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Maceió
2015
Rodolfo Presley de Alcântara Medeiros
Maceió
2015
Rodolfo Presley de Alcântara Medeiros
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Rodolfo Presley de Alcântara Medeiros (Autor)
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Prof. Dra. Juliane Andreia Figueiredo Marques (Orientadora)
Banca Examinadora:
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Maceió
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, por sempre me guiar pelos melhores caminhos e por ter me concedido força
e persistência para concluir a graduação;
Ao meu pai, José Medeiros Araújo, por sempre incentivar e apoiar minha dedicação aos
estudos, e por ser meu espelho de honestidade e perseverança na vida. À minha mãe,
Gilvaneide Costa de Alcântara Medeiros, por sempre estar presente nos piores e melhores
momentos e ser sempre o ombro amigo nos momentos difíceis;
Ao meu irmão, Alander de Alcântara Medeiros, amor da minha vida, pelo simples fato de
existir e tornar minha vida mais feliz;
À minha irmã, Gabriela Costa de Alcântara, por toda a paciência, carinho e amor;
À minha esposa, Gyuliana Naiany Guedes Melo, meu amor e maior presente da graduação,
por todo apoio, paciência, ajuda e companheirismo durante esses cinco anos de muito estudo;
À todos os meus amigos do curso de Engenharia Civil, sem exceção, pela força e pela
companhia durante todo o curso, em especial aos que se fizeram presentes nas noites estudo;
À TQS Informática por ter cedido o software para realização dos exemplos.
RESUMO
This paper discusses the internal forces acting on reinforced concrete structures based on
spread footing foundations, particularly when the soil strain occurring bellow these
foundations is taken into account. This research consists in revising literature - including the
description of practical examples, and summarizing the more relevant papers published in the
soil-structure interaction field. Moreover, it addresses the main methods to calculate the
coefficient of vertical reaction; describes actual models to analyze soil-structure interaction
and points out the properties of structures made of steel reinforced concrete which were
necessary to present the numerical examples. This paper also addresses the soil main
properties and its general behavior when put under tension. Two numerical examples
addressing reinforced concrete structures based on shallow foundations were carried: the first
structure is symmetric to both axis and is based upon a clay soil. The second example
addresses a real non symmetric structure, consisted of seven floors based on sandy soil. The
analysis of the two examples allowed to conclude that the soil flexibility changes,
significantly, the internal forces in the concrete structure and it is important to take it into
account in order to design precisely.
Figura 5: Porcentagem de carga nos pilares P1, P2, P5 (periféricos) e P6 (central) com e sem
ISE nos 15 pavimentos. ............................................................................................................ 28
Figura 6: Modelo estrutural da edificação: sem alvenaria (A) e com alvenaria (B). ............... 31
Figura 10: Efeito de construções vizinhas – 3º caso (terceiro prédio construído entre dois pré-
existentes). ................................................................................................................................ 37
Figura 11: Efeito de construções vizinhas – 4º caso (dois prédios construídos ao lado de um já
existente)................................................................................................................................... 38
Figura 14: Detalhe esquemático do perfil utilizado para análise no trabalho de Gusmão
(1990). ...................................................................................................................................... 44
Figura 22: Tipos de superfície dos aços para concreto armado. ............................................... 62
Figura 23: Diagrama tensão x deformação dos aços – a) laminados; b) trafilados. ................. 63
Figura 24: Diagrama tensão x deformação para aços de armaduras passivas com ou sem
patamar de escoamento. ............................................................................................................ 64
Figura 29: a) coeficiente de mola – força por deslocamento; b) coeficiente de reação vertical –
pressão por deslocamento. ........................................................................................................ 72
Figura 36: Momento fletor (kN.m) nas vigas do pórtico central com base rígida. .................. 82
Figura 37:Momento fletor (kN.m) nas vigas do pórtico central com base deformável............ 82
Tabela 1: Distorções angulares entre pilares com e sem alvenaria considerando a interação
solo-estrutura. ........................................................................................................................... 31
Tabela 8: Diâmetros nominais das barras e fios utilizados no concreto armado. ..................... 62
Tabela 12: Reações nos apoios da estrutura com e sem a ISE ................................................. 80
Tabela 14: Reações de apoio para o modelo com e sem a ISE. ............................................... 86
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14
7 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 91
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 93
14
1 INTRODUÇÃO
1.1 GENERALIDADES
O que ocorre na prática é que o projetista estrutural envia para o engenheiro geotécnico a
planta de locação e carga dos pilares e, através destes dados, o projetista geotécnico realiza o
cálculo da fundação, mas frequentemente não considera outros dados importantes da
superestrutura, como rigidez e processo construtivo. Dessa forma, o engenheiro geotécnico
concebe a fundação, necessária para suportar a carga dos pilares, estimando os recalques de
cada apoio, comparando-os com os recalques admissíveis. Contudo, devido à deformação do
solo, as fundações solicitam a estrutura, geralmente hiperestática, gerando um fluxo de
carregamento diferente da hipótese de apoios indeslocáveis, modificando os esforços atuantes
na estrutura e as cargas no solo.
real possível, procurando evitar, principalmente, grandes recalques diferenciais entre os seus
apoios.
Quanto à empregabilidade do termo interação solo-estrutura, Iwamoto (2000) deixa claro que
a terminologia que diferencia a subestrutura (ou infraestrutura) da superestrutura poderia ser
revista, pois, o que existe na verdade é a estrutura e o maciço de solo, sendo que os elementos
estruturais comumente chamados de fundações constituem parte integrante da estrutura, e o
comportamento desse conjunto inseparável é que se denomina de interação solo-estrutura.
1.4 JUSTIFICATIVA
pilares, principalmente nos primeiros pavimentos, que acarreta num detalhamento que não
corresponde à realidade construída e, algumas vezes, casos graves de manifestações
patológicas.
Um caso conhecido de grandes recalques devido à alta deformabilidade do solo são os prédios
da cidade de Santos no litoral de São Paulo. Os edifícios foram construídos em fundação
superficial, assentes em uma camada superficial arenosa, relativamente rígida, com
profundidade média de 10 metros. Porém, abaixo dessa camada existe uma camada de argila
mole muito compressível, o que ocasionou, ao longo dos anos, um grande recalque do solo
que não possui capacidade resistente para edifícios altos. Além disso, os recalques não foram
homogêneos, o que seria menos preocupante, devido à influência do estado de tensão imposto
pelas edificações vizinhas, como será visto em tópicos adiante neste trabalho, ocorreram
recalques diferenciais que culminaram na inclinação dos edifícios, como ilustra a Figura 2.
Devido a esses fatores, ao avanço no estudo do tema e aos casos conhecidos de graves
patologias, algumas normas brasileiras têm adicionado tópicos referentes à necessidade de
consideração da interação solo-estrutura no projeto das edificações. A Norma Brasileira NBR
18
Na mesma norma, no item 22.6.3 - Modelo de cálculo para sapatas, está escrito:
A mesma norma ainda cita que o modelo com interação solo-estrutura é obrigatório nos casos
de fundações com níveis diferentes.
A partir disso, surgem alguns questionamentos relativos a essas sugestões das normas:
2 INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA
Esse capítulo faz uma abordagem sucinta sobre a interação solo-estrutura, alguns trabalhos
que foram desenvolvidos e os principais efeitos dessa análise.
O modelo de Winkler, apesar de ser utilizado como base para trabalhos mais avançados de
simulação do comportamento solo, por não considerar a continuidade desse, torna-se pouco
representativo.
Lee & Brown (1972) estudaram os esforços em uma viga de fundação para um problema
bidimensional de pórtico submetido a carregamento vertical. Esse estudo compreendeu quatro
diferentes análises. A primeira adotava o modelo de Winkler para o solo, por ser um método
simples, de fácil aplicação e não considerar a rigidez relativa entre fundação e o solo. A
segunda análise adotou o modelo elástico linear, que trata o solo como meio contínuo semi-
infinito, elástico, linear, homogêneo e isotrópico. As demais considerações empregaram a
interação solo-estrutura em suas análises, nos primeiros dois modelos estudados.
Nessa mesma década, Burland et al. (1977) publicaram um artigo abordando os temas
relacionados ao comportamento das fundações e estruturas. Alguns dos assuntos tratados
foram: condições de uso das estruturas, danos provocados pela interação com o solo,
limitação e previsão de recalques.
Gusmão & Gusmão Filho (1990) realizaram o estudo da interação solo-estrutura em uma
edificação de 15 pavimentos na cidade do Recife. O tipo de fundação escolhida foi sapata,
com melhoramento da camada superficial do solo até a profundidade de 5 metros. Foi
22
Um ano depois, Lopes & Gusmão (1991) apresentaram um modelo que permite levar em
consideração a rigidez da estrutura na estimativa dos recalques e, um método no qual é
possível substituir uma edificação qualquer por uma de rigidez equivalente.
O modelo utilizado nas análises foi o proposto por Poulos (1975), que possibilita uma análise
tridimensional da fundação, na qual a rigidez da estrutura é considerada. Foram feitas análises
para o caso de um pórtico plano, variando-se o número de pavimentos de 1 até 15, mantendo-
se o carregamento total constante para qualquer número de pavimentos. Verificou-se que o
recalque diferencial máximo diminuiu com o aumento da rigidez solo-estrutura e com o
aumento do número de pavimentos, ou seja, o aumento dessa rigidez promove uma tendência
à uniformização dos recalques.
O método de substituição de uma edificação qualquer por uma mais simples de rigidez
equivalente utilizado foi o proposto por Meyerhof (1953). Os resultados mostraram que os
23
O trabalho desenvolvido por Holanda Junior (1998) analisou os efeitos da interação solo-
estrutura em edifícios sobre fundações diretas levando em consideração a presença da camada
indeslovável no interior do solo e a sequência construtiva. Foi verificado que a introdução da
camada indeslocável representa com mais fidelidade os perfis de solos, diminuindo os
recalques e ajudando a aproximar os resultados dos realmente obtidos na prática.
Com esse procedimento, os deslocamentos verticais dos nós de um pavimento não são
afetados pelo carregamento dos pavimentos abaixo. Sendo assim, o autor verificou que os
deslocamentos diferenciais entre os nós de um mesmo pavimento diminuem nos andares
24
Fonte & Fonte (2003) realizaram um estudo considerando três diferentes tipos de soluções
para fundações superficiais para estrutura de um edifício - Figura 4. A primeira hipótese
considerada foi a de sapatas isoladas interligadas com vigas de cintamento. Noutra solução,
foram analisados elementos de grelha sobre base elástica, com pilares apoiando-se
diretamente em vigas de fundação do tipo seção T invertido, interconectadas entre si,
formando uma grelha sobre o solo de fundação. A terceira opção de fundação estudada, foi
idealizada a partir da combinação das duas primeiras, sendo composta por elementos de
sapata isolada interligados por vigas de fundação. Em todas as análises foi utilizado o Sistema
Computacional Edifício, idealizado pelo próprio autor.
Os resultados mostraram uma forte tendência dos três modelos analisados para a
uniformização dos recalques. Os modelos 2 e 3 apresentaram os menores valores de recalques
25
Um estudo desenvolvido por Danziger et al. (2006) apresenta a análise de uma edificação em
fundações diretas assentes em solo arenoso sob o ponto de vista da interação solo estrutura. A
edificação em estudo consistiu numa estrutura não usual, de quatro pavimentos, com grandes
varandas em balanço e vigas de equilíbrio nas quais nascem pilares a partir de segundo andar,
que teve seus recalques instrumentados desde o início da construção.
Iwamoto (2000) utilizou o método de Aoki (1987) em seu estudo sobre interação solo-
estrutura em edifícios de múltiplos pavimentos com fundações profundas em estacas, nas
quais o efeito de grupo é calculado considerando a continuidade do solo. O autor verificou
que a análise integrada da estrutura e o solo possibilita uma melhor estimativa dos recalques
diferenciais e reações de apoio e, que a rigidez da estrutura contribui para diminuir os
recalques diferenciais e distorções angulares.
Com base nos valores de recalques medidos, observou-se não haver uniformidade nos
recalques dos pilares, apesar da estrutura possuir simetria em relação a um dos eixos.
Atribuiu-se esse fato ao tipo de solo sob o qual a edificação foi construída. Para simular essa
variação, diminui-se a resistência lateral no topo e base do tubulão, segundo trabalho
realizado por Iwamoto (2000), assim como o módulo de deformabilidade do solo. Os
resultados mostraram que:
Araújo (2010) apresenta uma ferramenta numérica construída num ambiente Matlab que
calcula os recalques das fundações utilizando o método de Aoki e Lopes (1975), tendo como
dados de entrada as reações de apoio dos pilares do edifício vindas de uma sub-rotina de
cálculo de pórtico espacial, onde se empregou o programa TQS (2008). O edifício foi
analisado em sua fase construtiva para cada pavimento. Em cada pavimento foram feitas 6
iterações, e os resultados analisados em termos de reações de apoio e recalques. Foi feita uma
análise dos recalques nos pilares dos pavimentos 1, 7, 8, 9 e 15. Notou-se que até o sétimo
pavimento os recalques tinham a mesma tendência, os da periferia recalcando menos que o
pilar central. Porém, após a execução do nono pavimento e até o final da construção os
recalques dos pilares se aproximaram, reduzindo os recalques diferenciais. Notou-se também
que a partir da terceira iteração os resultados já haviam se estabilizados.
Um fato novo no trabalho de Araújo (2010) foi perceber que, quando a estrutura se aproximou
do oitavo pavimento, algumas estacas tiveram o seu atrito lateral esgotado e assim mudaram
de comportamento. Com esse efeito não-linear da resposta da fundação a estrutura também foi
afetada, implicando numa considerável mudança em todo o conjunto. O pilar p6 (pilar central)
voltou a ter maior participação na carga total e os pilares periféricos perderam carga durante a
fase de carregamento, entre os pavimentos 7 e 9, quando muitos autores já consideram que o
efeito da ISE é reduzido devido a rigidez da estrutura. Após isso, o efeito da ISE voltou a
apresentar uma tendência de alívio de carga na região central e respectiva transferência para a
periferia. Essa modificação no carregamento dos pilares está ilustrada na Figura 5. Percebe-se
que o pilar 6, representado pela cor vermelha, aumenta a porcentagem de carga entre o sétimo
e oitavo pavimento, enquanto que os demais pilares periféricos, representados pelas outras
cores, diminuem a porcentagem de carga total. O autor concluiu então que, havendo um
comportamento não linear da fundação, o efeito da ISE é importante mesmo para elevada
rigidez da estrutura.
28
Porto (2010) realizou uma análise numérica linear, utilizando um programa baseado no
método dos elementos finitos (MEF), para obtenção das tensões normais na base das paredes
do primeiro pavimento de um edifício piloto de alvenaria estrutural de 11 pavimentos, sobre
radier. O solo foi analisado conforme dois modelos. No primeiro, o solo é considerado como
um meio contínuo, elástico, linear, isotrópico e heterogêneo. No segundo, o solo é
representado por um conjunto de molas linearmente elásticas e mutuamente independentes,
discretas e rigorosamente espaçadas. Para o edifício em estudo, foram adotados seis modelos
distintos, a saber:
29
Em sua última análise, o autor mostrou que a influência da interação solo-estrutura nas
distribuições de tensões verticais é mais acentuada nos primeiros pavimentos, mais
especificamente até o sexto, a partir do qual sua influência torna-se praticamente desprezível.
30
O autor concluiu que as diferenças em relação ao modelo que representa o maciço de solos
através de elementos tridimensionais e o modelo que representa através de molas discretas
(modelo de Winkler) não são discrepantes. E, apesar das vantagens da representação de um
modelo tridimensional completo que considere o sistema geotécnico e estrutural trabalhando
juntos e a continuidade parcial do solo, a utilização do modelo de Winkler é uma opção
prática e que traz resultados satisfatórios para as análises e projetos de edifícios
convencionais, sendo inviável a utilização do MEF devido à sua quantidade enorme de
manipulação de dados e do seu alto custo de processamento.
Rosa et al (2012) analisaram um edifício em fundações diretas que teve um mau desempenho
ao longo dos anos, com danos severos a estrutura devidos à recalques excessivos. Foi
realizada uma simulação do solo, com base no modelo de Kelvin, da estrutura, através de um
modelo numérico tridimensional, utilizando um programa baseado no método dos elementos
finitos, a fim de reconstituir os danos ocorridos, sua extensão e localização espacial e ilustrar
o papel das alvenarias na interação do solo com a estrutura.
Figura 6: Modelo estrutural da edificação: sem alvenaria (A) e com alvenaria (B).
Tabela 1: Distorções angulares entre pilares com e sem alvenaria considerando a interação
solo-estrutura.
Distorção angular
Colunas
Sem alvenaria Com alvenaria
P8-P18 1/148 1/227
P7-P18 1/142 1/200
P17-P25 1/183 1/256
P26-P37 1/220 1/279
P30-P31 1/176 1/500
Rosa et al (2014) realizaram um estudo cujo objetivo foi verificar o efeito da fluência e
retração do concreto na interação solo-estrutura. No trabalho, uma edificação de 18
pavimentos, em fundação mista, foi submetida a uma instrumentação de campo para
32
monitoramento dos recalques de alguns pilares, bem como dos esforços atuantes nos mesmos,
ao longo do processo construtivo. Comparou-se o projeto do calculista com uma análise
numérica mais refinada. Também se comparou o projeto, sem considerar e considerando a
interação solo-estrutura. Por fim, os diferentes cenários de projeto foram confrontados com os
resultados experimentais, tanto em relação aos recalques como em relação aos esforços nos
pilares instrumentados. No trabalho, foi dado ênfase à comparação entre recalques previstos e
medidos. Foram apresentadas análises contemplando apenas a interação, sem considerar o
efeito da fluência e retração do concreto, e, posteriormente, com a inclusão destes efeitos.
Os autores concluíram que, para a obra em estudo, o efeito combinado da fluência e retração
não contribuiu para uma maior uniformização dos recalques em planta em relação ao efeito
mais relevante da interação solo-estrutura, portanto, a consideração da fluência e retração na
análise numérica sinaliza para uma avaliação em excesso à sua real significância quando
comparada apenas ao efeito da interação, de acordo com a instrumentação realizada.
O coeficiente de reação vertical do solo (kV) foi calculado de duas formas diferentes, para
efeito de comparação e validação do modelo empregado. Na primeira hipótese, obteve-se o
módulo de elasticidade do solo a partir de correlações com o ensaio do NSPT, obtidas na
literatura, e o coeficiente de Poisson através de valores típicos. Esses dados foram então
introduzidos num programa computacional (PLAXIS), baseado no MEF, que calcula o
recalque do solo, sendo possível a obtenção do kV, dado geralmente em kgf/cm³, através da
Equação 1.
tensão (1)
kV =
deslocamento
33
Mendonça et al (2015) mostraram que não houve variação significativa das reações nos
apoios dos pilares com o modelo em estudo, verificando que a maior diferença observada em
comparação com a hipótese de apoios indeslocáveis foi da ordem de 6%. Com relação aos
valores de momentos fletores nos pilares, verificou-se que esse esforço se alterou
significativamente nas análises considerando a deformabilidade do solo, notando o
crescimento dos valores de momento fletor à medida que o solo de fundação torna-se mais
rígido, chegando a diferenças de 70% no valor desse esforço em alguns pilares. Houve uma
mudança considerável nos esforços normais nos pilares com a consideração da interação solo
estrutura, e os deslocamentos horizontais desenvolvidos ao longo desses elementos não
apresentaram uma mudança relevante quando comparada a hipótese de base rígida.
apoiado em meio elástico. Os edifícios muito altos e com fechamento das paredes
resistentes trabalhando em conjunto com a estrutura podem apresentar comportamento
semelhante a esse modelo - Figura 7 (a).
Caso B: Uma estrutura perfeitamente elástica possui uma rigidez que não depende da
velocidade da progressão dos recalques, podendo ser mais rápidos ou lentos, não
influindo nos resultados. Os recalque diferenciais, obviamente, serão menores que os
de rigidez nulas (Caso D) e a distribuição de pressões de contato variam muito menos
durante o processo de recalque. Estruturas de aço são as que aproximam desse
comportamento - Figura 7 (b).
Caso D: É o da estrutura que não apresenta rigidez aos recalques diferenciais. Esse
tipo de estrutura se adapta perfeitamente às deformações do maciço de solo. A
distribuição de pressões de contato não se modifica em função da progressão dos
recalques. As estruturas isostáticas e os edifícios de grandes dimensões ao longo do
eixo horizontal são os casos que se aproximam desse tipo de comportamento - Figura
7 (d).
35
Neste trabalho, apesar da análise estar voltada para edifícios de concreto armado, consideram-
se os recalques imediatos e não em função do tempo, não considerando a reologia do material,
sendo assim, o programa efetua uma modelagem numérica elástica.
Brown (1977) estudou um modelo elástico linear para a estrutura e um modelo visco-elástico
linear para o solo. Verificou que, quanto mais rígida for a superestrutura em relação ao solo,
menores serão os recalques diferenciais.
Gusmão (1990) realizou uma análise de um pórtico plano para diferentes valores de rigidez
relativa entre a estrutura e o solo – KSS. Observou-se que os valores dos recalques máximos
(absoluto e diferencial) considerando-se a interação solo-estrutura diminuem com o aumento
da rigidez relativa, enquanto no processo convencional de estimativa de recalques a grandeza
dos mesmos independe do valor de KSS. Observou-se também que o recalque diferencial é
bem mais afetado pela interação solo-estrutura que o recalque absoluto.
Ramalho e Corrêa (1991) analisaram dois edifícios com fundações em sapatas, sendo um
edifício com sistema laje-cogumelo e o outro com sistema laje, viga e pilar, fazendo uma
comparação entre considerar o solo como totalmente rígido ou admitir comportamento
elástico. Os resultados mostraram que a flexibilidade da fundação tem grande influência nos
esforços da superestrutura. Observaram que os edifícios com sistema estrutural laje-cogumelo
mostram-se mais sensíveis a fundações flexíveis do que aqueles com sistema: laje, viga e
pilar.
abaixo. Com isso, observou-se que os deslocamentos diferenciais entre os nós de um mesmo
pavimento diminuem nos andares superiores, sendo máximos à meia altura do edifício. No
topo, correspondem à deformação somente do último pavimento. As deformações dos pilares
seguem o mesmo raciocínio.
Segundo Gusmão & Gusmão Filho (1994), durante uma construção, à medida que a estrutura
vai sendo construída, vai havendo um aumento do seu carregamento e dos recalques
absolutos, ocorrendo também uma tendência à uniformização dos recalques devido ao
aumento da rigidez estrutural, sendo que esta não cresce linearmente com o número de
pavimentos - Figura 13.
41
Em 1978 Goshy utilizando a analogia de vigas paredes, observou que quanto maior o número
de pavimentos de uma estrutura, maior será sua rigidez na direção vertical. Porém essa rigidez
não cresce linearmente com o número de pavimentos. Percebe-se que há maior influência dos
primeiros pavimentos, devido ao fato de que as estruturas abertas com painéis, nos planos
verticais, comportam-se como vigas paredes.
Anos mais tardes, Gusmão e Gusmão Filho (1994) e Gusmão Filho (1995) concluíram que
existe uma rigidez limite e que, uma vez atingida essa rigidez limite nos primeiros
pavimentos, o aumento do número de andares não altera o valor da parcela de carga no apoio,
devido à interação solo-estrutura. Terminada a redistribuição de carga nos apoios, por efeito
da interação solo-estrutura, os recalques são função apenas do carregamento.
Moura (1995) observou que os momentos fletores nos pilares, introduzidos pela interação
solo-estrutura, são maiores nos primeiros andares e diminuem à medida que aumenta o
número de pavimentos. Ele concluiu que, embora a distribuição de solicitações seja bem mais
significativa nos primeiros andares, dependendo da rigidez da superestrutura, essa distribuição
pode propagar-se para os andares superiores.
GUSMÃO (1990) observou que a presença das cintas contribui na tendência à uniformização
dos recalques e que sua influência diminui à medida que cresce o número de pavimentos da
edificação, a ponto dessa influência, para certa estrutura analisada, ser praticamente
desprezível para um número de pavimentos superior a oito.
Segundo Barata (1986) quanto mais próxima de um quadrado for a planta da edificação,
maior será a tendência à uniformização dos recalques.
43
Nesse sentido, Gusmão (1990) avaliou o efeito da forma em planta da edificação na tendência
à uniformização dos recalques através de análises em pórticos espaciais, variando-se apenas a
relação entre a largura e o comprimento em planta da edificação. Os resultados mostraram que
o recalque diferencial máximo tende a diminuir à medida que a relação largura/comprimento
tende ao valor unitário. Observou-se, ainda, que este efeito diminui à medida que cresce o
valor de KSS, ou seja, para um dado terreno de fundação, o efeito da forma em planta da
edificação na tendência à uniformização de recalques é mais importante em estruturas mais
flexíveis.
Com o objetivo de avaliar esse fator, Gusmão (1990) realizou uma análise na variação dos
recalques absoluto e diferencial máximos de um pórtico plano com 1 pavimento variando-se
apenas a espessura da camada compressível – Figura 14. Os resultados mostraram que em
ambos os casos, os recalques crescem à medida que aumenta a espessura da camada
compressível.
44
Aoki (1987) constata que quando a fronteira rígida se encontra próxima das fundações e,
consequentemente, a camada compressível é pouco espessa, o efeito da interação solo-
estrutura seria desprezível e o cálculo convencional seria satisfatório.
O coeficiente de reação vertical pode ser obtido a partir de fórmulas utilizadas na Teoria da
Elasticidade, como a fórmula de Perloff (1975), que correlaciona o coeficiente de reação
vertical aos parâmetros elásticos do solo e à forma geométrica do elemento de fundação:
E 1 1 (2)
kV = ∗ ∗
1 − 𝑣² IW B
45
Onde:
Os ensaios de cone (CPT) consistem na cravação de uma ponteira cônica no terreno com
determinação da resistência de ponta (qc) e do atrito lateral (fs) do solo ensaiado. A partir do
46
valor da resistência de ponta, Texeira e Godoy (1996) propõem as seguintes correlações para
a determinação do módulo de elasticidade do solo:
E = 3.qc (3)
E = 5.qc (4)
E = 7.qc (5)
Sendo que a equação 3 é para solos arenosos, a equação 4 para solos siltosos e a equação 5
para solos argilosos.
Onde:
NSPT = número de golpes obtido no ensaio de penetração dinâmica (SPT), mais conhecido
como sondagem a percussão;
KSPT = parâmetro que correlaciona a resistência de ponta e o valor de NSPT, conforme a Tabela
3.
47
Ensaios mostram que o coeficiente de Poisson, em geral, varia entre 0,30 e 0,35 para siltes,
entre 0,10 e 0,50 para argilas e entre 0,15 e 0,40 para areias (MENDONÇA, 2012). Bowles
(1988) apresenta valores típicos de coeficiente de Poisson, em função do tipo de solo - Tabela
4.
aproximação inicial em termos de necessidades e custos. Com isso, vários autores propuseram
faixas de valores de kV, baseados na experiência profissional adquirida e de estudos com
trabalhos de campo.
Esses valores de coeficiente de reação vertical são característicos das regiões que foram feitos
os estudos, de modo que seus valores podem não ser representativos em certas condições,
devendo ficar a critério do profissional o seu uso.
O coeficiente de reação vertical pode ser também encontrado por meio do ensaio de
penetração dinâmica (SPT). Neste método, obtêm-se a média dos valores do SPT
compreendidos dentro do bulbo de pressões. Com o número de golpes médio, calcula-se a
49
tensão admissível pela conhecida relação empírica abaixo – equação 7. De posse da tensão
admissível estimada, obtêm-se da Tabela 6 o valor de kV, em kgf/cm³.
Para argilas:
30 (8)
k v = ( ) . k 30
B
Para areias:
B + 30 2 (9)
kv = ( ) . k 30
2 .B
Para Velloso e Lopes (2004), o módulo de reação vertical definido com ensaios de placa
necessita ser corrigido em função da dimensão e da forma da fundação real. Essa correção
torna-se necessária já que o coeficiente de reação vertical não é uma propriedade somente do
solo, e sim da rigidez relativa entre a estrutura de fundação e o solo. As equações 10 e 11
ilustram essas conversões. Nelas, BFundação é a menor dimensão da base da sapata, BPlaca é a
menor dimensão da placa, AFundação é a área da base da fundação e APlaca é a área da placa.
APlaca (11)
(k v )Fundação = (k v )Placa .
AFundação
Terzaghi e Peck (1948) relacionaram o coeficiente de reação vertical com número de golpes
do ensaio de penetração dinâmica (NSPT). Esse mesmo estudo foi realizado por Mello (1971),
que propôs uma correlação para a determinação da tensão que produz um recalque de uma
polegada:
Onde:
qadm = tensão, em kgf/cm², que produz um recalque de uma polegada;
53
Vários autores da literatura que estudam a interação da estrutura com o solo questionam o fato
da teoria de Winkler não considerar o solo como um meio contínuo. Devido a isso, Mendonça
(2012) propôs a determinação do coeficiente de reação vertical a partir do programa
computacional Plaxis v.8.2, baseado no método dos elementos finitos (MEF). Nesse
programa, o perfil do subsolo é considerado como um meio contínuo, sendo permitido
considerar a estratigrafia do solo e suas diversas camadas com propriedades diferentes de
deformabilidade e resistência.
54
Nas análises numéricas, o solo é representado pelo modelo linear elástico, sendo necessária a
introdução dos parâmetros elásticos: módulo de elasticidade do solo (ES) e coeficiente de
Poisson (v). A estimativa do módulo de elasticidade é feita através de correlações com o
ensaio SPT:
Onde N60 é uma correção relacionada à energia aplicada aos resultados de NSPT:
Com a introdução das propriedades das camadas e seus níveis em relação à fundação, pode-se
obter o recalque na região de aplicação da tensão - Figura 16. De posse dessa tensão e do
recalque observado, é possível obter o coeficiente de reação vertical (kV) para o solo naquele
ponto, através da equação 1.
55
Os resultados do coeficiente de reação vertical obtidos nas análises foram confrontados com
os obtidos pela Teoria da Elasticidade, considerando os mesmos parâmetros de solo para uma
fundação quadrada e rígida. O autor observou que os resultados mostraram diferenças
máximas de 9,49% entre as duas metodologias, o que seria aceitável em obras geotécnicas,
visto o grau de complexidade na obtenção dos parâmetros.
3.1 CONCRETO
A massa específica dos concretos simples gira em torno de 2,400 kg/m³. A NBR 6118/2014 se
aplica a concretos com massa específica entre 2.000 kg/m³ a 2.800 kg/m³. Não sendo
conhecida a massa específica real, pode-se adotar o valor de 2.400 kg/m³ para o concreto
simples e 2.500 kg/m3 para o concreto armado. Em situações diferentes das correntes, devem-
Para estruturas comuns é considerada uma taxa média de 100 kg de aço para cada metro
cúbico de concreto, portanto, a massa específica do concreto armado resulta 2.500 kg/m³.
A resistência à compressão, obtida por ensaio de curta duração do corpo de prova, é dada por:
NRUP (16)
fcj =
A
Em que:
fcj – resistência à compressão do corpo de prova de concreto na idade de (j) dias;
NRUP – carga de ruptura do corpo de prova; e
A – área transversal do corpo de prova.
No Brasil são utilizados corpos de prova cilíndricos, com diâmetro da base de 15 cm e altura
de 30 cm e também corpos com base de 10 cm e altura de 20 cm. A resistência à compressão
do concreto deve ser relacionada à idade de 28 dias.
58
Como o concreto é um material que resiste mal à tração, geralmente não se considera essa
resistência nos cálculos estruturais. Porém, a resistência à tração pode estar relacionada com a
capacidade resistente da peça quando sujeita a esforço cortante, e, diretamente, com a
fissuração, por isso é necessário conhece-la. Existem basicamente três ensaios que permitem
obter a resistência à tração, são eles: flexo-tração, compressão diametral (tração indireta) e
tração direta – Figura 18.
Quando não forem feitos ensaios e não existirem dados mais precisos sobre o concreto, para a
idade de referência de 28 dias, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade inicial
usando a expressão:
O Módulo de Elasticidade Secante, Ecs, a ser utilizado nas análises elásticas do projeto,
especialmente para determinação de esforços solicitantes e verificação de limites de serviço,
deve ser calculado pela expressão:
Quando uma força uniaxial é aplicada sobre uma peça de concreto, resulta numa deformação
longitudinal na direção da carga e, simultaneamente, uma deformação transversal com sinal
contrário – Figura 20. A relação entre a deformação transversal e a longitudinal é denominada
coeficiente de Poisson e indicava pela letra v.
Para tensões de compressão menores que 0,5 fc e tensões de tração menores que fct, pode ser
adotado ν=0,2.
Ec (19)
GC =
2 (1 + ν)
Segundo a NBR 6118/2014 o módulo de elasticidade transversal deve ser estimado em função
do módulo de elasticidade secante, como:
3.2 AÇO
Como o concreto simples, sem armadura, possui baixa resistência à tração e é frágil, é
altamente conveniente a associação do aço ao concreto, obtendo-se o concreto armado (CA).
Este material, adequadamente dimensionado e detalhado, resiste muito bem à maioria dos
tipos de solicitações. Mesmo em peças comprimidas, além de fornecer ductilidade, o aço
aumenta a resistência à compressão.
A superfície do aço pode ser lisa, conter nervuras ou entalhes - Figura 21. A rugosidade da
superfície dos aços é medida pelo coeficiente de conformação superficial (η1) e deve atender o
coeficiente de conformação superficial mínimo (ηb), para cada categoria de aço (CA-25, CA-
50 ou CA-60), conforme indicado na NBR 7480/2007 – Aço destinado a armaduras para
estruturas de concreto armado.
62
A barras são classificadas como tendo diâmetro nominal igual a 5 mm ou superior, obtidos
exclusivamente por laminação a quente, e como fios aqueles de diâmetro nominal igual a 10
mm ou inferior, obtidos por trefilação ou processo equivalente. Essa classificação pode ser
visualizada na Tabela 8.
Os diagramas tensão x deformação dos aços laminados a quente e trefilados a frio apresentam
características diferentes. Os aços laminados, ao contrário dos trefilados, mostram patamar de
escoamento bem definido, ou seja, a resistência de escoamento fica bem definida no
diagrama, o que não ocorre nos trefilados. Devido a isso, nos aços trefilados a resistência de
Segundo a NBR 6118/2014, para cálculo nos estados-limites de serviço e último pode-se
utilizar o diagrama simplificado mostrado na Figura 23, para os aços com ou sem patamar de
escoamento. O diagrama é válido para intervalos de temperatura entre – 20ºC e 150ºC e pode
ser aplicado para tração e compressão.
64
O módulo de elasticidade do aço é dado pela tangente do ângulo α, assumido pela norma
como sendo igual a 210.000 MPa.
65
4 PROPRIEDADES DO SOLO
Baseado nisso, este capítulo fará uma abordagem sucinta a respeito das propriedades do solo,
seu comportamento quando submetido a tensões e os principais modelos para análise da
interação solo-estrutura.
As partículas sólidas do solo possuem liberdade para movimentação entre elas, porém essa
movimentação não ocorre facilmente como nos fluidos, e nem é totalmente restrita como nos
sólidos. Essa propriedade é o que basicamente os difere tanto dos sólidos quanto dos fluidos.
No momento de aplicação de carga em um solo seco, surgem forças de contato entre suas
superfícies, que se dividem em componentes normais e tangenciais - Figura 24. Com isso,
ocorre uma deformação elástica ou plástica das partículas sólidas, aumentando a área de
contato entre elas.
As partículas sólidas do solo não conseguem ocupar todo o volume disponível, mesmo
estando confinadas. Dessa maneira, o espaço vazio entre os grãos do solo pode ser preenchido
por ar ou líquido, geralmente água. Por isso, pode-se dizer que o solo pode ser entendido
como um sistema multifásico.
Ao submeter um corpo de prova a um ensaio de compressão não confinado - Figura 26, com
tensão uniformemente distribuída nas suas faces opostas, a razão entre o encurtamento
provocado e o comprimento inicial do corpo corresponde à deformação acumulada. Para
materiais elásticos, há uma proporcionalidade entre tensão e deformação, expressa pelo
módulo de elasticidade (ES), conforme a lei de Hooke:
67
σ (21)
E𝑆 =
𝜀1
Onde:
∆ℎ (22)
𝜀1 =
ℎ
Algumas correlações com resultados do ensaio SPT (Standard Penetration Test) estão
disponíveis na literatura. A Tabela 9 traz essas expressões aprimoradas, aplicadas a sapatas
quadradas rígidas com recalques admissíveis da ordem de 1% do seu lado. Observa-se que o
índice N72 da Tabela 9, refere-se à eficiência de 72% no ensaio SPT. Essa eficiência é comum
nos ensaios feitos no Brasil (HOLANDA JÚNIOR, 1998).
O módulo de elasticidade do solo também pode ser obtido por meio da Tabela 10. Nessa
tabela, Rp é a resistência do terreno ao avanço da ponta de cone do ensaio CPT, em unidade
de tensão (kgf/cm²), força dividida pela área do cone, 10cm².
69
Quando não for possível a realização dos ensaios de penetração de cone, podem ser utilizados
os ensaios de penetração dinâmica (SPT), por meio desta correlação:
RP (23)
K=
NSPT
Durante a aplicação da força - Figura 26, ocorrem também deformações laterais, em direções
normais à aplicação da força. Sendo ε1 a deformação na direção de aplicação da força, o
coeficiente de Poisson relaciona essas deformações da seguinte forma:
𝜀2 = 𝜀3 = −𝑣 . 𝜀1 (24)
Esta hipótese estabelece uma relação discreta entre fundação-solo, mediante a definição de
uma constante de mola que representará a rigidez do maciço. Para isso, é necessário definir o
valor de kV, que é um valor escalar que representa o coeficiente de rigidez que o solo possui
para resistir ao deslocamento mobilizado por uma pressão imposta. Ele pode ser considerado
análogo ao coeficiente de mola, só que não relacionado a uma força, mas sim a uma pressão
(força por área), de acordo com a Figura 28.
72
Onde:
F - força
d - deslocamento
k - coeficiente de mola (F/L)
P - pressão (F/L²)
kv - Coeficiente de Reação Vertical (F/L³)
5.2 MODELO 1
5.3 MODELO 2
Este modelo é baseado no princípio que a superestrutura e a fundação são integradas entre si,
interagindo com o maciço de solo no contorno dos elementos estruturais de fundação, como
ilustra a Figura 30.
74
5.4 MODELO 3
6 EXEMPLOS NUMÉRICOS
Foram escolhidos exemplos que caracterizassem estruturas de pequeno porte, com dimensões
retangulares de vigas e pilares, lajes maciças e vãos menores que 6 metros, a fim de analisar
os efeitos da interação solo-estrutura.
Nos exemplos que se seguem, são feitas análises dos resultados das reações na base dos
pilares, momentos fletores nos pilares e momentos em vigas.
6.1 EXEMPLO 1
O exemplo 1 consiste numa estrutura simples de concreto armado, simétrica em relação aos
dois eixos de coordenadas, idealizada para uma análise inicial dos efeitos da interação solo-
estrutura. A estrutura possui 5 pavimentos tipo e 1 pavimento cobertura. Na Figura 32 é
mostrado o esquema da forma estrutural do pavimento tipo.
77
As cargas foram consideradas uniformemente distribuídas nas lajes, com valor de 1,5 kN/m²
de carga permanente e 1,0 kN/m² de carga acidental no pavimento tipo e de 0,5 kN/m² na
cobertura. Foi ainda considerado que sobre todas as vigas há carga linear de alvenaria de
vedação, com altura de 2,5 metros.
Os pilares estão apoiados em fundações superficiais do tipo sapatas isoladas, com vigas de
cintamento. As fundações foram dimensionadas a partir da carga na base dos pilares, para um
solo com tensão admissível de 270 kN/m², cujo perfil de sondagem está ilustrado na Figura
34. Essa tensão admissível foi a obtida por Falcão (2014), a partir de estudos realizados no
solo da região. As dimensões da sapata foram adotadas como sendo proporcionais as
dimensões dos pilares. Procurou-se aumentar as dimensões de algumas sapatas até que o
recalque admissível máximo indicado na literatura para argilas (65mm) não fosse atingido. A
Figura 33 apresenta a planta de fundações da estrutura, onde estão ilustrados as dimensões das
sapatas.
78
Para a estrutura do edifício foi adotado fck de 35 MPa. O módulo de elasticidade foi obtido por
meio da equação 25.
As forças de vento atuantes no edifício foram calculadas de acordo com a norma brasileira
NBR 6123/1988 – Forças devidas ao vento em edificações. Os dados necessários para o
cálculo são apresentados:
As reações nos apoios dos pilares sofreram significativas variações com a consideração da
interação da estrutura com o solo. Houve, nitidamente, a transferência de cargas dos pilares de
centro para os pilares de periferia, como se pode observar na Tabela 12.
As reações nos apoios da Tabela 12 foram as reações máximas obtidas a partir de uma série
de combinações de carregamentos que o programa realiza para o estado limite último. São
esses valores que são geralmente utilizados pelos projetistas geotécnicos para o
dimensionamento das fundações. Dessa forma, o somatório das reações pelos dois modelos
analisados pode não ser igual.
Como o solo tende a recalcar mais no centro da estrutura que na sua extremidade, os pilares
do centro sofreram alívio de cargas, enquanto os pilares de periferia aumentaram suas reações.
Os valores negativos na Tabela 12 indicam que houve alívio de carga, enquanto o positivo
indica aumento no valor da reação. A diferença máxima ocorreu nos pilares P1, P5, P11 e
P15, que são os pilares de extremidade que tiveram maiores sobrecargas devido à migração
81
das cargas do centro para periferia. Esse aumento girou em torno de 31%. Quanto mais rígida
for a estrutura, maior será essa tendência de migração de cargas.
Os momentos no topo dos lances dos pilares tiveram forte variação com a consideração da
interação solo-estrutura. A Tabela 13 mostra essa variação para os pilares P1 e P3. Para os
pilares centrais a variação foi ainda maior, havendo mudança de sinal no valor dos momentos
fletores em praticamente todos os lances de pilares.
Houve diminuição dos momentos negativos, nos encontros das vigas com os pilares, dos
pilares centrais, no modelo que considerou a deformabilidade do solo quando comparado ao
modelo de base engastada. Porém, na extremidade do pórtico, houve aumento do momento
negativo no modelo que considerou a ISE. Outro fato observado foi que nos vãos de
extremidade das vigas de fundação houve aumento significativo do momento fletor no
modelo que considerou a interação solo-estrutura. Essas observações estão ilustradas na
Figura 35 e na Figura 36.
82
Figura 35: Momento fletor (kN.m) nas vigas do pórtico central com
base rígida.
6.2 EXEMPLO 2
Este edifício consiste em uma estrutura real em concreto armado, e está localizado na cidade
de Marechal Deodoro – AL. O modelo do edifício foi adaptado do modelo original que possui
estrutura mais complexa, com pilares nascendo em vigas de equilíbrio. O edifício possui 7
pavimentos, sendo 1 pavimento térreo, 3 pavimentos tipos, 1 pavimento cobertura, 1
pavimento coberta e 1 pavimento referente ao reservatório superior. Na Figura 37 é
apresentada a planta baixa do pavimento tipo, e o corte esquemático é mostrado na Figura 38.
Assim como no primeiro exemplo, nesse modelo foi utilizado o programa de cálculo
estrutural da TQS Informática. O edifício foi analisado primeiramente com a consideração da
base dos pilares engastadas, sem movimentação. A segunda análise foi realizada considerando
a deformabilidade do solo, e para isso se utilizou o módulo SISEs (Sistema de Interação Solo-
Estrutura). Os resultados dos dois modelos foram comparados quanto à variação da reação na
base dos pilares e dos demais esforços na estrutura.
84
Os parâmetros relativos ao solo foram obtidos a partir de sondagem realizada no local - Figura
39. Essa sondagem serviu também como parâmetro de entrada para o programa, por meio dela
o sistema faz correlações dos solos com suas propriedades, para o cálculo dos coeficientes de
reação vertical e da tensão admissível. A fundação do edifício foi modelada em sapatas
isoladas com vigas de cintamento. A planta baixa da fundação está mostrada na Figura 40.
85
FONTE: Tecnosenge
Após a introdução das características do solo e dos critérios de cálculo no programa foi
realizado o processamento das fundações. Os resultados mostraram que a deformação máxima
86
na fundação foi da ordem de 1 cm, na base do pilar P7, com isso, percebeu-se que a
deformação encontrada está abaixo do limite sugerido na literatura para solos arenosos,
podendo ser continuada a análise da estrutura com essa configuração deformada na base.
Quanto aos valores das reações de apoio na base dos pilares, percebeu-se que houve a
conhecida migração das cargas dos pilares centrais para os pilares de extremidade. Contudo,
devido à assimetria da estrutura, essa migração não ocorreu por completo, pois alguns pilares
de extremidade tiveram suas cargas diminuídas e pilares centrais aumentaram de carga. Nos
demais pilares houve variação significativa na carga, sendo que os pilares dos cantos
aumentaram suas cargas em torno de 16% no modelo que considerou a interação solo-
estrutura quando comparado ao modelo que não houve consideração da flexibilização do solo.
Esses resultados podem ser visualizados na Tabela 14.
Para análise da variação dos esforços na estrutura, foram selecionados alguns pórticos. O
pórtico 1 é formado pelos pilares P7, P8 e viga V6, do pavimento tipo. Já o pórtico 2 é
formado pelos pilares P2, P6 e o quinto vão da viga V15.
Pode-se observar que os valores das diferenças percentuais dos deslocamentos foram muito
altos nos primeiros pavimentos porque os valores desse deslocamento considerando a base
engastada são praticamente zero, de forma que a diferença percentual se torna um valor
discrepante.
A análise dos momentos fletores na viga V11 do pórtico 3, formado pelos pilares P15, P16,
P17 e pela viga V11, do pavimento tipo, ao longo dos pavimentos, mostrou que houve
variação nos valores dos momentos positivos dos vãos e dos momentos negativos, no
encontro da viga V11 com o pilar P16 - Tabela 17.
Observa-se que houve diminuição nos momentos negativos no modelo que considera a
interação solo-estrutura quando comparado ao modelo que não considera, consequentemente,
os valores dos momentos positivos foram maiores no modelo que considera a deformabilidade
do solo. Percebe-se também que a diferença dos momentos tende a aumentar com o aumento
do número de pavimentos.
89
Ao analisar o momento negativo no pórtico 2, no encontro da viga V15 com o pilar P6,
percebe-se que os valores desse esforço no modelo que considera a deformabilidade do solo
são menores, sendo maiores nos dois primeiros pavimentos e tendo pouca variação a partir do
terceiro pavimento, mantendo um percentual em torno de 33% de diferença - Tabela 18.
A análise da variação dos momentos fletores na base e no topo dos pilares foi feita para os
pilares P1 e P3. Para o pilar P1, tanto o momento na base quanto o momento no topo sofreram
grandes variações, sendo que a maior diferença no momento do topo ocorreu no último lance
do pilar, e a diferença do momento na base se manteve em torno de 60% a partir do segundo
pavimento – Tabela 19.
De forma semelhante, a análise dos momentos ao longo do pilar P3 mostrou que também
ocorreram grandes diferenças nos valores dos esforços. Para o momento na base, a maior
diferença ocorreu no segundo lance dos pilar, entre o pavimento térreo e o primeiro tipo, com
uma diferença de 135%, a partir daí a diferença se manteve em torno de 60%. Quanto ao
momento no topo, percebe-se, por meio da Tabela 20, que a diferença se mantém
praticamente constante ao longo dos pavimentos, a partir do segundo lance, sendo que no
último lance ocorre inversão no sentido dos momentos.
7 CONCLUSÕES
A intenção principal desse trabalho foi a análise da redistribuição dos esforços na estrutura
devido à interação com o solo, comparando-se a metodologia convencional de engastamento
na base dos pilares, com outra que considerou a deformabilidade natural do solo sob os
elementos de fundação. Procurou-se, também, fornecer contribuições sobre a consideração da
interação solo-estrutura em estruturas de concreto armado de pequeno porte, já que a maioria
dos estudos realizados utilizam edifícios de múltiplos pavimentos para análise.
Nos exemplos numéricos, utilizou-se o módulo SISEs da TQS Informática para o cálculo do
coeficiente de reação vertical e análise dos resultados da fundação e da estrutura. Os exemplos
foram dispostos em uma sequência que permitisse o melhor entendimento do procedimento
necessário para análise da ISE.
Os resultados mostraram que houve significativa redistribuição dos esforços nos dois modelos
realizados, comprovando o que foi descrito na revisão bibliográfica. Essa variação pode
alterar o dimensionamento e detalhamento de peças estruturais, como vigas e pilares, já que
em alguns resultados os valores dos esforços dobraram de valor e até mudaram de sentido.
Nos dois exemplos analisados nesse trabalho foi possível observar a tendência de alívio de
carga dos pilares centrais e acréscimo de carga nos pilares da periferia da estrutura. No
primeiro exemplo, que é uma estrutura perfeitamente simétrica, essa tendência ocorreu em
todos os pilares. Já no segundo exemplo, devido à assimetria da forma estrutural, a
redistribuição das cargas não ocorreu de forma uniforme, havendo pilares de periferia que
diminuíram de carga e pilares centrais que aumentaram.
92
A partir das análises realizadas e dos resultados apresentados, pode-se concluir que este
trabalho atingiu satisfatoriamente o objetivo principal de realizar uma revisão bibliográfica
consistente acerca do tema e de avaliar a influência da interação solo-estrutura na
redistribuição de esforços em estruturas de concreto armado.
Em trabalhos futuros podem ser incluídas melhorias nos modelos de análise das estruturas de
pequeno porte de concreto armado, como:
REFERÊNCIAS
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94
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