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Biografia Cutter
Biografia Cutter
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A moderna catalogação teve início no século XIX nos Estados Unidos e Europa a
partir da consagração dos catálogos como instrumento de mediação das bibliotecas
(GARRIDO ARRILLA, 1999), fato que impulsionou o desenvolvimento da organização da
informação. Durante muito tempo o catálogo foi caracterizado como simples lista abrangente
de documentos contidos na biblioteca, era utilizado como modo de inventariar e registrar a
coleção, fase em que as bibliotecas funcionavam como meros depósitos de livros, com seu
acesso restrito a igreja, donos de bibliotecas particulares e a monarquia (na Europa). Nessa
época não havia normas específicas para a construção dos catálogos, os bibliotecários
atuavam como catálogos vivos e os documentos eram em geral, facilmente localizáveis.
Alguns fatores sociais foram determinantes para mudança de paradigma das
bibliotecas e conseqüentemente da organização da informação, pois favoreceram a
socialização da cultura. Como a Reforma, a Revolução Francesa, incentivo à leitura, criação
das bibliotecas nacionais e públicas, expansão das universidades – que contribuiu para o
desenvolvimento da pesquisa científica. Nesse período a biblioteca passou a assumir uma
função educativa na sociedade (GARRIDO ARRILA, 1999), movimento liderado pelos
Estados Unidos, pois na Europa a tradição resistia.
A partir desses marcos não se bastava mais apenas inventariar a informação, mas sim
representá-la com o propósito de criar estruturas eficazes para sua busca e recuperação pelos
usuários. Tendo em vista, a função atuante da informação como elemento chave para o
progresso da sociedade, o foco dessas unidades passa a ser na coletivização do conhecimento.
Desse modo, o catálogo que não tinha o propósito maior de atuar como instrumento de
busca, passa a ser caracterizado como objeto de recuperação de informação (BAPTISTA,
2006). A partir disso, já não era mais possível definir o catálogo como uma simples lista
organizada de documentos e dessa forma, se tornou um instrumento de comunicação,
responsável por informar ao usuário a respeito dos documentos existentes na biblioteca e a
pertinência a sua necessidade.
Os problemas enfrentados pelos bibliotecários durante a construção dos catálogos das
bibliotecas com grandes acervos contribuíram na elaboração das primeiras normas de
catalogação, qualificadas como modernas na concepção de Garrido Arrila (1999). Na Europa
com Anthony Panizzi bibliotecário do British Museum e nos Estados Unidos com Charles
Coffin Jewett do Smithsonian Institute e Charles Ammi Cutter do Boston Athenaum.
Salvo alguns estudos de livreiros, a literatura (MEY, 1995; FERRAZ, 1991; FIUZA,
1987) destaca algumas tentativas de elaboração, porém em âmbito local não sendo aplicáveis
a demais unidades de informação. Por isso, os estudos desses homens marcam o início da
catalogação moderna e se constituem como marcos na história da organização da informação.
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Inicialmente chamado de Rules for a printed dictionary catalogue (CUTTER, 1876).
Esse trabalho foi "[…] reconhecido imediatamente como um tratado de catalogação e
permanece um clássico" (TAUBER; WISE, 1961). Por mais de meio século foi a única obra
sistemática e bem atualizada de regras sobre a entrada de cabeçalhos de assunto, embora as
muitas críticas, ninguém propôs a adoção nem compilação de um conjunto novo de regras
(DIAS, 1967).
Foskett (1973, p. 47) observa que Cutter foi “[...] prejudicado pelo fato de ter aceitado
a linguagem natural como o único tipo de terminologia possível”, pois isso acarretou em
questões fundamentais na criação do catálogo, o que também advinha do fato de Cutter
acreditar que “[...] os nomes de assuntos existiam apenas enquanto tivessem aceitação geral e
fossem usados”. Essa é uma das fragilidades apontadas nas regras de Cutter, outra que merece
o comentário de Foskett, diante de uma opção, como nos cabeçalhos formados de mais de
uma palavra, a solução que Cutter dava ao problema raiava à sublimidade da inocência:
coloque na frente o termo mais significativo. […] o que não deixa de ser uma regra útil, mas
que relega para o indexador a definição do que seja 'significativo'.
Percebe-se nesse ponto que se por um lado, Cutter conseguiu elaborar formas de
auxiliar o leitor profissional na análise de assunto a ser selecionado, por outro lado, definições
metodológicas mais precisas de como fazê-lo permaneceram vagas. Quanto a isso Foskett
(1973, p.49) relata:
[...] não devemos censurar Cutter por não ter resolvido todos os nossos
problemas ou por não ter tomado conhecimento de alguns deles. As
informações com que temos de lidar são quantitativamente muito maiores e
individualmente mais complexas do que tudo aquilo que Cutter considerou
como passível de se acomodar às suas regras. O que ele fez foi introduzir
ordem num processo antes entregue ao acaso, e ao fazê-lo, apontou o
caminho para futuros desenvolvimentos.
Outras críticas também são elencadas por Foskett (1973) em relação à metodologia
proposta por Cutter, contudo para Silva e Fujita (2004, 143): “[...] a obra de Cutter representa
o primeiro estudo dos problemas relativos à indexação alfabética de assunto, quanto às
implicações de entradas específicas de assunto e as dificuldades da aplicação dos termos
simples, compostos e geográficos”.
Vale ressaltar a ausência de novos códigos, após a publicação da obra de Cutter –
tendo em vista a insuficiência de alguns aspectos em suprir determinadas questões da
representação de assunto. Isto conduziu muitos teóricos da área de catalogação a tratar os
cabeçalhos de assunto de modo resumido, orientando a utilização de listas impressas. Já que
durante muito tempo, as escolas de Biblioteconomia contavam apenas com as regras de Cutter
para embasamento (DIAS, 1967).
A obra de Cutter também serviu de base ao Código da Biblioteca da Vaticana que em
1930 reorganizou seu acervo construindo um catálogo dicionário seguindo as práticas
adotadas nos Estados Unidos, pela Library of congress (LC). Isso resultou no primeiro código
depois das regras de Cutter, com extenso estudo dedicado aos cabeçalhos, que teve influência
internacional nos estudos referentes ao tema.
Por isso, pode-se dizer que Cutter foi o primeiro teórico a sistematizar a prática de
construção de assunto, embora não tenha resolvido todas as questões inerentes a essa
problemática, seus princípios se tornaram um marco na história da organização.
Provavelmente o maior esforço internacional nesse sentido até agora seja a Declaração dos
Princípios Internacionais de Catalogação da IFLA (IFLA, 2008), última edição em 2008. A
Declaração foi aprovada em 1961 pela Conferência Internacional de Princípios de
Catalogação, e ficou conhecida como Princípios de Paris.
Esse é um trabalho sem dúvida de grande importância e seus objetivos deixam claro
que além da descrição física, a temática tem ganhado um papel de destaque cada vez maior.
Nesse sentido, a Declaração visa alguns objetivos e é altamente interessante que o principal
deles seja em concordância com a conveniência do usuário sugerida por Cutter, que o
catálogo deveria estar na linguagem natural, mais próxima possível ao usuário (CUTTER,
1904). Obviamente isto não quer dizer, que a IFLA se viu obrigada a respeitar as opiniões de
Cutter, mas demonstra um dos pontos em que ele por si só, já possuía uma visão vanguardista.
Charles Ammi Cutter (DAVIDSON, [199-]) nasceu em Boston, Massachussets em
1837. Desde jovem recebeu uma educação clássica que o preparou para a entrada no clero, de
1851 a 1855 estudou no Harvard College e em 1856 entrou para a Harvard Divinity School,.
Antes mesmo de sua graduação foi designado bibliotecário-assistente da instituição, iniciando
o que viria a ser o trabalho de sua vida. Seu primeiro trabalho foi preparar um novo catálogo
para a Divinity School, que havia dobrado o volume de seu acervo.
Após a graduação em 1860, Cutter decidiu não ser ordenado sacerdote e assumiu o
cargo de bibliotecário-assistente da Harvard College e iniciou o desenvolvimento de um novo
catálogo. Ao contrário da maioria das bibliotecas da época, Cutter criou um catálogo baseado
em princípios que começavam a ser criados e sistematizados por ele próprio e dessa forma ao
invés de publicar o catálogo em um volume, criou cartões que funcionaram como índice de
autor e “catálogo alfabético”, gerando uma forma rudimentar de acesso por assunto: “[…] este
tipo de catálogo preparou Cutter para o seu trabalho posterior com o catálogo dicionário"
(IMMROTH, 1968). Passando a ganhar notoriedade na área em 1868 Cutter foi escolhido
bibliotecário do Boston Athenaeum, e iniciou a criação de um catálogo público da instituição,
o que ocorreu em cinco etapas entre 1874 e 1882. Esse trabalho, segundo seu sobrinho e
biógrafo William P. Cutter (1969) foi modelo para outros catálogos dicionários. Esse projeto
alavancou a reputação de Cutter na Biblioteconomia.
Outro ambicioso trabalho de Cutter foi a sua Expansive Classification, que pretendia
servir a qualquer instituição independente do tamanho do seu acervo, pois, através desse
esquema, estruturado em sete tabelas, ou sete níveis de detalhamento da classificação poder-
se-ia atender qualquer volume de acervo, e permitia passar dos níveis mais gerais para os mais
específicos de acordo com a necessidade da instituição. Embora não tenha obtido alcance
internacional em função da complexidade de sua aplicação, ela serviu de base para a
classificação bibliográfica da LC. Até a década de 1930 a Expansive Classification era
utilizada por cerca de 100 bibliotecas nos Estados Unidos, certamente caiu em desuso devido
a falta de atualização (SAYERS, 1955 apud PIEDADE 1983).
Cutter ainda contribuiu com a idealização da Tabela ou Código de Cutter, utilizada
amplamente até hoje, como forma de abreviar os nomes dos autores e atribuí-los uma
representação numérica, permitindo assim que os nomes pessoais dos autores também sejam
utilizados na organização física dos acervos.
Além de todas essas colaborações à Biblioteconomia, Cutter foi um dos membros
fundadores da American Library Association, foi editor geral da publicação Library Journal,
publicado por essa associação, compareceu aos dois Congressos Internacionais de Bibliotecas
realizados em Londres em 1877 e 1897, sendo o vice-presidente da última delas.
Cutter faleceu em 06 de setembro de 1906 deixando um legado precioso para a
Biblioteconomia e para organização e representação da informação.
4 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
CUTTER, C.A. Rules for a dictionary catalog. 4th ed. rewritten. Washington, Govt. printing
office, 1904, p. 69.
______. Rules for a Dictionary Catalog. W. P. Cutter, ed. 4th ed. Washington: Government
Printing Office, 1904. (Repr. London: The Library Association, 1962.)
FIUZA, M.M. A catalogação bibliográfica até o advento das novas tecnologias. Rev. Esc. De
Biblioteconomia da UFMG, v.16, n.1, p.43-53, mar.1987.
TAUBER, M. F.; WISE, E.. Classification Systems. The State of the Library Art. New
Brunswick, NJ: Rutgers U. Graduate School of Library Service, 1961. 1-528.