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Wilson Rogério Boscolo1, Altevir Signor1, Jakeline Marcela Azambuja de Freitas1, Fábio
Bittencourt1,2, Aldi Feiden1
1 Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
2 Doutorando do Centro de Aquicultura da UNESP - Jaboticabal/SP.
RESUMO - A aquicultura brasileira apresenta grande diversidade de espécies nativas potenciais para criação comercial,
em razão das condições ambientais das diferentes regiões hidrográficas. Em relação à nutrição destas diferentes espécies, há
uma atuação significativa e crescente dos pesquisadores, que têm contribuído com diversos estudos enfocando aspectos relativos
à determinação de exigências nutricionais. Na literatura, os trabalhos concentram-se principalmente na avaliação das
exigências nutricionais de peixes redondos como pacu Piaractus mesopotamicus e tambaqui Colossoma macropomum, bagres
como os surubins Pseudoplatystoma sp., jundiás Rhamdia sp. e, em menor escala, as espécies dos gêneros Leporinus e Brycon.
O enfoque principal está voltado à determinação das exigências de proteína e energia e suas relações. São escassos os trabalhos
para determinação de exigências de aminoácidos, ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais. Esta revisão engloba os estudos
sobre as espécies nativas e indica que são necessários estudos mais aprofundados para subsidiar a cadeia produtiva.
ABSTRACT - The Brazilian aquaculture presents a great diversity of potential native species for commercial breeding
and its comes from the environmental conditions of different river basin. Regarding the nutrition of these species, there is
a significant and growing role of the researchers which has contributed to several studies focusing on aspects of the
determination of nutritional requirements. In the literature the focus is mainly assessing the nutritional requirements of fish
such as pacu Piaractus mesopotamicus and tambaqui Colossoma macropomum, catfish as surubins Pseudoplatystoma sp. and
jundiás Rhamdia sp., and to a lesser extent, with respect to the species of genus Leporinus e Brycon. The main focus aims
to determine the protein and energy requirements and their relationships. There are few studies to determine amino acids,
essential fatty acids, vitamins and minerals. This review includes research on native species and indicates that further studies
are needed to subsidize the production chain.
Fonte
Reidel (2007)
rendimento e qualidade de carcaça, bem-estar, saúde,
fisiologia e metabolismo em sistemas de criação.
Exigências de proteína e aminoácidos
Os peixes, tanto no ambiente natural quanto no cativeiro,
Fase de estudo
Pós-larvas
exigem diferentes nutrientes para manutenção de suas
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
atividades fisiológicas normais. Proteína e energia assumem
grande importância na composição de dietas para peixes
(Navarro et al., 2006), com maior destaque para a fração
9,81 – 9,78 EM g PB -1
12,10 kcal EM g PB-1
13,75 kcal EM g PB-1
13,00 kcal ED g PB -1
19,09 kcal ED g PB -1
16,15 kcal ED g PB -1
10,83 kcal ED g PB -1
10,4 kcal EM g PB -1
9,42 kcal EM g PB -1
6,24 kcal ED g PB-1
Relação E/P
(P. mesopotamicus), tambaqui (C. macropomum), pintado
(P. corruscans) e algumas espécies do gênero Leporinus,
Astyanax e Brycon têm sido determinadas com base em
resultados de desempenho de produção e composição
corporal dos peixes alimentados com dietas práticas e
-1
3300 kcal EM kg-1
-1
3500 kcal ED kg-1
2700 kcal ED kg-1
3250 kcal ED kg-1
-1
3200 kcal ED kg
3250 kcal ED kg
decorrentes da fase de desenvolvimento do animal e do
Tabela 1 - Estimativas dos requerimentos protéicos e energéticos para espécies de peixes nativos
PB = proteína bruta; ED = energia digestível; EM = energia metabolizável; EB = energia bruta; E/P = energia:proteína.
A relação energia/proteína da dieta interfere de forma
expressiva na determinação da concentração ótima de
proteína em rações para peixes (Cho, 1992). Baixa relação
energia/proteína pode comprometer a utilização da
Exigência em PB
25,01%
29%
36%
35%
28%
25%
22%
38%
26%
34%
30%
35%
51%
24%
47,39 ± 14,06 g
12,11 a 21,79 g
0,704 ± 0,12 g
4,62 a 11,31 g
Faixa de peso
8,38 ± 0,09 g
1,52 ± 0,34 g
1,30 ± 0,01 g
0,40 ± 0,08 g
0,56 ± 0,02 g
0,78 ± 0,05 g
Leporinus macrocephalus/onívoro
Piaractus mesopotamicus/onívoro
digestório.
Rhamdia quelen/onívoro
Espécie/hábito alimentar
Contudo, as espécies de hábito alimentar carnívoro As exigências de lisina para espécies nativas ainda são
exigem dietas de elevado nível proteico e podem variar de incipientes, com destaque para os estudos conduzidos com
40 a 55% (Alvares-Gonzáles, 2001), enquanto peixes onívoros o jundiá, pacu e lambari, os quais estimaram as exigências
têm exigências mais baixas. O conhecimento de hábitos e em lisina com base em ensaios dose-resposta e dos demais
preferências alimentares e sua relação com a anatomia do aminoácidos essenciais com a relação AA/E da carcaça ou
sistema digestivo são necessários, pois permitem tecido muscular (Tabela 2).
desenvolver rações adequadas para melhor Entretanto, as investigações sobre as exigências de
desenvolvimento, aliado a menores custos de produção. aminoácidos são necessárias para a elaboração de dietas
Salienta-se, no entanto, que, apesar da importância ambiental e economicamente sustentáveis que promovam
atribuída à concentração proteica ideal, os peixes exigem adequado desenvolvimento aos peixes (Furuya & Furuya,
uma dieta equilibrada em aminoácidos indispensáveis 2010). Dessa forma, estudos nesse sentido devem ser
(Pezzato et al., 2004), que devem estar presentes em aprimorados para o desenvolvimento de um pacote
adequadas proporções nas dietas, obtidos pela combinação tecnológico adequado à cadeia produtiva das espécies
de ingredientes ou suplementados na forma sintética nativas.
(Storebakken et al., 2000). Dessa forma, o perfil aminoacídico
Exigências em energia
presente em cada fonte proteica pode variar — aspecto
decisivo quando da sua inclusão em dietas para peixes. A energia, apesar de não ser um nutriente, também é de
Grande parte dos ensaios experimentais conduzidos grande importância na nutrição de peixes, pois muitas
para determinar as exigências em aminoácidos para peixes funções bioquímicas e fisiológicas são realizadas à custa do
utiliza o conceito de proteína ideal. Trata-se de um conceito suprimento e consumo de energia (Pezzato et al., 2004), a
no qual se estabelece que os animais necessitam de exemplo do exigido nas atividades ligadas ao crescimento,
aminoácidos em quantidades balanceadas, expressos em à manutenção e reprodução (Lopes et al., 2006).
relação a um aminoácido referência (lisina) (Sakomura & Para as espécies nativas, os requerimentos energéticos
Rostagno, 2007). ainda não têm sido bem estabelecidos, embora maior enfoque
Uma vez determinada sua exigência, os requerimentos tenha sido atribuído à fração proteica. A relação
dos outros aminoácidos podem ser prontamente estimados energia:proteína influi significativamente na determinação
(Pezzato et al., 2004; Botaro et al., 2007) com base na das exigências nutricionais, o que certamente tem
relação AA/E do tecido muscular e/ou da carcaça ou contribuído para a grande diversidade de resultados
através da proporção relativa entre a relação AA/E do encontrados na literatura dentro de uma mesma espécie
tecido do peixe e as exigências de espécies de similar (Tabela 1).
hábito alimentar (Meyer & Fracalossi, 2005; Bicudo & Na maioria dos trabalhos, a exigência de energia tem
Cyrino, 2009). sido determinada com base em níveis de energia digestível
Tabela 2 - Estimativas das exigências dietéticas de aminoácidos essenciais com base no conceito de proteína ideal e da relação AA/E
da carcaça e/ou do músculo para o jundiá (Rhamdia quelen), pacu (Piaractus mesopotamicus) e lambari-do-rabo-amarelo
(Astyanax altiparanae)
Aminoácidos Exigências estimadas
Rhamdiaquelen 1 Piaractus mesopotamicus 2 Astyanax altiparanae 3
Arginina 4,70 3,19 4,12
Histidina 1,70 1,14 1,62
Isoleucina 4,70 2,09 2,75
Leucina 7,80 4,12 5,10
Lisina 4,50 4,69 5,74
Met + Cis 3,70 1,57 2,65
Fenil + Tiro 5,30 3,78 5,11
Treonina 4,30 2,07 2,71
Triptofano 0,90 nd* 0,96
Valina 4,60 2,05 3,13
1 Montes-Girão & Fracalossi (2006), estimada a partir de experimento de dose-resposta para lisina e relação AA/E da carcaça.
2 Bicudo et al. (2009), estimada a partir de experimento de dose-resposta para lisina e relação AA/E da carcaça.
3 Abimorad & Castellani (2011), estimada com base na relação AA/E da carcaça e tecido muscular do lambari-do-rabo-amerelo e nas exigências de algumas espécies
onívoras.
* nd = não determinado.
(ED), que representa a energia ingerida corrigida pelas No entanto, a utilização de níveis adequados de
perdas que ocorrem nas fezes, refletindo a porcentagem do carboidratos não-estruturais (amido) em rações pode
nutriente absorvido pelo trato digestivo. Porém, alguns apresentar efeito poupador de proteínas, refletindo em
trabalhos expressam as exigências nutricionais com base em ótimo custo benefício e minimização na excreção de amônia,
valores de energia metabolizável (EM), na maioria das vezes com conseqüente ganho econômico e ambiental.
calculada considerando os valores metabólicos brutos, que Espécies nativas onívoras como o pacu
diminuem a confiabilidade dos resultados quanto à (P. mesopotamicus), tambaqui (C. macropomum), piavuçu
determinação das exigências. No entanto, se houvesse mais (L. macrocephalus), entre outras, utilizam eficientemente
trabalhos para determinação da digestibilidade da energia o amido das dietas, possibilitando altas inclusões de
e dos nutrientes dos diversos alimentos convencionais e carboidratos, sem prejudicar o desempenho e a saúde
alternativos disponíveis para a fabricação de rações, (Lochmann & Chem, 2009). Este fato é de grande
certamente haveria subsídios para a determinação das importância, pois resultam em maior sustentabilidade da
exigências de energia e nutrientes para as diferentes piscicultura, devido à menor dependência de alimentos de
espécies nativas. origem animal, como a farinha e o óleo de peixes. Estudos
demonstram que as espécies carnívoras de importância
Carboidratos
comercial, como o pintado (P. corruscans), utilizam bem
De maneira geral, os peixes utilizam as proteínas e rações com nível de carboidratos próximos a 20% (Martino
gorduras mais facilmente que os carboidratos, em razão de et al., 2005). A anatomia do trato intestinal destes peixes
sua adaptação a disponibilidade de alimentos na natureza. indica que seu intestino é quase retilíneo, mas o trato
Em virtude de os peixes de hábito alimentar herbívoros ou digestório do pintado pode, até certo ponto, se adaptar a
onívoros apresentarem o trato digestório mais adaptado à regimes onívoros (Seixas-Filho et al., 2001), permitindo a
utilização de carboidratos, deve-se ter profundo utilização de dietas com carboidratos em criações
conhecimento da digestão e metabolismo das diferentes comerciais.
espécies nativas para a correta formulação de rações, Os alimentos ricos em amido mais utilizados — milho,
visando ao atendimento das exigências para não sorgo, arroz, entre outros — apresentam coeficientes de
comprometer seu desempenho. digestibilidade aparente da energia de 60 a 90% e fornecem
Os peixes não produzem enzimas como a celulase em torno de 3000 kcal kg-1 de energia digestível para peixes
para digerir a celulose, porém os carboidratos estruturais onívoros (Abimorad & Carneiro, 2004; Oliveira-Filho &
devem ser melhor estudados do ponto de vista de sua ação Fracalossi, 2006). Para peixes carnívoros o valor energético
no trato digestório. Estudos demonstram que é possível a médio destes alimentos é de 2000 kcal kg-1 de energia
utilização de até 9,0% de fibra bruta na alimentação de digestível, com aproveitamento entre 50 e 60% da energia
peixes nativos de hábito alimentar onívoro, sem prejudicar bruta (Gonçalves & Carneiro, 2003; Teixeira et al., 2010).
o desempenho dos animais (Pedron et al., 2008). Já a Especial atenção deve ser dada à constituição,
amilase é encontrada no trato digestório dos peixes, principalmente em termos de amilose e amilopectina, e ao
inclusive de peixes carnívoros. Os alimentos ricos em processamento das diferentes fontes de amido.
amido são amplamente utilizados em formulações de rações, Normalmente fontes de carboidratos mais complexas e
pois apresentam menor custo, são bem utilizados pelos sem gelatinização e as mais simples, como a glicose, não
peixes onívoros e importantes para o processamento de se mostram boas fontes na alimentação de peixes nativos
rações e apresentam função tecnológica nos processos de de hábito alimentar onívoro, como o pacu. No entanto,
peletização e extrusão. amidos submetidos a processos térmicos que potencializam
Embora se conheça a importância dos carboidratos na a gelatinização são bem utilizados, inclusive com níveis de
alimentação dos peixes, ressalta-se que não são 40% de inclusão (Ramirez, 2005). Amidos pré-gelatinizados
considerados nutrientes essenciais do ponto de vista alcançam índices de digestibilidade aparente de até 99%,
nutricional. Sementes e frutos e ricos em carboidratos são com inclusão de até 45% nas dietas (Baldan, 2008), além de
itens que comumente fazem parte da dieta natural de ótimo desempenho (Carneiro et al., 1994; Honorato et al.,
muitas espécies de peixes nativos (Silva et al., 2003). No 2010). Estudos indicam que, entre as espécies nativas, o
entanto, a importância dos carboidratos no aspecto pacu apresenta alta capacidade de utilização de
nutricional limita-se como fonte energética. Sabe-se que a carboidratos na dieta, possivelmente devido a mecanismos
maioria das espécies nativas apresenta grande facilidade eficientes no transporte de glicose para as células em nível
na utilização de proteínas e gorduras como fonte energética. de membrana.
Silva (2009)
determinação das exigências vitamínicas em peixes
nativos; a maioria está relacionada com a vitamina C, pelo
fato de que os peixes tropicais cultivados não dispõem da
enzima gulonolactona oxidase e pela sua importante ação
como cofator em diversas reações no organismo animal
Fase larval
Fase larval
Fase larval
Pós-larvas
Alevinos
Alevinos
Alevinos
Alevinos
(Backer, 1967).
Adultos
Fase
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Juvenis
Em relação aos minerais, embora sejam escassas as
pesquisas nessa área, concentram-se nos macrominerais,
como cálcio e fósforo. Entre estes, o suprimento de cálcio
Parâmetros hematológicos
Parâmetros hematológicos
Parâmetros hematológicos
Estudo realizado
parâmetros hematológicos
parâmetros hematológicos
Desempenho produtivo e
Desempenho produtivo e
fitato, não-disponível para não-ruminantes. Furuya et al.
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Desempenho produtivo
Infestação parasitária
(2008) concluíram que a suplementação ótima de fitase
em rações para juvenis de pacu é de 433,33 unidades de
fitase por kg de dieta para obtenção do melhor
desempenho dos peixes. A recomendação de 0,60% de
fósforo na dieta para pacus (P. mesopotamicus) criados
em sistemas intensivos em tanques-rede permite bom
desempenho zootécnico e reduz o efeito poluidor do
meio ambiente (Diemer, 2011).
e 250 de vit. E
500 de vit. C
Copatti et al. (2005), avaliando a inclusão de cálcio em
3995 UI
Exigências
250 mg
500 mg
400 mg
800 mg
100 mg
600 mg
ND
ND
ND
ND
ND
Acetato DL-α-tocoferol
Ácido L-ascórbico
Ácido L-ascórbico
Ácido L-ascórbico
Ácido ascórbico
Piaractus mesopotamicus
Piaractus mesopotamicus
Colossoma macromum x
Brycon amazonicus
Arapaima gigas
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