo biológico: bastante de tamanho e se tornam oocistos,
- O cão se infecta ao ingerir o carrapato que sofrendo então o processo de esporogonia.
contém espnrocistos na sua cavidade cor­ - A infecção do hospedeiro intermediário
poral. Ocorre destruição dos esporocistos e ocorre quando o cão, ao se coçar com o uso
liheração dos esporozoílOs, que penetram da boca e dos dentes, ingere o carrapato
contendo os oocistos (Fig. 15.11).
• Importância em Medicina Veterinária e Saúde
Pública:
Carrapato contamina.se picando cão infectado - É uma parasitose assintOlnática, encontrada
geralmente com outros agentes como Ba­
besia e Ellrlicllia. No entanto, quando há
infecção por H. alllericat/lllll, é observada
doença debilitante e frequentemente fatal.
Esta espécie tem sua ocorrência descrita nos
Estados Unidos.
- Há relato de Shuikina ,,( aI. da detecção do
gênero Hepatozooll em pacientes humanos
na Rússia.
• Diagnóstico:
- Nos esfregaços sanguíneos corados pelo
Merogonia Giemsa, observam-se os gamontes com ci­
no cão toplasma fracamente azulado e o núcleo
Liberação dos esporozoítos
arroxeado bem escuro, localizados nos neu­
trófilos e monócitos. No entanlo, a visuali­
Figura 15.11- Esquema representando o ciclo heteroxeno zação pode se tornar difícil quando esses
de Hepatozoon canis. No cão ocorre a etapa proliferativa gamontes estão livres no sangue, sendo
(merogonia) em diferentes tecidos e a formação dos
então confundidos com as plaquetas.
gamontes nos monócitos. O hospedeiro invertebrado
- Também podem ser feitas necropsia, biop­
se infecta ao se alimentar nos cães parasitados e em
seguida ocorre a sizigia e a esporulação dos oocistos sia muscular e sorologia, principalmente

que migram para a hemocele. A infecção do cão ocorre quando houver suspeita de infecção por f/.
pela ingestão do carrapato infectado. americallum.
(occidios - 157

• Controle: visto que os carrapatos e outros inver­ FREIRE-SA:\iTOS, E; OTEIZA-LÓPEZ, A. l.; VERGARA.(,\ST!­
tebrados hematófagos são os hospedeiros de­ BLA:--JCQ, C. A. el aI. Detectiol1 of Cryptosporidillm oocysts
in bivalve molluses destined for hllman conslImption. /.
finitivos do coccídio, deve-se manter controle
Parasitol., V. 86, p. 853-854. 2000.
dessas infestações, No caso de cães, identificar
FHENKEL, I. K.; SILVA, M. B. O.; SALDANHA, J. C. cl aI. Presença
e tratar os infectados por Hepatozooll. extra-intestinal de cistos unizáicos de /SOSpOf{l belJi em
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