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Betim. Prefeitura Municipal. FUNARBE


Reinado de Nossa Senhora do Rosário: patrimônio cultural de Betim / Prefeitura
Municipal de Betim. FUNARBE; Pesquisa e elaboração: Ana Claudia Gomes. — Betim:
Prefeitura Municipal, Fundação Artístico Cultural de Betim, FUNARBE, 2010. — 52p.
— (Cadernos da Memória; 3)

1. Betim: FUNARBE 2. Betim: Patrimônio Cultural 3. Festas Populares: Reinado


4. Festas populares: Rosário I. Gomes, Ana Claudia II. Título
CDD 398

Catalogação na publicação: Eni Alves Rodrigues. CRB6-1996


Cadernos da Memória
3 Reinado de Nossa Senhora do Rosário
Patrimônio Cultural de Betim
Betim 2010
Pesquisa
Adriana de Araújo Lisboa
Ana Claudia Gomes
Otília Sales Neta

Colaboração na pesquisa
Ana Gabriela Ferreira de Oliveira PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM
Luiz Otávio Milagre de Assis
Maria do Carmo Lara Perpétuo
Concepção e redação Prefeita
Ana Claudia Gomes
Alex Tadeu do Amaral Ribeiro
Fotografia Vice-prefeito
Acervo FUNARBE
Adeildo Silva
Ana Gabriela Ferreira de Oliveira Reservados todos os direitos de publicação em língua
Henrique Moreira de Castro portuguesa à:
Leonardo Lara
Luiz Otávio Milagre de Assis
Max Viannini Fundação Artístico Cultural de Betim – FUNARBE
Otília Sales Neta Rua João XXIII, nº 162
Vladmir Araújo Nossa Senhora do Carmo
32600-150 – Betim – MG
Criação gráfica Fones: 31 3532 1098 / 3532 2530 / 3531 1040
Articulação Comunicação & Marketing Endereço eletrônico: funarbe@betim.mg.gov.br

Impressão
Gráfica Paulinelli

Realização
FUNDAÇÃO ARTÍSTICO CULTURAL DE BETIM – FUNARBE
Departamento de Memória e Patrimônio Cultural
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação,
Aderbal Hipólito Lara Gomes fotocópia, distribuição na Web e outros) sem permissão expressa da Fun-
Presidente
dação Artístico Cultural de Betim – FUNARBE.

Rodrigo Cunha
Superintendente IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Mensagem da prefeita
A minha trajetória política tem sido inteiramente comprometida com os grupos
sócio-culturais historicamente marginalizados. Em Betim, onde desenvolvo mi-
nha carreira, posso me orgulhar de ter sempre cerrado fileiras entre os desfavo-
recidos, porém sempre reconhecendo a riqueza de suas organizações sociais
e elaborações culturais. As culturas locais originárias, ou culturas populares,
foram reconhecidas e registradas em minha primeira gestão como Prefeita,
como foi o caso da própria Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de sua
principal festa. Não por acaso, um dos primeiros atos da minha gestão atual foi
criar pró-coordenadorias para desenvolver políticas destinadas a grupos vitima-
dos pela desigualdade em nossa sociedade, a exemplo dos afrodescendentes,
das mulheres, da juventude e da diversidade sexual.
Assim, este documento da série “Cadernos da Memória”, produzido pela
FUNARBE, encontra-se em perfeita sintonia com os programas políticos que
represento, pois se destina a retomar um intenso processo de registro, divul-
gação, valorização e fortalecimento das culturas secularmente desenvolvidas
pelo povo betinense. É importante que a produção cultural da gente de Betim
seja vista em toda a sua elaboração simbólica e criativa, para além das classes
sociais, das etnias, dos gêneros, isto é: a cultura é própria de todos os huma-
nos e, como tal, precisa ser reconhecida e fomentada.
No caso específico do Reinado de Nossa Senhora do Rosário ou Congado, te-
nho relações profundas, políticas e afetivas com esta manifestação e com seus
principais protagonistas. O Brasil vive um momento de redefinição das políti-
cas públicas para as festas do povo, como o Congado, visando fortalecê-las,
torná-las autônomas, preservá-las do esquecimento. Participo deste movimen-
to com minha própria história, mas também, e principalmente, com a vontade
política de um governo popular por princípio.

Maria do Carmo Lara Perpétuo


Mensagem do
presidente da Funarbe
E sta publicação é a terceira de uma série que a Fundação Artístico Cultural de Betim
pretende desenvolver, para tornar acessíveis à comunidade pesquisas desenvolvidas
sobre o patrimônio cultural de Betim. A proteção ao patrimônio cultural da cidade é
uma das atribuições da FUNARBE, e esta sabe que patrimônio protegido é patrimônio
reconhecido e valorizado pela população que o criou.
A série “Cadernos da Memória” traz, neste número, informações e análises sobre o
Reinado de Nossa Senhora do Rosário, um dos mais antigos bens culturais de caráter
imaterial em Betim. Essa festa vem sendo realizada, desde o século XIX, com a lide-
rança da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e, nas últimas décadas, com apoio
do poder público municipal, que ajuda a mantê-la viva. Seu lugar-símbolo é a Capela
de Nossa Senhora do Rosário.
Dedicar este Caderno da Memória ao Reinado e ao Rosário faz parte de uma opção
política de amplo alcance da FUNARBE, que inclui a restauração da Capela em par-
ceria com os mestres do ofício construtivo colonial da Fundação de Arte Ouro Preto
(FAOP), e o registro desta manifestação como patrimônio cultural imaterial da cidade,
o que já aconteceu no alvorecer de 2010. Também os bens móveis e integrados da
Capela – a imagem oitocentista de Nossa Senhora do Rosário e seu altar-mor, assim
como as demais imagens de devoção da comunidade do Rosário – estão passando
por cuidadosas análises técnicas e processos de restauração. Além disso, Joaquim
Nicolau, o patriarca do congado betinense no século XX, agora dá nome ao Centro
Popular de Cultura da Regional Vianópolis, onde este ancestral viveu durante déca-
das. A FUNARBE ainda atua no financiamento da celebração anual do Reinado e na
formação continuada da Irmandade para seu fortalecimento e autonomia.
Nesta publicação, o Reinado de Nossa Senhora do Rosário é apresentado como uma
manifestação cultural rica e diversa, dotada de elaborada simbologia e significados,
como toda produção cultural humana.
Aderbal Lara Gomes
Sumário
Apresentação............................................................................................. 11

Reinado: performances que narram a escravidão ................................ 13


Uma devoção que une África, Europa e América ........................................ 15
Em Minas, Chico Rei ..................................................................................... 17
Mitos e significados do Reinado .................................................................. 19
Discutindo escravidão e desigualdades ..................................................... 23

Trajetória da devoção ao Rosário em Betim........................................... 25


Origens do Reinado betinense ...................................................................... 27
Vô Joaquim Nicolau ....................................................................................... 29
O Reinado em Vianópolis .............................................................................. 30
Renascimento do Reinado ............................................................................ 34

Reinado do Rosário em Betim: formato e significados ......................... 41


Bandeira de Aviso .......................................................................................... 43
Novena ............................................................................................................ 45
Traslado das imagens .................................................................................... 45
A preparação espiritual das guardas ............................................................ 46
Café da manhã ............................................................................................... 47
Cortejos de fé ................................................................................................. 48
Almoço ritual ................................................................................................... 48
Missa Conga ................................................................................................... 49

Reinado, patrimônio cultural imaterial de Betim ................................... 50


Referências ............................................................................................... 52
Apresentação
O congado e a devoção a Nossa Senhora do Rosário se desenvolveram no período colonial,
época em que o catolicismo era um grande catalisador da vida cultural no Brasil. Como
religião oficial do Estado português, que administrava o Brasil, e responsável por funções
hoje civis, como o registro de nascimento, casamento e óbito, a Igreja Católica era o local
da vida social e da construção cultural.
Para os africanos e seus descendentes, escravizados no Brasil, não era diferente. Suas
manifestações culturais e religiosas eram reprimidas pelos senhores locais porque po-
deriam contribuir no fortalecimento dos escravizados e também porque não eram com-
preendidas ou eram atribuídas ao mal. Mas, no seio da Igreja Católica, os africanos
e descendentes também encontraram um meio de comunhão e expressão cultural: as
irmandades dos devotos pretinhos, como eram citadas nos documentos da época.
As irmandades foram uma importante forma de organização da Igreja Católica no Brasil.
Quando dedicadas a Nossa Senhora do Rosário, e também a outros santos pretos, como
São Benedito e Santa Efigênia, fizeram parte desse sistema de organização, e proporcio-
naram aos africanos e seus descendentes: a identificação dos antigos deuses da Mãe
África aos santos da Igreja Católica; a vivência de festividades e rituais com referência
às origens africanas e também à experiência da escravidão; e a construção de redes de
auxílio mútuo, já que nas irmandades os devotos ajudavam uns aos outros. Para as au-
toridades eclesiásticas e seculares, por sua vez, essas irmandades proporcionavam um
certo controle da população de matriz afro.
A escravidão foi abolida ao final do século XIX, mas a experiência dos afrodescendentes
no Brasil seguiu marcada pela marginalização e discriminação. A devoção ao Rosário e
suas festas continuaram cumprindo a função de expressar essa experiência, constituin-
do uma das escassas oportunidades que esses grupos têm de expressar o que é próprio
da etnia, sua visão de mundo, sua relação com a história, a memória e a identidade.
Este número dos Cadernos da Memória procura compartilhar com a comunidade beti-
nense mais ampla toda a riqueza simbólica construída em torno da devoção ao Rosário,
que expressa um dos traços constituintes da identidade brasileira – o legado africano
em nosso país.

Departamento de Memória e Patrimônio Cultural


FUNARBE
Reinado: performances
que narram a escravidão
Uma
devoção que
une África,
Europa
e América

O Reinado de Nossa Senhora do


Rosário surgiu e se desenvolveu
no Brasil, a partir do século XVI,
conforme a maioria de seus Imagem
estudiosos. Segundo Glaura de Nossa
Senhora
Lucas 1 , pode ser considerado do Rosário

uma celebração
luso-afro-brasileira, pois em
Portugal surgiu a devoção a
Nossa Senhora do Rosário.
1. Neste documento, optou-se por flexibilizar as normas de citação
bibliográfica. Todas as obras consultadas estão listadas ao final.

15
Povos africanos, especialmente os da cultura bantu
(Angola e Congo), radicados no Brasil devido à escravi-
dão, deram forma à festa, com base em pilares culturais
desenvolvidos na África e na própria experiência da escra-
vidão. Por causa da origem congalesa dessas celebrações
é que usamos as expressões “congado” e “rei congo”.
A origem do culto a Nossa Senhora do Rosário está
relacionada às estratégias de conversão adotadas por
Domingos, fundador da Ordem Dominicana, sobre os ne-
gros que viviam em Portugal. A Senhora inicialmente foi
cultuada pelos brancos, porém, apoiando-se no mito da
sua aparição sobre as águas do mar, o sacerdote elegeu
a reza do rosário e o culto a Nossa Senhora como forma
de converter os negros ao catolicismo. Esse evento apro-
ximou os cultos afro e a tradição católica.
No Brasil, inicialmente, desenvolveram-se festejos de
inspiração africana no nordeste. Estes festejos narravam
as batalhas entre a nação dos congos, dirigida pelo Rei
Cariongo e o Príncipe Suena, contra os moçambiques, li-
derados pela Rainha Ginga Nbandi; nesse caso, o nome
adequado à festa seria mesmo “congado” e dela é que
vêm as inúmeras designações e hierarquias militares ain-
da presentes na festa hoje: quartel, capitão, guarda, em-
baixador, soldado, farda, juiz, etc. Com as transformações
e influências historicamente recebidas, inclusive da devo-
ção ao Rosário, a festa teria perdido o caráter de narrati-
va, e o Rei Cariongo e a Rainha Ginga teriam sido unidos
num só “reinado” em adoração a Nossa Senhora. Congos
e moçambiques não mais guerreiam entre si, mas exer-
Coroas que fazem parte dos paramentos rituais cem diferentes funções em honra à santa de devoção.

16
Em Minas,
Chico Rei
O Reinado se desenvolveu em Minas Gerais a partir
do século XVIII. O registro mais antigo da sua ocorrência
em Minas foi feito por Antonil, em 1763. Suas primeiras
ocorrências se dão no território da atual Ouro Preto e se
associam às histórias em torno de Chico-Rei.

Chico Rei teria sido rei do pequeno reino afri-


cano Congo dos Quicuios, trazido como escravo
para Vila Rica, juntamente com grande parte de
sua corte, no princípio do século XVIII, e, de acor-
do com histórias locais, teria se tornado muito
rico com a exploração de uma mina abandonada.
Assim, comprou a sua liberdade e a de vários es-
cravos, criando a primeira irmandade dos negros
livres de Vila Rica. Para pagar a promessa a Nos-
sa Senhora do Rosário, Chico Rei teria organizado
a primeira festa dos negros no estado, ocorrida
na Igreja de Santa Efigênia e Nossa Senhora do
Rosário de Alto Cruz, na antiga Vila Rica, em 1747
(NERY, 2007, p. 3 e 4).

Os registros documentais propriamente ditos apontam


que a festa teria se desenvolvido a partir da Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Senhora
do Pilar de Ouro Preto, fundada em 1715. Os primeiros es- Imagem de Chico Rei

17
tatutos desta Irmandade desapareceram, mas, em 1785, pessoas, em retribuição a graças concedidas pela Senho-
novos Estatutos foram confirmados por D. Maria I, trazen- ra do Rosário.
do a seguinte recomendação: A partir da antiga Vila Rica, as irmandades negras e o
Reinado espalharam-se em território mineiro e atravessa-
Haverá nesta Irmandade um Rei e uma Rainha ram os séculos XVIII e XIX, até que, em 1930, o Arcebispo
(...), de qualquer nação que seja, os quais serão de Belo Horizonte, D. Antônio dos Santos Cabral, resolveu
eleitos todos os anos em mesa e mais votos, e combater as festas afro-brasileiras. A ameaça de excomu-
serão obrigados a assistir, com o seu estado, ás nhão a quem desobedecesse às ordens contra a realiza-
festividades de Nossa Senhora, e mais Santos ção dos Reinados e congados assustou as comunidades,
acompanhando, no último dia, a Procissão, atrás tendo como conseqüência a paralisação dos eventos em
do pálio. quase todo o território mineiro. A cidade de Divinópolis,
rara exceção, tornou-se uma trincheira na luta pela ma-
Vemos que, nessa pioneira versão mineira da festa, nutenção da tradição. O líder local do Reinado, José Aris-
o rei e a rainha são esvaziados de sua antiga represen- tides, com apoio da Maçonaria, manteve coesa a comuni-
tação das monarquias negras para assumir funções de dade local, continuando com a festa, contra as ordens do
interesse das autoridades coloniais na ordenação social. Arcebispo. A partir de 1948, as proibições diminuíram e a
Para cada festival, era escolhido o rei ou rainha do ano, festa voltou, progressivamente, a ser realizada.
geralmente branco, cuja função era mobilizar os senhores
e angariar fundos em favor das festas. Entretanto, as fes-
tas não deixaram de ter um caráter de representação da
força numérica dos afrodescendentes e de expressão da
sua leitura de mundo.
Nas origens dos festejos do Reinado do Rosário, os ne-
gros, organizados em filas militarizadas, se dirigiam can-
tando e dançando, precedidos da bandeira com a imagem
da Senhora do Rosário, à residência dos reis da festa. Es-
tes seguiam até a capela com solenidade, sob pálio, com
vestes reais, cetro e coroa de prata, acompanhados pelos
negros. Chegando à capela e instalados num dossel, os Ilustração
reis presidiam a mesa das promessas, que eram cumpri- representando
das em volta da igreja. Estas eram feitas por milhares de Chico Rei

18
Mitos e
significados
do Reinado
Os protagonistas do Reinado de Nossa Senhora do Ro-
sário têm muitas e variadas formas de explicar as origens
e razões para a existência da celebração. Eles produzem
Guarda de Congo de Nossa Sra. do Rosário do Angola, em 2009 narrativas consideradas como “mitos de origem” pelos
estudiosos. A versão mais difundida do mito de origem
do Reinado é que Nossa Senhora do Rosário apareceu na
linha do mar, e os brancos a levaram para uma igrejinha
Guarda de ao som de uma banda de música, mas ela retornou ao
Congo de mar. Os brancos tentaram de novo com violas e violões,
São Judas mas ela retornou ao mesmo lugar. Então, os negros to-
Tadeu do caram suas caixas e levaram a santa à igrejinha; e ela aí
Citrolândia permaneceu.
em 2010 Participam do Reinado diversas modalidades de guar-
das ou ternos, que são como pequenos pelotões. Cada
modalidade faz referência a algum elemento cultural va-
lorizado pelas culturas afrodescendentes:
Guarda
de Congo Guarda de Congo: representa o antigo reino do Con-
de Nossa go, que originalmente guerreava contra Moçambique. De-
Senhora do pois que o elemento bélico desapareceu da celebração,
Rosário dos as Guardas de Congo puxam os dançantes, em movimen-
Homens to rápido, abrindo caminhos. Como elas têm a função
Pretos de
de abrir trilhas na vegetação, suas vestes têm fitas co-
Betim do
Jardim loridas, representando a flora. Os instrumentos musicais
Petrópolis são: tamborim, zabumba, caixa, acordeom, reco-reco e
em 2010 pandeiro.

19
Guarda de Moçambique de Nossa Sra. do Rosário e
Santo Antônio de Pádua, do Bairro Santa Inês, em 2010

Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do


Rosário do Bairro Jardim Petrópolis, em 2010
Guarda de
Moçambique
· Guarda de Moçambique: representa o antigo reino do Divino
do Moçambique e, no mito de origem, é o grupo que re- Espírito Santo
almente consegue atrair a Senhora do Rosário à capela, do Bairro
com seu toque de caixas ritmado. Por isso, em geral é a Angola,
guarda que traslada a imagem da senhora e protege os em 2010
reis congos e festeiros, participando de todos os atos ofi-
ciais da festa. O branco é a cor predominante de sua indu-
mentária. Instrumentos: tambores e patagonas, zabum-
ba, caixa, patagunga (ou xiquexique), reco-reco e gunga
(ou paiá, uma correia afivelada nas canelas dos dançado-
res na qual são presos alguns guizos que produzem sons
ritmados conforme a dança) e coro de vozes.

Guarda de Moçambique de
Santa Efigênia do Bairro
Jardim Brasília, em 2009

20
· Guarda de Vilão: Também chamada de “Bate-Pau”.
Reproduz uma antiga dança originária da França e adap-
tada em Portugal, nas festas juninas. Foi incorporada ao
Reinado para alegrar os festeiros e apresenta uma rica
coreografia, com bastões de até dois metros, enfeitados
de fitas; com eles, os participantes simulam combates,
numa estilização de lutas travadas pelos negros, aos
quais não era permitido o uso de arma branca. Usa cores
vistosas. Os instrumentos musicais são os mesmos utili-
zados pelo Congo.

Guardas visitantes em Betim nos anos 2000

21
· Guarda dos Marinheiros ou Marujos: originária da
Península Ibérica, compõe o ciclo natalino e foi incorpo-
rada ao Reinado posteriormente. Representa a conversão
dos negros, cumprindo promessa a Nossa Senhora por
terem escapado do naufrágio de um navio negreiro preso
nos arrecifes da costa brasileira por força de uma tempes-
tade. Suas vestes se assemelham ao uniforme dos mari-
nheiros. Os instrumentos musicais são quase os mesmos
da Guarda de Congo.

Guarda de Marujos de São João Bosco, do


Parque das Indústrias, em 2010

Guarda de Catopés de Santa Inês, em 2010

· Guarda de Catopé: Tradicionalmente representa o


Guarda de Marujos do Divino Espírito Santo de Vespasiasno índio brasileiro. Cumpre a tarefa de divertir o público com
seus cantos alegres e espirituosos.

22
· Guarda de Candombe: reunião de Capitães de Guar-
da ou congadeiros idosos que, à batida dos tambores,
chamados Jeremias, Santana e Santaninha, fazem lou-
vação à Nossa Senhora do Rosário e homenageiam as
almas dos escravos. Geralmente, realiza seus ritos nos
chamados quartéis e só sai às ruas em ocasiões muito
especiais.

· Guarda de Penachos ou Caboclos: dança do ciclo


natalino, de influência indígena, incorporada ao Reinado,
e representa a história da conversão de uma tribo indí-
gena e a morte e ressurreição do “Papai Vovô”.

Guarda de São Jorge: originária das Cavalhadas, é


um desfile de cavaleiros que antecede o cortejo dos reis,
ternos e a procissão de Nossa Senhora do Rosário no úl-
timo dia da festa. Traz na frente uma ou mais bandeiras Guarda de Penachos visita Betim, em 2003
de Nossa Senhora do Rosário. Está desaparecendo dos
reinados mineiros.

Discutindo
escravidão e
desigualdades
Segundo estudiosos como Susan Reily, as narrativas
e rituais do Reinado guardam a memória da escravidão
e criticam a desigualdade social, representando-a como
contrária ao desejo divino. Portanto, essa manifestação A infância no Reinado
tem um conteúdo político, muitas vezes ignorado pelas de Betim, em 2005

23
autoridades e pelo público que assiste aos cortejos como
um espetáculo. Segundo a autora, é na performance mu-
sical e corporal que está o essencial do conteúdo político
do Reinado: através da performance, os grupos refazem
a memória da escravidão e das desigualdades e injustiça.
Também é por isso que os santos, nos mitos de origem,
preferem estar em companhia dos negros e vêm em seu
socorro. É esse também o significado da história da retira-
da de Nossa Senhora do Rosário do mar: os mais simples
é que conseguiram convencê-la a acompanhá-los. Essa
narrativa faz uma inversão da hierarquia social vigente.
Além disso, percebem-se no Reinado de Nossa Senho-
ra do Rosário: uma reverência respeitosa às monarquias
ancestrais; o culto a divindades de origem ou inspiração
africana, associado ao culto aos santos católicos; a valori- Capitão Ednilton
zação dos saberes e da experiência dos idosos; a retoma-
da das culturas musical e corporal dos povos africanos.

D. Zélia
Pereira,
liderança
da Guarda
de Marujos
de São
João Bosco
e rainhas

Capitão Deyvidisson

Liderança Dalmo Martins

24
Trajetória da devoção ao
Rosário em Betim
Origens do
Reinado
betinense
O Reinado é considerado uma
manifestação cultural
específica do sudeste
brasileiro, apesar de ocorrer Capela ornamentada e a culminância do Reinado, em 2009
em várias regiões do país. Em
Betim, os registros escritos
começam a ocorrer a partir de
1814, e se referem à existência
da Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário dos
Homens Pretos de Betim e da
construção de sua Capela.

Embora ainda não tenham sido localizados os com-


promissos eclesiásticos dessa Irmandade, pode-se supor
que ela surgiu no final do século XVIII.
Sobre o Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Be-
tim propriamente dito, registros escritos são raros e faze-
mos uso da memória social acessada através de fontes Capela do Rosário nos anos 70

27
Capela do Rosário depois do restauro dos anos 90

orais. Sabe-se, por exemplo, que, até 1927, os afrodes-


cendentes betinenses praticavam a “Contradança”, anti-
ga tradição popular afro-luso-brasileira. Eram formados 12
pares de homens, sendo que, em cada par, um se vestia
de mulher. Há uma referência, nesta festa, aos 12 Pares
de França, confirmando as primitivas ligações entre o Rei-
nado e as festas representativas do embate entre cristãos
e mouros, a exemplo das cavalhadas. A festa ocorria nos
dias 15 e 16 de junho e sua culminância se dava no pátio
da Igreja do Rosário, conforme registrou o historiador Ge-
raldo Fonseca.
É provável que o Reinado de Nossa Senhora do Rosá-
rio no centro de Betim tenha atravessado o século XIX e Acima e no
enfraquecido bastante na primeira metade do século XX, detalhe, capela
por causa das proibições da Igreja Católica. É nos anos durante restauro,
30 desse século que emerge o patriarca dos congadeiros em 2010
betinenses, Joaquim Nicolau. Capela do Rosário nos anos 80

28
Vô Joaquim
Nicolau
Joaquim Nicolau, oriundo de Itaúna, foi grande liderança
das festividades religiosas de caráter afro-brasileiro em Vianó-
polis, como foi o caso do congado e das folias de reis. Nascido
em 1876, na verdade se chamava Joaquim Teodoro da Silva e
só obteve registro civil aos 17 anos. Por isso, ao falecer, com
111 anos, em 1987, oficialmente contava a idade de 94 anos.
Era casado com Ana Firmina de Jesus que também vinha de
família ligada ao Rosário.
Estudos da antropóloga Cleonice Pitangui sobre o Reinado

A imagem de Joaquim Nicolau recebe reverências


durante a culminância do Reinado

Joaquim
Nicolau

29
betinense apontam que Joaquim Nicolau, “quando soltei-
ro, fundou o reinado em Vianópolis, sendo seu capitão-
-mor; então mudou para o centro de Betim e aí levantou,
em 1954, o reinado que esteve parado por 45 anos, de-
vido à morte do seu antigo capitão”. Vê-se, portanto, que
a memória social de Betim reconhece a existência do Rei-
nado no século XIX e sua paralisação.
Segundo o atual Capitão Pé-da-coroa, S. Dalmo Mar-
tins, Joaquim Nicolau participou, com seu pai, da constru-
ção da Capela de Nossa Senhora do Rosário de Betim, na
década de 1890:

O pai de Joaquim Nicolau é que foi o respon-


sável por trazer a festa para o centro de Betim e Ana Firmina e Joaquim Nicolau
o filho deu continuidade... Olha, que eu me lem-
bre conversando com S. Joaquim é que foi o pai

O Reinado em
dele, não lembro o nome dele agora, é que trouxe
o reino do rosário para Vianópolis e para Betim.
(...) Então ele falou que o pai era escravo e esta-
va próximo de acabar a escravidão. Seu Joaquim
tinha 18 anos de idade nessa época, e ajudou o Vianópolis
pai a construir a Capela, junto com outros escra-
vos. O pai começou e S. Joaquim deu prossegui- O Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Betim es-
mento. (Dalmo Martins, 12/12/09) tava sediado, no começo do século XX, em Vianópolis, já
que, no distrito de Capela Nova, encontrava-se paralisa-
do. Pesquisas documentais revelam que Joaquim Nico-
lau não só fundou o Reinado em Vianópolis, como doou
à Igreja Católica o terreno onde foi implantado o cruzeiro
necessário às celebrações do Reinado e onde, posterior-
mente, o congadeiro ajudou a construir a capela do Bairro
Vianópolis.

30
Saibam quantos este publico instrumento de escrip-
tura virem que, no ano de nascimento de Nosso Senhôr
Jesus Christo, de mil novecentos e trinta e oito (1938) aos
cinco (5) dias do mez de Outubro, em meu cartório, neste
distrito de Betim, município de Santa Quiteria, Comarca
de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, perante mim
tabelião, compareceram partes entre si justas e contrata-
das, a saber: de um lado, como outorgante doador, o Snr.
Joaquim Thêodoro da Silva, proprietário, residente em
Vianopolis e do outro lado, como outorgado recebedora, a
Padre Osório
igreja situada em Vianopolis, neste distrito, representada
pelo Snr. Padre Osorio de Oliveira Braga, (...). E logo pelo
outorgante doador, foi dito a mim tabelião, que é senhor
e legitimo possuidor de dois hectares e quarenta e dois
ares (2,42) de terra situada em Vianopolis [...]. resolveu
doal-o como de fato doado o tem á igreja de Vianopolis
para patrimônio desta, (...) no valor de setecentos mil réis
(700$000). (Jacy Silva, tabelião, Livro de notas nº 7 – Fls.
13 verso a 14v. Livro de Chancelaria da Paróquia de N.
Sra. do Carmo. Arquivo da Cúria Metropolitana de Belo
Horizonte).
Joaquim
Nicolau

31
Para garantir o Reinado do Rosário em Vianópolis,
Nicolau montou duas guardas, uma de congo e uma de
moçambique. As demais guardas que compunham a fes- Sebastião
ta vinham de municípios vizinhos e ficavam hospedadas Pereira,
na casa do congadeiro. Segundo Elvira Ferino, rainha do o Tião
Reinado betinense, Ana Firmina e suas filhas cuidavam Medonho,
das roupas do congado e da alimentação e acomodação com reis e
dos congadeiros. A celebração é lembrada até hoje pela rainhas nos
população de Vianópolis como o ponto alto do calendário anos 90
festivo regional.

Joaquim Nicolau
e Ana Firmina Quando Joaquim Nicolau mudou-se de Vianópolis, nos
anos 50, o Reinado de Nossa Senhora do Rosário foi en-
fraquecendo até ser desativado. Nos anos 80, a comu-
nidade o reativou, porém reformas na Capela tornaram
impossíveis as evoluções das guardas no seu entorno,
voltando a festa a ser desativada. A região, entretanto,
detém diversos congadeiros, entre eles os principais reis
e rainhas atuantes hoje no Reinado da região central,
como Antônio Henrique Félix e Maria José da Conceição
Félix, rei e rainha perpétuos da Guarda de Moçambique
de Nossa Senhora do Rosário e que começaram a dan-
çar com Joaquim Nicolau; e também músicos, como o Sr.
Durvalino Lúcio Moreira (Dorva), cuja família atuou nas
guardas de Joaquim Nicolau.

Reis e rainhas
na Festa do
Rosário em
Vianópolis nos
anos 80

32
Joaquim Nicolau teve 12 filhos, que foram criados nas
tradições do Rosário. Ao se mudar para a região central
de Betim, vivendo em diversos bairros, dentre eles Teixei-
rinha, Chácara e Santa Inês, uniu-se a João Belarmino,
que tentava reativar o Reinado do Rosário no centro de
Betim, sem sucesso, e, juntos, obtiveram esse intento.
Apesar de ter se mudado para São Joaquim de Bicas por
um período de quatro anos, Joaquim Nicolau permane-
ceu na liderança do Reinado do Rosário de Betim até o
ano anterior à sua morte. Em 1986, já bastante doente,
apenas pôde ficar sentado, e assim recebeu os cumpri-
mentos especiais de todas as guardas.
Elvira Ferino, Maria Baianinha e Antônio
Félix, rei e rainhas de Vianópolis que
dançaram com Joaquim Nicolau

Além do congado, Joaquim Nicolau também liderava


folias de reis, tendo atuado na Folia de Santo Afonso, ati-
va até a atualidade. É lembrado, tanto pelos congadeiros
quanto pelos foliões, como uma liderança firme e exigen- Rainha
te nas tradições. Suas guardas de congado, por exemplo, acompanha
deviam ser sempre organizadas em filas; no centro, ape- Joaquim
nas podiam ficar os capitães. Os dois dias de culminância Nicolau
da festa do Rosário, um sábado e um domingo de agosto,
eram uma maratona para a guarda de Joaquim Nicolau:

De casa, no Teixeirinha, a guarda ia batendo


até a igreja para levantar a bandeira. Voltava ba-
tendo até a casa, onde o vô dava café à turma.
Então, ia de novo batendo, até a capela, para as
matinas (Airton Lourenço dos Santos, neto de Jo-
aquim Nicolau, 27/07/09).
Hoje em dia, o pessoal não sabe que a festa
do Rosário é de rua. Todo mundo só quer andar
de carro (Luci Lourenço dos Santos, nora de Joa- D. Luci, nora de Joaquim Airton, neto de
quim Nicolau, 27/07/09). Nicolau Joaquim Nicolau

33
Renascimento
do Reinado
A Capitã-Regente do Reinado e Vice-presidente da Ir-
mandade do Rosário sintetiza a história da celebração em
Betim nos anos 60 e 70, tendo ela chegado a esta cidade
em 1958:

Logo depois que eu cheguei, (...) eu já acom-


panhava o congado (..). Aí deu uma parada, mui-
to tempo ficou parado, parava e voltava; aí Seu
Joaquim Nicolau mudou pra Bicas e eu sempre
arrumava o andor e aí ele buscava o andor aqui
na casa da Dona do Zé Chofer, aí a gente arru-
mava e ele levava pra Bicas; aí ele voltou pra cá
e continuou a festa aqui (...). Só que nós tínha-
mos uma rainha conga que vinha ajudar a fazer
a festa, tinha Dona Elvira ou Olivia, confundo es-
ses dois nomes, e tinha a rainha de promessas
que era Dona Maria, chamava ela de Maria Preta;
Frei Cristóvão e Joaquim Nicolau
tinha Dona Efigênia que era rainha, tudo do tem-
po do Seu Joaquim Nicolau; vinha madrinha Ana,
que era rainha perpétua, que essas 3 rainhas fa-
ziam a festa. Aí eles voltaram a parar, aí apareceu
um Frei, Frei Cristovão aí [anos 1970], e o Frei
Cristovão convidou Israel pra levantar de novo o ficando, eram duas guardas só, uma guarda de
congado, aí Israel juntou com a Edilca, Dona Lur- congo do seu João Belarmino que hoje é do Rai-
des, Zé Cheiroso, aí voltou com o congado e eu só mundinho e uma guarda de moçambique que era
ajudava por fora, porque eu tava criando [meus de Seu Joaquim Nicolau. (Maria Ladyr Laranjeira
filhos] naquele tempo (...), aí a festa tomou pé, foi de Melo, 15/12/09).

34
Capitão Mário
de Paula, pé
da coroa no
início dos anos
2000
Guarda do Zé Teodoro

Depois da morte do patriarca, Joaquim dos Santos Ro-


sário, seu filho, deu continuidade à guarda de moçambi-
que por oito anos, depois passando-a a José Teodoro, que
permaneceu na liderança durante dois anos. A guarda de
Joaquim Nicolau, então, em 1997, passou às mãos de
Mário de Paula, integrante que despontava no interior da
mesma, e este permaneceu como capitão até sua morte,
em 2008. A transmissão da liderança da guarda ao Sr.
Mário foi feita por Sebastião Pereira (o Tião Medonho),
quando este era o Capitão-regente do Reinado de Betim,
em cerimônia pública durante a Festa do Rosário. Atual-
mente, essa guarda vem sendo conduzida pela viúva do
Sr. Mário, D. Ernestina e pelo Capitão Ueverson Leandro
Basílio de Paulo (Bimbo).
A família de Joaquim Nicolau afastou-se um pouco do
congado betinense, mas permaneceu ativa em Itaúna,
até que o marido de sua neta Lucilene, José Lúcio Nunes,
reunindo descendentes do patriarca em Betim e Itaúna, Guarda de Moçambique de N. Sra. do Rosário e
montou nova guarda de Moçambique, em 2005. Santo Antônio de Pádua do Santa Inês, em 2007

35
S. Raimundinho começou a participar da guarda de
João Belarmino como frente-de-guia, passando depois
a caixeiro, e foi designado capitão por Joaquim Nicolau,
quando da morte de João Belarmino. A guarda hoje é
composta principalmente pela família de S. Raimundi-
nho, e dela já se desmembraram pequenos grupos que
hoje compõem a guarda de moçambique liderada por
seu neto, o Capitão Ednilton, a guarda de congo de outro
neto, o Capitão Deyvidson e a guarda de congo de Efigê-
nia e Aguinaldo. As guardas atualmente lideradas pelos
capitães Ednilton e Deyvidson foram fundadas por D. Euli
Ricardo Faria (Mãinha), liderança ritual radicada em Ci-
trolândia, que atuou na guarda de S. Raimundinho e se
Guarda de Moçambique de Santa Efigênia, em 2009 tornou uma dissidência da mesma.

Aí, como aqui no Citrolândia tava muito aban-


Desde a intervenção renovadora de Joaquim Nico- donado, todo mundo acha que no Citrolândia só
lau, as guardas do congado betinense vêm se originando era hanseníase ou era bandido, aí a gente come-
umas no interior das outras. Duas guardas foram criadas çou a puxar a cultura pra cá, aí foi um meio que a
durante a sua liderança, além da que ele próprio manti- gente achou, já que a mãe [Mãinha] mexia [com
nha: José Carrero fundou e depois João Belarmino man- Reinado] desde criança. (Adriana Faria, lideran-
teve uma guarda de Congo; e Geralda Soares Diniz, filha ça jovem da Guarda de Congo São Judas Tadeu,
de Joaquim Nicolau, tinha uma guarda de São Benedito. 16/12/09)
A guarda de José Carrero/João Belarmino continua ativa
até hoje, tendo como capitão Raimundo Moreira Barbosa
(S. Raimundinho).

Neste momento, a guarda de João Belarmino,


devido à sua morte, já havia passado para o Sr. Janaína,
Raimundinho, sendo que depois o Sr. Dalmo fun- Amarildo,
dou uma guarda de Moçambique, D. Neném outra Vitelcino
também de Moçambique e Tião Medonho, que ti- e Olga,
nha sido capitão da guarda de São Benedito de D. guarda
Geralda, formou uma de marujo e, posteriormen- de Dona
te, uma guarda-mirim (PITANGUI, 1996, p. 11). Geralda

36
Guarda de Congo de Nossa
Guarda de Moçambique do Senhora do Rosário dos Homens
Divino Espírito Santo, do Bairro Guarda de Congo de São Judas Tadeu Pretos de Betim, do Bairro Jardim
Angola, em 2010 de Citrolândia, em 2009 Petrópolis, em 2009

A guarda de Maria Izidora Manine, D. Neném, conti-


nuou ativa até 2009, embora com poucos dançantes, li- Guarda de Congo de Nossa Senhora do
derada pelo Capitão Swami dos Santos Silva. A matriarca Rosário do Bairro Itacolomy, em 2004
faleceu em 2010, consumando a extinção da guarda.
Sebastião Pereira, imortalizado entre os congadeiros
betinenses como Tião Medonho, começou no congado
com Joaquim Nicolau e depois com sua filha Geralda, mas
já era descendente de um tradicional congadeiro de São
João Del Rei. Formou sua própria guarda na comunidade
de Santa Isabel, Paróquia São João Bosco, nas Alterosas,
de onde veio seu padroeiro, São João Bosco. Como houve
resistências sacerdotais ao Reinado nessa paróquia, Tião
transferiu-se para o Parque das Indústrias, onde a guarda
foi acolhida pela igreja e teve continuidade.
Nos anos 1990, Tião Medonho foi a principal lideran-
ça do Reinado de Betim. Com a sua morte, em 1999, aos

37
Tião
Medonho
nos anos 90

Capitão Swami e guarda do Vila Bemge, em 2009

59 anos, sua guarda guardou luto por três anos. Seu filho,
o atual Capitão Arlen é que liderou a família para levantar
a guarda. “Na época, ele disse: não vamos deixar morrer
nada que era do papai” (Zélia Ricardo Pereira, viúva de
Sebastião Pereira, 27/07/09).
D. Zélia Ricardo Pereira é, desde então, a liderança da
guarda, considerando-se a preeminência dos mais velhos.
O primeiro capitão da guarda é Paulo Sérgio Martins, ma-
rido da filha de Tião e Zélia, a jovem liderança Cíntia.
S. Dalmo Martins, nascido na localidade de Urucuia,
Esmeraldas, declara ser neto de africano e diz ter iniciado
suas atividades na tradição do congo e na magia ainda
adolescente. Atuando junto a Joaquim Nicolau, que anun-
ciara a S. Dalmo seu futuro papel como pé-da-coroa, isto
é, principal líder do Reinado, acumulou diversos saberes
sobre as tradições e segredos do “Reino do Rosário”. Atra-
ído pelo papel exercido pelo moçambique no Reinado, fun- Paulo Sérgio e Cintia, lideranças da Guarda de Marujos
dou sua Guarda de Moçambique e aguardou o momento de São João Bosco, em 2010

38
S. Raimundinho, Ladyr e S. Dalmo, lideranças da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Guarda de Catopés do Bairro
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em 2010 Rosário, do Bairro Jardim Petrópolis, em 2009 Santa Inês, em 2005

da assumir a liderança ritual da atividade em Betim, após


José Teodoro e Mário de Paula. Atualmente, S. Dalmo é
a principal liderança conceitual do Reinado, realizando o
controle da tradição, e sua guarda é a mais numerosa.
Margarida Maria da Silva (D. Tita) é natural de Urucâ-
nia, próxima à cidade de Ponte Nova, e declara ser neta
de escravos. O avô e a avó participavam de festas tra-
dicionais na região, como o Bumba-Meu-Boi e Manta da
Beata Santa Catarina. Ela participava com a família e che-
gou a ser coroada princesa e rainha da festa.
D. Tita iniciou suas atividades no Reinado de Betim
como dançante na guarda de José Teodoro e depois na
do Sr. Mário. Era responsável pelas crianças e, tendo sido
designada capitã, assumiu uma guarda de moçambique
mirim. Em 2001, por sugestão de S. Raimundinho, S. Dal-
mo e S. Mário, criou a Guarda de Catupé de Santa Inês e Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Nossa Senhora do Rosário, formada principalmente por Pretos do Bairro Jardim Petrópolis, em 2010
crianças, admitindo também adultos.
A Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário dos mente criadas no Reinado de Betim. Originou-se de uma
Homens Pretos de Betim, de D. Efigênia Ágata da Silva e dissidência na guarda do S. Raimundinho, na qual Efigê-
do Capitão Aguinaldo, também é uma das mais recente- nia atuava.

39
Meio século depois da arrancada de Joaquim Nicolau, Betim
tem, portanto, nove guardas, conforme a arquitetura abaixo:

Guarda Capitão/Capitã Bairro


Guarda do Congo Raimundo Moreira Itacolomy
de Nossa Senhora Barbosa
do Rosário

Guarda de Congo Deyvidson Barbosa Citrolândia


São Judas Tadeu Reinado betinense nos anos 1950/60

Guarda de Congo de Aguinaldo Antônio Jardim


Nossa Senhora do de Oliveira Petrópolis
Rosário dos Homens
Pretos de Betim

Guarda de Ueverson Leandro Santa Inês Guarda de Marujos de São


Moçambique N. Sra. Basílio de Paulo João Bosco nos anos 90
do Rosário e Santo (Bimbo)
Antônio de Pádua

Guarda de Dalmo Martins de Jardim Reis e rainhas nos anos 90, na


Moçambique Nossa Assis Petrópolis Avenida Governador Valadares
Senhora do Rosário

Guarda de Ednilton Ambrósio Angola


Moçambique Divino da Silva
Espírito Santo

Guarda de José Lúcio Nunes Jardim


Moçambique de Brasília
Santa Efigênia
Reinado betinense em 1982
Guarda de Marujos Paulo Sérgio Parque das
São João Bosco Martins Indústrias
Israel de Jesus, presidente da
Guarda de Catopés Margarida Maria Santa Inês Irmandade Nossa Senhora do
de Santa Inês da Silva Rosário, em 2010

40
Reinado do Rosário
em Betim: formato e
significados
Bandeira
de Aviso

D e acordo com a tradição, o Reinado


de Nossa Senhora do Rosário
geralmente dura três dias, pois,
Evoluções rituais
na cerimônia de
hasteamento das
bandeiras

segundo os dançadores, ancorados


no mito da origem, “foi no terceiro
dia que a santa saiu do mar.”

Essa culminância é o momento mais esperado de


um ciclo que se inicia com um mês de antecedência,
quando se anuncia a proximidade da festa com o le-
vantamento da bandeira de aviso, “sinal concreto da
verticalidade, unindo terra e céu, vivos e mortos, corpo
e alma”. Em Betim, a bandeira de aviso inclui diversas
voltas no adro da Capela do Rosário, a entrada coor-
denada das guardas, cada uma delas se dirigindo a
seu santo de devoção situado nos altares, e o ritual de
hasteamento da Bandeira de Aviso da Mão Poderosa.
Segundo a historiadora Adriana Lisboa, o rito tradi-
cional de hastear a bandeira um mês antes do começo
das festividades tem sua origem no tempo da escra-
vidão, quando as práticas religiosas dos negros eram
discriminadas, e a bandeira de aviso era a única for-

43
ma dos negros anunciarem a proximidade da festividade.
Nessa época, tropeiros e viajantes ajudavam a espalhar
a notícia quando avistavam a bandeira de aviso, com a
imagem do principal santo de devoção das irmandades.
O nome da bandeira - Mão Poderosa - denota poder,
dons do Espírito Santo. Para a Irmandade do Rosário,
através da Bandeira de Aviso da Mão Poderosa, Nossa
Senhora do Rosário invoca todos os poderes e bênçãos
da mão poderosa de Deus sobre os devotos das guardas
e sobre a Festa do Rosário.
O hasteamento das bandeiras é cercado de rituais,
dentre eles os bandeireiros das guardas circularem o
mastro com suas bandeiras e todos os capitães, liderados
pelo capitão pé-da-coroa (atualmente Sr. Dalmo), encos-
tarem seus cetros no mastro e, coordenadamente, reali-
zarem o movimento de subida e descida, em fervorosa
oração.

Cerimônia de hasteamento de bandeira 2010

Capitães na bênção à
bandeira 2010

Ritual de
hasteamento
da Bandeira de
Aviso, em 2003

44
Novena Guarda de Moçambique
Nossa Senhora do Rosário
durante novena de 2010
Há todo um processo de preparação para a festa,
quando os integrantes das Irmandades cumprem uma
série de compromissos. Em Betim, o principal fenômeno
de preparação é a novena, na qual, durante nove dias,
acontecem celebrações solidárias entre a Irmandade do
Rosário e comunidades católicas de vários bairros de Be-
tim. A cada noite, é hasteada também a bandeira de um
dos santos protetores das guardas. São relatados tam-
bém rituais secretos de preparação, realizados nas casas
dos capitães.

Traslado
Traslado das
imagens das imagens
No sábado, véspera da culminância, acontecem em
Betim traslados das principais imagens de devoção da
Irmandade do Rosário até a Capela de mesmo nome. As
guardas reunidas batem suas caixas, fazem evoluções
em torno da Capela e hasteiam a Bandeira de Nossa Se-
nhora do Rosário. Após isso, permanecem na Capela o
Capitão pé-da-coroa e integrantes de diversas guardas
locais, para o ritual das Matinas. Durante toda a madru-
gada, orações são realizadas em prol de uma perfeita cul-
minância do Reinado, além de rituais nas encruzilhadas
Reis Congos
próximas, para que as entidades responsáveis por cada
e Princesa acesso à Capela do Rosário abençoem a festa.

45
A preparação
miçangas, consagradas em ritual. Os mais experientes
orientam os outros na escolha das guias.
Os integrantes vão chegando aos poucos e se cum-

espiritual primentam com bênçãos mútuas. Enquanto isso, Capi-


tão Dalmo está sozinho no espaço do Centro, espécie
de galpão-garagem, onde estão os altares e objetos de

das guardas devoção, realizando os trabalhos de abertura do terreiro.


A Guarda só pode adentrar o recinto quando se ouve o
silvo do apito do Capitão. Nesse momento, os integrantes,
Uma das características mais marcantes do Reinado sempre acompanhados de suas crianças, vão se aproxi-
do Rosário é a sua filiação religiosa tanto ao catolicismo mando do altar, da esquerda para a direita, fazendo ora-
quanto a diversos cultos afro-brasileiros, como a Umban- ções e pedindo licença para entrar. Também depositam
da e o Candomblé. Alguns grupos do Reinado procuram no chão em frente ao altar os instrumentos que serão
ocultar essa característica, devido ao preconceito contra utilizados nas atividades do dia e a bandeira de Nossa
os cultos afro-brasileiros, ainda muito marcante no Brasil. Senhora do Rosário.
A Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Ro- Um silvo longo do apito do Capitão Dalmo, acompa-
sário do Bairro Jardim Petrópolis é uma das poucas que nhado de três vivas a Nossa Senhora do Rosário, puxados
assumem publicamente sua religiosidade plural em Be- pelo II Capitão, Dalminho, inicia o processo de purificação
tim. Liderada pelo Capitão Dalmo de Assis Martins, que é de toda a Guarda. O Capitão Dalminho puxa o canto:
pai-de-santo da Umbanda, essa guarda ocupa o lugar de
“pé-da-coroa” no Reinado de Betim; isto é, ela é respon- Defumada de caboclo cheira à guiné
sável pela salvaguarda da Senhora do Rosário e de seu Ora, vamos defumar esses filhos de fé
reinado.
A Guarda do Sr. Dalmo é um clã – composta pela fa- Refrão
mília do capitão, filhos, netos e bisnetos, tios, primos, Defumei a Umbanda, defumei a Umbanda
cunhados, etc. A saída da Guarda às ruas é precedida Ela cheirou à guiné...
de extensa e intensa preparação espiritual, conforme Ora, vamos defumar esses filhos de fé...
demonstram os estudos etnográficos desenvolvidos pela
historiadora Otília Sales Neta em 2010. A sede da Guarda Nossa Senhora do Rosário, essa casa como cheira
é também a sede do Centro de Umbanda do Sr. Dalmo. Cheira cravo, cheira rosa, cheira flor de laranjeira
Quando há atividade do Moçambique, seus integrantes
ali se reúnem para a preparação: vestem seus fardamen- Rezando o Pai-nosso e a Ave Maria, Capitão Dalmo e
tos e separam as guias adequadas ao momento – guias D. Joaninha passam com uma sineta e um defumador por
são espécies de colares de contas-de-lágrimas ou de cada presente, e cada um faz o sinal-da-cruz e um giro

46
com o corpo. Então, inicia-se uma série de orações e pe-
didos de proteção às santas almas, a São Jorge e a outros
santos protetores.
Após as orações, a bandeireira da guarda, Raiana,
passa pelo altar, sempre da esquerda para a direita e vai
de costas até a porta de entrada, quando então os capi-
tães da guarda orientam a saída do grupo. Esse ritual é
demorado e a Guarda não se preocupa em apressá-lo,
pois se trata de um momento espiritual fundamental para
a vitalidade do grupo.
Reis e rainhas durante café da manhã
na Casa da Cultura, em 2009

Café da
manhã
Na manhã do último domingo de agosto, tem início a
culminância do Reinado. Algumas guardas se reúnem em
suas sedes para rituais de preparação.
A participação coletiva em refeições é uma das ca-
racterísticas desta celebração, e tanto o café-da-manhã
quanto o almoço são atualmente servidos pela Prefeitu-
Bandeiras
de Aviso e de
ra de Betim em espaços públicos. Perdeu-se em Betim
Nossa Senhora a prática tradicional de se angariar recursos e preparar
do Rosário e as refeições do Reinado. As guardas anfitriãs recebem as
bastões dos guardas visitantes com cumprimentos especiais em torno
capitães, de cruzeiros e da imagem de Nossa Senhora do Rosário.
durante ritual de Enquanto o café-da-manhã é servido, há sempre alguma
hasteamento guarda em atividade, de forma que as celebrações não
são interrompidas.

47
Cortejos de fé
Após o café-da-manhã, todas as guardas anfitriãs e vi-
sitantes, juntamente com um séquito de dezenas de reis,
rainhas, príncipes e princesas, fazem um cortejo até a Ca-
pela do Rosário, onde novos rituais de devoção são reali-
zados e as guardas seguem para o almoço. Este cortejo
é o principal da culminância, e nele é possível observar o
melhor do caráter performático do Reinado de Nossa Se-
nhora do Rosário: a rica e elaborada composição da indu-
mentária, o uso dos instrumentos musicais tradicionais,
a recente presença das caixas treme-terra, que tornam
o Reinado um espetáculo musical audível à distância, os
passos coreografados e as performances corporais indi- Gungas da Guarda de Moçambique de Santa Efigênia, em 2009
viduais, a regência dos capitães, dentre diversos outros
aspectos. Almoço na
Escola
Municipal
Cortejo matinal na Rua Clóvis Salgado,
do Rosário, em 2010 em 2004

Almoço ritual
Durante o almoço, as interações entre as guardas
ficam bastante evidentes. É um momento de pausa em
que antigos irmãos de diferentes municípios se encon-
tram e confraternizam. O caráter extra-municipal das
manifestações do Reinado fica bastante evidente nesse
momento e nos eventos da culminância como um todo.
O séquito real tem mesa e tratamento especial durante
o almoço, visto que a tradição manda que reis e rainhas
recebam distinção durante toda a celebração.

48
A finalização das celebrações do Reinado se dá pelo
ritual de pagamento das promessas. As guardas evoluem
em torno de suas bandeiras, erguidas no adro da Cape-
la do Rosário, e em torno do próprio templo. O número
de evoluções e as orações proferidas constituem o pa-
gamento das promessas. Em Betim, há momentos de si-
lêncio e de sons coordenados pelos gestos e apitos dos
capitães, às vezes imperceptíveis a um leigo. O uso do
espaço é uma condição essencial dessas evoluções, que
acontecem nas mais diversas direções: em curvas, em
círculos ou em espirais. São todos movimentos combina-
dos entre si.
O encerramento da festa, acima descrito, original-
Missa Conga de 2010. mente acontecia na segunda-feira, já que a culminância
No detalhe, Reis, tradicional das celebrações do Reinado é feita em três
Rainhas e Princesas dias. Betim eliminou a segunda-feira, dia do pagamento
da Irmandade de promessas e arreamento das bandeiras, devido ao re-
gime de trabalho atual, não mais associado ao calendário
religioso.

Missa Conga
Após o almoço, novas evoluções no adro da Capela
do Rosário com pagamento de promessas e um segundo
cortejo pelas ruas do entorno preenchem a tarde, até a
realização da missa de culminância, no início da noite.
Conhecida como missa conga, essa celebração se ca-
racteriza pela inclusão das culturas afrodescendentes
na liturgia, através de cantos, do rufar dos tambores, de
alimentos próprios da experiência africana e afrodescen-
dente na comunhão, dentre outros aspectos. O acento de
matriz afro nessa celebração depende bastante do co-
nhecimento dos celebrantes sobre a história das etnias
Padre Warley e Frei Gilvander, celebrantes
africanas e sobre as tradições do Reinado.
da Missa Conga em 2010

49
Reinado, patrimônio A presença da
infância no

cultural imaterial Reinado indica


sua vitalidade

de Betim

N esta publicação, destinada


a tornar conhecidos
fundamentos e características
do Reinado de Nossa Senhora
do Rosário de Betim, foi
possível abordar alguns
elementos dessa manifestação,
que justificam seu
reconhecimento como
patrimônio cultural do
município.

Entre esses elementos, destacam-se: sua antiguidade


e persistência temporal; seu caráter interétnico, com for-
te acento nas etnias afrodescendentes; seu dinamismo e
transformação ininterrupta, que torna inadequado consi-
derar essa manifestação como “folclórica”, dado que ela

50
não dialoga apenas com a tradição, mas também com a
contemporaneidade. Não por acaso, o Reinado do Rosá-
rio em Betim participa das relações políticas locais, com
isso auferindo recursos necessários à manutenção da
manifestação; mantém relacionamento próximo com as
mídias locais; absorve elementos das culturas e lingua-
gens urbanas contemporâneas, como modernos cortes
de cabelo e penteados, acessórios como piercings, arti-
gos industriais para a confecção dos instrumentos e da
indumentária, dentre outros. O Reinado de Betim é uma
manifestação urbana, na qual o transporte coletivo, o te-
lefone e a concepção alimentar própria dos restaurantes
desempenham papel fundamental. Nele, o município de
Betim, como se configura atualmente, está perfeitamente
representado.
Por tais razões, a manifestação foi registrada pela
Prefeitura Municipal, através da Fundação Artístico Cul-
tural de Betim, como patrimônio imaterial do município.
Esse registro foi feito com a aprovação e contribuição da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, protagonista do
Reinado, em janeiro de 2010, no Livro IV do Patrimônio
Imaterial local, denominado Livro Das Celebrações.

Jovens do
Reinado
betinense em
2009 e 2010

51
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Jornal Correio de Uberlândia, 1984-2002. História e perspectivas, Uberlândia (32/33):
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Deyvidson Leandro Barbosa GRUPO OFICINA DE RESTAURO. Relatório das Atividades da Restauração Realizada na
Efigênia Ágata da Silva Imagem de Nossa Senhora do Rosário Pertencente à Capela de Nossa Senhora Do
Elisa Mota Marques Rosário – Betim/MG. Betim, março de 2007 (Elizabete Alves e Adriano Reis Ramos).
Eneida Aparecida da Silva
Euli Ricardo Faria LISBOA, Adriana das Graças Araújo. Bandeira de Aviso. Mensagem eletrônica de 21 de
Gilberto da Silva Santos julho de 2009.
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Maria Ladyr Laranjeira Melo
Maria das Graças Assunção MODESTO, Ana Lúcia & PITANGUI, Cleonice. Levantamento Cultural de Betim. Betim:
Monklin Delano Martins FUNARBE, 1996. (mimeo).
Nádia Mara Paiva
Patrícia Brito NERY, Vanda Cunha Albieri. Dançadores da Fé: processos comunicacionais e simbo-
Raimundo Moreira Barbosa logias no Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Intercom. Sociedade Brasileira de
Zélia Ricardo Pereira Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXX Congresso Brasileiro de Ciências da
Zilda Angela Eustáquio Comunicação. Santos: 29 de agosto a 2 de setembro de 2007.

NETA, Otília Sales. Etnografia da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário


Bibliografia do Bairro Jardim Petrópolis. Betim, setembro de 2010 (mimeo).

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