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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

CORTISOL E EXERCÍCIO: EFEITOS, SECREÇÃO E METABOLISMO


1
Juliano Ribeiro Bueno
1
Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa

RESUMO ABSTRACT

A prática freqüente de exercício físico traz Cortisol and exercise: effects, secretion and
inúmeros benefícios. O exercício modula uma metabolism
série de reações orgânicas, contudo os efeitos
do exercício sobre os níveis e metabolismo do Physical exercise brings several benefits to its
cortisol ainda não estão totalmente practitioner. Exercise modulates several
esclarecidos. Objetivo: Realizar uma revisão organic reactions; however the effects of the
bibliográfica sobre os efeitos do cortisol no physical exercise on the level and metabolism
exercício sua secreção e metabolismo. of cortisol are not completely clear. Objective:
Revisão de literatura: Tem sido demonstrado To review the literature on the effects of
na literatura científica que o cortisol age como cortisol secretion in exercise and metabolism.
um antagonista fisiológico da insulina, por Literature review: It has been shown in
promover a quebra das moléculas de scientific literature that cortisol acts as a
carboidratos, lipídeos e proteínas, desta physiological antagonist of insulin, and
maneira mobilizando as reservas energéticas. promotes carbohydrates, lipids and proteins
Isto aumenta a glicemia e a produção de cleavage thus mobilizing energetic storages. It
glicogênio pelo fígado. Uma vez que o cortisol increases glicemia and the liver glycogen
estimula a proteólise, seu aumento pode production. Since cortisol stimulates
determinar a atrofia muscular e diminuição da proteolysis, the cortisol increasing could lead
força, com conseqüente efeito negativo no to muscular atrophy and strength decreases,
rendimento esportivo. A ação muscular do with negative consequences to the sportive
cortisol é ambígua: contribui para o performance. The skeletal muscle action of
catabolismo e perda muscular, mas, cortisol is ambiguous: it contributes to
simultaneamente, na ausência deste hormônio carbohydrate and muscle loss, but
a contratilidade dos músculos esquelético e simultaneously, without cortisol the skeletal
cardíaco é reduzida. Este efeito pode dever-se and cardiac muscle contraction is reduced.
à indução da síntese de mediadores ou This effect could be due to the induction of
receptores como a acetilcolina e os receptores mediators or receptor synthesis, such as
ß-adrenérgicos, respectivamente, que é acetylcholine and -adrenergic receptor,
exercido de forma constitucional, constitutionally and permanently by the basal
permanentemente, por concentrações basais corticoid concentration. The catabolism and
de corticóides. O catabolismo e perda muscle loss only occur when corticosteroids
musculares verificam-se na presença de níveis levels are high. Physical exercise induces
elevados de corticosteróides. O exercício cortisol secretion increasing by the HPA axes
induz aumento da secreção de cortisol, por modulation. Conclusion: Although the
estímulo do eixo HPA. Conclusão: Embora, o increased level of cortisol can produces side
aumento de cortisol possa produzir efeitos effects, physical training induces the
colaterais, o treinamento físico induz o development of diverse mechanisms to protect
desenvolvimento de diversos mecanismos cells and tissues from the cortisol deleterious
para proteger os tecidos de tais efeitos effects. So that the organism become less
deletérios. Com isto o organismo torna-se responsive to stress.
menos responsivo ao estresse.
Key words: Exercise, Cortisol, Stress
Palavras-chave: Exercício, Cortisol, Estresse
Endereço para correspondência:
1-Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL- juliano_rb379@yahoo.com.br
MG.

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INTRODUÇÃO para o organismo. Assim, neste trabalho será


estudada a alteração do cortisol mediada pelo
O exercício físico tem um papel exercício físico e verificada esta aparente
fundamental na melhoria de vida do ser controvérsia entre os efeitos benéficos e
humano. Assim sendo sua prática vem maléficos do aumento de cortisol, induzidos
conquistando cada vez mais, grande número pelo exercício.
de adeptos. Mas é importante ressaltar que
para a prática eficiente do exercício físico CORTISOL: SÍNTESE E ATIVIDADE
sejam respeitados alguns princípios como
volume, intensidade e duração, variáveis que Segundo Mcardle, Katch e Katch
determinam a qualidade e os benefícios do (2008), o cortisol ou hidrocortisona, é o
exercício físico. principal glicocorticóide produzido pelo córtex
Sabe-se que o exercício físico quebra da supra-renal (10-20 mg diários), que está
a homeostase alterando o sistema fisiológico envolvido na resposta ao estresse, aumento
causando adaptações metabólicas, hormonais da pressão arterial e da glicose do sangue,
e neuromusculares. Segundo Wilmore e Costil além de suprimir o sistema imune. Após a
(2001) o exercício físico pode ser intensificado síntese, o cortisol passa para a corrente
mediante o aumento da duração ou da sangüínea onde a maior parte (mais de 60%)
freqüência dos períodos de treinamento, de encontra-se ligada a proteínas, incluindo a
acordo com os objetivos e a especificidade de transcortina ou globulina ligante de cortisol
cada pessoa ou atleta. No entanto, muitas (CBG) e a albumina. O restante encontra-se
vezes a relação inadequada de volume e livre no plasma, que é a forma ativa. A
intensidade pode levar a uma situação de concentração sangüínea de cortisol não
estresse excessivo, que não é desejável. permanece constante durante todo o dia e sua
Segundo Mcardle, Katch e Katch vida média é de 80-100 min, por isso a
(2008) o sistema endócrino consiste em um manutenção da concentração sérica depende
órgão hospedeiro (glândula), minúsculas da síntese constante.
quantidades de mensageiros químicos O cortisol é sintetizado a partir da
(hormônios) e um órgão-alvo ou receptor. Será progesterona, o precursor de todos os
observada no trabalho a adaptação e hormônios esteróides. A conversão envolve a
alteração de um mensageiro químico do hidroxilação dos C-11, C-17 e C-21. A síntese
sistema endócrino que tem uma função ocorre na zona fasciculata do córtex da
importante durante o exercício físico intenso e adrenal. O cortisol é a principal secreção do
de longa duração, o cortisol. córtex da adrenal, embora ela também
Os hormônios são substâncias produza aldosterona na zona glomerulosa e
químicas sintetizadas por glândulas hormônios sexuais na zona reticulosa. O nome
específicas, secretadas no sangue e cortisol, deriva de córtex. Na síntese do
distribuídas por todo corpo. O hormônio cortisol a glândula adrenal é estimulada pelo
cortisol é o principal glicocorticóide do córtex lobo anterior da hipófise através do hormônio
da supra-renal que afeta profundamente o adrenocorticotrófico (ACTH). A produção do
metabolismo da glicose, das proteínas e dos ACTH é modulada pelo hipotálamo, através da
ácidos graxos livres (Mcardle, Katch e Katch, secreção por parte do hormônio liberador de
2008). Segundo Wilmore e Costil (2001) as corticotrofina (CRH). O ACTH tem a função de
concentrações de cortisol aumentam durante o regular o crescimento e a secreção do córtex
exercício, assim sendo aumenta o da adrenal, do qual a principal secreção é o
metabolismo protéico, com a liberação de cortisol, além de outros glicocorticóides e
aminoácidos para serem utilizados pelo fígado aminas biogênicas (Canali e Kruel, 2001;
no processo da gliconeogênese. Assim sendo, Leandro e Colaboradores, 2002) (Fig. 1 e 2).
o cortisol tem atividade predominantemente
catabólica, induzindo proteólise e lipólise, com Alteração hormonal, neural, estímulo
aumento da gliconeogênese hepática e hormonal
elevação da glicemia (França e
Colaboradores, 2006). Entretanto, níveis Os efeitos biológicos do cortisol são
elevados de cortisol, bem como sua pleiotrópicos. Sua atuação no organismo é
diminuição podem causar efeitos deletérios antagônica à insulina, por conseguinte sendo

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Figura 1 - Controle hipotálamo-hipófise-adrenal sobre a secreção de hormônios adrenais e gonadais.


Fonte: Marques; Pereira; Aquino Neto, (2003).

Figura 2 - Biossíntese e metabolismo de esteróides endógenos. Fonte: Marques; Pereira; Aquino


Neto, (2003).

análogo ao glucagon.
O cortisol é essencial à vida. Por muito cortisol, como a inibição da secreção de
que se faça terapeuticamente, substituindo as ACTH, são rápidos, manifestando-se em
suas funções, a sobrevida humana após poucos minutos; mas a maioria dos seus
adrenalectomia é breve. O cortisol tem um efeitos precisa de horas ou dias. A quantidade
claro domínio, em relação à corticosterona, na de cortisol presente no sangue sofre variação
sua ação glicocorticóide, intervindo de forma nas várias fases do dia (ritmo circadiano), com
marcada em quase todos os aspectos do os níveis mais altos pela manhã e os níveis
metabolismo, com um efeito global catabólico, mais baixos à noite, várias horas após o início
ou anti-anabólico. Alguns dos efeitos do do sono. Informações sobre o ciclo

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luz/escuridão são transmitidas da retina para prolongados de glicocorticóides acabam por


os núcleos supraquiasmáticos no hipotálamo. diminuir as reservas protéicas corporais,
Mudanças no padrão de secreção de cortisol particularmente no músculo, osso e conjuntivo.
são associadas a níveis anormais de ACTH, O efeito é independente do nível de ingestão
depressão, estresse psicológico e em alimentar, porque os processos de síntese
situações de estresse fisiológico, como estão inibidos (Canali e Kruel, 2001; França e
hipoglicemia, febre, trauma, cirurgias, medo, Colaboradores, 2006).
dor, exercícios físicos e temperaturas Os glicocorticóides são essenciais
extremas. O padrão de secreção varia de para a sobrevivência do ser humano em
indivíduo para indivíduo, mas tende a se períodos de jejum e fome, sem os quais não
manter constante para o mesmo indivíduo. seria mobilizada a reserva lipídica e protéica.
O cortisol, como qualquer esteróide, Contudo, nestes períodos, a sua secreção
atravessa as membranas celulares e atua num sofre aumentos discretos. Um papel
receptor glicocorticóide, presente no semelhante é desempenhado na proteção
citoplasma e núcleo. Este receptor recebe a contra as hipoglicemias associadas à insulina.
designação de receptor de glicocorticóides do Se as ações do glucagon e adrenalina são
tipo II, pertence à superfamília dos receptores responsáveis primários pela recuperação dos
de esteróides, retinóides e hormônios níveis de glicemia, o cortisol cria grandes
tiroideanos. Surge em praticamente todos os reservas de aminoácidos, e, na fase final de
tecidos, mas a sua concentração varia com o recuperação da hipoglicemia, é responsável
tipo celular e com o grau de diferenciação da pela diminuição do consumo de glicose e
célula. O cortisol combina-se com o receptor aumento da sua produção. Adicionalmente, o
de forma não-covalente, alterando a sua cortisol também estimula a liberação de
estrutura. O complexo gerado liga-se ao glucagon e, quando em concentração
elemento regulador dos glicocorticóides considerável, eleva os níveis plasmáticos de
induzindo ou reprimindo a transcrição gênica. glicose, antagonizando as ações da insulina,
É natural que outros mecanismos por oposição de vias intracelulares (Canali e
intracelulares sejam afetados pelo cortisol. Kruel, 2001; França e Colaboradores, 2006).
Apesar de não alterar os níveis de AMPc Apesar de ter uma ação lipolítica fraca
parece haver uma sinergia com este sistema e isoladamente, o cortisol é essencial para que a
muitas das suas ações são mimetizadas por adrenalina, o hormônio do crescimento e
elevação dos níveis de AMPc. O cortisol pode peptídeos lipolíticos provoquem uma
alterar os níveis de GMPc e os fosfolipídidos estimulação máxima da lipólise. Esta ação é
da membrana. Os glicocorticóides provocam complementar à exercida no metabolismo
uma infra-regulação do próprio receptor e a protéico, na resposta ao jejum. Contudo, a
resposta genética é variável de célula para ação no metabolismo lipídico é bem mais
célula (Okutsu e Colaboradores, 2008). complexa, porque também aumenta o apetite
Em relação aos seus efeitos sobre o e a ingestão calórica, é estimulada a
metabolismo, a ação mais importante é facilitar lipogênese e a diferenciação de adipócitos em
a conversão das proteínas em glicogênio. O zonas corporais particulares (adiposidade
cortisol acentua a degradação e inibe a central, com distribuição de lipídeo pelo
síntese protéica, mobiliza sobretudo proteínas abdômen, tronco e face (aspecto
musculares, disponibilizando aminoácidos “Cushingóide” nos hipercortisolismos). Assim,
para a gliconeogênese. Com exceção dos o cortisol é hiperglicemiante e aumenta a
aminoácidos que participam na resistência à ação da insulina (é
gliconeogênese, como a alanina, a ação do diabetogênico), mas os efeitos
cortisol aumenta os níveis plasmáticos de hiperglicemiantes, lipolíticos e cetogênicos só
aminoácidos (Canali e Kruel, 2001; França e são manifestos quando a sua secreção está
Colaboradores, 2006). aumentada, por situações de estresse
Várias enzimas da gliconeogênese marcado e prolongado. Nestas situações, tem
são induzidas, sendo também ativados também marcadas ações catabólicas com
mecanismos de excreção de derivados diminuição da massa muscular (Duclos; Guinot
nitrogenados liberados dos aminoácidos. Este e Le Bouc, 2007).
tipo de resposta, numa intensidade normal, O cortisol inibe a formação de novas
tem benefícios fisiológicos, mas os excessos estruturas ósseas, por redução da síntese de

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colagénio tipo I (componente fundamental da A ação nas respostas imunitária e


matriz óssea), redução da velocidade de inflamatória é complexa; as reações de
diferenciação de células-osteoprogenitoras em vasodilatação endotelial e aprisionamento de
osteoblastos ativos, diminuição da absorção leucócitos circulantes (por ação de
2+
de Ca pelo trato gastrointestinal (por prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos)
antagonismo à vitamina D3) e, finalmente, por são inibidas por indução da lipocortina, uma
aumento da velocidade de reabsorção óssea. fosfoproteína que inibe a actividade da
No tecido conjuntivo, a inibição da fosfolípase A2. Além deste efeito, os
síntese colagênica produz diminuição da glicocorticóides também são responsáveis
espessura cutânea e das paredes vasculares, pela estabilização da membrana lisossômica,
podendo provocar pequenas hemorragias reduzindo a liberação local de enzimas
cutâneas. No sistema vascular é essencial à proteolíticas e hialuronidase. O cortisol reduz a
reatividade arteriolar às catecolaminas e reduz mobilização de leucócitos circulantes por
a produção de prostaglandinas, de ação inibição da produção e ligação de moléculas
vasodilatadora. No global, ajuda a manter a de adesão aos receptores; diminui a atividade
pressão arterial, porque diminui a fagocitária e bactericida dos neutrófilos,
permeabilidade vascular endotelial, evitando embora aumente a fração destas células em
perdas de volume circulante. circulação, por estimulação da sua liberação a
No rim, o cortisol aumenta a taxa de partir da medula óssea (Bauer e
filtração glomerular, por diminuição da Colaboradores, 2000; Mackinnon, 2000;
resistência pré-glomerular e aumento do fluxo Leandro e Colaboradores, 2002).
sangüíneo, diminui a secreção de hormônio O cortisol diminui o número de
antidiurético e a sua ação nos túbulos renais. linfócitos circulantes, particularmente os T
O cortisol é necessário para a formação de auxiliares, envolvidos na resposta a
amônia a partir do glutamato nas situações de substâncias estranhas e diminui, igualmente, a
acidose e aumenta a excreção de fosfatos, por sua função. Toda a imunidade mediada por
diminuição da sua reabsorção nos túbulos células está deprimida. O mecanismo de
proximais. depressão desta resposta é complexo, mas
No sistema nervoso central (SNC) há inclui a redução na produção de mediadores
múltiplos receptores, quer do tipo I quer do tipo intercelulares que ativam o sistema imune e o
II. O cortisol altera os padrões do sono; em bloqueio da progressão no ciclo celular das
geral, os glicocorticóides atenuam a aqüidade células envolvidas. Há uma variação diária na
dos sentidos, olfativo, gustativo, auditivo e capacidade de reação imune, que é a
visual. Contudo, melhoram a capacidade recíproca da secreção de cortisol, visto que o
integrativa e geradora de respostas cortisol deprime a resposta imune. Por outro
apropriadas. Em excesso, o cortisol pode lado, vários produtos imunitários, entre os
provocar insônias e elevar ou deprimir, quais a interleucina-1, estimulam a secreção
marcadamente, o humor; baixa também o do ACTH, constituindo um complexo sistema
limiar para a ocorrência de convulsões. No de “feedback” negativo (Bauer e
feto, o cortisol favorece a maturação do SNC, Colaboradores, 2000; Leandro e
retina, pele, trato gastrointestinal e pulmões. O Colaboradores, 2002; Okutsu e
cortisol auxilia a diferençiação da mucosa Colaboradores, 2008).
intestinal do fenótipo fetal para o fenótipo A ação anti-inflamatória também inclui
adulto, o que permite à criança usar a supressão da resposta febril, por diminuição
dissacarídeos presentes no leite materno. No da produção de IL-1 (pirogénio endógeno). Se
pulmão passa-se algo semelhante, a a atividade metabólica e anti-inflamatória do
velocidade de desenvovimento alveolar e do cortisol são essenciais para a sobrevivência do
epitélio respiratório é acentuada pelo cortisol; doente traumatizado ou infectado, também é
e, mais importante, nas últimas semanas de verdadeiro que altas doses e administração
gestação os glicocorticóides aumentam a prolongada aumentam a predisposição à
síntese de surfactante (sendo usados para infecção, facilitam a sua disseminação e
induzir a maturidade pulmonar em recém- dificultam a cicatrização (Leandro e
nascidos prematuros) (Petruzzello, Jones e Colaboradores, 2002).
Tate, 1997). O cortisol também inibe a secreção do
CRH, resultando em feedback negativo da

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secreção do ACTH. Com a liberação normal, o e Colaboradores, 2004). Uma vez que o
cortisol tem diversas ações que buscam cortisol estimula a proteólise, seu aumento
restaurar a homeostase e o equilíbrio interno pode determinar a atrofia muscular e
do organismo, após o estresse. Age como um diminuição da força, com conseqüente efeito
antagonista fisiológico da insulina, por negativo no rendimento esportivo. A ação
promover a quebra das moléculas de muscular é ambígua, contribui para o
carboidratos, lipídeos e proteínas, desta catabolismo e perda muscular, mas,
maneira mobilizando as reservas energéticas. simultaneamente, na ausência deste hormônio
Isto aumenta a glicemia e a produção de a contratilidade dos músculos esquelético e
glicogênio pelo fígado. Também aumenta a cardíaco é reduzida. Este efeito pode dever-se
pressão arterial. Adicionalmente, as células à indução da síntese de mediadores ou
inflamatórias e do sistema imune têm suas receptores como a acetilcolina e os receptores
ações atenuadas, levando a diminuição da ß-adrenérgicos, respectivamente, que é
atividade do sistema imune como um todo. A exercido de forma constitucional,
osteogênese, formação óssea, também é permanentemente, por concentrações basais
diminuída pelo cortisol. Essas funções de corticóides. O catabolismo e perda
endógenas são a base das conseqüências musculares verificam-se na presença de níveis
fisiológicas do estresse crônico. A secreção elevados de corticosteróides (Coltinho, Brinco
crônica de cortisol causa perda muscular e e Diniz, 2007).
hiperglicemia, além de suprimir as respostas
inflamatórias e imunes. As mesmas CORTISOL E EXERCÍCIO
conseqüências advêm do uso de drogas
glicocorticóides por longo prazo. Além disto, a Durante processos patológicos ou
exposição de longo prazo ao cortisol resulta lesões, ou outras formas de estresse, como o
em danos das células do hipocampo. Este psicológico, a comunicação entre o sistema
dano leva à diminuição da capacidade de nervoso central e o sistema imune é crucial.
aprendizagem. Entretanto, a exposição de Desse modo, é fundamental ressaltar o papel
curto prazo ao cortisol ajuda no processo de do hipotálamo, que representa um relevante
criar memórias (Wilmore e Costil, 2001; Vega centro de coordenação das funções
e Colaboradores, 2006). neuroendócrinas, controlando as
Como substância de uso oral ou concentrações sangüíneas de hormônios do
injetável, o cortisol também é conhecido como estresse, o cortisol, além de outros hormônios
hidrocortisona. Seus usos são como (Wittert e Colaboradores, 1996; Duclos, Guinot
imunosupressores, tratamento para reações e Le Bouc, 2007).
alérgicas severas, como anafilaxia e O exercício é conhecido poderoso
angioedema, em substituição à prednisolona estimulante do sistema endócrino. A resposta
em pacientes que necessitam corticoterapia, hormonal ao exercício é dependente de vários
mas não podem usar medicações orais e em fatores, incluindo intensidade, duração, modo
preparo pré-operatório em pacientes e nível de treinamento (Karkoulias e
submetidos a corticoterapia de longo prazo, Colaboradores, 2008)
para evitar crises addisonianas. Pode ser A ativação do eixo hipotálamo-
usado de forma tópica por seu efeito pituitária-adrenal (HPA) representa uma
antiinflamatório em problemas alérgicos (como resposta fisiológica energética, metabólica e
eczema) e em certas outras condições vascular às necessidades do exercício. O
inflamatórias. Comparada à prednisolona, a produto final deste eixo é o cortisol cujo
hidrocortisona tem cerca de 1/4 da sua aumento ou diminuição prolongado causa
potência. A dexametasona é 40 vezes mais problemas de saúde. Contudo, a relação entre
potente que a hidrocortisona. exercício e cortisol, não está totalmente
Os glicocorticóides e, mais esclarecida, além de parecer controversa
especificamente, o cortisol são hormônios (Duclos, Guinot e Le Bouc, 2007).
catabólicos no músculo esquelético e seus Dados da literatura indicaram que o
efeitos incluem: a conversão de aminoácidos exercício prolongado leva ao hipercortisolismo
em carboidratos, aumento das enzimas (Lurger e Colaboradores 1987). Karkoulias e
proteolíticas, inibição da síntese de proteínas e Colaboradores (2008) demonstraram que a
aumento da degradação de proteínas (Simões maratona causa elevação do cortisol

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plasmático, 1 h após a corrida e o retorno ao liberação do hormônio liberador de


nível basal ocorre após 1 semana. O grau de corticotropina (CRH) e, conseqüentemente, do
elevação do cortisol é dependente da duração ACTH e do cortisol. Aliada à ação das
da corrida. citocinas no hipotálamo, a IL-6 pode controlar
Há evidências substanciais indicando a liberação de hormônios esteróides pela ação
que a atividade física traz efeitos benéficos direta sobre as células adrenais e regulares a
para a saúde física e mental e protege contra síntese de mineralocorticóides, glicocorticóides
as conseqüências do estresse crônico e de e andrógenos, sendo esse controle
doenças relacionadas ao estresse (Rimmele e dependente da concentração e do tempo de
Colaboradores, 2007). Vários estudos têm exposição a IL-6. Sendo assim, a inflamação
demonstrado que a atividade física regular sistêmica e a elevação da concentração
contribui para reduzir a resposta aos agentes sangüínea de citocinas podem ser
etressantes (Petruzzello e Colaboradores, responsáveis pelo aumento da concentração
1997). Ocorre aumento da reatividade sérica de cortisol observada em indivíduos
fisiológica do eixo HPA aos agentes com “overtraining”. Além disso, o aumento da
estressores, mas ao mesmo tempo o exercício concentração das citocinas IL-1 e IL-6 podem
diminui a resposta do eixo a outros agentes promover a ativação de diversos núcleos
estressantes levando a uma resposta hipotalâmicos, os quais podem responder por
adaptativa (Lurger e Colaboradores, 1987). muitas das alterações comportamentais
O cortisol estimula a lipólise no tecido relacionadas a doenças, tais como redução do
adiposo, aumento da degradação e redução apetite, depressão, comumente observados
da síntese protéica nas fibras musculares. Em entre atletas com “overtraining”. Estas
geral, a importância do cortisol para alterações se manifestam como redução
determinar força e resistência muscular, reside crônica do desempenho (Rogero, Mendes e
em seus efeitos catabólicos (Bottaro e Tirapegui, 2005; França e Colaboradores,
Colaboradores, 2008). Sua secreção não é 2006).
constante durante o dia e segue um ritmo Durante um período de treinamento
cicardiano, com secreção máxima ao podem ocorrer adaptações fisiológicas em
despertar, diminuição progressiva durante o resposta à sobrecarga aplicada, resultando em
dia e secreção mínima durante o sono. Por melhora no desempenho esportivo. No
outro lado os efeitos deletérios do entanto, muitas vezes uma relação
hipercortisolismo, tais como diminuição da inadequada entre o volume (p.ex., distância de
atividade dos linfócitos auxiliares e da corrida) e a intensidade do treinamento (p. ex.,
capacidade de conter a invasão de patógenos, velocidade de corrida) pode resultar em
aumento do catabolismo muscular, condições indesejáveis como “overtraining”.
desmineralização óssea, efeitos Este está associado a uma recuperação
antirreprodutivos, sugerem uma aparente incompleta entre as sessões de treinamento.
controvérsia entre os efeitos benéficos e Como sintomas do “overtraining” destacam-se
maléficos do exercício (Bottaro e a fadiga crônica, perda do apetite, diminuição
Colaboradores; 2007; Duclos, Guinot e Le do desempenho, aumento da freqüência
Bouc, 2007; Okutsu e Colaboradores, 2008). cardíaca de repouso, infecções freqüentes,
O excesso de treinamento físico, bem distúrbios do sono, alterações de humor e o
como o estresse psicológico pode promover desinteresse geral do atleta pelo treino (Fry,
uma alteração do balanço hormonal, sendo Kraemer e Ramsey, 1998; Mackinnom, 2000).
que este fato tem sido associado ao Duclos e Colaboradores (1998)
“overtraining”. Ao mesmo tempo, verifica-se observaram que a repetição do estresse
que a elevada liberação de citocinas pró- fisiológico imposto pelo treinamento físico em
inflamatórias desencadeada pelo processo de corredores de longa distância influenciava na
inflamação sistêmica, decorrente do excesso produção do hormônio adrenocorticotrópico
de treinamento, age no sistema nervoso (ACTH). Na realidade, ocorria um aumento da
central. Os receptores para as citocinas IL-1 e concentração plasmática deste hormônio,
IL-6 no cérebro são abundantes na região contudo não foi observada alteração na
hipotalâmica, e a interação dessas citocinas concentração plasmática do principal hormônio
com receptores específicos em núcleos da sua glândula alvo, ou seja, o cortisol. Isto
paraventriculares hipotalâmicos resulta na poderia ser explicado através da diminuição da

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sensibilidade da glândula adrenal a T/C para o controle das cargas de treinamento


estimulação do ACTH e/ou a uma diminuição deve ser feita individualmente, e que
da sensibilidade do eixo hipotálamo-hipófise aparentemente esta variável sofre uma maior
ao feedback negativo imposto pelo cortisol. influência do volume do treinamento do que da
Posteriormente Duclos e intensidade do mesmo.
Colaboradores (2001), estimularam o eixo Duclos, Guinot e Le Bouc (2007)
hipotálamo-hipófise-adrenal através de demonstraram que na verdade em pessoas
administração farmacológica e a glândula treinadas por exercícios de longa duração, o
adrenal com ACTH, concluindo que a organismo desenvolve um mecanismo
concentração normal de cortisol em resposta adaptativo para proteger o músculo e outros
ao aumento do ACTH induzido pelo estresse tecidos sensíveis aos glicocorticóides, para
físico é, supostamente, resultado da evitar os efeitos deletérios do aumento de
diminuição da sensibilidade da hipófise para o cortisol. A resposta aos glicocorticóides é
feedback negativo do cortisol e não da regulada não só pela concentração desses
glândula adrenal ao ACTH. metabólitos, mas também pela disponibilidade
Dressendofer e Colaboradores (1991) de cortisol e sensibilidade aos glicocorticóides
demonstraram que corredores de longa nos tecidos alvo. Assim, quando pessoas
distância, não apresentaram aumento na treinadas são comparadas a sedentárias,
concentração basal de cortisol. Maestu, observa-se que o nível basal de cortisol sérico
Jurimae e Jurimae (2003) trabalhando com é o mesmo, entretanto, nas primeiras os
atletas remadores em período de treinamento, tecidos apresentam diminuição da
observaram que a concentração de cortisol sensibilidade ao cortisol, tal como ocorre nos
permaneceu relativamente constante. monócitos. Isto também é importante para
Entretanto, outros autores (Wheeler e diminuir o dano e a reação inflamatória
Colaboradores, 1991; Wittert e Colaboradores, muscular durante o exercício, mas, pode
1996) mostraram diminuição da concentração aumentar a sensibilidade à infecção.
basal de cortisol em corredores, após período É importante considerar que o cortisol
de treinamento de endurance. Fernandez- quando é secretado liga-se às proteínas
Garcia e Colaboradores (2002) também plasmáticas, especialmente à globulina ligante
observaram diminuição da concentração basal de cortisol (CBG) e que seus efeitos são
de cortisol em ciclistas durante período de mediados por sua forma livre. Assim os níveis
competição intensa. Bonifazi e Colaboradores de cortisol podem ser modulados pela CBG e
(1995) mostraram que a diminuição da ainda pelo metabolismo do pré-receptor de
concentração de cortisol está associada com cortisol. Foi descrito que a enzima 11-β-
melhora na performance de nadadores em hidroxiesteroide desidrogenase (11β-HSD),
treinos. Em outro trabalho (Bonifazi, Sardella e com suas isoformas, catalisa a interconversão
Lupo, 2000), mostraram diminuição na da forma ativa, cortisol, na forma inativa,
concentração de cortisol de repouso de cortisona, o que modula a ação do cortisol em
nadadores ao final do período com alto volume tecidos periféricos. Assim, parece que os
de treino. efeitos do cortisol são determinados pela
Simões e Colaboradores (2004) atividade enzimática e depende pouco do
estudaram a resposta da razão aumento de cortisol circulante (Seckl; Walker,
testosterona/cortisol durante o treinamento de 2001). A melhor forma para avaliar a atividade
corredores velocistas e fundistas e enzimática tem sido a determinação da
observaram que não houve diferença relação cortisol/cortisona livre na urina, por
significante para os valores médios da razão cromatografia líquida de alto desempenho (Lin
testosterona/cortisol (T/C) para ambos os e Colaboradores, 1997).
grupos após o período de treinamento. No Gouarné e Colaboradores (2005),
entanto, quando se observa o comportamento compararam os níveis de cortisol/cortisona
individual da razão T/C, nota-se uma resposta livres em triatletas e sedentários, por 10
adaptativa adequada para alguns indivíduos e meses. Esses autores verificaram uma
inadequadas para outros, sendo que a maior correlação positiva entre o aumento de
incidência de queda da razão T/C foi cortisona e a intensidade do exercício e que
observada entre os corredores fundistas. Os em condições de repouso, as pessoas
autores concluíram que a utilização da razão treinadas apresentam maior conversão de

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cortisol em cortisona do que os sedentários. estresse crônico e de doenças relacionadas ao


Esses autores verificaram também, que no estresse.
“overtraining” há disfunção do eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal, com diminuição da conversão REFERÊNCIAS
do cortisol em cortisona, apesar de não haver
correlação direta com a variação de secreção 1- Bauer, M.E.; Vedhara, K.; Perks, P.;
de cortisol. A baixa inativação do cortisol, por Wilcock, G.K.; Lightman, S.L.; Shanks, N.
sua conversão a cortisona sugere inativação Chronic stress in caregivers of dementia
da enzima 11β-HSD2 no “overtraining”. patients is associated with reduced lymphocyte
Os glicocorticóides são banidos pelo sensitivity to glucocorticoids. J. Neuroimmunol.
código mundial anti-doping. Apesar dos dados Vol. 103. 2000. p. 84-92.
limitados sobre a melhoria do desempenho
atlético pelo uso de glicocorticóides, seus 2- Bonifazi, M.; Bela, E.; Carli, G.; Lodi, L.;
efeitos adversos são bem documentados. O Martelli, G.; Zhu, B.; Lupo, C. Influence of
cortisol e seus derivados sintéticos exercem training on the response of androgen plasma
efeito antiinflamatório. Entretanto, os concentrations to exercise in swimmers. Eur. J.
glicocorticóides possuem efeitos pleiotrópicos Appl. Physiol. Vol. 70. 1995. p. 109-114.
causando efeitos adversos que limitam seu
uso clínico. Dentre os vários efeitos colaterais 3- Bonifazi, M.; Sardella, F.; Lupo, C.
do tratamento com glicocorticóides orais tem- Preparatory versus main competitions:
se ganho de peso, retenção de líquido, differences in performances, lactate responses
infecção, osteoporose e a inibição da atividade and pre-competition plasma cortisol
da adrenal, sendo este último o que mais concentrations in elite male swimmers. Eur. J.
oferece risco a saúde. (Duclos, Guinot e Le Appl. Physiol. Vol. 82. 2000. p. 368-373.
Bouc, 2007).
Luger e Colaboradores (1987) 4- Bottaro, M.; Martins, B.; Gentil, P.; Wagner,
verificaram em atletas em “overtraining” com D. Effects of rest duration between sets of
hipercortisolismo médio uma diminuição na resistance training on acute hormonal
resposta do cortisol e do ACTH ao hormônio responses in trained women. J. Sci. Med.
liberador da corticotropina, mas um aumento Sport. 2008. doi:10.1016/j.jsams.2007.10.013.
normal em resposta ao exercício físico,
sugerindo que o estresse imposto pela 5- Canali, E.S.; Kruel, L.F.M. Respostas
atividade física sobrepõe o controle do hormonais ao exercício. Rev. Paul. Educ. Fís.,
“feedback” negativo exercido pelo aumento da Vol. 15. 2001. p. 141-153.
concentração de cortisol.
6- Coltinho, H.; Brinco, R.A.; Diniz, S.H.
CONCLUSÃO Respostas hormonais da testoterona e cortisol
depois de determinado protocolo de hipertrofia
O exercício induz aumento da muscular. Rev. Bras. Prescr. Fisiol. Exerc. Vol.
secreção de cortisol, por estímulo do eixo 1. 2007. p. 72-77.
hipotálamo-hipófise-adrenal. Embora, o
aumento de cortisol possa produzir efeitos 7- Dressendofer, R.H.; Wade, C.E. Effects of a
colaterais, o treinamento físico induz o 15-d race on plasma steroid levels and leg
desenvolvimento de diversos mecanismos muscle fitness runners. Med. Sci. Sports
para proteger os tecidos de tais efeitos Exerc. Vol. 23. 1991. p. 954-958.
deletérios. A modulação dos níveis séricos de
cortisol livre (forma ativa) pela ligação à 8- Duclos, M.; Corcuff, J.B.; Arsac, L.; Moreau-
globulina ligante de cortisol e ativação da Gaudry, F.; Rashedi, M.; Roger, P.; Tabarin,
enzima conversora de cortisol em cortisona A.; Manier, G. Corticotroph axis sensitivity after
(forma inativa) parecem ser os principais exercise in endurance-trained athletes. Clin.
mecanismos estimulados pelo exercício físico. Endocrinol. (Oxf), Vol. 48. 1998. p. 493-501.
Com isto o organismo torna-se menos
responsivo ao estresse o que traz efeitos 9- Duclos, M.; Corcuff, J.B.; Pehourcq, F.;
benéficos para a saúde física e mental, Tabarin, A. Decreased pituitary sensitivity to
protegendo-o contra as conseqüências do

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Recebido para publicação em 12/08/2011


Aceito em 10/09/2011

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