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À UNIDADE REGIONAL COLEGIADA ZONA DA MATA DO CONSELHO DE POLÍTICA

AMBIENTAL DE MINAS GERAIS – COPAM / MG

Empreendedor: Vale S/A


Empreendimento: PCH Nova Maurício.
Processo: 26940/2010/001/2011
Parecer Único SUPRAM: ZM Nº: 076804/2012 (SIAM)
Atividade principal: Barragem de Geração de Energia - Hidrelétrica
Classe 5
Licença de Operação Corretiva

I – Relatório:

Trata-se de pedido de Licença de Operação Corretiva de empreendimento


cuja atividade é a geração de energia hidrelétrica.

O empreendimento foi construído nos idos de 1956, sobre o leito do Rio


Novo, no município de Leopoldina-MG, nas coordenadas geográficas 21º 28‟ 33” de latitude
sul e 42º 50‟ 39,8” de longitude oeste, onde o seu reservatório ocupa, também, terras dos
municípios de Descoberto, Itamarati de Minas e São João Nepomuceno.

O empreendimento tem capacidade de geração de 29.232 KW e seu arranjo


geral é composto de reservatório, barragem, trecho de vazão reduzida, tomada d‟água,
chaminé de equilíbrio, conduto forçado, casa de força com quatro conjuntos
turbinas/geradores, uma estação transformadora e canal de descarga.

A barragem é construída toda em concreto, e segundo informações contidas


no parecer único, possui 110 metros de extensão, 23 metros de altura máxima com crista de
4 metros de largura.

Os vertedouros de comporta, incorporado na barragem de concreto, são


compostos por 05 comportas do tipo setor, de 8,10m x 4m cada, com uma capacidade
máxima de vazão de 200 m3/s por comporta. A área total inundada é de 312 ha.

O Parecer Único da SUPRAM-ZM é favorável à concessão da Licença de


Operação Corretiva.

1
Com o objetivo de melhor analisar o processo, este Conselheiro requereu
vista dos autos durante a 98ª RO da URC-Zona da Mata.

Eis, em apertada síntese, o relatório.

II - Da necessidade da baixa em diligência.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um instrumento da Política Nacional


do Meio Ambiente que permite a identificação e avaliação prévia dos impactos ambientais
decorrentes da instalação, operação ou ampliação de empreendimentos capazes de
provocar significativos impactos ao meio ambiente, além de indicar medidas mitigadoras e
considerar alternativas locacionais e tecnológicas do projeto. Tem ele por objetivo básico a
prevenção de danos ambientais e a consulta aos interessados, de forma a garantir a
transparência do processo de licenciamento ambiental.

A Resolução CONAMA n.º 01/86, art. 2º, elencou as hipóteses em que se


deve exigir o EIA/RIMA:

“Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório


de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual
competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades
modificadoras do meio ambiente, tais como: (...)
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para
fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais
para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras
e embocaduras, transposição de bacias, diques;

A apresentação do EIA/RIMA, portanto, é medida indispensável, uma vez que


a norma geral nacional criou uma presunção absoluta de significativo impacto ambiental
para a implantação de tais empreendimentos. Naquelas hipóteses, o poder público está
sempre vinculado ao princípio da obrigatoriedade, não existindo margem para
discricionariedade do órgão ambiental em relação à análise do significativo impacto
ambiental no caso concreto.

No presente caso, o órgão ambiental licenciador exigiu a apresentação do


EIA/RIMA, havendo ele sido apresentado.

Entretanto, a norma que instituiu a realização do EIA elencou alguns itens


imprescindíveis para a sua elaboração:

2
Art. 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes
atividades técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise
dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a
situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:
(...)
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através
de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos,
temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais. (g.n.)

Segundo Gonçalves, os efeitos sinérgicos dizem respeito à alteração


significativa na dinâmica ambiental a partir da acumulação de impactos locais provocados
por mais de um empreendimento. Essa alteração deve ser representativa de uma mudança
em um mesmo aspecto econômico, social, ambiental ou institucional1.

No mesmo sentido, Milaré esclarece que a sinergia é o efeito ou força ou


ação resultante da conjunção simultânea de dois ou mais fatores, de forma que o resultado
é superior à ação dos fatores individualmente, sob as mesmas condições2.

Noutro passo, são cumulativos os impactos ou efeitos capazes de ensejarem


alteração significativa na dinâmica ambiental a partir da acumulação de impactos locais,
provocados por mais de um empreendimento3.

Compulsando o EIA apresentado, verifica-se que ele não contemplou a


análise das propriedades cumulativas e sinérgicas do empreendimento, impossibilitando a
correta e adequada visualização de eventuais impactos e efeitos decorrentes da operação
do empreendimento.

Ressalto que não estou, nesse momento, opinando pelo indeferimento da


licença, mas ressaltando a necessidade da baixa em diligência para que o EIA seja
devidamente complementado, sob pena de nulidade de eventual licença deferida.

1
GONÇALVES, Luiz Cláudio. Planejamento de Energia e Metodologia de Avaliação Ambiental Estratégica:
Conceitos e Críticas. 1ª Ed. Curitiba: Juruá, 2009, p. 93-94.
2
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 3a ed. ver. atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 1003.
3
GONÇALVES, Luiz Cláudio. Op. cit., p. 93-94.
3
III – Do acompanhamento e da necessidade de majoração dos
exemplares da ictiofauna na área do empreendimento.

Os estudos apresentados sobre o tema identificaram a existência de 04


ordens, 13 famílias, englobando 28 espécies no rio Novo, sendo quatro exóticas na bacia do
rio Paraíba do Sul: tucunaré, tilápia, dourado e pacu.

Analisando o EIA, verifica-se que o tempo de monitoramento foi considerado


pequeno pela equipe. Vejamos:

Consideração Final
Com base nos dados levantados nesse período de amostragem é recomendado aqui
neste diagnostico a continuidade do monitoramento icitiofaunístico (Programa a ser
inserido no PAC – Plano de Controle Ambiental) para que possamos construir uma base
de dados que sustente conclusões mais seguras a respeito da composição e
estruturação atual da ictiofauna local. É sabido, que a avaliação da estrutura e
composição de uma comunidade tendo como referência poucas coletas é bastante difícil.
A cada campanha uma nova informação sobre a comunidade é adicionada e seu
entendimento pode ser aprimorado ao longo do tempo, por isso a continuidade de um
monitoramento é tão importante. – f. 124 (g.n.)
Conta, ainda, do Estudo de Impacto Ambiental apresentado, à f. 123/v, que:
Conclusões
• Os monitoramentos de ictiofauna, principalmente em ambientes alterados por
barramentos, devem ser realizados de forma contínua e em longo prazo para que seja
possível a construção de uma base de dados satisfatória para o uso e manejo correto dos
reservatórios, bem como das bacias hidrográficas, o que vem ocorrendo no
empreendimento aqui diagnosticado;
• A ictiofauna da área de influência da PCH Nova Maurício é formada por espécies de
portes variados, com predomínio de Characiformes e Siluriformes e presença de 4
espécies exóticas (C.Kelberi, Orechromis sp., M.maculatus e S. brasiliensis);
• A presença de peixes com hábitos migratórios reprodutivos como a espécie de
“curimba” P. lineatus, assim como o “piau-vermelho” L.copelandii e o “dourado”
S.brasiliensis foi registrada neste monitoramento;

• A riqueza e diversidades de espécies de peixe capturadas foram consideradas baixas


em relação a outros estudos realizados na bacia;

• A composição e abundância das espécies parece se alterar de montante para jusante,


com as estações de amostragem MON e RES apresentado ictiofaunas bem similares
entre si e a estação JUS apresentando uma assembléia bastante peculiar.

A equipe que elaborou o EIA anexou laudo emitido pelo atual professor Msc.
Paulo dos Santos Pompeu, desenvolvido em junho de 2007, no qual opina tecnicamente
sobre a desnecessidade de construção de mecanismo de transposição no referido
empreendimento (f. 223 a 255 do processo de licenciamento).

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Neste parecer, há considerações muito relevantes para melhoria ambiental do
empreendimento. Vejamos

Mais importante que o número específico de espécies por ponto trata-se do acesso dos
peixes da jusante ao trecho de vazão reduzida localizado entre o pé de vertedouro e a
jusante da Usina Museu da Eletricidade de Maurício (P3) (Foto 6). Segundo moradores
da região quando ocorre abertura das comportas ocorre um incremento na presença de
peixes no TVR, e com o fechamento das comportas os mesmos ficam presos em poços
que se formam na calha do rio, o que facilita a predação, pesca predatória e mortandade
peixes. Segundo informações de moradores é comum ocorrer o aprisionamento de
piaus, curimbas e lambaris neste trecho. Assim a averiguação deste fato deve ser
tomada como prioritária ações de conduta ambiental da usina, principalmente por ter sido
verificado que nos trechos logo a jusante do TVR, peixes utilizam a área como sítio
reprodutivo. (f. 242 do processo de licenciamento)
Nas conclusões de seu estudo sobre a ictiofauna, o professor Paulo dos
Santos Pompeu assim se manifestou:

SUGESTÕES:
• Uma das ações mais prioritárias da área é a de que quando houver as aberturas das
comportas do vertedouro deverá ser realizada uma campanha de resgate de peixes
no TVR, coordenado por equipe técnica especializada. Esta ação baseia-se no fato de
que o aprisionamento e morte de peixes foram relatados por moradores da região,
evitando assim possíveis intervenções dos órgãos ambientais responsáveis, em
conseqüência de denuncias e / ou fiscalização. A partir destas campanhas também será
possível o diagnóstico da ocorrência, freqüência e intensidade destes eventos de
mortandade ou aprisionamento.
• Continuidade do monitoramento da ictiofauna da área de influência da UHE Nova
Maurício com o objetivo de acompanhar, verificar e mitigar possíveis danos
sofridos pela ictiofauna e virtude da operação da UHE.
• Inserção de programas de revitalização da vegetação ciliar, principalmente nos
segmentos a jusante do museu, uma vez que foi verificada a importância deste trecho
para a fauna de peixes do rio Novo a jusante de Nova Maurício.
• Desenvolvimento de projetos voltados para a biologia de Cichla sp e P.
adspersus. Para a primeira, o objetivo é de acompanhar a colonização desta espécie no
reservatório e nos trechos a jusante, a fim de se levantar informações sobre o manejo da
mesma para se evitar o desaparecimento de espécies nativas. Para P. adspersus, o
objetivo é avaliar a estrutura da população e aspectos da alimentação e reprodução nos
trechos a jusante do rio Novo, identificando assim possíveis ações para a manutenção se
populações viáveis desta espécie no rio Novo, bem como no próprio rio Pomba.
• Desenvolvimento de projetos de educação ambiental com enfoque voltado à
importância dos recursos da biota aquática na manutenção da vida. O mesmo
deverá atingir escolas e comunidades sobre influência direta ou indireta do
represamento. (g.n.)
Pertinente ao tema, foi imposta a condicionante de nº 08, cuja redação é
“dar continuidade ao „Programa de monitoramento da Ictiofauna‟, conforme as
proposições contidas no PCA, visando à implantação da conservação e o manejo de
ictiofauna no ambiente da PCH Nova Maurício, devendo ser contínuo de modo a
contemplar um período hidrológico completo”
Em meu juízo, além do monitoramento e do manejo, há necessidade da
realização de estudos visando à melhor proteção da ictiofauna e, se for o caso, o aumento
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da população de peixes, ou seja, procriação e sobrevivência das espécies no Rio Novo, seja
por meios naturais, sejam pela introdução de mais exemplares das espécies existentes na
área do empreendimento, seguindo aquilo que for identificado nos necessários estudos.

Sugiro, aproveitando o prazo da baixa em diligência solicitada no item


anterior, seja elaborado um estudo técnico para apurar a procriação e sobrevivência das
espécies nativas existentes no Rio Novo, na área de influencia direta e indireta da PCH
Nova Mauricio, com a devida indicação de medidas mitigadoras do problema e, se for o
caso, de estímulos à majoração da população de peixes na área do empreendimento.

IV – Das espécies ameaçadas de extinção.

A esse respeito, vale transcrever trecho do Parecer Único da SUPRAM:

Para a mastofauna, foram registradas cerca de 20 espécies de mamíferos, dentre


elas a lontra (Lontra longicaudis) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) são as
duas espécies que sofrem grau de ameaça ou quase ameaça nas listas
consultadas (f.11 do Parecer Único da SUPRAM-ZM).

No EIA, à f. 156, os técnicos assim descrevem:

Mamíferos ameaçados de extinção


A lontra (Lontra longicaudis) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) são as duas
espécies que sofrem grau de ameaça ou quase ameaça nas listas consultadas (Quadro
26). Estas espécies foram citadas por todos os entrevistados e também registradas por
busca ativa. Essa espécie está classificada como vulnerável a extinção para o Estado de
Minas Gerais (Biodiversitas, 2008). A outra espécie foi citada em entrevistas com
moradores e está descrita como vulnerável a extinção para o Estado de Minas Gerais
(Biodiversitas, 2008) e nacionalmente (Min. do Meio Ambiente, 2008). Já na lista mundial
(IUNC, 2010) o lobo-guará encontra-se quase ameaçado. (f. 115 do processo de
licenciamento)

Ao verificar o parecer, bem como os estudos apresentados, não vislumbrei


medidas para proteção das referidas espécies.

Aliás, o que se percebe é justamente o contrário: a APP, que deveria ser


instituída da forma mais ampla possível para protegê-los e permitir o melhor
desenvolvimento dos mesmos e, até, a majoração do número de indivíduos dessas
espécies, não está com sua extensão mínima protegida. Há diversas propriedades de
terceiros com construções voltadas para o lazer.

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Assim, sugiro seja realizado estudo que indique medidas mitigadoras, além
da ampliação e recuperação da área de proteção permanente, para proteger as espécies já
identificadas como ameaçadas de extinção.

V – Da faixa de APP:

Segundo o parecer único da SUPRAM-ZM (f.16 )

O empreendimento possui uma área total de 380,6162 hectares, onde as faixas de APP,
considerando os 30 metros ocupa uma área de 30,3282 hectares, sendo 9,2882
hectares de APP do rio Novo e de 21,04 hectares de APP do reservatório. As estruturas
edificadas da usina estão assentadas sobre uma área de 0,2954 hectares, conforme
Quadro 1 a seguir e devem ter sua permanência regularizadas junto ao órgão ambiental,
onde o pedido de ocupação antrópica consolidada se faz viável, haja em vista que a
instalação do empreendimento ocorreu no período de 1955 a 1956, ou seja, há cerca de
57 anos. Assim, a APP das terras pertencentes à empresa foi considerada de 30 metros,
e, hoje, encontra-se bem conservadas e totalmente recompostas.

Prossegue o parecer, sustentando que, para as áreas no entorno do


empreendimento pertencentes a terceiros, a SUPRAM-ZM entende que também deverá ser
de 30 metros, conforme Lei Estadual 14.309/2012.

O Ministério Público elogia o posicionamento da SUPRAM-ZM ao afastar a


incidência do inconstitucional artigo 62 do novo Código Florestal.

Por outro lado, necessário que se fundamente a razão pela qual a faixa de
APP foi delimitada na metragem mínima 30 (trinta) metros.

Isso porque se entende que a legislação ambiental deve ser aplicada de


forma a proteger o meio ambiente. Afinal, a „ratio legis‟ da norma que determina seja
instituída a área de preservação permanente no entorno de reservatório artificial é a função
ecológica que tal local desempenha.

Seria, ao menos, aconselhável que o empreendedor tivesse previsto e se


disposto a resguardar APP com extensões variáveis a partir da faixa mínima (30 metros) e
mesmo superiores aos parâmetros da legislação vigente.

A previsão de faixa de APP diferenciada e, sempre que possível, conectando


remanescentes florestais e áreas de nascentes ao redor do lago, conforme as condições
ambientais locais, poderia também servir, bem como ainda pode, de instrumento para
controle das ocupações nas margens do novo lago, e ainda assegurar os pressupostos da
Resolução CONAMA 302/02, expressos em seu art. 2º e da Lei Estadual nº14.309/2002 em
7
seus art. 10, que definem a finalidade da APP : “preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”. (grifo nosso).

A ampliação da APP do reservatório em faixas superiores à fixada pode


representar ganhos ambientais significativos para a fauna terrestre e para proteção do
próprio reservatório. A extensão dessa APP de modo a incorporar e conectar fragmentos
florestais e nascentes promoveria ambiente viável à permanência da biodiversidade
remanescente.

Desta feita, o Ministério Público solicita que o órgão técnico da SUPRAM-ZM


justifique a fixação da APP na metragem mínima (30 metros), bem como sugere a imposição
de condicionante através do qual o empreendedor seja compelido a promover a ampliação e
a manutenção das faixas de APP do reservatório em metragens superiores ao mínimo
estabelecido (30 metros), conforme projeto técnico a ser apresentado pelo empreendedor,
de modo a incorporar a conectar fragmentos florestais e eventuais nascentes.

Ademais, fundamental que tais faixas de APP sejam adquiridas e


conservadas pelo próprio empreendedor.

Todavia, analisando os autos, verifica-se que o empreendedor não é o


proprietário de toda a faixa 30 metros correspondente a APP do entorno do reservatório.

A obrigação de adquirir, seja diretamente ou por meio de desapropriação, foi


reiterada no Novo Código Florestal, com a inclusão da possibilidade da utilização do instituto
da servidão administrativa:
o
Art. 5 Na implantação de reservatório d‟água artificial destinado a geração de
energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou
instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de
Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no
licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e
máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze)
metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana. (g.n.)

No presente caso, o empreendedor ainda não adotou nenhuma das medidas


acima descritas a fim de viabilizar uma efetiva proteção da APP no entorno do reservatório,
motivo pelo qual, ao final, trazemos essa obrigação como sugestão de condicionante.

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Entretanto, espera-se que, no período em que estiver baixado para diligência,
caso assim se entenda, o empreendedor concretize sua obrigação, adquirindo ou, ao
menos, instituindo a servidão administrativa na faixa de APP.

E mais, extrai-se, do processo de licenciamento ambiental, a existência de


varias edificações na faixa de APP não pertencente ao empreendedor. Diante disso,
questiona-se a SUPRAM-ZM quais providências serão tomadas pelo órgão ambiental a esse
respeito.

VI – Do Plano de Segurança da Barragem, do Plano de Ações


Emergenciais e Estudo Hidrológico

Necessário fazer referência, ainda, ao plano de segurança de barragem e ao


plano de ações emergenciais (PAE), uma vez que o presente processo de licenciamento diz
respeito à operação do empreendimento.

Em 2010, foi editada a Lei 12.334, que prevê Política Nacional de Segurança
de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou
temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais. Esta lei é obrigatória para
barragens cuja altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, seja
maior ou igual a 15m (quinze metros) (art. 1º, p.u., I).

O Parecer Único da SUPRAM-ZM descreve, à f. 04, que:

A barragem com (sic) construída toda em concreto, e segundo informações obtidas por
ocasião da vistoria, possui 110 metros de extensão, 23 metros de altura máxima com
crista de 4 metros de largura.”.

Diante dessa informação, o empreendimento enquadra-se dentro dos


parâmetros do art.1º, p.u, da supramencionada lei, sendo, portanto, necessária à elaboração
do Plano de Segurança de Barragem, nos termos do art. 8º da Lei 12.334/2010.

Vislumbra-se, ainda, a necessidade de ser planejado e executado o Plano de


Ações Emergenciais, conforme art. 12 da mencionada lei. Este plano deve ser
periodicamente revisado e constar previsão de treinamento constante dos funcionários a fim
de propiciar, na eventualidade de uma emergência, a pronta e correta atitude de todos os
envolvidos.

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No presente caso, entendo imprescindível, portanto, a imposição de
condicionante no sentido de que o empreendedor realize e execute o Plano de Segurança
da Barragem e o Plano de Ações Emergenciais.

Ademais, diante dos eventos de cheias ocorridos nos Municípios a jusante do


empreendimento, necessária a realização de estudo hidrológico compartilhado entre as
PCH´s existentes da Sub-Bacia do Rio Pomba de modo a resultar em medidas com vistas a
atenuar tais eventos, conforme laudo técnico da CEAT (Central de Apoio Técnico) do
Ministério Público, constante do IC n. 0699.12.000.156-4:

“Mesmo não tendo a função de regularizar vazões no rio Pomba, as responsáveis pelos
empreendimentos citados neste Parecer (PCH´s Ponte, Palestina, Triunfo e Nova Maurício)
deveriam promover um estudo hidrológico detalhado dessa bacia, cujos objetivos
incluíssem a correlação entre posições do nível d‟água nas estações fluviométricas e
delimitação de áreas inundáveis nos municípios a jusante.

Estudos dessa natureza permitem inferir com antecedência quais pontos das cidades
localizadas a jusante serão atingidos e em que altura a água chegará nos locais inundados,
quando a posição do nível d´água atingir certos marcos nas réguas limnimétricas. Assim,
em consonância com o Poder Municipal, ações preventivas poderão ser tomadas, evitando
danos e transtornos para a população.”

A esse respeito, será proposta a imposição de condicionante.

VII – Conclusão.

Diante do exposto, este conselheiro pugna pela baixa em diligência do


processo, nos termos do presente parecer e, caso assim não se proceda, posiciona-
se pelo indeferimento da Licença de Operação Corretiva.

Na oportunidade, sugere, ainda, a alteração da redação e a inclusão das


seguintes condicionantes

VII. 1 Alterações

Condicionante 12

12 Execução do Projeto de Monitoramento do Assoreamento do Durante a


reservatório, a cada 2 anos, através de estudos batimétricos e vigência da
sedimentológicos, com base nas recomendações do “Guia de Licença
Avaliação de Assoreamento de Reservatórios” (ANNEL, 2000),
sendo o primeiro em seis meses após a concessão da Licença
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VII. 2 Inclusões

A – Manter equipe treinada e coordenada por especialista para promover campanha


de resgate de peixes no Trecho de Vazão Reduzida sempre que houver as aberturas das
comportas do vertedouro, a fim de evitar-se o aprisionamento e morte de peixes. Prazo:
durante a vigência da licença

B – Confeccionar, sempre que houver as aberturas das comportas do vertedouro, o


diagnóstico da ocorrência, freqüência e intensidade destes eventos de mortandade ou
aprisionamento. Prazo: durante a vigência da licença

C – Elaborar projeto e realizar, conforme cronograma, a revitalização da vegetação


ciliar, principalmente nos segmentos a jusante do museu, uma vez que foi verificada a
importância deste trecho para a fauna de peixes do rio Novo a jusante de Nova Maurício.
Prazo: 90 dias a partir da concessão da licença.

D – Desenvolver e custear projetos voltados para a biologia de Cichla sp e P.


adspersus. Para a primeira, o objetivo é de acompanhar a colonização desta espécie no
reservatório e nos trechos a jusante, a fim de se levantar informações sobre o manejo da
mesma para se evitar o desaparecimento de espécies nativas. Para P. adspersus, o objetivo
é avaliar a estrutura da população e aspectos da alimentação e reprodução nos trechos a
jusante do rio Novo, identificando, assim, possíveis ações para a manutenção se
populações viáveis destas espécies no rio Novo, bem como no próprio rio Pomba. Prazo:
durante a vigência da licença.

E – Desenvolver e executar projetos de educação ambiental com enfoque específico


para a importância dos recursos da biota aquática na manutenção da vida, devendo atingir
escolas e comunidades sobre influência direta ou indireta do represamento – Prazo: Durante
a vigência da licença.

F- Elaborar estudo técnico para apurar a procriação e sobrevivência das espécies


nativas existentes no Rio Novo, na área de influencia direta e indireta da PCH Nova
Mauricio, com indicação de medidas técnicas mitigadoras do problema e, se for
tecnicamente indicado, medidas de estímulos à majoração da população de peixes na área
do empreendimento, inclusive com o repovoamento de espécies nativas no Rio Novo.
Ressalte-se que, dentre as análises, deverá ser apreciada (e, se for o caso, indicadas as
medidas necessárias) a questão relacionada ao retorno dos peixes no Rio Novo no início da

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época de seca, evitando-se que eles sejam exterminados nas turbinas ou vertedouro da
hidrelética - Prazo: 01 (um) ano, devendo o estudo ser implementado ao longo da Licença,
conforme cronograma estipulado.

G- Promover a ampliação e manutenção das faixas de APP do reservatório em faixas


superiores às estabelecidas no licenciamento, conforme projeto técnico a ser apresentado
pelo empreendedor, de modo a incorporar e conectar fragmentos florestais e eventuais
nascentes. Prazo para apresentação do projeto: 90 dias. Prazo para implantação: conforme
cronograma executivo a ser apresentado pelo empreendedor.
H- Adquirir, desapropriar ou instituir servidão administrativa em toda a área que
constitui área de preservação permanente no entorno do reservatório. Prazo: 01 (um) ano.

I- Realizar estudo que indique medidas para proteger as espécies identificadas como
ameaçadas de extinção, na área de influencia direta e indireta do empreendimento, e
executar as medidas conforme cronograma. Prazo para elaboração: 180 dias.

J - Realizar e apresentar estudo hidrológico considerando as interações entre as


PCHs instaladas na sub-bacia do Rio Pomba para verificação da contribuição da operação
estrategicamente planejada dos empreendimentos para minimização dos efeitos das
inundações que ocorrem nos municípios a jusante de suas instalações. Prazo: 180 dias a
partir da concessão da licença.
K - Elaborar e executar o Plano de Segurança de Barragem e o Plano de Ações
emergenciais, prevendo revisão periódica de ambos, realizando o devido entendimento e
integração com os demais empreendimentos hidrelétricos situados no mesmo curso d´água,
bem como realizando treinamentos contínuos com os funcionários. Prazo para apresentação
dos Planos: 30 dias, a partir da concessão da Licença.

É o parecer.

Ubá, 19 de junho de 2013.

Bruno Guerra de Oliveira


Promotor de Justiça
Coordenador Regional das Promotorias de Justiça de Defesa do
Meio Ambiente da Bacia do Paraíba do Sul.
Conselheiro – URC-ZM

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