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Histórias

Bordadas
2

Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei

Projeto Bordando a História


COMISSAO EDITORIAL: Alex Lombello Amaral, Augusto Henrique Assis Resende, Betânia Maria
Monteiro Guimarães, Bruno Nascimento Campos, Lia Lombardi, Maria Lúcia Monteiro
Guimarães e Suely Campos Franco.

Grupo técnico de Produção desta Revista:

Coordenação Geral e Organizadora: Maria Lúcia Monteiro Guimarães;

Diagramação e Edição: Editora Heráclito

Apoio técnico: Vídeo e fotos por Paulo Hardin Ribeiro Portela

Apoio técnico-operacional ao grupo: Márcia M. da Silveira, Marise Carvalho de Oliveira e


Regina Maria de Paiva Santos.

Textos: Paulo Roberto de Sousa Lima, Presidente; Maria Lúcia Monteiro Guimarães,
coordenadora e Tereza Raquel Assis de Oliveira Pugliese, jornalista; Frederico Baeta.
Capa: Edmilson Informática.

Bordadeiras: Aparecida de Jesus Reis, Cecília F. Carvalho, Dayana Resende, Diovânia Longatti
Fernandes, Edna Aparecida Longatti, Dayana Resende, Irene A. Vieira Vale, Ismair Aparecida
Longatti de Resende, Julia Longatti de Resende, Martha Maria M. de Resende, Márcia M. da
Silveira, Marise Carvalho de Oliveira, Mariza Cardoso Barreto, Regina Maria de Paiva Santos.

Ilustração: Matheus Kohagura Alonso. Risco dos Bordados: Sandra R. Cunha.

Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei – GUIMARÃES. Maria Lúcia M. (Org.) “Histórias
Bordadas - Revista 2”, São João Del-Rei: IHG-SJDR, Ed. Heráclito, 2023.

1. História. 2. Geografia. 3. Cultura

Fica vedada toda reprodução desta obra, em parte ou no todo, sem autorização do IHG-SJDR
e fazê-lo sempre com a citação da fonte e da denominação do IHG-SJDR.

Obra impressa com recursos do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural –


CMPPC, oriundos do Fundo Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural- FUMPAC – SJDR e
apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de São João del-
Rei.

Presidência do IHG-SJDR – Gestão 2021/2024


Paulo Roberto de Sousa Lima – Presidente
Artur Claudio da Costa Moreira – Vice-presidente
Maria Lúcia Monteiro Guimarães – Secretária
Sherman Portela Ribeiro – Tesoureiro
Alex Lombello Amaral – Bibliotecário

Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei – CNPJ 18.994.319/0001-45


Rua Santa Teresa – 127 – Centro Histórico – São João del-Rei-MG-Cep 36.306-006
Sumário

Homenagem ao Patrono-Mor Basílio de Magalhães

Editorial
Introdução: o Projeto “Bordando a História” – Livros-Bordados
Bastidores, agulhas e linhas construindo histórias

Livro 1 – “A lenda da Mãe do Ouro”


Livro 2 – João Cândido “Tecendo a liberdade”

Livros bordados na praça: Encontros de bordadeiras no Museu


Regional de São João del-Rei e no Museu Municipal Tomé Portes
del-Rei.
Basílio de Magalhães
Patrono-Mor do IHG de São João del-Rei
Editorial

O Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei reafirma, à comunidade


são-joanense, por esta Revista Historias Bordadas – 2, do Projeto Bordando Histórias –
Livros Bordados sua disposição de ousar ousada prática de apresentar proposta
inovadora, como literatura e arte: a do livro-bordado. Por que a ousadia? Fundado em 1º
de março de 1970, somos uma associação civil cientifica de duração ilimitada, sem
finalidade lucrativa, que tem por missão zelar e proteger o patrimônio, material e
imaterial, a história e o meio ambiente desta tricentenária cidade de SJDR. Para isso
promovemos o estudo, a pesquisa e a divulgação da história, geografia e ciências
conexas, em geral e, particularmente, do município de SJDR, cidade onde tem sede e
foro, com sede na “Casa mais Antiga”, rua Santa Tereza, 127, Centro Histórico.
Composto de sócios fundadores e efetivos, que ocupam cadeiras perpetuas sob
patronato de personalidades significativas para nossa cidade, temos associados
correspondentes em cidades de Minas, do Brasil e do exterior; e também beneméritos e
honorários. Com a contribuição de todos prestamos contribuição reputada como
significativa pela comunidade, o que nos fez ser uma entidade de utilidade pública e
órgão técnico consultivo ao governo executivo e legislativo municipal da cidade.
Desde a fundação, somos uma instituição de luta em prol do patrimônio histórico
da cidade e, dentre outras atividades, mantemos uma produção editorial com vistas a
documentar no acervo da nossa biblioteca “Geraldo Guimarães”, com base na Revista
do IHG-SJDR e outras linhas editoriais, tudo que aqui se produz e se agrega ao domínio
da comunidade, em geral no formato de artigos, que se revelam uma fonte riquíssima
para pesquisadores sobre a história e a cultura desta tricentenária cidade, de Minas e do
Brasil.
Mas esta Revista, que ora apresentamos ao usufruto da comunidade e dos
especialistas na área da cultura popular, traz consigo a especificidade de publicizar e
repercutir um produto artístico artesanal único que é um livro-bordado: produto do
trabalho das bordadeiras, esta profissão quase tão antiga quanto a presença do homem
no mundo, nos conta a historia de alguma personalidade significativa que, pela sua
contribuição a história da própria cidade, como a Lenda da Mãe do Ouro e uma
homenagem ao “Almirante Negro”, o marinheiro bordador João Cândido . Como
afirmamos na Revista 1, aqui se faz “...uma reflexão intelectual sobre parte da cultura
popular, oralmente e manualmente construída pela própria comunidade de bordadeiras,
e aqui apresentada como mais uma forma de manifestarmos nossa disposição de honrar
e dignificar a cultura local de SJDR”.
Ao apresentar mais este produto da nossa gestão, fazemos um agradecimento
público e a homenagem dos nossos confrades à comunidade das bordadeiras são-
joanenses e cidades vizinhas, a todos parceiros e amigos que contribuíram para sua
produção, e ao Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural – CMPPC e à
Secretaria Municipal da Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de SJDR, que
cederam os recursos públicos, via FUMPAC – Fundo Municipal de Proteção a Cultura,
para sua produção.

São João del-Rei, em junho de 2023.


Paulo Roberto de Sousa Lima
Presidente.
O Projeto “Bordando a história”

Em 2022 apresentamos, no Plano de Trabalho que detalhamos para os parceiros


quando da captação de fundos públicos necessários a realização das oficinas de
bordadeiras, com o objetivo de produção dos quatro livros bordados e das Revistas que
mostram sua releitura impressa, a ideia que consolidamos ao longo dos últimos anos,
mais precisamente desde 2017, nos encontros presenciais e virtuais denominados “Café
com Prosa – Roda de Conversas” que mostrou o quanto de histórias ainda há para
contar sobre esta tricentenária cidade de El Rey.
A acumulação dos conteúdos dos temas tratados nestes encontros, entre 2017 a
2019, nos permitiu compor e divulgá-los no livro “Estórias por trás da história são-
joanense” (IHG-SJDR, Cidade de Barbacena, 2019), onde foram contadas histórias de
vida de personalidades reconhecidas que depois foram utilizados como tema de trabalho
nas oficinas do grupo de bordadeiras do IHG. Assim foi feito com a história da
educadora e folclorista Alexina de Magalhães Pinto e do seu Geraldo José da Silva,
historiador popular de notório saber sobre esta sua cidade e cujos resultados
apresentamos na Revista 1 e agora nesta Revista 2 documentamos na forma impressa as
histórias de João Cândido, o Almirante Negro, cujos bordados dos tempos de prisão
estão expostos em SJDR, no Museu Municipal Tomé Portes del-Rei e com a lenda loura
da “Mãe do Ouro”, tão cantada e decantada pelos apreciadores e protetores da Serra do
Lenheiro.
A estratégia para alavancar este movimento e a metodologia adotada incluiu, sob
a coordenação da Prof. Maria Lúcia Monteiro Guimarães, Secretaria deste Instituto e
também bordadeira reconhecida, oficinas de bordados onde, da contação de história
sobre evento e ou personalidades significativas para a cidade e outras histórias e lendas
urbanas, estimulou-se releituras dessas histórias e lendas em riscos e desenhos, base dos
bordados. Assim, surgiram bordados que, sistematizados nos conteúdos, tomaram vários
formatos, sendo um deles como um livro-bordado, objeto artístico e literário que se
tornou mais um meio e formato de se recontar histórias sobre SJDR. Esta experiência,
que agora chega a seu momento de conclusão, a despeito das dificuldades de trabalhos
manuais em tempos de pandemia, nos animou a mostrar aqui como resultado do uso das
oportunidades de trabalho-lazer-terapia do bordado como produção artística e cultural.
Como regra para este movimento artístico e cultural da própria comunidade
ficou definido que os temas a serem escolhidos e trabalhos como artesanato em bordado
devem compor o acervo dos bens materiais e imateriais do patrimônio local, como os
bens protegidos como patrimônio cultural do município, vindo a constituir uma pauta
para a ação educativa dos confrades do Instituto, dos técnicos da Secretaria Municipal
de Cultura e Turismo e dos professores e técnicos da Secretaria Municipal de Educação,
em parceria com outras instituições públicas e privadas, de forma a construir um acervo
único, artístico e cultural, capaz de ser uma ferramenta efetiva de construção de uma
consciência patrimonial junto ao público alvo deste projeto, como alunos das escolas, a
comunidade em geral e os turistas.
Conforme assumimos em compromisso público no Projeto e Plano de Trabalho,
aqui concluímos nosso compromisso de produzir livros-bordados, elementos únicos per
si, e torná-los reproduzíveis e em formatos diferenciados, via técnicas de impressão,
aqui como Revista, e outros formatos técnicos como áudio visuais para, com isso,
divulgar a personalidade homenageada e valorizar o trabalho artesanal das bordadeiras
da comunidade são-joanense e do seu entorno urbano. Em outro texto expomos nossa
perspectiva da tecnologia do tradicional trabalho manual do bordado, resíduo da cultura
dos povos ancestrais aos habitantes desta nossa cidade de SJDR, mas aqui renovamos e
reforçamos a importância que damos ao apoio aos grupos tradicionais que ainda
“teimam” em manter práticas culturais de estirpe tradicional, típicas de comunidades
com tradições rurais e características sociológicas definidas como comunitárias. Este
envolvimento comunitário com o uso de métodos e técnicas de trabalho manual, forte
envolvimento afetivo e atores sociais com moradias próximas em contextos ainda não
urbanizados totalmente, mas que ainda promovem repercussões junto de camadas
urbanas da população circundante ou conurbada, como bem exemplificam as histórias,
apresentadas nestas, das bordadeiras que participam, para nosso orgulho, deste Projeto.
Consideramos, finalmente, que o esforço técnico e organizacional feito foi bem
sucedido, como aqui demonstramos, e vale, principalmente para documentar parte
importante da cultura imaterial, de tradição oral, como lendas e causos da comunidade e
da nossa cidade. Documentar este movimento e esforço e divulgá-lo, entendemos, é o
papel do nosso Instituto e para isto procuramos e obtivemos, junto aos parceiros como o
CMPPC e a Secretaria Municipal de Cultura, a quem agradecemos o apoio técnico e
financeiro fundamental para a consecução dos livros bordados e desta Revista.

Maria Lúcia Monteiro Guimarães – Coordenadora do Projeto


Paulo Roberto de Sousa Lima - Presidente
Bastidores, agulhas e linhas construindo histórias

Tereza Raquel Assis de Oliveira Pugliese


Associada efetiva IHG-SJDR

Paulo Roberto de Sousa Lima,


Presidente IHG-SJDR

Este livro contará histórias através dos bordados e traçados. Retratando


personagens, contextos, métodos e técnicas de domínio da cultura popular, estimulando
novos grupos de bordadeiras, documentando parte significativa da cultura imaterial
inerente a métodos e técnicas de bordar gerando um produto único.
Arte pré-histórica, o bordado era praticado inicialmente por homens que
utilizavam agulhas de ossos e fios de fibra para as costuras nas peles de animais. Povos
babilônicos se destacavam como desenvolvedores desta arte, posteriormente foram
superados pelos egípcios. Gregos e romanos também tiveram suas vestes ricamente
adornadas. Com as Cruzadas as técnicas foram aperfeiçoadas, traços orientais foram
incorporados aos bordados europeus que passaram a ser executadas essencialmente
pelas mulheres ganhando assim, “status” de atividade doméstica.
Trazida por imigrantes para o Brasil as técnicas de tecer e bordar foram
incorporadas às existentes dos povos originários. Utilizavam fibras têxteis como fios
de algodão, surgindo novos pontos, atando diversos estilos criando identidade dos
bordadeiros brasileiros.1
Sergipe lidera o ranking nacional na produção de bordado, uma vez que a
atividade é exercida em 96% de seus 75 municípios. Minas Gerais, segundo dados do
IBGE, em 2014, ocupava a vice-liderança, com artesãs bordadeiras atuando em 714
municípios mineiros, universo que representa 83,7% das cidades do estado Na Região
da Vertentes, em especial em São João del-Rei e Tiradentes apesar de arte ser praticada
há longo tempo, não existem dados estatísticos sobre a produção local. 2
Sabedor, preocupado com a preservação e valorização desta dimensão da cultura
popular, o Instituto Histórico e Geográfico, com a expertise da Professora Lucinha
Guimarães coordenadora do Projeto “Livro Bordado”, se torna o catalisador deste

1
SANTOS, Lucas Ribeiro da Costa Souza. Entre a Linha e o Bordado, Corpo e Memória de José
Leonilson. Monografia Apresentada Pontifícia Universidade Católica como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em Arte: Crítica e Curadoria. São Paulo. 58 pag. 2019.
2
VIEIRA, Marta; CASTRO, Marinella de. Artesanato associado à tradição cresce em 83,7% dos
municípios de Minas. Jornal Estado de Minas. 25 dez. 2016. Seção Economia. Disponível em: Disponível
em: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2016/12/25/internas_economia,835015/artesanat
o-associado-a-tradicao-cresce-em-83-7-dos-municipios-de-mg.shtml. Acesso em: 7 jan. 2020
projeto, iniciando contatos, agregando interessadas em aprender com aquelas que tem
experiência na arte do bordar, tornando o processo das oficinas de bordados um
elemento de efetiva expressão da cultura local.
Linhas coloridas se entrelaçam nas oficinas, base da produção coletiva de
amigas e vizinhas, formando tramas de onde saem bordados que retratam o dia a dia, o
imaginário, dores, mensagens, manifestações políticas, símbolos, celebrações.
Determinando o status social das pessoas, histórias e recuperação das memórias das
comunidades onde as participantes estão inseridas.
Emoções, sentimentos, confissões e desabafos são tecidos e entrelaçados,
tornando as oficinas extensão familiar, além de espaço de construção de identidades. É
o registro histórico, sendo costurado, ligando histórias à realidade, ainda que
inconscientemente, através de mãos habilidosas.
Agulhas, pontos, entremeios e tesouras trazem bastidores do cotidiano
entremeado de narrativas cerzidas por desenhos, letras, símbolos alinhavando o ponto a
ser conhecido, desvendado. Marcando o momento vivido, o período histórico,
transformando aquele trabalho muitas vezes ignorado, despercebido ou mesmo
menosprezado em importante fonte de pesquisa e informações.

Referências Biográficas:
PEREIRA Carolina Nascimento Pereira e TRINCHÃO Gláucia Maria Costa.
O BORDADO COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL NO BRASIL ENTRE
OS SÉCULOS XIX E XX. https://www.redalyc.org/journal/3216/321669707006/html/
Aparecida J. Reis Diovania L. Fernandes
Maria Lúcia M. Guimarães
Coordenadora do Projeto

Irene A. Vale Ismair L. Resende


Edna Longatti

Regina P. Santos Martha M. Resende


Mariza C. Barreto

Marise C. de Oliveira Sandra Cunha


Matheus Kohagura Alonso
Aparecida J. Reis Cecília F. Carvalho
Maria Lúcia M. Guimarães
Coordenadora do Projeto

Dayane Resende Edna Longatti


Diovania L. Fernandes

Irene A. Vale
Ismair L. Resende Julia L. de Resende

Mariza C. Barreto Marise C. de Oliveira


Regina P. Santos
Livros bordados na praça:
Encontro de bordadeiras do Museu Regional de S. J. del-Rei
Encontro das bordadeiras na exposição dos bordados de João Cândido,
no Museu Municipal Tomé Portes Del Rei.
Bordado de João Cândido, como exposto no Museu Municipal Tomé Portes del-Rei

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